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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação FUTEBOL E FUTSAL Olá a todos, satisfação! Meu nome é Robson Amaral da Silva. Sou licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de São Carlos (CEF/UFSCar), especialista em Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Educação também pela UFSCar (PPGE/UFSCar). Sou professor do Centro Universitário Claretiano de Batatais (Ceuclar) nos cursos de Bacharelado e Licenciatura, pesquisador da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana e membro do Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física (Nefef/UFSCar). Fui treinador de equipes universitárias (masculinas e femininas) de futsal e gostaria de compartilhar com vocês minhas experiências e conhecimentos! E-mail: robsonsilva@claretiano.edu.br Claretiano – Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br Robson Amaral da Silva Batatais Claretiano 2015 FUTEBOL E FUTSAL © Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone Rodrigues de Oliveira Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 796.334 S583f Silva, Robson Amaral da Futebol e futsal / Robson Amaral da Silva – Batatais, SP : Claretiano, 2015. 168 p. ISBN: 978-85-8377-431-0 1. Futebol. 2. História. 3. Cultura. 4. Sociedade. 5. Jogo. 6. Futsal. 7. Regras. 8. Técnica e tática. I. Futebol e futsal. CDD 796.334 INFORMAÇÕES GERAIS Cursos: Graduação Título: Futebol e Futsal Versão: dez./2015 Formato: 15x21 cm Páginas: 168 páginas SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7 2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO ........................................................................ 8 3. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 17 Unidade 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL 1. OBJETIVOS ......................................................................................................... 19 2. CONTEÚDOS ...................................................................................................... 19 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ................................................... 20 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ................................................................................. 21 5. OS PRIMEIROS TEMPOS .................................................................................... 22 6. HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL: PROCESSOS E INTERPRETAÇÕES ............... 33 7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................... 50 8. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................... 51 9. e-ReFeRÊnCiaS ................................................................................................. 52 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 54 Unidade 2 – FUTEBOL, CULTURA E SOCIEDADE 1. OBJETIVOS ......................................................................................................... 55 2. CONTEÚDOS ...................................................................................................... 55 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ................................................... 55 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ................................................................................. 57 5. FUTEBOL COMO FENÔMENO MODERNO ......................................................... 58 6. FUTEBOL, UMA PAIXÃO NACIONAL ................................................................... 64 7. UM "POUCO" DE FUTEBOL NA HISTÓRIA POLÍTICA DO BRASIL ........................ 70 8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................... 78 9. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................... 79 10. e-ReFeRÊnCiaS ................................................................................................. 79 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 80 Unidade 3 – O JOGO DE FUTEBOL 1. OBJETIVOS ......................................................................................................... 83 2. CONTEÚDOS ...................................................................................................... 83 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ................................................... 83 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ................................................................................. 84 5. O JOGO .............................................................................................................. 85 6. AS MATRIZES FUTEBOLÍSTICAS .......................................................................... 125 7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................... 134 8. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................... 135 9. e-ReFeRÊnCiaS ................................................................................................. 136 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 137 Unidade 4 – METODOLOGIAS DE ENSINO DO FUTEBOL/FUTSAL 1. OBJETIVO ........................................................................................................... 139 2. CONTEÚDOS ...................................................................................................... 139 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ................................................... 140 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ................................................................................. 141 5. METODOLOGIAS DE ENSINO DO FUTEBOL E DO FUTSAL .................................. 141 6. METODOLOGIAS SITUACIONAIS........................................................................ 158 7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................... 165 8. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................... 165 9. e-ReFeRÊnCiaS ................................................................................................. 166 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 166 7 CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1. INTRODUÇÃO Prezado aluno, iniciamos agora nossos estudos sobre o Fu- tebol e o Futsal. E para o melhor aproveitamento do estudo, esta foi dividida em cinco unidades, descritas, brevemente, a seguir. Na Unidade 1 preocupamo-nos em mostrar os possíveis caminhos percorridos pelo futebol a partir da apresentação de alguns jogos da Antiguidade e Idade Média, seus possíveis pre- cursores, até o advento do denominado "futebol moderno" na Inglaterra, no século 19. No Brasil, optamos por contar sua traje- tória histórica a partir do momento em que o futebol moderno chegou ao país, trazido pelas mãos de Charles Miller, em 1894. Destacamos sua prática elitista e racista nas primeiras décadas do século 20, bem como os processos de popularização e profis- sionalização do futebol no país. Na Unidade 2, estudamos o futebol como fenômeno mo- derno, paixão nacional e manifestação esportiva e cultural, com suas influências e implicações na vida pública e política de nosso país. Na Unidade 3, buscamos apresentar toda a estrutura do jogo de futebol, desde sua proposta como simples modalidade esportiva até sua caracterização como jogo extremamente com- plexo, sustentado por elementos táticos, técnicos e um conjunto de regras. 8 © FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Diante da complexidade do jogo de futebol/futsal, é preci- so "dividi-lo" em unidades menores para que os alunos tenham condições de passar por experiências que permitam seu apren- dizado. Na Unidade 4 são apresentadas algumas possibilidades metodológicas que têm como objetivo permitir o desenvolvi- mento adequado do jogo nessas modalidades. Por fim, a Unidade 5 realiza um apanhado geral do futsal, apresentando sua trajetória histórica, os elementos técnicos, tá- ticos e as regras específicas da modalidade. O conteúdo desta unidade apoia-se nas informações fornecidas nas unidades ante- riores, principalmente na relação técnica-tática a partir da meto- dologia fenômeno-estrutural. Após essa breve exposição dos principais assuntos a serem abordados, você terá uma ideia do que trataremos ao longo do material e poderá, assim, se preparar de maneira adequada para este jogo do saber que se inicia. No Tópico Orientações para o Estudo da Unidade você en- contrará algumas orientações de cunho motivacional, dicas e es- tratégias que lhe auxiliarão em seus estudos. 