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FISIOLOGIA HUMANA PROFESSORES Dr. Felipe Natali Almeida Dra. Nayra Thais Delatorre Branquinho ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. ALMEIDA, Felipe Natali; BRANQUINHO, Nayra Thais Delatorre. Fisiologia Humana. Felipe Natali Almeida; Nayra Thais Delatorre Branquinho. Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. 152 p. “Graduação - EaD”. 1. Fisiologia 2. Sistema Esquelético 3. Hormônios. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Gustavo Affonso Pisano Mateus e Mara Cecília Rafael Lopes Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Matheus Silva de Souza e Sabrina Novaes Design Educacional Ana Claudia Salvadego, Nayara Va- lenciano, Janaína de Souza Pontes e Amanda Peçanha. Revisão Textual Érica Fernanda Ortega, Cíntia Pre- zoto Ferreira e Silvia C. Gonçalves. Ilustração Bruno Cesar Pardinho Figuei- redo, Gabriel Amaral da Silva, Marta Sayuri Kakitani, Mateus Calmon, Marcelo Goto e Natalia de Souza Scalassara. Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 612.04 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-65-5615-260-8 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Head de Produção de Conteúdo Franklin Portela Correia Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Supervisora de Produção de Conteúdo Daniele C. Correia Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Dr. Felipe Natali Almeida Doutor em Fisiologia Humana pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo - USP (2012). Mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2008) e graduado em Educação Física pela mesma universidade (2005). Foi professor de Fisiologia Humana e do Exercício, Anatomia e Bioquímica em diversos cursos da área da saúde. http://lattes.cnpq.br/8674351329205771 Dr. Nayra Thais Delatorre Branquinho Bióloga, graduada em Ciências Biológicas (2009–2013). Mestre e doutora pelo Pro- grama de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (área de concentração Biologia Celular e Molecular) pela Universidade Estadual de Maringá. Em 2018, recebeu o prêmio de menção honrosa no III Simpósio Internacional de plasticidade entérica neural. Sua linha de pesquisa se baseia na programação metabólica e restrição calórica moderada em animais, tendo experiência em fisiologia do metabolismo hepático, morfologia dos rins, intestino delgado e neurônios entéricos. Atualmente é docente do curso de Ciências Biológicas EaD da Unicesumar. http://lattes.cnpq.br/9868070605680586 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A FISIOLOGIA HUMANA Prezado(a) aluno(a), com este livro entraremos no universo da fisiologia. A fisiologia é a disciplina que estuda as funções dos sistemas corporais, ou seja, iremos entender como o organismo humano funciona. Falaremos sobre métodos de obtenção de energia (em nosso tópico de bioenergética), ou seja, discutiremos os mecanismos anaeróbios e aeróbios de produção de ATP e traçaremos uma relação destes mecanismos com o exercício físico (em nosso tópico de metabolismo do exercício), ambos na Unidade 1. Posteriormente, trabalharemos com dois sistemas fisiológicos de fundamental impor- tância para a obtenção de oxigênio e remoção do gás carbônico em nosso organismo: o sistema cardiovascular e o sistema respiratório. O primeiro, responsável por, através do sangue, distribuir o oxigênio a todos os tecidos corporais de acordo com a demanda e remover os dejetos metabólicos; o segundo, responsável por oxigenar o sangue e remover o gás carbônico. Ambos aumentam sua atividade em exercício físico. Em geral, uma boa parte da energia produzida ao longo de um dia por meio dos processos aeróbios e anaeróbios tem por finalidade proporcionar a contração muscular, em especial quando estamos realizando algum movimento. Na Unidade 4, entramos em contato com os hormônios. Durante nossa discussão sobre o sistema endócrino (nome que damos ao sistema que compreende os tecidos corporais envolvidos na liberação dos hormônios) observaremos o papel dos principais hormônios produzidos pelo organismo humano. Finalizando, em nossa Unidade 5, discutiremos sobre uma importante associação: ativi- dade física e o desenvolvimento da saúde. Devemos saber que saúde é muito mais do que ausência de doença, e engloba um completo bem-estar físico, emocional, mental e espiritual. A prática regular de exercícios físicos é um dos elementos fundamentais para uma saúde plena. Além desta relação, também discutiremos sobre a prática de exercícios para populações especiais como diabéticos, hipertensos, idosos entre outros. Espero que você aproveite ao máximo este material, extraia o máximo de informação possível, se dedique e estude para que em um futuro próximo tenhamos profissionais diferenciados ingressando no mercado de trabalho. Um abraço. ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando ideias Ao longo do livro, você será convidado(a)a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO BIOENERGÉTICA E METABOLISMO: COMO O CORPO OBTÉM ENERGIA? 8 SISTEMAS FORNECEDORES DE OXIGÊNIO: SISTEMA CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO 44 68 SISTEMA MUSCULO ESQUELÉTICO E A GERAÇÃO DO MOVIMENTO 96 HORMÔNIOS E EXERCÍCIO FÍSICO 120 FISIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA VOLTADA PARA A SAÚDE 146 CONCLUSÃO GERAL 1 BIOENERGÉTICA E METABOLISMO: COMO O CORPO OBTÉM ENERGIA? PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Demandas Energéticas • Substratos Energéticos • Bioenergética • Metabolismo do Exercício. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender os elementos envolvidos no gasto energético • Discutir sobre os diferentes tipos de substratos energéticos • Entender o conceito de fosfato de alta energia • Abordar o conceito de bioe- nergética por meio da discussão sobre a produção anaeróbia e aeróbia de ATP • Discutir o metabolismo energético mediante a interação do uso das vias anaeróbias e aeróbias de ressíntese de ATP no repouso e nas diferentes fases do movimento. PROFESSOR Dr. Felipe Natali Almeida INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a). Trataremos nesta unidade de um dos assuntos que nos dão a base para o entendimento da fisiologia. Alguns conceitos abordados aqui já podem ter sido apresentados ini- cialmente a você no módulo de bases biológicas e deverão ser trazidos novamente à mente nesta unidade. Iniciamos nosso estudo através de uma visão geral sobre as neces- sidades energéticas para o funcionamento corporal e os substratos ne- cessários para isso, com os conteúdos abordados em nossas duas pri- meiras subunidades (demandas energéticas e substratos energéticos). Em adição à visão global do gasto energético, sabemos que milhares de reações bioquímicas ocorrem em todo o corpo a todo o momento, sen- do o conjunto destas reações químicas denominadas de metabolismo. Dentro do grande grupo “metabolismo”, como todas as células neces- sitam de energia, não surpreende que as células sejam dotadas de vias bioquímicas capazes de converter alimentos em uma forma de energia biologicamente utilizável, processo este chamado de bioenergética. Sendo assim, para que possamos realizar nossas atividades cotidia- nas, como se deslocar, escrever, digitar, pensar, assim como para reali- zação de exercícios físicos, nossas células devem ser capazes de extrair a energia contida nos alimentos. Sem essa capacidade de extração da energia dos alimentos, limitaríamos nossa capacidade de resistir aos esforços e rapidamente teríamos que interromper as atividades, visto que para contração muscular, as fibras musculares precisam de uma fonte de energia contínua, sendo as reações envolvidas nesses proces- sos descritas no terceiro tópico intitulado de “Bioenergética”. Seguido esse assunto, no quarto tópico, realizamos uma abordagem voltada ao exercício físico descrevendo as particularidades da bioenergética neste contexto. Em suma, dada a importância da produção de energia celu- lar durante todas as atividades diárias e, em especial, para realização de exercício físico, torna-se essencial um bom nível de conhecimento sobre esse assunto. U N ID A D E 1 10 1 DEMANDAS ENERGÉTICAS Por que nos alimentamos? Você já se fez esta pergunta? De uma forma geral, nos alimentamos (Figura 1), pois através desse ato obtemos, em primeiro lugar, materiais que nos ajudam a construir ou renovar elementos do nosso corpo (como quando você se machuca e precisa produzir tecido para renovar a lesão ou quando você treina e precisa de proteína para hipertrofia muscular) e energia que possibilita ao corpo realizar 4 tarefas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011): 1. para construção do nosso corpo (crescimento dos tecidos, ganho e mas- sa muscular, renovação das células, construção de organelas celulares, entre outros); 2. para manutenção de um meio interno equilibrado (manter as funções vitais dentro de uma faixa de normalidade compatível com a vida) e, depois que as necessidades basais (para manutenção de funções vitais) são preenchidas, a energia adicional pode ser canalizada para ■ estoque (na forma do gordura corporal ou glicogênio hepático e mus- cular) e/ou ■ usada como combustível para uma atividade extra como, por exemplo, um exercício físico, passear com o cachorro, lavar o carro, entre outras atividades cotidianas. Logo, para manutenção de nosso organismo funcionando, precisamos gastar energia e ao gasto energético ocorrido em 24 horas damos o nome de “gasto energético diá- rio”. De uma forma geral, ele pode ser subdividido em quatro elementos (Figura 2): U N IC ES U M A R 11 a) taxa metabólica basal (ou de repou- so): energia necessária para manu- tenção dos sistemas corporais. b) efeito térmico dos alimentos: au- mento do gasto de energia que segue a ingestão da comida e está associada à digestão, à absorção e ao metabolismo dos alimentos e de seus nutrientes. c) efeito térmico das atividades: gasto de energia associado à realização de mo- vimentos espontâneos e de ativida- des musculares planejadas (incluin- do aqui atividades cotidianas, como lavar um carro e limpar a casa, por exemplo, assim como a realização de exercícios físicos efetivamente). d) gastos com o crescimento. Figura 1 - Alimentos consumidos cotidianamente formam a base energética para produção de ATP - Duração - Intensidade - Massa corporal magraGasto energético diário Atividades físicas cotidianas Exercícios Crescimento Atividade física Efeito térmico dos alimentos Taxa metabólica basal - Dependente da fase do desenvolvimento do indivíduo - Quantidade e tipo dos alimentos consumidos - Genética - Idade - Sexo - Massa corporal magra - Área de superfície - Níveis hormonais - Atividade do sistema nervoso Figura 2 - Elementos do gasto energético diário / Fonte: adaptada de Maughan e Burke (2004). Importante salientar que esses quatro elementos podem ser influenciados, au- mentando ou diminuindo sua participação no gasto energético diário total (MAUGHAN; BURKE, 2004). A Figura 2 também apresenta os principais agentes influenciadores de cada um deles. U N ID A D E 1 12 2 SUBSTRATOS ENERGÉTICOS Como vimos, o corpo gasta energia para se manter funcionando (gasto energético diário) e durante o processo de consumo alimentar, macro e micronutrientes de- vem fazer parte das refeições diárias e são de fundamental importância para que a homeostasia do corpo possa ser mantida. Carboidratos, gorduras e proteínas são os representantes dos macronutrientes, elementos que entre outras funções são responsáveis por produzir a energia a ser utilizada pelo corpo. Carboidratos e gorduras são os macronutrientes principais, enquanto as proteínas têm um papel secundário na geração da energia utilizada, tanto em repouso quanto em exercício (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011 e MAUGHAN; BURKE, 2004). Para suprir a demanda por energia ao longo das 24 horas do dia, poucos são os substratos energéticos que podem ser utilizados. Dentre os substratos energé- ticos temos os carboidratos, as gorduras e as proteínas como seus representantes principais. Iniciaremos nosso estudo pelos carboidratos. Carboidratos Os carboidratos (Figura 3) são compostos por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Quando armazenados, fornecem ao corpo uma forma de energia rapi- damente disponibilizada, com 1g de carboidrato rendendo pouco mais de 4 kcal de energia. Os mesmos são encontrados em três formas: 1) monossacarídeos, 2)dissacarídeos e 3) polissacarídeos (DEVLIN, 2011). U N IC ES U M A R 13 Os monossacarídeos são os açúcares mais simples e como exemplos temos a glicose (que muitos conhecem pelo açúcar do sangue), a frutose (que seria o açúcar contido nas frutas) e a galactose (o açúcar contido no leite). Já os dissaca- rídeos são formados pela combinação de dois monossacarídeos. Entre eles temos com importância bioenergética o açúcar de mesa, denominado quimicamente de sacarose, formado pela união de uma molécula de glicose e outra de frutose. Em adição, temos o dissacarídeo extraído do leite, a lactose, formado pela união de uma molécula de glicose com uma de galactose, e também a maltose, açúcar presente na cerveja, nos cereais e em sementes em germinação, que é formada pela junção de duas moléculas de glicose (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Os polissacarídeos são os carboidratos complexos que contêm pelo menos três monossacarídeos unidos. Eles podem ser moléculas pequenas (que contêm três monossacarídeos) ou moléculas muito amplas (que contêm centenas de mo- nossacarídeos, incluindo várias ramificações de sua cadeia linear). Em geral, os polissacarídeos são classificados de acordo com sua origem, sendo possível a ori- gem vegetal e a origem animal. As duas formas mais comuns de polissacarídeos de origem vegetal são a celulose e o amido. Os seres humanos não possuem as en- zimas utilizadas para digerirem a celulose e, portanto, descartam a celulose como resíduo de material fecal e não conseguem obter energia dela. Por outro lado, o Figura 3 - Exemplos de carboidratos na alimentação cotidiana U N ID A D E 1 14 amido (encontrado no milho, na batata, em grãos, entre outros) é facilmente di- gerido pelos humanos e constitui uma fonte importante de carboidratos da dieta alimentar. Depois de ingerido, o amido é quebrado para formar monossacarídeos (visto que no trato gastrointestinal só conseguimos absorver carboidratos na forma de monossacarídeos) e pode ser usado imediatamente como energia pelas células ou armazenado nestas (não como amido, mas sim como glicogênio) para atender necessidades futuras de energia (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). O polissacarídeo armazenado no tecido animal é chamado de glicogênio, sintetizado nas células pela ligação de moléculas de glicose. Geralmente, são moléculas amplas e ramificadas que podem conter de centenas a milhares de moléculas de glicose unidas. As células armazenam glicogênio como uma for- ma de suprir as necessidades de carboidratos como fonte de energia. Durante o exercício, por exemplo, as células musculares quebram o glicogênio em glicose (processo chamado de glicogenólise) e usa esta glicose como fonte de energia para a contração muscular. Esse processo também pode ocorrer no fígado (local de maior armazenamento de glicogênio no corpo humano), porém a glicose é liberada na circulação e disponibilizada para todos os tecidos (DEVLIN, 2011). Importante salientar que apesar do corpo humano poder estocar glicose na forma de glicogênio tanto no músculo esquelético quanto no fígado, estas reser- vas são relativamente pequenas e podem ser depletadas em poucas horas, como resultado de um exercício prolongado, especialmente se estiverem associadas a uma dieta pobre em carboidrato (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Gorduras Embora as gorduras contenham os mesmos elementos químicos presentes nos carboidratos, a proporção carbono, oxigênio nas gorduras, é significativamente maior do que aquela encontrada nos carboidratos. A gordura corporal armaze- nada é um bom combustível para o exercício prolongado, pois as moléculas de gordura contêm cerca de 9 kcal de energia a cada 1g, mais do que o dobro do conteúdo de energia de carboidratos ou proteínas. As gorduras são insolúveis em água e podem ser encontradas tanto nos vegetais como nos animais. Em geral, podem ser classificadas em quatro grupos: 1) ácidos graxos, 2) triglicerídeos, 3) fosfolipídeos e 4) esteroides (NELSON; COX, 2014). U N IC ES U M A R 15 Os ácidos graxos são o tipo primário de gordura usada pelas células (incluin- do aqui as musculares) para obtenção de energia. São armazenados no corpo na forma de triglicerídeos, que são compostos por três moléculas de ácidos graxos unidos a uma molécula de glicerol (que não é gordura, mas um tipo de álcool). Embora o maior sítio de armazenamento de triglicerídeos seja a célula adiposa, essas moléculas também são estocadas em muitos tipos celulares, incluindo o músculo esquelético (denominado de triacilglicerol intramuscular, geralmente presente em pequenas gotículas localizadas próximas às mitocôndrias dessas células). Em situações de necessidade, os triglicerídeos podem ser quebrados, por um processo denominado de lipólise, e seus componentes (ácidos graxos e gli- cerol) são liberados e usados como substrato energético (o glicerol só é utilizado como substrato após ser convertido em glicose no fígado, por gliconeogênese). Dessa forma, a molécula de triglicerídeo inteira pode ser usada como fonte de energia (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Os fosfolipídeos não são usados como fonte de energia (ao menos não como função primordial), são lipídeos combinados a diferentes moléculas de ácido fos- fórico, responsáveis por formarem todas as membranas celulares de todas as organelas das células. Já os esteroides apresentam como elemento principal o colesterol, um componente de todas as mem- branas biológicas juntamente com os fosfolipídeos, além de serem utilizados para síntese de todos os hormônios ditos “esteroides”, onde incluímos os hormônios se- xuais (estrogênio, progesterona e testosterona), os glicocorticoides (cortisol) e os mineralocorticoides (aldosterona). As gorduras nos ali- mentos são encontradas em diver- sas fontes, podendo ser considera- das nutricionalmente benéficas ou maléficas (figura 4) (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). GORDURAS BOAS GORDURAS RUINS abacates salmão nozes azeite carne gorda queijo sorvete comida frita GORDURAS BOAS vs GORDURAS RUINS Figura 4 - Diferentes tipos de gorduras encontradas nos alimentos U N ID A D E 1 16 Proteínas As proteínas são macronutrientes compostos por unidades menores cha- madas de aminoácidos. O corpo necessita de 20 aminoácidos para formar os diversos tipos de proteínas necessárias ao bom funcionamento corporal. Existem nove aminoácidos, chamados de aminoácidos essenciais, que não podem ser sintetizados pelo corpo e, dessa forma, precisam ser consumidos com os alimentos e incluem a fenilalanina, a histidina, a isoleucina, a lisina, a leucina, a metionina, a