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teoria participativa

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ROUSSEAU, JOHN STUART MILL E G. D. H. 
COLE: UMA TEORIA PARTICIPATIVA DA 
DEMOCRACIA 
Rousseau: 
• a participação é bem mais do que uma proteção dos arranjos institucionais, ela 
também provoca um efeito psicológico dos indivíduos que interagem dentro dela. 
• Ele afirmava que certas condições econômicas eram necessárias para um 
sistema participativo. Ele defendia uma sociedade formada por pequenos 
camponeses, ou seja, uma sociedade onde houvesse igualdade e 
independência econômica, mas não exigia necessariamente uma igualdade 
absoluta, porém as diferentes existente não deveriam conduzir a desigualdade 
política. A exigência era que todo homem possuísse alguma propriedade. Pois 
segurança e independência confere ao indivíduo a base para a igualdade e sua 
independência política. 
• A política a ser aceita por todos é aquela em que os benefícios e encargos são 
igualmente compartilhados. O processo de participação assegura a igualdade 
política. 
• Ele considerava que a situação ideal para a tomada de decisões seria a que não 
contasse com a presença de grupos organizados, apenas os indivíduos, pois 
assim os grupos não iam fazer prevalecer suas “vontades particulares”. 
• Organizações tácitas ocorre. Isto é, indivíduos não organizados estariam unidos 
por alguns interesses comuns, mas que seria muito difícil que tais associações 
tácitas obtivessem apoio para políticas que as favorecessem especialmente. 
Caso fosse impossível evitar as associações organizadas dentro das 
comunidades, então, elas deveriam ser tão numerosas e de poder político tão 
igual quanto possível. Ou seja, a situação participativa dos indivíduos se 
reproduziria com os grupos, e ninguém poderia vencer à custa dos outros. 
• em primeiro lugar, a participação acontece na tomada de decisões; em segundo 
lugar, ela constitui, como na teoria do governo representativo, um modo de 
proteger os interesses privados e de assegurar um bom governo. 
• A principal preocupação do autor era com o impacto psicológico das instituições 
sociais e políticas: A principal variável é saber se a instituição é ou não 
participativa, pois, a função central da participação na teoria de Rousseau é 
educativa. O indivíduo tem que levar em consideração assuntos bem mais 
abrangentes do que os seus próprios, caso queira a cooperação dos outros, ele 
aprende que o público e o privado encontram-se ligados. A lógica do sistema 
“força” o indivíduo a deliberar de acordo com o seu senso de justiça - vontade 
constante. Como resultado da participação o indivíduo aprende a ser tanto 
cidadão público quanto privado. 
• Para Rousseau as instituições têm papel educativo para os cidadãos e graças a 
isso a sociedade pode tornar-se mais participativa e integrada com a política. 
Quando a população é engajada na política cria e fortalece as instituições 
democráticas e assim a sociedade deveria funcionar. Os indivíduos são 
educados a através da participação na tomada de decisões. 
• Rousseau argumenta que, a menos que cada indivíduo seja “forçado” a agir de 
modo socialmente responsável através do processo participatório, não poderá 
haver nenhuma lei que assegure a liberdade de todos. Tanto a sensação de 
liberdade do indivíduo quanto sua liberdade efetiva aumentam por sua 
participação na tomada de decisões, por que tal participação dá a le um grau 
bem real de controle sobre o curso de sua vida e sobre a estrutura do meio em 
que vive. 
• As instituições não participativas (existentes) apresentam uma ameaça, elas 
tornam a liberdade impossível - em toda parte os homens estão “a ferro”. A 
participação pode aumentar o valor da liberdade para o indivíduo, capacitando-
o a ser (e permanecer) seu próprio senhor. O processo participatório assegura 
também que, nenhum homem ou grupo seja, senhor de um outro, todos são 
igualmente dependentes entre si e igualmente sujeitos à lei. E também, permite 
que as decisões coletivas sejam aceitas mais facilmente pelo indivíduo e que há 
uma função de integração - ela fornece que cada cidadão isolado “pertence” a 
sua comunidade. 
John Stuart Mill: 
• Mill encara o governo e as instituições políticas, acima de tudo, como educativos 
no sentido mais amplo. Para ele, os dois aspectos do governo estão inter-
relacionados, de forma que a condição necessária para o bom governo no 
sentido empresarial é a promoção do tipo correto de caráter individual e para 
isso é preciso os tipos corretos de instituição. 
• Ele encara a função educativa da participação quase nos mesmos termos de 
Rousseau. Quando o indivíduo se ocupa somente de seus assuntos privados, 
argumenta, e não participa das questões públicas, sua "auto-estima” é afetada, 
assim como permanecem sem desenvolvimento suas capacidades para uma 
ação pública responsável. 
