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Resenha do filme o homem que virou suco

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resenha do filme o homem que virou suco
No filme, Deraldo (José Dumont), escritor de cordel, paraibano recém-chegado a São Paulo,
é confundido com o operário Severino, nordestino, que em um ato de revolta assassina o
patrão a facadas.
Ao término do filme, quase desesperançoso, ele finalmente encontra Severino e, após
comprovar sua inocência, retoma a produção artística para escrever um cordel intitulado O
Homem que Virou Suco, fazendo de sua carreira um poema de resistência da identidade
nordestina. "É a história de todo nordestino, o cara que chega em São Paulo, trabalha, luta, e
acaba passando fome e vira suco de laranja."
Na época da realização do filme,o movimento grevista ganha impulso na região, questão que
aparece, de forma incisiva, nas cenas em que o personagem, tentando conseguir um emprego
na construção de uma estação de metrô, é obrigado a assistir a um curta-metragem no qual
Lampião, representado por xilogravuras, é ridicularizado e não consegue adaptar-se em São
Paulo.
O título é jocoso, tirado dessa expressão popular que diz que se a gente bobear , o sistema
espreme e transforma em bagaço. Em sua imaginação ele se vê ironizado por estar vestido de
cangaceiro no centro da cidade, prevalecendo, no entanto, sua auto imagem como herói
popular que, solitário, enfrenta as engrenagens da metrópole.
O Homem que Virou Suco tem em Deraldo a representação daquele que busca resistir às
adversidades impostas pela ordem política e social constituída. Representativa de sua
personalidade heróica - entre a revolta e o afeto - é a sequência na qual lê para o colega de
trabalho analfabeto uma carta com notícias familiares enquanto a câmera, na mão, registra os
rostos dos demais operários que, atentos, ouvem com emoção palavras vindas do Nordeste.
Os olhares direcionados a Deraldo - uma espécie de público a observar o artista - parecem
demonstrar o afeto sentido por aquele que resiste às pressões da cidade e é capaz de dar voz
às lembranças. Como observa - se, quase ao término do filme, enquanto o protagonista vende
sua poesia nas ruas de São Paulo, quatro planos documentais da greve dos metalúrgicos de
1979 aparecem na montagem: a impressão relâmpago de uma imensa ampliação da roda de
pessoas que cercavam o poeta.
A investigação do protagonista sobre o passado de seu duplo provém da necessidade de
conhecer e vivenciar o cotidiano do outro como etapa fundamental da criação artística. Ao
experimentar a vida do outro na trajetória de subempregos em São Paulo, o cordelista se
prepara como poeta popular: "os fatos do filme estão organizados para funcionar também
como uma parábola, como uma espécie de proposta de dramaturgia onde o artista intencional
e conscientemente se torna um sósia do operário.
O centro da conversa não é o operário que mata o patrão, mas sim o artista que vive à
margem, fechado em seus próprios problemas, sem se dar conta de que sua expressão se
realiza só quando ele se propõe como um igual a quem trabalha. O diretor conta que essa
proposta de linguagem nasce do desejo de realizar um "cinema de intervenção": Na sequência
[quando Deraldo] entra no refeitório da obra mesmo, os operários que estão ali são reais

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