treonina, o triptofano e a valina. Já os aminoácidos não essenciais, ou seja, aqueles que podem ser produzidos pelo organismo, são o aspartato, o glutamato, a alanina, a arginina, a asparagina, a cisteína, a glicina, a glutamina, a prolina, a serina e a tirosina (DEVLIN, 2011). Um indivíduo típico de 70kg dispõe de um reservatório corporal de aproximadamente 12kg de aminoácidos, sendo que a grande maioria deles existe na forma de proteína e uma pequena quantidade (cerca de 200g), na forma de aminoácidos livres. Durante o dia, acontece um processo cons- tante de circulação das proteínas, envolvendo a ocorrência simultânea de sua quebra e síntese, e uma troca contínua de aminoácidos entre os vários reservatórios. O sistema musculoesquelético responde pela maior reserva de proteínas do corpo e também por parte significativa dos aminoácidos livres (MAUGHAN; BURKE, 2004). Novos aminoácidos podem entrar no reservatório de aminoácidos livres provenientes de três fontes: ingestão alimentar, quebra de proteína existente no corpo e nova síntese dentro do corpo (lembrando que alguns aminoáci- dos podem ser produzidos pelo organismo e outros devem ser obrigatoria- mente consumidos, conforme visto anteriormente). Por outro lado, a saída do reservatório de aminoácidos livres é via secreção no intestino, incorpora- ção a novas proteínas, oxidação como fonte de energiaou ser convertido em gorduras ou carboidratos (esta última quando as proteínas são consumidas em excesso) (MAUGHAN; BURKE, 2004). A dinâmica desse processo é observada na Figura 5. U N IC ES U M A R 17 Como fonte de energia, as proteínas contêm cerca de 4 kcal por grama, mas devem ser quebradas em aminoácidos para poderem ser utilizadas com este propósito. Para fornecerem energia, ou deverão ser convertidas em glicose ou em algum intermediá- rio das vias metabólicas (processo de gliconeogênese) (MAUGHAN; BURKE, 2004). Proteínas da dieta (aminoácidos) intestino Fezes (C e N) Nitrogênio perdido na urina ou suor Convertido em carboidratos e gorduras degradação síntese Proteínas do tecido absorção excreção Oxidado para produção de energia Reservatório de aminoácidos livres Figura 5 - Ciclo dos aminoácidos no organismo / Fonte: o autor. Além dos macronutrientes, os micronutrientes (vitaminas e minerais) também desempe- nham um papel chave na otimização da saúde e no desempenho de um indivíduo durante a prática de exercício físico. No entanto, não existem normas fixas para ingestão de vita- minas e minerais em atletas. Por enquanto, os estudos ainda não apresentam indícios de que a suplementação vitamínica aumente o desempenho no exercício, exceto nos casos em que havia deficiência preexistente. Entretanto, desperta interesse no que tange as vitaminas um possível papel das antioxidantes na prevenção aos danos causados pela produção excessiva de radicais livres do oxigênio. Em relação aos minerais, sabe-se que alguns atletas correm um risco de fazer ingestões subótimas de ferro e cálcio, o que pode afetar negativamente o desempenho imediato ou a saúde a longo prazo. Fonte: Maughan e Burke (2004). explorando Ideias U N ID A D E 1 18 Fosfatos de alta energia A fonte de energia imediata para o funcionamento do corpo humano (incluindo aqui para a realização da contração muscular) é um composto de fosfato de alta energia, o trifosfato de adenosina (ATP). Embora o ATP não seja a única molécula transportadora de energia na célula, é a mais importante. Na ausência de ATP em quantidade suficiente, a maioria das células morrem rapidamente. Basicamente, a energia obtida dos alimentos e dos reservatórios celulares serve para manutenção dos estoques celulares de ATP. Isso ocorre pelo fato de uma parte da energia contida nas ligações químicas das moléculas dos substratos energéticos serem armazenadas nas ligações químicas existentes entre os átomos do ATP e, ao desfazer estas ligações, a energia liberada será utilizada pelas células (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). A estrutura do ATP consiste em três partes principais: (1) uma porção ade- nina, (2) uma porção ribose e (3) três fosfatos ligados (Figura 6). A formação de ATP ocorre a partir da ligação do difosfato de adenosina (ADP) com o fosfato inorgânico (Pi) e requer uma ampla quantidade de energia, sendo que uma parte dessa energia é armazenada na ligação química que une essas moléculas. Quan- do a enzima ATP quebra essa ligação, a energia é liberada e pode ser usada para realização de trabalho (exemplo: contração muscular) (NELSON; COX, 2014). Secreção glandular Transmissão neural Contração muscular Circulação Digestão Síntese tecidual ATP ProteínaAminoácidos ATP Trifosfato Adenosina Ribose Adenina O OO P O- OO P O- O O OH OH C C C C C C C N N N N NH2 CH2 H H HH H HO P O- Figura 6 - Estrutura do ATP / Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 140). U N IC ES U M A R 19 O termo bioenergética engloba as vias energéticas envolvidas no processo de síntese de ATP a partir de substratos energéticos, posibilitando a constante renovação dos estoques de ATP. Vamos adotar como exemplo as cé- lulas musculares. As células musculares armazenam quantidades limitadas de ATP. Assim, como o exercício muscular requer um suprimento constante de ATP para o fornecimento da energia necessá- ria à contração (para que esta atividade não seja interrompida por falta de ATP), a célula deve ter vias metabólicas capazes de produzir rapidamente ATP. Estas vias de renovação de ATP são subdivididas em vias anaeróbicas (que não usam o oxigênio) e vias aeróbicas (que usam o oxigênio), apresentadas a seguir. 3 BIOENERGÉTICA U N ID A D E 1 20 Figura 7 - Reação enzimática de ressíntese do ATP a partir da fosfocreatina / Fonte: o autor. Produção anaeróbia de ATP As vias anaeróbias para produção de ATP compreendem: 1) formação de ATP por quebra da fosfocreatina (PC) e 2) formação de ATP via degradação de glicose ou glicogênio (glicólise anaeróbia). O método mais simples e, consequentemente, mais rápido para produzir ATP envolve a doação da energia contida na PC ao ADP, para que ele possa se unir ao Pi e formar o ATP. Esta reação é catalisada pela enzima creatina quinase e consiste, primeiramente, na quebra da PC em creatina livre e Pi e, posteriormente, a utilização da energia liberada desta quebra para unir o ADP com o Pi (Figura 7) (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Esse sistema, chamado de sistema ATP-PC, fornece energia para contração muscular no início do exercício prolongado e durante o exercício de alta intensidade e curta duração (duração inferior a 30 segundos). Já para restau- rarmos os estoques de fosfocreatina que foram utilizados devemos gastar ATP, porém isso só ocorrerá na fase de recuperação (ou seja, depois que acabou o exercício). Em atletas, a importância do sistema ATP-PC pode ser apreciada considerando-se o exercício intenso e de curta duração, como uma corrida de 50m-100m, uma prova de 50m de natação, um salto, um levantamento de peso, um arremesso, ou seja, todas atividades que requeiram poucos segundos para serem concluídas e, assim, necessitam de um suprimento rápido de ATP (Figura 8) (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). U N IC ES U M A R 21 ATP ADP ATPADP Trabalho biológico Mecânico Químico Transporte PCr + Cr + + Pi + Energia ATPase creatinoquinase Figura 8 - Papel da hidrólise da creatina-fosfato na geração de trabalho Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 142). Uma segunda via metabólica capaz de produzir ATP rapidamente sem o envolvimen- to de O2 é denominada glicólise. A glicólise envolve a quebra de glicose ou glicogênio para formação de duas moléculas de piruvato, que na ausência de oxigênio serão convertidas em duas moléculas de lactato. De forma simplificada, a glicólise é uma via anaeróbia usada para transferir energia das ligações existentes na molécula de glicose para unir a adenosina difosfato (o ADP) com o fosfato inorgâ- nico (Pi) formando ATP. Esse processo envolve uma série de reações químicas (dez reações até piruvato, e uma última que converte piruvato em lactato) que ocorrem exclusivamente no citoplasma da célula e pro- move um ganho líquido de duas moléculas de ATP (NEL- SON; COX, 2014). 