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ESTRUTURA MOLECULAR DE POLÍMEROS Leonardo Zborowski Sobrinho Porto Alegre 2021 ESTRUTURA MOLECULAR DE POLÍMEROS Introdução As propriedades dos polímeros são fortemente influenciadas por detalhes presentes na estrutura molecular das cadeias. Esses detalhes incluem: ligações químicas, tipos de monômeros, presença e sequenciamento das unidades monoméricas em caso de copolímeros, presença de ramificações e ligações cruzadas, isomerias. O conhecimento destes detalhes permite um entendimento profundo das características relacionadas a cada polímero, sua seleção adequada e aplicação comercial. Neste capítulo estão os principais conceitos relacionados à estrutura molecular dos polímeros com a apresentação e discussão de termos rotineiramente utilizados na produção, pesquisa e no desenvolvimento de materiais poliméricos. Ligações Químicas em Polímeros Uma cadeia polimérica consiste em uma macromolécula que é formada a partir de unidades repetitivas, chamadas meros, unidas por ligações químicas primárias. Essas ligações são ditas intramoleculares pois dizem respeito às ligações dentro de uma mesma molécula polimérica. Além dessas, há também as ligações formadas devido à atração entre cadeias distintas ou segmentos de mesma cadeia através de forças secundárias, ditas intermoleculares. Ligações primárias ou intramoleculares Os átomos de uma molécula estão conectados entre si por ligações primárias fortes, podendo ser de vários tipos: Iônica: estas ligações iônicas ocorrem nos ionômeros, que são termoplásticos contendo grupos carboxílicos ionizáveis, que podem criar ligações iônicas entre as cadeias. Coordenada: nesta ligação, um átomo contribui com um par de elétrons para a formação da ligação, ocorrendo em polímeros inorgânicos ou semi-orgânicos. Metálica: pouco comum em polímeros. Ocorre quando íons metálicos são incorporados ao polímero. Covalente: esta é a ligação mais comum em polímeros, determinando as forças intramoleculares. A Tabela 1 apresenta exemplos de ligações covalentes comuns em polímeros, distância média e energia de ligação. Estão ordenadas em relação à energia de ligação. Observa-se que os valores das distâncias médias de ligações covalentes giram em torno de 1,5 Å e a energia de ligação, em torno de 100 kcal/mol. A ligação simples C-C é a ligação covalente mais comum em polímeros, presente na maioria dos polímeros. Tabela 1. Exemplos de ligações covalentes presentes em materiais poliméricos. A Tabela 2 mostra os ângulos típicos das principais ligações covalentes comuns nos polímeros. Tabela 2. Ângulos típicos das principais ligações covalentes comuns nos polímeros. Ligações secundárias ou intermoleculares As ligações secundárias ou intermoleculares são forças entre segmentos de cadeias poliméricas. Elas podem ser de dois tipos: de Van der Walls e de pontes de hidrogênio. Forças de Van der Walls – estas, por sua vez, podem ser subdivididas em: Interação dipolo-dipolo: Esta ligação ocorre quando dois dipolos permanentes, de sinais opostos, se aproximam. Este tipo de força intermolecular apresenta baixa energia, entre 2 e 9 Kcal/mol, com distância média de ligação de 3 a 5 Å. Isso ocorre em moléculas polares, como, por exemplo, entre os grupos CN da poliacrilonitrila (PAN). Interação dipolo-dipolo induzido: A presença de um dipolo permanente pode induzir um desbalanceamento de cargas em uma molécula próxima, originando um dipolo induzido. Entre estes dois dipolos, aparece uma força de atração secundária fraca. Tal tipo de interação não é comum em polímeros, pois, se existir um dipolo permanente, ele estará no mero e, portanto, existindo em grande quantidade na cadeia polimérica, o que leva ao primeiro caso no qual a interação é do tipo dipolo-dipolo. Forças de dispersão: Em moléculas em que não há presença de grupos polares, ou seja, flutuações momentâneas da nuvem eletrônica podem induzir a uma polarização instantânea na molécula, provocando interação com suas vizinhas. Estas forças são utilizadas para explicar a força de atração entre moléculas alifáticas presentes nas poliolefinas (que têm caráter apolar), permitindo o estado sólido do polietileno. Pontes de hidrogênio: é o segundo