Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ecologia Aplicada Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero Revisão Técnica: Prof.a Me. Camila Moreno de Lima Silva Revisão Textual: Prof.a Me. Selma Aparecida Cesarin Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade 5 • Valores Econômicos Diretos e Indiretos da Biodiversidade; • Produtividade Ecossistêmica; • Depuração de Dejetos; • Recreação e Ecoturismo; • Valor de Existência; • Pegada Ecológica; • Pegada Hídrica. Os objetivos desta Unidade são: » Possibilitar a compreensão sobre os valores diretos e indiretos da biodiversidade; » Identificar as formas de lidar racionalmente com a natureza para que os serviços ecossistêmicos continuem atuantes; » Ensinar formas de minimizar impactos ecológicos; » Apresentar os motivos que conferem maior durabilidade da vida humana no Planeta ao se prever alterações nos paradigmas de desenvolvimento atual. Nesta Unidade, serão apresentados os diversos tipos de valores atribuídos à vida natural das espécies em nosso Planeta. Entre os processos ecológicos, falaremos sobre os serviços ecossistêmicos que a natureza presta gratuitamente para a vida na Terra, inclusive beneficiando a humanidade. Você verá ainda neste conteúdo, como a nossa sociedade impacta o planeta Terra ao fazer uso do solo, da água, do ar, das espécies e dos elementos químicos e físicos disponíveis em nosso ambiente. Será relacionado o estilo de vida que você leva com a marca que deixa no planeta. Recomendo que você, além de fazer uma leitura tranquila do conteúdo desta Unidade, consulte ainda, os materiais complementares e, assista também, a vídeos relacionados ao tema. Recomenda-se ainda, que você utilize a internet, além de outros meios de pesquisa para buscar novas fontes de informação que venham a contribuir com o seu aprendizado. Não se esqueça, o conhecimento é a única riqueza que não pode ser roubada! Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade 6 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade Contextualização Diversos são os valores atribuídos à biodiversidade no contexto atual da Humanidade. Desempenham importante papel no comércio internacional, nacional e inclusive local. Mas não é apenas econômico o valor que a biodiversidade possui. Diversos serviços ecossistêmicos são desempenhados gratuitamente a todo instante, sem que sequer precisemos desembolsar dinheiro para custeá-los. Mas o fato de não pagarmos por este serviço, não quer dizer que ele não possua um valor. Se fôssemos calcular todos os benefícios que a biodiversidade nos proporciona, nossa dívida para com o Planeta estaria ainda mais elevada. Com isso, o presente conteúdo irá abordar a quê de fato atribuímos valor e o que deixamos de valorizar no que se refere à biodiversidade. Você já imaginou que o conhecimento sobre estes valores poderá nos fazer repensarmos muitas de nossas atitudes? Pois bem, informações a este respeito serão providenciais para a sua vida pessoal e para a sua profissão. Além do conteúdo teórico, vídeos e matérias escritas irão permitir que se familiarize com os valores da vida natural e os impactos causados pela Humanidade: » Meio Ambiente por Inteiro - Pagamento por Serviços Ambientais (28/09/13): https://youtu.be/dLU_wbd6NTU; » O que são serviços ambientais: http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28158-o-que-sao-servicos-ambientais; » Políticas Ambientais e Serviços Ecossistêmicos no Brasil: http://iptv.usp.br/portal/video.action?idItem=26670. 7 Valores Econômicos Diretos e Indiretos da Biodiversidade Você certamente já está bastante familiarizado com a expressão recurso natural. Não só apenas pelas disciplinas relacionadas às ciências ambientais, mas também pelas próprias questões elementares da sua vida, é impossível o contato com os recursos naturais passar despercebido. Mas o que você talvez ainda não saiba é que grande variedade destes recursos, como o ar puro, a água limpa, o solo saudável, as espécies raras e até mesmo as paisagens são considerados recursos de propriedade comum e pertencem a toda a sociedade. Contudo, estes recursos são muitas vezes utilizados e danificados por pessoas, governo e indústrias que simplesmente não pagam nada por isso ou, quando pagam, nada mais é do que um valor mínimo, quase simbólico. Esta falta de decoro para com nossos recursos e desrespeito para com os demais cidadãos da Sociedade já foram colocados em evidência no passado e hoje têm sido cada vez mais denunciado pela população. No ano de 1968, Hardin G. publicou um artigo na revista Science, cujo título tratava este tipo de atitude desrespeitosa para com os recursos naturais como a tragédia