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A2 - ENIAC_o_primeiro_computador_eletronico

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HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
 
Gilberto L. Fernandes e-mail: gilberto.fernand@uol.com.br 21/01/2014 Page 350 of 487 
O ENIAC 
 
Existe	
  algo	
  que	
  é	
  mais	
  poderoso	
  que	
  todas	
  as	
  armas	
  do	
  mundo,	
  uma	
  
idéia	
  cujo	
  tempo	
  tenha	
  chegado.	
  
Victor	
  Hugo,	
  1848 
Quase um século depois das inovações e conceitos introduzidos por 
Babbage e George Boole, encontramos um cenário no qual a análise lógica está 
muito mais desenvolvida; relés eletromagnéticos poderiam ser utilizados no lugar 
das engrenagens e rodas dentadas, mas ninguém ainda conseguira evoluir além 
dos princípios de Babbage. Os construtores de grandes máquinas de cálculo, nas 
décadas de 1930 e 1940, passaram a utilizar fitas de papel perfurado ao invés de 
cartões perfurados, mas a idéia continuava a mesma: programas com as 
instruções de operação, e dados a serem processados, codificados de modo 
diferente e armazenados em dispositivos completamente distintos. Hoje é 
inquestionável que para executar, copiar, transmitir ou compilar um programa não 
existem diferenças em relação a trabalhar com dados propriamente ditos. Tudo 
isto não passa de uma sequência de estados “ligado” ou “desligado”, 0’s e 1’s, 
armazenados no disco rígido ou na memória do computador. Mas, naquela época, 
este conceito ainda não estava estabelecido e, mesmo quando a eletrônica 
substituiu os dispositivos eletromecânicos anteriores, os programas continuavam 
a ser pensados e implementados em um formato inteiramente diferente de 
números. 
A invenção é quase sempre um processo de continuidade, com esforços 
paralelos e descobertas simultâneas. Certamente, nos é familiar o fato de uma 
mesma idéia despontar, por vezes, quase que ao mesmo tempo em partes 
diversas do mundo, surgindo de diferentes centros de pesquisa sem que 
necessariamente tenha havido alguma forma de colaboração ou troca de 
informações entre seus pesquisadores. Isto tem sido mais regra que exceção, e 
temos inúmeros exemplos deste fato, como a invenção do avião, da lâmpada 
elétrica, da descoberta da estrutura do DNA. No caso dos primeiros computadores 
eletrônicos digitais, também existem várias histórias paralelas, ocorridas na 
Europa e nos Estados Unidos da América, mas uma, em especial, destacou-se na 
preferência dos historiadores, que é a história do ENIAC, onde mais uma vez se 
confirmou esta criativa tradição no surgimento de invenções, baseadas na 
realimentação dos esforços e idéias de uma cadeia de contribuições, ainda que 
seus autores não tivessem conscientemente esta intenção de trabalho em equipe. 
Para que o leitor não seja involuntariamente induzido a cometer injustiças 
históricas, é necessário que se esclareça que o desenvolvimento do ENIAC sempre 
 HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
 