1 Fase de investimento de energia 2 ATP requeridos 4 ATP produzidos 2 NADH produzidos 2 Fase de geração de energia Produção líquida Entrada 1 glicose 2 ADP 2 NAD+ Saída 2 piruvatos ou 2 lactatos 2 ATP 2 NADH 2 piruvatos ou 2 lactatos Glicose Figura 9 - Glicólise / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 52). U N ID A D E 1 22 Na glicólise, observa-se que as reações entre glicose/glicogênio e piruvato podem ser subdivididas em duas fases distintas, uma fase de investimento de energia (primeiras cinco reações) e uma fase de geração de energia ou fase de lucro (últimas cinco reações). As cinco primeiras reações constituem a fase de investimento de energia pelo fato de gastarmos duas moléculas de ATP para fosforilar os intermediários dessa via tornando a molécula energeticamente mais favorável. Já as últimas cinco reações da glicólise representam a fase de geração de energia da glicólise na qual quatro moléculas de ATP são produ- zidas. Dessa forma, o ganho líquido da glicólise é igual a dois ATPs (Figura 9). A Figura 10 ilustra a glicólise completa, com suas dezreações juntamente com a conversão do piruvato, último intermediário da glicólise, em lactato. Note que a glicólise envolve a conversão da glicose, que tem seis carbonos, em piruvato, que tem três carbonos. Por isso que cada molécula de glicose é capaz de formar duas moléculas de piruvato (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Uma pergunta que você deve estar fazendo seria: se o ATP já foi produzi- do, por que formar o lactato? Sabemos que na via glicolítica, o transportador de elétrons NAD+ (nicotinamida adenina dinucleotídeo) recebe elétrons e é reduzido à sua forma NADH (nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzido) (reação 6 da glicólise), que, necessariamente, deveria entrar na mitocôndria e doar estes elétrons para a cadeia transportadora de elétrons, processo este que só ocorre na presença de oxigênio. Na ausência de oxigênio, para que não haja o acúmulo de NADH no citoplasma das células (que seria prejudi- cial/tóxico para a célula), o piruvato aceita os elétrons, sendo convertido em lactato (Figura 11) (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Como não há o envolvimento direto do oxigênio na glicólise, a via é considerada anaeróbia, entretanto, na presença de oxigênio na mitocôndria, o piruvato pode participar da produção aeróbia de ATP. Dessa forma, além de ser uma via capaz de produzir ATP sem oxigênio, a glicólise pode ser considerada a primeira etapa da degradação aeróbia de carboidratos. U N IC ES U M A R 23 Figura 10 - Visão geral da glicólise com suas 10 reações representadas Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 150). U N ID A D E 1 24 Produção aeróbia de ATP A produção aeróbia de ATP ocorre dentro da mitocôndria e envolve a interação de duas vias metabólicas cooperativas: 1) o ciclo do ácido cítrico (antigo ciclo de Krebs) e 2) a cadeia transportadora de elétrons. A função primária do ciclo do ácido cítrico é completar a oxidação de carboidratos, gorduras ou proteínas, usando o NAD+ e o FAD como transportadores de elétrons que serão enviados para a cadeia transportadora de elétrons onde os doarão para os componentes dessa via. O oxigênio não participa das reações do ciclo do ácido cítrico e é uti- lizado apenas na cadeia respiratória como o último aceptor de elétrons, sendo convertido em H2O (Figura 12) (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). H H H H OH OH OH Regeneração desidrogenase láctica 2 Piruvato 2 Lactato Glicose G lic ól is e HO CH2OH H O COO- C O CH3 COO- C OH CH3 H NAD+ ATP ADP NADH2 2 + 2 2 NAD+ NAD+ Figura 11 - Formação do lactato: passo final da glicólise anaeróbia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 152). U N IC ES U M A R 25 Ciclo do ácido cítrico A entrada no ciclo do ácido cítrico requer a formação de uma molécula de dois car- bonos denominada Acetil-CoA, que pode ser formada a partir da quebra dos car- boidratos, das gorduras ou proteínas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Dando um enfoque inicial sobre os carboidratos, sabemos que pela via glicolítica a glicose é convertida em piruvato. Este, na presença de oxigênio, ao invés de ser convertido em lactato (conforme visto anteriormente), será quebrado em Acetil-CoA, que, em seguida, se combinará com o oxaloacetato para formar o citrato, compreendendo a primeira reação do ciclo do ácido cítrico. Posteriormente, um conjunto de sete reações será responsável por ressintetizar o oxaloacetato e ao mesmo tempo formar três moléculas de NADH, uma molécula de FADH2 e uma molécula de GTP (que será convertido em ATP). Para cada molécula de glicose que entra na glicólise, duas moléculas de piruvato são formadas, dando origem a duas moléculas de acetil-CoA que girará o ciclo do ácido cítrico duas vezes (figura 13) (DEVLIN, 2011). Mitocôndria Fígado Tecido muscular Corrente sanguínea Tecido adiposo Glicogênio Triacilgliceróis Transporte de elétrons Ácidos graxos Aminoácido desaminado Glicose Aminoácido desaminado Ácido graxo livreGlicose ATP Reservas intramusculares de energia • ATP • PCr • Triacilgliceróis • Glicogênio • Esqueletos de carbono provenientes dos aminoácidos Ciclo do Ácido Cítrico Figura 12 - Integração das vias dos diferentes substratos energéticos no ciclo do ácido cítrico Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 148). U N ID A D E 1 26 Figura 13 - Ciclo do ácido cítrico / Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 155). U N IC ES U M A R 27 Até aqui enfocamos o papel dos carboidratos na produção de acetil-CoA para a entrada no ciclo do ácido cítrico, porém, como as gorduras podem ser utilizadas? Se nos lembrarmos do tópico “substratos energéti- cos”, recordaremos que um dos tipos de gordura presente no nosso corpo é o triglicerídeo. Este, após sofrer a ação de lipa- ses (enzimas que quebram as li- gações químicas existentes nos triglicerídeos), libera moléculas de ácido graxo e de glicerol. Os ácidos graxos, após passar por um conjunto de reações quími- cas (beta-oxidação), resultará em moléculas de acetil-CoA que serão utilizadas tal qual o acetil- -CoA proveniente do piruvato (Figura 14) (DEVLIN, 2011). Em relação às proteínas, conforme mencionado anteriormente, elas não são con- sideradas uma fonte de combustível importante durante o exercício, contribuindo para apenas 2-15% do combustível utilizado. As proteínas conseguem entrar nas vias bioenergéticas em diversos locais. Entretanto, a primeira etapa é a quebra da proteína em aminoácidos. Os eventos subsequentes dependem de quais aminoáci- dos estão envolvidos. Alguns aminoácidos, por exemplo, podem ser convertidos em glicose ou piruvato, enquanto outros são convertidos em acetil-CoA, e outros, ainda, em intermediários do ciclo do ácido cítrico (Figura 15) (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Em resumo, o ciclo do ácido cítrico completa a oxidação dos carboidratos, gor- duras ou proteínas, produz CO2 e fornece elétrons que serão passados pela cadeia de transporte de elétrons para fornecer energia destinada à produção aeróbia de ATP (Figura 15). As enzimas catalisadoras das reações do ciclo do ácido cítrico estão localizadas dentro das mitocôndrias. Transporte de elétrons ATP Ciclo do Ácido Cítrico Ácidos graxos Plasma Tecido adiposo Lipase sensível aos hormônios Músculo Mitocôndria Ácidos graxos Ácidos graxos + Albumina AGL Glicerol Acetil-CoA Triacilglicerol intramuscular (2.000-3.000 kCal) Glicose O2 Triacilgliceróis (50.000-100.000 kCal) Fragmento de pele abdominal Figura 14 - Papel dos lípidos como fonte de energia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 158). U N ID A D E 1 28 Gorduras Carboidratos Proteínas Glicerol + ácidos graxos Glicose/glicogênio Aminoácidos Glicólise Lipídios Piruvato Treonina Serina Cisteína Glicina Isoleucina Leucina Lisina Tirosina Fenilalanina Triptofano arginina asparagina asparato glutamato glutamina histidina isoleucina metonina (metionina) fenilalanina prolina treonina tirosina valina Nucleotídeos Açúcares amino Glicolipídios Glicoproteínas Aminoácidos Pirimidinas Lactato Acetil-CoA Citrato Heme Aspartato Outros aminoácidos Purinas Pirimidinas Glutamato Outros aminoácidos Purinas Succinil-CoA Ciclo do Ácido Cítrico α-cetoglutarato Colesterol Ácidos graxos Oxaloacetato Corpos cetônicos Amônia Ureia Urina Desaminação Alanina Interconversões predomimantes Carboidratos Aminoácidos não essenciais Carboidratos ou gorduras Gorduras Gorduras e aminoácidos não essenciais Proteínas Figura 15 - Papel dos aminoácidos como fonte de energia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 164). U N IC ES U M A R 29 Cadeia transportadora de elétrons A produção aeróbia de ATP é possível graças a um mecanismo que usa a energia potencial disponível nos transportadores de elétrons reduzido, como o NADH e o FADH2, para fosforilar o ADP em ATP. Os transportadores de elétrons reduzidos não reagem diretamente com o oxigênio. Em vez disso, os elétrons removidos dos átomos de hidrogênio passam por uma série de proteínas (complexo I, II,III e IV) e ao final destes é doado ao O2 (Figura 16) (NELSON; COX, 2014). Citoesqueleto Núcleo Nucléolo Ribossomos Membrana plasmática Mitocôndria Citosol Centríolos Retículo endoplasmático Ribossomos Aparelho de Golgi ATP H CO2 CO2 H H H H H H H Ciclo do Ácido Cítrico Acetil - CoA Fase 1 Fase 2 Piruvato proveniente da glicólise coenzima A A cadeia de transporte de elétrons oxida os componentes das coenzimas reduzidas Cadeia de transporte de elétrons ATP As coenzimas reduzidas (moléculas carreadoras) transportam o hidrogênio até a cadeia de transporte de elétrons H H H H H H H H H H e- e- e- e- e- e- H ADP + +2 Pi OH+ H2O Figura 16 - Cadeia transportadora de elétrons / Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 154). U N ID A D E 1 30 Como o ATP é formado? A resposta para isso é, atualmente, explicada por uma teoria chamada de teoria quimiosmótica. Essa teoria aponta que conforme os elétrons são passados de um complexo ao outro da cadeia respiratória, íons hi- drogênio são enviados para o espaço intermembrana existente entre a membrana mitocondrial interna e membrana mitocondrial externa. Com isso, cria-se um gradiente elétrico e um gradiente químico entre o espaço intermembranas e a ma- triz mitocondrial. Elétrico devido à carga positiva existente nos íons hidrogênio, e a negatividade da matriz mitocondrial; químico devido a maior concentração de íons hidrogênio presente no espaço intermembranas em relação à matriz mito- condrial. Após criado esse gradiente, quando os íons hidrogênios são devolvidos para a matriz mitocondrial, a energia cinética associada e este retorno é canaliza- da por uma proteína (denominada de complexo V, ou complexo da ATPsintase) e utilizada para unir uma molécula de ADP com uma molécula de Pi, formando o ATP (Figura 17) (DEVLIN, 