2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO Abordagem Geral Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um refe- rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, 9© FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com compe- tência cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos começar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princípios bá- sicos que fundamentam este estudo. O conteúdo elaborado para o desenvolvimento deste ma- terial está dividido em cinco unidades e organizado de forma que possa facilitar sua aprendizagem e, consequentemente, sua futu- ra intervenção baseada na responsabilidade e ética profissionais. O acesso à história do futebol e do futsal por meio da com- preensão das condições históricas determinantes para suas tra- jetórias torna-se uma necessidade para o profissional de Educa- ção Física. Conhecer os antecedentes históricos das modalidades com as quais irá trabalhar é saber se posicionar criticamente em sua própria área de atuação e reconhecer os fatores que a influenciam. Em seguida, nossa preocupação se voltará para a estrutura do jogo. Que jogos são esses? Como poderíamos nos apropriar deles, no sentido de caracterizá-los e utilizá-los como instrumen- tos de nossas intervenções? Para muitos, o futebol e futsal são jogos praticados com os pés por duas equipes, cujo objetivo é fazer mais gols que a equipe adversária. Diante da complexidade de suas estruturas, tal caracterização torna-se insuficiente para a compreensão destas modalidades esportivas. É necessário in- cluir a ideia de duas equipes que, pela cooperação e oposição, disputam um objeto (a bola) dentro de determinado espaço, res- peitando os demais jogadores e as regras específicas do jogo. Para que essa disputa pela bola e as relações de oposição/ cooperação sejam possíveis, os espaços do jogo preenchidos adequadamente e as situações de ataque e defesa da equipe, equilibradas, consideramos importante a utilização apropriada e 10 © FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO consciente dos elementos técnicos (o que fazer?) e táticos (como e quando fazer?). Os elementos técnicos do jogo estão relacionados às tare- fas motoras associadas ao passe, condução e controle de bola, chute, cabeceio etc., utilizadas em cada uma das modalidades. Por sua vez, o comportamento tático está ligado à realização de tarefas específicas, no sentido de potencializar as próprias ações de jogo e dificultar as ações da equipe adversária. Para a com- preensão dos elementos, comuns às duas modalidades e que partilham os mesmos princípios, estudaremos as unidades es- truturantes e funcionais dos jogos desportivos coletivos propos- tos por Claude Bayer (1992). Defendemos a ideia de que o ensino dessas modalidades somente é possível após o entendimento dessas unidades e a adequada utilização dos jogos de futebol e futsal. Neste estudo, você terá a oportunidade de conhecer algumas das principais metodologias de ensino do futebol/futsal – analítico-sintética, global-funcional, mista, situacionais, fenômeno-estrutural e de conceito recreativo de jogo. Esses temas foram selecionados para que você possa ter uma sólida formação acadêmica e o contato com dimensões significativas do futebol e do futsal. Sendo assim, aproveite esta oportunidade. Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá- pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de 11© FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO conhecimento dos temas tratados no material Futebol e Futsal. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos deste estudo: 1) Conhecimento tático: comportamento relacionado às ações desempenhadas pelo jogador ou pela equipe, durante uma partida de futebol/futsal, caracterizado pelo respeito aos princípios táticos do jogo, às ações de cooperação e oposição, à defesa e ao ataque, aos papéis e funções a serem desempenhados em campo/ quadra (quando da posse ou não da bola), às unidades estruturais e funcionais, às funções relativas às posi- ções ocupadas. 2) Elementos táticos: elementos que dão sustentabilida- de ao comportamento tático e estão relacionados aos princípios táticos do jogo. 3) Elementos técnicos: ações realizadas com propósito específico em um dado contexto. Elementos relaciona- dos aos fundamentos básicos do jogo ou de determi- nada modalidade. No caso do futebol/futsal, referem- -se a passe, condução, domínio, controle, cabeceio, drible, chute e defesa do goleiro. 4) Esporte: prática convencionalmente regrada, caracte- rizada pela disputa direta ou indireta entre oponentes em busca de objetivos comuns, apoiada ou não em relaçõesde cooperação e oposição. Pode ser acompa- nhada ou não pelo público, mídia especializada e in- vestidores sob a chancela de associações, federações e confederações representativas. 5) Jogo de futebol/futsal: dentre as inúmeras definições para o jogo de futebol/futsal disponíveis neste estu- do, assumimos, neste momento, a seguinte caracteri- 12 © FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO zação: o futebol/futsal pode ser entendido como um jogo convencionado, praticado predominantemente com os pés, cujo objetivo é fazer mais gols que a equi- pe adversária. Caracteriza-se por situações complexas, de ordem e frequência não previstas, que exigem, a todo o momento, adaptação, tomada de decisão e respostas imediatas para as situações de cooperação e oposição que se estabelecem na disputa pelo objeto do jogo (a bola). Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave do estudo. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas próprias percepções. É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conte- údos de ensino. Com base na teoria de aprendizagem significativa, enten- de-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, 13© FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO ganhos pedagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem escolar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pes- quisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que estabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do alu- no. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape- nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci- so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configu- re como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante considerar as entradas de conhecimento e organizar bem os ma- teriais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos conceitos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes es- truturas cognitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimen- to, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs. br/edutools/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 4 set. 2015). 14 © FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de Futebol e Futsal. Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im- portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar en- tre um e outro conceito deste material e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino e de aprendizagem. Por exemplo, de acordo com o Esquema, podemos verificar que o futebol e o futsal envolvem reflexões ligadas a aspectos técnicos, táticos, históricos, socioculturais às regras que lhes são específi- cas e às suas metodologias de ensino. Ao estudarmos estes ele- mentos, tomaremos contato com uma visão abrangente destas modalidades. O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no am- biente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem 15© FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presencialmente no polo. Lembre-se de que você, alu- no EaD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas ques- tões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com a prática do ensino do futebol e do futsal pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, me- diante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dis- sertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. As questões de múltipla escolha são as que têm como res- posta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questões abertas objetivas as que se referem aos conteú- dos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determi- nada, inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma. 16 © FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bi- bliografias apresentadas no Plano de Ensino e no item Orienta- ções para o estudo da unidade. Figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte in- tegrante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra- tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con- teúdos do estudo, pois relacionar aquilo que está no campo visu- al com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com- partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite- -se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, por- tanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno do curso de Bacharelado em Educação Física na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com 17© FUTEBOL E FUTSAL CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas po- derão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de pro- duções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que vocêam- plie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas ques- tões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procuran- do sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este material, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. 3. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BAYER, C. La enseñanza de los juegos deportivos colectivos: baloncesto, fútbol, balonmano, hockey sobre hierba y sobre hielo, rugby, balonvolea, waterpolo. 2. ed. Barcelona: Hispano Europea, 1992. © FUTEBOL E FUTSAL 19 UNIDADE 1 ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL 1. OBJETIVOS • Possibilitar o acesso à história do futebol, desde a prá- tica de alguns jogos que o antecederam até sua institu- cionalização na Inglaterra. • Apresentar o contexto brasileiro e permitir a compre- ensão das condições históricas que determinaram sua trajetória. • Oferecer condições necessárias para compreender a história do futebol de forma crítica e contextualizada. • Favorecer a reflexão pedagógica frente aos conteúdos históricos e a atualidade do futebol. 2. CONTEÚDOS • Os possíveis jogos precursores do futebol. • A história do futebol moderno na Inglaterra e no Brasil. • O elitismo e o racismo no início da prática do futebol moderno no Brasil. • O processo de popularização e profissionalização do fu- tebol moderno no país. 20 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli- citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 2) Para que você aproveite todo o conteúdo desta uni- dade, é necessário tomar certos cuidados. Por ser um material sustentado especialmente em fatos históri- cos, é importante que seja feita uma leitura cuidadosa do texto elaborado e das obras citadas, bem como o acesso a outras informações relacionadas ao tema e que permitam a comprovação ou mesmo uma reestru- turação do conteúdo desenvolvido. 3) Para facilitar a sua leitura, a compreensão dos aspec- tos históricos e a cronologia dos fatos, sugerimos que fique atento às possíveis lacunas de tempo e à sequên- cia de fatos sobre a história do futebol. 4) A fim de compreender a evolução histórica do futebol, a partir da prática de jogos com bola até sua institucio- nalização, note as possíveis influências exercidas por seus precursores (os quais não se restringem ao jogo praticado na Inglaterra no início do século 19). 5) Para ampliar seus conhecimentos e a quantidade de informações a respeito do futebol, sugerimos que não se atenha somente a este material. Consulte as fontes indicadas e busque novas referências. 21© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Caro(a) aluno(a), daremos início ao estudo de Futebol e Futsal. A partir desse momento, você irá se deparar com uma das manifestações mais populares e apaixonantes do mundo. Recor- reremos à caracterização de Bruni (1994, p. 7) para nos ajudar nesse primeiro contato: Sua definição estrita, como esporte que utiliza uma bola joga- da com os pés, mal deixa entrever o universo de significações simbólicas, psíquicas, sociais, culturais, históricas, políticas e econômicas inesgotáveis que envolvem multidões, encontradas no público em geral, nas torcidas organizadas, nos jogadores e equipes técnicas e burocráticas, concentradas em torno de um espetáculo que empolga sociedades, nações, países [...], mobi- lizando milhões de dólares e conquistando a adesão cada vez maior de pessoas de todas as camadas sociais. Pelas colocações de Bruni, percebemos que o futebol não consiste apenas em uma modalidade esportiva formal, regida por um conjunto de regras, mas trata-se de uma prática social que pode ser compreendida como uma construção histórica or- ganizada a partir da segunda metade do século 19 e que se mo- dernizou até os dias atuais. Veja que a definição de Bruni expres- sa uma pequena parcela do universo do futebol e nem sequer faz referência ao esporte como uma "simples" prática de lazer, por exemplo. Iniciaremos nossos estudos tendo contato com os primei- ros jogos e sua influência na evolução do futebol, tal qual o co- nhecemos hoje. Partiremos da China, passaremos pelo Japão, Grécia, Itália, França e, finalmente, pela Inglaterra. O acesso a algumas dessas práticas e a essa remota história será realizado por meio dos textos de Aquino (2002) e Normando (2004). 22 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL O futebol no Brasil será abordado tendo como referenciais a influência inglesa e sua prática enquanto privilégio das elites paulistana e carioca. Veremos também que, antes de se transfor- mar na manifestação esportiva mais popular da cultura do povo brasileiro, o racismo esteve presente em sua prática. Nessa esfera, apresentaremos os motivos e os processos sociais que determinaram a popularização do futebol, bem como sua inserção nas classes sociais populares, apesar da resistência de grupos economicamente privilegiados, contrários ao avanço do profissionalismo nessa área. De maneira geral, acompanharemos a trajetória do futebol no Brasil, destacando especialmente o período que compreende sua chegada em 1894 – sua prática elitista e racista, passando pelo amadorismo marrom (que será abordado no Tópico 6 desta unidade) – até sua profissionalização, em 1933. Para que você realmente possa compreender o "fenômeno futebol", trate-o com cuidado e respeito. Somente dessa forma poderá apreendê-lo na condição de "esporte das multidões" ou "paixão nacional". Assim, você aumentará suas chances de com- preender quem é o seu aluno/atleta e o que ele procura em suas aulas/sessões de treinamento. 5. OS PRIMEIROS TEMPOS Há muitas histórias sobre a origem do futebol. No entanto, as referências levam-nos a constatar que o futebol não foi simples- mente inventado, como o basquetebol ou o voleibol, criados para atender a determinadas demandas a partir de práticas esportivas já existentes. O futebol é fruto da evolução histórica de inúme- ros jogos com bola, praticados por diversos povos em diferentes 23© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL épocas, e que, em determinadas situações e condições históricas (como veremos mais adiante), foi alvo de um processo de insti- tucionalização, tornando-se um dos pilares do esporte moderno. De forma semelhante ao rúgbi, ninguém sabe especifi- car, ao certo, quando se inicia a história do futebol. Para Aquino (2002), apesar de referências feitas por historiadores e arqueólo- gos, os quais registram a prática de algo parecido com o futebol no Egito e na Babilônia (centros de civilização da Antiguidade), informações mais precisas apontam que na China praticava-se o tsutchu, há aproximadamente 2.300 anos. Tsutchu, que significa "golpe na bola com os pés", era pra- ticado em três modalidades. A primeira caracterizava-se pela participação de apenas um jogador, que fazia malabarismo com a bola. Na segunda, havia o envolvimento de duas equipes com o objetivo de transpor a bola sobre uma rede, mas os jogadores não podiam deixar a bola tocar o solo no próprio campo. Na ter- ceira, duas equipes tinham como meta passar a bola em alvos parecidos com gols, dispostosnos cantos do campo. De acordo com Aquino (2002), estas modalidades foram criadas por Yang- -Tsé, membro da guarda do imperador Huang-Ti, e seriam utiliza- das como treinamento da guarda imperial e, posteriormente, de todos os soldados que se preparavam para guerra. Ainda no Oriente, mas agora no Japão, cerca de 500 ou 600 anos após a origem do ancestral chinês, surgiu o Kemari, que de- monstrava aspectos muito mais ritualísticos do que competitivos. Não se contavam pontos, de forma que o único objetivo do jogo era apurar a técnica de dominar a bola com os pés. Normando (2004, n. p.) relata que o Kemari deveria ser praticado entre árvo- res nobres – "um pinheiro a noroeste, um ácer a sudoeste, uma cerejeira a nordeste e um salgueiro a sudeste". Tal como o tsutchu, 24 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL inicialmente havia o propósito militar, tornando-se, mais adiante, uma prática dos nobres, até chegar às classes populares. Veja, na Figura 1, uma ilustração do Kemari. Fonte: Normando (2004). Figura 1 O Kemari. Depois de ter passado pela China e pelo Japão, a história segue até a Grécia, no século 1 a.C., onde se praticava o epyskiros. Tal prática era muito popular, embora não fizesse parte dos Jogos Olímpicos (AQUINO, 2002). Apesar da referência, Aquino (2002) e Normando (2004) afirmam que há poucas informações sobre esta modalidade. O que se sabe é que o vencedor era determina- do quando a equipe conseguia ultrapassar a linha demarcatória com a bola nas extremidades do campo (NORMANDO, 2004). É interessante que, nesse contexto, durante 12 séculos de existência dos antigos jogos olímpicos, esportes com bola jamais foram incluídos nos programas oficiais, apesar do enorme inte- resse dos gregos por esse tipo de jogo. O epyskiros compunha 25© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL um grupo de jogos denominados de sphairomakhia, que englo- bava esportes em que a bola era jogada com as mãos ou com os pés (AQUINO, 2002). Vejamos, agora, o exemplo da Itália, mais especificamente de Roma, local onde se praticava o harpastum. Inspirado no jogo grego, utilizava uma bola de couro