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Imunidade Inata Medicina Veterinária Imunologia @RebecaWoset O sistema imune inato é composto por diversos subsistemas. O mais importante desses subsistemas inatos é o processo a que chamamos inflamação. A inflamação é, portanto, um mecanismo pelo qual as células e proteínas de defesa são concentradas nos sítios de invasão microbiana. Juntas, destroem os invasores e, então, reparam qualquer lesão tissular subsequente. COMO OS INVASORES SÃO RECONHECIDOS O sistema imune inato é ativado quando o corpo percebe estar sob ataque. Isso envolve o reconhecimento de sinais de alarme gerados por duas vias. Os sinais de alarme são gerados por microrganismos invasores (sinais exógenos) ou por células mortas e à morte (sinais endógenos). Os sinais exógenos são compostos por moléculas produzidas por invasores microbianos. Coletivamente, essas moléculas são denominadas padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs). Os sinais endógenos são compostos por moléculas liberadas por células danificadas, mortas ou à morte. Estas moléculas são coletivamente denominadas padrões moleculares associados a lesão (DAMPs). DAMPs e PAMPs interagem com receptores de reconhecimento de padrão (PRRs) de células sentinelas, localizadas por todo o corpo. Após o reconhecimento, esses padrões ativam o sistema imune inato. PRRs O sistema imune inato não tenta reconhecer todas as possíveis moléculas microbianas pois elas mudam suas moléculas de superfície muito rapidamente. Ao invés disso, o corpo usa receptores que podem se ligar e responder a moléculas essenciais e abundantes comuns a diversos microrganismos mas ausentes dos tecidos animais normais. Os vírus, por outro lado, crescem no interior de linfócitos T infectados do hospedeiro, de modo que os principais alvos dos PRRs antivirais são ácidos nucleicos virais. RECEPTORES DO TIPO TOLL Alguns TLRs estão localizados em superfícies celulares, onde são responsáveis pelo reconhecimento de invasores extracelulares, como bactérias e fungos. Outros TLRs estão localizados no interior das células, onde são responsáveis pela detecção de invasores intracelulares, como vírus. Os TLRs são uma importante primeira linha de defesa contra invasores bacterianos, virais e fúngicos e desempenham um papel vital na percepção de micróbios. Os TLRs são expressos principalmente por céls sentinelas localizadas na superfície do corpo ou em áreas próximas. Dentre as células sentinelas estão os macrófagos, os mastócitos e as células dendríticas, assim como as células epiteliais que revestem os tratos respiratório e intestinal. São receptores transmembrânicos glicoproteicos. Os TLRs de superfície celular (TLR1, 2, 4, 5, 6 e 11) reconhecem principalmente proteínas, lipoproteínas e lipopolissacarídeos bacterianos e fúngicos. Os TLRs intracelulares (TLR3, 7, 8, 9 e 10), por outro lado, reconhecem ácidos nucleicos virais e bacterianos. Quando um PAMP se liga a seu TLR correspondente, a célula recebe sinais. Há formação de complexos multiproteicos de sinalização e desencadeamento de cascatas de transdução de sinal e, assim, a célula produz moléculas pró-inflamatórias. Caspases são enzimas proteolíticas (cisteinil aspartato – proteinases específicas) que desempenham importantes papeis no início da inflamação. Os TLRs não apenas desencadeiam respostas inatas como a inflamação, mas também começam o processo de “ligação” do sistema imune adaptativo. Por exemplo, o estímulo do TLR4 faz com que os macrófagos e seus parentes próximos, as células dendríticas, produzam citocinas que são potentes estimuladores das células imunes. Os TLRs são também expressos por células-tronco da medula óssea, que são fontes de leucócitos. A ligação de lipopolissacarídeos bacterianos ao TLR4 de células- tronco estimula a medula óssea a aumentar a produção de leucócitos. Um aumento nos números de leucócitos no sangue (leucocitose) é, portanto, uma consistente característica de doenças infecciosas. Os TLRs intracelulares detectam a presença de ácidos nucleicos virais. Quando ativados, levam à síntese de citocinas antivirais, coletivamente denominadas interferons (IFNs) do tipo I. Os interferons são proteínas que ativam genes, e estes codificam Imunidade Inata Medicina Veterinária Imunologia @RebecaWoset proteínas e vias antivirais e, assim, “interferem” no crescimento viral. DAMPs Chamadas também de alarminas. Outras moléculas podem ser produzidas por células sentinelas estimuladas. Alguns