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A_FAMILIA_CAZUMBA_EM_SAO_GONCALO_DOS

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CENTRO DE CIÊNCIAS ARTES, HUMANIDADES E LETRAS – CAHAL 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS: CULTURA, 
DESIGUALDADE E DESENVOLVIMENTO 
 
 
MARIA CRISTINA MACHADO DE CARVALHO 
 
 
 
A FAMÍLIA CAZUMBÁ EM SÃO GONÇALO DOS 
CAMPOS/1870-1910 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CACHOEIRA 
 2013 
2 
 
 
 
MARIA CRISTINA MACHADO DE CARVALHO 
 
 
 
 
A FAMÍLIA CAZUMBÁ EM SÃO GONÇALO DOS 
CAMPOS/1870-1910 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CACHOEIRA 
 2013 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais: Cultura, 
Desigualdades e Desenvolvimento da Universidade 
Federal do Recôncavo da Bahia, para obtenção do 
Título de Mestre em Ciências Sociais. 
Orientador: Prof. Dr. Walter Fraga. 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
C043 CARVALHO, Maria Cristina Machado de 
 
 A Família Cazumbá em São Gonçalo dos Campos / 
1870 - 1910 / Maria Cristina Machado de Carvalho - 2013. 
 153f.:il 
 
 Dissertação (Mestrado)- Universidade Federal do 
Recôncavo da Bahia, Programa de Pós Graduação em 
Ciências Sociais: Cultura, Desigualdade e Desenvolvimento, 
Cachoeira / Ba /2015. 
 Orientador: Prof.Dr. Walter da Silva Fraga Filho 
 
 
4 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA – UFRB 
CENTRO DE CIÊNCIAS ARTES, HUMANIDADES E LETRAS – CAHAL 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS: CULTURA, 
DESIGUALDADE E DESENVOLVIMENTO 
 
 
 
 
 
Dissertação intitulada “A Família Cazumbá Em São Gonçalo Dos Campos/1870 - 
1910” de autoria da Mestranda Maria Cristina Machado de Carvalho, apreciada pela 
banca examinadora em 14 de novembro de 2013, constituída pelos professores: 
 
 
______________________________________________________ 
Prof. Dr. Walter Fraga (UFRB - Orientador) 
 
_______________________________________________________ 
Profª. Dra. Ione Celeste Jesus de Sousa (UEFS - Examinadora) 
 
_______________________________________________________ 
Prof. Dr. Antônio Liberac Cardoso Simões Pires (UFRB - Examinador) 
 
 
 
CACHOEIRA, NOVEMBRO DE 2013 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, o maior dos mestres e fonte de inspiração de toda criação 
humana. 
À Cleusa Machado de Carvalho e Expedito Pinheiro de Carvalho, 
minha mãe e meu pai, primeiros mestres de minha vida, que ao 
longo dos anos têm me legado o gosto pelo saber e o exemplo de 
como viver e, que por amor dedicaram seu tempo no trabalho na 
roça para que eu conseguisse construir a minha identidade social, 
inclusive a de mestre. 
À minha avó, Djanira que aos longos anos vividos, escreveu a sua 
caminhada rompendo com as estruturas sociais que lhes foram 
impostas como uma mulher negra. 
 
6 
 
Agradecimentos 
 
Quando pensei em agradecer lembrei daqueles que de alguma maneira esteve presente 
em minha história e contribuiu para a construção final deste trabalho. Inicialmente, 
agradeço a Deus pela força, o entusiasmo que dia após dia dediquei a este projeto. Não 
foram poucos os momentos de desanimo por ver meus esforços sem nenhum alcance 
significativo. Contudo, a confiança em Deus não deixou que eu desistisse desse propósito, 
até mesmo colocando pessoas em minha caminhada que com um abraço amigo, um 
ombro solidário me animou, lembrando que os erros e desencontros fazem parte da 
história de todos os indivíduos. 
Assim sigo meus agradecimentos a minha família: Cleusa (minha mãe), Expedito (meu 
pai), por estarem comigo sempre, e dedicarem a vida em prol da educação e formação de 
seus filhos, especificamente a minha formação. Aos meus irmãos: Expedito que ao falar 
sobre meus estudos tem demonstrado interesse e admiração. Edson, lembro-me que 
quando passei no vestibular para História você estava me esperando em Feira de Santana 
com os braços abertos, dando-me um teto e apoio! Recordo as vezes que você me levou 
ou foi me buscar na UEFS, as ligações que demonstrava preocupação e cuidado. Meu 
irmão quero repartir este título com você! 
Elisvaldo, em você encontrei um ombro para pôr minha cabeça. Nos momentos de 
pesquisa, de tensão, de investigação recebi sua incondicional contribuição. Edmilson 
quero agradecer pelas vezes em que você saiu do trabalho para mim pegar no Arquivo! 
Sua ação foi uma total demonstração de zelo e cuidado. Cleides, não esqueço o quanto 
você foi importante nesta jornada. Sempre solícita aos meus pedidos, cuidadosa, 
companheira. Lembro-me os momentos em que esteve me acompanhado. 
Claudicélia, recordo-me das noites em que estávamos lado a lado estudando, das ligações 
feitas para que pegasse livros. Deus continue te abençoando! Minha irmã e companheira 
de todas as horas: Cleuseni, você é nota 10, sua contribuição excede os limites da 
naturalidade: saiu comigo aos arquivos, pesquisou, fez digitação de dados, levou-me para 
fazer entrevistas, enfim foram muitos feitos! Sou muito grata a você! 
 
7 
 
Ao meu cunhado Guto por algumas vezes ter ouvido minhas solicitações de ajuda e 
minhas cunhadas: Fabiana que desde do tempo da graduação foi uma grande amiga; 
Débora que sempre me incentivou e Valmira muito generosa, preocupada, companheira. 
Estiveram comigo nos momentos de mais alta tensão. Amo vocês! Meu primo Milton 
obrigada por me acompanhar naquela tarde ensolarada ao cemitério para fazer a pesquisa 
comigo. Lembro como aquele dia foi exaustivo - você, minha irmã Cleuseni e eu - saímos 
em cada túmulo averiguando os nomes, fotos e nascimentos dos falecidos que fazem parte 
desta pesquisa. Acho que estou fazendo um bom trabalho com minha família e amigos, 
iniciando-os ao mundo da pesquisa (riso). 
Ao mesmo tempo em que quero agradecer a meus amigos. Vocês são maravilhosos!! 
Quantas vezes recebi ligações dessas pessoas admiráveis para acompanhar meus passos 
e me impulsionar. Jucélia, como conceituar este nome? Bem, até mesmo para uma 
socióloga é difícil, mas lembrando das experiências históricas, pelo apoio, incentivo, 
enfim, você é irmã! Sou muito grata a você! Flaviane amiga de longas datas, agradeço o 
incentivo, os momentos que passamos conversando por telefone, de cada palavra de 
instigação. Você é maravilhosa! Regiane minha colega da UNEB, que se tornou uma 
amiga! Obrigada pela ajuda. Gorete amiga que sempre torceu por mim. Você é sem igual! 
Fernanda foi muito bom encontrar você durante esta trajetória de minha vida. Andréia 
minha amiga, colega de trabalho, que ouvia minhas preocupações e orava por mim. 
Obrigada por sempre me escutar. 
Oh Bethânia, lembro-me das conversas, dos conselhos, das horas ao telefone, e você 
dizer: “não desiste, Cris, vai em frente, você escreve bem mulher”. Obrigada amiga! 
Charlene foi sensacional poder compartilhar com você esses momentos. Igualmente as 
outras amigas, compartilhei minhas preocupações. Sempre inteligente e muito paciente 
refletia as melhores opções para continuar seguindo esse labirinto. Rute, Rita, Sara, 
Rosane, Cíntia, Tatiane Penteado e Tatiane vocês são lembradas a cada momento que eu 
pego neste texto. Cada uma de vocês conheci em momentos diferentes em situações 
singulares, fato que tornou nossa história sem igual. Raquel obrigada pela amizade, 
companheirismo, confiança e, também, nossas boas conversas horas do intervalo na 
escola. 
 A equipe do Colégio Adventista de Feira de Santana, especialmente ao diretor Luiz 
Penteado, a coordenadora Vânia e a orientadora educacional Rilda Alves. Você, Rilda, 
 
8 
 
antes de tudo é minha amiga e companheira, ficou em minhas aulas, orou por mim e me 
ouviu quando necessitei de alguém para escutar-me. 
Não posso esquecer de Marcos, pessoa surpreendente, um grande companheiro. Marcos 
Maxsuel esteve comigo nos momentos que precisei faltar às aulas. Quando estava muito 
tensa e preocupada foi capaz de me escutar e ter muita paciência. Sem sua ajuda e 
companheirismotudo seria mais difícil, seu nome deveria ser escrito com tinta de ouro! 
Maria e Vado, vocês serão sempre lembrados! Também foram amigos e companheiros, 
oraram por mim e se preocuparam com as minhas inquietações. Minha amiga, Iris, 
também esteve comigo nos momentos mais difíceis da jornada. Ouvia-me e sempre dizia 
pacientemente: Vamos orar Cris! Você nem imagina o quanto esta expressão foi como 
música suave aos meus ouvidos. Eliana, foi bom ter conhecido você neste fluxo. Obrigada 
por ter me acompanhado ao arquivo e pelas madrugadas de oração. 
Tatiane, desde da graduação pude contar com você nos meus primeiros momentos de 
pesquisa, mais uma vez quero agradecer a você pelo apoio! Você é ótima! Gaby, Ledy, 
Crislane, Adriano, Antônio, vocês foram amigos, companheiros, torcedores, admiradores, 
irmãos! Agradeço-lhes demais! Ainda, a Cris Furtado, conheci durante o mestrado e nos 
tornamos amigas. Nunca vou esquecer da força recebida de minhas amigas Enoise e 
Núbia. Amo vocês! 
Minhas colegas e amigas do mestrado Ciran e Rejanne, que compartilharam comigo 
momentos tensos de investigação e discussão teórica! Nossa experiência foi complexa, 
dinâmica, tensa, contudo, com um canto!! O canto da Vitória! Ciran, além da experiência 
da pesquisa e escrita você se tornou minha amiga e irmã. Sempre contei com seu apoio 
incondicional além do de seu pai Nanã, sua mãe Elizete, e seu irmão Keu! Hoje somos 
apenas uma família! Você é uma pérola para mim, minha irmã! Neste parágrafo estendo 
meus agradecimentos aos colegas: Naty, Débora, Joelma e Murilo, lembro-me das 
conversas e discussões acerca do mestrado! Com vocês vivi momentos muitos preciosos. 
Como gostaria de agradecer a todos e todas que encontrei no caminho da minha história. 
Aos professores (abrindo um parêntese para agradecer a professora Ângela pela 
confiança, por aceitar que eu fizesse o tirocínio e por sempre acreditar em meu potencial 
e ao professor Fernando Pedrão por acreditar em mim desde o primeiro momento do 
mestrado), professor Herbert, Osmundo aos demais professores meus sinceros 
 