parecida com a atual. O couro envolvia uma bexiga de boi cheia de ar e o campo era retangular, dividido por três linhas, uma central e duas linhas de meta nas extremidades. Segundo Aquino (2002), a bola deveria ser passa- da de jogador a jogador até que um deles tivesse condições de arremessá-la em direção à linha de meta adversária. Caso a bola a transpusesse, a equipe marcava um ponto. Para Normando (2004, n. p.): Claramente, a armação do "time" sujeitava-se às qualidades físicas e técnicas dos jogadores e, ao que tudo indica, a brutali- dade das disputas foi cedendo espaço para jogadas viabilizadas a partir de uma unidade coletiva. A bola era pequena e deve- ria ser lançada detrás das linhas demarcatórias. As equipes de- senvolveram uma diversidade de alternativas táticas e técnicas para ludibriar os adversários nas quais os passes e dribles eram incentivados para o deleite do público que aplaudia e gritava com regozijo. Pela descrição, note que o fato de se assumir uma meta a ser alcançada, a existência de parceiros e um adversário a ser "vencido" implicam a adoção de táticas de ataque e defesa em um jogo com bola. Essa transformação pode ter traçado uma inquestionável aproximação tática com o jogo contemporâneo, colocando-o como um antecessor direto do futebol atual. Como resultado de suas invasões, Roma apropriou-se do epyskiros, criando o harpastum. E, com a conquista de terras ao norte da Europa, essa modalidade logo foi introduzida pelo exér- 26 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL cito romano no continente europeu. Certamente, o processo evolutivo do futebol teve um avanço considerável com o apogeu do Império Romano. Os atuais territórios da França e da Ingla- terra acabaram incorporando essa influência em suas culturas (AQUINO, 2002; NORMANDO, 2004). Entretanto, no que se refere à Inglaterra, existe uma di- vergência entre alguns historiadores: uns acreditam que tenha sido de fato os romanos, durante os quatro séculos de domínio que se seguiram à primeira expedição de Júlio César, no ano 43 d.C., que deram a conhecer aos bretões as regras do harpastum; outros afirmam que os romanos, ao chegarem à Bretanha, já en- contraram lá um futebol nativo, de origem meio lendária, meio cívica. Para Normando (2004), tal dúvida é justificada pelo que denominou de "orgulho britânico", pois os ingleses acreditam ser os inventores do esporte contemporâneo. A partir do século 12, e durante muito tempo, a brutalida- de esteve presente nos jogos com bola na Inglaterra, designados de ludus pilae. Durante as terças-feiras de Carnaval (Shrove Tues- days), aproximadamente 500 pessoas de cada lado disputavam uma bola, com o objetivo de ultrapassar a linha de meta adversá- ria. Para isso, esbofeteavam-se e provocavam uma enorme con- fusão. Na cidade de Ashbourne, por exemplo, os portões norte e sul eram as metas a serem atingidas. Ao final das disputas, era comum o registro de mortes de alguns participantes (NORMAN- DO, 2004). Veja, na Figura 2, representações da ludus pilae. 27© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Fonte: Normando (2004). Figura 2 Ilustração do ludus pilae. Diante de tanta brutalidade, em 1314, o rei Eduardo II proi- biu a prática do ludus pilae na Inglaterra, argumentando que "es- tas escaramuças ao redor de bolas de grande tamanho, de que resultam muitos males, que Deus não permita" (AQUINO, 2002, p. 15). Para Normando (2004, n. p.), "temia-se que o interesse pelo ludus pilae desvanecesse o empenho dos homens no arco e flecha ou na esgrima – práticas de maior utilidade nos entreve- ros bélicos". As proibições reais foram reforçadas de tempos em tempos, de modo que o futebol na Inglaterra da Idade Média não passasse de um jogo severamente combatido pelas autoridades. Contrariamente ao que aconteceu na Inglaterra, as práti- cas com bola na Itália do mesmo período não sofreram persegui- ções pelas autoridades. Na época, houve até certo estímulo por parte da ala nobre italiana ao que denominaram de calcio (NOR- MANDO, 2004), prática iniciada em Florença e cuja denominação passou a fazer referência ao futebol contemporâneo praticado no país. Ainda hoje, no dia de São João, padroeiro da cidade de Florença, em 24 de junho, seus habitantes encenam o histórico jogo. 28 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Normando relata que os italianos podem ter sido os pri- meiros a organizarem um conjunto de regras de um jogo com bola. No calcio (veja Figura 3), em específico, havia a participação de 27 jogadores com funções específicas, sendo três zagueiros fi- xos, quatro zagueiros avançados, cinco que atuavam no meio de campo e quinze na posição que corresponde aos atacantes. Fonte: Normando (2004). Figura 3 O calcio. Assim como na Itália, o futebol também encontrou o apoio de nobres na França. O jogo dos franceses, denominado soule ou choule, foi, provavelmente, outra variante do harpastum ro- mano, sendo praticado tanto pelo homem do povo como pelos nobres. Segundo o relato de Aquino (2002), o soule era realizado em dimensões preestabelecidas e disputado sem número fixo de participantes. A meta desse jogo era conseguir passar a bola por entre dois balões. Quem conseguisse fazê-lo marcava um ponto para sua equipe. 29© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Menos violento que o futebol dos ingleses, Normando (2004) relata que esse jogo francês quase não encontrou resis- tência. Por um lado, sua prática diferiu da rudeza da disputa an- glo-saxã, na medida em que privilegiava a habilidade dos dribles em detrimento da força dos chutões. Por outro lado, em conso- nância com os ingleses, as partidas podiam envolver até povoa- dos inteiros em contendas que duravam horas ou mesmo dias. O autor relata tambémque, do final da Idade Média até o início da Moderna, os colonizadores passaram a descortinar a cultura dos povos americanos e, como não podia ser diferente, os jogos com bola também fizeram parte dessa cultura – pela primeira vez foram encontrados relatos da utilização de bolas confeccionadas com látex. Contudo, acredita-se que os jogos praticados nas Américas não contribuíram para a consolidação do futebol moderno. Voltando à Europa, agora na Idade Moderna, foi observado um relaxamento na oposição ao futebol a partir do século 17. Para Normando (2007, n. p.), Talvez, o mais eficiente dos caminhos alternativos que garanti- ram a sobrevivência do jogo de bola tenha sido sua esportivi- zação, isto é, sua codificação em regras que tentaram diminuir seu acentuado tom de violência e de desordem e que viabiliza- ram sua tolerância, sobretudo, nas escolas e universidades da Inglaterra do início do século 19. O caráter violento do futebol mudou apenas quando o es- porte chegou às escolas, por volta de 1840. Antes, no período de 1810 a 1840, colégios ingleses como Eton, Harrow, Rugby, Shrewsbury Westminster possuíam suas próprias regras, o que impossibilitou a disputa entre suas respectivas equipes. O espor- te tornou-se, a partir desta data, obrigatório nos recreios esco- 30 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL lares britânicos, uma vez que a rainha Vitória, aconselhada pelo pedagogo Thomas Arnold, pôs fim à proibição. Qual foi a razão dessa trégua? Por que a rainha Vitória de- cidira que os jovens ingleses poderiam e até deveriam se entre- gar a esse esporte tão primitivo, tão bárbaro? Arnold recomen- dava que os esportes fossem utilizados nas escolas, com o fim de canalizar para os campos de competição a energia que, de outra forma, os jovens poderiam desperdiçar em práticas condenáveis. Segundo esse educador, não eram práticas condenáveis apenas o vício do jogo e o do álcool, mas as ideias políticas de sentido reformista que poderiam pôr em risco o conservadorismo defen- dido pelos vitorianos. Com o futebol, os meninos não perderiam tempo conver- sando nos recreios, trocando ideias; os nobres poderiam ser influenciados pelos plebeus e pela classe média em ascensão. Além disso, o que haveria de mais eficaz e menos perigoso do que colocar os jovens para correr atrás de uma bola, brigando por ela durante a hora do recreio? Na primeira década do século 19, o futebol e outros espor- tes já faziam parte da educação regular dos jovens que frequen- tavam as escolas públicas, particulares e as universidades. Em cada uma delas, o futebol organizou-se, direcionado à institucio- nalização. Foi nesse momento que surgiram as primeiras leis ou regras escritas, impressas e publicadas. A grande popularização do esporte no continente europeu culminou na necessidade de padronizar regras para as disputas entre as nações, abrindo, deste modo, espaço para um movimen- to clubístico que passou a ser denominado de "associacionismo". 31© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Neste ponto, concluímos o verdadeiro motivo de assumir os ingleses como os inventores do futebol: coube aos britânicos a institucionalização do jogo, iniciando, assim, a sistematização das primeiras regras em manuais de conduta desportiva, que de- limitavam aspectos, como o número de jogadores, tamanho de campo e os gestos que seriam ou não permitidos. Logo, o futebol moderno começou a ser criado em 1848, quando, na Universidade de Cambridge, uma conferência reuniu a maioria dos diretores de colégios que praticavam o esporte. Nessa reunião, foi decidida a proibição de usar as mãos e os bra- ços (com exceção do goleiro) no jogo. As regras, entretanto, não foram aceitas por todas as escolas. Quinze anos mais tarde, em 26 de outubro de 1863, reu- nidos na Taberna Freemason, em Great Queen Street, Londres, onze clubes e escolas criaram as bases para as regras que hoje regem o futebol. Foi fundada, então, a Football Association. Nessa reunião foi levantada uma polêmica quanto à prefe- rência pelo jogo de futebol "limpo", em que seria coibida a vio- lência e abolido o jogo com as mãos, de acordo com as regras de Cambridge, o qual permitia um maior contato e uso das mãos, sendo agressivo em muitos casos. Como os representantes não chegaram a um consenso, a questão foi colocada em votação, vencendo as regras propostas por Cambridge. Os derrotados, descontentes, abandonaram o futebol para desenvolverem ou- tro esporte: o rúgbi. Daí para frente, o futebol e o rúgbi passaram a seguir caminhos distintos. O primeiro torneio de futebol foi realizado em 1871, em uma disputa entre clubes. No ano seguinte, em 30 de novembro de 1872, Inglaterra e Escócia empataram em 0 x 0, no que se considera o primeiro amistoso internacional da história, como 32 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL mencionamos anteriormente. O profissionalismo no futebol foi iniciado somente em 1885 e, no ano seguinte, foi criada, na In- glaterra, a International Board, entidade cujo objetivo principal era estabelecer e mudar as regras do futebol. Na Figura 4, você pode ver como era a bola de futebol usada no final do século 19. No início do século 20, o futebol mundial começou a se organizar. As federações nacionais existiam, mas sem uma organização internacional capaz de regular as relações entre um país e outro no campo futebolístico. Dessa forma, em 21 de maio de 1904, foi aprovado um estatuto que regeria as relações futebolísticas entre as nações, surgindo, então, a FIFA (Federation International Football Asso- ciation), que, devido a problemas diplomáticos, à falta de credi- bilidade de uma entidade recém-criada e ao cenário iminente de guerra, conseguiu, somente em 1930, pôr em prática o sonho de organizar um torneio mundial entre seleções nacionais, realiza- do, curiosamente, no Uruguai, em virtude do estado catastrófico em que se encontravam os países europeus pós-guerra. Nesse ponto, o futebol já havia se espalhado por todos os cantos do planeta, chegando ao Brasil na última década do sé- culo 19, trazido por marinheiros, padres jesuítas ou, quem sabe, pelo próprio Charles Miller. Mas esse é um assunto que aborda- remos mais adiante. Até aqui, foi apresentada uma descrição dos principais fa- tos que compõem a história do futebol. Figura 4 Bola de futebol do final do século 19. 33© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL 6. HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL: PROCESSOS E INTERPRETAÇÕES Neste tópico teremos contato com a história do futebol dentro do contexto do esporte moderno: desde sua origem na Inglaterra, no final do século 19, até sua chegada e desenvolvi- mento no Brasil. Devido à falta de registros, muitas informações se perderam. Por essa razão, em algumas situações, o período e as datas são aproximados. Este histórico não consistirá apenas no apontamento de datas e fatos isolados, o que, por si, é uma tarefa relativamente tranquila de ser realizada. O mais interessante é entendermos o contexto histórico que propiciou as condições para que o futebol se transformasse no esporte mais popular do mundo. Apesar do consenso em relação à chegada do futebol no Brasil pelas mãos de Charles Miller, em 1894, há estudos que relatam que jogos com bola já eram praticados em nosso país. Há menções sobre um jogo com bola nos anais de 1746 da Câma- ra Municipal de São Paulo. De acordo com os registros, tal jogo era proibido, pois causava "agrupamentos de vadios e desordei- ros" (AQUINO, 2002, p. 24). Que jogo seria esse? Até hoje não se sabe. Porém, não há dúvida de que foram os ingleses (tripulantes de navios mercantes), a partir de 1864, os primeiros a jogarem futebol no litoral brasileiro. Há, também, informações de que as primeiras práticas do jogo com bola na província de São Paulo datam de 1872, no Colé- gio São Luís, em Itu. Nesse colégio, os alunos eram incentivados por um sacerdote a chutarem umbalão de couro contra um dos muros do colégio. Note que, até o momento, não foram feitas referências a um jogo de futebol e, sim, a um jogo com bola. 34 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL A primeira menção à palavra "futebol" pode ser encontra- da em um trecho do Regulamento do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1892 (CARRANO, 2000 apud AQUINO, 2002, p. 25): O diretor e o vice-diretor do Ginásio procurarão desenvolver em seus alunos o gosto pelos exercícios de tiro ao alvo, de bes- ta, tiro e flecha, exercícios ginásticos livres, saltos, jogo de vo- lante etc. E farão, todos os domingos, um passeio para fora do centro da cidade [...]. São permitidos como jogos escolares: a barra, a amarela, o futebol, a peteca, o jogo de bola, o cricket, [...] o crochê, corridas, saltos e outros, que, a juízo do diretor, concorram para desenvolver a força e a destreza dos alunos, sem pôr em risco sua saúde. Oficialmente, a entrada do futebol – estabelecido de acor- do com as regras do Football Association – como elemento inte- grante da cultura corporal de movimento do Brasil ocorreu em 1894, quando Charles William Miller (1874-1953), brasileiro de descendência inglesa, volta de seus estudos na Inglaterra e traz consigo uma bola de futebol e alguns uniformes para a prática do jogo, transformando-se no grande incentivador do futebol na capital paulista. No final do século 19 e início do século 20, o futebol já acumulava adeptos e praticantes, especialmente os jovens da elite econômica em São Paulo e no Rio de Janeiro. No princípio, o futebol apresentou um caráter essencialmente elitista, em que apenas os estudantes dos colégios grã-finos tinham a oportu- nidade de participar dos jogos que aconteciam no interior das escolas. Nesse sentido, o futebol fazia parte de uma série de ati- vidades que eram executadas pelos alunos durante as aulas de atividade física. De acordo com algumas fontes, em 14 de abril de 1895, foi realizada a primeira partida de futebol no Brasil, no campo da 35© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Companhia Paulista de Aviação, entre equipes de trabalhadores de indústrias inglesas. Já o primeiro clube destinado à prática do futebol foi fundado na cidade de São Paulo, em 1898, e rece- beu o nome de Associação Atlética Mackenzie College. Augusto Shaw, professor desse colégio, voltou dos Estados Unidos trazen- do consigo uma bola de basquetebol, esporte que pretendia di- fundir entre os alunos. Só que estes preferiram chutá-la. A partir desse período, outros clubes foram fundados. Eles se organizaram e formaram a Liga Paulista de Futebol. Na cidade de Rio Grande (RS) foi fundado, em 14 de ju- lho de 1900, o primeiro clube destinado à prática exclusiva do futebol, o Sport Club Rio Grande. Devido a esse fato, essa data passou a ser considerada o "Dia do Futebol". No Rio de Janeiro, então capital federal, o precursor do futebol foi Oscar Cox (1880-1931), que também estudou na Eu- ropa. Cox foi responsável pela formação da primeira equipe de futebol no Rio de Janeiro, em 1901, e pela fundação do Flumi- nense Football Club, em 21 de julho de 1902 (AQUINO, 2002). Cox e os demais fundadores do Fluminense eram jovens chefes de empresas, empregados de alto nível ou simplesmente filhos de pais ricos, legítimos representantes das elites cariocas. Portanto, no Rio de Janeiro, o primeiro clube fundado com a intenção de ser um clube de futebol foi o Fluminense, que co- brou ingressos pela primeira vez em 16 de julho de 1903, para que o público pudesse assistir a uma partida de futebol. Assis- tiram à partida 2.500 pessoas e 969 pagaram para vê-la. Nesse jogo, até o presidente da República da época, Rodrigues Alves, esteve presente (REIS; ESCHER, 2006). 