Gilberto L. Fernandes e-mail: gilberto.fernand@uol.com.br 21/01/2014 Page 351 of 487 
esteve acessível ao público e pôde ser acompanhado abertamente, enquanto o 
mesmo não se pode dizer em relação à construção do Colossus, projeto liderado 
pelo brilhante matemático inglês Alan Turing, e que divide com o ENIAC o título de 
primeiro computador eletrônico digital. Desenvolvido na Inglaterra durante a 
Segunda Guerra Mundial, o Colossus teve a sua concepção e construção cercadas 
por rígida restrição de informações, imposta pelo governo britânico, e que 
perduraria até meados da década de 1970. A motivação por trás deste cuidadoso 
silêncio, visando que tal iniciativa não fosse exposta para além do pessoal técnico 
envolvido em seu projeto e dos agentes do Serviço de Inteligência Britânico, o 
MI6, responsável por toda a operação que motivaria seu financiamento, 
construção e operação, pode ser explicada pelo fato de ter sido o Colossus o 
produto da evolução direta de outros equipamentos, também projetados por 
Turing naquela mesma época e utilizados na decifração de mensagens militares 
alemãs, atividade esta que viria resultar em uma vantagem estratégica e 
fundamental para o desfecho final naquele conflito, favorável aos aliados. 
Outra questão que eu também gostaria de compartilhar com o leitor, reside 
na clara percepção de um marco histórico, representado justamente pelo 
surgimento dos primeiros computadores eletrônicos digitais e que divide a 
abrangência histórica desta nossa jornada em dois períodos distintos. Temos 
encontrado significativas diferenças em termos da quantidade e riqueza de 
informações disponíveis, da complexidade técnica e da forma como influências 
sociais e políticas impactaram o desdobramento histórico da ciência da 
computação, estando todas estas características presentes mais fortemente no 
segundo período estudado e em sintonia com o relativamente recente aumento 
exponencial da quantidade total de informações geradas pela humanidade, e que, 
segundo algumas estimativas, estaria sendo dobrada a cada poucos anos. O 
esforço necessário para mantermos o mesmo nível de acuracidade, dentro dos 
moldes de contextualização previstos para nortear esta obra, tornou-se maior 
após ultrapassarmos este ponto de transição. 
Podemos situar este marco histórico por volta de 1938, coincidindo com o 
início da aventura que resultaria no desenvolvimento dos primeiros computadores 
eletrônicos. Neste cenário, toda a Europa sentia-se ameaçada pela eclosão da 
Segunda Guerra Mundial e os Estados Unidos, ainda se recuperando da Grande 
Depressão, tentavam se manter distantes do conflito iminente. Para aqueles que 
se encontravam em solo americano, seus próprios problemas domésticos tinham 
um apelo maior que as questões internacionais. Entretanto, após o início da 
Guerra, e à medida que um país após outro foi sendo arrastado para o conflito, 
que alastrou-se pela Europa, África e Ásia, a possibilidade de envolvimento direto 
dos Estados Unidos tornava-se cada vez mais evidente e a preocupação com o 
despreparo de suas forças armadas para enfrentar uma campanha de tal 
 HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
 
Gilberto L. Fernandes e-mail: gilberto.fernand@uol.com.br 21/01/2014 Page 352 of 487 
envergadura ganharia força. Logo, haveria o início do esforço para aumentar sua 
capacidade bélica.* 
O ENIAC (Electronic Numerical Integrator Analyzer and Computer), 
eventualmente considerado o primeiro computador eletrônico digital†, foi 
desenvolvido com o objetivo de calcular o ângulo que uma determinada peça de 
artilharia deveria ser apontada para atingir um alvo específico. Seu principal 
patrocinador foi o Departamento de Artilharia, instituição responsável pelos testes 
de armas militares realizados no Campo de Provas de Aberdeen, situado em 
Maryland, EUA. 
Para conseguir a precisão de pontaria desejada, eram confeccionadas 
tabelas de trajetória para as armas de grosso calibre que eram testadas no 
Campo de Provas de Aberdeen. Estas tabelas indicavam a distância que uma ogiva 
poderia alcançar a partir de determinada inclinação de tiro, precisando a sua 
confecção levar em consideração muitos fatores que influenciam a trajetória do 
projétil, a começar pelo tipo de arma e projétil, ângulo de posicionamento, 
velocidade e direção do vento, temperatura, umidade e pressão atmosférica. Para 
cobrir todas estas variáveis era necessário o preparo de várias tabelas para cada 
tipo de arma, e a construção de cada tabela envolvia a resolução trabalhosa de 
equações diferenciais de segunda ordem para movimentos tridimensionais, que 
consumia várias horas de trabalho manual. Tal tarefa ficava sob a 
responsabilidade de uma equipe de profissionais qualificados, formada 
normalmente por jovens mulheres graduadas em matemática, recrutadas pela 
“U.S. Army's Women's Auxiliary Corps” (Corpo Auxiliar Feminino das Forças 
Armadas dos Estados Unidos), após receberem um treinamento apropriado.(19) 
O Ballistic Research Laboratory (Laboratório de Pesquisas em Balística), em 
Aberdeen, tinha a responsabilidade de produzir as tabelasde trajetórias, mas mal 
conseguia atender à demanda existente antes da guerra. Com o recrudescimento 
do conflito na Europa, a procura por estas tabelas aumentou e o tempo necessário 
para produzi-las, assim como o fato de que nem sempre tinham a precisão 
exigida, tornou-se inaceitável. 
Desde 1935, o Laboratório de Pesquisas em Balística já dispunha de um 
dispositivo matemático, chamado de “Bush Differential Analyzer” (Analisador 
 