dos comuns. Como os problemas ligados aos recursos naturais estão relacionados ao uso irresponsável e à respectiva degradação destes recursos,uma vez que os custos são baixíssimos, quando as pessoas, órgão governamentais e empresas efetivamente estiverem pagando o preço justo em função do estrago que têm feito, certamente o ambiente deixará de ser danificado, recebendo tratamentos mais cautelosos. Se os reais valores fossem embutidos nos custos do impacto ambiental causado, por exemplo, pelos produtos derivados de combustíveis fósseis, implementação e uso ineficaz de energia, poluição e irresponsabilidade com o lixo, as taxas a serem pagas seriam extremamente mais elevadas e as indústrias tomariam mais cuidado com o nosso mundo natural. Desta forma, a economia ambiental surge com o objetivo de agregar valores aos componentes da biodiversidade. Esta é uma medida tão justa quanto nos responsabilizarmos pelo próprio lixo que geramos diariamente em nossas casas, não é mesmo? Como primeiro passo para agregar tais valores aos recursos biológicos, um pesquisador chamado McNeely, em 1988, desenvolveu algumas abordagens visando atribuir valores econômicos aos recursos naturais, como a variabilidade genética, as espécies, as comunidades e, por fim, os ecossistemas. Nesta obra, McNeely dividiu economicamente a biodiversidade em valores econômicos diretos e indiretos. Vejamos a seguir cada um deles de forma exemplificada. 8 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade Valores Econômicos Diretos Os valores econômicos diretos foram atribuídos àqueles recursos naturais que são retirados da natureza e consumidos diretamente pelas pessoas. Desta forma, atribui-se a tais recursos dois valores principais. O valor de consumo se refere aos recursos extraídos da natureza e consumidos internamente pela população direto das mãos de quem os retirou do ambiente e o valor produtivo se refere aos recursos naturais transformados em mercadoria, que são vendidas em supermercados. Veja alguns exemplos a seguir. Valor de Consumo Este tipo de valor pode ser atribuído aos recursos naturais como a lenha, animais oriundos de caça, frutos e vegetais colhidos direto das matas e consumidos pelas populações locais, sem chegar a ser vendidos em estabelecimentos comerciais. Esse tipo de consumo acontece muito nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, que ainda possuem áreas preservadas nas quais as pessoas extraem tais recursos e os consomem sem visar o lucro, apenas para subsistência da comunidade local. Desta forma, o PIB nacional não os leva em consideração. Um dado bastante interessante a respeito do valor de consumo a ser considerado em nossos recursos naturais é que aproximadamente 80% da população mundial ainda consome medicamentos oriundos de plantas e animais como a principal forma de tratamento médico (FARNSWORTH, 1988). Somente na região amazônica, aproximadamente 2000 espécies de animais e plantas subsidiam recursos para tratamentos medicinais. Nossos recursos possuem muito valor agregado e o consumo ainda é maior do que podemos imaginar. Então, como atribuir valor a estes recursos de modo a evitar o consumo degradante e insustentável? Uma forma é considerar a quantidade de pessoas que os consomem e que assim teriam de pagarpor tal produto caso as fontes se esgotassem e tivessem de começar a comprá-los em supermercados. Valor Produtivo Como mencionado anteriormente, o valor produtivo é considerado o valor direto dado àqueles recursos que foram extraídos da natureza e conduzidos a supermercados para serem vendidos nacional e internacionalmente. Diferente do valor de consumo, o valor produtivo é estabelecido pelo preço pago no primeiro ponto de venda, ao invés do seu custo final no varejo. Desta forma, os padrões econômicos aplicados a estes recursos naturais são camuflados, dando a impressão inicial de menor importância a produtos que logo depois podem ser industrializados agregando valores bem maiores. 