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Medicina Tradicional Chinesa APRESENTAÇÃO Atualmente as terapias alternativas vêm aumentando as opções de procedimentos médicos e estéticos, contribuindo para efetividade dos tratamentos. As principais bases teóricas da Medicina Tradicional Chinesa são as teorias Yin e Yang, Cinco Elementos e Zang Fu. O conceito e as ações da energia Qi permeiam essas teorias. A energia Qi flui por todo o organismo percorrendo o sistema de meridianos energéticos, provocando e sofrendo ajustes em busca do equilíbrio. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá uma terapia complementar oriental, a Medicina Tradicional Chinesa, verá sua base teórica e suas relações com o equilíbrio energético, além de conhecer os caminhos em que a energia passa. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as teorias da Medicina Tradicional Chinesa.• Definir equilíbrio energético.• Reconhecer o sistema de meridianos.• DESAFIO O embasamento teórico chinês carrega a ideia de que nada existente no universo é estático ou fixo, a dinâmica da vida sempre está presente. Os fenômenos não podem ser presos a categorias sésseis, pois estão em transição. Você pode afirmar que este é um estado passageiro da paciente? Justifique sua resposta relacionando as teorias Yin e Yang, Cinco Elementos e Zang Fu. Como as técnicas orientais, como a acupuntura, podem auxiliar essa paciente? INFOGRÁFICO As teorias Yin e Yang (opostos cíclicos e correlacionados), Cinco Elementos (eventos de constante mudança) e Zang Fu (sistema de órgãos e vísceras) ressaltam o dinamismo dos fenômenos do universo, incluindo o nosso organismo. Elas servem de alicerce para a fisiologia, patologia e tratamento dentro da medicina oriental, possibilitando observar as relações entre etapas e o fluxo dinâmico da vida. No Infográfico, você verá as relações entre as principais teorias que embasam a Medicina Tradicional Chinesa. CONTEÚDO DO LIVRO As terapias alternativas proporcionam maior número de opções terapêuticas para que os profissionais da saúde e da estética possam atingir seus objetivos com cada paciente ou cliente. Os recursos orientais seguem um raciocínio e embasamento teórico específicos, aspirando ao equilíbrio energético do indivíduo. No capítulo Medicina Tradicional Chinesa, da obra Terapias alternativas em estética, você verá as primeiras teorias da Medicina Tradicional Chinesa, os principais conceitos e a relação de Qi e equilíbrio energético. Também vai conhecer os meridianos que formam a imensa rede energética que percorre todo o organismo humano. Boa leitura. TERAPIAS ALTERNATIVAS EM ESTÉTICA Caroline de Araujo Barroco Medicina tradicional chinesa Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as bases teóricas da medicina tradicional chinesa. � Definir equilíbrio energético. � Reconhecer o sistema de meridianos energéticos. Introdução As terapias alternativas estão sendo muito estudadas pelo ocidente. A medicina e a estética estão recebendo um grande leque de possibili- dades terapêuticas orientais, as quais podem ser associadas às terapias convencionais ou aplicadas isoladamente. A combinação de diferentes técnicas amplia os recursos terapêuticos e a satisfação dos pacientes ou clientes. Os métodos orientais seguem um raciocínio e embasamento teórico únicos, visando ao equilíbrio energético do indivíduo. Neste capítulo, você conhecerá as bases da medicina tradicional chinesa, as principais teorias milenares que estruturam todo o raciocínio médico oriental. A medicina oriental desenvolveu-se a partir de teorias que fazem referência à natureza e aos seres humanos que estão inseridos nela. Partindo-se da ideia de que tudo está em constante transformação no universo e que fazemos parte dele, o grande objetivo de todos os processos biológicos é o equilíbrio. Você entenderá o conceito de equi- líbrio energético e explorará os