• Toda a situação se modifica, no entanto, quando o indivíduo pode tomar parte 
nos assuntos públicos; neste caso, Mill, assim como Rousseau, via o indivíduo 
sendo "forçado" a ampliar seus horizontes e a levar em consideração o interesse 
público. Em outros termos, o indivíduo tem de "atender não apenas a seus 
próprios interesses de se guiar, no caso de reivindicações conflitantes, por outro 
comando que não o de suas parcialidades privadas; de aplicar, a cada vez, 
princípios e máximas que têm como razão de existência o bem comum" 
• Mill declara que “uma constituição democrática sem o apoio de instituições 
minuciosamente democráticas e restritas ao governo central não apenas deixa 
de proporcionar liberdade política como frequentemente cria um espírito 
exatamente contrário. 
• Para que os indivíduos em um grande Estado sejam capazes de participar 
efetivamente do governo da "grande sociedade", as qualidades necessárias 
subjacentes a essa participação devem ser fomentadas e desenvolvidas a nível 
local. 
• Assim, para Mill, é a nível local que se cumpre o verdadeiro efeito educativo da 
participação, onde não apenas as questões tratadas afetam diretamente o 
indivíduo e sua vida cotidiana, mas onde também ele tem uma boa chance de, 
sendo eleito, servir no corpo administrativo local. É por meio da participação a 
nível local que o indivíduo “aprende a democracia”. Será somente praticando o 
governo popular em pequena escala que o povo terá alguma possibilidade de 
aprender a executá-la em maior escala. 
• Numa sociedade de larga escala o governo representativo será necessário. 
Bentham e James Mill acreditavam que a educação, no sentido limitado 
“acadêmico”, do termo era o meio mais eficaz de assegurar a participação 
política responsável das "classes numerosas". 
• Mill considerava como as "mais sábias e melhores" as pessoas que haviam 
recebido uma boa educação (as instruídas), as quais, deviam ser eleitas para 
ocupar cargos em todos os níveis políticos. A sociedade devia ser representada 
pelas pessoas mais adequadas em que a “multidão” teria fé na minoria 
“instruída” em política. A elite teria de prestar contas a maioria e era na 
conciliação do domínio da elite com a prestação de contas que Mill enxergava a 
"grande dificuldade" em política. 
• Levando em consideração a teoria educativa da participação de Mill sua resposta 
ao problema seria conferir o máximo de oportunidades as classes trabalhadoras 
para que elas participassem a nível local de modo a desenvolver as qualificações 
e habilidades necessárias que lhes possibilitasse acesso às atividades dos 
representantes, o que lhes permitiria controlá-los. 
• Mill rejeitava o argumento de Rousseau de que para a participação efetiva é 
necessário a igualdade política. Mill implicitamente também faz uso de uma 
definição de “participação” diferente da de Rousseau, pois ele não pensava que 
mesmo os representantes eleitos deveriam legislar, mas apenas aceitar ou 
rejeitar a legislação preparada por uma comissão especial indicada pela Coroa, 
a função própria dos representantes é a discussão. 
• Falha na teoria: Se uma elitepredeterminada deve alcançar o poder político, por 
que motivos), deveria a maioria se interessar pela discussão? 
• Mill também atribui a função integrativa da participação. Diz que a partir da 
discussão política o indivíduo “torna-se conscientemente um membro da grande 
comunidade” e que sempre que ele tiver algo a fazer pelo público, torna-se capaz 
de sentir “que não apenas o seu bem-estar depende do bem-estar comum, mas 
que este depende de sua empenho.” 
• O efeito educativo abrange uma nova área da vida social – a indústria. Uma 
organização cooperativa levaria a uma “rivalidade amistosa” na busca do bem 
comum de todos, a elevação da dignidade do trabalho, a uma nova sensação de 
segurança e independência da classe trabalhadora. 
• Do mesmo modo que a participação na administração do interesse coletivo pela 
política local educa o indivíduo para a responsabilidade social também a 
participação na administração do interesse coletivo na organização industrial 
favorece e desenvolve, as qualidades que o indivíduo necessita para as 
atividades públicas. 
• Da mesma maneira que a participação no governo local é uma condição 
necessária para a participação a nível nacional, devido a seu efeito educativo 
assim também Mill sugere que a participação no “governo” do local de trabalho 
teria o mesmo impacto. 
• Para que seja possível tal participação no local de trabalho, a relação de 
autoridade na indústria teria de transformar-se da habitual relação de 
superioridade-subordinação (empresários e homens) em uma de cooperação ou 
de igualdade, com administradores (govemo) eleitos por todo o corpo de 
empregados, da mesma forma que são que eleitos por todos os representantes 
a nível local. Ou seja, as relações políticas na indústria teriam de se 
democratizar. 
• O argumento de Mill da democratização do governo local e do local de trabalho 
pode se generalizar para englobar o efeito participativo em todas as estruturas 
de autoridade ou sistemas políticos das “esferas inferiores”. A sociedade é vista 
como um conjunto de vários sistemas políticos; para um funcionamento de uma 
política democrática a nível nacional, as qualidades necessárias aos indivíduos 
somente podem se desenvolver por meio da democratização das estruturas de 
autoridade em todos os sistemas políticos. Assim sendo, a indústria e outras 
esferas fornecem áreas alternativas, onde o indivíduo pode participar na tomada 
de decisões sobre assuntos dos quais ele tem experiência direta, cotidiana, de 
modo que quando nos referimos a uma “democracia participativa” estamos 
indicando algo muito mais amplo do que uma série de “arranjos institucionais” a 
nível nacional. 