desses DAMPs apresentam potentes propriedades antimicrobianas. Outras podem recrutar e ativar células do sistema imune inato e promover respostas imunes adaptativas. Assim, quando células morrem, as mitocôndrias danificadas podem ser reconhecidas como as bactérias que um dia foram. Seu DNA e suas proteínas ativam PRRs como o TLR9 e os receptores de formil peptídeo dos neutrófilos. Importante DAMP intracelular: HMGB1 e extracelular heparan sulfato. Células Sentinelas São células cuja função primária é reconhecer e responder a micróbios invasores. Estão abaixo de superfície corpórea, tem vários PRRs, podendo atuar como DAMPs e PAMPs. As células epiteliais, as células endoteliais e os fibroblastos, podem atuar como sentinelas quando necessário. 3 tipos de céls sentinela: Macrófagos estão disseminados por todo o corpo podem capturar, matar e destruir invasores microbianos. Os macrófagos desempenham múltiplas outras funções e, assim, compõem diferentes subpopulações. Células Dentríticas recebem este nome por apresentarem longos processos citoplasmáticos delgados denominados dendritos. As células dendríticas são uma população heterogênea, e muitas são bastante similares a macrófagos ou deles derivadas. Mastócitos, há muito se conhece seu importante papel nas alergias, mas hoje sabemos que os mastócitos também desencadeiam a inflamação em situações convencionais. NEUTRÓFILOS E FAGOCITOSE As primeiras células atraídas aos sítios de inflamação são os neutrófilos. As citocinas ativam as células do endotélio vascular; assim, os neutrófilos presentes na corrente sanguínea param, aderem a essas células e, então, migram até os sítios de invasão microbiana e dano tecidual. Os neutrófilos se ligam aos microrganismos invasores, os fagocitam e matam. De modo geral, os microrganismos devem ser opsonizados antes de poderem ser eficientemente ingeridos e mortos. As opsoninas mais eficazes são os anticorpos e alguns componentes do sistema complemento. Os microrganismos ingeridos são mortos por potentes oxidantes por meio de um processo chamado burst oxidativo, por proteínas antibacterianas denominadas defensinas e por enzimas líticas. Os neutrófilos são células de vida curta, que não suportam fagocitoses prolongadas ou múltiplas. Célula sentinela reconhece invasor e enviam sinais que atraem leucócitos. O objetivo principal da inflamação é assegurar que as células fagocíticas interceptem e destruam os micróbios invasores da forma mais rápida e eficiente possível. Os neutrófilos respondem aos micróbios invasores muito rapidamente, fagocitando-os, mas não são capazes de manter o esforço fagocítico por muito tempo. Os macrófagos, por outro lado, movimentam- se de forma mais lenta, mas são fagócitos altamente eficazes e são capazes de fagocitar repetidas vezes. Neutrófilos Esses leucócitos são formados por células-tronco da medula óssea em uma taxa de cerca de 8 milhões por minuto em humanos normais; migram para a corrente sanguínea e, em aproximadamente 12 horas, para os tecidos. Neutrófilos normais migram para os tecidos, onde por fim passam a ser apoptóticos e são, então, fagocitados por macrófagos. Imunidade Inata Medicina Veterinária Imunologia @RebecaWoset A taxa de produção de neutrófilos é compatível com sua taxade remoção por apoptose. Durante infecções microbianas, os PAMPs se ligam a estes TLRs e estimulam as células-tronco a produzirem mais neutrófilos. Fagocitose Embora seja um processo contínuo, a fagocitose pode ser dividida em pequenos estágios: ativação, quimiotaxia, adesão, ingestão e destruição. Ativação: Os neutrófilos atacam e destroem organismos invasores após se tornarem “ativados”. Assim, quando os neutrófilos se ligam às células endoteliais e recebem o duplo sinal, composto pela ligação com a integrina e o estímulo por TNF-α, CXCL8 ou C5a, secretam elastase, defensinas e oxidantes. A elastase promove sua adesão. Os oxidantes ativam as proteases encontradas nos tecidos, que, por sua vez, clivam mais TNF-α dos macrófagos. O TNF-α, então, atrai mais neutrófilos. Quimiotaxia: Os neutrófilos não se movimentam de forma aleatória; ao invés disso, dirigem-se diretamente aos organismos invasores e aos tecidos danificados ao serem atraídos por moléculas quimiotáticas. Estes quimiotáticos são difundidos a partir dos sítios de invasão microbiana e formam um gradiente de concentração. Os neutrófilos se arrastam em direção à área de maiores concentrações — a fonte do material. As células em movimento geram projeções (lamelipódios) em sua porção frontal. Os receptores das moléculas quimiotáticas distribuem-se por toda a superfície do neutrófilo, mas a formação dos lamelipódios é estimulada pela maior concentração de atraentes na porção frontal da célula. Adesão e Opsonização: Quando um neutrófilo encontra uma bactéria, deve “capturá-la”. Isso não ocorre espontaneamente, uma vez que tanto as células quanto as bactérias em suspensão nos fluidos corpóreos costumam apresentar uma carga negativa e, assim, repelem-se mutuamente. A carga eletrostática da bactéria deve ser neutralizada por meio de seu recobrimento por moléculas de carga positiva. As moléculas que recobrem as bactérias dessa forma e promovem a fagocitose são chamadas opsoninas. Os anticorpos, as principais proteínas do sistema imune adaptativo, são, de longe, as opsoninas mais eficazes. Essas moléculas revestem bactérias, ligam-se a receptores nas células fagocíticas e desencadeiam a ingestão dos patógenos. A superfície das células fagocíticas é também recoberta por muitos PRRs que podem interagir com seus ligantes na superfície de agentes infecciosos. Assim, os neutrófilos apresentam receptores de manose ou integrinas que podem se ligar diretamente a bactérias. Outro importante mecanismo que promove o contato entre as bactérias e os neutrófilos é a captura. Normalmente, as bactérias são livres para fluir para longe quando encontram um neutrófilo suspenso no plasma. Se, porém, uma bactéria estiver alojada nos tecidos, ou presa entre um neutrófilo e outra superfície celular, e assim não puder fugir, pode ser rapidamente ingerida. Esse processo é chamado de fagocitose superficial. Neutrófilos podem sofrer uma forma de morte celular denominada NETose como alternativa à apoptose ou necrose, que é quando aprisionam e captura bactéria de forma extracelular. Ingestão: Conforme os neutrófilos avançam em direção à fonte quimiotática, um lamelipódio avança primeiro, seguido pela porção principal da célula. O citosol dos lamelipódios contém uma rede filamentosa de actina e miosina, cujo estado determina a fluidez do citoplasma. Quando um neutrófilo encontra uma bactéria, o lamelipódio flui por cima e ao redor do organismo e há a ligação entre as opsoninas, presentes no microrganismo, e os receptores da superfície do neutrófilo. Quando micróbios revestidos por anticorpos se ligam ao CD32 nos neutrófilos, desencadeiam a polimerização da actina. Assim, o lamelipódio rico em actina se estende a partir da célula para engolfar a partícula (fagocitose do tipo I). Na fagocitose mediada pelo sistema complemento, as partículas entram nos neutrófilos sem formação de Imunidade Inata Medicina Veterinária Imunologia @RebecaWoset lamelipódios, sugerindo que o processo de ingestão é fundamentalmente diferente daquele mediado por anticorpos (fagocitose do tipo II). A ligação destes receptores faz com que uma estrutura parecida com uma taça cubra o organismo. A bactéria é, por fim, atraída para a célula e engolfada, entrando em um vacúolo denominado fagossomo. A facilidade da ingestão depende das propriedades da superfície bacteriana. Destruição: Os neutrófilos destroem as bactérias ingeridas por meio de dois processos distintos. Um envolve a geração de potentes oxidantes — o burst respiratório. O outro envolve a liberação de enzimas líticas e peptídeos antimicrobianos dos grânulos intracelulares. O Burst Oxidativo: Segundos após sua ligação às bactérias, os neutrófilos aumentam seu consumo de oxigênio em 100 vezes. Isso é resultante da ativação de um complexo enzimático presente na superfície celular, chamado NADPH oxidase (NOX). Os subcomponentes do complexo NOX encontram-se separados nas células em repouso, mas, quando um neutrófilo é estimulado por TNF-α ou é exposto a outros estímulos inflamatórios, há formação e ativação do complexo. O NOX ativado converte NADPH a NADP +, liberando elétrons. Uma molécula de oxigênio aceita um elétron doado, gerando ânion superóxido. Enzima Lítica: Quando uma bactéria é ingerida pelo neutrófilo, os grânulos (ou lisossomos) da célula migram através do citoplasma, fundem-se aos fagossomos em maturação e liberam suas enzimas (o vacúolo completo é então chamado fagolisossomo). O aumento da força iônica dentro dos fagossomos libera elastase e catepsina G de suas matrizes proteoglicanas sulfatadas. As enzimas que se acumulam nos fagossomos podem digerir paredes bacterianas e destruir a maioria dos microrganismos.
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