36 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Nos primeiros anos do século 20, o futebol começou a se propagar no seio da classe rica. Alguns colégios tinham-no como prática sistemática em seus espaços destinados às atividades físicas e, em pouco tempo, bons jogadores estavam sendo for- mados para ingressar nas equipes de futebol dos clubes já con- solidados. No Rio de Janeiro, havia o Paysandu; em São Paulo, o clube Germânia (atualmente denominado Clube Pinheiros), o Club Athletico Paulistano e o São Paulo Athletic Club. Era muito comum a utilização de palavras e expressões em inglês ao se referirem ao futebol (por exemplo: field, goalkeeper, fullback). Nas arquibancadas, os homens vestiam-se de ternos, chapéus e traziam bengalas; as mulheres usavam vestidos lon- gos com mangas até o punho, acompanhadas de sombrinhas. No campo, os jogadores utilizavam calções abaixo dos joelhos, camisas de gola, e quando cometiam faltas, falavam "I am sorry" ("desculpe-me"). Como as pessoas de classes sociais mais baixas não podiam frequentar os mesmos espaços que as pessoas das classes so- ciais mais abastadas (as arquibancadas), foram criadas as "ge- rais", que eram espaços destinados aos "pobres". Nesse período, o futebol enfrentava a concorrência de ou- tras práticas esportivas, como o ciclismo, o remo, o tiro ao alvo, o críquete e corridas de cavalo. A cor do futebol Além de elitista, a prática do futebol também poderia ser classificada como racista. Neste caso, acreditamos que o racismo no futebol brasileiro merece uma atenção especial, não porque o futebol apresente um caso isolado de atitudes racistas ao lon- 37© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL go de sua história, mas porque, durante a formação do Estado brasileiro, a prática da segregação racial foi uma política delibe- rada de Estado. Por isso, o preconceito acentuava-se no futebol, dependendo da cor da pele. Os relatos de acontecimentos racistas na sociedade bra- sileira, e também em muitas outras partes do mundo, são inú- meros e lamentáveis. No caso do racismo na sociedade brasilei- ra, podemos afirmar que há razões históricas que remontam ao tempo do Brasil Colônia. Não pretendemos, nesta unidade, realizar uma discussão ou um estudo que explique essa história em detalhes, todavia, ela serve para que nós tenhamos ciência de que o racismo, pre- sente nos fenômenos esportivos modernos (e no caso específico do futebol), tem suas raízes e sua presença no conjunto da histó- ria do povo brasileiro e da formação do Brasil como nação. Após a publicação da lei que concedeu a liberdade aos es- cravos em 1888, nenhuma política pública de inclusão foi desen- volvida a fim de possibilitar aos negros o acesso ao mercado de trabalho assalariado e a uma vida digna. Os negros foram, deliberadamente, colocados à margem da sociedade e obrigados a viver sob condições desumanas. A busca pela afirmação e por espaços dignos de vida tornou-se re- duzida, sendo o futebol uma das poucas oportunidades para que essas pessoas pudessem encontrar um lugar dentro da socieda- de brasileira nas primeiras décadas do século 20. Para evidenciar o racismo e o elitismo que perpetuaram ao longo do estabelecimento do futebol, a partir da sua formali- zação, Aquino (2002) recorre a duas passagens envolvendo dois dos nossos principais escritores – Lima Barreto e Rui Barbosa. 38 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL O primeiro foi responsável pela criação da Liga contra o Fu- tebol. Segundo Lima Barreto, o futebol, além de ser usado como "ópio do povo", era prática racista da burguesia e filho do impe- rialismo inglês. Já Rui Barbosa, antes de uma viagem de navio para a Ar- gentina, ficara sabendo que o selecionado brasileiro estaria no navio e disse ao Ministro das Relações Exteriores: Pois saiba o senhor que eu, minha família e meus auxiliares não viajamos com essa corja de malandros! Futebolista é sinônimo de vagabundo, e pode escolher imediatamente, senhor Minis- tro, ou eles ou eu (BECKER, L. 2015, n. p.) A delegação então teve que viajar de trem até Buenos Aires. O autor também faz referência ao ofício enviado pela LigaMetropolitana de Sports Atléticos, em maio de 1907, aos clubes associados, comunicando que não registraria amadores que fos- sem "pessoas de cor". Isso fez com que fosse criada a Liga Subur- bana de Football. Absurdos como "negro sujo" e "crioulo nojento" eram ex- pressões muito frequentes nos campos de futebol no Brasil, nos anos de 1920 e 1930. Hoje, tais expressões foram substituídas por outras mais amenas, embora não menos cruéis. Mesmo jogadores negros como Leônidas da Silva e Domin- gos da Guia, que, nos anos de 1930 e 1940, foram os jogadores mais bem pagos no futebol da época, continuaram a ser desvalo- rizados intelectualmente. Ambos conseguiram superar o precon- ceito, de maneira que, com seus talentos, adentraram ao mundo da prática do futebol. 39© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Convém salientar, porém, que Leônidas e Domingos da Guia foram exceções, uma vez que muitos jogadores negros su- cumbiram ao racismo presente no futebol da época. Citamos como exemplo o caso do jogador Carlos Alberto, que, por ser mulato, maquiava-se com pó de arroz para embranquecer o ros- to, pois o clube carioca para o qual tinha se transferido (Flumi- nense) era um dos times mais resistentes à inclusão de pessoas pobres e negras nas competições oficiais de futebol. Outro exemplo é o caso do primeiro grande jogador da história do futebol brasileiro, Arthur Friedenreich, que era filho de pai alemão e mãe negra. Na década de 1920, chegava sem- pre atrasado aos jogos, pois ficava preso nos vestiários passando goma arábica nos cabelos para alisá-los, pois era mulato. Segun- do Corrêa (1985), esse foi o primeiro negro a superar-se no fute- bol racista da época. Fausto, tão bom jogador quanto Friedenrei- ch, foi o primeiro negro a ser convocado para a seleção brasileira. Nessa época, o racismo no futebol brasileiro era tão acin- toso que até o presidente da República, Epitácio Pessoa, impediu que jogadores negros disputassem o campeonato sul-americano de seleções de futebol, que seria realizado na Argentina. Um dos argumentos utilizado pelo presidente era que, em caso de der- rota brasileira, os brancos da equipe poderiam culpar os negros e, com isso, alimentar ainda mais o preconceito racial no Brasil. A história nos mostra inúmeros casos em que jogadores ne- gros (e somente os negros) foram responsabilizados por derrotas que ficaram gravadas na memória dos apaixonados por futebol. Na fatídica derrota da seleção brasileira de futebol na Copa de 1950, realizada no Brasil, a seleção uruguaia venceu por 2×1. Coincidência ou não, o goleiro Barbosa e os defensores Juvenal e Bigode, todos negros, foram responsabilizados pela derrota. So- 40 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL bre essa tragédia do futebol brasileiro, o escritor Eduardo Galea- no elaborou uma bela crônica sobre o eterno drama vivido pelo goleiro Barbosa. Diz o escritor Galeano (2004, p. 43): Na hora de escolher o melhor goleiro do campeonato, os jor- nalistas do Mundial de 50 votaram, por unanimidade, no bra- sileiro Moacir Barbosa. Barbosa era também, sem dúvida, o melhor goleiro de seu país; pernas com molas, homem sereno e seguro que transmitia confiança à equipe, e continuou sendo o melhor até que se retirou das canchas, tempos depois, com mais de 40 anos de idade. Em tantos anos de futebol, Barbosa evitou, quem sabe, tantos gols, sem machucar nunca nenhum atacante. Mas, naquela final de 50, o atacante uruguaio Ghiggia o tinha surpreendido com um chute certeiro da ponta direita. Barbosa, que estava adiantado, deu um salto para trás, roçou a bola e caiu. Quando se levantou, certo de que havia desviado o tiro, encontrou a bola no fundo da rede. E esse foi o gol que esmagou o estádio do Maracanã e fez o Uruguai campeão. Pas- saram-se anos e Barbosa nunca foi perdoado. Em 1993, durante as eliminatórias para o mundial dos Estados Unidos, quis dar ânimo aos jogadores da seleção brasileira. Foi visitá-los na con- centração, mas as autoridades proibiram sua entrada. Naquela época, vivia de favor na casa de uma cunhada, sem outra renda além de uma aposentadoria miserável. Barbosa comentou: "no Brasil, a pena maior por um crime é de 30 anos. Há 43 anos pago por um crime que não cometi. Segundo Corrêa (1985), somente após a vitória na Copa de 1958, disputada na Suécia, os negros no futebol brasileiro foram mais valorizados, mas unicamente pela sua ginga e malandra- gem dentro de campo – jamais por sua capacidade cognitiva ou intelectual. Você deve estar se perguntando: por que esse racismo todo? Para responder à sua questão, vamos tentar encontrar uma história na própria história. 41© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL A democratização do futebol Vimos que o futebol se origina no contexto do desenvolvimen- to e ampliação da sociedade capitalista no final do século 19. Era uma prática eminentemente burguesa e, ainda, com certa dose de nobre- za. As pessoas simples, pertencentes à classe dos trabalhadores, não participavam oficialmente dessa modalidade por razões estruturais e econômicas da referida sociedade e não dispunham de tempo livre para praticar o esporte, em função das horas dispendidas no trabalho. Podemos concluir que o esporte, no início de sua história, funcionava como um diferenciador de classes sociais. Ou seja, pela prática esportiva amadora, a burguesia da época mostrava e reafirmava a todos a crença em sua superioridade social e, tam- bém, racial. Com o futebol, não foi diferente. O futebol, assim como os demais esportes da época, era extremamente elitista e excludente. Só eram admitidos pratican- tes de famílias ricas, como os barões do café, empresários e al- tos funcionários das companhias industriais inglesas. O próprio Charles Miller, quando organizou o futebol moderno no Brasil, realizou os primeiros jogos em clubes da elite paulistana. Apesar da forte oposição em relação à democratização, essa situação se alterou gradualmente. Quais fatores podem ter influenciado a democratização do futebol? Aquino (2002, p. 32), à primeira vista, cita dois: Os adeptos do esporte bretão argumentavam que uma peleja de futebol estimulava o bom funcionamento de todos os órgãos, além do espírito de disciplina e de solidariedade entre os atle- tas [...]