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2014 Poluição e Resíduos sólidos Profª. Priscila Natasha Kinas Prof. Edson Torres Copyright © UNIASSELVI 2014 Elaboração: Profª. Priscila Natasha Kinas Prof. Edson Torres Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 363.73 K51p Kinas, Priscila Natasha Poluição e resíduos sólidos / Priscila Natasha Kinas Indaial : Uniasselvi, 2014. 214 p. : il ISBN 978-85-7830-863-6 1. Poluição. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III APResentAção Caro(a) acadêmico(a)! O Caderno de Estudos de Poluição e Resíduos Sólidos abordará de maneira sistemática e prática os temas relacionados ao sistema de gestão de resíduos industriais, focados na nova política de resíduos sólidos e, também, nas questões relacionadas à poluição atmosférica. De maneira inicial serão apresentados os conceitos fundamentais e legislações ambientais de âmbito federal relacionados a resíduos sólidos dos mais diversos tipos. Lembre-se de que este caderno é uma ferramenta de apoio. Você deverá sempre buscar atualizações nas legislações ambientais, além de verificar o plano diretor de seu munícipio. Na Unidade 2 procuramos informar as tecnologias de armazenagem, transporte, destinação temporária e final dos resíduos, além de apresentar tecnologias alternativas de destinação final de resíduos. É importante lembrar também que para a destinação final alternativa, devem-se observar o fator econômico, ambiental e também, os quesitos legais envolvidos nesta dinâmica. Através do estudo da Unidade 3 será possível desenvolver os conhecimentos acerca dos principais poluentes do ar, compreendendo as características dos gases e partículas das emissões atmosféricas, bem como, os processos de monitoramento destas. Esperamos que você, acadêmico(a), faça uma ótima leitura! Prof. Edson Torres Profª. Priscila Natasha Kinas IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! UNI UNI Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. 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V VI VII sumáRio UNIDADE 1 - GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL ............................................... 1 TÓPICO 1 - GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL ................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 3 2 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL – PANORAMA HISTÓRICO E TENDÊNCIAS ..................................................................................................................................... 4 3 DEFINIÇÕES DE RESÍDUOS .......................................................................................................... 11 4 CLASSIFICAÇÕES DE RESÍDUOS ................................................................................................ 12 5 QUANTO AOS RISCOS POTENCIAIS DE CONTAMINAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ........................................................................................................................................... 14 6 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS .............................................................................................. 17 7 CENTRAL DE RESÍDUOS INDUSTRIAL .................................................................................... 22 RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 24 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 26 TÓPICO 2 - INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS ....................................................................... 27 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 27 2 PANORAMA SOBRE A APLICAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA NA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS ................................................................................... 30 3 LOGÍSTICA REVERSA: OBRIGATORIEDADE PARA RESÍDUOS SÓLIDOS ESPECIAIS ....................................................................................................................... 33 4 LOGÍSTICA REVERSA X LIXO ELETRÔNICO .......................................................................... 35 RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 37 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 39 TÓPICO 3 - LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS .................. 41 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 41 2 RESÍDUOS SÓLIDOS – EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS ............................................... 41 3 RESÍDUOS SÓLIDOS – SERVIÇO DE SAÚDE .......................................................................... 43 4 RESÍDUOS SÓLIDOS – CONSTRUÇÃO CIVIL ......................................................................... 44 5 RESÍDUOS SÓLIDOS – URBANOS ............................................................................................. 49 6 RESÍDUOS SÓLIDOS – RADIOATIVOS .................................................................................... 50 7 RESÍDUOS SÓLIDOS – PILHAS E BATERIAS ........................................................................... 51 8 RESÍDUOS SÓLIDOS – PNEUS ..................................................................................................... 52 9 RESÍDUOS SÓLIDOS – COLETA SELETIVA ............................................................................. 53 LEITURA COMPLEMENTAR .....................................................................................................55 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................................... 58 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 59 UNIDADE 2 - PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ............................ 61 TÓPICO 1 - PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................ 63 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 63 VIII 2 ROTEIROS PARA APRESENTAÇÃO DO PGRS ........................................................................ 63 3 RELAÇÃO DE DOCUMENTOS PARA AUTORIZAÇÃO AMBIENTAL PARA O TRANSPORTE DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................... 65 RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 68 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 69 TÓPICO 2 - FORMAS DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ..................................... 71 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 71 2 ATERRO SANITÁRIO ....................................................................................................................... 72 3 INCINERAÇÃO .................................................................................................................................. 100 3.1 IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS ........................................................................................... 101 3.2 INCINERAÇÕES E A ILUSÃO DO REAPROVEITAMENTO ENERGÉTICO .................... 103 3.3 O ALTO CUSTO DA INCINERAÇÃO ....................................................................................... 104 3.4 IMPACTOS DA INCINERAÇÃO NA SAÚDE E MEIO AMBIENTE .................................... 106 4 COPROCESSAMENTO .................................................................................................................... 107 4.1 TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO DE RESÍDUOS ....................................................... 107 4.2 PRODUTOS E EMISSÕES ............................................................................................................ 109 4.3 MONITORAMENTO .................................................................................................................... 110 5 COMPOSTAGEM ............................................................................................................................... 113 6 RECICLAGEM ..................................................................................................................................... 116 7 IMPACTOS AO MEIO AMBIENTE ................................................................................................ 121 8 GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS .......................................................................................... 123 7.1 PLANILHA DE ASPECTO E IMPACTO AMBIENTAL .......................................................... 123 9 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................ 129 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 131 RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 133 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 137 UNIDADE 3 - POLUENTES DE AR E AS PROPRIEDADES DOS GASES E SUAS PARTÍCULAS ............................................................................................................... 139 TÓPICO 1 - POLUENTES DO AR E AS PROPRIEDADES DOS GASES E SUAS PARTÍCULAS ................................................................................................................................... 