tipo de força secundária envolvendo longas distâncias e baixas energias. Em relação às demais ligações intermoleculares, apresentam energia de ligação mais altas, que resultam em cadeias mais próximas umas das outras e, assim, necessita maior energia para separação e, portanto, maior temperatura de fusão. A existência desta força é um dos principais motivos para que a temperatura de fusão do náilon 6,6 seja de 130°C acima daquela apresentada pelo polietileno (HDPE), que só apresenta forças secundárias do tipo dispersão. As forças intramoleculares, covalentes e fortes vão determinar, com o arranjo das unidades de repetição, a estrutura química e o tipo de cadeia polimérica, incluindo o tipo de configuração. Estas também vão influenciar na rigidez/flexibilidade da cadeia polimérica e, consequentemente, do polímero, assim como na sua estabilidade (térmica, química, fotoquímica etc.). As forças intermoleculares fracas vão determinar decisivamente a maioria das propriedades físicas do polímero: temperatura de fusão cristalina, solubilidade, cristalinidade, difusão, permeabilidade a gases e vapores, deformação e escoamento envolvendo em todos os casos a quebra e formação de ligações intermoleculares. Quanto mais fortes forem estas forças, maior a atração entre as cadeias, tornando-se mais difícil todo e qualquer evento que envolva a separação e/ou fluxo de uma cadeia sobre a outra. Quadro resumo Funcionalidade A funcionalidade (f) de uma molécula é o número de pontos reativos presentes nesta molécula. Para que um polímero possa ser obtido a partir de uma molécula de baixa massa molar, é necessário que a funcionalidade mínima da molécula seja dois. Se uma molécula apresentar funcionalidade igual a um, em uma reação com outra molécula monofuncional, formará apenas um novo grupo, e a molécula resultante será pequena. No caso de haver moléculas trifuncionais (f = 3) ou polifuncionais (f > 3), poderá haver formação de polímeros ramificados ou uma rede tridimensional. A bifuncionalidade pode ser conseguida via uma dupla ligação reativa ou dois grupos funcionais reativos. Nestes dois casos, é necessário que os centros sejam reativos, não apresentando impedimento estérico. Como exemplo de bifuncionalidade, têm-se as duplas reações reativas presentes em moléculas, como etileno, propeno e butadieno; e grupos funcionais reativos, como os pares diácidos/glicóis na formação de poliésteres e diácidos/diaminas na formação de poliamidas (náilons). Como exemplo de moléculas polifuncionais, há os alcoóis e glicóis. Estrutura das Cadeias Uma cadeia polimérica pode apresentar diversas arquiteturas. Dentre essas, as mais comuns são: Cadeias lineares: em que a cadeia polimérica é constituída apenas de uma cadeia principal. É formada pela polimerização de monômeros bifuncionais, podendo exigir a ajuda de catalisadores estereoespecíficos. A Figura 1 mostra duas cadeias lineares emaranhadas, na conformação em novelo. Figura 1. Conformação em novelo de cadeias poliméricas lineares. Cadeias ramificadas: da cadeia principal partem prolongamentos, que podem ser longos ou curtos, podendo ser formados pelo mesmo mero ou por outros meros diferentes que compõe a cadeia principal, formando diversas arquiteturas. Entre as arquiteturas das cadeias ramificadas, pode haver arquitetura aleatória, radial ou pente, como mostradas na Figura 2. Figura 2. Cadeias poliméricas ramificadas com três exemplos de arquiteturas comuns. Cadeias reticuladas: as cadeiaspoliméricas estão ligadas entre si através de segmentos de cadeia unidos por ligações químicas covalentes fortes. Em função da quantidade de ligações cruzadas médias por volume unitário, pode-se subdividir esta classificação em polímeros com baixa densidade de ligações cruzadas (exemplo: borracha vulcanizada) ou polímeros com alta densidade de ligações cruzadas (exemplo: termorrígido). Estas ligações cruzadas amarram uma cadeia às outras impedindo seu livre deslizamento. A Figura 3 mostra um emaranhado de cadeias poliméricas nas quais os pontos denotam uma ligação cruzada entre elas. Termofixos são inicialmente líquidos que, durante a formação das ligações cruzadas, passam pelo ponto de gel, região onde o líquido se torna extremamente viscoso