9 
 
agradecimentos aos servidores do Programa de pós-graduação de Ciências Sociais da 
UFRB, Virgílio por sempre atender minhas solicitações; Valéria pelo trabalho realizado, 
cuidando para que a parte burocrática necessária para defesa fosse executada. Ainda, 
lembro-me de Emanuel e Fabrício, pessoas excelentes, que sempre me dava informações. 
Obrigada! 
Danilo, conheci você quando, ainda era graduanda e bolsista de iniciação científica, não 
imaginaria que iria chegar até aqui, especialmente que iria te reencontrar neste momento. 
Obrigada ter contribuído as inúmeras vezes nesta trajetória. Quão fenomenal foi nesta 
caminhada! Também estendo meus agradecimentos a Flávia Sales, bibliotecária e amiga 
maravilhosa, obrigada por fazer a ficha catalográfica. Você é muito generosa! Marcus 
Rios, muito obrigada por fazer o mapa que demarca a geografia do meu objeto de estudo. 
Nesta experiência agradeço de maneira especial ao meu orientador Professor Dr. Walter 
Fraga Filho, por ter acompanhando a construção da dissertação, por sua disponibilidade 
em ler, comentar e fazer sugestões e pelas oportunidades de diálogo, as quais foram 
fundamentais para o meu amadurecimento enquanto pesquisadora. 
Aos professores Rita Reis e Antônio Liberac por aceitarem compor a banca examinadora 
de qualificação. Suas questões, sugestões e observações foram fundamentais para a 
continuidade da escrita da dissertação. A professora Ione Celeste, que desde do meu 
tempo de graduação tem sido uma grande incentivadora e agora aceitar o convite e fazer 
parte da banca de defesa. 
À Professora Dra. Lucilene Reginaldo, que, desde a graduação, disponibilizou-se a me 
orientar e, ao reencontro que conseguimos concretizar no segundo semestre do Mestrado. 
Ao professor José Bento pelas leituras, sugestões e o diálogo feito por email e ter cedido 
importantes informações sobre a família Cazumbá, as quais foram importantes para a 
construção deste trabalho. 
Aos funcionários dos arquivos que visitei a fim de encontrar fontes para escritas da 
pesquisa. Agradeço por terem sidos atenciosos e dispostos a atender minhas solicitações. 
Aos funcionários do Arquivo Municipal de Feira de Santana, do Arquivo da Câmara 
Municipal de São Gonçalo dos Campos, especialmente Gorete, do Arquivo Municipal de 
Cachoeira, Arquivo Público do Estado da Bahia, Arquivo do Fórum João Mendes 
(tabelionato, civil, cível) em São Gonçalo dos Campos, Maria das Dores (Dora), Celeste 
 
10 
 
Mascarenhas, Kátia e Maria Angélica. Aos funcionários do Arquivo do Arcebispado de 
Feira de Santana, Arquivo Monsenhor Renato Galvão da UEFS e CEDOC na 
Universidade Estadual de Feira de Santana. A família Cazumbá, e os meus prestigiosos 
informantes que cederam entrevistas valiosas para a construção deste trabalho. 
Ainda agradeço aqueles que foram meus alunos do curso de Administração no IAENE. 
As turmas alegres que estudam no Colégio Adventista de Feira de Santana. Vocês além 
de serem meus alunos são meus cúmplices, sempre vibraram comigo e torcem por minha 
vitória. Amo vocês demais! Aos alunos do curso de História –PARFOR - UNEB. Como 
também aos diretores e coordenadores das graduações: professora Lígia Santana amiga, 
compreensiva e torcedora. Professor Ibraim, obrigada pela confiança. E ao pastor Edson 
e pastor Gilberto pela a oportunidade. 
A todos vocês meus sinceros e calorosos agradecimentos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
Resumo 
 
Este trabalho parte da seguinte pergunta: como os indivíduos e os grupos familiares submetidos 
ou não ao trabalho escravo se esforçaram para inserirem-se nas redes sociais livres em São 
Gonçalo dos Campos, entre 1870 a 1910? Assim, investiguei as experiências sociais da família 
Cazumbá, descendentes de escrava, que se tornara proprietários de terras, na conjuntura histórica 
marcada pelas relações escravas e livres, dos proprietários e despossuídos de terras de São 
Gonçalo dos Campos da Cachoeira. Portanto, três objetivos compõem a investigação: analisar as 
relações sociais entre os diversos grupos (senhores, pequenos proprietários, trabalhadores, livres 
e trabalhadores escravos e outros); identificar e questionar sobre as estratégias manipuladas pelos 
indivíduos para inserirem-se nas redes sociais livres, especialmente a compra de terras por 
descendentes de escravos e, ainda, as mudanças nas relações de trabalho no século XIX; por fim, 
compreender as características do trabalho rendeiro e os laços familiares e sociais formados 
naquele contexto. Destarte, a procura de indícios que possibilitasse reconstituir a experiência da 
família Cazumbá e de outros indivíduos de cor permitiu compreender as trajetórias de vida, o 
trabalho escravo e livre, o acesso à terra, a tradição e o significado da liberdade atribuído por 
aqueles viveram a escravidão, ou então, descenderam deles. Desses movimentos notar-se que a 
terra foi importante componente de sobrevivência ligada aos diferentes significados de liberdade. 
 
 
Palavras Chave 
São Gonçalo dos Campos. trabalho escravo e livre. pós abolição. Terra. família Cazumbá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Abstract 
This work assumes the following question: how individuals and family groups submitted or not 
to slave labor strove to be inserted on the free social networks in São Gonçalo dos Campos, 
between 1870-1910? So, I investigated the social experiences of Cazumbá family, slave 
descendants, who had become landowners in historical context marked by slave relations and 
free, the owners and dispossessed of land of Saint Mary of the waterfall fields. So three objectives 
make up the research: to analyze social relations between different groups (masters, small owners, 
workers, free and slaves and other workers); identify and question on strategies manipulated by 
individuals to be inserted on thefree social networks, especially the purchase of land by 
descendents of slaves and also the changes in labor relations in the nineteenth century; finally 
understand the tenant job characteristics and family and social relationships formed in that 
context. Thus, the search for evidence that would allow to reconstruct the experience of Cazumbá 
family and other colored individuals allowed to understand the life trajectories, slave and free 
labor, access to land, tradition and the meaning of freedom assigned by those lived slavery, or, 
descended from them. These movements be noted that the land is important survival component 
connected to the different meanings of freedom. 
 
Keywords 
São Gonçalo dos Campos. slave and free labor. post abolition. Earth. Cazumbá family. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Pesos, Medidas e Moeda 
 
Pesos e medidas 
 
1 braça = 2,2 metros 
1 légua = 6.000 metros 
1 tarefa = 4.356 metros quadrados 
1 vara = 1,1 metro (ou ½ braça) 
 
Moeda 
A unidade básica da moeda no Brasil, durante a Colônia e o Império, era o real (réis no 
plural). Escrevia-se $100 para a soma de 100 réis, 1$000 para um mil-réis e 1:000$000 
para um conto de réis. Portanto, o valor de 20:430$200, deve ser lido como vinte contos, 
quatrocentos e trinta mil e duzentos réis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1: O processo de secagem do fumo por famílias de lavradores ......................49 
Figura 2: Escravos fazendo farinha .............................................................................51 
Figura 3: Parede construção de taipa ..........................................................................59 
Figura 4: Djanira Pinheiro de Queiroz ......................................................................105 
Figura 5: Elixir de Nogueira .......................................................................................106 
Figura 6: Tibúrcio Alves Barreiros............................................................................107 
Imagem 7: Parentes de Tibúrcio Alves Barreiros ....................................................109 
Figura 8: Livro de Relação de Número de Fogos e Moradores do Distrito da 
Freguesia de São Gonçalo dos Campos de Nossa Senhora da Cachoeira ...............112 
Figura 9. Planta feita pelo Engenheiro Manoel Accioli Ferreira da Silva ...............134 
Figura 10. Maria de Lourdes Cazumbá ...................................................................138 
Figura 11. Josenilda Cazumbá e Jucileide Cazumbá .............................................139 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 – Cor, condição e sexo, no censo de 1872 da vila de São Gonçalo dos Campos 
.........................................................................................................................................72 
Tabela 2: Taxa de natalidade dos escravos da Fazenda de João Coelho de Almeida 
em 28 de abril de 1882 .................................................................................................116 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
LISTAS DE MAPAS 
Mapa 1: Fronteiras de engenhos ao longo do Rio Jacuípe .........................................35 
Mapa 2: São Gonçalo dos Campos ...............................................................................42 
Mapa 3: Áreas de plantio de fumo do Recôncavo da Bahia .....................................47 
Mapa 4: Demarcações das fazendas Cruzes, Terra Dura e Cazumbá ....................135 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
Sumário 
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................18 
2 CAPÍTULO I Cazumbá: nomes e rastros ................................................................28 
2.1 Rastreando o nome: microanálise etimológica de Cazumbá ...............................29 
2.2 Seguindo as pistas: investigando os documentos oficiais .....................................31 
3 CAPÍTULO II São Gonçalo dos Campos: propriedade, economia fumageira e 
produção de subsistência 1870 – 1890 ..........................................................................44 
3.1 Atividades econômicas: agricultura fumageira e de subsistência, e criação de 
gado ................................................................................................................................45 
3.2 Vida material: a freguesia fumageira de São Gonçalo dos Campos.....................54 
3.3 Estrutura Agrária: a Posse de Terra em São Gonçalo na Segunda Metade do 
Século XIX .....................................................................................................................60 
3.4 Sociedade: relações de trabalho na fumicultura da freguesia de São Gonçalo dos 
Campos ..........................................................................................................................69 
3.5 Trabalho Livre: arrendamento de terras na década de 1880 ...............................79 
4 CAPÍTULO III Trajetórias entrecruzadas: diferentes histórias e famílias de cor 
.........................................................................................................................................89 
4.1 A vida cotidiana .......................................................................................................89 
4. 2 Alguns conflitos na região.....................................................................................100 
4.3 Família: ex-escravos e descendentes ....................................................................104 
5 CAPÍTULO IV Cazumbá: família de cor e proprietária de terras no pós-
abolição...................................................................................................................... ...121 
5.1 Rastreando os movimentos sociais da segunda e terceira geração dos Cazumbá 
.......................................................................................................................................127 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................139 
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................142 
 