141 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 141 2 A ATMOSFERA ................................................................................................................................... 141 3 POLUENTES DO AR ......................................................................................................................... 142 3.1 PRINCIPAIS POLUENTES DO AR ............................................................................................. 142 3.1.1 Particulados .............................................................................................................................. 142 3.1.2 Gasosos ...................................................................................................................................... 143 3.2 POLUENTES INORGÂNICOS .................................................................................................... 145 3.2.1 Monóxido de carbono ............................................................................................................. 145 3.2.2 Óxidos de enxofre .................................................................................................................... 145 3.2.3 Óxidos de nitrogênio ............................................................................................................... 146 4 FONTES DA POLUIÇÃO DO AR ................................................................................................... 146 4.1 FONTES FIXAS .............................................................................................................................. 146 4.2 FONTES MÓVEIS .......................................................................................................................... 147 5 PROBLEMAS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA POLUIÇÃO DO AR .................................. 147 5.1 CHUVA ÁCIDA ............................................................................................................................. 147 5.2 SMOG FOTOQUÍMICO ............................................................................................................... 148 5.3 DEPLEÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO ................................................................................ 148 5.4 EFEITO ESTUFA INTENSIFICADO, AQUECIMENTO GLOBAL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS ................................................................................................................................. 149 IX 6 PROPRIEDADE DAS PARTÍCULAS ............................................................................................. 149 6.1 COMPORTAMENTO DAS PARTÍCULAS ................................................................................ 150 6.2 TAMANHO DA PARTÍCULA ..................................................................................................... 150 6.3 ÁREA SUPERFICIAL .................................................................................................................... 150 6.4 EVAPORAÇÃO E CONDENSAÇÃO ......................................................................................... 150 6.5 DENSIDADE .................................................................................................................................. 151 6.6 ADSORÇÃO ................................................................................................................................... 151 6.7 ADESIVIDADE ..............................................................................................................................151 6.8 CARGA ELETROSTÁTICA ......................................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 152 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 153 TÓPICO 2 - PARÂMETROS E MODELOS DE QUALIDADE DO AR E OS MÉTODOS DE MONITORAMENTO DE EMISSÕES .................................... 155 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 155 2 QUALIDADE DO AR ........................................................................................................................ 155 3 INDICADORES DA QUALIDADE DO AR .................................................................................. 156 4 PADRÕES DA QUALIDADE DO AR ............................................................................................ 157 5 ÍNDICE DA QUALIDADE DO AR ................................................................................................. 159 6 MONITORAMENTO DA QUALIDADE DO AR ........................................................................ 160 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................. 161 RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 163 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 164 TÓPICO 3 - MÉTODOS DIRETOS E INDIRETOS DE CONTROLE DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ............................................................................................................... 165 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 165 2 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS .............................................................................................. 165 2.1 MEDIDAS INDIRETAS ................................................................................................................ 165 2.2 MEDIDAS DIRETAS ..................................................................................................................... 166 3 CLASSIFICAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE CONTROLE DE POLUIÇÃO DO AR (ECP) ................................................................................................................ 167 3.1 TIPOS DE EQUIPAMENTOS DE CONTROLE ........................................................................ 167 3.1.1 Filtro manga .............................................................................................................................. 168 3.1.2 Coletores gravitacionais .......................................................................................................... 170 3.1.3 Lavadores de gás ...................................................................................................................... 170 3.1.4 Ciclones ..................................................................................................................................... 173 3.1.5 Pós-queimadores ...................................................................................................................... 174 3.1.6 Precipitadores eletrostáticos ................................................................................................... 175 3.1.7 Equipamentos de adsorção .................................................................................................... 177 3.1.8 Condensadores ......................................................................................................................... 180 3.1.9 Catalisador ................................................................................................................................ 180 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................................... 182 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 183 TÓPICO 4 - PRINCÍPIOS DE METEOROLOGIA E DISPERSÃO ATMOSFÉRICA ............... 185 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 185 2 METEOROLOGIA .............................................................................................................................. 185 3 CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS .............................................................................................. 188 4 CONCENTRAÇÃO DE POLUENTES ............................................................................................ 191 4.1 TOPOGRAFIA LOCAL ................................................................................................................ 191 4.2 INVERSÃO TÉRMICA ................................................................................................................. 193 X 5 MODELOS DE DISPERSÃO ............................................................................................................ 194 5.1 CLASSES DE MODELOS DE DISPERSÃO ............................................................................... 197 RESUMO DO TÓPICO 4 ...................................................................................................................... 199 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 200 TÓPICO 5 - PROBLEMAS DA POLUIÇÃO DO AR E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE, MEIO AMBIENTE E ECONOMIA ............................................................... 201 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 201 2 DANOS CAUSADOS PELA POLUIÇÃO DO AR ....................................................................... 