2011; NELSON; COX, 2014). Tecido adiposo marrom: Você sabia que existem dois tipos de tecido adiposo no corpo hu- mano? Muitos de nós conhecemos apenas o chamado tecido adiposo branco, constituído por células adiposas especializadas (entre outras funções) no armazenamento de energia excedente. Além deste, também apresentamos um segundo tipo de tecido adiposo de- nominado de tecido adiposo marrom, que ao invés de acumular, gasta energia. Sabemos que esta capacidade é possível devido a uma grande quantidade de mitocôndrias que, ao invés de apresentarem o complexo V da cadeia respiratória, tem uma proteína chamada de UCP (uncoupling protein). Infelizmente, seus níveis em humanos são muito reduzidos em comparação aos demais mamíferos, especialmente na fase adulta, sendo seu papel de pouco significado no gasto energético diário. Fonte: Nelson e Cox (2014). explorando Ideias U N IC ES U M A R 31 Figura 17 - Teoria quimiosmótica / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 59). Exemplificando, este acúmulo de H+ no espaço intermembranas é similar à ener- gia potencial da água armazenada em uma barragem de uma represa. Quando abrem-se as comportas e giram-se as turbinas, a energia cinética da passagem da água através das turbinas é canalizada e convertida em energia elétrica. De uma forma geral, cada elétron doado ao complexo I pelo NADH cria um gradiente eletroquímico suficiente para produção de aproximadamente 2,5 moléculas de ATP, enquanto cada elétron doado ao complexo II pelo FADH2 cria um gradiente eletroquímico suficiente para produção de aproximadamente 1,5 moléculas de ATP (NELSON; COX, 2014). U N ID A D E 1 32 Então, por que o oxigênio é essencial à produção aeróbia de ATP? O pro- pósito da cadeia transportadora de elétrons é fazer os elétrons passarem por uma série de proteínas ao longo dos complexos que são reduzidas (quando recebem os elétrons) e oxidadas (quando passam esses elétrons adiante). Se a última proteína desse processo não fosse capaz de se oxidar, ou seja, não tivesse como passar o elétron adiante, não seria possível que essa proteína recebesse elétrons novamente e o processo seria interrompido. Entretanto, na presença de oxigênio, o elétron é doado a este. Ou seja, o oxigênio que respiramos permite dar continuidade à cadeia transportadora de elétrons ao atuar como aceptor final de elétrons. Essa molécula aceita dois elétron, reduzindo-se e, então, se liga a dois íons hidrogênio formando a molécula de água (H2O) (DEVLIN, 2011). Cálculo do ATP aeróbio Hoje, é possível calcular a produção de ATP total decorrente da quebra aeró- bia de glicose. Lembre-se que a produção líquida de ATP da glicólise era de dois ATPs por molécula de glicose. Além disso, quando o oxigênio está pre- sente, as duas moléculas de NADH produzidas na glicólise podem, então, ser transportadas para dentro da mitocôndria e resultar em mais cinco moléculas de ATP. Ainda no processo de conversão de piruvato em acetil-CoA, forma- -se mais um NADH para cada piruvato, totalizando 2 NADHs (pois temos 2 piruvatos provenientes da glicose), levando a mais cinco moléculas de ATP formadas. Em adição, ao passar pelo ciclo do ácido cítrico, cada molécula de acetil-CoA forma três moléculas de NADH (como temos duas moléculas de acetil-CoA, teremos seis moléculas de NADH formadas, totalizando quinze ATPs), uma de FADH2 (logo, teremos duas moléculas de FADH2 formadas, resultando em três moléculas de ATP) e um GTP (no caso, um para cada acetil-CoA, totalizando duas moléculas de GTP que serão convertidas em duas moléculas de ATP). Ao final do processo, teremos um montante de 32 moléculas de ATP para cada molécula de glicose oxidada, um valor 16 vezes maior do que o rendimento líquido da glicólise por via anaeróbia. U N IC ES U M A R 33 O exercício impõe um sério desafio às vias bioenergéticas da musculatura que trabalha. Durante o exercício intenso, o gasto energético corporal total pode aumentar 25 vezes acima do gasto observado em repouso, sendo a maior parte desse aumento usada no fornecimento de ATP para contração dos músculos esqueléticos, podendo aumentar o uso de ATP por estes em até 200 vezes em relação ao utilizado em repouso. Nesta etapa, iniciaremos com uma discussão sobre as necessidades energéticas do corpo em repouso, seguida do estudo destas necessidades após o início do exercício. Necessidade energética durante o repouso Em condições de repouso, o corpo humano saudável está em homeostasia e, dessa forma, a necessidade energética corporal é igualmente constante. Em repouso, quase 100% da energia requerida para manter as funções corporais é produzida por metabolismo aeróbio. A isso sucede que níveis de lactato sanguíneo em repouso são estáveis e baixos, próximos a 1 mmol/L de sangue (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). 4 METABOLISMO DO EXERCÍCIO U N ID A D E 1 34 Como a mensuração do consumo de oxigênio é um índice de produção aeróbia de ATP, a mensuração do consumo de oxigênio em repouso fornece uma estimativa da necessidade energética basal corporal. Em repouso, a ne- cessidade energética total de um indivíduo é relativamente baixa. Um jovem adulto de 70kg, por exemplo, consome cerca de 3,5ml de oxigênio/kg de peso em um minuto (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Transição do repouso ao exercício Quando saímos da condição do repouso para a condição exercício, as necessidades energéticas também aumentam e com ela o consumo de oxigênio. Porém, durante esta fase de transição, o aumento do consumo de oxigênio não é proporcional à nova demanda energética do organismo. Desta maneira, até o corpo atingir o estado estável (período em que o corpo se readequou à nova demanda e é capaz de forne- cer oxigênio de forma satisfatória), as fontes de energia anaeróbia contribuem para geração de ATP no início do exercício (Figura 18) (POWERS; HOWLEY, 2014). De fato, as evidên- cias sugerem que no início do exercício o sistema ATP-PC é a primeira via bioener- gética a ser ativada, seguida da glicólise e, por fim, a produção de energia por via aeróbia. A efetividade das vias anaeróbias é tão grande que mesmo que o usode ATP se torne muito elevado, com o início do exercício, os níveis de ATP na musculatura permanecem praticamente inalterados. Conforme o consumo de O2 em esta- do estável é alcançado, as necessidades de ATP no corpo vão sendo atendidas pelo metabolismo aeróbio. Figura 18 - Déficit de oxigênio Fonte: Powers e Howley (2014, p. 69). U N IC ES U M A R 35 O principal ponto a ser enfatizado em relação à bioenergética das transições do repouso ao trabalho (exercício) é o envolvimento de vários sistemas ener- géticos. Em outras palavras, a energia necessária ao exercício não é fornecida pela simples ativação de uma via bioenergética isolada, e sim por uma mistura de vários sistemas metabólicos que atuam com uma considerável sobreposição (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). O termo déficit de oxigênio é aplicado ao atraso do consumo de oxigênio que ocorre no início do exercício. Especificamente, o déficit de oxigênio é definido pela diferença entre o consumo de O2 nos primeiros minutos de exercício e um período equivalente após o estado estável ser alcançado (PO- WERS; HOWLEY, 2014). O que causa o atraso no consumo de oxigênio no início do exercício? Exis- tem duas hipóteses para tal. Primeiro foi sugerido que, no início do exercício, o suprimento de oxigênio disponível para os músculos em contração é inadequado. Isso significa que, pelo menos em algumas mitocôndrias, ao menos em uma parte do tempo é possível que não haja moléculas de oxigênio disponíveis para aceitar elétrons ao final das cadeias de transporte de elétron. Nitidamente, se isso estiver correto, a taxa de fosforilação oxidativa e, portanto, todo o consumo de oxigênio corporal seria restrito. A segunda hipótese sustenta a ocorrência de um atraso, pois os estímulos para fosforilação oxidativa demoram algum tempo para atingir seus níveis finais e produzir totalmente seus efeitos em uma dada intensidade de exercício. Sabe-se que a cadeia transportadora de elétrons é estimulada por ADP e Pi e no começo do exercício as concentrações de ADP e Pi estão meramente acima dos níveis de repouso, uma vez que a concentração de ATP está sendo mantida pela PC e glicólise acelerada. No entanto, chega um momento que estes dois compostos começam a aumentar e passam a sinalizar para que a cadeia transportadora de elétrons se torne mais ativa (POWERS; HOWLEY, 2014). Os indivíduos treinados atingem o estado estável do VO2 mais rápido do que os indivíduos sem treinamento (Figura 19) e, como consequência, apre- sentam um déficit de oxigênio menor. Qual a explicação para essa diferença? Teoricamente, isso decorre de adaptações cardiovasculares e/ou musculares induzidas pelo treinamento de resistência. Em termos práticos, isso signi- fica que a produção aeróbia de ATP está ativa antes do início do exercício e acarreta uma produção menor de lactato e H+ no indivíduo treinado, em comparação ao indivíduo sem treinamento (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011; POWERS; HOWLEY, 2014). U N ID A D E 1 36 Figura 19 - Indivíduos treinados atingem estado estável mais rápido Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 170). Respostas metabólicas na fase de recuperação do exercício Da mesma forma que a taxa metabólica não aumenta instantaneamente com o início do exercício, ao finalizar uma sessão de treinamento, a taxa metabólica não cai instantaneamente, mas continua alta por algum