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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DE TRÊS LAGOAS A BRECHA CAMPONESA E SUAS FINALIDADES1 Vanessa Cristina da Silva Garcia Almeida2 RESUMO: Este Paper busca analisar algumas finalidades da Brecha camponesa no sistema escravista brasileiro. Sobre isso, o presente trabalho irá abordar formas de visão de historiadores especializado no assunto. Com o intuito de tornar mais fácil a compreensão do que foi a brecha camponesa. PALAVRA CHAVE: Brecha Camponesa, terras, escravos, senhores. 1. INTRODUÇÃO O termo “Brecha Camponesa” se refere a uma prática que alguns senhores de escravos tinham em liberar alguns lotes de terra de sua propriedade, para que os escravos pudessem cultivar o alimento para consumo próprio e também para a venda no mercado interno. Os produtos cultivados variavam de acordo com a região, mas de maneira geral, sabe-se que os escravos plantavam em suas roças mandioca, feijão, milho, café, batata, banana e hortaliças. Pós a publicação do Clássico Casa Grande e Senzala de Gilberto Freire em 1933, a escravidão e os africanos ganharam papel fundamental no relato histórico do Brasil¹. E a historiografia Brasileira da década de 80 passou a analisar com um novo olhar de como funcionava a escravidão no Brasil.3 Com esse novo olhar pode se perceber que a brecha camponesa possuía várias finalidades. Ciro F. Cardoso, Barros de Castro e Reis e Silva descobriram muitas provas de escravos trabalhando em suas lavouras, cultivando e vendendo seus 1 Paper produzido como exigência da disciplina História da América Portuguesa II, ministrada pela Profª. Maria Celma Borges. 2 Acadêmica do 2° Semestre do Curso de História, Campus de Três Lag oas, UFMS. 3 SCHWARTZ, Stuart B.____ Escravos, Roceiros e Rebeldes. Bauru: Edusc, 2001, p. 23 2 próprios alimentos, e analisarão também até que ponto seria comum a produção particular de escravos e como isso funcionava nas relações econômicas e sociais4. 2. A “Brecha Camponesa” Esse sistema de conceder parcelas de terra aos escravos já era utilizado pelos portugueses na ilha de São Tomé, e conforme Jacob Gorender, nada mais natural, então que usar esse mesmo costume na colonização do Brasil. Ciro F. Cardoso diz que o termo Brecha Camponesa foi utilizado por Tadeusz Lepkowski, onde o empregou em um sentido restrito, distinguindo duas modalidades dessa brecha Camponesa5: 1) a economia independente de subsistência que os negros fugidos organizavam nos quilombos; 2) os pequenos lotes de terras concedidos em usufruto, nas fazendas, aos escravos não-domésticos, criando uma espécie de mosaico camponês-escravo, o qual coexistia, porem com a massa compacta, indubitavelmente dominante, das terras do senhor, nas quais o escravo era trabalhador agrícola ou industrial, fazendo parte de um grande organismo de produção. (CARDOSO Ciro. F.,1979, p.133) Essa foi a maneira que Lepkowski designou as atividades econômicas que estavam fora do âmbito da plantation. A partir de meados dos anos 1970, se rompeu a “visão plantacionista”, e foi possível conjugar novas teorias a respeito do modo de produção escravista colonial, onde afirmaram a possibilidade de haver formações econômicas diferentes no meio de uma economia escravista e colonial6. 3. A Brecha para o Escravo: Stuart Schwartz (2001), quando discorre sobre o trabalho na lavoura brasileira de cana-de-açúcar, diz que o castigo estava sempre presente, mas nos engenhos esse tipo de punição era contraproducente. Então para haver um controle 4 SCHWARTZ, Stuart B.____ Escravos, Roceiros e Rebeldes. Bauru: Edusc, 2001, p. 31 5 CARDOSO, Ciro Flamarion___ A brecha camponesa no sistema escravista. In: CARDOSO, Ciro Flamarion S. Agricultura, escravidão e capitalismo. Petrópolis: Vozes, (1979), (p.133) 6 PEDROZA, Manoela___ A roça, a farinha e a venda: produção de alimentos, mercado interno e pequenos produtores no Brasil colonial. In: O Brasil Colonial (v.3, 2014) (p. 04) 3 do ritmo de produção a maior parte dos agricultores optaram por outros métodos que garantisse a colaboração dos escravos. No engenho era gerado uma série de incentivos e presentes, como: rum e rações extras. Mas o que era mais importante para os escravos era a utilização de cotas, onde ao completar a tarefa os escravos estavam livres para fazer o que bem quisessem. Stuart, destaca que havia fortes indícios na Bahia e em outros pontos do Brasil, onde a maioria dos escravos desejavam alcançar algum grau de independência econômica, e para isso significava que ele tinha que ter mais tempo para trabalhar em seus próprios terrenos e hortas. Com a intenção de produzir mais excedente e vender no mercado local ou ao proprietário, e com o dinheiro ganho fazer compras ou tentar comprar sua própria liberdade ou a de um ente próximo7. O sistema de tarefas e sua integração com o desejo de tempo livre dos escravos, sempre dedicado a pequenos lotes para subsistência, proporcionava algum espaço social aos escravos, uma oportunidade de viver melhor e, em alguns casos, de participar diretamente dos mercados locais. Tal atividade poderia, também, significar a promessa de liberdade. (SCHWARTZ, 2001, p. 99) Os escravos