9 Para exemplificar, a castanha-do-pará rende inicialmente aos catadores do Norte do país cerca de 50 centavos por quilo. Ao ser industrializada e ir parar nas prateleiras dos supermercados da Região Sudeste, o valor produtivo desta mesma castanha passar ser cerca de 18 reais o quilo. É muito importante que você tenha noção a respeito da enorme quantidade de produtos brasileiros que são extraídos de forma ilegal da natureza e muitas vezes quase escravagista devido à exploração de mão de obra. Esses extrativistas retiram ilegalmente os recursos ambientais e são ainda por cima muito mal pagos, sendo que os produtos irão posteriormente ser vendidos a preços bem mais elevados no mercado. Os produtos mais explorados são a madeira, proveniente de desmatamentos ilegais, sendo utilizada para construção civil e produção de móveis, os peixes, tanto de água doce como de água salgada, muitos animais silvestres dos quais se utilizam tanto a carne como a pele para confecção de roupas de grife, além de diversas espécies de plantas medicinais, frutas e vegetais. Você sabia? Um dos recursos naturais mais explorados ilegalmente no mundo cujo cenário no Brasil é drasticamente impactante é a madeira e sua extração ilegal. A seguir, um matéria publicada em O Eco, em janeiro de 2015, alerta a população para o desmatamento ilegal que acontece diariamente há muitos anos no Brasil, abrindo a público o quanto estamos atrasados e não demonstramos preocupações efetivas para combater esta situação. Ainda na mesma reportagem, denunciam o aumento de até 467% de áreas desmatadas: https://goo.gl/iZETYP. A grande parte da floresta desmatada ilegalmente, além de render muito lucro para o mercado madeireiro, no qual uma única árvore de mogno chega a ser vendida por 10 mil reais, as áreas devastadas darão lugar para pastagens para gado de corte a ser exportado para países europeus e norte-americanos. Ou seja, estamos perdendo um enorme bem de valor, que são as florestas e, ainda por cima, lucrando com a criação de gado que sequer alimentará famílias brasileiras. Um crime atrás de outro, ilustrados na Figura 1. Figura 1. Desmatamento ilegal e queimada criminosa da Amazônia. Fonte: iStock/Getty Images 10 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade Valores Econômicos Indiretos O que diferencia os valores econômicos indiretos dos diretamente relacionados aos recursos naturais é a ausência de um produto e a presença de um serviço ecossistêmico promovido por processos ambientais, que de alguma forma rendem benefícios econômicos sem que haja extração ou destruição da natureza durante o uso. Em outras palavras, se não houver mais biodiversidade, os serviços ecossistêmicos responsáveis por controlar erosões, promover manutenção de água potável, purificar o ar e subsidiar locais de lazer deverão ser feitos artificialmente por tecnologias que sequer existem em longa escala. Portanto, as consequências do desmatamento e a extinção dos recursos naturais causadas pelo nosso uso inconsequente, além de significar uma afronta contra a existência de vida saudável, forçam a sociedade a desenvolver tecnologias extremamente caras e inacessíveis a toda a população. Entre os valores econômicos indiretos, existem dois diferentes tipos: valor não consumista e valor de existência. Valor não consumista Entende-se por valor econômico não consumista todo um enorme conjunto de serviços ambientais que os ecossistemas prestam gratuitamente para a vida em nosso Planeta e, consequentemente, para a sociedade. Como um grande exemplo destes serviços nos quais facilmente se pode calcular o valor monetário, temos os trabalhos de polinização promovidos pelos insetos por exemplo. Existem milhares de plantações das mais diversas espécies, como o abacate, o maracujá, o figo, entre outras, que dependem de insetos para produzirem seus frutos. Para calcular estes valores, simplesmente fazemos as contas de quanto um destes produtores gastaria, por exemplo, se tivesse de pagar aluguel aos apicultores para disponibilizarem suas colmeias de abelhas que promoverão a polinização das flores de sua agricultura. Além destes tipos de benefícios, diversos outros serviços prestados pela biodiversidade estão muito presentes em nossas vidas, sem que sequer percebamos estes serviços, até mesmo pela falta de interesse da mídia, dos governos e de grandes corporações que controlam nossa Economia mundial. A seguir, você irá ver detalhadamente cada um deles. Produtividade Ecossistêmica Este serviço se refere à atividade natural na qual as plantas e as algas convertem a energia luminosa proveniente do Sol em energia fixada nos tecidos vivos que os compõem. Uma porção significativa desta energia armazenada pelos vegetais os seres humanos consomem diretamente, utilizando-as para a alimentação, e das plantas de porte arbóreo, utilizando a madeira como lenha a ser queimada para produzir calor. 