 
18 
 
INTRODUÇÃO 
 
 A minha indagação sobre a família Cazumbá surgiu na tentativa de conhecer a 
origem do Bairro denominado São João do Cazumbá, localizado na região do Centro 
Industrial do Subaé (CIS), entre Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos1. Comecei 
a investigar este bairro em 2007, quando iniciei a pesquisa como bolsista de iniciação 
científica no projeto “Itinerários da Memória: comunidades negras rurais e memória de 
quilombo no Vale do Paraguaçu” dirigido pela professora doutora Lucilene Reginaldo, 
na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). 
 Cataloguei diversas comunidades que possuíam a maioria da população negra. 
Dessa diversidade selecionei apenas duas para ser parte fundamental de investigação 
científica. São João do Cazumbá, uma comunidade urbana, localizada próxima ao Bairro 
Tomba e ao CIS. E a outra Corredor dos Ferreiras, comunidade rural, que se formou na 
segunda metade do século XX a partir do deslocamento da família Ferreira, antigos 
rendeiros da fazenda Magalhães, para um outro território2. Esta experiência se torna 
singular por ser a trajetória de uma família de rendeiros de cor, formando, assim, a história 
do Recôncavo mais complexa e dinâmica pelas suas experiências e redes de formações 
sociais, econômicas e culturais nos períodos anteriores e posteriores a abolição da 
escravidão. 
Tratando da família Cazumbá os primeiros contatos, nada que me inquietasse para 
pesquisa científica, foi na escola quando estava na alfabetização. Em minha classe havia 
cinco colegas com o sobrenome Cazumbá. Eu e os demais alunos achávamos o nome 
diferente, intrigante, o que tornavaaqueles diferenciados. Com essa concepção 
relacionávamos as pessoas com esse sobrenome a uma só família (Cazumbá), sendo 
comum a pergunta se eram primos ou irmãos. Todos eles eram negros e os pais eram 
trabalhadores rurais que cuidavam da terra, plantavam, cruzavam os espaços das relações 
e as experiências dos rendeiros. 
 
1 CARVALHO, Maria Cristina Machado de. Comunidades Negras Rurais e Memórias de Quilombos. 
UEFS/Feira de Santana. 2008. (Monografia de Conclusão do Curso de Licenciatura em História). 
2 CARVALHO, Op. Cit. 
 
19 
 
Quando comecei a pesquisa e identifiquei o Bairro São João do Cazumbá a minha 
orientadora Lucilene Reginaldo sugeriu que eu investigasse a origem e trajetória dos 
Cazumbá. Entretanto, na minha inexperiência recusei seguir este caminho, pois meu 
interesse estava definido em esquadrinhar a formação daquela comunidade, investigar a 
relação com a identidade remanescente de quilombo. Entretanto, experiências do 
cotidiano, das relações sociais de indivíduos e famílias de cor no tempo da escravidão e 
no pós abolição, na Bahia, estão claramente interligados no cotidiano coletivo de 
escravos, livres e libertos, no século XIX. 
Assim, destaca-se, entre o fim do século de XIX e início do século XX, um 
contexto socioeconômico marcado pelas relações estabelecidas desde o período colonial3. 
Nota-se fazendas com diversas extensões de terras com uma multiplicidade de atividades 
agrícolas alicerçada no trabalho escravo/rendeiro de pessoas de cor4. 
As construções dessas fazendas variavam de acordo com os níveis de riqueza. A 
fazenda Dendê, por exemplo, pertencente a João Pinheiro de Queiroz, branco, com 300 
tarefas de terras, tinha paredes largas, construídas de adobe, telhado de tábua. Possuía 4 
portas largas e grandes e 10 janelas, o chão de barro, com duas salas5. Essa descrição nos 
oferece uma visão aproximada das diversas construções que formavam as fazendas 
fumageiras, no início do século XX, na região de São Gonçalo dos Campos, onde percebe-
se os diversos espaços de convivência entre proprietários e despossuídos de terras. 
No quintal havia árvores frutíferas de diversas espécies: 6 mangueiras, 1 jaqueira, 
1 pé de fruta-pão, 1 pé de tangerina, um bananal, 5 cajueiros. Normalmente próximo à 
casa de morada existia outras construções em ruínas como a casa de farinha, o armazém 
velho e, até mesmo, senzala com o tronco. Ainda naquele espaço territorial encontram-
se as plantações de fumo e de mandioca, bem como um cercado onde criava gado e 
cavalos6. 
Naquelas terras avistam-se casas simples de taipas de “roceiros pobres”, 
geralmente, em suas extremidades, mas próximas às estradas. Junto às casas podem ser 
 
3Segundo SCHWARTZ a economia em São Gonçalo dos Campos, desde o século XIX, associava-se ao 
trabalho familiar livre. Ver: SCHWARTZ, Stuart. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade 
colonial, 1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.NARDI, Jean Baptiste. O fumo brasileiro 
no período colonial. São Paulo: Brasiliense, 1996. BARICKMAN, B.J. Um Contraponto Baiano: 
açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780 – 1860. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 
2003. 
4 SILVA, Narciso Amâncio. Decadência Fumageira; São Gonçalo dos Campos. 1951- 1976. Feira de 
Santana: UEFS, 2001. (Monografia de Especialização). 
5 Entrevista com Djanira Pinheiro de Queiroz, concedida em 21 de março de 2011. 
6 Entrevista com Djanira Pinheiro de Queiroz, concedida em 21 de março de 2011. 
20 
 
vista, aproximadamente, 2 tarefas de terras, onde aqueles moradores produziam suas 
roças7. 
As descrições acima foram possíveis mediante as memórias dos descendestes de 
escravos e de fazendeiros. Djanira8, lembrou que no seu tempo de menina, na década de 
1920, entre os rendeiros das fazendas fumageiras em São Gonçalo dos Campos 
encontrava-se: Antônio Farias, Felix Ferreira, Antonieta, João Machado, Antônio Gomes, 
Maria e Teodório, Lesbão e Amélia, Luiz Carneiro, Maria, Tibúrcio, Marcelino, Zé 
Baguim, Manoel Pedro, Chico Cajé, Augusto Cajé, pessoas de cor que receberam de seus 
pais a herança de continuarem na fazenda como rendeiros. Entretanto, essas experiências 
não eram inusitadas, existiam outros sujeitos que construíam as redes sociais do 
Recôncavo fumageiro. A história de Teodora Francisca, desde a fuga de Bonfim de Feira, 
o arrendamento de terras na Fazenda Dendê, o trabalho doméstico e o ganho nas roças e 
o concubinato com o dono da fazenda em São Gonçalo, no início do século XX, torna 
mais impressionante as histórias contadas sobre as famílias nessa região. 
Dentre estas inúmeras histórias localizei a família Cazumbá. Aqueles que fizeram 
parte de minha trajetória e construção de identidade, agora aparecem no palco de meus 
questionamentos. O sobrenome de origem africana trazia a marca da presença de sujeitos 
de cor na região. Também se tornaram proprietários de terras, senhores rurais de destaque 
econômico ainda no final do século XIX. A família Cazumbá torna-se protagonista das 
experiências dos indivíduos de cor em São Gonçalo dos Campos. 
Todavia, verifica-se uma diversidade de histórias vivenciadas por homens e 
mulheres na região onde se concentravam o setor agroexportador de tabaco e agricultura 
de subsistência e criação de gado. Neste sentido, o presente trabalho objetivou 
compreender como os indivíduos e os grupos familiares descendentes de escravos se 
esforçaram para inserirem-se nas redes sociais livres em São Gonçalo dos Campos, entre 
1870 a 1910. Assim, problematizei como as conjunturas históricas, sociais, econômicas, 
demográficas, culturais e políticas estiveram entrelaçados com as experiências, decisões, 
construções de redes sociais e relações familiares de ex-escravos, livres, libertos e dos 
seus descendentes, especialmente dos Cazumbá. 
 