canais pelos quais a energia flui no corpo humano — são esses os chamados meridianos energéticos. Bases teóricas da medicina tradicional chinesa Terapias alternativas ou complementares são termos que se referem a práticas que não fazem parte da medicina convencional ocidental. Essa nomenclatura se deve ao fato de que são empregadas de forma complementar, ou seja, não excluem o tratamento ocidental tradicional. A maioria delas foi desenvolvida a partir de pilares culturais e teóricos próprios. Há algumas décadas, tínhamos apenas a medicina convencional para recorrer, que, como toda racionalidade médica, tem seus êxitos e suas fraquezas. Nos últimos anos, a grande mescla cultural tem sido muito rica tanto na área da medicina quanto na estética. Percebemos no mercado o interesse da população ocidental nas terapias comple- mentares. Assim, a cada ano, temos novos profissionais aplicando um conjunto de diferentes técnicas com o mesmo objetivo, aumentando a efetividade do tratamento empregado. As terapias complementares não dispensam a medi- cina convencional, mas enriquecem os protocolos terapêuticos, observando o indivíduo de forma integral, sem fracionar corpo, mente e emoções. Em geral, o pensamento ocidental tende a observar eventos isoladamente e avaliar sua interação com os demais fenômenos pontualmente, sistematizando seus modelos de estudos para que cada vez mais as variáveis sejam isoladas. O raciocínio oriental se inclina a identificar padrões globais, atentando para o todo, sem foco restrito. Pode-se diferenciar a organização da perspectiva ocidental da oriental, sendo a primeira redutiva e analítica, e a segunda ampla e interpretativa. Enquanto, no ocidente, se foca nos polos opostos, no oriente, observa-se a continuidade de transformação entre eles, o caminho entre um e outro. Segundo Nascimento, Nogueira e Luz (2012), a medicina tradicional chinesa é uma racionalidade médica diferente da medicina ocidental, tem suas próprias bases de morfologia, dinâmica vital, doutrina médica, sistema de diagnose, sistema terapêutico e cosmologia. A medicina tradicional chinesa é um sistema médico complexo, terapêutico, tradicional e complementar, o qual preserva e valoriza o meio ambiente com foco na qualidade de vida. A ótica chinesa em relação ao ser humano é global: uma vida é formada por corpo, mente e emoções — portanto, não podemos segregar doenças da mente e doenças do corpo, além de perceber a relação do indivíduo com o ambiente. A avaliação e proposta de tratamento são feitas de forma completa. O propósito das técnicas orientais, como acupuntura e massagem terapêu- tica, é estimular determinados pontos em diferentes profundidades na superfície da pele com finalidade terapêutica. Esses recursos visam a desbloquear ou harmonizar o fluxo de Qi (energia) e Xue (sangue), que circulam pelo orga- Medicina tradicional chinesa2 nismo humano. Ao utilizar essas metodologias, ações locais e sistêmicas se manifestarão, contribuindo para o objetivo final da aplicação do tratamento. Os conhecimentos milenares acerca da medicina oriental são embasados em teorias. Esses pilares foram descritos nas históricas obras orientais, como o Livro das Mutações (I Ching), o Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo (Huangdi Nei Jing, Su Wen e Ling Shu) e o Clássico de Dificuldades (Nei Jing). O Livro das Mutações foi datado por volta de 700 a.C., considerado o mais antigo livro chinês. Trata-se do primeiro registro em que a teoria Yin e Yang é abordada. Foi utilizado como oráculo na antiguidade e, atualmente, já migrou para o ocidente, passando pelas mãos de inúmeros leitores com traduções em diversos idiomas. Mesmo sem citar diretamente a medicina oriental, sabendo que a teoria Yin e Yang é o suporte para tal, a contribuição dessa obra é de suma importância para a medicina oriental. A primeira exposição completa da medicina tradicional chinesa