11 Importante! Você deve saber que se não fosse a atividade natural das plantas e algas que realizam fotossíntese, a energia solar não seria convertida em tecidos vivos e, desta forma, esta energia seria impossível para alimentar os animais e fungos decompositores. Resumidamente, estes seres produtores de energia são quem sustentam toda a demanda energética exigida por cada ser vivo que estrutura o funcionamento dos ecossistemas. Proteção da Água e do Solo São também os seres vivos, ao compor a biodiversidade presente nas matas ciliares, que promovem a proteção de bacias hidrográficas, controlando os ecossistemas em ocasiões de enchentes ou secas e ainda garantindo a boa qualidade da água para que esta seja consumida pelos seres vivos. Mas não é somente pela água que a biodiversidade é importante, também existem diversos benefícios gratuitamente fornecidos para o solo pelas áreas preservadas ambientalmente. Impedindo que o solo seja atingido diretamente pela queda da água da chuva, as plantas, com suas folhagens, inclusive as folhas mortas caídas, promovem proteção contra este atrito que compacta o solo e o torna duro demais para que ocorra o crescimento de vegetação. Ainda, as raízes e os organismos como formigas, cupins e minhocas, que vivem subterraneamente, promovem a aeração do solo, facilitando a entrada de água e ar. Deste modo, com a facilidade da água de penetrar o solo, ela fica retida nele após intensos períodos de chuva, impedindo que haja inundações catastróficas, tão comuns em grandes centros urbanos, nos quais as áreas verdes foram desmatadas e o solo impermeabilizado pelo concreto e asfalto. Além disso, o desmatamento provoca condições favoráveis para formação de erosões e até mesmo grandes deslizamentos em áreas de encosta (Figura 2). Figura 2. Fotografias de enchente (à esquerda) e deslizamento de terra (à direita), provocados pelo desmatamento e impermeabilização do solo. Fonte: iStock/Getty Images 12 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade A seguir, segue link para você explorar mais sobre os assuntos não divulgados pelos principais veículos de comunicação. O link noticia sobre acidentes provocados pelo desmatamento e a intensa prática de agricultura criminosa no oeste da Bahia, onde toda a área do topo da Serra Geral foi desmatada e tem desprendidoenormes quantidades de pedra e terra, que deslizam para os estados que fazem divisa, Goiás e Tocantins, causando enorme impacto ambiental:; » https://goo.gl/i68HcD. Controle do Clima A presença da biodiversidade é extremamente importante na modelagem dos climas em nível local, regional e até mesmo global. A presença de árvores promove diversos benefícios gratuitos apenas por estarem vivas. Os benefícios são incalculáveis como, por exemplo, a diminuição da temperatura por meio do sombreamento realizado pela vegetação, pela respiração foliar, as plantas e árvores liberam oxigênio, que é vital para nós, e também vapor de água, aumentando a umidade do ar e promovendo a sensação de frescor. E, pelo crescimento, os indivíduos vegetais, principalmente as árvores, resgatam da atmosfera o gás carbono que contribui para o superaquecimento global e o armazenam em seus troncos compondo sua própria estrutura. Portanto, os benefícios de áreas verdes são inúmeros e atingem positivamente todos os seres vivos (Figura 3). Figura 3. Mulher realizando leitura tranquila em sombra de árvores no parque do Ibirapuera. Fonte: iStock/Getty Images 13 Depuração de Dejetos Você já imaginou que a própria diversidade biológica por si só é capaz de degradar poluentes e reter metais pesados nocivos à saúde humana? Pois saiba que este é mais um dos muitos benefícios desempenhados pela nossa biodiversidade. Agentes cancerígenos, como metais pesados presentes em agrotóxicos e esgoto industrial são imobilizados pela ação de fungos e bactérias que vivem em áreas preservadas, ambiental- mente falando. Quando ocorre a degradação dos ecossistemas, estes organismos deixam de agir e então, para que haja o controle deste tipo de poluição, mecanismos caríssimos são uti- lizados para substituí-los. O caso do rio Tietê é um exemplo infelizmente escancarado à população, e irei citá-lo para que possamos entender como funciona este processo ecossistêmico de despoluição natural. Atualmente, o rio Tietê é um esgoto a céu aberto na região metropolitana da maior cidade brasileira. Este rio, que nasce na cidade de Salesópolis, a 100 quilômetros de São Paulo, possui um total de 1150 quilômetros de extensão, cortando exatamente ao meio todo o estado paulista (Figura 4). Somente na região da capital do estado, em um segundo de tempo, aproximadamente 30 mil litros de esgoto e mais 7 mil litros de resíduos diversos são despejados no que antes era o rio Tietê. Essa enorme carga de poluição reduz a zero a taxa de oxigênio e com isso elimina qualquer possibilidade de vida, até mesmo das resistentes bactérias e fungos que promovem a depuração natural da água. Porém, seguindo o curso do rio Tietê, distanciando aproximadamente 200 quilômetros da cidade de São Paulo, a quantidade de oxigênio na água volta a ser razoável possibilitando a vida