tempo, variando esse tempo, principalmente, pela intensidade do exercício realizado. A este consumo elevado de oxigênio após a interrupção do exercício físico da- mos o nome de consumo excessivo de oxigênio pós-esforço, o EPOC (do nome em inglês excess post-exercise oxygen consumption) (Figura 20). Estudos apontam que o EPOC poderia ser dividido em duas partes: 1) parte rápida, imediatamente subsequente ao exercício (cerca de 2-3 minutos após o exercício) e 2) parte lenta, que persiste por mais de 30 minutos após o exercício (POWERS; HOWLEY, 2014). U N IC ES U M A R 37 A restauração das reservas de PC e de oxigênio no músculo (O2 ligado à mio- globina) e no sangue (O2 ligado à hemoglobina) é concluída em 2-3 minutos de recuperação e compreendem a parte rápida. Em adição, a temperatura corporal elevada, a gliconeogênese para converter lactato em glicose, os níveis elevados de adrenalina e noradrenalina e os valores acima da normalidade de frequência car- díaca e frequência respiratória seriam os influenciadores da fase lenta do EPOC. Figura 20 - Consumo de oxigênio pós-esforço / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 72). U N ID A D E 1 38 Respostas metabólicas ao exercício: influência da duração e da intensidade A energia usada para realizar um exercício de curta duração e alta intensi- dade é fornecida primariamente pelas vias metabólicas anaeróbias, porém se a produção de ATP é dominada pelo sistema ATP-PC ou pela glicólise, depende primeiramente da duração da atividade. Em geral, o sistema ATP-PC pode suprir quase todas as necessidades de ATP para realização de trabalho em eventos com duração de 1-5 segundos. O exercício intenso com duração superior a 5 segundos começa a usar a capacidade de produção de ATP por glicólise. É preciso enfatizar que a transição do sistema ATP-PC para uma maior dependência da glicólise durante o exercício não constitui uma altera- ção abrupta e sim uma mudança gradual de uma via para outra (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Os eventos com duração superior a 45 segundos usam uma combinação de todos os três sistemas de energia (ATP-PC, glicólise anaeróbia e vias aeró- bias). Em geral, o exercício intenso com duração aproximada de 60 segundos usa uma proporção de produção de energia anaeróbia/aeróbia de 70%/30%, enquanto os eventos com duração de 2-3 minutos empregam vias bioenergéti- cas anaeróbias e aeróbias praticamente na mesma proporção (50%/50%), para suprir o ATP necessário (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Já a energia necessária à realização do exercício prolongado (duração superior a 10 minutos) é fornecida, primariamente, pelo metabolismo aeró- bio. Um consumo de oxigênio em estado estável em geral pode ser mantido durante o exercício submáximo, de intensidade moderada. Entretanto, essa regra apresenta duas exceções: 1) o exercício prolongado realizado em am- biente quente e úmido acarreta uma tendência crescente de consumo de oxigênio, inviabilizando a manutenção do estado estável, mesmo que a taxa O que emagrece mais, alta intensidade e curta duração ou baixa intensidade e longa dura- ção? Ambas as respostas são verdadeiras. Correto será escolher a que melhor se adequar ao indivíduo. Não existe receita pronta! (O autor) pensando juntos U N IC ES U M A R 39 de trabalho seja constante; 2) o exercício contínuo a uma taxa de trabalho relativamente alta (>75% VO2máx) ocasiona uma elevação lenta do consumo de oxigênio com o passar do tempo. Nas duas situações, o grande problema está na maior produção de adrenalina e noradrenalina (visto que o bloqueio da ligação desses hormônios ao seu receptor por fármacos possibilita a ma- nutenção do estado estável) e no maior aumento da temperatura corporal (POWERS; HOWLEY, 2014). CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, focamos no metabolismo energético e na síntese da forma es- tocável de energia no corpo, o ATP. Abordamos assuntos relacionados ao gasto energético diário, que remeteram grande importância para quatro elementos básicos que envolvem tal condição e falamos sobre alguns fatores que podem refletir em maior ou menor gasto energético diário, por influenciar direta ou indiretamente um destes quatro fatores. Refletimos também sobre o papel dos diferentes substratos energéticos, além de descrevermos com algum detalhe os sistemas básicos de geração de energia por via anaeróbia e aeróbia, o que possibilita ao nosso corpo manter o processo de contração muscular na presença ou na ausência de quantidades adequadas de oxigênio, assim como a relação destes mecanismos com a in- tensidade do exercício e a possibilidadede mantê-los por um tempo maior ou menor (com os exercícios anaeróbios durando menos tempo que os aeróbios). Somado a estes quesitos, abordamos o papel de cada via metabólica nas diferentes fases de uma sessão de exercício (déficit de oxigênio, exercício pro- priamente dito e recuperação pós-exercício), demonstrando o importante papel das vias aeróbias durante o repouso, das vias anaeróbias durante a fase de transição do repouso para o exercício e a permanência desta via para a ressíntese de ATP até a exaustão em esforços de alta intensidade, ou a transição para as vias aeróbias durante a realização de exercícios de longa duração. Além disso, ainda durante as fases da sessão de exercício, visualizamos o papel das vias aeróbias durante a fase de recuperação, em que o corpo consome muito oxigênio para restaurar elementos desgastados durante a sessão de treino. Espero que você, caro(a) aluno(a), tenha extraído o máximo possível de informação desta unidade, e nos vemos na próxima. 40 na prática 1. Ao dormir ou permanecer realizando uma atividade sentado ou deitado, apesar do baixo gasto energético, nosso corpo ainda assim precisa de energia. Baseado nesta colocação, incluindo todas as atividades passíveis de serem realizadas em repouso, qual a principal via de fornecimento de energia que permite a manutenção da realização desta atividade? a) Via glicolítica anaeróbia e vias aeróbias. b) Via aeróbia e fosfocreatina. c) Fosfocreatina e glicólise. d) Vias aeróbias. e) Vias anaeróbias e glicose. 2. Durante a fase de transição do repouso ao exercício, o organismo se encontra em déficit de oxigênio. Quais as vias metabólicas utilizadas nesta fase? a) Via glicolítica anaeróbia e vias aeróbias. b) Via aeróbia e fosfocreatina. c) Fosfocreatina e glicólise anaeróbia. d) Vias aeróbias. e) Via anaeróbia e fosfocreatina. 3. Quando terminamos uma sessão de exercício, o nosso corpo continua consumin- do mais oxigênio e gastando mais energia em comparação ao repouso por um determinado período de tempo. Esta fase compreende o EPOC. O EPOC pode ser dividido em uma fase rápida e uma fase lenta. Sendo assim, que condições influenciam a porção rápida do EPOC? a) Frequência cardíaca e respiratória elevadas, níveis dos hormônios adrenalina e noradrenalina elevados. b) Remoção do lactato, ressíntese do ATP e recuperação das reservas de O2. c) Ressíntese da CP e recuperação das reservas de O2 na mioglobina e hemoglobina. d) Temperatura elevada e remoção do lactato da circulação. e) Remoção de lactato, ressíntese do ATP e temperatura elevada. 41 na prática 4. Por que indivíduos correndo em clima quente e úmido apresentam um quadro de fadiga precoce em relação a indivíduos que não o fazem, porém estão correndo na mesma intensidade? a) Sabe-se que fatores como temperatura e umidade elevada, assim como correr próximo do limiar do lactato (85% do VO2max) são fatores que impedem a manutenção do estado estável, levando a fadiga precoce. b) Provavelmente o nível de condicionamento dos mesmos são diferentes. c) Pelo fato do calor aumentar a transpiração e desidratar o indivíduo que tem que parar devido à sede. d) Ocorre uma menor produção de adrenalina e noradrenalina e um aumento da temperatura corporal. e) Pelo fato de que a energia necessária à realização do exercício prolongado é fornecida, primariamente, pelo metabolismo anaeróbio 5. Na célula, onde ocorrerá a reação da fosfocreatina, glicólise, o ciclo do ácido cítrico e a cadeia transportadora de elétrons, respectivamente? a) Citosol, Citosol, Citosol, Mitocôndrias. b) Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria, Mitocôndria. c) Mitocôndria, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria. d) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria. e) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Citosol. 6. Quais os substratos energéticos utilizados, principalmente, nas seguintes modali- dades esportivas: corrida de 100m, corrida de 400m e corrida de 10000m? a) Fosfocreatina, fosfocreatina e glicólise anaeróbia. b) Fosfocreatina, glicólise anaeróbia e vias aeróbias. c) Vias aeróbias, glicólise anaeróbia e fosfocreatina. d) Glicólise anaeróbica, vias aeróbicas e fosfocreatina. e) Vias anaeróbias, glicólise anaeróbia e vias aeróbicas. 42 eu recomendo! Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano Autor: Willian D. McArdle, Frank I. Katch, Victor L Katch Editora: Guanabara koogan Sinopse: este livro traz uma abordagem muito ampla sobre os aspectos relacionados à bioenergética e ao metabolismo e sua relação com a nutrição e o exercício físico. Para aqueles que de- sejam aprofundar seus conhecimentos na relação entre as áreas do conhecimen- to nutrição e exercício é de grande valia a sua leitura. livro anotações 2 SISTEMAS FORNECEDORES DE OXIGÊNIO: SISTEMA CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO PROFESSOR Dr. Felipe Natali Almeida PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Sistema cardiovascular • Sistema respiratório. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Fornecer uma visão geral da estrutura e da função do sistema cardiovascular • Entender a estrutura e função do sistema respiratório. INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo(a) a esta segunda unidade de nosso livro de Fisio- logia Humana. Neste momento, após termos aprendido sobre a geração de energia pelo organismo em nossa primeira unidade, trataremos de um outro importante assunto: a obtenção de oxigênio pelos tecidos corporais. Para tanto, o sistema cardiovascular e respiratório trabalham em sintonia para poderem suprir as demandas corporais deste gás, nos possibilitando gerar energia de forma aeróbia (conforme visto na uni- dade anterior), assim como para eliminar efetivamente o gás carbônico, mantendo a homeostasia (equilíbrio) corporal. Diante disso, veremos ao longo desta unidade que o principal pro- pósito do sistema cardiorrespiratório é distribuir quantidades adequa- das de oxigênio e eliminar os resíduos formados nos tecidos corporais. Além disso, o sistema cardiovascular também atua transportando nu- trientes e ajuda a regular a temperatura, enquanto o sistema respiratório atua como auxiliar no equilíbrio de ácidos e bases do corpo. É importante lembrar que o sistema respiratório e cardiovascular atuam como uma “unidade conjunta”, visto que o sistema respiratório adiciona oxigênio e remove dióxido de carbono no sangue, enquanto o sistema cardiovascular é responsável pela distribuição do sangue oxi- genado e dos nutrientes aos tecidos, de acordo com suas necessidades. U N ID A D E 2 46 1 SISTEMA CARDIOVASCULAR Vamos começar a discutir as formas como o corpo mantém o equilíbrio dos gases (em especial, mantendo o fornecimento adequado de oxigênio e a remoção do gás carbônico), algo que requer o funcionamento em conjunto do sistema cardiovas- cular e respiratório. Neste primeiro momento, iniciaremos com uma visão geral do sistema cardiovascular em repouso e, posteriormente, analisaremos a forma como este sistema funciona em exercício. Organização do sistema cardiovascular O sistema cardiovascular consiste em um sistema fechado por meio do qual o sangue circula por todos os tecidos corporais. Basicamente, consiste em uma conexão contínua de uma bomba, um circuito de distribuição de alta pressão, canais de permuta e o circuito de coleta e de retorno de baixa pressão. Se forem estendidos em uma única linha, os aproximadamente 160.000km de vasos sanguíneos de um adulto de tamanho médio circundariam a Terra cerca de quatro vezes (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Como dito, a circulação sanguínea requer a ação de uma bomba muscular, o coração, que cria a força propulsora necessária para movimentar o sangue ao longo do sistema de vasos. U N IC ES U M A R 47 O sangue viaja pelo corpo saindo do coração pelas artérias e retornando pelas veias. Este sistema é considerado fechado porque as artérias e veias perma- necem em continuidade entre si atravésde vasos menores. As artérias ramifi- cam-se extensivamente para formar uma rede de vasos menores denominados arteríolas, que continuam se ramificando em vasos menores denominados de capilares. Estes são os menores e mais numerosos vasos sanguíneos do corpo. A partir deste ponto, o sangue passa a retornar em sentido ao coração por meio do reagrupamento dos vasos capilares em vênulas. Conforme as vênulas seguem de volta ao coração, aumentam de tamanho e transformam-se em veias. As veias principais esvaziam-se no coração (POWERS; HOWLEY, 2014). Coração O coração proporciona o impulso para o fluxo de sangue. Localizado na parte mediana da cavidade torácica, cerca de dois terços de sua massa ficam à esquer- da da linha média do corpo. Esse órgão muscular pesa cerca de 310g para um homem adulto de tamanho médio e 255g para uma mulher de tamanho médio e bombeia cerca de 70mL em cada batimento, totalizando, em repouso, cerca de 7.200L/dia (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Está dividido em quatro câmaras e, frequentemente, é descrito como sen- do duas bombas em uma. O átrio e ventrículo direitos formam a bomba di- reita, enquanto o átrio e ventrículo esquerdos constituem a bomba esquerda. Estes lados são separados por uma parede muscular denominadas de septo interatrial (entre átrios direito e esquerdo) e septo interventricular (entre ventrículos direito e esquerdo), evitando que o sangue presente em cada um dos lados se misture. Funcionalmente, as câmaras ocas que compreendem cada lado do coração apresentam funções distintas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011; POWERS; HOWLEY, 2014): ■ “coração direito”: responsável por receber o sangue que retorna de todas as partes do corpo (especificamente o átrio direito) e por bombear o sangue para os pulmões, para que o mesmo possa ser oxigenado (especificamente o ventrículo direito); ■ “coração esquerdo”: lado que recebe sangue oxigenado proveniente dos pulmões (átrio esquerdo) e que bombeia o sangue para a aorta a fim do mesmo ser distribuído por todo o corpo (ventrículo esquerdo). U N ID A D E 2 48 Figura 1 - Visão simplificada do coração: observe aqui a localização das valvas entre os átrios e ventrículos e entre os ventrículos e os grandes vasos No coração, o sangue move-se dos átrios para os ventrículos e, a partir disso, para dentro das artérias. Para prevenir o movimento retrógrado do sangue, o coração conta com quatro valvas, as atrioventriculares (que impedem o movimento retró- grado do sangue do ventrículo de volta para os átrios), a valva semilunar aórtica (que impede o retorno do sangue da aorta para o ventrículo esquerdo) e a valva semilunar pulmonar (que impede o retorno de sangue das artérias pulmonares para o ventrículo direito) (Figura 1) (POWERS; HOWLEY, 2014). Outra particularidade do tecido que compõe o coração é sua parede, subdi- vidida em três camadas, sendo, de dentro para fora, denominadas de endocárdio, miocárdio e epicárdio (para uma noção geral das três camadas, (Figura 2)). O endocárdio é a camada interna composta por células endoteliais que atuam como uma barreira entre o sangue presente dentro das câmaras cardíacas e a parede cardíaca. O miocárdio é a camada intermediária formada por células muscula- res, sendo responsável pela contratilidade do coração e capaz de se adaptar às exigências impostas a ele hipertrofiando. Já o epicárdio, a camada mais externa, funciona como uma capa protetora e que também minimiza o atrito do coração com estruturas externas a ele (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). U N IC ES U M A R 49 Figura 2 - A parede do coração e suas três camadas / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 192). Circulação pulmonar e sistêmica Também conhecidas como pequena e grande circulação, a circulação pulmonar e sistêmica (respectivamente) tem características distintivas entre elas. A circulação pulmonar é restrita ao coração e pulmão e tem por finalidade a oxigenação do sangue e a remoção do dióxido de carbono presente nessa circulação. O sangue que retorna ao átrio direito por meio das grandes veias passa para o ventrículo direito e é ejetado para as artérias pulmonares, que o direciona ao pulmão para realização das trocas gasosas. Após esta etapa, o sangue oxigenado retorna ao átrio esquerdo pelas veias pulmonares. Note que nesta circulação temos sangue desoxigenado circulando por artérias e sangue oxigenado circulando por veias. Já a circulação sistêmica ocorre entre o coração e os demais tecidos do organismo. Inicia-se com o sangue oxigenado fluindo do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo que ejeta este sangue para a aorta que irá distribuí-lo a todos os tecidos do corpo (Figura 3) (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Camada Características Função Epicárdio (pericárdio visceral) Membrana serosa, incluindo os capilares sanguíneos, capilares linfáticos e �bras nervosas Atua como cobertura externa lubri�cante Miocárdio Tecido muscular cardíaco separado por tecidos conjuntivos e incluindo capilares sanguíneos, capilares linfáticos e �bras nervosas Produz as contrações musculares que ejetam sangue a partir das câmaras cardíacas Endocárdio Tecido endotelial e uma espessa camada subendotelial de �bras elásticas e colágenas Serve de revestimen- to interno protetor das câmaras e valvas Vasos coronários Pericárdio �broso Pericárdio seroso Cavidade pericárdia U N ID A D E 2 50 Figura 3 - Visão geral da circula- ção pulmonar e sistêmica, asso- ciado uma uma visão geral dos ramos da aorta, responsáveis por distribuir sangue para os de- mais tecidos que não o pulmão Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 314). Artéria carótida interna Artéria carótida externa Artéria carótida comum Artéria braquiocefálica Artéria axilar Artéria vertebral Artéria subclávia Arco aórtico Aorta ascendente Aorta torácica Artéria coronária Artéria renal Artéria gonádica Artéria ilíaca comum Artéria ilíaca interna Artéria ilíaca externa Artéria femoral Artéria poplítea Artéria tibial anterior Artéria tibial posterior Arco dorsal Artéria braquial Artéria radial Artérias digitais Artéria ulnar Palmar profunda Palmar super�cial Artéria mesentérica superior Artéria mesentérica inferior Tronco celíaco: Artéria esplênica Artéria gástrica esquerda U N IC ES U M A R 51 Ciclo cardíaco O ciclo cardíaco refere-se ao padrão repetitivo de contração e relaxamento do coração. A fase de contração é denominada sístole