e gradativamente endurece até se tornar um sólido rígido. Figura 3. Cadeias poliméricas com Ligações cruzadas. Os pontos de entrecruzamento, denotados por um ponto preto, são constituídos por ligações covalentes primárias, intramoleculares. Homopolímeros e Copolímeros Os polímeros podem ser classificados de acordo com o número de unidades repetitivas presentes nas cadeias. Eles podem ser classificados em homopolímeros, copolímeros ou terpolímeros. Homopolímero é um polímero constituído de apenas uma unidade repetitiva. Copolímero é um polímero que apresenta mais de um mero diferente na cadeia polimérica. São ditos comonômeros cada um dos monômeros utilizados na copolimerização. Em função do modo de distribuição dos diferentes meros dentro da cadeia polimérica, pode-se dividir os copolímeros nos seguintes tipos: aleatório, alternado, em bloco e grafitizado. No caso do copolímero aleatório, também chamado de ao acaso ou estatístico, não há uma sequência definida de disposição dos diferentes meros. Exemplos: copolímeros de etileno-acetato de vinila (EVA), borracha sintética de estireno-butadieno (SBR). Em uma cadeia de copolímero alternado, os diferentes meros estão dispostos de maneira alternada. Um dos raros exemplos é o copolímero de anidrido maleico e estireno. No copolímero em bloco, há a formação de grandes sequências, ou blocos, de uma determinada unidade repetitiva (mero) se alternando com outras grandes sequências de outro mero. Dois exemplos clássicos são as borrachas termoplásticas tribloco de estireno e butadieno ou estireno e isopreno. Com cadeia normalmente linear, este copolímero tem dois blocos de estireno nas pontas, com aproximadamente 85 meros cada, e um bloco central de butadieno com aproximadamente 2000 meros. Eles também podem ser construídos com arquitetura do tipo estrela, com até 32 braços. Em um copolímero grafitizado ou enxertado, na cadeia principal está um homopolímero de um determinado mero com ramificações, cada uma delas contendo uma cadeia polimérica com outra unidade repetitiva. Exemplo: copolímero de Acrilonitrila- Butadieno-Estireno (ABS). A estrutura química deste copolímero é formada principalmente por uma cadeia de homopolibutadieno enxertada com um copolímero aleatório de estireno-acrilonitrila. O ABS comercial também possui outras duas fases: uma de cadeias não enxertadas de homopolibutadieno e outra de cadeias de um copolímero aleatório de estireno-acrilonitrila conhecido por SAN livre. Na Figura 4, estão apresentadas representações esquemáticas de homopolímero e de tipos de copolímeros. Figura 4. Representação esquemática de homopolímero e dos tipos básicos de copolímeros. Estrutura Química dos Polímeros Dentro desta classificação, analisa-se o polímero através da estrutura química do seu mero. Duas subdivisões são possíveis em princípio: polímeros de cadeia carbônica e polímeros de cadeia heterogênea. Dentre os polímeros de cadeia carbônica, ou seja, cadeias constituídas somente de átomos de carbono, estão: poliolefinas, polímeros de dienos, polímeros estirênicos, polímeros clorados, fluorpolímeros, polímeros acrílicos, polivinil ésteres e as resinal fenol-formaldeído. Dentre os polímeros de cadeia heterogênea, que apresentam átomos tais como oxigênio, nitrogênio, enxofre e silício, entre outros, tem-se: poliéteres, poliésteres, policarbonato, poliamidas, poliuretanos, aminoplásticos, derivados da celulose e silicones. Reações de Polimerização Nesta classificação, definida por Carothers em 1929, os polímeros são classificados em duas classes: polímeros de adição e polímeros de condensação. Os polímeros de adição são aqueles que, durante a polimerização, não há perda de massa do sistema reacional na forma de moléculas de baixa massa molar. No caso de conversão total dos monômeros, a massa de polímero formado é a mesma massa inicial de monômeros. Em geral, são polímeros de cadeia carbônica. Exemplos: PE, PP, PS, PVC, PMMA, entre outros. Os polímeros de condensação são aqueles que são originados a partir da reação de dois grupos reacionais reativos com a eliminação de moléculas de baixa massa molar, tais como H2O, HCl, CH3OH, entre outros. Em geral, são polímeros de cadeia heterogênea. Exemplos: poliamidas, poliésteres, policarbonatos. Comportamento mecânico Os polímeros, no que diz respeito ao comportamento mecânico, podem ser classificados em: a) Plásticos: um material polimérico sólido na temperatura de uso, em geral e em torno da temperatura ambiente. Podem ser subdivididos em: Termoplásticos: plásticos que com o aumento significativo de temperatura e marginal de pressão, amolecem e fluem, podendo ser moldado nessas condições e, após a retirada desse aquecimento, se solidificam adquirindo a forma do molde. Com novas aplicações de temperatura e pressão, eles se amolecem fluem novamente. Possuem cadeias lineares ou ramificadas. Em condições adequadas, são solúveis. Termofixos: também conhecidos como termorrígidos, termoendurecidos, polímeros em rede ou em retículo, são plásticos que, quando sujeitos a um aumento substancial da temperatura e marginal da pressão, amolecem e fluem, adquirindo a forma do molde, reagem quimicamente, formando ligações cruzadas entre as cadeias e se solidificam. Após a solidificação, não podem amolecer e fluir com subsequentes aumentos de temperatura e pressão, sendo assim, são materiais insolúveis e infusíveis. Baroplásticos: plásticos que, com aumento significativo aumento da pressão e marginal da temperatura, fluem através de arranjos na conformação de suas cadeias. Seu estado físico deve ser borrachoso. b) Elastômeros: polímeros que possuem alta capacidade de deformação (no mínimo duas vezes o comprimento original) e retornam ao comprimento original rapidamente após a retirada da solicitação mecânica. Para apresentarem este comportamento, os elastômeros normalmente possuem cadeias flexíveis amarradas umas às outras via emaranhamento e baixo nível de formação de ligações cruzadas. c) Fibras: termoplásticos lineares orientados em sentido longitudinal que satisfaça a condição geométrica de L/D ≥ 100. A orientação das cadeias e dos cristais, realizada durante o processo de fiação, aumenta a resistência mecânica destes materiais, permitindo seu uso na forma de fios finos. Desempenho mecânico Nesta classificação, leva-se em consideração o desempenho mecânico do material polimérico quando usado em um artefato ou em uma peça. Quanto ao desempenho mecânico, os polímeros podem ser classificados em: commodities, polímeros especiais, polímeros de engenharia e polímeros de alto desempenho. Os polímeros commodities, ou convencionais, são caracterizados por baixos valores de propriedades mecânicas, facilidade de processamento, alta produção e baixo custo. Sua produção corresponde a aproximadamente 90% da produção total de polímeros no mundo. Exemplos desta classe de polímeros: poliolefinas (HDPE, LDPE, LLDPE, PP), poliestireno e poli(cloreto de vinila). Os polímeros especiais correspondem a uma classe depolímeros com valor de propriedades levemente superior e com um custo relativamente mais alto em comparação aos polímeros convencionais. Dentre outros, são considerados polímeros especiais: copolímeros de etileno-acetato de vinila e estireno-acrilonitrila, além de homopolímeros de politetrafluoretileno e poli(metacrilato de metila). Para a confecção de peças de bom desempenho mecânico para aplicações em sistemas mecânicos, exige-se do polímero alta resistência mecânica, boa tenacidade e excelente estabilidade dimensional. Isso é obtido com polímeros de engenharia. Exemplos: poliamidas, poliésteres termoplásticos, poliacetais, policarbonato, copolímero de acrilonitrila-butadieno-estireno (ABS) e polióxi-fenileno. Em aplicações em que a maior exigência é a alta temperatura, são uttlizados polímeros com grande quantidade de anéis aromáticos na cadeia principal, a qual aumenta a estabilidade térmica para uso ininterrupto a temperaturas acima de 150°C. Esses polímeros são conhecidos como polímeros de alto desempenho. Exemplos: polisulfonas, polisulfeto de fenileno, poliimidas, alguns poliuretanos, poliétertercetonas e polímeros de cristal líquido polimérico. Configuração x Conformação A configuração de uma cadeia polimérica corresponde aos arranjos moleculares espaciais fixados por ligações químicas intramoleculares (primárias, fortes). Portanto, para que haja mudança de configuração é necessário quebrar ligações químicas primárias