destes agentes naturais que realizam a despoluição gratuita deste recurso destruído pela população humana. Para que você tenha uma ideia do quanto se gasta para despoluir os recursos hídricos, o governo do estado de São Paulo investiu há anos aproximadamente 900 milhões de dólares no tratamento de esgoto. É claro que quem paga essa conta são os contribuintes, ou seja, este gasto exorbitante é oriundo do dinheiro público. Figura 4. Região poluída do rio Tietê. Fonte: iStock/Getty Images 14 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade Recreação e Ecoturismo Diversas são as opções de lazer quando se trata de ecossistemas naturais. E um dos lados mais positivos desta opção de lazer é dispensar a economia opressora e exploratória, e se dispor de uma forma de prazer não consumista. Ou seja, você já deve ter aproveitado momentos únicos da sua vida, onde o contato com a natureza foi a sua principal fonte de satisfação pessoal. Seja por meio de um banho de cachoeira, de rio ou de lago, ou ainda uma ida ao litoral para curtir a praia, o mar e o luar. Dispomos destas opções, que muitas vezes são gratuitas ou, se não, custa apenas uma contribuição para manutenção e preservação. Fazer trilhas em áreas naturais preservadas; desfrutar de momentos de inspiração e planos de vida ao contemplar uma bela paisagem; mergulhar, correr, escalar, nadar, compor, meditar, pintar, escrever, filmar, ouvir e consumir ar e água livres de poluição são prazeres únicos e que têm sido cada vez mais difícil de acessar. Além disso, momentos na natureza, não importa qual seja a atividade, estão contempladas pelo direito do livre arbítrio que cada um de nós possui. Porém, a degradação destes ambientes naturais ocorre devido à falta de interesse não só do governo, mas também de grande parte da sociedade que mantém ideologias consumistas e não reconhecem os ecossistemas como vital não só para sobrevivência, mas, como também, para a saúde do corpo e da mente. Assim, cabe iniciarmos um processo educacional, uma desconstrução de valores consumistas e uma construção individual de pensamento em longo prazo, tornando possível a existência de sociedades humanas saudáveis na Terra por meio de uma relação sustentável sem destruir os ecossistemas. Além destes poucos exemplos de valores ecossistêmicos apresentados aqui, tantos outros ainda serão percebidos pela Humanidade. Cabe a nós reconhecermos em nosso dia a dia o quanto a ciência e a educação estão repletas de livros, documentários, programas de televisão e filmes com fins educacionais se amparando nos recursos e processos dos ecossistemas. Além disto, inúmeras publicações em revistas científicas têm apresentado riquíssimo conhecimento sobre o complexo funcionamento dos ecossistemas. Tais informações são oriundas de criteriosas pesquisas realizadas diariamente por profissionais do mundo todo. Um exemplo bastante prático é podermos avaliar a qualidade ambiental utilizando como controle de qualidade a presença ou ausência de espécies que são comprovadamente consideradas bioindicadoras ambientais. 15 Valor de Existência O valor de existência é um valor natural advindo do direito de cada ser vivo em viver. Em outras palavras, toda espécie tem direito de existir, simplesmente por que existem. As vidas representam mais que uma possibilidade de a Humanidade obter recursos naturais delas. Elas estão presentes em nosso Planeta há milhares de anos e desempenham função ecossistêmica, realizando processos naturais ecológicos pelos quais estruturam todo o funcionamento e permanência da vida na Terra. Todas as espécies têm direito de existir, mas, infelizmente, nem todas possuem capacidade de reivindicar sua própria existência em decorrência da super exploração da vida, realizada em detrimento de avanço econômico muito insustentável. Contudo, podemos ainda utilizar como exemplo os países desenvolvidos, que gastam milhões ou até mesmo bilhões de dólares por ano em projetos de conservação de espécies, consequentemente, preservando os processos ecossistêmicos por elas desempenhados garantem à Humanidade a possibilidade de continuar dispondo daqueles recursos naturais oriundos destes ecossistemas preservados. Cabem, portanto, investirmos na manutenção da integridade de área naturais, evitando assim que espécies sejam extintas e ecossistemas sejam degradados. Caso contrário, teremos, num futuro próximo, de correr atrás para tentar recuperar todos os prejuízos, sendo que não será possível recuperar o ecossistema tornando-o idêntico ao que era originalmente antes de ser degradado. Pegada Ecológica Em 1990, os cientistas canadenses Mathis Wackernagel e William Rees criaram o termo pegada