201 2.1 DANOS À SAÚDE ........................................................................................................................ 202 2.2 DANOS AO MEIO AMBIENTE .................................................................................................. 205 2.3 DANOS À ECONOMIA ............................................................................................................... 206 RESUMO DO TÓPICO 5 ...................................................................................................................... 208 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 209 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 211 1 UNIDADE 1 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Com esta unidade, você será capaz de: • Conceituar resíduos sólidos; • Caracterizar suas fontes; • Conhecer as pricipais ligações aplicáveis em âmbito federal ao que se refe- re a resíduos sólidos. Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que no final de cada um deles, você encontrará atividades que favorecerão a fixação dos assuntos apresentados. Bons estudos! TÓPICO 1 – GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS TÓPICO 2 – INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO A geração deresíduos sólidos na sociedade tornou-se um problema de grande relevância, com reflexos que extrapolam a área ambiental, visto que a ausência de sustentabilidade do ciclo linear de produção e descarte de materiais esgota as reservas naturais de forma mais rápida e causam a degradação do meio ambiente. Estes reflexos da ausência de um criterioso planejamento de ações para o gerenciamento de resíduos sólidos impactam na área social, que está integrada aos aspectos ambientais do planeta. Os estudos desta temática atualmente concluem que as questões ambientais envolvem três fatores principais: as influências políticas (relativas à legislação e obrigatoriedade na gestão de resíduos sólidos), influências econômicas (custos de produção e, posteriormente, de tratamento de resíduos) e influências ideológicas (educação, conscientização e atitudes). A revolução industrial conduziu a humanidade, por um lado, na direção de benefícios, facilidades e conforto. Por outro lado, alterou de forma significativa e cada vez mais intensa a relação entre homem e natureza. O crescimento populacional resultou na necessidade de mais recursos e produtos manufaturados. Para as atividades industriais, a demanda por recursos energéticos, insumos e matérias-primas levaram a sociedade a buscar estas alternativas na natureza. Consequentemente, a geração de resíduos de processo e produtos utilizados, que não são dispostos ou tratados de forma correta, contribuiu maciçamente nas alterações ambientais (GONÇALVES, 2005). Historicamente, a preocupação com o impacto das atividades industriais e da ocupação urbana descontrolada no meio ambiente foi negligenciada. A partir da década de 1970, é que a população percebeu que os impactos destas atividades são graves em nosso planeta e que é necessário um planejamento de ações e pensamentos. Para que se inicie uma mudança de paradigmas na busca do equilíbrio entre atividades humanas e preservação ambiental, e assim, garantir para as gerações futuras as condições de sobrevivência em uma sociedade sustentável, é primordial que conceitos inerentes à geração e tratamento de resíduos sólidos UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 4 (sejam eles urbanos ou industriais) sejam compreendidos e aplicados pelos profissionais da área de gestão ambiental, que serão os condutores e principais atuadores nesta mudança de pensamento e consequentemente mudança de atitudes (GONÇALVES, 2005). Caro(a) acadêmico(a)! Esperamos que você adquira conhecimentos teóricos que possibilitem a aplicação destes em seu campo de atuação, para que você, futuro profissional gestor ambiental, tenha a capacidade de promover e ser um contribuinte para a sustentabilidade das atividades humanas (industrial e urbana). O termo “Gestão Ambiental” contempla o ato de planejar, gerir, atuar, administrar e negociar todas as atividades inerentes às questões ambientais específicas. 2 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL – PANORAMA HISTÓRICO E TENDÊNCIAS No Brasil, o primeiro serviço regular preocupado com a limpeza urbana foi implantado em 1880, na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império. Foi assinado o Decreto nº 3024, aprovando o contrato de "limpeza e irrigação" da cidade, executado por Aleixo Gary e Luciano Francisco Gary. O termo “gari” origina-se do sobrenome destes personagens, para designar os trabalhadores da limpeza urbana em muitas cidades brasileiras. A definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para “lixo” ou “resíduos sólidos” é: “restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo-se apresentar no estado sólido, semissólido ou líquido, desde que não seja passível de tratamento convencional”. NOTA NOTA NOTA TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 5 Com o passar das décadas e com a evolução nos processos industriais e o crescimento da população, os serviços de limpeza urbana e gerenciamento de resíduos industriais também evoluíram, embora não acompanhando o desenvolvimento destas duas áreas. Atualmente, a situação da gestão dos resíduos sólidos é um assunto muito específico em cada cidade brasileira, devido aos diversos programas e necessidades de cada região geográfica, influenciada pelos fatores já comentados (políticos, econômicos e ideológicos). Entretanto, a situação de forma geral é preocupante e necessita de muitos progressos. Considerada parte do saneamento básico, a gestão dos resíduos sólidos não tem sido tratada pelo poder público com a importância que merece. Com isso, comprometem-se os recursos naturais (solo e os recursos hídricos). A inter-relação dos conceitos de meio ambiente, saúde e saneamento é muito evidente hoje, reforçando a necessidade de integração das ações desses setores na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na segurança e sustentabilidade dos processos industriais. Como exemplo, atualmente mais de 70% dos municípios brasileiros possuem menos de 20 mil habitantes, e a concentração urbana da população no país ultrapassa 80%. Isso reforça as preocupações com os problemas ambientais urbanos e, entre estes, o gerenciamento dos resíduos sólidos, cuja atribuição pertence à esfera da administração pública local (SIQUEIRA, 2001). No Brasil é competência do município a gestão dos resíduos sólidos produzidos em seu território (urbanos e da área de saúde), com exceção dos resíduos de natureza industrial. O município tem competência para estabelecer o uso do solo em seu território, assim, é ele quem emite as licenças para qualquer construção e o alvará de localização para o funcionamento de qualquer atividade, que são indispensáveis para a localização, construção, instalação, ampliação e operação de qualquer empreendimento em seu território. Portanto, o município pode perfeitamente estabelecer parâmetros ambientais para a concessão ou não destas licenças e alvará. A exigência de licenças ambientais municipais é amparada pela lei federal (SIQUEIRA, 2001). A geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil é cerca de 0,9 kg/hab./ dia. Grande parte dos resíduos gerados no país não é adequadamente coletada, contribuindo para a poluição de habitações (principalmente nas áreas de baixa renda) logradouros públicos, terrenos baldios, encostas e cursos d'água. Algumas cidades, especialmente nas regiões Sul e Sudeste alcançam índices de produção de resíduos mais elevados, podendo chegar a 1,3kg/hab./ dia, considerando todos os resíduos manipulados pelos serviços de limpeza urbana (domiciliares, comerciais, de limpeza de logradouros, de serviços de saúde e entulhos). De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 1989 (Pesquisa Nacional do Saneamento Básico – PNSB), os domicílios particulares permanentes urbanos representavam 78,1% do total das moradias brasileiras; desses, 80,0% tinham seu lixo recolhido direta ou indiretamente pelos serviços municipais de coleta de lixo, restando, portanto, 19,9% dos domicílios fora do atendimento dos serviços municipais UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 6 FONTE: Monteiro et al. (2001, p. 2) Integram o sistema de limpeza urbana as etapas de geração, acondicionamento, coleta, transporte, transferência, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos, além da limpeza de logradouros públicos. A coleta de lixo é o segmento que mais evoluiu no sistema de limpeza urbana e o que abrange a maior parcela de atendimento junto à população. Este fato é comprovado pela melhora na eficiência da logística integrada e nos cronogramas de recolhimento de lixo e a uma demanda maior dos recursos municipais destinados a este serviço. Esta evolução constante se deu muito devido à ação da população e pelo comércio (mercado logístico) para que se execute uma coleta regular. O simples fato de uma cidade apresentar ruas e calçadas limpas, por si só, já é um grande atrativo para a própria população e visitantes.