foi no Clássico de Medicina Internado Imperador Amarelo, no qual a experiência clínica foi exposta por meio de perguntas e respostas do imperador da época para seus ministros (médicos). Esse trabalho já passou por edições e inclusão de comentários. Os segmentos que permanecem atualmente são Su Wen, trazendo aspectos da fisiologia, patologia e de como manter saúde evitando doença, e Ling Shu, descrevendo as técnicas de acupuntura. O Clássico de Dificuldades é uma expansão dos conceitos de patologia, além de trazer princípios de tratamento da medicina tradicional chinesa com explicações mais detalhadas. Foi desenvolvido pelo chinês Bian Que no perí- odo dos Estados Combatentes (475 a.C. a 221 a.C.), após testar e sistematizar essas práticas. As bases teóricas da medicina tradicional chinesa são formadas por grandes obras antigas e densas, as quais trazem as três principais teorias para a compre- ensão e prática da medicina oriental: Yin e Yang, Cinco Elementos e Zang Fu. Teoria Yin e Yang O grande alicerce teórico de toda a medicina chinesa é a teoria de Yin e Yang, a qual pode ser aplicada para todo e qualquer fenômeno da natureza, não sendo restrita apenas à medicina. As primeiras referências dessa teoria estão no Livro das Mutações, uma das obras chinesas mais antigas. Maciocia (2016) e Auteroche e Navailh (1992) apontam em suas obras a importância da compreensão dos conceitos de Yin e Yang, tendo em vista que esta teoria 3Medicina tradicional chinesa é essencial para a prática clínica, tanto para avaliar o paciente como também para delinear o tratamento e sugerir o prognóstico. Em resumo, Yin e Yang são etapas opostas, complementares, interdependen- tes e intimamente relacionadas que estão num constante movimento, assumindo polos cíclicos. Um bom exemplo é a relação entre matéria e energia, sendo cada uma delas identificada como extremidade de algo contínuo e cíclico, no qual matéria pode transforma-se em energia, e vice-versa. Nenhum fenômeno é estático, estando sempre em constante mudança, permeando o Yin e o Yang. Essa capacidade mutante dos eventos justifica a relatividade dos conceitos Yin e Yang. Situações de volatilidade, ascensão, movimento e hiperatividade estão caracterizadas como Yang, ao contrário de alta densidade, degenerações e hipoatividade, que se aproximam do Yin. � Fenômenos da natureza Yin: noite, escuro, frio, água. � Fenômenos da natureza Yang: dia, claro, calor, fogo. � Fisiologia humana Yin: estruturas dos órgãos, matéria, lentidão, interior. � Fisiologia humana Yang: funções dos órgãos, energia, rapidez, exterior. Teoria dos cinco elementos A teoria dos cinco elementos também é conhecida como teoria das cinco fases, ou teoria dos cinco movimentos — fogo, terra, metal, água e madeira estão organizados e relacionados de forma cíclica e dinâmica, representando os eventos de constante mudança da vida. A categorização dos cinco elementos auxilia no discernimento dos processos fisiológicos e patológicos dos indiví- duos e do ambiente. A obra Acupuntura Constitucional dos Cinco Elementos (HICKS; HI- CKS; MOLE, 2007) traz claramente que cada elemento tem características abstratas e concretas, as quais podem ser aplicadas a todo fenômeno — são as qualidades fundamentais dos eventos do universo. Suas inter-relações podem indicar transformações, fazer com que um deles se sobressaia ou que tenha suas atividades reduzidas. Há um balanço entre eles, sendo que, caso o Medicina tradicional chinesa4 desequilíbrio seja estabelecido, se inicia o processo patológico. Sinteticamente, um elemento não é algo estático e concreto, ele é parte de um grande processo. As principais relações entre os cinco elementos são a geração e a dominação. Um elemento gera o outro, formando um ciclo de geração. Fogo gera terra, a qual gera o metal que, por consequência, gera a água que gera a madeira e, assim, o fogo é gerado. Essa forma