ecológica. Atualmente, este termo é reconhecido no mundo todo e inclusive está sendo utilizado como método para se calcular o quanto a Humanidade consome dos recursos naturais do planeta Terra. O contexto atual sociopolítico de exploração do nosso ecossistema apresenta enorme desgaste ambiental e ecológico. A permanência desta exacerbada exploração representa um colapso em escala global em um futuro próximo. Com apopulação crescendo exorbitantemente, os recursos tendem a ficar cada vez mais escassos. Além disso, vivemos em um regime capitalista no qual as pessoas recebem milhares de propagandas por dia e são induzidas a adotarem uma visão de mundo consumista. Desta forma, a vida de cada pessoa passa a se resumir em doar as horas do seu dia trabalhando como empregado do sistema de consumo para, no final das contas, conquistar aumento em seu poder de compra, alimentando ainda mais o consumo de bens materiais e, consequentemente, dos recursos naturais. 16 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade O objetivo de vida de cada cidadão, então, passa a se basear no acúmulo de bens materiais causando um fenômeno de competitividade social entre os indivíduos. O ritmo de vida acelera e se torna cada vez mais dedicado em função do trabalho. Com isso, as pessoas dormem menos e possuem menos tempo para cuidar da alimentação. Alimentos industrializados ganham cada vez mais espaço na dieta da população e o tempo para cuidar da saúde se restringe a remediar ao invés de prevenir. Todo este contexto vem causando estresses desnecessários que prejudicam a própria saúde da população. Muitas vezes o conjunto de todos estes fatores inerentes ao cotidiano de uma pessoa diminui a sua autoestima e causa sentimento de incompetência perante o mercado de trabalho, podendo desencadear até mesmo quadros de depressão. Preocupada com a saúde humana e ambiental, a Pegada Ecológica (Figura 5) visa a reduzir o impacto humano na Terra e se relaciona intimamente ao modelo de desenvolvimento que leva a Humanidade ao resgate do pensar coletivo. Este pensamento sugere um estilo de vida mais duradouro, que leve à união das pessoas e não estimule a disputa, mas sim, estimule o cooperativismo no uso racional e socialmente justo dos recursos naturais disponíveis em nosso Planeta. Figura 5. Representação da pegada ecológica, simbolizada pela marca de uma pisada humana impactando o planeta Terra. Fonte: iStock/Getty Images Deste modo, a pegada ecológica calcula o impacto de todas as atividades que realizamos, como indivíduo e em termos de sociedade. Inúmeras são as atividades calculadas, como por exemplo, o valor de áreas que ocupamos ao construirmos prédios, casas, indústrias, rodovias, usinas, shoppings, lavouras agrícolas, entre outros. 17 É importante que você saiba, também, que o cálculo da pegada inclui o desgaste e a poluição da água, do solo, do ar, bem como também de todos os demais componentes bióticos e abióticos presentes nos ecossistemas da Terra. Você sabia? Os dados obtidos ao se calcular a pegada ecológica nos dão informações sobre o estilo de vida e os hábitos de consumo utilizados por um indivíduo ou pela população de uma cidade ou país. Com estas informações, é possível comparar a utilização dos recursos naturais com a capacidade natural do planeta em regenerá-los. Infelizmente, os dados recentes têm apontado que estamos consumindo em média 50% a mais do que a capacidade que o planeta possui de reposição. Conclui-se, então, que para mantermos nossos padrões de vida atual precisamos de um Planeta e meio. Como minimizar a pegada? Sabemos que precisamos repensar e readequar nossos hábitos, tanto individual como socialmente. No entanto, apesar das dificuldades, isso é possível de se realizar. Necessitamos que cada indivíduo pense no contexto global e não se coloque como sendo o centro do Universo. Precisamos agir e pensar coletivamente e, além disso, principalmente, exigir readequação de postura política dos nossos governantes e das empresas privadas. Para que você possa compreender algumas importantes medidas a serem tomadas, seguem algumas sugestões que levam a minimizar o nosso impacto no Planeta, ou seja, a nossa pegada ecológica. Hábitos Consumistas Uma medida de melhora bastante eficiente é evitar hábitos consumistas. As mercadorias surgem no mercado com a intenção de desgastarem rapidamente ou serem ultrapassadas tecnologicamente, justamente para que se mantenha a venda. Esta estratégia dos empresários é denominada obsolescência programada. Deste modo, diversos modelos de equipamentos eletrônicos como, por exemplo, os celulares e laptops são lançados no mercado com muita frequência. Esses produtos tecnológicos