7 Entrevistas com: Djanira Pinheiro de Queiroz, concedida em 21 de março de 2011. Expedito Pinheiro de 
Carvalho, concedida em 25 de março de 2011. Cleusa Machado de Carvalho, concedida em 25 de março 
de 2011. 
8 Entrevista com Djanira Pinheiro de Queiroz, concedida em 21 de março de 2011. 
21 
 
A partir dessa inquietação lancei mão de três objetivos: analisar as relações sociais 
entre os diversos grupos (senhores, pequenos proprietários, trabalhadores, livres e 
trabalhadores escravos e outros); identificar e questionar sobre as estratégias manipuladas 
pelos indivíduos para inserirem-se nas redes sociais livres, especialmente a compra de 
terras por descendentes de escravos e, ainda, as mudanças nas relações de trabalho no 
século XIX. Por fim, compreender as características e os laços familiares e sociais 
formados e mantidos pela população de São Gonçalo dos Campos. 
Tal espaço geográfico é conhecido historicamente como zona de passagem do 
Recôncavo aos sertões, além de uma vasta região interiorana. Povoada de pequenos 
proprietários, constitui um cenário rico de um passado, contidos nos livros de nota, 
inventários, processos cíveis e uma série de documentos ainda não explorados pelos 
pesquisadores que se dedica ao estudo. Uma parte destes documentos está armazenada 
em péssimas condições, empoeirados, impossibilitado o acesso ao pesquisador. 
Entretanto, algumas pesquisas foram feitas e pode contribuir para conhecer melhor os 
espaços de convívio, as formas de trabalho, os modos de sobrevivências e os valores que 
partilhavam os indivíduos deste local. 
No ano de 1984 foi publicado edição comemorativa do primeiro centenário do 
município, o livro Memória Histórica de São Gonçalo dos Campos, de Marli Geralda 
Teixeira e Maria José de Sousa Andrade9, o qual muitos pesquisadores passaram a 
consultar como instrumento de pesquisa sobre os mais diversos assuntos. Sendo fruto deestudos financiado pelo governo municipal possui conteúdo genérico, isto é, uma 
compilação com dados geográficos, históricos, políticos e sociocultural do local. Nele 
encontrei informações gerais sobre os proprietários de terras e a economia fumageira, não 
indo muito além desses aspectos. Além disso, é um trabalho que pretende abordar mais 
de três séculos de história, prendendo-se mais a evidências sobre a política da região. 
Localizei ainda textos como A Decadência Fumageira: São Gonçalo dos Campos, 
1951 – 197610, em que o autor, Narciso Silva, faz um exame dos fatores que levaram à 
crise da cultura fumageira em São Gonçalo dos Campos, entre 1951 a 1976. O autor 
apresenta alguns aspectos históricos desta produção, contudo, quando refere à mão de 
obra, adverte que esta lavoura estava centrada nas mãos dos pequenos proprietários e, por 
conseguinte, um elevado número de indivíduos arrendatários de terras que utilizava a 
 
9 TEIXEIRA, Marli Geralda, ANDRADA, Maria José (org.). Memória Histórica de São Gonçalo dos 
Campos. Ed. Comemorativa do 1° centenário do município, 1984. 
10 SILVA, Op. Cit. 
22 
 
força de trabalho de lavradores sem posse de territoriais. Talvez esse seja o primeiro 
trabalho a fazer uma interpretação específica da cidade a respeito da economia fumageira 
na segunda metade do século XX. 
O trabalho de Luciana Lessa11, faz uma interpretação sobre o cotidiano e as visões 
de mundo das integrantes da irmandade de Boa Morte em São Gonçalo dos Campos na 
primeira metade do século XX. Esta produção mais aproxima das experiências de 
liberdade efetuadas pelos agentes não brancos desta região. Contudo, é notória a carência 
de trabalhos dedicados a compreender as expectativas e experiências de liberdade em São 
Gonçalo dos Campos. 
Outras obras12, também, vão apresentar os contornos da economia fumageira, 
todavia, aborda toda região do Recôncavo. A exemplo do estudo realizado por Nardi 
Bastide acerca do fumo no período colonial. Neste a região dos Campos da Cachoeira 
aparece contígua às outras zonas fumageira do Recôncavo. Nesta narrativa sobressai a 
população envolvida no cultivo do gênero agrícola e a grande importância adquirida pelo 
produto no século XVIII. O autor apresenta em sua órbita um grupo de pequenos 
agricultores, homens e mulheres, rendeiros, agregados e, até mesmo, escravos13. 
Outro trabalho sobre o tema foi realizado por Barickman em “Um Contraponto 
Baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780 – 1860”14. A partir 
da análise de inventários, censos, registros de notas entre outras fontes, o autor centrou 
seus esforços no estudo comparativo das economias realizadas no Recôncavo baiano. 
Embora não esteja centrada na freguesia fumageira de São Gonçalo dos Campos o autor 
vai fazendo comparações que permitem visualizar a dinâmica socioeconômica no final 
do século XVIII e primeira metade do século XIX. 
Neste sentido, para alcançar os objetivos acima citados coletei depoimentos de 
lavradores na perspectiva da História Oral15. Com essas dezenas de entrevistas, deparei-
me com uma multiplicidade de histórias do vivido, do cotidiano. A ideia era buscar 
evidências das experiências dos sujeitos de cor na vida cotidiana, nos antagonismos e 
 
11 LESSA, Luciana Falcão. Senhoras Do Cajado: Um Estudo Sobre A Irmandade Da Boa Morte De 
São Gonçalo Dos Campos. Salvador: UFBA, 2005 (Dissertação de Mestrado em História) 
12NARDI, Op. Cit. BARICKMAN, Op. Cit.; SILVA, Op. Cit. 
13 NARDI, Op. Cit. 
14BARICKMAN, Op. Cit. 
15THOMPSON, Paul. A voz do passado. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1992. RICOEUR, Paul. Tempo e 
Narrativa. Campinas/SP: Martins Fontes, 2010. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. In: 
Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro: CPDOC/ Fundação Getúlio Vargas, v. 2 n 3, 1989. POLLAK, 
Michael. Memória e identidade Social. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n.10, 1992, p. 
200-212. 
23 
 
acomodações, nas casas, no armazém, na roça, na rua, na igreja, no diálogo com o outro, 
em suas múltiplas relações. Em seguida esquadrinhei fontes que identificassem nomes, 
sobrenomes, laços familiares, contatos e contratos sociais dos sujeitos. 
A partir desse volume de informações surgiram questionamentos sobre: quem 
eram esses sujeitos? Como, em quais lugares, em quais momentos, em que circunstâncias 
teceram os fios, os caminhos e as histórias de vida? O que estes indivíduos nos dão a ver, 
escutar e refletir sobre a trajetória de suas vidas? Como fazem? Quais imagens, 
linguagens, silêncios, indícios, esquecimentos e interjeições empregam? Como trabalhar 
essas histórias? Como organizá-las, como trançar os seus fios, como datar vários tempos, 
as várias imagens, as memórias? Como compreender os significados dados por eles às 
suas experiências? 
Estas questões são difíceis de responder, todavia, investigar a trajetória de 
indivíduos e de famílias é seguir os rastros deixados pelos sujeitos ao longo da história16. 
As experiências constroem a identidade do grupo ao mesmo tempo em que retrata a vida 
de luta, de migração, deslocamento e permanência. 
Ao deparar com esse contexto bem diversificado busquei fazer uma análise em 
que as Ciências Sociais e a História vão estar se comunicando em uma afinidade 
transdisciplinar, adotando o modelo metodológico sugerido por Ginzburg no âmbito da 
história social e que se fundamenta na relação entre os indivíduos e a sociedade17. Neste 
sentido, comecei com investigação sobre a condição socioeconômica que permita 
compreender a posição do sujeito e os esforços para se inserirem socialmente. 
De tal modo percebi que o indivíduo enquanto sujeito histórico atravessa por 
diferentes fluxos sociais. Ele é um entroncamento em que diferentes estradas, diferentes 
séries históricas vêm encontrar-se e, ao mesmo tempo, vêm separar-se18. Toda essa 
encruzilhada torna as individualidades plurais, referenciais, locais, marcados por tensões 
 
16LEVI, Giovanni. A herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. GINZBURG, Carlo. O Queijo e os Vermes: o cotidiano e as 
ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. GINZBURG, 
Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfo1ogia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. LIMA, 
Henrique Espada. A Micro História Italiana: escalas, indícios e singularidades. São Paulo: Record, 
2006. 
17BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (Org.). 
Usos Sobre o poder simbólico e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1996, p.183-191. 
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 5ª Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. Cap. 1, p. 7-16. DEL 
PRIORE, Mary. Biografia: quando o indivíduo encontra a História. Topói, v.10, n.19, p. 7-16, jun/dez 
2009. 
18ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. A singularidade: uma construção nos andaimes pingentes da 
teoria histórica. In:____. História: a arte de inventar o passado: ensaios de teoria da história. Bauru: Edusc, 
2007, p. 248. 
24 
 
ou, como sugere Bourdieu o enredo de uma vida “é o atestado visível da identidade do 
seu portador através dos tempos e dos espaços sociais, o fundamento da unidade das suas 
sucessivas manifestações e da possibilidade socialmente reconhecida de totalizar essas 
manifestações em registros oficiais19”. Assim, a identidade de um indivíduo ancora-se no 
pressuposto “de que a vida constitui um todo, um conjunto coerente e orientado, que pode 
e deve ser apreendido como expressão unitária de uma ‘intenção’ subjetiva e objetiva, de 
um projeto20”, portanto, ela passa por uma trajetória sinuosa. O indivíduo é o fio21 
condutor de uma nova abordagemsocial e de uma nova modalidade de reconstrução do 
vivido. 
As trajetórias individuais possibilitam “percorrer em múltiplos espaços e tempos 
as relações nas quais elas se inscreviam”. O individual é apreendido como a decorrência 
da ação de indivíduos em suas relações com outros indivíduos. Assim, a perspectiva micro 
analítica de seguir as trajetórias individuais, como o conceito de experiência de 
Thompson22, é adotado em nesta análise. Este conceito exibe a multiplicidade de 
conjunturas em que os sujeitos estão inseridos, possibilitando a reflexão sobre as ações 
de homens e mulheres a partir das condições históricas dadas. Ainda, adotei a ideia de 
categoria social enquanto um elemento histórico, processual e relacional. Igualmente 
tomei o conceito de cultura como uma relação contínua dos sujeitos sociais, refletindo 
interesses por vezes antagônicos. 
Outro aporte teórico que me deu embasamento para consideração do conceito de 
identidade enquanto configurações relacionais e dinâmicas foi Frederick Barth23. O 
indivíduo, nesta visão, estabelece espaços de autonomia, delineando estratégias de acordo 
com seu ponto de vista individual ou coletivo. Deste modo, os estudos de Thompson e 
Barth ajudaram a pensar a concepção de identidade social como flexível e dinâmica, na 
qual as distintas categorias identitárias estabelecem-se e reproduzem-se continuamente 
em contextos particulares, marcados pelo cruzamento de múltiplas variáveis24. Além 
 