cíclica de produção deve manter-se de forma equilibrada e constante. Caso o fogo deixe de gerar a terra, teremos uma deficiência das características que fazem parte do elemento terra. Esse é um exemplo de um grupo de desarmonias que podem ocorrer a partir do desequilíbrio no ciclo de geração. Os elementos tem um mecanismo de autorregulação chamado dominação: uns dominam os outros, e assim o equilíbrio é alcançado. Esse ciclo segue o seguinte fluxo: o fogo domina o metal que domina a madeira, a qual domina a terra que domina a água e esta regula o fogo. A dominação permite que nenhum conjunto de características vinculado a um elemento sobressaia-se aos demais, causando desequilíbrio. Algumas desarmonias podem ocorrer devido à ineficiência desse fluxo. A partir dos domínios fogo, terra, metal, água e madeira foi organizado o sistema de órgãos e vísceras, originando a teoria dos Zang Fu. Teoria dos Zang Fu A sistematização dos órgãos internos é descrita pela teoria Zang Fu, sendo a denominação Zang utilizada para “órgãos”, estruturas sólidas encarregadas de armazenar substâncias vitais, como energia, sangue, essência e fluidos corpóreos, têm característica Yin. O termo Fu refere-se às “vísceras”, estruturas ocas responsáveis por transformar alimentos e transportar energia, que têm característica Yang. Os órgãos Zang são coração (C), pulmão (P), baço (BP), fígado (F), rim (R) e pericárdio (PC). As vísceras Fu são intestino delgado (ID), intestino grosso (IG), estômago (E), vesícula biliar (VB), bexiga (B) e triplo aquecedor (TA). A relação entre os órgãos e as vísceras é baseada na teoria Yin e Yang e na teoria dos Cinco Elementos, como ressaltado em Ross (2003). 5Medicina tradicional chinesa Os órgãos e as vísceras são segregados em dois grandes grupos, de acordo com suas características Yin e Yang. Os Zang são classificados como Yin , e os Fu como Yang. Eles se organizam em pares dentro de cada um dos cinco elementos, sendo um representante de cada polaridade. Os Zang Fu, que fazem parte do elemento fogo, são C, ID, PC e TA (único elemento que tem dois pares Zang Fu), aqueles pertencentes ao elemento terra são BP, E, P e IG são metal, R e B classificam-se como água, e, compondo o elemento madeira, estão F e VB. Sabendo que conseguimos classificar qualquer fenômeno da natureza nas teorias básicas chinesas, várias características do nosso organismo podem ser vistas na ótica dos Cinco Elementos — e até de uma forma mais específica na teoria dos Zang Fu. Percebemos excesso da expressão do elemento fogo quando observamos calor, febre, sede, urina escassa e fezes ressecadas. O sentimento de euforia, caracterizado por uma alegria intensa e descontrolada, e palpitação estão relacionados à alta atividade do Zang coração. A falta de coragem e a indecisão podem estar atreladas à vesícula biliar, logo são características do tipo madeira. Estudantes, profissionais e pesquisadores refinam as técnicas da medicina tradicional chinesa há mais de 2,5 mil anos, mantendo as teorias básicas ativas e aplicadas na prática da medicina oriental, valorizando não apenas as bases médicas, mas, também, o legado cultural dessa prática milenar. Equilíbrio energético A energia que constitui a matéria fundamental do universo chama-se Qi. É a partir de suas ações, seus movimentos e suas transformações que os eventos da natureza ocorrem. Essa substância sutil e dinâmica é responsável por produzir as funções fisiológicas e manter a vitalidade do organismo. Ela pode ser observada como energia refinada gerada pelos órgãos internos e que assume diferentes formas em diferentes sítios do organismo, ou como atividade funcional de um órgão interno, como a atividade do Qi do fígado (ações que são realizados por este órgão). O ideograma de Qi (Figura 1) indica a ideia de que algo pode ser material e energético ao mesmo tempo, que o denso e o sutil podem estar em constante