G.D.H. Cole: 
• A teoria social e política de Cole constrói-se sobre o argumento de Rousseau de 
que a vontade, e não a força, é a base da organização social e política. Os 
homens precisam cooperar em associação para satisfazer suas necessidades, 
e Cole começa a examinar “os motivos que mantêm os homens juntos em uma 
associação” e os “modos pelos quais os homens agem por meio de associações, 
suplementando e complementando suas ações enquanto indivíduos isolados ou 
privados. 
• Para transformar sua vontade em ação de um modo que não afete sua liberdade 
individual, Cole sustenta que os homens devem participar na organização e na 
regulamentação de suas associações. 
• Produz uma teoria de associações: sociedade, como definida por ele, é um 
"complexo de associações que se mantêm unidas pelas vontades de seus 
membros. Se o indivíduo quiser se auto governar, então ele não só tem de ser 
capaz de participar da tomada de decisões em todas as associações das quais 
ele é membro, como as próprias associações têm de ser livres para controlar 
seus próprios assuntos. 
• Essa teoria de associações liga-se à sua teoria da democracia por meio do 
princípio de função: Cole pensava que "a democracia só é verdadeira quando 
concebida em termos de função ou propósito/", e a função de uma associação 
baseia-se no propósito para o qual ela foi formada. 
• O princípio democrático diz Cole deve se aplicar não apenas ou principalmente 
a esfera de ação social conhecida como “política” mas a qualquer e toda forma 
de ação social e em especial de modo tão integral na indústria e na economia 
quanto nos assuntos políticos. 
• Na visão de Cole, a indústria fornecia a importantíssima arena para que se 
revelasse o efeito educativo da participação, pois é na indústria que, excetuando-
se o governo, o indivíduo mais se envolve em relações de superioridade e 
subordinação, e o homem comum gata grande parte de sua vida no trabalho. 
• Cole argumentava que o “sistema industrial em grande parte é a chave para o 
paradoxo de democracia política. Um sistema servil na indústria reflete-se 
inevitavelmente em servidão política. Apenas se o indivíduo pudesse se 
autogovernar no local de trabalho, apenas se a industria fosse organizada sobre 
uma base participativa, esse treinamento para servidão poderia transformar-se 
em treinamento para a democracia e o indivíduo poderia ganhar familiaridade 
com os procedimentos democráticos e desenvolver as características 
democráticas necessárias para um sistema efetivo de democracia em larga 
escala. 
• Segundo Cole, a democracia abstrata das urnas não envolvia uma igualdade 
política real; a igualdade de cidadania implicita no sufrágio universal era apenas 
formal e obscurecia o fato de que grandes desigualdades de riqueza e de 
posição social, que resultavam em grandes desigualdades de educação, poder 
e controle do ambiente, são necessariamente fatais para qualquer democracia 
verdadeira, seja em política ou em qualquer outra esfera. 
• Umas das principais objeções de Cole à organização capitalista da indústria era 
que, nela o trabalho era apenas mais uma mercadoria e desse modo era negada 
a humanidade do trabalho. Importar-se apenas com a equiparação da posição 
social poderia levar a igualdade de independência, a qual, para Rousseau, é 
crucial para o processo de participação. 
• A teoria da democracia participativa é constituída em torno da afirmação central 
de que os indivíduos e suas instituições não podem ser considerados 
isoladamente. A existência de instituições representativas não basta para a 
democracia; pois o máximo de participação de todas as pessoas treinamento 
social, precisa ocorrer em outras esferas, de modo que as atitudes e qualidades 
psicológicas necessária possam se desenvolver. Esse desenvolvimento ocorre 
por meio do próprio processo de participação. A principal função da participação 
da teoria da democracia participativa é, portanto, educativa, assim como para os 
outros. 
• Para que exista uma forma de governo democrática é necessária a existência 
de uma sociedade participativa, isto é, uma sociedade onde todos os sistemas 
políticos tenham sido democratizados e onde a socialização por meio da 
participação pode ocorrer em todas as áreas. 
• A área mais importante é a indústria, a maioria dos indivíduos depende grande 
parte de suas vidas no trabalho e o local de trabalho propicia uma educação na 
administração dos assuntos coletivos. 
• Outro aspecto da teoria da democracia participativa é que as esferas da atuação 
política por excelência, oferecendo áreas de participação adicionais ao âmbito 
nacional. Para que os indivíduos exerçam o máximo de controle sobre suas 
próprias vidas e sobre o ambiente, as estruturas de autoridade nessas áreas 
precisam ser organizadas de tal forma que eles possam participar na tomada de 
decisões.

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