. A prática do futebol contou com o fato de serem poucas e simples as regras do jogo. Qualquer um, inclusive indivíduos dos segmentos pobres e não alfabetizados da sociedade, poderia praticá-lo facilmente segundo as regras. Bastava dispor de uma bola, de couro ou de pano, para animar um racha. O campo podia ser um terreno baldio, uma várzea, uma praça ou uma rua. 42 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Para Aquino, a Revolta da Vacina de 1904 também influen- ciou a democratização do futebol. Com intensa participação po- pular, especialmente dos capoeiristas, ela se deu pela imposição da vacina antivariólica às camadas mais baixas da sociedade. No trecho a seguir, há a explicação para esse fato (SANTOS apud AQUINO, 2002, p. 33): Quem venceu esta rebelião de 1904? O futebol. Atribuindo o comando da rebelião aos capoeiristas, a polícia matou a capo- eira, que reinava absoluta desde o século anterior [...]. O que restou para aquela gente? A bola, nos terrenos baldios que a remodelação da cidade oferecia [...] Com o aumento da popularização do futebol, ele começou a ser praticado em ruas, praças e terrenos baldios com bolas de meia e de borracha. Com isso, times de "esquina" começaram a surgir. O mais famoso foi o do Corinthians Paulista. Em 1910, o Corinthians inglês, em uma excursão pela América do Sul, veio ao Brasil e goleou todas as equipes com as quais jogaram. Os torcedores das gerais vibraram e, um mês depois, um grupo de artesãos e pequenos funcionários fundou o Corinthians Paulista (SANTOS apud AQUINO, 2002). Em 1904, também por influência inglesa, foi fundado, no subúrbio industrial da cidade doRio de Janeiro, o The Bangu Ath- letic Club. Seus associados eram altos funcionários de origem in- glesa da Companhia Progresso Industrial Ltda., fábrica de tecidos situada no bairro de Bangu. Como não havia, na época, número suficiente de altos funcionários para que dois times completos fossem formados, operários da linha de produção interessados em participar do jogo foram convidados. O Bangu tornou-se, desse modo, o primeiro clube a permitir o acesso dos operários a esse esporte, que era privilégio apenas da burguesia carioca e paulistana (CALDAS, 1990). 43© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL A escolha dos operários-jogadores dava-se, segundo o au- tor, em função do desempenho profissional e da boa conduta. A partir do convite, o jogador escolhido passava a desempenhar na fábrica um trabalho mais leve e, nos dias de treino, tinha autori- zação para deixar o trabalho mais cedo (CALDAS, 1990). A partir daí, iniciou-se a fase amadora do futebol brasileiro, bem como a sua popularização. Os clubes de fábrica foram de- terminantes no início desse processo; com isso, o futebol deixou de ser um privilégio apenas da colônia inglesa e das camadas sociais abastadas. Em pouco tempo, o exemplo da fábrica de Bangu difundiu- -se. Sua participação em campeonatos, com o bom desempenho da equipe, incentivou a formação de outros times ligados a fábri- cas, juntamente com o Fluminense e Botafogo. No estado de São Paulo, houve casos parecidos ao de Ban- gu. Em 1902, na cidade de Sorocaba, interior paulista, foi funda- do o Votorantim Athletic Club, também por iniciativa dos altos funcionários e técnicos ingleses da fábrica. Na capital paulistana, no bairro da Mooca, a empresa de tecelagem Regoli e Cia. Ltda. também tinha seu time de futebol. Em 1909, o empresário Ro- dolfo Crespi comprou-a, e o clube passou a se chamar Crespi F.C.; na década de 1930, foi rebatizado com o nome de Clube Atlético Juventus. Em pouco tempo, os clubes de fábrica já eram comuns, e passou a existir uma tradição de jogos entre eles, resultado da organização de competições e campeonatos. Inicialmente, essas competições eram entre as fábricas e, mais tarde, entre as equi- pes de origem inglesa. 44 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL O gosto e o desenvolvimento dessa prática levaram, nos anos seguintes, à transformação dos times de fábricas, forma- dos por operários, em clubes de futebol. No início, os empresá- rios (donos das fábricas), por conta dessa inevitável associação, foram os primeiros financiadores da organização e da estrutura física e material desses clubes. Entretanto, a inclusão de equipes de origem operária nas disputas dos torneios em que participavam os times da elite não era bem-vinda, bem como a presença de jogadores de ori- gem simples nas equipes formadas por jogadores das classes privilegiadas. Os donos das fábricas, representantes da pequena burgue- sia industrial brasileira da época, tinham grande interesse em financiar equipes de futebol e, também, os clubes ligados aos operários, uma vez que preservavam uma imagem de ordem e eficiência que os conduziria ao sucesso. Logo, se "o prestígio da empresa não era totalmente de- pendente da equipe de futebol, podia, em parte, ser favorecido por ele" (ANTUNES, 1994, p. 106). O clube era uma espécie de cartão de visitas; ele carregava seu nome e suas cores e, ao mes- mo tempo, divulgava seus produtos. Os empresários não demo- raram a perceber que o futebol praticado pelos operários pode- ria funcionar como um grande veículo de publicidade (BRUHNS, 2000). Nessa mesma época, surgiram jornais especializados e de- dicados aos esportes – em São Paulo, por exemplo, havia o Bra- sil Esportivo e o Sport. Em pouco tempo, a estrutura jornalística contaria com repórteres dedicados integralmente aos aconteci- mentos referentes ao futebol. 45© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Com o passar dos anos, e apesar da resistência imposta por alguns clubes, o futebol já não era mais privilégio dos rapa- zes das famílias ricas. Na década de 1920, eram frequentes os jogos entre equipes que tinham em seus quadros jogadores de diferentes classes sociais, com imensa presença da classe traba- lhadora como espectadora. Para ilustrar essa vitória do futebol, Aquino (2002, p. 33) aponta uma passagem do artigo de João do Rio, pseudônimo do escritor Paulo Barreto, intitulado "Teremos nós um novo es- porte em moda?", de 26 de junho de 1905, no Jornal Gazeta de Notícias: Não há dúvida. Há vinte anos a mocidade carioca não sentia a necessidade urgente de desenvolver os músculos. Os meninos dedicavam-se ao 'esporte' de fazer versos maus. Eram todos poetas aos quinze anos [...]. De um único exercício se cuida- va então: a capoeiragem. Mas a arte de revirar rabos-de-raia e pregar cabeçadas era exclusiva de uma classe inferior. Depois, a moda trouxe aos poucos o hábito de outras terras – o futebol se preparava agora para absorver todas as atenções. A mocida- de fala só de matchs de futebol, de goals, de chutes, em uma algaravia técnica, de que resultam palavras inteiramente novas no nosso vocabulário. Em 1923, o Vasco da Gama, com um time formado por ne- gros e pobres trabalhadores, conquistou o Campeonato Carioca. Na época, isso foi para os times elitistas – formados por estu- dantes e profissionais bem-sucedidos da alta sociedade carioca – motivo de humilhação. Como podemos perceber, no Brasil, os conflitos e interes- ses antagônicos das classes sociais, próprios da sociedade capi- talista, estavam presentes e reproduzidos no processo de popu- larização do futebol. 