transição. A porção superior do ideograma significa “vapor”, dando a ideia de sutileza, algo imaterial, enquanto a porção inferior simboliza um “feixe de arroz”,algo material e denso. Qi também pode ser chamado de Chi. Medicina tradicional chinesa6 Figura 1. Ideograma de Qi (energia). Fonte: Beretta99/Shutterstock.com. Na medicina oriental, percebemos diversas classificações de Qi, que são baseadas na localização ou na função desta energia. As principais funções do Qi são: atividade de transformação, controle, proteção do organismo, ajuste de temperatura corporal e impulsão de matéria. Quanto aos alimentos e fluidos Yin, o Qi realiza sua ação Yang de transformá-los em formas mais sutis de matéria. O Qi é Yang em relação ao Xue (sangue) que, por sua vez, é de natureza Yin. A ação do Qi é fundamental para movimentar o sangue pelos canais do organismo, permitindo que ele execute sua função de nutrir e umedecer o corpo. Qi age transportando e mantendo sangue e fluidos nos seus canais e, também, tem ação protetora, mais conhecido como Wei Qi. Este tipo de Qi transita no espaço entre a pele e os músculos, protegendo o corpo dos fatores patogênicos externos. O Yang Qi promove aquecimento, gerando calor para os processos que precisam dele. A seguir, estão descritos os principais tipos de Qi. Yuan Qi (Qi original) Este tipo de energia é a força motriz do organismo, desperta e movimenta a atividade funcional de todos os órgãos. É a base do Qi do rim, pois todas suas atividades funcionais estão ligadas ao Yuan Qi. Atua na transformação do Zong Qi em Zhen Qi (que gera Ying Qi e Wei Qi) e transforma Qi do alimento (Gu Qi) em sangue. Surge nos pontos fonte e é conduzido por todo o corpo (canais e órgãos internos) pelo triplo aquecedor. 7Medicina tradicional chinesa GU QI (Qi do alimento) Representa o primeiro estágio de transformação dos alimentos em Qi; é a base para produção do Qi e sangue do corpo. Os alimentos são “decompostos” e “transformados” no estômago em Gu Qi no baço. Sobe até o tórax (com o Qi do baço) e passa pelo pulmão, onde se une ao ar para formar Zong Qi (Qi de reunião); e, no coração, é transformado em sangue. ZONG QI (Qi de reunião) Origina-se a partir união do Gu Qi com o Da Qi (Qi do ar), tornando-se uma forma de Qi mais sutil e refinada. Auxilia o coração e pulmão a empurrarem Qi e sangue para os membros. ZHEN QI (Qi verdadeiro) Zong Qi é transformado em Zhen Qi a partir da ação do Yuan Qi. Este é o último estágio do processo de refinamento e transformação do Qi. É ele que circula nos canais. Origina-se no pulmão, que é o órgão responsável por governá-lo. YING QI (Qi nutritivo) Ying Qi é a essência refinada que nutre os órgãos internos e todo o organismo. Está em íntima relação com o sangue e flui com ele pelos canais e vasos sanguíneos. WEI QI (Qi defensivo) Flui nas camadas mais externas do corpo, entre a pele e os músculos. Age protegendo o organismo do ataque de fatores patogênicos exteriores. Aquece, hidrata e nutre parcialmente a pele e os músculos. Ajusta a abertura e o fecha- mento dos poros e regula a temperatura do corpo. O pulmão pulveriza Wei Qi no espaço entre a pele e os músculos. Deficiência de Wei Qi enfraquece as defesas do organismo contra fatores patogênicos exteriores. Qi defensivo circula 50 vezes em 24 horas, 25 durante o dia e 25 à noite (nos órgãos Yin). Medicina tradicional chinesa8 ZHONG QI (Qi central) Zhong Qi é outra maneira de definir o Qi do estômago e do baço. É um termo eventualmente utilizado para a função de transporte e transformação realizada pelo baço. Implica na função de subida do Qi do baço. Os pontos de acupuntura são locais específicos de grande concentração de energia Qi, e, tendo em vista que Qi é a força motriz da fisiologia da vida, alterações em suas funções caracterizam-se em desarmonias energéticas, as quais são as fontes do desenvolvimento das patologias. A medicina