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Antes de iniciar a gestão de riscos é preciso re- alizar um planejamento que contemple preliminar- mente a avaliação dos riscos presentes e que poderão surgir na empresa. A avaliação de riscos é uma meto- dologia que tem como objetivo caracterizar os tipos de efeitos possíveis para a saúde dos trabalhadores resultante de determinada exposição de agentes no- civos, bem como calcular a probabilidade de que se produzam estes efeitos na saúde, com diferentes ní- veis de exposição. É também usado para caracterizar situações concretas de risco. Suas etapas são: a) Identificação de riscos; b) Descrição da relação da exposição-efeito; e c) Avaliação da exposição para caracterizar o risco. O primeiro estágio se refere à identificação de um agente, por exemplo, uma substância química, como causadora de um efeito nocivo para a saúde (ex.: câncer ou intoxicação sistêmica). A segunda etapa estabelece os níveis de segurança e limite de exposição, bem como suas consequências (efeito) sobre a saúde das pessoas expostas. Esses conheci- mentos são essenciais para interpretar os dados ob- tidos a partir da avaliação da exposição. A avaliação a exposição caracteriza-se como 34 uma parte da avaliação de riscos. Ela serve para ob- ter dados para caracterizar uma situação de riscos e também para obter dados para determinar a relação da exposição-efeito baseando-se em estudos epide- miológicos. Neste último caso, a exposição de um determinado lugar determina o efeito relacionado. Estas causas ambientais da exposição devem ser ca- racterizadas com exatidão para garantir a confiabili- dade da correlação entre a exposição e seus efeitos para a saúde dos trabalhadores. A avaliação dos riscos é fundamental para mui- tas decisões que são tomadas. Os benefícios da hi- giene laboral relacionados à proteção da saúde dos trabalhadores serão limitados a menos que as ações de prevenção se concretizem. Ações essas voltadas para a eliminação ou redução ao máximo de fontes de riscos ambientais, como por exemplo, contami- nantes químicos, radiações, etc. A avaliação de riscos é um processo dinâmico, sendo comum o desenvolvimento de novos conhe- cimentos que gradativamente revelam os efeitos no- civos de substâncias que anteriormente eram con- sideradas relativamente inócuas. Desta maneira, o higienista laboral deve ter constantemente acesso à informação toxicológica atualizada. Outra implica- ção da higiene laboral é que as exposições devem ser controladas sempre ao nível mais baixo possível. De maneira resumida os elementos para a ava- 35liação dos riscos são: • Características do lugar de trabalho: o Instalações; o Atividades, processos, operações; o Fontes de emissão; o Agentes. • Características da Exposição: o Grupos expostos; o Tarefas de cada grupo; o Vias de exposição; o Agentes perigosos e exposição estimada nos grupos expostos. • Avaliação do risco: o Avaliação dos efeitos dos produtos ou agen- tes para a saúde; o Classificação dos grupos expostos (efeitos leves ou efeitos graves). Gestão de riscos Nem sempre se podem eliminar todos os agen- tes de riscos para a saúde no local de trabalho, por- que alguns deles são inerentes de processos indis- pensáveis de trabalho. No entanto, os riscos podem e devem ser gerenciados. 36 A avaliação de risco fornece uma base para a gestão riscos. Apesar da avaliação de riscos ser um procedimento científico, a gestão de riscos é mais pragmática e envolve decisões e ações orientadas para a prevenção, ou reduzir para níveis aceitáveis a presença de agentes que podem ser perigosos para a saúde dos trabalhadores, para as comunidades no entorno da empresa e para o meio ambiente. A gestão de riscos no local de trabalho requer informação e conhecimentos sobre: • Riscos para a saúde e sua magnitude, descritos e classificados de acordo com os resultados da ava- liação de riscos; • Normas e requisitos legais; • Viabilidade tecnológica, do ponto de vista da tecnologia de controle disponível e aplicável; • Aspectos econômicos, tais como os custos de concepção, implementação, operação e manutenção de sistemas de controle e análise de custo-benefício; • Recursos humanos disponíveis e necessários; • Saúde pública e contexto socioeconômico para base para a tomada de decisões relativas; • Definição dos objetivos de controle; • Seleção de estratégias e tecnologias de contro- le adequadas; • Alocação de prioridades de ação, levando-se em conta a situação de risco, o contexto socioeconô- 37mico e de saúde pública, para executar