* A Segunda Guerra Mundial, como relatado nos capítulos anteriores, teve seu início em 01/09/1939, com a 
invasão da Polônia pela Alemanha e terminou com a capitulação germânica em 07/05/1945 e, mais tarde, após os 
bombardeios nucleares de Hiroshima, em 06/08/1945, e de Nagasaki, dois dias depois, com a capitulação 
japonesa em 02/09/1945. (248) (Nota do Autor) 
† Existem controvérsias sobre esta questão, que se tornou motivo para longas disputas judiciais. Algumas fontes, 
após a decisão oficial da corte norte-americana em 1973, consideram o ABC (Atanasoff-Berry Computer) como 
sendo o primeiro computador eletrônico digital, enquanto outras creditam este feito ao Colossus inglês, ou mesmo 
ao Z3 alemão. Alguns autores consideram o crédito concedido ao ENIAC, como sendo devido a uma ampla 
campanha promocional que o tornou conhecido popularmente como o primeiro computador digital. (Nota do Autor) 
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Diferencial Bush), para ajudar na resolução de cálculos de engenharia bélica. Este 
equipamento, uma calculadora mecânica e analógica, concebida em 1925 por 
Vannevar Bush*, do Massachusetts Institute of Technology (Instituto de 
Tecnologia de Massachusetts - MIT), para solucionar problemas computacionais 
genéricos, era constituído por uma série de hastes e engrenagens que giravam 
impulsionadas por motores elétricos. Apesar deste dispositivo reduzir 
significativamente o tempo necessário ao cálculo das tabelas de trajetória, 
existiam dois grandes inconvenientes: para cada tipo de problema a ser resolvido 
era preciso substituir manualmente vários componentes mecânicos, o que 
implicava em grande desperdício de tempo, e, o mais importante, eram os 
defeitos, que frequentemente ocorriam já próximos ao final de um longo processo 
de cálculo, causados pela baixa confiabilidade de um de seus componentes, o 
amplificador de torque, responsável pela velocidade do equipamento. Esta falha 
elevava o tempo médio de cálculo, acrescentando àquele já empregado na 
preparação do equipamento e na resolução do problema, o tempo despendido na 
execução do reparo. Deste, modo tornou-se prioritário encontrar um método que 
acelerasse o processo de computação e garantisse a exatidão de seus resultados. 
O ENIAC, concebido e construído na Escola Moore de Engenharia Elétrica da 
Universidade da Pensilvânia, segundo artigo publicado por ocasião de seu 50o 
aniversário de criação, por Dilys Winegrad e Atsushi Akera(20), não foi o primeiro 
dispositivo eletrônico de cálculo. No início da década de 1930, físicos já 
dispunham de contadores de radiação que utilizavam válvulas eletrônicas a vácuo, 
como no caso do ENIAC, e diversos laboratórios de pesquisa produziram 
dispositivos capazes de contar de um a dez. Já no final da década de 1930 e início 
da década de 1940, existiam pelo menos outras três iniciativas independentes, 
tratando de problemas de computação com o uso de circuitos eletrônicos: John 
Atanasoff (1903 - 1995), o Serviço de Inteligência Britânico e a IBM (International 
Business Machines). 
Entre 1937 e 1941, John Atanasoff, professor de física na Universidade 
Estadual de Iowa, que interessava-se pela construção de máquinas de alta 
velocidade para a resolução de problemas genéricos de computação, decidiu 
projetar um equipamento para solucionar sistemas complexos de equações 
lineares. Com a ajuda de Clifford Berry, ex-aluno de graduação da Universidade 
de Iowa, desenvolveu um dispositivo que ficou conhecido como Computador 
Atanasoff-Berry (ABC), mas que até o final de 1941 não estava totalmente 
operacional. 
 