tradicional chinesa dispõe de diversas técnicas para reestabelecer o equilíbrio energético de um indivíduo. Os recursos mais comuns são acupuntura, eletroacupuntura, ventosaterapia, moxabustão, auriculoterapia, técnicas manuais, laser, fitoterapia e dietoterapia. Os termos médicos chineses, como Yin, Yang e Qi, estão em pinyin. Este é um método de transliteração do mandarim padrão (idioma oficial da China). Em mandarim padrão, esses termos aqui citados seriam, respectivamente, 陰, 陽, 氣. Sistema de meridianos energéticos O sistema de meridianos energéticos também pode ser chamado de sistema de canais e colaterais, que são segmentos energéticos que percorrem todo o organismo, formando uma imensa e unificada rede energética. Por meio desta rede, um sistema de comunicação é estabelecido entre órgãos, vísceras e extremidades do corpo, como pele, músculos e órgãos dos sentidos. O termo em chinês Jing Luo refere-se aos meridianos e às suas ramificações. Qi e Xue estão intimamente ligados, o sangue movimenta-se com o impulso da energia, e essa dupla de substâncias vitais percorre os meridianos inseparavelmente. Essa teia energética faz a comunicação entre alto e baixo, exterior e interior, superficial e profundo, direita e esquerda. Entre suas principais funções estão ligar internamente os Zang Fu e conectá-los aos membros e às demais porções periféricas do corpo, como tecidos e orifícios sensoriais, permitir circulação de Qi e Xue por todo o organismo, integrando-o, e participar do mecanismo de defesa. 9Medicina tradicional chinesa O sistema de meridianos pertence ao exterior do corpo, mas consegue estabelecer uma eficiente comunicação com o interior, mais especificamente com os órgãos internos. Esse sistema e os órgãos internos formam uma uni- dade energética indivisível, de forma que, a qualquer desequilíbrio em um determinado meridiano, o órgão correspondente pode ser afetado, e vice-versa. Meridianos regulares (Jing Mai) Meridianos principais (Jing Zheng) Os meridianos principais estão intimamente relacionados com os Zang Fu, apresentam trajeto superficial e profundo. Os 12 meridianos (Quadro 1) se organizam em pares acoplados de natureza Yin e Yang, a fim de manter a comunicação entre um órgão (Zang - Yin) e uma víscera (Fu - Yang). Estão dispostos no corpo bilateralmente, e suas orientações dependem da natureza Yin, seguindo o fluxo de baixo para cima (três meridianos se originam dos pés para o tórax, e outros três do tórax para as mãos) ou Yang seguindo o fluxo de cima para baixo (três meridianos se originam nas mãos para a cabeça, e outros três da cabeça para os pés). O fluxo energético ordenado que passa através dos meridianos principais forma a grande circulação. Zang (Yin) / Fu (Yang) Meridiano principal Yin Meridiano principal Yang Ponto de união dos pares acoplados Cinco elementos C / ID Coração (Xin) Intestino delgado (Xiao Chang) VC17 Fogo PC / TA Pericárdio (Xin Bao) Triplo aquecedor (San Jiao) TA16 Fogo BP / E Baço- -pâncreas (Pi) Estômago (Wei) E9 Terra Quadro 1. Relação entre os 12 meridianos energéticos principais e as teorias básicas da medicina tradicional chinesa (Continua) Medicina tradicional chinesa10 Quadro 1. Relação entre os 12 meridianos energéticos principais e as teorias básicas da medicina tradicional chinesa Zang (Yin) / Fu (Yang) Meridiano principal Yin Meridiano principal Yang Ponto de união dos pares acoplados Cinco elementos P / IG Pulmão (Fei) Intestino grosso (Da Chang) IG18 Metal R / B Rim (Shen) Bexiga (Pang Guang) B10 Água F / VB Fígado (Gan) Vesícula biliar (Dan) VB1 Madeira (Continuação) Meridianos divergentes ou distintos (Jing Bie) Os 12 meridianos divergentes estão organizados em seis pares, que se originam nos meridianos principais e se tornam dependentes deles energeticamente. Eles complementam a função do meridiano principal, transportando Qi e Xue para locais em que não há distribuição pelos