ações como: o Identificação e busca por recursos financeiros e humanos; o Concepção de medidas específicas de con- trole, para ser adequadas para proteger a saúde dos trabalhadores e o meio ambiente, salvaguardando o máximo possível os recursos naturais; o Aplicação de medidas de controle, incluindo disposições relativas aos procedimentos de opera- ção, manutenção e de emergência apropriados; o Estabelecimento de um programa de preven- ção e controle de risco, com gestão adequada, in- cluindo a monitorização periódica. Tradicionalmente, a área da segurança do tra- balho responsável pela maior parte destas decisões e ações é a higiene laboral (ou higiene do trabalho, industrial, ocupacional). Uma decisão chave da gestão de riscos refere-se ao risco aceitável (que efeito pode ser aceitável, que porcentagem da população trabalhadora é aceitável). Normalmente esta decisão é baseada nos limites de tolerância impostos pela legislação de saúde e segu- rança do trabalho nacional, estadual e municipal (mi- nistério do trabalho, ministério da saúde, vigilância sanitária, etc.) e, se for o caso, limites de tolerância de agências internacionais. O higienista do trabalho deve conhecer os re- 38 quisitos legais e é responsável, normalmente, para definir os objetivos de controle no local de trabalho. No entanto, pode ocorrer que o próprio higienista laboral tenha que tomar decisões sobre o risco acei- tável no local de trabalho, por exemplo, quando não existem normas aplicáveis ou estas não englobam todas as possíveis exposições. Todas estas decisões e ações devem ser inte- gradas num plano realista, que exija coordenação e colaboração de várias equipes. Embora a gestão de riscos envolva abordagens pragmáticas, a sua efici- ência deve ser avaliada cientificamente. As atividades relacionadas à gestão de riscos são, na maioria dos casos, um compromisso entre o que deve ser feito para evitar todos os riscos e o melhor que pode ser feito na prática, considerando as limitações econômicas e de outros tipos. A gestão dos riscos relacionados com o local de trabalho e com o meio ambiente em geral deve ser coordenada. Estas duas áreas não são apenas com- plementares, mas na maioria das vezes o sucesso de uma está vinculado com o êxito da outra. Programas de higiene laboral Um programa de higiene laboral deve ter a ca- pacidade de realizar estudos preliminares adequados, 39fazer amostras, realizar medições e análises para ava- liar e controlar os riscos, assim como para recomen- dar medidas de controle ou projetá-las. Os elementos chave de um programa de higie- ne laboral são os recursos humanos e financeiros, os sistemas de informação, as instalações e os equipa- mentos. Estes recursos devem ser organizados e co- ordenados através de um planejamento cuidadoso e de gestão eficiente, também devem incluir a garantia da qualidade e uma avaliação da continuidade do pro- grama. O sucesso dos programas de higiene laboral depende do apoio e compromisso da alta direção. O principal ativo de um programa são os re- cursos humanos adequados, sendo prioritário con- tar com eles. Todas as pessoas devem conhecer claramente suas responsabilidades e as descrições dos postos de trabalho. Caso necessário, devem ser tomadas medidas relacionadas ao treinamento e a educação. Os requisitos básicos dos programas de higiene laboral são: Higienistas laborais: além de conhecimento ge- ral sobre a identificação,avaliação e o controle de riscos ocupacionais, os higienistas laborais podem se especializar em áreas específicas, tais como a química analítica ou a ventilação industrial; o ideal é ter uma equipe de profissionais com formação adequada em todos os aspectos da prática de higiene do trabalho e em todas as áreas técnicas necessárias; 40 • Equipe de laboratório, profissionais da área de quí- mica (dependendo da amplitude do trabalho analítico); • Técnicos e auxiliares, para estudos de campo e de laboratório, bem como para a manutenção e re- paração dos instrumentos; • Especialistas em informação e apoio administrativo. Um aspecto importante é a qualificação profis- sional, que não só deve ser adquirida, mas também mantida. A educação contínua, dentro ou fora do programa deve incluir, por exemplo, atualizações legislativas, novos avanços e técnicas de conheci- mento. A participação em conferências, simpósios e seminários também ajuda a manter as competências do pessoal. A saúde e a segurança de todos os membros da equipe devem ser garantidas nos estudos de cam- po, nos laboratórios e nos escritórios. Os higienis- tas