É uma das formas de gerar receitas para o município a partir de um investimento em serviços básicos. Entre os benefícios mensuráveis podemos citar o incremento em atividades turísticas e redução nas medidas de remediação decorrentes da falta de política de gestão dos resíduos urbanos. Apesar do avanço na gestão de resíduos urbanos, muitas vezes, ocorre um efeito seletivo sobre o sistema quando a administração municipal tem meios para oferecer o serviço a toda população. Neste caso, os setores comerciais são priorizados, as unidades de saúde e o atendimento à população de renda mais alta. A cobertura dos serviços básicos de gerenciamento de resíduos é ainda muito pautada em medidas alternativas e paliativas, principalmente em áreas deficientes em infraestrutura e com população carente. Em grande parte das cidades brasileiras, o sistema de gerenciamento das atividades de saneamento ambiental urbano carece de melhorias. Apenas os municípios maiores contam, por exemplo, com serviços regulares de limpeza NOTA de coleta. As diferenças regionais apontam para as regiões Sul e Sudeste como as que detêm a maior cobertura de atendimento de seus domicílios, com 87,0% e 86,6%, respectivamente, enquanto as regiões Norte e Nordeste têm apenas 54,4% e 44,6%, respectivamente, de domicílios atendidos por tal serviço. Ainda de acordo com a PNSB, alguns dados evidenciam a dimensão da gravidade da situação do setor no país: dos então 4.425 municípios brasileiros no ano de 1989, 3.216 possuíam serviços de coleta apenas no distrito-sede, enquanto 280 não dispunham de qualquer tipo de atendimento. TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 7 em toda a zona urbana, através de estudos preliminares e cronogramas e roteiros determinados. Em municípios com menores populações ou áreas urbanas menores, o serviço de saneamento urbano geralmente prioriza apenas o recolhimento de lixo em ruas pavimentadas ou dos setores comerciais da cidade. Estes serviços comumente se concentram em áreas centrais urbanas. Também são utilizadas equipes de trabalhadores com roteiros de limpeza que atendem as prioridades do município, executando primordialmente serviços de raspagem, capina e varrição. Em consonância com a problemática da coleta de lixo, está o problema da disposição final deste lixo. Considerando apenas os resíduos urbanos, as ações e políticas por vezes implantadas pela administração pública referem-se apenas a postergar o tratamento e retirar este resíduo das áreas urbanas, através de aterros ou depósitos de lixos em áreas adjacentes ao perímetro urbano municipal. Muitas áreas se tornam receptoras destes resíduos, como por exemplo, encostas de florestas, manguezais, cursos de rios, baías e vales. Pesquisas apontam que cerca de 80% os municípios do Brasil dispõem seus resíduos em locais a céu aberto, em cursos d'água ou em áreas ambientalmente protegidas. Em conjunto a este panorama, inclui-se a presença de catadores (inclusive crianças), o que denuncia os problemas sociais que a carência em uma gestão adequada pode acarretar. A participação de catadores na segregação informal do lixo, seja nas ruas ou nos vazadouros e aterros, é o ponto mais agudo e visível da relação do lixo com a questão social. Trata-se do elo perfeito entre o inservível – lixo – e a população marginalizada da sociedade que, no lixo, identifica o objeto a ser trabalhado na condução de sua estratégia de sobrevivência. Outra relação delicada encontra-se na imagem do profissional que atua diretamente nas atividades operacionais do sistema. Embora a relação do profissional com o objeto lixo tenha evoluído nas últimas décadas, o gari ainda convive com o estigma gerado pelo lixo de exclusão de um convívio harmônico na sociedade. Em outras palavras, a relação social do profissional dessa área se vê abalada pela associação do objeto de suas atividades com o inservível, o que o coloca como elemento marginalizado no convívio social. Gerenciar o lixo de forma integrada demanda trabalhar integralmente os aspectos sociais com o planejamento das ações técnicas e operacionais do sistema de limpeza urbana. FONTE: Monteiro et al. (2001, p. 3-4) Os resíduos provenientes dos serviços de saúde também merecem idêntica preocupação. A discussão sobre o gerenciamento e tratamento destes resíduos ganhou consistência mais recentemente. Algumas prefeituras já implantaram sistemas específicos para a coleta destes materiais, porém, mais importante do que armazenar e dispor em local adequado é importante a correta manipulação dos resíduos dentro das unidades de saúde, separar resíduos com potencial de contaminação dos considerados lixo comum (SIQUEIRA, 2001). UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 8 Muitas alternativas já são implantadas para a destinação destes materiais, porém a falta de capacitação e consenso entre as atividades prejudica a evolução neste segmento. A grande parte dos resíduos da área de saúde ainda é disponibilizada em lixões, trazendo riscos aos manipuladores e não aproveitando o potencial atrativo de reciclagem destes materiais. A partir da primeira década do século XXI, vêm se tornando cada vez mais comum no Brasil as unidades de compostagem e reciclagem. O fomento público nas pesquisas e estudos (da iniciativa privada e também em universidades) contribui para o surgimento de novas alternativas. Estas tecnologias mostram-se promissoras, embora enfrentem problemas de aplicação prática, principalmente os relacionados ao aumento da escala. Muitas unidades que foram instaladas estão hoje paralisadas e sucateadas, por dificuldade dos municípios em operá-las e mantê-las economicamente viáveis (SIQUEIRA, 2001). Um exemplo disto são as usinas de incineração, utilizadas exclusivamente para incineração de resíduos de serviços de saúde e de aeroportos. Unidades deste gênero, geralmente, não atendem aos requisitos mínimos ambientais da legislação. Outras unidades, principalmente as de tratamento térmico ou termoquímico de resíduos, vêm sendo instaladas em algumas cidades brasileiras, mas os custos de investimento e operacionais ainda são muito elevados. Em se tratando do gerenciamento e da disposição final dos resíduos industriais, uma temática menos conhecida e discutida nos meios de divulgação, porém não menos importante que os resíduos urbanos, a necessidade da atuação da gestão ambiental é certamente maior. No Brasil, a responsabilidade não cabe ao poder público na correta destinação destes tipos de resíduos, e sim ao gerador. O poder público municipal tem a função de fiscalização. Esta interação poder público/poder privado se dá através de órgãos de controle ambiental, que delega aos geradores a obrigação de sistemas de manuseio, de estocagem, de transporte e de disposição final adequadas. O conceito de reciclagem e reaproveitamento, em processos industriais, ganha importância devido aos benefícios que esta política gera. Atualmente, a logística reversa aplicada na indústria é uma excelente alternativa para reaproveitar insumos e minimizar a dependência de fontes energéticas tradicionais para condução das atividades de produção. O estudo da cadeia produtiva aplica-se para estabelecer metas e aplicações viáveis deste conceito (SIQUEIRA, 2001). A tendência percebida atualmente no gerenciamento municipal dos serviços de limpeza urbana em cidades de médio e grande porte é a privatização dos serviços. Este modelo cada vez mais adotado no Brasil e que significa a terceirização dos serviços que são de obrigatoriedade da administração municipal. Essa modalidade de prestação de serviços se dá através da contratação através de licitações públicas, pela municipalidade, de empresas privadas, que passam a executar, em todos os níveis estabelecidos em contrato e com seus TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 9 próprios meios (equipamentos e pessoal), a coleta, a limpeza, o tratamento e a destinação final dos resíduos (SIQUEIRA, 2001). É também recorrentea contratação de serviços da limpeza urbana através de cooperativas ou associados a microempresas. Esta alternativa é muito aceitável em casos de municípios com políticas eficientes de geração de renda e inserção no mercado de trabalho de pessoas com baixa qualificação acadêmica. Como a gestão de resíduos é uma atividade essencialmente municipal e as atividades que a compõem se restringem ao território urbano, não são muito comuns no Brasil os consórcios de operação, exceto quando se trata de destinação final em aterros (SIQUEIRA, 2001). Um exemplo deste tipo de operação se dá em municípios com áreas mais adequadas para a instalação de unidades operacionais, que se consorciam com cidades vizinhas para receber os seus resíduos, negociando algumas vantagens por serem os hospedeiros, tais como isenção do custo de vazamento ou alguma compensação urbanística, custeada pelos outros consorciados. A sustentabilidade econômica dos serviços de limpeza urbana, assim como qualquer atividade produtiva que requer gerência de planejamento, é um importante