19 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (Org.). 
Usos Sobre o poder simbólico e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1996, p. 187. 
20 BOURDIEU, op. cit. p. 184 
21 GINZBURG, Carlo. O Queijo e os Vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela 
Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 
22THOMPSON, E. P. Costumes em comum – Estudos sobre cultura popular tradicional. São Paulo: 
Companhia das letras, 1998. 
23 BARTH, F. Grupos Étnicos e suas fronteiras. In: POUTGNAT & STREIFFENART. Teorias da 
etnicidade. Seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: UNESP, 1998. 
24 HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, editora da UFMG, 
2003. LE GOFF, Jacques. A história nova. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. THOMPSON, E. P. 
Costumes em comum – Estudos sobre cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das letras, 
25 
 
disso, a vida dos sujeitos sociais é marcada por rupturas, limitações e continuidades, que 
remodelam sem parar as representações de si. 
Com isso, notei que a escrita da história do indivíduo é múltipla e repleta de 
possibilidades inscritas nas relações do presente com passado, não obstante, para decifrá-
la, é necessária a leitura indiciária dos sinais, dos signos, das marcas, dos gestos, dos 
silêncios deixados pela ação dos homens e relatados pelos seus testemunhos. A 
diminuição da escala de análise e a busca pelo nome de um mesmo indivíduo em 
diferentes fontes, além de revelar estruturas sociais diferentes também disponibilizam 
sugestões teóricas que contribuem para o entendimento do processo social como um todo. 
Neste sentido, adotei uma diversidade de versões e análise seguidas por diferentes 
pesquisadores, para que até mesmo os fatos “imponderáveis da vida real” sejam 
analisados com profundidade25. 
Para tanto, reuni diversas fontes: inventários, certidão de batismo, de óbitos, 
escritura de compras e vendas, escritura de arrendamento, carta de alforria, registro de 
terras, jornais, além do depoimento oral, o que me deu supor para tentar reconstruir as 
trajetórias desses indivíduos no tempo de escravidão e liberdade. 
Os livros de Registro Eclesiástico (século XIX) existentes na secretaria 
Arquidiocese de Feira de Santana, (consultei 10 deles entre os anos de 1862 a 1915), 
sendo consultado 3 livros de certidão de óbitos, 1880/1910, 5 livros de certidão de 
nascimento, 1860/1915 e apenas 2 de casamento de 1870/1905, permitiram relacionar os 
dados e compreender como os indivíduos construíram as redes de parentescos. Também 
utilizei registros de nascimentos referente a Feira de Santana, mas, especificamente, São 
José das Itapororocas na primeira metade do século XIX, sendo dos anos de 1808 a 1848. 
Nestes investigava sobre a existência de José Ferreira Cazumbá. 
Com os dados do censo de 1872, fiz análise sobre a dimensão geral da população 
do período. Embora apresente falhas, uma vez que as autoridades locais eram indiferentes 
ao recenseamento, pois acreditavam que o censo servia para estabelecer novos impostos 
 
1998. BARTH, F. Grupos Étnicos e suas fronteiras, CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma 
História das Últimas Décadas da Escravidão na Corte. São Paulo: Cia. das Letras, 1990. CHALHOUB, 
Sidney. Trabalho Bar e Botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. 
Brasiliense: São Paulo, 1986. FRAGA, Walter. Encruzilhadas da Liberdade: histórias de escravos e 
libertos na Bahia (1870-1910) Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2006. 
25 MALINOWSKI, Bronislaw. Introdução. In: Os argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Ed. Abril, 
1979.p. 17- 34. 
26 
 
e para o recrutamento militar26, os dados censitários fornecem informações utilizáveis a 
respeito da população dessa freguesia. 
A consulta de 35 inventários post mortem de moradores da Freguesia de São 
Gonçalo dos Campos, no período de 1850-1898, esclareceram não só sobre o modo de 
vida da população da Freguesia, como o tamanho das fazendas, de terras e escravos, tipos 
de cultivo e condições de sobrevivência. A importância fundamental desta investigação 
foi à avaliação dos bens dos descendentes das famílias no final do século XIX, permitindo 
traçar o perfil das propriedades e de seus proprietários. 
Em 100 escrituras de compra e venda de fazendas e terras permitiram 
compreender o tamanho das fazendas, o valor das terras, o perfil do comprador e 
vendedor. As 60 escrituras de venda e compra de escravos apresentam informações acerca 
da origem, à raça, a idade e o sexo dos escravos dando-nos a noção geral da escravaria da 
Freguesia. 
As escrituras de arrendamentos comprovaram as negociações feitas pelos 
proprietários de terras e os lavradores, em 1881, e a presença de rendeiros nos anos finais 
do século XIX. Encontrei 70 escrituras que datam do ano de 1881. Ainda, utilizei 10 
registros de procurações que constam informações que permitiram obter mais dados a 
respeito do perfil dos proprietários e identidades dos escravos como a identificação pela 
cor, idade, origem e filiação. 
Igualmente importante para “cruzamentos” de dados foram os jornais, os quais 
apresentam dados sobre a economia, política e sociedade. Assim, utilizei 10 exemplares 
que circulavam em Feira de Santana e em São Gonçalo dos Campos no final do século 
XIX e início do século XX. 
Do mesmo modo coletei 10 entrevistas com descendentes de escravos e 
fazendeiros, moradores das antigas fazendas fumageiras com idade entre 40 e 100 anos. 
Nestas indaguei sobre as histórias contadas por seus pais e avós a respeito das 
experiências de seus antepassados no sentido de reconstituir e analisar as relações 
matrimoniais, o trabalho na roça, o dia a dia na fazenda, os contatos com os diversos 
sujeitos sociais, a religião e cultura. 
Por fim, de posse das fontes e bibliografia que oferece um leque de discussões 
sobre identidade, o Recôncavo, economia, trabalho, escravidão, família, passei a escrever 
a dissertação. Para melhor entendimento organizei em quatro capítulos. O primeiro 
 
26 BARICKMAN, Op. Cit. 
27 
 
passeia pelos mistérios envolto no sobrenome Cazumbá. Conta a história de José Ferreira 
Cazumbá e encerra fazendoanalogia a família em São Gonçalo. O segundo discute sobre 
o contexto social, demográfico, econômico e cultural, na segunda metade do século XIX. 
No terceiro tratei sobre famílias, comunidades, relações entre indivíduos no contexto do 
arrendamento de terra, especial na primeira década do século XX. No capítulo quatro 
enfoquei a experiência histórica da família Cazumbá como indivíduos egressos da 
escravidão, mas que conseguiram ascender socialmente como proprietários de terra. 
A grosso, a dissertação não é um estudo apenas de indivíduos ou grupos familiares 
de ex-escravos, antes exibe os indivíduos nas relações sociais em que eles estavam 
imersos e que ajudaram a definir o contexto do pós-abolição. Assim, analisei as relações 
que envolvem todas as experiências ligadas a senhores, escravos, ex-senhores, ex-
escravos, negros, pardos, crioulos, livres, migrantes, mestiços, homens, mulheres e 
quaisquer outros que aparecerem nessas interações. 
A abordagem sobre os personagens Cazumbá e os grupos familiares possibilitam 
a reconstrução e análise sobre a complexidade das relações sociais marcadas pelo trabalho 
escravo e livre. Neste sentido, este estudo justifica-se na medida em que permite 
compreender a importância socioeconômica das relações sociais ligada ao trabalho 
escravo e ao trabalho livre no Recôncavo na segunda metade do século XIX e na primeira 
década do século XX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
CAPÍTULO I Cazumbá: nomes e rastros 
 
“Escritura de venda, compra, paga e quitação que faz o Major Francisco 
Antônio de Carvalho, da fazenda antigamente denominada Várzea e hoje 
sobrado, pela, digo[ilegível]das terras, casas e benfeitorias da fazenda 
antigamente denominada Várzea, hoje sobrado, pela quantia de um conto 
oitocentos mil réis, a Manoel Ferreira de Cerqueira e João Cardozo Cazumbá, 
como abaixo declara. 
Saibam quantos este instrumento e escritura de venda, compra, paga e 
quitação, virem, que sendo o ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo 
de mil oitocentos e setenta e nove, aos trinta dias do mês de junho do dito ano, 
neste arraial da freguesia de São Gonçalo dos Campos, termo da cidade da 
Cachoeira, em meu cartório compareceram presentes partes justas e 
contratadas, de uma como vendedor, o Major Francisco Antônio de Carvalho, 
morador da cidade de Santo Amaro, e de outra, como compradores Manoel 
Ferreira de Cerqueira e João Cardozo Cazumbá, moradores desta freguesia, e 
bem conhecidos de mim escrivão de paz interinamente juramentado, no 
impedimento do atual, do que dou fé. E logo pelo referido vendedor me foi 
dito em presença das testemunhas no fim declaradas e designadas, que era 
senhor e legítimo possuidor das terras, casa e benfeitorias da fazenda 
antigamente denominada Várzea e hoje Sobrado, cuja fazenda lhe foi 
adjudicada pelo juiz de órfãos da cidade de Santo Amaro , Joaquim, digo, 
Amaro, Joaquim [ilegível] de Almeida Freitas , por parte dos menores do 
finado comendador Antônio Lopes Ferreira e Souza, que era seu devedor, e a 
quem pertencia a referida fazenda acima declarada, cujas terras se divide da 
maneira seguinte; pelo lado sul com terras que ficaram de João da Maya 
Machado, pelo este com terras que ficaram do padre Gonçalo de Souza, e pelo 
leste e norte, com terras de Estevão Machado, tudo por baixas e estradas, cujas 
terras assim demarcadas, e divididas, casa, e benfeitorias, vende e vendido 
tinha de hoje em diante aos senhores Manoel Ferreira de Cerqueira e João 
Cardozo Cazumbá, pela quantia de um conto e oitocentos mil réis, cuja quantia 
recebia ao fazer desta de que lhes dei pura e geral quitação, sem que jamais em 
tempo algum, ele vendedor nem seus herdeiros possa reclamar esta venda, ante 
se obrigara a fazê-la boa. E pelas referidos (Folhas 11) compradores que 
pagaram a devida impostos, foi dito que aceitavam a presente[...] 
E digo assim outorgaram, abaixo assinaram com as testemunhas presentes José 
de Medeiros Borges e Álvaro Pereira de Cerqueira, assinando a rogo do 
comprador João Cardozo Cazumbá, por não saber escrever, Francisco da Silva 
Menezes que todos assinaram depois de lida por mim[ilegível] Pedreira de 
Cerqueira, escrivão de paz interinamente juramentado, no impedimento do 
atual, que a escrevi27” 
 
Se não fosse o sobrenome, a citação acima, seria apenas mais uma das muitas 
ocorrências de compras de terras na Freguesia de São Gonçalo dos Campos, nas décadas 
finais do século XIX. Mas o sobrenome, Cazumbá, carregava um enigma a ser decifrado. 
Quem era mesmo este João Cardozo Cazumbá? Não tinha, apenas, muitas interrogações, 
mas várias respostas a cada pergunta. Pois bem, semelhante a águia que defere voo, sem 
interdição das ruínas e dos tempos, porque o investigador se apropria destes sinais — voei 
 
27 Escritura de Compra e Venda de Terras. 1879. BAHIA, Arquivo do Fórum Ministro João Mendes, Livro 
do Tabelionato n. 2. 
29 
 
por sobre os destroços dos indícios dos documentos até à África, no incansável questionar 
sobre mistérios que escondiam os Cazumbá. Deste modo, recorrendo aos linguistas 
busquei a primeira constatação que importa saber sobre a etimologia da palavra. 
 
