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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE FORTALEZA – CE PROCESSO N° X GABRIELA, já qualificado nos autos da ação cujo número consta em epígrafe que move em face do Ministério Público, por seu advogado que esta subscreve, não conformado com a respeitável decisão à fls. X, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente RECURSO EM SENTIDO RESTRITO com fulcro no art. 581, IV, do Código de Processo Penal. Desde já, requer o recorrente que o presente instrumento seja recebido, processado e, na hipótese de Vossa Excelência não considerar os argumentos e manter a r. Sentença de pronúncia, que seja encaminhado ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Nestes termos, Pede deferimento. Fortaleza/CE, 26 de março de 2015. Advogado: X Oab/X: X RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Recorrente: GABRIELA Recorrido: Ministério Público do Ceará Autos n° X Egrégio Tribunal de Justiça, em que pese a respeitável decisão do Excelentíssimo Juiz de Direito em questão, não merece prosperar a pronúncia do recorrente pelas razões fáticas e jurídicas a seguir expostas, vejamos: I. SINTESE DO OCORRIDO No dia 24 de dezembro de 2010, a recorrente foi abordada no interior de um grande supermercado e acusada de ter escondido na roupa dois pacotes de macarrão, cujo o valor totalizava em R$ 18,00 (dezoito reais). Após a conclusão do inquérito policial, o Ministério Público ofereceu a denúncia contra a ré pela prática do crime do art. 155, caput, c/c o art. 14, inciso II, ambos do Código Penal. No dia 18 de janeiro de 2011, o Magistrado recebeu a denúncia e concedeu liberdade provisória à recorrente. No dia 16 de março de 2015, a recorrente e o advogado compareceram ao cartório, sendo informados que o processo estava em trâmite, vem então a recorrente requerer o que se segue. II. FUNDAMENTOS JURÍDICOS a) Da prescrição: Narra a denúncia que o fato imputado para Gabriela foi praticado no dia 24 de dezembro de 2010, sendo que nesta data Gabriela contava com 20 anos de idade, ou seja, menor de 21 anos de idade. O crime imputado à recorrente foi de furto simples, com pena máxima cominada em 04 anos. Nos moldes do art. 109, IV, do Código Penal, os crimes cujas penas máximas não excedem quatro anos prescrevem em 08 anos. Ocorre que a recorrente à data do fato era menor de 21 anos de idade, e nas esteiras do art. 115 do Código Penal, o prazo prescricional é reduzido pela metade quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos. Desta forma, deve ser reconhecido que o crime imputado a Gabriela encontra-se prescrito, pois entre a data do recebimento da denúncia no dia 18 de janeiro de 2011 e a data em que ela foi citada em 16 de março de 2015 transcorreu lapso temporal de mais de quatro anos, devendo ser declarada a extinção da sua punibilidade com fulcro no art. 107, IV, do Código Penal. Assim, verificada a extinção de punibilidade em decorrência da prescrição, com base no art. 397, IV, do Código de Processo Penal, deve o magistrado absolver sumariamente a ré. b) Princípio da Insignificância: A recorrente foi acusada de ter subtraído dois pacotes de macarrão, cujo valor totalizava R$ 18,00 (dezoito reais). Todavia, incide, o caso, o princípio da insignificância ou de bagatela, já que se trata de valor ínfimo do objeto subtraído de um grande supermercado da cidade. Além disso, a ré jamais havia se envolvido em prática delituosa, sendo, portanto, primária, conforme os seus antecedentes criminais. Logo o fato narrado na denúncia não constitui crime, pois, embora formalmente típico, é materialmente atípico, diante do ínfimo valor do objeto subtraído, incidindo no caso, o princípio da insignificância. Assim, trata-se de fato atípico, devendo a recorrente ser absolvida sumariamente com base no art. 397, inciso III, do Código de Processo Penal. c) Do estado de necessidade: Na conduta de Gabriela, há uma causa manifesta de exclusão de ilicitude, qual seja, o Estado de Necessidade com fulcro no art. 23, I, do Código Penal. Dispõe o art. 24 do Código Penal que se considera em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. É de claridade cristalina que Gabriela não provocou por sua vontade a situação de fome e risco físico de seu filho, sendo que ela ao terminar o relacionamento amoroso com Patrick, por não mais suportar as agressões físicas sofridas, foi expulsa do imóvel que residia em comunidade carente. Ao ser expulsa com seu filho, que à época do fato tinha dois anos de idade, pernoitava em igrejas e outros locais de acesso público, alimentando-se a partir de ajudas recebidas de desconhecidos. Não possuía familiares no Estado nem outros conhecidos. Dessa forma, não tendo a quem recorrer para ajudá-la com alimentos e sem conseguir emprego, a sua situação se tornou de tal forma extrema que não era razoável exigir de Gabriela que sacrificasse a integridade física de seu filho a fim não causar lesão de ínfimo valor a uma grande rede de supermercado. Maria, sua amiga que também era moradora de rua, tinha todo o conhecimento de suas necessidades. Assim, deve ser a ré ser absolvida com base no art. 397, I, do Código de Processo Penal. III. DOS PEDIDOS Ante exposto, requer que seja conhecido e provido o presente recurso em sentido estrito, para que haja a devida reforma, impronunciando a acusada, pela ausência de indícios de crime tentado, conforme art. 14, inciso II, e art. 155, caput, ambos do Código Penal, ou, na conclusão de haver ocorrido o delito logo absolvido sumariamente em razão da existência da excludente ilicitude. Fortaleza, 26 de março de 2015. Advogado X Oab X Rol de testemunhas: Maria, residente na Rua X.
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