fator para a garantia de sua qualidade. Na maioria dos municípios brasileiros, os serviços de limpeza urbana são remunerados. Parte destes recursos provém de uma taxa cobrada ao contribuinte, geralmente no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e tendo a mesma base de cálculo deste imposto, ou seja, a área do imóvel (área construída ou área do terreno). Como não pode haver mais de um tributo com a mesma base de cálculo, essa taxa já foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, e assim sua cobrança vem sendo contestada em muitos municípios, que passam a não ter como arrecadar recursos para cobertura dos gastos dos serviços, que podem chegar, algumas vezes, a mais de 15% do orçamento municipal (BRASIL, 2010). CURIOSIDADE: No Rio de Janeiro, a Companhia de Limpeza Urbana da Cidade do Rio de Janeiro (COMLURB), empresa de economia mista encarregada da limpeza urbana do Município, praticou, até 1980, a cobrança de uma tarifa de coleta de lixo (TCL), recolhida diretamente aos seus cofres. O Supremo Tribunal Federal, entretanto, decidiu que aquele serviço, por sua ligação com a preservação da saúde pública, era um serviço público essencial, não podendo, portanto, ser remunerado através de tarifa (preços públicos), mas sim por meio de taxas e impostos. No ano 2000, a Prefeitura do Rio de Janeiro extinguiu a taxa de limpeza urbana e criou a taxa de coleta de lixo, tendo como base de cálculo a produção de lixo per capita em cada bairro da cidade, e também o uso e a localização do imóvel. Conseguiu-se, com a aplicação desses fatores, um diferencial de sete vezes entre a taxa mais baixa e a mais alta cobrada no Município. (IBGE 2010). UNI UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 10 Uma conclusão deste tipo de política aplicada ao gerenciamento de resíduos urbanos é a carência de recursos disponíveis para os serviços de limpeza urbana e a necessidade de fomento através de outras fontes públicas (Tesouro Municipal) que assume o compromisso com verbas orçamentárias de outros setores essenciais, como saúde e educação, para a execução dos serviços de coleta, limpeza e destinação final do lixo. Nesta realidade é criado um círculo vicioso difícil de ser rompido: a qualidade dos serviços prestados cai, a limpeza urbana é mal realizada, pois não dispõe dos recursos necessários e capacitação adequada. A população acaba sofrendo com o aumento em taxas e impostos. Nos últimos anos, os governos, tanto na esfera federal quanto estadual, têm aplicado mais recursos e criado programas e linhas de crédito para municípios. Isto tem acompanhado o fortalecimento em campanhas de conscientização sobre a importância da preservação ambiental relacionada ao tratamento de resíduos e o rigor na aplicação de sanções penais pelos órgãos de controle ambiental. O profissional atuante na gestão ambiental é uma peça fundamental na condução das atividades discutidas sobre a realidade apresentada. Cabe a ele ter conhecimento para avaliação das alternativas disponíveis e aplicáveis à sua realidade. Somos conhecedores da grande capacidade que nossa sociedade desenvolveu para contribuição na geração de resíduos. Sabemos que o aumento desordenado da população humana é uma grave problemática a ser levada em consideração nas populações humanas. A geração de resíduos ocorre no desenvolvimento social, tecnológico e cultural. É importante visualizar que em toda perda ou eficiência de matéria-prima ocorrerá um desequilíbrio de massa que gerará como consequência o resíduo. Devemos levar em consideração que os resíduos sólidos são os potenciais poluidores de água, solo e ar, representando uma grande variação de contaminantes, não só para a vida humana, mas também para a vida vegetal e animal. A maneira inadequada de realizar o manejo destas perdas denominadas resíduos será sempre uma ameaça, principalmente social, pois é uma agravante fundamental na saúde pública, fator este que compromete a qualidade de vida de todas as sociedades humanas. Caso o resíduo não receba a destinação final adequada pode-se considerar os seguintes aspectos de contaminação: Poluição do solo: alteração de suas características originais, tais como PH, compactação do solo, teor de matéria orgânica, entre outras características físicas e químicas. TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 11 Poluição da água: alteração da vida aquática através da percolação de lixiviado gerado pela matéria orgânica, ou até mesmo pela disposição em corpos hídricos de resíduos sólidos, podendo alterar padrões de potabilidade. Poluição do ar: a formação de gases naturais no processo de decomposição dos resíduos, podendo ocasionar migração de gases, doenças respiratórias ou até explosões. Visto a importância de se desenvolver bem um PGRS ou PGRSI – Plano Gerencial de Resíduos ou Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais – ocorre a necessidade de explanação sobre alguns conceitos e fundamentações teóricas que serão apresentados nesta unidade com base na Lei nº 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010). Lembrando que este capítulo tem como finalidade proporcionar conhecimento técnico de rápida visualização para que, nas unidades seguintes, sejam trabalhadas questões mais intensas como legislações, estudos de caso e modelos de gerenciamento de resíduos industriais. 3 DEFINIÇÕES DE RESÍDUOS De acordo com o dicionário HOUAISS (2009, p. 1651), “resíduo é aquilo que resta de qualquer substância, resto”. Podemos incluir como base a definição da enciclopédia Larousse Cultural que define resíduo como: o que resta, o que resta de substâncias submetidas à ação de agentes. A OMS (Organização Mundial da Saúde) define “resíduo” como qualquer coisa que seu proprietário não quer mais e que não possui valor comercial. Já a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através da NBR 10.004 (ABNT, 2004, p. 1), define resíduos sólidos como: Resíduos nos estados sólidos e semissólidos, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nessa definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. Podemos incluir ainda a definição do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM, 2004, p. 25) que define resíduos sólidos como: “Todo material sólido ou semissólido indesejável e que necessita ser removido por ter sido considerado inútil por quem o descarta em qualquer recipiente destinado a este ato.” UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 12 Tchobanoglous e Theisen(1993, p. xxi) incluíram os resíduos de origem animal em sua definição: Resíduos sólidos são todos os resíduos resultantes da atividade humana e animal, normalmente sólidos, que são descartados como inúteis ou indesejados. Devido as suas propriedades intrínsecas são frequentemente reutilizáveis e podem ser considerados como recurso em outro contexto. Porém, a mais nova definição foi tratada na Lei n° 12.305 de 2 de agosto de 2010, que instituiu a PNRS, resume os conceitos anteriormente apresentados da seguinte forma: Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010, p. 1). 4 CLASSIFICAÇÕES DE RESÍDUOS A classificação de resíduos sólidos e semissólidos industriais é regida pela NBR 10004/2004. Esta norma tem como principal objetivo padronizar a classificação de resíduos industriais fortalecendo sua destinação adequada. Segundo a NBR 10004/2004, a sua classificação se divide em duas classes: • Classe I – Resíduos perigosos • Classe II – Resíduos não perigosos • Classe I – Resíduos Perigosos São todos aqueles que podem ocasionar danos à saúde pública, fauna e flora. Devido suas propriedades físico-químicas ou infectocontagiosas podem desencadear riscos comprometendo o meio ambiente e a saúde humana e animal. Todos os resíduos perigosos apresentam pelo menos uma das seguintes características: corrosividade, patogenicidade, inflamabilidade, toxicidade ou reatividade. Estas características estão descritas na NBR 10004. Devemos ainda levar em consideração os anexos A e B da NBR 10004. TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 13 Os mais velhos resíduos do mundo foram encontrados na África do Sul e têm cerca de 140 mil anos de idade. Esse lixo milenar – que contém ossos, carvão, fezes e restos de cerâmica – oferece informações preciosas sobre os hábitos de vida do homem antigo. Disponível em: <http://www.resol.com.br/curiosidades/curiosidades2.php?id=2488>. • Classe II – Resíduos não perigosos São todos aqueles que não apresentam riscos ao meio ambiente ou ameaçam a saúde pública, tais como: papel, papelão, plástico e sucatas ferrosas não contaminadas. Os resíduos não perigosos possuem uma subdivisão, ficando assim estabelecida: • II A – NÃO INERTES • II B – INERTES Os resíduos II A – NÃO INERTES são todos aqueles que não estão enquadrados na classe I ou IIB. Podem possuir propriedades de biodegrabilidade, solubilidade ou combustibilidade em água. Os resíduos II B – INERTES são qualquer resíduo que após avaliados em laboratório pelas normas NBR 10006 ou 10007 não apresentaram em nenhum dos seus componentes solubilizados a concentração recomendada para os padrões de potabilidade de água, levando em consideração as seguintes análises químicas: cor, turbidez, ph, sabor e dureza. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010) classifica os resíduos da seguinte maneira: • Resíduos perigosos: são aqueles que em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica. • Resíduos sólidos não perigosos: aqueles não enquadrados como resíduos sólidos perigosos. UNI UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 14 5 QUANTO AOS RISCOS POTENCIAIS DE CONTAMINAÇÃO DO MEIO AMBIENTE Todo o resíduo gerado está direcionado a algum processo de produção ou utilização e transformação de algum bem. Atualmente, muitos dos resíduos sólidos produzidos são compostos de materiais recicláveis, o que proporciona um aproveitamento futuro destes materiais, ocasionando um ganho no processo de beneficiamento e retirado de matéria-prima e consumo de energias não renováveis como petróleo. Segundo Baasch (1995), a origem do resíduo é o principal componente para a sua caracterização. Segundo Monteiro et al. (2001), quanto à natureza ou à origem, podemos classificar os principais grupos geradores em: • Resíduos sólidos urbanos: materiais recicláveis (metais, aço, papel, plástico, vidro etc.) e matéria orgânica. • Resíduos da construção civil: gerados nas construções, reformas, reparos e demolições, bem como na elaboração de terrenos para obras. • Resíduos com logística reversa obrigatória – resíduos sólidos especiais: pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens, produtos eletroeletrônicos e seus componentes entre outros a serem incluídos. • Resíduos industriais: gerados nos processos produtivos e instalações industriais. Normalmente, grande parte são resíduos de alta periculosidade. • Resíduos sólidos do transporte aéreo e aquaviário: gerados pelos serviços de transportes, de naturezas diversas, como ferragens, resíduos de cozinha, material de escritório, lâmpadas, pilhas etc. • Resíduos sólidos do transporte rodoviário e ferroviário: gerados pelos serviços de transportes, acrescidos de resíduos sépticos que podem conter organismos patogênicos. • Resíduos de serviços de saúde: gerados em qualquer serviço de saúde. • Resíduos sólidos de mineração: gerados em qualquer atividade de mineração. • Resíduos sólidos agrossilvopastoris (orgânicos e inorgânicos): dejetos da criação de animais, resíduos associados a culturas da agroindústria, bem como da silvicultura, embalagens de agrotóxicos, fertilizantes e insumos. TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 15 FIGURA 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS SEGUNDO A FONTE GERADORA FONTE: Cabral (2013, p.10) • Características físicas Depois da classificação da origem do resíduo, é necessário averiguar as suas características físicas, pois elas revelam dados importantes sobre os resíduos, tais como: processo de compressão do resíduo, carregamento, acondicionamento temporário e final e destinação final (CABRAL, 2013). São consideradas características físicas: • Teor de umidade. • Peso específico. • Composição gravimétrica. • Compressividade. Entende se por teor de umidade a quantidade de líquidos ou fluídos presentes no resíduo. Esta característica tem influência determinante, especialmente nos processos de tratamento e destinação do lixo. A composição gravimétrica demonstra o percentual de cada elemento em relação ao peso total do resíduo. UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 16 O peso específico é o peso dos resíduos em função do volume por eles ocupados. A unidade de medida utilizada é kg/m3. A determinação do peso específico é fundamental para o dimensionamento de equipamentos e instalações utilizados para acondicionamento, transporte intermediário e final dos resíduos (IBAM, 2004). Compressividade ou grau de compactação indica a redução de volume que uma massa de resíduo pode sofrer, quando submetida a uma determinada pressão. • Características químicas As características químicas de um resíduo influenciam diretamente no seu tratamento final, pois através destas características podemos definir sua destinação final. A destinação final de um resíduo pode ser: • Reciclagem. • Incineração. • Coprocessamento. • Aterro sanitário. • Aterro industrial. • Compostagem. Cada subitem de destinação final será abordado na Unidade 3 deste Caderno de Estudos. Dentre as características químicas mais importantes podemos selecionar: • Poder calorífico. • Potencial de hidrogênio. • Teor de cinzas. • Relação de carbono e hidrogênio. Através do poder calorífico sabemos a capacidade potencial de um materialdesprender determinada quantidade de calor quando submetido à queima. O potencial de hidrogênio apresenta o teor de acidez ou alcalinidade do material. Teores de cinzas representam a quantidade de matéria orgânica, carbono, nitrogênio, potássio, cálcio, fósforo presentes no resíduo. A relação de carbono e nitrogênio ou relação C/N pode determinar um coeficiente de decomposição de matéria orgânica. Este coeficiente é de suma importância no tratamento final de resíduos. • Características biológicas TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 17 As características biológicas de um resíduo estão relacionadas à formação de populações microbianas e de agentes patogênicos. A destinação final de resíduos sólidos também depende da análise das características biológicas de cada resíduo. 6 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS Segundo Leite (1997 apud CABRAL, 2013, p. 25), “o conceito de gestão de resíduos sólidos abrange atividades referentes à tomada de decisões estratégicas e à organização do setor para esse fim, envolvendo instituições, políticas, instrumentos e meios”. Já o termo gerenciamento de resíduos sólidos “refere-se aos aspectos tecnológicos e operacionais da questão, envolvendo fatores administrativos, gerenciais, econômicos, ambientais e de desempenho: produtividade e qualidade”. Tendo em vista a descrição de Leite (1997), o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos deverá apontar e descrever as ações relativas ao gerenciamento de resíduos sólidos, buscando minimizar a geração de resíduos na fonte, adequar a segregação na origem, controlar e reduzir riscos ao meio ambiente e assegurar o correto manuseio e destinação ou disposição final em conformidade com a legislação vigente. Os principais pontos operacionais a serem abordados em um PGRS – Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos são: • Tipologia do resíduo: • Nome completo do resíduo • Categoria a que pertence • Área geradora • Segregação • Tipo de coletor • Acondicionamento nas áreas • Armazenagem intermediária • Manuseio • Identificação • Armazenamento temporário • Destinação final A identificação do resíduo com sua nomenclatura é primordial para que ocorra o Plano de Gerenciamento de Resíduos. Importante normatizar a nomenclatura de acordo com NBR 10004, pois facilitará a identificação do resíduo. A etiqueta de identificação poderá observar o exemplo a seguir: UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 18 FIGURA 2 – ETIQUETA DE IDENTIFICAÇÃO DE RESÍDUOS FONTE: NBR 10004/2004 • Categoria a que pertence A identificação de a qual categoria o resíduo pertence é importante para todos os processos do PGRS, pois é através dessa classificação que se realiza todo o gerenciamento, desde o acondicionamento até a destinação final. Recomenda-se que estes resíduos sejam separados dos demais na central temporária de acondicionamento devido suas características físicas, químicas e biológicas. Ao etiquetar estes produtos recomenda-se possuir todos os dados possíveis para a sua identificação. Verificar modelo de etiqueta a seguir: FIGURA 3 – ETIQUETA DE IDENTIFICAÇÃO DE CATEGORIA FONTE: NBR 10004/2004 • Área geradora A área geradora deve obter pleno controle da geração de seus resíduos. O controle da geração não é só importante para quantificar a geração, mas para quantificar o quanto ocorre à necessidade de redução na geração de resíduos. A área geradora deve promover educação ambiental visando à diminuição na geração dos resíduos. TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 19 Uma maneira de obter resultados na diminuição na geração de resíduos é fazer controle mensal de saída de resíduos para venda e resíduos depositados em aterro industriais. • Manuseio O manuseio de resíduos CLASSE I ou II só deve ocorrer com a utilização de EPIs adequados conforme a periculosidade. O contato com os resíduos deve ser evitado devido suas características física, químicas e biológicas. Antes de iniciar o manuseio devem-se seguir alguns procedimentos, tais como: • Observar a etiqueta de identificação dos resíduos. • Verificar a compatibilidade química entre os diferentes tipos de resíduos, pois caso este detalhe não seja verificado podem ocorrer reações indesejadas. Caso o resíduo obtenha a FISPQ (Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos), deverão sempre ser seguidos os procedimentos recomendados para manuseio, transporte, acondicionamento e destinação