* Vannevar Bush (1890–1974), cientista e educador norte-americano com formação em engenharia elétrica e 
física, reinventou o “Diference Engine” de Babbage, seguindo sua concepção mecanicista analógica e de base 
decimal. Em 1935, desenvolveu uma nova versão do Analisador Diferencial, no qual suas engrenagens eram 
movidas eletricamente e suas instruções eram transmitidas por fita de papel perfurado.(49 e 50) (Nota do Autor) 
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Com o início da campanha norte-americana na Segunda Guerra Mundial, 
Atanasoff foi impelido a interromper seus trabalhos com o ABC e assumir, em 
dezembro daquele ano, um posto no Laboratório de Artilharia Naval, em 
Washington, D.C. Embora o ABC fosse um computador de uso específico, ele teve 
como mérito o fato de todas as suas operações de adição e multiplicação serem 
executadas por circuitos totalmente eletrônicos. No entanto, o uso de um 
dispositivo eletromecânico para armazenar dados e resultados intermediários, 
impunha um gargalo no sistema, limitando sua velocidade de processamento. 
Neste mesmo ano de 1941, a IBM, cuja experiência anterior era em 
equipamentos de leitura e perfuração de cartões, projetou um dispositivo 
eletrônico de multiplicação, em colaboração com a Universidade de Columbia, 
onde pesquisava-se mecanismos para acelerar a execução de aplicações 
científicas na área de matemática. 
Neste contexto, somente o Colossus, computador construído por volta de 
1942 em Bletchley Park, na Inglaterra, patrocinado pelo MI6, o Serviço de 
Inteligência Britânico, poderia ser considerado uma máquina eletrônica de grande 
porte. Enquanto Atanasoff e a IBM, foram limitados pela disponibilidade de 
recursos financeiros, Bletchley Park e a Escola Moore, beneficiados pelo esforço de 
guerra, foram agraciados com enormes recursos para pesquisa e 
desenvolvimento. 
Em 1940, quando parecia cada vez mais provável a entrada dos Estados 
Unidos na Guerra, o interesse pelas técnicas computacionais atingiu seu auge, 
movido, principalmente, pela grande quantidade de projetos de armas de 
artilharia e também pela evolução e conseqüente mudança de padrões militares. 
Neste cenário, onde a capacidade computacional disponível apresentava-se 
insuficiente frente à demanda, e o analisador diferencial representava o estado da 
arte em equipamentos para este propósito, a pesquisa e o desenvolvimento 
necessários à produção da tecnologia que atendesse às necessidades da nação 
encontrou solo fértil na Escola Moore. 
No final de 1941, quando por fim os Estados Unidos entraram na Guerra*, 
muitos professores e pesquisadores da Escola Moore foram requisitados para o 
serviço militar ou para projetos militares secretos. Para substituir alguns dos 
professores engajados no esforço de guerra, a Universidade da Pensilvânia 
contrataria os PhD’s John W. Mauchly e Arthur Burks. 
 
* Devido ao ataque japonês à Pearl Habour em 07 de dezembro de 1941, os Estados Unidos declararam guerra 
ao Japão em 8 de dezembro e, em apoio ao seu aliado, a Alemanha e a Itália declararam guerra aos Estados 
Unidos, em 11 de dezembro. (Nota do Autor) 
 HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
 
Gilberto L. Fernandes e-mail: gilberto.fernand@uol.com.br 21/01/2014 Page 355 of 487 
 
Mauchly, Eckert e a 
Válvula Eletrônica (44) 
 
Por esta mesma época, J. Presper Eckert Jr, 
jovem professor, considerado o mais brilhante 
estudante e o melhor engenheiro da Escola Moore, 
uniria-se a John Mauchly, para pesquisarem o 
assunto de maior interessede ambos: como aplicar 
a eletrônica para construir computadores de alta 
velocidade. 
Em meados de 1941, Mauchly esteve na Universidade Estadual de Iowa 
com Vincent Atanasoff e Clifford Berry, que lhe apresentaram suas pesquisas 
sobre o uso de dispositivos eletrônicos para a realização de cálculos numéricos e, 
a criação de ambos, o ABC. Inspirados, talvez, pela pesquisa de Atanasoff, 
Mauchly e Eckert projetaram um computador eletrônico para resolver as equações 
diferenciais para o Departamento de Artilharia, publicando, já em 1942, um 
ensaio intitulado “The use of vacuum tube devices in calculating” (O uso de 
válvulas eletrônicas a vácuo na computação), que se tornaria a base do relatório 
submetido pela Escola Moore ao Laboratório de Pesquisas em Balística, com o 
objetivo de conseguir um contrato para a sua efetiva construção. Em outras 
circunstâncias, provavelmente, as idéias de John Mauchly e J. Presper Eckert 
seriam rejeitadas como impraticáveis, simplesmente devido ao custo 
extremamente elevado para a construção do ENIAC. 
As válvulas eletrônicas a vácuo, inventadas em 1906 pelo físico norte-
americano Lee De Forest (1873 – 1961), foram usadas até o início da guerra, 
quase que exclusivamente como amplificadores, quando então se percebeu seu 
grande potencial como chaveadores eletrônicos ultra-rápidos, podendo alcançar 
um milhão de operações liga-desliga por segundo. Assim, transformado em 
dispositivo de chaveamento binário, representava o “0” pela ausência de corrente 
na placa e o “1” por sua presença. 
As válvulas, sob uma perspectiva atual, eram altamente ineficientes: 
consumiam grande quantidade de energia para incandescer um filamento interno 
produzindo calor como efeito residual, ocupavam espaço demasiado e precisavam 
ser substituídas frequentemente. Ainda assim, o seu uso em substituição a 
componentes de chaveamento mecânico, como aqueles empregados no Analisador 
Diferencial de Vannevar Bush, foi um grande avanço, resultando em enorme 
ganho de velocidade. 
Em junho de 1942, o Departamento de Artilharia assinou um contrato com 
a Escola Moore de Engenharia Elétrica da Universidade da Pensilvânia, para o uso 
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Gilberto L. Fernandes e-mail: gilberto.fernand@uol.com.br 21/01/2014 Page 356 of 487 
exclusivo de seu Analisador Diferencial, maior e mais rápido que o do Laboratório 
de Pesquisas em Balística, para a produção de tabelas de trajetória. A equipe da 
Universidade da Pensilvânia encarregada deste contrato incluía os professores 
Weygand, John W. Mauchly e J. Presper Eckert que, visualizando a oportunidade 
de desenvolverem pesquisas em sua área de interesse, iniciaram um trabalho com 
o objetivo de encontrar novas soluções para resolver os problemas 
computacionais daquele órgão. Primeiramente providenciaram uma série de 
melhoramentos no Analisador Diferencial da Escola Moore para torná-lo mais 
rápido, substituindo o inseguro amplificador de torque por um dispositivo 
eletrônico mais confiável. Tais modificações, introduzindo dispositivos eletrônicos 
no lugar de mecânicos, tornaram o equipamento da Escola Moore mais rápido e 
confiável, mas ainda assim isto não foi suficiente para conseguir atender a 
demanda por novas tabelas de trajetória do Departamento de Artilharia, que 
continuavam a chegar em quantidades cada vez mais elevadas. 
 