podem ser expostos a riscos graves e devem usar equipamentos de proteção individual adequados. Dependendo do tipo de trabalho, talvez seja preci- so que eles sejam vacinados. Se for um trabalho em áreas rurais e, dependendo da região, deverão ser disponibilizados, por exemplo, soros contra picadas de cobras. Os riscos profissionais em escritórios não devem ser subestimados, pois há riscos, por exemplo, em se trabalhar com computadores, impressoras, fotocopia- 41doras ou sistemas de ar condicionado com falta de manutenção. Os fatores ergonômicos e os riscos psi- cossociais também devem ser considerados. As instalações incluem escritórios, salas de reu- nião, laboratórios e equipamentos, sistemas de infor- mação e biblioteca. As instalações devem ser projeta- das corretamente, levando-se em conta as necessida- des futuras, visto que alterações e adaptações subse- quentes são geralmente mais custosas e demoradas. Os laboratórios de higiene laboral devem ter, em princípio, capacidade de realizar avaliações qua- litativas e quantitativas da exposição a poluentes at- mosféricos (substâncias químicas e poeiras), agentes físicos (ruído, estresse térmico, radiação, iluminação) e agentes biológicos. Para a maioria dos agentes bio- lógicos, as avaliações qualitativas são suficientes para recomendar controles, e geralmente não é necessá- rio realizar avaliações quantitativas, as quais normal- mente são mais difíceis. Embora alguns instrumentos de leitura dire- ta da poluição do ar possam fornecer resultados limitados para efeitos de avaliação da exposição, são extremamente úteis na identificação de riscos e suas fontes, determinar as concentrações máximas e servir de base de dados para projetar medidas de controle e verificar controles como em sistemas de ventilação. Em relação aos sistemas de ventilação, os instrumentos também servem para comprovar a ve- 42 locidade do ar e pressão estática. Possíveis estruturas de laboratórios de higiene la- boral contêm os seguintes materiais e equipamentos: • Equipamentos de campo (amostragem, lei- tura direta); • Laboratório de análises; • Laboratório de partículas; • Equipamentos de análises de agentes físicos (ruído, temperatura, iluminação e radiação); • Oficina para a manutenção e reparação de instrumentos. Ao selecionar uma equipe de higiene laboral, além das características de desempenho, devem-se ser considerados os aspectos práticos relacionados com as condições previstas de utilização, por exem- plo, infraestrutura disponível, clima, localização. Al- guns destes aspectos são a possibilidade de transpor- tar o equipamento, a fonte de energia necessária, os requisitos de calibração e de manutenção e a dispo- nibilidade de respostas aos consumidores. Os equipamentos só devem ser adquiridos se: a) Existir uma necessidade real; b) Dispor-se de pessoal qualificado para ga- rantir a correta operação, manutenção e reparação de equipamentos; 43c) Desenvolver um procedimento completo, visto que não faria sentido comprar, por exemplo, um equipamento para amostragem de bombas, se não houvesse um laboratório para analisar as amos- tras (ou ao menos um acordo com um laboratório externo para executar tal análise). A calibração de todas as medições e amostras de higiene laboral assim como dos equipamentos analíticos, devem fazer parte de qualquer processo e é necessário dispor dos equipamentos para tal. A manutenção e os reparos são essenciais para prevenir as que os equipamentos permaneçam pa- rados por muito tempo. Os fabricantes de equipa- mentos deve garantir este tipo de serviço, seja por assistência técnica ou apoio à formação da equipe de trabalho. Se um programa completamente novo for de- senvolvido, inicialmente só deverão ser adquiridos os equipamentos básicos, adquirindo-se novos equi- pamentos de acordo com as necessidades, com o objetivo de garantir as capacidades operacionais pre- viamente planejadas. No entanto, mesmo antes de dispor de equipamentos e de laboratório, muito do progresso operacional pode ser feito através de con- troles nos locais de trabalho, a fim de avaliar qualita- tivamente os riscos para a saúde e recomendar medi- das para reduzir ou eliminar os riscos identificados. 