plantavam mandioca e outros vegetais nas suas parcelas que eram cercadas. Mas vários problemas os assolavam, como: roubos praticados por outros escravos, depredações de formigas, porcos do mato ou até do gado8. No livro “Negociações e Conflitos” (1989) de Reis e Silva, pode se destacar quais eram os alimentos que eram plantados nas roças (café, o seu milho, feijões, bananas, batatas, carás, aipim, canas etc.) E o que os escravos adquiriam com seu excedente. (Tabaco, comida de regalo, e roupas melhores)9 7 SCHWARTZ, Stuart__ Trabalho e cultura: Vidas nos engenhos e vida dos escravos. In: Escravos, roceiros e rebeldes- (Cap-2, 2001) (p.97) 8 CARDOSO, Ciro Flamarion___ A “brecha camponesa” no Brasil: realidades, interpretações e polêmicas. In: Escravo ou Camponês? O protocampesinato negro nas Américas. Brasiliense: (1987) (p.99) 9 REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito – a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. (p.30 e 31) 4 4. A Brecha como Resistência. Ciro F. Cardoso no seu livro Escravo ou Camponês? (1987), cita importantes documentos publicado por Schwartz, onde relatava incidentes de lutas sociais que aconteceram em 1789 ou 1790, na Bahia, onde grupos de escravos fugitivos estabeleceu por escrito as suas condições para voltar ao trabalho na fazenda. A condição principal era o dia de sexta-feira e sábado livre para trabalharem em suas próprias lavouras. Outras condições seria o fornecimento de rede, tarrafas, canoas, para a pesca, nenhuma restrição de espaço para o plantio de arroz e poder extrair qualquer de que houvesse necessidade10 Sobre esses documentos Schwartz comenta: Certos números de parágrafos deixam que os escravos estavam acostumados a fornecer o seu próprio sustento. As exigências relativas a dois dias livres, sem responsabilidades no engenho, com direito a pescar, plantar arroz e cortar lenha, indicam um certo grau de independência e autossuficiência. (Schwartz, 1977. P.73, APUD Cardoso, 1987, p.99) Nesse mesmo livro Cardoso cita exemplos onde na Bahia e no Rio de Janeiro os frades encorajavam a venda dos excedentes do plantio, para usar o dinheiro recebido na compra de suas alforrias ou de outros escravos11. 5. A Brecha Como mecanismo de Manutenção e Controle da Ordem Escravista. Como já citado acima, os donos de engenho usavam da Brecha Camponesa como um sistema de incentivo para controlar a produção do escravo. E nas grandes fazendas de Café, no Rio de Janeiro, isso não era muito diferente, a Brecha era vista pelos senhores como uma maneira de controlar e manter o escravo ligado aquela terra. Reis e Silva usandoas Memórias do Barão de Pati do Alferes, conseguem demonstrar a maneira que os grandes senhores do café usavam a Brecha. 10 Ibidem 8, p.99 11 Ibidem 8, p.100 5 Ao ceder um pedaço de terra em usufruto e a folga semanal para trabalha-la, o senhor aumentava a quantidade de gêneros disponíveis para alimentar a escravaria numerosa, ao mesmo tempo que fornecia uma válvula de escape para as pressões resultantes da escravidão. (Reis e Silva,1989, p.28) Alguns autores aborda a brecha camponesa como uma conquista dos escravos, outros como modo de resistência. Mas documentações do Rio de Janeiro do século XIX, mostra mais a brecha sendo usada como mecanismo de segurança12. Reis e Silva (1989) no seu livro “Negociações e Conflitos” destaca que os cafeicultores do município de Vassouras, estavam preocupados com o perigo das insurreições e reuniram um conjunto de medidas, que não usava somente a força, e sim também algumas ideologias, com a intenção de acalmar qualquer rebelião. Dentre essas medidas havia a que permitia que os escravos tivessem roças e tempo para trabalhar nelas. 6. Considerações Finais Ao ler e estudar as varia finalidades da brecha camponesa, percebe-se que o sistema escravista não podia manter-se apenas pelo uso da força, mas precisava de mecanismo como a religião e principalmente a brecha para poder controlar todo o sistema. Não podemos esquecer também que a brecha não era um elemento que colocava o sistema escravista em perigo, mas o que deve-se destacar é como ela foi efetivamente importante nas atividades autônomas dos escravos, era um espaço situado dentro do sistema , onde abria algumas possibilidade inéditas para a vida do cativo. 12 Ibidem 9, p.29 6 7. REFERÊNCIAS • CARDOSO, Ciro Flamarion___ A brecha camponesa no sistema escravista. In: CARDOSO, Ciro Flamarion S. Agricultura, escravidão e capitalismo. Petrópolis: Vozes, (1979) • CARDOSO, Ciro Flamarion___ A “brecha camponesa” no Brasil: realidades, interpretações e polêmicas. In: Escravo ou Camponês? O protocampesinato negro nas Américas. Brasiliense: (1987) • PEDROZA, Manoela___ A roça, a farinha e a venda: produção de alimentos, mercado interno e pequenos produtores no Brasil colonial. In: O Brasil Colonial (v.3, 2014) • SCHWARTZ, Stuart__ Trabalho e cultura: Vidas nos engenhos e vida dos escravos. In: Escravos, roceiros e rebeldes- (Cap-2, 2001) • REIS, João José ; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito – a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo : Companhia das Letras, 1989.
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