Mulheres trabalhando nas máquinas 
de calcular da Escola Moore 
Com a crescente pressão, a necessidade de 
encontrar-se meios mais rápidos para executar 
os cálculos das tabelas de trajetória tornava-se 
cada vez mais urgente. O cálculo de uma 
trajetória poderia levar até 40 horas com o uso 
de uma calculadora de mesa e cerca de 30 
minutos com o único Analisador Diferencial da 
Escola Moore. Como cada tabela continha 
centenas de trajetórias, o cálculo de uma única 
delas podia levar vários dias. 
Sob estas circunstâncias, Mauchly preparou um relatório no qual 
apresentava suas idéias para a construção de um computador eletrônico digital, 
argumentando que este equipamento poderia efetuar 1000 operações de 
multiplicação por segundo, tornando possível o cálculo das tabelas de trajetórias 
em questão de minutos ao invés de dias. 
Herman H. Goldstine (1913 – 2004), doutor em matemática pela 
Universidade de Chicago e tenente do Laboratório de Pesquisas em Balística, 
encarregado de supervisionar o contrato inicial com a Universidade da Pensilvânia, 
animou-se com as previsões de Mauchly e Eckert e com a perspectiva de ter uma 
máquina que pudesse eliminar as constantes pendências no cálculo das tabelas de 
balística. Uma vez convencido, assumiu a tarefa de viabilizar um novo contrato 
entre a Escola Moore e o Departamento de Artilharia com o objetivo de financiar o 
projeto de um computador eletrônico, mil vezes mais rápido que qualquer outra 
máquina existente. Entretanto, de posse do relatório de Mauchly, Goldstine 
considerou que tal projeto mais se aproximava de uma história de ficção científica 
 HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
 
Gilberto L. Fernandes e-mail: gilberto.fernand@uol.com.br 21/01/2014 Page 357 of 487 
e, para tornar sua posição de patrocinador ainda mais desconfortável, ele tinha a 
exata noção de que seria necessário gastar centenas de milhares de dólares para 
provar que aquelas idéias, dos dois engenheiros de respectivamente 35 e 23 anos 
de idade, estavam corretas. Aquele empreendimento, certamente iria consumir 
várias dezenas de vezes o orçamento de US$ 6.500 utilizado para o 
desenvolvimento do ABC de Atanasoff e Berry. 
Além de todos os fatores de risco e da elevada pressão a que estavam 
submetidos, somava-se ainda a opinião contrária da maioria dos engenheiros 
elétricos da época, que acreditavam que tais idéias nunca funcionariam. Apesar do 
cenário hostil, os dois jovens engenheiros da Escola Moore, aspirantes a 
inventores do computador, e o matemático tenente, investido no papel de 
defensor e patrocinador do projeto, resolveram levar suas idéias a diante. Em 09 
de abril de 1943, em reunião na qual participaram o superior de Goldstine, 
Coronel Leslie Simon, diretor do Laboratório de Pesquisas em Balística, e Oswald 
Veblen, presidente do Instituto de Estudos Avançados de Princeton e um dos 
principais encorajadores da pesquisa matemática com fins militares, Goldstine, 
Mauchly e Eckert apresentaram um audacioso plano para a construção da 
máquina mais complexa do mundo. 
Segundo Goldstine, era enorme o risco associado ao projeto do computador 
eletrônico, mas o momento vivido pelo Departamento de Guerra dos Estados 
Unidos apresentava-se como uma oportunidade que tornaria inevitável o desfecho 
da questão, como registrado por suas próprias palavras: (35) 
[…]	
  nós	
  devemos	
  perceber	
  que	
  a	
  máquina	
  em	
  questão	
  conterá	
  mais	
  de	
  