final. • Segregação Segregação é a fase na qual todos os resíduos devem passar antes de serem destinados a sua disposição final. A segregação deve ocorrer conforme a NBR10004 e devem receber a etiqueta de identificação conforme mostrado na figura anterior. A segregação tem papel fundamental no gerenciamento de resíduos, pois esta garante a separação por tipologia e o acondicionamento adequado regido pela NBR 12235, que estabelece padrões de acondicionamento conforme suas características físico-químicas. • Tipo de coletor O tipo de coletor é uma das partes fundamentais de um gerenciamento de resíduos industriais, pois é através dele que o resíduo será acondicionado evitando que o mesmo seja disperso no ambiente proporcionando a segurança á saúde pública ou ao meio ambiente. O tipo de coletor deve primeiramente obedecer à Resolução CONAMA nº 275/01, que define as cores respectivas para cada resíduo, facilitando a segregação. Se a segregação é adequada na área geradora, o resíduo gerado terá um aumento de qualidade, ou seja, a quantidade recuperada ou reciclada será maior e a destinação final ou volume a ser tratado será menor. Resolução CONAMA nº 275/01 estabelece o seguinte padrão de cor para a segregação de resíduos: UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 20 FIGURA 4 – PADRÃO DE COR PARA A SEGREGAÇÃO DE RESÍDUOS FONTE: Disponível em: <http://www.tekplast.com.br/cores_da_coleta_seletiva. html>. Acesso em: 4 abr. 2013. A maior taxa oficial de reciclagem hoje pertence à Alemanha: 48%, na média de todos os materiais. Disponível em: <http : / /www.deecc .ufc .br /Download/Gestao_de_Res iduos_Sol idos_PGTGA/ CONSIDERACOES_SOBRE_RESIDUOS_SOLIDOS.pdf>. • Acondicionamento Acondicionar resíduos é a maneira de prepará-los para a coleta sanitariamente adequada. A importância do acondicionamento adequado está em: • Evitar acidentes. • Evitar a proliferação de vetores. • Minimizar o impacto visual e olfativo. No que se refere ao acondicionamento temporário do resíduo, seja ele para a reciclagem ou destinação final, vai depender da sua tipologia. UNI TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 21 Para acondicionamento temporário podem-se utilizar tambores, tanques, contêineres e a granel. O armazenamento em contêineres, tambores, tanques e a granel pode ser utilizado desde que sejam atendidas as seguintes condicionantes: Armazenamento em contêineres e/ou tambores Deve-se observar se está em boas condições de uso, não contendo ferrugem e defeitos estruturais (amassados, rompimentos ou perfurações), sempre fechados, dispostos em locais que possam ser avaliados visivelmente. Não pode ser realizada nenhuma alteração estrutural conforme NBR 12325. As inspeções devem ocorrer diariamente e sempre estar dispostas dentro de bacia de contenção para evitar contaminação de solo e água. Os contêineres ou tambores só poderão armazenar produtos caso estes já tenham sofrido processo de limpeza não proporcionando contato com outras substâncias. Armazenamento em tanques O armazenamento em tanques somente poderá ocorrer se apresentarem estruturas resistentes. Para garantir a qualidade no projeto de instalação devem-se incluir fundações, controle de espessura de paredes, devem possuir fechamento por controle de pressão e, caso o resíduo apresente características químicas de corrosão, o tanque deve possuir tratamentos adequados evitando a atividade em suas paredes. Deve-se considerar também o suporte estrutural, sempre levando em consideração o peso específico do resíduo a ser acondicionado. Para aconstrução e adequações do tanque, a NBR 7505 deve ser seguida. O processo de inspeção deve ser diário. Armazenamento a granel Os resíduos armazenados a granel devem conter suas estruturas impermeabilizadas (solo-cimento, concreto ou asfalto) possuindo sistemas de canaletas direcionando para caixas separadoras de densidades ou dimensionados ao sistema de tratamento de efluentes presentes nas unidades industriais, podendo estas estruturas estarem dentro ou fora de construções laterais (galpões). A disposição em solo sem os tratamentos citados anteriormente pode ser realizado somente mediante autorização do órgão ambiental competente pelo licenciamento. UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 22 Para este tipo de acondicionamento devem-se observar as características físico-químicas tais como: umidade, densidade, tamanho da partícula, ângulo de repouso, abrasão, corrosividade, ângulo de deslizamento, ponto de fusão do material, temperatura de pressão e higroscopocidade. 7 CENTRAL DE RESÍDUOS INDUSTRIAL A diversidade dos parques industriais brasileiros nos garante uma gama de geração de resíduos em volumes e tipologia. Por este processo estar diretamente ligado à cadeia produtiva dentro da indústria, verifica-se a necessidade de se realizar o armazenamento temporário destes resíduos industriais até que possam chegar a seu local de destinação final. Porém, algumas medidas devem ser seguidas para garantir a qualidade de armazenamento sem que sejam comprometidos outros processos já mencionados. Segundo a NBR 12235/1992, ao projetar-se uma central de resíduos é importante levar em consideração os seguintes fatores: • Considerar as distâncias dos núcleos geradores. • Considerar as condições de quaisquer operações industriais que possam gerar faíscas, vapores reativos, umidade excessiva etc. • Verificar os riscos potenciais de fenômenos naturais ou artificiais como, chuva intensa, inundações, deslizamentos de terra etc. • A área deve ser cercada para que o acesso seja somente de funcionários da central de resíduos e não permita a entrada de pessoas não autorizadas. • Possuir sinalização de segurança nas baias de segregação que informe a instalação para os riscos de acesso ao local. • Cobertura e ventilação dos recipientes, colocados sobre base de concreto ou outro material que impeça a lixiviação e percolação de substâncias para o solo e águas subterrâneas. • Ter iluminação e energia que permitam uma ação de emergência. • Ter um sistema de comunicação interno e externo. • Conter sistema de controle de poluição e/ou sistema de tratamento de poluentes ambientais. • Possuir sistema de contenção de vazamentos. • Realização de treinamento mensal do plano de emergência. • Inspeção deve ocorrer periodicamente em toda a área de armazenamento dentro e fora da central de resíduos. • As bacias de contenção devem possuir a ligação com a estação de tratamento de efluentes. A bacia de contenção não pode apresentar avarias em sua estrutura, tais como rachaduras e buracos. TÓPICO 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 23 A central de resíduos industriais deve ser projetada para uma capacidade sempre inferior sua geração, pois seu papel é acondicionamento temporário e de destinação adequada em um prazo curto de tempo. NOTA 24 Caro acadêmico! Após a leitura do Tópico 1, você terá desenvolvido seus conhecimentos nos seguintes quesitos: Definição de resíduo: Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (BRASIL, 2010, p. 1). Classificações de resíduos: • Resíduos perigosos: são aqueles que em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica. • Resíduos sólidos não perigosos: são aqueles não enquadrados como resíduos sólidos perigosos. Quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente: • Resíduos sólidos urbanos: materiais recicláveis (metais, aço, papel, plástico, vidro etc.) e matéria orgânica. • Resíduos da construção civil: gerados nas construções, reformas, reparos e demolições, bem como na elaboração de terrenos para obras. • Resíduos com logística reversa obrigatória – resíduos sólidos especiais: pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens, produtos eletroeletrônicos e seus componentes entre outros a serem incluídos. • Resíduos industriais: gerados nos processos produtivos e instalações industriais. Normalmente, grande parte são resíduos de alta periculosidade. • Resíduos sólidos do transporte aéreo e aquaviário: gerados pelos serviços de transportes, de naturezas diversas, como ferragens, resíduos de cozinha, material de escritório, lâmpadas, pilhas etc. • Resíduos sólidos do transporte rodoviário e ferroviário: gerados pelos serviços de transportes, acrescidos de resíduos sépticos que podem conter organismos patogênicos. • Resíduos de serviços de saúde: gerados em qualquer serviço de saúde • Resíduos sólidos de mineração: gerados em qualquer atividade de mineração • Resíduos sólidos agrossilvopastoris (orgânicos e inorgânicos): dejetos da criação de animais, resíduos associados a culturas da agroindústria, bem como da silvicultura, embalagens de agrotóxicos, fertilizantes e insumos. RESUMO DO TÓPICO 1 25 Quanto suas características físicas: • Teor de umidade. • Peso específico. • Composição gravimétrica. • Compressividade. Quanto suas características químicas: As características químicas de um resíduo influenciam diretamente no seu tratamento final, pois através destas características podemos definir sua destinação final. • Poder calorífico. • Potencial de hidrogênio. • Teor de cinzas. • Relação de carbono e hidrogênio. A destinação final de um resíduo pode ser: • Reciclagem. • Incineração. • Coprocessamento. • Aterro sanitário. • Aterro industrial. • Compostagem. Quanto suas características biológicas: As características biológicas de um resíduo estão relacionadas à formação de populações microbianas e de agentes patogênicos. A destinação final de resíduos sólidos também depende da análise das características biológicas de cada resíduo. Além de aperfeiçoar seus conhecimentos no gerenciamento de resíduos que nesta unidade abordou os principais itens: • Tipologia do resíduo. • Nome completo do resíduo. • Categoria a que pertence. • Área geradora. • Manuseio. • Segregação. • Tipo de coletor. • Acondicionamento. • Central de resíduos industrial. 