44 A falta de capacidade para realizar avaliações quantitativas dos riscos no deve justificar a passivi- dade frente às exposições obviamente perigosas. Isto é especialmente verdadeiro em situações em que os riscos não são controlados no local de trabalho. Não se pode fazer no desenvolvimento de um programa de higiene laboral sem considerarmos o planejamento, o qual deve ser pontual e sua execu- ção minuciosa. A gestão e a avaliação periódica de um programa são essenciais para garantir o sucesso dos objetivos e metas, fazendo o melhor uso dos re- cursos disponíveis. O planejamento deve considerar a análise das seguintes informações: • Natureza e extensão dos riscos, a fim de esta- belecer prioridades; • Requisitos legais (leis, normas, regulamentações); • Recursos; • Serviços de infraestrutura e de apoio. Os processos de planejamento de organização incluem as seguintes etapas: • Definir o objetivo do programa, definindo os objetivos e o âmbito de atuação, considerando a de- manda prevista e os recursos disponíveis; • Alocação de recursos; • Definição da estrutura organizacional; • Perfil dos recursos humanos e seus planos 45de desenvolvimento; • Atribuição clara das responsabilidades aos di- ferentes serviços, equipamentos e pessoas; • Concepção e adaptação de instalações; • Seleção de equipamentos; • Requisitos operacionais; • Estabelecimento de mecanismos de comuni- cação dentro e fora do serviço; • Cronograma. Os custos operacionais não devem ser subesti- mados, uma vez que a falta de recursos pode preju- dicar gravemente a continuidade de um programa. A seguir seguem alguns requisitos que não podem ser negligenciados: • Solicitação de suprimentos, tais como filtros, tubos indicadores, tubos de carvão vegetal, reagen- tes, peças para reposição de equipamentos, etc. • Manutenção e reparação dose equipamentos; • Transporte (veículos, combustível, manuten- ção) e viagens; • Atualização de informações. Os recursos devem ser maximizados através de um estudo cuidadoso de todos os elementos a serem considerados como parte integrante de um programa completo. Para o sucesso de qualquer 46 programa é essencial alocar recursos de forma equi- librada entre as diferentes unidades (medições de campo, amostragem, laboratórios de análises, etc.) e os componentes (instalações e equipamentos, pesso- as, aspectos operacionais). Além disso, a distribuição dos recursos deve permitir alguma flexibilidade, uma vez que é possível que os serviços de higiene laboral tenham de se adaptar para atender às necessidades reais, as quais devem ser avaliadas periodicamente.Comunicar, compartilhar e colaborar são pala- vras-chave para o sucesso do trabalho em equipe e o desenvolvimento de habilidades individuais. Deve-se dispor de mecanismos eficazes de comunicação den- tro e fora do programa, para conseguir uma abor- dagem interdisciplinar que requeira a proteção e a promoção da saúde dos trabalhadores. Deve haver uma estreita interação com outros profissionais de saúde no trabalho, especialmente com profissionais médicos e de enfermagem do tra- balho, ergonomistas e psicólogos ocupacionais, bem como profissionais de segurança. No contexto do local de trabalho, eles também devem envolver os trabalhadores, a equipe de produção e os gerentes. A implementação de programas eficazes é um processo gradual. Portanto, na fase de planejamento, um cronograma realista deve ser elaborado, em con- formidade com as prioridades estabelecidas e consi- derando os recursos disponíveis. 47Falando agora sobre gestão, devemos compre- ender que ela consiste em tomar decisões referentes aos objetivos que devem ser alcançados e as medi- das que devem ser adotadas para tal. Isto inclui a participação de todos os interessados, assim como a necessidade de prever e evitar, reconhecer e resol- ver os problemas que podem criar obstáculos para a realização das tarefas necessárias. Nota-se que os conhecimentos científicos não garantem necessaria- mente as competências de gestão necessárias para executar um programa eficiente. A importância de implementar e seguir os pro- cedimentos corretos e uma garantia de qualidade é fundamental, uma vez que existe uma grande dife- rença entre o trabalho realizado e um trabalho bem feito. Além disso, os objetivos reais, e não as etapas intermediárias devem servir de referência. A eficiên- cia de um programa de higiene laboral não deve ser medido pelo número de estudos, mas pelo núme- ro de estudos que conduzam a ações concretas para proteger a saúde dos trabalhadores. Uma boa gestão deve ser capaz de distinguir entre o que chamamos de atenção e o que é im- portante. Os estudos muito detalhados, incluindo amostragem e análises e que geram resultados muito precisos podem ser impressionantes, mas o que re- almente importa são as decisões e medidas tomadas em consequência deles.
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