17.000	
   válvulas	
   de	
   16	
   tipos	
   diferentes,	
   operando	
   a	
   uma	
   frequência	
  
básica	
   de	
   100.000	
   pulsos	
   por	
   segundo…	
   a	
   cada	
   10	
   microssegundos	
  
poderá	
  ocorrer	
  um	
  erro	
  se	
  apenas	
  uma	
  das	
  17.000	
  válvulas	
  funcionar	
  
incorretamente;	
  isto	
  significa	
  que	
  em	
  um	
  simples	
  segundo	
  existem	
  1,7	
  
bilhões	
  de	
  chances	
  de	
  ocorrer	
  uma	
  falha…	
  O	
  homem	
  jamais	
  construiu	
  
um	
   instrumento	
   capaz	
   de	
   operar	
   com	
   este	
   grau	
   de	
   precisão	
   e	
  
confiabilidade,	
   e	
   este	
   é	
   o	
   motivo	
   pelo	
   qual	
   este	
   empreendimento	
  
apresenta,	
  ao	
  mesmo	
  tempo,	
  tão	
  elevado	
  risco	
  e	
  tamanha	
  realização.	
  
[…]	
   Após	
   estar	
   ouvindo	
   por	
   pouco	
   tempo	
   a	
   minha	
   apresentação,	
  
enquanto	
  balançava	
  sua	
  cadeira	
  apoiada	
  apenas	
  nas	
  pernas	
  traseiras,	
  
Veblen	
  derrubou-­‐a	
  barulhentamente,	
  levantou-­‐se	
  e	
  disse:	
  -­‐	
  Simon,	
  dê	
  
o	
  dinheiroa	
  Goldstine.	
  
Assim, em 05 de junho de 1943, foi assinado um novo contrato, sob o 
codinome de Projeto PX, no valor de aproximadamente US$500 mil, em valores 
históricos, para que fosse realizado o desenvolvimento e a construção de um 
computador e integrador numérico eletrônico – o ENIAC. 
 HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
 