demandam enormes quantidades de recursos naturais que não são renováveis, gastam muita energia para sua produção e liberam rejeitos tóxicos, como os cancerígenos metais pesados. Uma alternativa de redução seria avaliar seus objetivos de compra e adquirir tais produtos somente em caso de real necessidade. Uma música que trata sobre o assunto da obsolescência programada foi composta pelo artista Humberto Gessinger, do grupo musical Engenheiros do Hawaii. Ouça a música e acompanhe a letra no link a seguir: » https://youtu.be/LeE3NtDUnN4 18 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade Reduzir. Reutilizar. Reciclar. Para reverter a situação de superexploração do Planeta, diminuir a quantidade de lixo se torna uma atitude extremamente fundamental. E, além de diminuir o consumo, cooperar com a reciclagem separando o lixo orgânico do lixo seco é uma iniciativa que incentiva tanto os catadores como facilita o processo de dar uma nova utilidade aos objetos ao invés de simplesmente enterrá-los ou lançá-los aos terrenos baldios, em áreas verdes, rios e oceanos. Adote uma postura de vida sustentável, organizando-se junto aos moradores ao seu redor, exigindo da prefeitura a coleta seletiva e o incentivo para instalações de usinas de reciclagem, como previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos (ver link: http://www.mma.gov.br/pol%C3%ADtica- de-res%C3%ADduos-s%C3%B3lidos). Antes de descartar um plástico, uma embalagem, ou qualquer outro objeto que você tenha comprado, admita sua responsabilidade sobre o seu lixo nesse processo, reduzindo o consumo, reutilizando o que for possível e destine à reciclagem, ao invés de mandar para lixões ou aterros sanitários. Assim, você estará diminuindo sua conivência com o mal do lixo no Planeta. ENERGIA LIMPA Você precisa ter em mente que no mundo todo vivenciamos a realidade energética do petróleo. O interesse de poucos grupos empresariais se sobressai imperativamente sobre as novas alternativas energéticas sustentáveis e economicamente viáveis para toda a população mundial que soma hoje mais de sete bilhões de pessoas. Precisamos exigir de nossos governantes a elaboração e consolidação de matrizes energéticas limpas e renováveis, sem agredir o nosso meio ambiente. Estas alternativas energéticas já existem como, por exemplo, a energia eólica (energia dos ventos), a energia eletrovoltaica (energia solar), a energia biodigestora (oriunda da decomposição de dejetos de animais domésticos, restos agrícolas, esgoto doméstico) e a maré-motriz (força motriz presente no movimento das marés). O petróleo, além de provocar guerras entre países pelo mundo, já poluiu acidentalmente bilhões e bilhões de litros de água potável. Recentemente, um caso pouco divulgado aconteceu na capital do estado de Goiás, na cidade de Goiânia, onde um vazamento contaminou o principal rio que corta o município. Veja matéria no link a seguir » https://goo.gl/4Juc54 Calculadora Pegada Ecológica Calcule a sua pegada ecológica no link a seguir e descubra o tamanho do impacto que você causa no Planeta em decorrência do estilo de vida que leva: » https://goo.gl/F9XktA. 19 Pegada Hídrica Como você pode perceber, no nosso dia a dia, utilizamos elevado volume de água. Seja para nossa hidratação vital, como também para tomar banho, despejar urina, fezes e demais excreções fisiológicas. Além disso, por meio das atividades domésticas de cozinhar e lavar, consumimos diariamente um excessivo volume de água. A Tabela a seguir é bastante interessante para que você se informe melhor sobre a utilização de água intrínseca à produção de produtos diariamente consumidos pela população (Tabela1). Tabela 1. Volume de água, em litros, necessários para a produção de itens consumidos diariamente pela população. Quantidade de água necessária para a produção (litros) 1 quilo batatas fritas 1000 1 quilo de macarrão 1800 1 quilo de leite em pó 4750 1 quilo de açúcar 1800 1 barra de chocolate (100g) 1700 1 quilo de carne de galinha 4300 1 quilo de carne bovina 15.400 1 quilo de carne de porco 6.000 1 litro de etanol (combustível) 2100 1 camisa de algodão 2500 1 calça jeans 8000 1 quilo de couro bovino 17000 Mas não é somente o consumo individual de água que tem afetado a disponibilidade deste recurso. A produção de alimentos, de celulose para fazer papel, de algodão para confecção de roupas, entre outros demais processos industriais, pecuários e agrícolas são os que mais consomem água em nosso Planeta. Portanto, obrigatoriamente, a pegada hídrica serve como indicador do consumo da água que considera a utilização direta e a indireta, ou seja, tanto os consumidores quanto os produtores. (Figura 6). 