envolvendo a degradação do polímero. Assim, a configuração de um dado polímero é definida durante a sua polimerização, não podendo ser alterada posteriormente. A conformação descreve arranjos geométricos espaciais que a cadeia polimérica pode adquirir, que podem ser mudados através de simples rotações das ligações simples C-C, sendo, portanto, reversíveis. Esta rotação é livre, mas deve respeitar a geometria tetraédrica do carbono, mantendo-se fixos o ângulo de ligação e a distância de ligação entre os átomos. Configuração das cadeias poliméricas Para análise da configuração das cadeias poliméricas, há três tipos de isomeria presentes em polímeros: isomeria posicional (encadeamento), isomeria geométrica (cis- trans) e isomeria espacial ou estereoisomeria. Isomeria posicional ou de encadeamento A isomeria posicional ou de encadeamento refere-se à configuração assumida por uma unidade repetitiva (mero) em relação ao mero vizinho. Nos polímeros vinílicos, de fórmula geral –[CH2-CHX]n-, com a adição do monômero ao centro ativo durante a propagação na polimerização em cadeia, pode ocorrer três tipos de encadeamentos, dependendo de qual átomo de carbono é ligado à cadeia em crescimento: Encadeamento cabeça-cauda: Durante o crescimento da cadeia, sempre é o carbono cauda do monômero que se apresenta para se ligar com ela. Encadeamento cabeça-cabeça (ou cauda-cauda): Neste caso, sempre é o outro carbono que se apresenta para ligar com o carbono radical da cadeia em crescimento. Encadeamento misto: Não existe uma ordem fixa de encadeamento. Para a maioria das polimerizações, o encadeamento cabeça-cauda é o modo mais frequente, enquanto isso, encadeamentos diferentes se tornam mais tendentes quando as reações de polimerização são conduzidas em altas temperaturas. Isomeria geométrica ou cis-trans A polimerização de dienos produz polímeros com uma ligação carbono-carbono dupla residual. O monômero do isopreno é assimétrico com uma ligação simples C-C carbono no centro e duas duplas. Considerando-se que os carbonos ligados por ligação simples podem girar livremente, temos no monômero igual probabilidade de posicionamento dos carbonos CH2 das pontas, tanto do mesmo lado como em lados opostos. A Figura 5 exemplifica estas possibilidades. Durante a formação da nova ligação dupla é possível a geração de duas estruturas isômeras (cis ou trans), com praticamente a mesma probabilidade. Se, por outro lado, apenas uma ligação dupla for envolvida na polimerização, teremos a formação de duas estruturas do tipo vinil (vinil 1,2 e vinil 3,4), pois o monômero é assimétrico. Na configuração cis, a cadeia cresce do mesmo lado da dupla ligação, ao passo que, na configuração trans, o crescimento se dá em lados opostos. Por razões de instabilização sucessiva de duas duplas ligações e efeito estérico de grupos laterais, pode-se esperar que na síntese do isopreno sem catálise ocorra a formação de cadeias poliméricas com aproximadamente 45% de cada isômero cis e trans, 8% de isômero 3-4 vinil e 2% de isômero 1-2 vinil, todos eles presentes em cada cadeia individualmente. No caso do butadieno, por este se tratar de um monômero simétrico, tem-se apenas uma estrutura vinil (além da cis e trans). A estrutura trans é mais regular, facilitando, sob condições propícias (por exemplo, sob tração), a cristalização do polímero. Este efeito é indesejado em elastômeros, pois o enrijece, reduzindo a elasticidade e distensibilidade, características básicas desta classe de materiais. Figura 5. Estruturas químicas espaciais do poli-isopreno. Estereoisomeria A taticidade, ou estereoisomeria, corresponde à regularidade espacial com que grupos laterais são alocados na cadeia polimérica. Isotático: neste caso, todos os grupos laterais são dispostos de um mesmo lado do plano definido pelos átomos da cadeia principal. Representando-se ligações covalentes, saindo do plano, indo na direção para cima por um triângulo cheio e indo para baixo por um triângulo pontilhado, temos: Na representação, todos os grupos laterais R estão direcionados para frente do plano. Sindiotático: os grupos laterais são dispostos de maneira alternada, ora para cima, ora para baixo com relação ao plano da cadeia principal. Atático: não há uma regularidade nesta disposição. Conformação das cadeias poliméricas Novelo, aleatória ou enrodilhada: considerando-se a condição de uma cadeia polimérica com total mobilidade, esta tende a se enrolar em um novelo por razões termodinâmicas. Esta conformação é aleatória, não definindo nenhuma periodicidade. Normalmente, todas as cadeias poliméricas em solução (sem agitação), no estado fundido sem fluxo ou na fase amorfa do estado sólido, apresentam este tipo de conformação. Um exemplo deste arranjo pode ser visto na Figura 6. Figura 6. Conformação aleatória ou em novelo de uma cadeia polimérica amorfa. A conformação de mais alta energia para uma cadeia polimérica se faz quando as suas duas pontas estão o mais afastado possível. Nesse caso, apenas uma conformação é possível, a de uma cadeia estendida. Reduzindo-se a força de estiramento, as duas pontas tendem a se aproximar, pois isto aumenta em muito o número de possibilidades de a cadeia adquirir novas conformações, aumentando a entropia e, portanto, sendo o caminho natural. Assim, para ficar em um estado de baixa energia, a cadeia adquire a conformação aleatória ou em novelo. Zigue-zague planar: no estado sólido, cadeias lineares sem grupos laterais podem se empacotar de uma maneira regular, conformando-se em um tipo zig-zag. Os átomos de carbono da cadeia principal se dispõem espacialmente, definindo um plano único, mantendo os ângulos e distâncias de ligação constantes e característicos para cada tipo de ligação. Exemplos de polímeros que apresentam este tipo de conformação são: LDPE, HDPE, náilons, PC, PET, considerando-se principalmente suas sequências etilênicas e aromáticas. A Figura 7 mostra este tipo de arranjo espacial para uma pequena sequência etilênica com apenas 5 meros. Em um cristal de polietileno, cadeias em conformação zig-zag planar com algumas centenas de meros são usadas para formar a espessura da lamela. Figura 7. Conformação zigue-zague planar de uma sequência etilênica. Helicoidal, hélice ou espiral: também no estadosólido, a presença de grupos laterais na cadeia polimérica, devido ao efeito estérico do grupo lateral, tende a distorcer de forma gradativa a conformação zig-zag planar. Se a disposição do grupo lateral for tática (iso ou sindiotática), ou seja, regularmente disposta ao longo da cadeia principal, tem-se a distorção da cadeia formando uma espiral ou hélice. O diâmetro e o passo da hélice dependem principalmente da posição espacial (taticidade), do volume e da forma do grupo lateral. A Figura 8 mostra a conformação helicoidal de alguns polímeros vinílicos isotáticos. Figura 8. Conformação helicoidal de alguns polímeros vinílicos isotáticos. Empacotamento molecular A maneira pela qual as cadeias poliméricas se organizam umas em relação às outras no espaço depende de fatores estéricos e da regularidade estrutural. Moléculas lineares, com o mesmo tipo de configuração, tendem a alinhar-se, e o material será capaz de formar um registro regular periódico, cristalizando-se. As interações intermoleculares serão maximizadas. Os polímeros capazes de se orientar e se empacotar o fazem até determinado grau, que depende das condições de processamento, apresentando semicristalinidade. Os polímeros que não se cristalizam formam materiais amorfos como os materiais vítreos e as borrachas. Nessas, as forças intermoleculares são mais fracas e não há empacotamento suficiente. A cristalinidade pode ser aumentada durante o processamento, submetendo o polímero a forças de tração (estiramento) que conduzem ao alinhamento. Essa técnica é utilizada na produção de fibras sintéticas têxteis. Assim, um polímero semicristalino é formado por zonas cristalinas e amorfas, e a maneira como essas regiões se configuram no espaço constitui um importante aspecto da morfologia do material. Referências Bibliográficas Canevarolo, S. V., Ciência dos Polímeros: um texto básico para tecnólogos e engenheiros, 2ª edição, Editora Artliber, São Paulo, 2006. Mano, E. B., Mendes, L. C., Introdução a Polímeros, 2ª edição, 5ª reimpressão, Editora Blücher, São Paulo, 2012. Ebewele, R. O, Polymer Science and Technology, CRC Press, New York, 2000.
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