Gilberto L. Fernandes e-mail: gilberto.fernand@uol.com.br 21/01/2014 Page 358 of 487 
A equipe formada para esta empreitada seria supervisionada pelo Professor 
Brainard, com Eckert como engenheiro chefe e Mauchly como principal consultor. 
Mais tarde, em 1944, John von Neumann (1903-1957) integrou-se à equipe que 
já estava construindo o ENIAC. Curiosamente, esta nova adesão deveu-se à 
casualidade de von Neumann ter conhecido Herman Goldstine numa plataforma 
de trens no verão daquele ano, iniciando assim uma amizade que perduraria até o 
final de sua vida. Sob o ponto de vista de Goldstine, este matemático notável e 
uma das personalidades mais respeitadas e solicitadas de sua época, seria um 
apoio providencial para reduzir os riscos inerentes ao projeto de tamanha 
envergadura. Por seu lado, após obter algumas informações de seu novo amigo, 
von Neumann interessou-se em participar do projeto, no que foi prontamente 
atendido. 
 A contrução do ENIAC 
O ENIAC (Eletronic Numerical Integrator Analyzer and Computer), 
equipamento projetado por Eckert e Mauchly era, literalmente, uma máquina de 
grande porte. Quando totalmente pronto, ocupava uma sala inteira na 
Universidade da Pensilvânia, medindo cerca de 3 metros de altura e 30 toneladas 
de peso, consumia em torno de 200 kilowatts de potência, e, em função do calor 
gerado, exigia para sua operação uma sala especialmente dotada com um sistema 
de ventilação forçada. Conta-se que a primeira vez que foi ligado, o ENIAC 
consumiu tanta energia que as luzes da cidade da Filadélfia piscaram. 
Composto por quase 18.000 válvulas eletrônicas a vácuo, 6.000 chaves 
elétricas, 1.500 relés, 10.000 capacitores, 70.000 resistores, milhares de 
indutores e cerca de 88 quilômetros de fio, usados em aproximadamente 500.000 
conexões, o ENIAC tinha todos estes seus componentes acondicionados em 42 
painéis montados sobre estruturas metálicas com 2,75m de altura, 60 cm de 
largura e 30cm de profundidade cada um. Arrumados na disposição de um “U”, 
estes painéis ocupavam 25 m de comprimento e uma área construída de 180 m². 
O ENIAC possuía ainda três gabinetes de controle sobre rodas que podiam ser 
movidos pela sala e, para a entrada e saída de dados, utilizava uma leitora de 
cartões perfurados e uma perfuradora, fornecidos pela IBM (International 
Business Machines). 
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O ENIAC na Universidade 
da Pensilvânia, em 1946. 
O ENIAC, capaz de realizar 5.000 adições 
por segundo, era constituído por oito circuitos 
que implementavam suas funções básicas: 
acumuladores, circuito de inicialização, circuito 
para programação mestra, circuito de 
multiplicação, circuito de divisão e raiz 
quadrada, dois circuitos lógicos nomeados de 
“gate” e “buffer”, e por último, um circuito para 
armazenamento das tabelas de funções. 
O acumulador tinha a função de uma unidade aritmética básica, sendo 
constituído por vinte registradores de dez dígitos cada. Sua função consistia na 
realização das operações de adição, subtração e armazenamento temporário. Um 
acumulador poderia ser comparado aos registradores das atuais Unidades Centrais 
de Processamento (CPU – Central Processing Unit). As informações trafegavam 
pelo ENIAC, indo de um acumulador ao outro e, à medida que cada acumulador 
terminava seus cálculos, o resultado obtido era comunicado ao acumulador 
seguinte, manualmente, através da conexão de cabos pelos técnicos que o 
operavam. Os circuitos de inicialização executavam algumas tarefas especiais, 
incluindo ligar e desligar o equipamento, apagar todos os seus registradores 
(reset) e iniciar os processos de cálculo. Os circuitos de programação mestra 
controlavam a execução dos programas e permitia alterá-los. Os circuitos de 
multiplicação e de divisão e raiz quadrada, para executarem estas operações 
específicas, trabalhavam em conjunto com as funções de adição, subtração e 
armazenamento temporário do circuito acumulador. O circuito lógico gate 
implementava o operador lógico “AND” (saída positiva se todas as entradas 
fossem positivas) e o circuito lógico buffer implementava o operador lógico “OR” 
(saída positiva se alguma das entradas fosse positiva). As tabelas de funções 
eram usadas como auxílio à programação, armazenando variáveis e funções, mas 
não podiam ser alteradas durante a execução de um programa.(20) 
 
A preparação de um novo programa. 
 
A tarefa de programar o ENIAC, que não 
possuía um sistema operacional, era quase 
que inteiramente realizada por meio da 
comutação de mil chaves elétricas e da 
conexão de inúmeros cabos, como nas 
antigas centrais telefônicas. 
A falta de flexibilidade para a execução de tarefas diferentes representava o 
gargalo operacional do ENIAC e, de certa forma, podemos atribuir em parte a 
origem deste problema ao próprio contrato da Escola Moore com o Departamento 
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de Artilharia, que claramente previa a construção de um dispositivo específico 
para o cálculo de trajetórias, e não uma máquina de uso genérico. Apesar de toda 
a dificuldade operacional presente no esforço necessário à alteração de sua 
programação, para cada problema específico a ser tratado, o que tornava seu uso 
tedioso e comprometia seu aproveitamento, o ENIAC, uma vez preparado, podia 
computar as trajetórias balísticas em trinta segundos, enquanto os mesmos 
cálculos precisavam de 15 a 30 minutos para serem executados pelo Analisador 
Diferencial, e de vinte a quarenta horas por um matemático equipado apenas com 
uma calculadora de mesa. 
Outro inconveniente era motivado pela inexistência de mecanismos 
eficientes para a depuração de erros de programação que, quando detectados, 
deviam ser seguidos passo-a-passo, executando-se uma instrução de cada vez. 
Para permitir este tipo de procedimento, criou-se um painel com uma chave que 
interrompia ou habilitava a execução da próxima instrução, comparando-se então 
o resultado de cada passo do programa com o resultado obtido manualmente. 
Este artifício foi utilizado em diversos equipamentos até meados da década de 
1980. Por último, existia ainda o efeito colateral da baixa confiabilidade das 
válvulas eletrônicas, que queimavam com elevada frequência. Este problema 
determinava a completa paralisação do equipamento, ou pelo menos um ritmo 
mais lento de processamento, para que os reparos pudessem ser efetivados. 
 