Rastreando o nome: microanálise etimológica de Cazumbá 
 
Diretamente Lopes28 ofereceu as primeiras asseverações, afirmando que a palavra 
é de origem banto. Sua presença e significado no Brasil têm a ver com os ramos desses 
povos cujos membros foram trazidos da África, ou vieram como comerciantes, uma vez 
que o termo tem origem em África. Embora seja do grupo etimolinguístico Cazumbi, 
Zimbi, Nzumbi, originário do Kibundo Nzumbi, macro grupo etnolinguístico Bantu29 o 
seu conteúdo enquanto instituição sociopolítica é resultado de uma longa história de 
migração que se processou no centro africano a partir de 86830. Sendo assim a 
compreensão da adoção do nome pela população não branca no Brasil está em estreita 
relação com a trajetória e a formação dos falares africano de origem Bantu na África e a 
diáspora que sofreu estes povos ao longo dos três séculos de escravidão na América31. 
Contudo, as línguas africanas no Brasil encontram-se marcadas pela ruptura de 
sua continuidade no espaço original, no convívio de uma heterogeneidade linguística pela 
presença da língua portuguesa, das línguas indígenas e de outras línguas africanas nas 
diferentes épocas e nos diferentes espaços geográficos. Assim, a análise dos léxicos 
africanos deve ser contextualizado a partir da chegada de diversos grupos negros para o 
trabalho escravo na lavoura de fumo e açúcar. Exemplo do Cafundó32, em que o léxico 
 
28 LOPES, Nei. Novo Dicionário Banto Do Brasil. RJ: Pallas, 2003, p.76; LOPES, Nei. Enciclopédia 
Brasileira Da Diáspora Africana. SP: Selo Negro, 2004, p180. 
29 LODY, R. Cazumbá. Máscara e drama no boi do Maranhão. Museu do Folclore Edison Carneiro, 
Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, 1999, p.6. 
30VANSINA, J. A África Equatorial e Angola: migrações e o surgimento dos primeiros estados. In: 
História Geral da África IV. África do século XII ao século XVI. SP: Ática\ UNESCO, 1988. 
31 HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, editora da UFMG, 
2003. 
32Cafundó é um bairro rural situado no município de Salto de Pirapora com aproximadamente 150 km de 
São Paulo. Sua população, predominantemente negra, divide-se em duas parentelas: a dos Almeida Caetano 
e a dos Pires Pedroso. Com a população de 80 habitantes nem todos detêm o título legal das terras. Constam 
que estas foram doadas a dois ancestrais escravos pelos antigos senhores e fazendeiros, pouco antes da 
Abolição, em 1888. Nela plantam milho, feijão e mandioca e, ainda, criam galinhas e porcos, apenas para 
atender parte de suas necessidades de subsistência. Também trabalham como diaristas,boias-frias e como 
empregadas domésticas. A fala do Cafundó é uma variedade do português regional, um dialeto rural, 
caracterizada por um léxico de origem banto, quimbundo principalmente, que os representa como africanos 
no Brasil. O léxico contém cerca de 160 itens, com 15 verbos e 2 advérbios. Em relação aos usos que ainda 
SLENES, Robert W. “Histórias do cafundó”, In. VOGT, Carlos e FRY, Peter, Cafundó – A África no 
Brasil. São Paulo: Cia das Letras; UNICAMP, 1996. 
30 
 
de origem banto provocou o questionamento sobre a presença e a permanência de línguas 
africanas no Brasil e a possibilidade dessa fala ser procedência crioula. 
Ainda, de acordo com Queiroz o dialeto de Tabatinga33 possui um pequeno 
vocabulário de origem africana, banto (quimbundo, principalmente), possuindo muitos 
termos semelhantes aos do Cafundó, com morfemas derivacionais e flexionais do 
português arrolados aos prefixos de origem africana. Ca-, por exemplo, de camona 
“criança”, nas línguas bantos marca o grau diminutivo34. De acordo com 
Silva35atualmente existe famílias com sobrenome Cazumbá em África _ Angola e 
Moçambique que possuem palavras que levam o mesmo prefixo: 
 
“Kazumbá, Kazumba ou ainda Zumba; existem nomes em Angola, no sul temos 
muitas pessoas com esse nome[...] a sua pergunta seria se é nome próprio ou 
sobrenome[...]? Em primeiro lugar os nomes e sobrenomes se confundem muito 
em Angola, eu tenho certeza que Zumba pode ser nome próprio ou sobrenome 
de alguém, o que difere em Angola por vezes [é o] grau, por exemplos: em todas 
línguas bantas, a palavra que leva o prefixo [ka] Ka-zumba igual o grau 
diminutivo. O pai no caso têm o nome de Zumba grau superlativo, e essa é 
primeira confusão, e a segunda é de não termos regra de nomes e sobrenomes 
em Angola. E agora o a letra [k] foi substituída por portugueses [c] e 
naturalmente foi evoluída para acento. Normalmente esse nome é comum na 
etnia Chokwe, Ganguela e Nhemba, e os chokwes são famosos nos rituais e 
máscaras, Zumba também está relacionado à divindade[...]36. 
 
Numa análise diacrônica do léxico Cazumbá é possível identificar o prefixo Ca 
de origem africana, o morfema identificador de classe nominal diminutiva, contudo, a 
apreciação não deve excluir os lugares sociais, econômicos e culturais, onde as 
“heranças” transitam, uma vez que transplantadas para o Brasil às experiências dos 
sujeitos podem revelar traços de seu longo e intenso contato com o português, elaborações 
elucidativas para compreensão do significado. 
A palavra Cazumbá também se veste de mito em diversos personagens no 
território brasileiro. O bumba-meu-boi no estado do Maranhão faz referência à cultura a 
 
33Tabatinga é um grupo de negros localizados na cidade de Bom Despacho (MG), a 140 km de Belo 
Horizonte. Possuem morfemas derivacionais e flexionais do português, embora seja possível identificar em 
diversos termos prefixos de origem africana. QUEIROZ, S. Pé preto no barro branco: a língua dos 
negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora da UFMG. 1998. 
34QUEIROZ, S. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora 
da UFMG. 1998, p. 79. 
35SILVA, José Bento da. “Cazumbá: História e memória no Recôncavo Baiano(1888-1950)”. Anais do 
XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011, p. 3. 
36Fernando Wilson Sabonete, natural de Angola, da etnia Nhaneka-humbi. In.: SILVA, José Bento da. 
“Cazumbá: História e memória no Recôncavo Baiano(1888-1950)”. Anais do XXVI Simpósio Nacional 
de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011. 
31 
 
africana na tradição popular brasileira37. O folclore maranhense apresenta bois com um 
ritmo compassado, com badalo, pandeirões, chapéus bordados com penas de ema e a 
presença do cazumbá. O cazumbá nesta situação se relaciona em meio aos espíritos e aos 
humanos. 
Para além da tradição popular no Maranhão o mito perpassa o imaginário popular 
do Recôncavo e do Sertão no emblemático personagem José Ferreira Cazumbá. A 
tradição oral mistura ficção e realidade, alguns autores apresentam-no como ex-escravo, 
ex-oficial de justiça, delator do consorte Lucas da Feira38. 
Seguindo as pistas: investigando os documentos oficiais 
A tradição oral de moradores do Bairro São João do Cazumbá, remetia o nome de 
José Ferreira Cazumbá a experiência de Lucas da Feira, isso porque ambos teriam 
escondido, sobre uma árvore, no local39. Entretanto, afirmam que José, antes amigo, 
entregou-lhe as autoridades por conhecer aquele esconderijo. 
Enveredando em torno das pegadas deixadas nas fontes oficiais, foi possível, 
desvendar os mistérios que envolvia a tradição oral. Encontrei jornais publicados no 
século XX com notícias do século XIX40. Esses jornais feirenses faziam alusão a Lucas e 
Cazumbá em diversas situações: 
Uma multidão de crianças desleixadas pelos pais, pela escola, vagabundando 
pelas ruas e pelas roças, frequentando pelas mansões terríveis dos vícios. [...] 
Uns trilhando no latrocínio, outros na bebedice, outros na prostituição, mais 
outros na valentia e consequentemente nas rixas entre os companheiros, modos 
todos estes como se iniciou Lucas pelas ruas desta cidade. [...] Vi, então por 
uma imagem do pensamento, todos estes Lucas e Cazumbás incipientes 
 