46 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Amadorismo marrom Em resposta à ascensão do futebol no contexto das fábri- cas, houve certa resistência dos sindicatos dos trabalhadores. Na época, comunistas e anarquistas que organizavam a luta sindi- cal no Brasil, especialmente em São Paulo, acreditavam que a prática do futebol pudesse prejudicar a luta e a organização dos trabalhadores por melhores condições de trabalho. Segundo os sindicalistas, o tempo livre dedicado à prática desse jogo atrapa- lharia a mobilização e a construção de uma consciência de clas- se. O futebol era entendido como o novo "ópio do povo". O amadorismo garantia, predominantemente, que somen- te a elite pudesse participar de competições com eficiência e domínio do jogo, pois não tinha de trabalhar, dispondo de mais tempo livre que a classe trabalhadora. A prática amadora asse- gurava, portanto, a ausência dos mais humildes, uma vez que eles não poderiam se dedicar ao futebol como exercício profis- sional. Isso, obrigatoriamente, afastava-os dos jogos oficiais e do convívio com a burguesia paulistana e carioca. Com a intenção de impedir a ascensão dos pobres, a Liga Me- tropolitana baixou uma norma que estabelecia que somente seriam registrados atletas capazes de assinar o próprio nome na súmula do jogo e que comprovassem estar estudando ou trabalhando. Depois disso, os dirigentes (especialmente o time do Vasco da Gama) co- meçaram a dar declarações de que determinado atleta trabalhava em suas casas comerciais, e os jogadores começaram a receber os famosos bichos. Para Mário Filho (apud AQUINO, 2002, p. 42), Chamavam-se esse dinheiro de bicho porque, às vezes, era um cachorro, cinco mil réis, outras, um coelho, dez mil réis, outras um peru, vinte mil réis, um galo, cinqüenta, uma vaca, cem. Não parava aí. Havia vacas de uma, de duas pernas, de acordo com o jogo. 47© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Surgiu, com essa prática, o amadorismo marrom, expres- são inventada por associação à imprensa marrom que vive da exploração de casos ilegais e sensacionalistas. A partir de então, os jogadores começaram a receber para jogar: além dos bichos, recebiam móveis, materiais de construção, empregos, entre ou- tras coisas. O fato é que, apesar disso, pobres e negros semostravam grandes jogadores, de forma que os clubes da elite acabaram se rendendo aos seus talentos. No começo, mascaravam o pro- fissionalismo recebendo salários como simples empregados do clube ou de uma fábrica, embora, na verdade, a remuneração viesse do vínculo com o time de futebol. Nesse período, a relação dos jogadores com os clubes pode ser denominada de semiprofissionalismo. Nesse contexto, muitos dos grandes jogadores do Brasil foram contratados por outras equipes da América Latina e Europa, dentre eles Domin- gos da Guia e Fausto. Para Caldas (1990), o semiprofissionalismo só interessa- va aos clubes, pois, enquanto as arrecadações nos estádios só aumentavam e enriqueciam os clubes, os jogadores permane- ciam na mesma condição de explorados e sem nenhum direito. Submetiam-se a essa situação na esperança de um dia profissio- nalizarem-se. Enquanto isso, os dirigentes, com raras exceções, exploravam a ignorância e a subserviência dos jogadores em tro- ca de salários irrisórios ou de empregos sem nenhuma garantia. Esse foi o quadro do futebol brasileiro até início dos anos 1930: um semiprofissionalismo de mão única, no qual somente os clu- bes ganhavam. Dessa maneira, racismo, elitismo, conflitos de classes e sentimento de superioridade marcaram os momentos iniciais do 48 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL futebol brasileiro, conflito esse que teve o seu ápice de mani- festação quando da profissionalização do futebol no país. Nesse sentido, conservar o futebol amador garantia, no modo de ver da elite, que brancos e negros, pobres e ricos mantivessem sempre uma distância. O profissionalismo no futebol brasileiro No sentido de acabar com a prática do amadorismo mar- rom ou semiprofissionalismo, algumas pessoas passaram a de- fender a profissionalização do futebol. Associado a isso, outro fator que favoreceu esse processo foi o crescente êxodo de joga- dores para o exterior, atraídos pelos altos salários oferecidos por clubes estrangeiros. Para se ter uma ideia, em 1931, cerca de 30 jogadores bra- sileiros foram para clubes italianos. Diante desta realidade, a ne- cessidade de manter o jogador por contrato também favoreceu esse processo, pois muitos jogadores abandonavam seus clubes, a qualquer momento. Nos dois principais centros desportivos do país – Rio de Janeiro e São Paulo – no ano de 1933, foram cria- das, respectivamente, a Liga Carioca e a Liga Paulista de Futebol, responsáveis pela implantação do profissionalismo no Futebol (AQUINO, 2002). Com a profissionalização oficial do futebol no Brasil, em 1933, foram ampliadas as oportunidades de trabalho de muitos operários, havendo a possibilidade de organização e formação de equipes mais competitivas e jogadores com boa qualidade técnica. Entretanto, apesar do profissionalismo, jogadores de clubes de fábrica continuaram trabalhando como operários e treinavam após o expediente. 49© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL Houve muita resistência a esse movimento, especialmente dos clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, que não viam com bons olhos a mistura de classes sociais na hora do jogo de fute- bol. O problema é que os clubes do subúrbio e das periferias já começavam a apresentar bons jogadores e a levar grande nú- mero de pessoas para assistir aos jogos. Foi o caso do Vasco da Gama do Rio de Janeiro. Com maior representação social, as disputas entre os clubes tornaram-se mais acirradas, assim como a busca pelos melhores jogadores. Como nesse momento os melhores jogadores provi- nham das camadas populares, os grandes clubes, se quisessem tê-los em seus times, teriam de contratá-los e pagar por eles. No contexto dos anos de 1930, o Brasil era governado pelo presidente Getúlio Vargas que, para conter o avanço político da classe trabalhadora e da esquerda, propôs uma política traba- lhista que regulamentava uma série de profissões, inclusive a de jogador de futebol. Os atletas, finalmente, transformaram-se em empregados dos clubes. Em 1940, três quartos dos jogadores profissionais já tinham origem social na classe trabalhadora. No entanto, era um profis- sionalismo tutelado pelos dirigentes e presidentes dos clubes. Os atletas profissionais, com raízes operárias e humildes, eram submetidos a uma relação paternalista e de controle so- bre seus hábitos de vida e recebiam salários insatisfatórios. Tais hábitos e cultura, segundo Caldas (2001), eram extremamente repugnados e rejeitados pelas classes média e alta. Depois de 1950, apesar da derrota da seleção brasileira de futebol para a seleção uruguaia na Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil, esse esporte, definitivamente, entrou para o 50 © FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL cenário cultural brasileiro como um grande espetáculo de mas- sa. O futebol consolidou-se, também, pela presença maior dos meios de comunicação na divulgação e organização dos eventos. No Brasil, até 1970, os jogos eram transmitidos pela tele- visão na forma de videoteipe. Com as conquistas das Copas do Mundo de 1958, na Suécia, e de 1962, no Chile, o estilo brasileiro de futebol ganhou reconhecimento internacional, por ser jogado com arte. O futebol no Brasil, então, consolidou-se como uma grande mercadoria da indústria cultural. Atualmente, o futebol profissional, enquanto grande pro- duto da lógica capitalista, está vinculado à indústria do entrete- nimento como um produto a ser consumido pelas milhares de pessoas que vão aos estádios ou pelos milhões que assistem aos jogos pela TV. Durante as transmissões ao vivo dos jogos pela televisão, a publicidade de inúmeros produtos aparece a cada minuto. São mercadorias de toda ordem: de lâminas de barbear e perfumes até marcas de bebidas alcoólicas. O jogador profissional não mais representa as cores de seu clube; transformou-se em uma espécie de representante comer- cial de seus patrocinadores pessoais. O trabalho atual dos grandes jogadores valorizados no futebol mundial consiste em alternar as horas de treinamento e as horas de gravação de comerciais publi- citários. É aquilo que podemos chamar de "jogador mercadoria". 7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Sugerimos que você procure responder, discutir e comen- tar as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta unidade. 51© FUTEBOL E FUTSAL UNIDADE 1 – ORIGEM E HISTÓRIA DO FUTEBOL A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos es- tudados para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Educação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas descobertas com os seus colegas. Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Podemos afirmar que Charles Miller, quando trouxe o futebol ao Brasil, em 1894, encontrou um ambiente favorável que facilitou sua aceitação. Do seu ponto de vista, o que poderia explicar tamanha afinidade? O que pode ter facilitado a entrada e permanência desta modalidade no Brasil? 2) Como você descreveria a prática do futebol no Brasil no início do século 20? Aponte fatores que podem ter contribuído para sua popularização e consequente mudança do quadro inicial. 3) Vimos que o processo de profissionalização do futebol sofreu influências de vários fatores. Explique como a prática pelos operários das fábricas fa- cilitou a implantação do profissionalismo em nosso país. Como você justi- ficaria o amadorismo marrom no mesmo período? 8. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, você estudou questões relativas à proble- mática histórica do futebol, como a importância desse esporte para a história da cultura da humanidade, desde a Antiguidade até os dias de hoje. Além disso, pôde conhecer algumas das prin-
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