20 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade Figura 6. Foto aérea mostrando o elevado uso de água para irrigação de grandes lavouras de monocultura. Fonte: iStock/Getty Images Para que você internalize o conceito e a relevância imprescindível deste assunto para a Humanidade, define-se pegada hídrica como sendo o volume total de água doce que foi utilizada na produção de bens materiais e nos demais serviços consumidos pelo indivíduo ou pela comunidade, além do gasto total utilizado na produção das indústrias e no quanto de água elas poluem liberando seus rejeitos nos rios e córregos próximos a elas. O conceito da pegada hídrica foi proposto pelo professor Arjen Y. Hoeskstra. Este homem percebeu os impactos humanos sobre os sistemas de água doce do nosso Planeta, que tem levado à escassez e à poluição destes recursos. Ele aponta que os problemas da água estão intimamente relacionados às cadeias de produção e à estrutura da Economia global. Diversos países que já extrapolaram significativamente suas pegadas hídricas aqui na Terra, agora importam, inclusive ilegalmente, quantidades imensas de água doce de outros países. Este fato pressiona os países exportadores (muitas vezes doadores ilegais), subvertendo os mecanismos racionais de governar e conservar os recursos hídricos. A Amazônia, bioma abundante em água, tem sofrido com o tráfico de água doce. Lá, vários navios petroleiros reabastecem seus reservatórios no Rio Amazonas antes de deixarem as águas nacionais. Este caso de hidropirataria, inclusive, tem tido avanços tecnológicos nos quais se utilizam enormes bolsões com capacidade bem superior a dos navios superpetroleiros ( Figura 7). Figura 7. Navio transatlântico puxando imenso bolsão de água doce. Fonte: iStock/Getty Images 21 Para concluir, é importante que você saiba que cabe não somente aos nossos governos, mas também aos consumidores, as empresas e as comunidades da sociedade civil, desempenharem atitudes visando melhorar a gestão dos recursos hídricos. Calculadora Pegada Hídrica Calcule a sua pegada hídrica no link a seguir e descubra o volume de água que você consome em decorrência do estilo de vida que leva: » https://goo.gl/vuCvsD 22 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade Material Complementar Vídeos: Políticas Ambientais e Serviços Ecossistêmicos no Brasil: http://iptv.usp.br/portal/video.action?idItem=26670; Meio Ambiente por Inteiro – Pagamento por Serviços Ambientais (28/09/13): https://youtu.be/dLU_wbd6NTU. Livros: PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: Planta, 2001. ANDRADE, D. C.; ROMEIRO, A. R. Serviços ecossistêmicos e sua importância para o sistema econômico e o bem-estar humano. Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 155, fev. 2009. Sites: http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28158-o-que-sao-servicos-ambientais Aumente seus conhecimentos. A sabedoria é a mais nobre das riquezas! “Não se acomodar com o que incomoda.” O teatro mágico. 23 Referências FARNSWORTH, N. R. Screening plants for new medicines. In: E. O. Wilson; PETER, F. M. (eds.). Biodiversity. National Academic Press, Washington, USA, 1988. HARDIN, G. The tragedy of the commons. Science 162: 1243-1248, 1968. HOEKSTRA, A. Y., CHAPAGAIN, A. K., ALDAYA, M. M.; MEKONNEN, M. M. Manual de Avaliação da Pegada Hídrica Globalização da Água. Londres: Earthscan, 2011. INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Cartilha Pegada Ecológica. Disponível em: <http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Cartilha%20-%20Pegada%20Ecologica%20 -%20web.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2015. JACOBI, P. R.; EMPINOTTI, V. Pegada hídrica: inovação, corresponsabilização e os desafios de sua aplicação. São Paulo: Anna Blume, 2013. MCNEELY, J. A. Economics and biological diversity: developing a using economic incentives to conserve biological resources. Gland: IUCN, 1988. PEGADA Hídrica. Water Footprint. Disponível em: <http://www.pegadahidrica. org/?page=files/home>. Acesso em: 13 abr. 2015. PRIMACK, R. B.; Rodrigues E. Biologia da Conservação. Londrina: Planta, 2001 REES, W. E. Ecological footprints and appropriated carrying capacity: what urban economics leaves out. Environment and Urbanization 4 (2): 121–130, 1992. WACKERNAGEL, M.. Ecological Footprint and Appropriated Carrying Capacity: A Tool for Planning Toward Sustainability. PhD thesis. Vancouver, Canada: School of Community and Regional Planning. The University of British Columbia. 1994. WACKERNAGEL, M.; REES, W. E. Our Ecological Footprint. Local: New Society Press,1996 24 Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade Anotações
Compartilhar