37 MATOS, Elisene Castro. CAZUMBAS: Etnografia de um personagem do bumba-meu-boi. Dissertação: 
São Luís, 2010. 
38 ROMERO, Sílvio. Folclore Brasileiro 1 – Contos Populares do Brasil. RJ: Livraria José Olympio, 
1954; MORAIS FILHO, Melo. Festas e Tradições Populares do Brasil. Brasília: Senado Federal 
(Coleção Biblioteca Básica Brasileira) 2002; MOURA, Clóvis. Dicionário da escravidão Negra no 
Brasil. SP: Edusp, 2004. CAMPOS, Sabino. Lucas o demônio negro. Romance folclórico baiano, Rio de 
Janeiro, 1957, p. 136. Jornal Folha do Norte- 28/01/1939. Ano de referência 1848. p. 101. nº 1542. 
AMSMG. LIMA, Zélia de. Lucas Evangelista: o Lucas da Feira; estudos sobre a rebeldia escrava em 
Feira de Santana. 1807 – 1849. Salvador: UFBA, 1990. (Dissertação de Mestrado) 
39 CARVALHO, M. C. M. de. Comunidades Negras Rurais e Memórias de Quilombos. Feira de Santana: 
UEFS, 2008. (Monografia conclusão do curso de graduação em História pela Universidade Estadual de 
Feira de Santana.) 
40 Supostamente esses noticiários, publicados em 1938 a 1948, período do governo Vargas, momento de 
golpe de Estado, traziam mensagens subliminar expondo histórias de sujeitos viveram no século XIX. Além 
disso, os jornais eram um poderoso instrumento de comunicação no qual segmentos da sociedade exprimem 
publicamente as suas opiniões, uma vez que, entre os anos 20 e 40 os jornais era expressão da elite pensante 
do país. Assim, para não provocar reações das forças opressivas do governo recontava, muitas vezes 
lembrado, o mito do “herói” da resistência à escravidão. Supostamente os auditores de jornais para que a 
população feirense se mobilizasse contra a ditadura varguista. CAPELATO, Maria Helena. “O Controle e 
os Limites da Liberdade: Imprensa Paulista (1920-1945)” In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 
12, nº 23 – 24, pp. 55 -75, set. 1991/ ago. 1992. 
32 
 
fermentando em seus espíritos os produtos de todas essas perversões, uns 
porque não têm pai, nem mãe, nem avós, nem tutores, são sós na sociedade, 
outros porque os têm e são tanto os outros pervertidos morais. [...]41 
A memória social no início do século XX discorria que “os salteadores”, Lucas e 
Cazumbá, por vezes bandidos, tornaram-se espelhos às crianças em Feira de Santana, pois 
os pais e a escola, deixavam “vagabundando” pelas ruas e pelas roças, convivendo com 
vícios, latrocínio, bebidas, prostituição e brigas. 
Este episódio retrata os bastidores da memória feirense a respeito do século XIX. 
Em linhas gerais existia um forte imagináriosocial projetando perfis e enredos no tocante 
a curta trajetória do personagem Cazumbá. A luz projetada sobre o protagonista levou-
me a questionar sua real aparição naquela conjuntura social. Entretanto, continuei 
seguindo rastro, indícios, pistas na tentativa de esclarecer as minhas indagações 
concernentes as relações construídas no seio de Feira de Santana. 
Deparei-me com uma diversidade de jornais que circularam, em Feira de Santana, 
no final do século XIX e início do século XX, bem como, Manuscritos do Monsenhor 
Galvão, no Arquivo Monsenhor Renato Galvão/Casa do Sertão/UEFS. Inspirei-me no 
método de Zadig, deveria seguir a experiência de Sherlok Holmes42, para perseguir e 
reconstituir cada informação sobre aquele indivíduo para, posteriormente, centrar no 
esforço detetivesco tentando adivinhar coisas secretas e ocultas nas fontes oficiais. 
A primeira pista encontrei nos manuscritos do Monsenhor Galvão. O documento 
transportava o rastro de seu óbito, em 1857, 
Morte de Cazumbá (1857). José Ferreira Cazumbá, casado em (sem 
identificação) nupciais com Dona Rosa de Jesus, seus filhos natural de São 
José das Itapororocas. Preso por ter morto a cacete Marcelino Lopes da Silva, 
em oficial de Justiça evadiu-se em comprade de Lucas no batismo de Calatino, 
filho do salteador. Para obter o perdão e a prometida recompensa e outros 
auxílios43. 
Tais pistas foram estímulos necessários para continuar a investigação. Observei 
alusão ao Jornal Vida Feirense, a data de sua morte e o nome da mulher. Isto significava, 
que este personagem, não se tratava apenas de um mito presente no imaginário feirense. 
Entretanto, nos jornais, bem como em quase todos indícios, o personagem Cazumbá 
aparece como coadjuvante a Lucas da Feira. 
 
41 O Município. n. 48, 22 de maio de 1909, p. 1-3 
42 CHALHOUB, Visões da Liberdade; GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e 
história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 
43 Vide Vida Feirense 4/04/1942 -Livro I, Miscelânea| Monsenhor Renato Galvão, p. 382, Arquivo 
Monsenhor Renato Galvão (Casa do Sertão/UEFS) 
33 
 
O jornal Folha do Norte, 20 de maio de 1939, sinalizava que José Ferreira 
Cazumbá, oficial de Justiça, nos tempos remotos tornou-se companheiro de Lucas da 
Feira, por isso, conhecia os locais de esconderijo do, então, cúmplice. Continua narrando, 
que em diligência de justiça, Cazumbá, feriu violentamente um sujeito. Vindo este a óbito, 
o oficial, foi “Submetido a processo, foi pronunciado, e então ocultou-se44”. O juiz cons. Góes, 
incumbiu a José Ferreira Cazumbá “a missão de capturar Lucas, em troca de livrá-lo do 
crime”45. Assim, Cazumbá organizou uma expedição, na qual Lucas foi capturado. 
Um ano depois da notícia acima, o mesmo jornal46, divulga um noticiário, de 
1865, sobre a prisão de Lucas. Neste Cazumbá aparece como compadre e denunciante do 
esconderijo do salteador. De acordo ao noticiário, José Ferreira Cazumbá andava guiando 
a polícia pelas serras e matos, até que aprisionou o bandoleiro, na Pedra do Descanso, 
dando-lhe um tiro. Recebendo em troca 4.000,00 contos e absolvição dos crimes, que 
“não eram poucos”47. 
O Jornal48, publicado em 1848, detalha os episódios precedentes a prisão de 
Lucas, entretanto, não reconhece a participação de José Cazumbá. Pontua que o bandido 
se ocultava, em companhia de Benedito (cúmplice) e uma moça, que raptará, num rancho 
de palhas, com ferimentos no braço, ocasionado pelos tiros deflagrados pelo policial 
Serafim. 
Em cortejo à delegacia, escoltado pela polícia de “baioneras”, que mantinha o 
povo à distância e abria espaço para os que carregavam Lucas na rede, por que do 
machucado, “indefeso, implorou a Cazumbá”, que acompanhava ao lado dos condutores, 
para “protege-lhe a vida”. Nestas investigações notei que os jornais, tentavam criar a 
imagem para Cazumbá como um bandoleiro arrependido dos seus crimes, ao mesmo 
tempo, um ex-observador da lei. 
Quando encontrei a Certidão de Óbito, no arquivo do Arcebispado, em Feira de 
Santana, parte do enigma foi revelado. Tal que, se existia uma certidão atestando a morte 
nos registos eclesiásticos é porque esta pessoa vivia. Neste observa-se, ainda, informações 
a respeito de sua situação civil, raça e idade e morte. 
 
44 Jornal Folha do Norte, 20 de maio de 1939. Arquivo Monsenhor Renato Galvão (Casa do Sertão/UEFS) 
45 Jornal Folha do Norte, 20 de maio de 1939. Arquivo Monsenhor Renato Galvão (Casa do Sertão/UEFS) 
46 Jornal Folha do Norte, 1940. Arquivo Monsenhor Renato Galvão (Casa do Sertão/UEFS) 
47 Jornal Folha do Norte, 1940. Arquivo Monsenhor Renato Galvão (Casa do Sertão/UEFS) 
48 Jornal Folha do Norte, 1948. Arquivo Monsenhor Renato Galvão (Casa do Sertão/UEFS) 
34 
 
 Consta no registro que faleceu em 6 de abril de 1856, casado, pardo, com 40 anos 
de idade, sendo sepultado no cemitério de São José das Itapororocas49. Não é conhecido 
a causa da morte, para tal, carece maiores investigações. Persiste a pergunta: quem foi 
José Ferreira Cazumbá? Por que o nome tem tanta representação no cenário do Sertão e 
Recôncavo baiano? 
Todo desenho acerca desta figura misteriosa pode ter relação com outras 
situações, ou apenas com o sobrenome, Cazumbá, por força de sua origem etimológica. 
Algumas pistas sinalizam para a presença da denominação Cazumbá desde o período 
colonial no século XVIII. No livro de Luiz Alberto Moniz Bandeira50 nos capítulos IX e 
X aparece José Pires de Carvalho e Albuquerque, secretário de estado e proprietário de 
muitos engenhos, dentre eles o Engenho Cazumbá. Esse mesmo engenho é citado por 
Schwartz51 no livro Segredos Internos na página 321. De acordo com Schwartz os 
escravos deste engenho “procuravam companheiras entre as ex-escravas e suas 
descendentes que viviam nas imediações do engenho”52. Valim, em Corporação dos 
enteados, página 105, destaca que o Engenho Cazumbá, em 1859, foi arrematado pelas 
religiosas do Convento da Santa Clara do Desterro da Bahia, ao devedor Baltazar de 
Vasconcelos Calvacanti, pai da abadessa Catarina dos Anjos e vendido a José Pires e a 
sua esposa, pela quantia de 7.400,00 reis53. 
 
 
 
 
 
 
 
49 Certidão de Óbito, 1856. Arquivo do Arcebispado de Feira de Santana. 
50 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O Feudo: A Casa da Torre de Garcia D' Ávila RJ: Civil. Brasileira, 
2000. 
51 SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial 1550- 1835. 
SP: Cia. das Letras, 1988. p. 321 
52 SCHWARTZ, op. cit. 
53 VALIM, Patrícia. Corporação dos enteados: tensão, contestação e negociação política na 
Conjuração Baiana de 1798. São Paulo:USP, 2012. (Tese de Doutorado) 
35 
 
Mapa 1: Fronteiras de engenhos ao longo do Rio Jacuípe 
 
Mapa: Fronteiras de engenhos ao longo do Rio Jacuípe. Baseado em um mapa de 1864 no Mosteiro de São 
Bento em Salvador, no qual aparece o engenho denominado Cazumbá. In. SCHWARTZ, Stuart B. 
Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial 1550- 1835. SP: Cia. das Letras, 1988. 
p. 344. 
 