e o período de relaxa- mento é chamado de diástole. Átrios e ventrículos se contraem e relaxam. A contração atrial ocorre durante a diástole ventricular, enquanto o relaxamento atrial ocorre durante a sístole ventricular. O coração, portanto, exibe uma ação de bombeamento em duas etapas: primeiro, os átrios contraem-se juntos, esvaziando o sangue atrial dentro dos ventrículos e, num segundo momento (cerca de 0,1s após a contração atrial), os ventrículos contraem-se e distri- buem o sangue para dentro dos circuitos sistêmico e pulmonar. Em repouso, a contração ventricular durante a sístole ejeta cerca de 2/3 do sangue contido nos ventrículos, deixando cerca de 1/3 ainda nos ventrículos. Esses, então, en- chem-se de sangue durante a diástole seguinte (POWERS; HOWLEY, 2014). Para termos uma noção do tempo necessário para realização de cada ci- clo, se apresentarmos uma frequência cardíaca de 75 batimentos por minuto, isso significa que o ciclo cardíaco total terá uma duração de 0,8 segundos (60s dividido por 75 batimentos), sendo que 0,5 segundos corresponderá à diástole e 0,3 segundos à sístole. Se os batimentos por minuto aumentarem (por exemplo, para cerca de 180 batimentos por minuto), observa-se uma redução no tempo total de cada ciclo cardíaco que, em especial, sofrerá di- minuição no tempo de diástole (a diminuição no tempo da sístole é menor) (Figura 4) (POWERS; HOWLEY, 2014). Figura 4 - Tempo do ciclo cardíaco em repouso e exercício Fonte: Powers e Howley (2014, p. 194). Sístole Sístole DiástoleDiástole 0,5 segundo0,3 segundo 0,13 segundo0,2 segundo Repouso Frequência cardíaca = 75 bpm Exercício intenso Frequência cardíaca = 180 bpm U N ID A D E 2 52 Durante o ciclo cardíaco também ocorre alteração de pressão dentro das câma- ras. De uma forma geral, sabemos que o fluxo sanguíneo sempre se direciona de um ambiente de maior pressão para um ambiente de menor pressão. Desta forma, quando os átrios estão relaxados, a pressão em seu interior é baixa, o que possibilita a entrada de sangue a partir do sistema venoso. Conforme o mesmo vai enchendo, sua pressão aumenta e torna-se superior à pressão nos ventrículos, momento que o sangue direciona-se para esta câmara. Conforme o sangue vai se direcionando para os ventrículos, a pressão ali vai aumentando também, o que direcionará o sangue para as artérias (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Pressão arterial O sangue exerce pressão ao longo de todo o sistema vascular, contudo esta pressão é mais intensa junto às artérias, onde, em geral, é medida. Logo, a pressão arterial con- siste na força exercida pelo sangue contra a parede das artérias, sendo influenciada pelos seguintes fatores: a) volume sanguíneo; b) frequência cardíaca; c) volume de ejeção; d) resistência vascular periférica; e) viscosidade sanguínea. Todos os fatores são diretamente proporcionais aos valores da pressão arterial, ou seja, um aumento em qualquer um destes levará a um aumento na pressão arterial e uma redução em qualquer um destes levará a uma queda na pressão arterial (HALL, 2012). A pressão arterial pode ser estimada com o uso de um esfigmomanômetro. A pressão arterial normal de um homem adulto é de 120/80mmmHg (milímetros de mercúrio), enquanto a pressão de mulheres tende a ser um pouco mais baixa (110/70mmHg). O número maior, em geral, refere-se à pressão arterial sistóli- ca, sendo a pressão gerada durante a sístole ventricular. Durante o relaxamento ventricular (diástole), a pressão arterial diminui e representa a pressão arterial diastólica (geralmente o valor mais baixo) (POWERS; HOWLEY, 2014). Ao longo de um dia, a pressão arterial não permanece igual, ou seja, ela apre- senta oscilações de acordo com os eventos passados nas 24 horas. Sendo assim, como essas oscilações ocorrem? Conforme visto anteriormente, a pressão arterial é dependente de cinco fatores e variações, em qualquer um deles resultará em modificações na pressão. Porém, esta pressão não pode permanecer alta ou baixa durante todo o tempo. Para tanto, apresentamos mecanismos de regulação da pressão arterial, denominados de mecanismos de regulação aguda (curto prazo) e de regulação a longo prazo. U N IC ES U M A R 53 A regulação a curto prazo é realizada pelo sistema nervoso simpático e, de uma forma resumida, ocorre da seguinte maneira: uma queda na pressão arterial (que pode ocorrer durante um quadro de desidratação, por exemplo, devido à diminuição do volume sanguíneo associada) será sinalizada ao sistema nervo- so central que ativará o sistema nervoso simpático, aumentando a frequência cardíaca, a força de contração do coração (aumentando o volume de ejeção) e a resistência vascular periférica, resultando no aumento da pressão arterial. Já um aumento na pressão arterial (resultante de um susto, ou durante o exercício, por exemplo) ao ser sinalizado no sistema nervoso central, levará a um bloqueio do sistema nervoso simpático, reduzindo a pressão arterial. Em relação à regulação a longo prazo, ela é dependente dos rins, que regulam a pressão arterial controlando o volume sanguíneo (POWERS; HOWLEY, 2014). Quando estes mecanismos não são eficientes, a pressão arterial pode perma- necer cronicamente alta (denominada hipertensão arterial), sendo caracterizada, assim, com pressão arterial acima de 140/90mmHg. A hipertensão é classificada em uma dentre duas categorias: 1) hipertensão primária ou essencial; 2) hiperten- são secundária. A causa de hipertensão primária é multifatorial, ou seja, existem vários fatores cujos efeitos combinados produzem a hipertensão. Constitui cerca de 90-95% de todos os casos relatados da doença. Já a hipertensão secundária resulta de alguns processos patológicos comprovados e, portanto, é secundária a outra doença e, ao contrário da hipertensão primária que não apresenta resolução (apenas controle), a hipertensão secundária é “curada” a partir do momento que se trata da doença que levou ao seu desenvolvimento (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011). A hipertensão arterial é definida como o aumento contínuo da pressão arterial acima dos valores de 140mmHg para pressão arterial sistólica e 90mmHg para pressão arte- rial diastólica. Inúmeras são as estratégias farmacológicas para o seu tratamento, porém nós da área da educação física devemos entender o papel do exercício físico como um agente terapêutico. De uma forma geral, os efeitos benéficos do exercício físico envol- vem, primeiramente, a prevenção da instalação da hipertensão arterial e, após instalada, o tratamento inicial do indivíduo hipertenso, visando evitar o uso ou reduzir o número de medicamentos e de suas doses. Em indivíduos sedentários e hipertensos, reduções clinicamente significativas na pressão arterial podem ser conseguidas com o aumento relativamente modesto na quantidade de atividade física realizada semanalmente. Fonte: MONTEIRO M. F.; SOBRAL-FILHO D. C. Exercício físico e controle da pressão arterial. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.10, n.6, 513-516, 2004. explorando Ideias U N ID A D E 2 54 Atividade elétrica do coração Não sei se você já reparou, mas você não precisa enviar um sinal consciente para o coração contrair e relaxar. Ele bate, acelera e desacelera sem o seu “consentimento”. Isso só é possível devido a um sistema formado por células especializadas pre- sente na constituição do coração, responsável pela geração da atividade elétrica que levará, ao final do processo, no batimento cardíaco. No coração normal, a atividade elétrica espontânea limita-se a uma região es- pecífica localizada no átrio direito chamada de nodo sinoatrial (nodo SA), que atua como um marcapasso cardíaco. Quando o nodo SA atinge o limiar de despolariza- ção e dispara, a onda de despolarização dissemina-se ao longo dos átrios e resulta na contração atrial. A onda de despolarização atrial não pode atravessar diretamente para dentro dos ventrículos, mas deve ser transportado por meio de um condu- tor especializado. Este tecido condutor irradia a partir de uma pequena massa de células denominada de nodo atrioventricular (nodo AV). Esse nodo distribui esta informação aos ventrículos por um par de vias condutoras denominadas de feixes direito e esquerdo (é importante ressaltar que a passagem da atividade elétrica pelo nodo AV é retardada em cerca de 0,1 segundo, tempo necessário para que os ventrí- culos se encham antes que a informação elétrica, que irá levá-lo à despolariza- ção e contração, chegue). Ao chegarem nos ventrí- culos, estas vias conduto- ras se ramificam em fibras menores denominadas de fibras de Purkinje, que espalham a onda de despolarização por todo o ventrículo, levando à completa contração do coração (Figura 5) (PO- WERS; HOWLEY, 2014). Figura 5 - Sistema de condução elétrico do coração U N IC ES U M A R 55 Débito cardíaco O débito cardíaco é o produto da frequência cardíaca (FC) pelo volume sistólico (VS - quantidade de sangue bombeada por batimento cardíaco). Desta forma, o débito cardíaco pode aumentar em decorrência da elevação da frequência car- díaca e/ou do volume sistólico. A Tabela 1 apresenta valores de débito cardíaco em repouso e exercício de pessoas sedentárias e treinadas. Tabela 1: Débito cardíaco: observe os valores de débito cardíaco entre indivíduos sedentário e treinados nas condições repouso e exercício e identifique as variações na FC e VS entre eles Indivíduo FC (batimentos/min) VS (mL/batimento) Q (L/ min) Repouso Homem sem treinamento 72 x 70 = 5,00 Mulher
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