principais, principalmente para as regiões torácica e abdominal e, também, unindo internamente os pares acoplados Yin e Yang. Meridianos extraordinários (Qi Jing Ba Mai) Os oito meridianos extraordinários também sãoconhecidos como vasos maravilhosos, segregados em quatro meridianos de natureza Yin e quatro meridianos Yang. Entre diversas funções, destaca-se a habilidade de reforçar a conexão entre os meridianos principais, regulando as quantidades de Qi e Xue presentes em cada um. Du Mai e o Ren Mai são os únicos meridianos extraordinários que têm pontos próprios, sendo que os demais utilizam pontos dos meridianos principais. Esses dois meridianos formam a pequena circulação, a qual mantém o equilíbrio energético da grande circulação composta pelos 12 meridianos principais, por meio de vasos secundários que conectam uma à outra. Uma obra recente de Paulo Lima, chamada Manual de Acupuntura: 11Medicina tradicional chinesa Direto ao Ponto, descreve a localização e a função dos principais pontos de acupuntura dentro dos seus meridianos energéticos (Quadro 2). Fonte: Adaptado de Lima (2018). Meridiano extraordinário Ponto de abertura Meridiano extraordinário (par acoplado) Ponto de abertura do meridiano extraordinário acoplado Yin Vaso diretor (Ren Mai) P7 Vaso Yin do calcanhar (Yin Qiao Mai) R6 Yang Vaso governador (Du Mai) ID3 Vaso Yang do calcanhar (Yang Qiao Mai) B62 Yin Vaso penetrador (Chong Mai) BP4 Vaso Yin de conexão (Yin Wei Mai) CS6 Yang Vaso da cintura (Dai Mai) VB41 Vaso Yang de conexão (Yang Wei Mai) TA5 Quadro 2. Pontos de abertura e natureza dos meridianos extraordinários agrupados em seus pares acoplados Meridianos tendinomusculares (Jing Jin) Os 12 meridianos tendinomusculares são bilaterais, superficiais, de natureza Yang e grandes. Originam-se no ponto mais extremo dos meridianos principais, localizados nos pés ou nas mãos, chamados pontos Ting. Atuam diretamente nos músculos, nos tendões e nas articulações. Medicina tradicional chinesa12 Meridianos secundários (Luo Mai) Os 12 meridianos secundários acompanham os Zang Fu, subdividem-se em 16 meridianos de conexão longitudinais e 12 meridianos de conexão transversais. Os meridianos longitudinais auxiliam aumentando a rede de distribuição de Qi e Xue para o corpo, e o Wei Qi também circula auxiliando no sistema de defesa do organismo. Os meridianos transversais fazem a reunião externa dos meridianos principais acoplados. Estes meridianos recebem Qi e Xue dos me- ridianos principais, por meio de pontos Luo (pontos de passagem ou conexão). As zonas cutâneas (Pi Bu) representam a porção superficial dos meridianos energéticos, não sendo um meridiano propriamente dito. AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O diagnóstico na medicina chinesa. São Paulo: Andrei, 1992. 422 p. HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE, P. Acupuntura constitucional dos cinco elementos. São Paulo: Roca, 2007. 456 p. LIMA, P. R. Manual de acupuntura: direto ao ponto. 4. ed. Rio de Janeiro: Zen, 2018. 338 p. MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa. 3. ed. São Paulo: Roca, 2016. 1016 p. NASCIMENTO, M. C.; NOGUEIRA, M. I.; LUZ, M. T. Produção científica em racionalida- des médicas e práticas de saúde. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares, Palhoça, v. 1, n. 1, p. 13-21, 2012. Disponível em: <http://portaldeperiodicos.unisul.br/ index.php/CNTC/article/download/1000/945>. Acesso em: 4 out. 2018. ROSS, J. Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clínico. São Paulo: Roca, 2003. 512 p. Leitura recomendada WILHELM, R. I-Ching: o livro das mutações: prefácio de C. G. Jung. São Paulo: Pensa- mento, 1984. 