Fraga54 também menciona o engenho Cazumbá, no final do século XIX, 
localizado na freguesia de Rio Fundo. Este autor não cita o proprietário, ele exibe apenas 
o trabalhador rural envolvido em um conflito. Possivelmente este engenho seja o mesmo 
citado pelos autores anteriores. Embora faltando informações acerca da origem da 
denominação do engenho, tais autores referem-se à localização deste no Recôncavo. Já 
Luiz Freire exibe o engenho Cazumbá em sua dissertação55 localizado em Feira de 
Santana. Esse engenho foi catalogado nos inventários do Coronel Joaquim Pedreira de 
Cerqueira. Nele havia 101 escravos, os quais trabalhavam em diversas ocupações. O 
proprietário possuía também fazendas de gado: Bonita, Mocambo e Pontado Poço, em 
Camisão. 
No Arquivo Cível do Fórum Felinto Bastos, em Feira de Santana, encontrei duas 
escrituras de compra e venda de escravos, 1865. Sendo a primeira, feita pelo Reverendo 
Vigário José da Purificação Meneses, da Freguesia de Santa Bárbara, através do 
procurador Reverendíssimo José Cupertino de Araújo, ao Coronel Joaquim Pedreira de 
Cerqueira, Freguesia da Purificação dos Campos, do escravo Eugenio, crioulo, 20 anos, 
 
54 FRAGA FILHO, Walter. Encruzilhadas da Liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia 
(1870-1910) Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2006, p. 299. 
55 FREIRE, Luiz Cleber Morais. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: agropecuária, escravidão e 
riqueza em Feira de Santana, 1850- 1888. p. 73. 
36 
 
natural das “Uriçangas”, do termo da Purificação, pela quantia de 1.200.00 reis56. Na 
segunda, com o mesmo objetivo da anterior, o Coronel Joaquim Pedreira da Cerqueira 
compra o escravo Antônio, jejê, 40 anos mais ou menos, solteiro, serviço da lavoura, pela 
quantia de 900.00 reis, ao proprietário Salustiano Aurelyo da Silva. Ambos escravos para 
trabalhar no Engenho Cazumbá/Purificação dos Campos57. 
Observa-se que ambas escrituras destacam o engenho denominado Cazumbá, 
pertencente ao Coronel Joaquim Pedreira de Cerqueira, o mesmo citado por Freire. Nas 
escrituras o engenho localiza-se em Purificação dos Campos/Santo Amaro e, não em Feira 
de Santana como sugeriu o autor. Neste contexto, faço fé que a denominação, 
provavelmente, tenciona a relação com a África, mesmo que a relação fosse senhor-
escravo, lance que carece mais buscas, talvez um retorno início do século XVIII, 
especialmente a população escrava do engenho. 
Voltando ao personagem Cazumbá, no final da década de 1950, Sabino de 
Campos escreveu um romance intitulado “Lucas o demônio negro” que narra a história 
de Lucas da Feira apresentando episódios que marcam a construção da identidade coletiva 
sobre José Ferreira Cazumbá. Tais narrativas trazem à guisa de questionamento reflexões 
a respeito do sobrenome Cazumbá que representa a força africana no cotidiano da região. 
Sabino de Campos, fez uma descrição fisionômica de José Cazumbá. Nesta expõe 
o indivíduo alto, forte, pardo, de cabelos crespos, testa ampla e limpa, olhos penetrantes, 
boca, nariz e orelhas regulares, mãos e pés grandes, barba raspada58, casado pela terceira 
vez, mas que não tinha filhos. Sendo um sujeito, forte e superior a Lucas, é admirado por 
este que em reconhecimento, respeito e amizade pede-lhe para batizar seu filho Colatino, 
em uma missa em São José das Itapororocas. Nesta versão Cazumbá era irmão de 
Gregório, antigo proprietário de Lucas. A descrição feita por Campos avulta os traços 
raciais de Cazumbá, logo, sua força física e respeito social59, até mesmo por Lucas da 
Feira, que o admira e era-lhe subserviente. 
 
56 Arquivo Cartorial, Fórum Felinto Bastos, Feira de Santana, Escritura pública de compra e venda, Vila de 
Feira, 23/set./1865 – fls. 183v-184v. 
57 Arquivo Cartorial, Fórum Felinto Bastos, Feira de Santana, Escritura pública de compra e venda, Vila de 
Feira, 25/set/1865- fls.186v-187v. 
58 CAMPOS, Sabino. Lucas o demônio negro. Romance folclórico baiano, Rio de Janeiro, 1957, p. 120. 
59 BARTH, F. Grupos Étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, P. Teorias da etnicidade. Seguido de 
grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth, Philippe Poutignat, Jocelyne Streiff-Fenard. Tradução 
de Elcio Fernandes. São Paulo: UNESP, 1998. 
37 
 
Assim, José Ferreira Cazumbá, morador da Freguesia de São José das 
Itapororocas60, 40 anos de idade61, casado por três vezes, tendo como terceira esposa Ana 
Rosa de Jesus62, em diligência ao povoado de Nagé, Feira de Santana, em companhia de 
Marcelino Lopes da Silva, assassinou um velho sertanejo a pauladas63. Por isso foi preso 
e processado, conseguindo, depois de algum tempo, fugir da cadeia, escondeu-se na casa 
do pai de sua segunda mulher, Luiz da Cunha Vieira. 
Segundo Lima, Cazumbá, enquanto oficial de justiça, havia participado da prisão 
de Januário, escravo, membro do bando de Lucas. Ele foi responsável, 07/01/1843, em 
levar a intimação a Antônio Amorim Bezerra, proprietário de Januário, para que fosse 
reconhecer o cativo64. 
Quando o governo afixou edital, em 13 de maio de 1846, convocando a população 
para capturar o salteador, em troca de 4 contos de réis, Cazumbá, sendo considerado um 
criminoso, por que do homicídio ao sertanejo, prevendo a absolvição, tornou-se o 
principal responsável pelas buscas e aprisionamento de Lucas. 
Lima destaca que antes da publicação deste edital outro já havia sido lançado 
oferecendo o prêmio de 2 contos de réis, entretanto, quase ninguém se interessou pela 
quantia65. Possivelmente o aparente desinteresse, fosse pertinente a dificuldade e o perigo 
atido a figura do bandoleiro. Além disso, nesta época José Cazumbá ainda não necessitava 
de anistia, fato que provocou grande inquietação social e, provavelmente, a associação de 
Cazumbá como um dos componentes do bando. 
 Assim, quando o edital foi divulgado o ex-sogro Luiz da Cunha alertou a Cazumbá 
sobre as vantagens que ele teria se conseguisse aprisionar Lucas. Além dos 4 contos, 
granjearia absolvição do delito. Cazumbá, por sua vez, incube-o a procura do juiz e 
 
60 Correspondência – Juízes Feira de Santana – Of. 29.01.1848 – Maço 2373. APEB, Livro de Óbito – 
Itapororocas - AAB. 
61 De acordo com LIMA, Zélia de. Lucas Evangelista: o Lucas da Feira; estudos sobre a rebeldia 
escrava em Feira de Santana. 1807 – 1849. Salvador: UFBA, 1990. (Dissertação de Mestrado), porém a 
certidão de óbito apresenta a mesma idade quando morreu em 1856 dez anos depois. Ver Livro de Óbito – 
Itapororocas. 1859 – Arquivo Arquidiocese de Feira de Santana. 
62 LIMA, Zélia de. Lucas Evangelista: o Lucas da Feira; estudos sobre a rebeldia escrava em Feira de 
Santana. 1807 – 1849. Salvador: UFBA, 1990. (Dissertação de Mestrado). Vide Vida Feirense 4/04/1942 
- Livro I, Miscelânea| Monsenhor Renato Galvão, p. 382. Arquivo Monsenhor Renato Galvão (Casa do 
Sertão/UEFS) 
63 LIMA, 1990, CAMPOS, Sabino. Lucas o demônio negro. Romance folclórico baiano, Rio de Janeiro, 
1957, Livro I, Miscelânea| Monsenhor Renato Galvão, p. 382. Arquivo Monsenhor Renato Galvão (Casa 
do Sertão/UEFS) 
64 Correspondência – Juízes – Feira de Santana – 1843 – 1847. Of. 02.03.1843 – Maço, 2373 – Arquivo 
Público do Estado da Bahia (APEB). 
65 LIMA, 1990, 
38 
 
delegado do município de Feira, Dr. Leovegildo de Amorim Figueiras, para apresenta-
lhe as propostas para capturar o tão procurado salteador66. 
Tudo certo, Cazumbá dispõe de plano de captura e auxiliares: Manoel Gomes, 
sertanejo, odiava Lucas por este ter violentado a sua filha Ana Gomes, virgem, parda; 
Bendito da Tapera, crioulo; Aprígio, pardo; José Luiz Gonzaga; Bernardino; Serafim; 
Cipriano de Freitas, escravo; Porfirio, escravo do coronel Pedreira; Luciano Plácido e 
Marcelino67. Assim, observa-se que o grupo estava formado por indivíduos racialmente 
miscigenados, além dos escravos, sendo que, os traços de raça os distinguem 
etnicamente68. Portanto, os fluxos e contatos, estabelecidos por José Cazumbá, posiciona-
o entre os sujeitos de cor e escravos de Feira de Santana, na primeira metade do século 
XIX e as autoridades sociais. 
Cazumbá, - 23 de janeiro de 1848, segunda feira - manhã posterior a festa da 
Capela e arraial de Nossa Senhora de Humildes, filial da Paróquia de São Gonçalo dos 
Campos, três léguas de Feira de Santana, pela estrada de Santo Amaro, ficou sabendo 
pelo escravo, Cipriano de Freitas, que Lucas descansava sob a sobra de uma árvore – 
quixabeira – no local que ficava próximo a estrada que ligava o Mochila ao Buris, nas

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