26 1 Explique e conceitue as classes de resíduos sólidos. AUTOATIVIDADE 2 Os resíduos apresentam seis características para que sejam considerados perigosos, cite-as e explique duas delas. 3 Cite as características para que um resíduo sólido seja considerado na classe IIA (não inerte) e explique uma delas. 4 Cite uma característica de resíduo sólido para que seja classificado como inerte. 5 Explique a diferença entre: inflamabilidade e combustibilidade. 6 Quais são os fatores que influenciam as características dos resíduos sólidos? 7 Comente a patogenicidade e corrosividade e dê exemplos de alguns materiais que tenham essas características. 27 TÓPICO 2 INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a)! Neste tópico serão abordadas algumas informações sobre a política nacional de resíduos sólidosindustriais, tendo por base as explicações de Donaire (1999). Programa reciclagem Terá como principal ferramenta o apoio aos municípios a instituírem planos de reciclagem que incentivarão a comunidade através de educação ambiental e programas sociais. O programa visa também estabelecer pontos de coleta voluntária. O programa terá um investimento inicial de 4,3 bilhões e os ministérios responsáveis pela fiscalização e enquadramento legal destas ações será o Ministério das Cidades e Ministério do Meio Ambiente. Programa Brasil sem Lixão Este programa tem como base apoiar os estados e municípios a realizarem a construção de aterros sanitários controlados de maneira que minimizem os impactos ao meio ambiente, não permitindo problemas socioambientais tais como: criação de animais através de alimentos provenientes de lixões, uma vida mais digna aos catadores, pois através deste projeto será mais fácil a realização da triagem dos rejeitos e o aproveitamento dos resíduos que fortaleceram o programa já mencionado acima (Programa reciclagem). Para este projeto estima-se um investimento de 4,86 bilhões. Será responsabilidade do Ministério das Cidades e Ministério de Meio Ambiente de acompanhar e distribuir a renda para a realização deste programa. Vistas as preocupações bem definidas na política nacional de resíduos sólidos como num todo em nível Brasil fica assim estipulada a preocupação de cada município em realizar os seguintes passos para que a lei seja cumprida na integra: UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 28 FIGURA 5 – PASSOS PARA CUMPRIMENTO DA LEI FONTE: Donaire (1999) Plano de Gerenciamento de Resíduos só poderá dispor da ação de cooperativas de catadores quando estas mostrarem habilidades técnicas para exercer a atividade não apresentando qualquer indício de dano ao meio ambiente ou à saúde dos catadores envolvidos no processo de coleta, segregação, armazenamento e destinação final do resíduo. Segundo Donaire (1999), alguns critérios que devem ser observados nesta política: Dos objetivos: • Proteção da saúde pública. NOTA TÓPICO 2 | INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS 29 Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão ambiental. • Qualidade ambiental. • Não geração de resíduos em todas as esferas das cadeias produtivas. • Redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos. • Gestão integrada de resíduos sólidos. • Capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos. • Garantir nas esferas públicas o consumo de bens provenientes recicláveis e reciclados. • Valorização das usinas de reciclagem. • Estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável. Dos instrumentos: • Educação ambiental. • Coleta seletiva. • Logística reversa. • O incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas. • O monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária. • A pesquisa científica e tecnológica. A Gestão da Política Nacional de Resíduos Sólidos deverá ser ministrada valorizando nesta ordem prioritária a gestão de resíduos: • Não geração. • Redução. • Reutilização. • Reciclagem. • Tratamento dos resíduos sólidos. • Disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos, somente serão aceitos como Plano de Resíduos Sólidos os seguintes: • Plano Nacional de Resíduos Sólidos. • Os planos estaduais de resíduos sólidos. • Os planos microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas. • Os planos intermunicipais de resíduos sólidos. • Os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos. • Os planos de gerenciamento de resíduos sólidos. NOTA UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 30 Todos deverão conter ART do responsável técnico pela elaboração e aceito formal do órgão ambiental aprovador somente desta maneira o plano terá validade. Das responsabilidades e penalidades: A Lei n° 12.305/2010 (Política Nacional dos Resíduos Sócilidos - PNRS) altera: os termos do § 1° do artigo 56 da Lei n° 9.605/1998, que passa a vigorar com nova redação Parágrafo no 1°: Nas mesmas penas incorre quem: § 1º - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais ou de segurança; § 2º - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento. Penalidades – detenção, de seis meses a um ano e multa. Valores das multas: de R$ 500,00 a R$ 2.000.000,00 (*). Os CONSUMIDORES que descumprirem as respectivas obrigações previstas nos Sistemas de Logística Reversa e de Coleta Seletiva estarão sujeitos à penalidade de advertência. No caso de reincidência (consumidores) no cometimento da infração prevista no § 2°, poderá ser aplicada a penalidade de multa, no valor de R$ 50,00 a R$ 500,00. A multa simples a que se refere o § 3° (consumidor) pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. Principais alterações no Decreto n° 6.514/2008 da Lei de Crimes Ambientais: os CONSUMIDORES que descumprirem as respectivas obrigações previstas nos Sistemas de Logística Reversa e de Coleta Seletiva estarão sujeitos à penalidade de advertência. No caso de reincidência (consumidores) no cometimento da infração prevista no § 2°, poderá ser aplicada a penalidade de multa, no valor de R$ 50,00 a R$ 500,00. A multa simples a que se refere o § 3° (consumidor) pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. 2 PANORAMA SOBRE A APLICAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA NA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS O grande desafio das décadas atuais é desenvolver um sistema integrando as novas políticas ambientais, pois estas solicitam o rastreamento do ciclo de vida sendo rastreado do início ao fim de sua vida útil. NOTA TÓPICO 2 | INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS 31 Para a melhoria de controle destes fluxos foi criado pela lei 12.305/10 o sistema de Logística Reversa, que por sua vez delimita e controla todos os fluxos de matérias-primas favorecendo a implementação de sistemas de reuso e de reciclagem. A logística reversa pós-venda revela um panorama importante sobre o fluxo de consumo e perfil dos consumidores de cada localidade, pois através dela podemos observar o fluxo físico das mercadorias, descarte dos resíduos e razões comerciais. Na da logística reversa, o pós-consumo pode ser útil no processo de gestão ambiental de todas as organizações seja ela pública ou privada (LACERDA, 2012). Podemos apontar como principais assuntos voltados à logística reversa pós- consumo: • Rastreamento de um produto após término de sua vida útil. • Estruturação para que este produto possa voltar ao ciclo de mercado. FIGURA 6 – RESUMO DE ALGUNS PRODUTOS QUE PODEM SER INCLUÍDOS NO PROGRAMA DE LOGÍSTICA REVERSA FONTE: Disponível em: <http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/acervo/meio_ambiente/ arquivos/capacitacao/Politicas_Residuos_Solidos.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2013. Benefícios do Sistema de Logística Reversa Conforme Lacerda (2012) o sistema de logística reversa: • Diminui a quantidade de resíduos encaminhados para aterros. • Estimula o uso eficiente dos recursos naturais. • Reduz as obrigações físicas e financeiras dos municípios para com a gestão de determinados resíduos. • Desenvolve os processos de reutilização, reciclagem e recuperação de produtos e materiais. • Promove processos de Produção mais Limpa (P+L). UNIDADE 1 | GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 32 Logística reversa x inclusão social
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