530 p. 13Medicina tradicional chinesa Conteúdo: DICA DO PROFESSOR A energia Qi percorre todo o organismo através dos meridianos energéticos, sendo classificada de acordo com suas funções específicas. A orientação do Qi na circulação segue um fluxo definido que deve ser observado pelo praticante da medicina oriental ao avaliar e tratar pacientes. Quando esse fluxo está em desequilíbrio, há o desenvolvimento de patologias. Confira, na Dica do Professor, como ocorre a circulação energética, sistema o qual Qi percorre, promovendo comunicação entre todo o organismo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A Medicina Tradicional Chinesa é uma terapia complementar embasada por teorias orientais. Qual é a ideia principal que a teoria Yin e Yang apresenta? A) Yin e Yang representam polos opostos e completamente independentes. B) Yin e Yang representam qualidades extremas e concorrentes. C) Yin e Yang representam situações estáticas e fixas. D) Yin e Yang representam o dinamismo dos fenômenos da natureza. E) Yin e Yang representam a divergência entre a medicina ocidental e oriental. A teoria dos cinco elementos e a teoria dos Zang Fu tem diversos pontos em comum, elas são complementares. A Medicina Tradicional Chinesa associa os pares acoplados Coração (C) - Intestino Delgado (ID); Pericárdio (PC) – Triplo Aquecedor (TA) com 2) qual elemento? A) Fogo. B) Terra. C) Metal. D) Água. E) Madeira. 3) Qi é energia vital. Há diversas classificações de Qi, as quais estão baseadas na localização ou na função desta energia. Como é chamada a energia produzida a partir do Zhen Qi, que percorre o espaço entre a pele e os músculos e realiza a defesa do organismo? A) Gu Qi. B) Zhong Qi. C) Ying Qi. D) Wei Qi. E) Zong Qi. Os meridianos energéticos são uma grande rede energética de comunicação que percorre todo o organismo. Os meridianos principais recebem os nomes dos Zang Fu, organizam-se em pares acoplados pertencentes ao mesmo elemento, porém de 4) natureza Yin e Yang oposta. Assinale o par de meridianos principais que está acoplado corretamente. A) Coração (C) e Rim (R). B) Vesícula Biliar (VB) e Baço-Pâncreas (BP). C) Triplo Aquecedor (TA) e Coração (C). D) Fígado (F) e Intestino Delgado (ID). E) Pulmão (P) e Intestino Grosso (IG). 5) Os meridianos energéticos são classificados de acordo com suas funções. Quais meridianos estão envolvidos na pequena circulação e na grande circulação, respectivamente? A) Meridianos secundários e meridianos principais. B) Meridianos principais e meridianos divergentes. C) Meridianos extraordinários e meridianos principais. D) Meridianos extraordinários e meridianos divergentes. E) Meridianos principais e meridianos secundários. NA PRÁTICA A teorias dos Cinco Elementos e Zang Fu nos permite identificar padrões de desequilíbrio energético. Neste Na Prática, você verá um conjunto de manifestações clínicas que foram avaliados a partir das duas teorias. Além de esse embasamento teórico nos permitir identificar padrões de desequilíbrio energético, também são os pilares para o delineamento de tratamentos. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Introdução ao estudo da Medicina Tradicional Chinesa No vídeo a seguir, o professor Ephraim Medeiros apresenta os principais tópicos abordados no estudo da Medicina Tradicional Chinesa, convidando você a conhecer esse maravilhoso universo da terapia complementar oriental. Ephraim Medeiros é brasileiro, mora e atua na China tratando pacientes com a Medicina Tradicional Chinesa. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares Neste documento, o Ministério da Saúde apresenta a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, o qual integra a acupuntura como terapia complementar. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O professor Dr. Min Ming Yen, junto com sua equipe de profissionais habilitados em práticas orientais, produziram um vasto conteúdo em seu blog chamado Segredo dos Mestres. No primeiro episódio, ele discute as bases da Medicina Tradicional Chinesa. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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