O ENIAC em manutenção 
A construção do ENIAC foi completada somente 
após o término da Segunda Guerra Mundial, em 
novembro de 1945, e oficialmente inaugurado em 15 
de fevereiro de 1946, data que para muitos 
historiadores corresponde ao marco do início da Era 
da Informação. Uma de suas primeiras aplicações foi 
na resolução de problemas ligados ao controle da 
energia nuclear para o Projeto Manhattan. 
Durante cerca de um ano, ainda na Universidade da Pensilvânia, foi 
empregado no cálculo de trajetórias balísticas para o Departamento de Artilharia, 
na solução de problemas ligados à previsão de condições atmosféricas, no estudo 
de raios cósmicos para a astronomia e em projetos de túneis de vento. Em janeiro 
de 1947, o ENIAC começou a ser desmontado sendo então enviado para 
Aberdeen, onde reiniciou sua operação sete meses mais tarde, no Laboratório de 
Pesquisas em Balística. A grande quantidade de componentes e, principalmente, a 
dificuldade de programação tornaram bastante árduoo trabalho da equipe técnica 
encarregada de remontá-lo. 
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Em 1948, sob a supervisão de John von Neumann, foram implementadas 
algumas modificações em seu projeto para torná-lo um computador com 
programas armazenados internamente. Esta alteração reduziu significativamente 
a quantidade de trabalho manual com a religação de cabos, necessário à execução 
de cada novo programa. Outras melhorias foram sendo introduzidas gradualmente 
nos anos seguintes e, com o uso de novos dispositivos eletrônicos, já em 1952, 
sua velocidade de processamento chegou à marca de oitenta por cento superior à 
sua performance inicial. 
No ano seguinte, em 1953, foi instalada pela empresa Burroughs uma 
unidade de memória magnética, formada por núcleos de ferrite, com capacidade 
de armazenamento de 100 dígitos, permitindo o processamento de uma maior 
quantidade de informações e de forma centralizada. Anteriormente, o único 
dispositivo de armazenamento temporário do ENIAC residia no acumulador, 
limitando, devido ao seu diminuto porte, os tipos de problemas em que o ENIAC 
poderia ser empregado. Entretanto, o conceito de memória indexada e de acesso 
aleatório, diretamente associado à capacidade de armazenamento interno dos 
programas, não chegou a ser implementado, nem tampouco em seu sucessor – o 
EDVAC (Electronic Discrete Variable Computer), o segundo computador de grande 
porte construído na Escola Moore, em 1951. Somente no projeto do EDSAC 
(Electronic Delay Storage Automatic Calculator), desenvolvido pelo físico e 
matemático inglês Maurice Wilkes (1913 - ) da Universidade de Cambridge, na 
Inglaterra, este conceito tornou-se realidade. (309) 
Após o término da Segunda Grande Guerra, o ENIAC foi utilizado por 
inúmeros físicos e matemáticos de todas as partes dos Estados Unidos. Como este 
era o único computador de grande porte disponível nos Estados Unidos, sendo em 
sua época o maior computador de todo o mundo, capaz de calcular muito 
rapidamente as equações apresentadas por cada usuário, depois da adequada 
programação, travava-se uma verdadeira disputa pelo seu tempo de uso. Mas, 
conforme já mencionado, reprogramá-lo para tarefas diferentes, em geral, levava 
dias. Isto somado às constantes paradas para substituição das válvulas 
queimadas e outros tipos de reparos, faziam com que sua disponibilidade de uso 
fosse de apenas 50%, o que na prática, dobrava o seu custo de operação. 
O avanço da tecnologia logo resolveria os problemas técnicos do ENIAC, 
tornando-o obsoleto e economicamente e inviável, sendo por fim desativado no 
dia 2 de outubro de 1955, após de quase dez anos de operação. Desmontado, 
suas peças foram distribuídas por vários museus, incluindo o Smithsonian, em 
Washington D.C., e a Escola Moore, local de sua construção na Universidade da 
Pensilvânia, onde encontram-se em exposição. 
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A herança proporcionada pelo ENIAC propagou-se muito além da linhagem 
de equipamentos experimentais surgidos a partir de sua concepção (EDVAC, 
EDSAC, SEAC, ILLIAC, Whirlwind e MANIAC) e do UNIVAC, o computador 
comercial construído mais tarde por Mauchly e Eckert, em sua própria empresa, a 
Electronic Controls Company (ECC). Podemos considerar também como influência 
dessa herança, o interesse despertado em outras empresas privadas norte-
americanas pelo mercado de computadores eletrônicos digitais, como a IBM, que 
lançaria o modelo 701 em 1952, e pela Engineering Research Associates (ERA), 
que um ano antes havia introduzido o modelo ERA 1103.

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