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1 GERENCIAMENTO DE CONTRATOS 1 Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 2 CONTRATOS .................................................................................................................. 3 GESTÃO DE CONTRATOS ........................................................................................... 6 A IMPORTÂNCIA DE UMA BOA GESTÃO DE CONTRATOS ................................ 9 MODALIDADES DE CONTRATOS EM GERÊNCIA DE PROJETOS ..................... 11 Contrato de Trabalho ............................................................................................ 12 Contrato de Terceirização ............................................................................... 12 Contrato por Empreitada ................................................................................. 13 Contrato de obra por administração ou preço de custo ............................. 17 Contrato com Preço Máximo Garantido (PMG) ............................................. 18 Contrato de Prestação de Serviços .................................................................. 18 FORMALIZAÇÃO DOS CONTRATOS ...................................................................... 22 SUGESTÕES DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS ..................................................... 24 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 26 2 INTRODUÇÃO Segundo Gómez et al. (2006), a indústria de projeto e da construção civil, especialmente a que se dedica a obras de infra-estrutura, é muito fragmentada. Grandes obras de engenharia eram tradicionalmente empreendidas pelos governos e grandes empresas estatais, que empregavam os seus próprios projetistas e preparavam um conjunto completo de documentos de construção: plantas, especificações técnicas, fluxogramas, cronogramas, listas de materiais, e listas de fornecedores. Os construtores eram contratados pelo menor preço, prática esta estendida às suas subcontratações, ao aluguel de equipamentos e mão-de-obra terceirizada. Segundo Drucker (1968), qualquer trabalhador com conhecimentos é um gerente se, em virtude de sua posição e de seu conhecimento, for responsável por uma contribuição que afeta, materialmente, a capacidade da organização de trabalhar e de obter resultados. Ao desenvolver um projeto, um gerente de empreiteira vai encontrar muitos problemas não considerados no projeto básico, devido a situações não previstas, especificações duvidosas, superposição de normalização e práticas de engenharia conflitantes (GÓMEZ et al., 2006). Há diversas modalidades de contrato para a construção civil, como preço fechado, administração e pagamento por homem-hora. Mesmo que o contrato principal da obra tenha sido feito, por administração ou por preço fechado (turnkey) costuma-se subempreitar tarefas para empresas menores ou mesmo para profissionais autônomos. No período de desenvolvimento de um projeto, a contratante deve garantir que a contratada não se desvie dos requisitos do projeto básico, e que não nivele por baixo os padrões de qualidade especificados. Vargas (2002) assinala que para atender as demandas de maneira eficaz, em um ambiente caracterizado pela velocidade das mudanças, torna-se 3 indispensável um modelo de gerenciamento baseado no foco em prioridades e objetivos, isto é, um processo estruturado e lógico para se lidar com eventos complexos e plenos de novidades e de dinâmicas ambientais. Diante da pressão desse contexto de mudanças, é preciso que as empresas consigam resultados com menos recursos, menos tempo de cumprimento das atividades e cada vez maior qualidade. A experiência do autor gerenciando e/ou fazendo parte de equipes gerenciais em diversos projetos de obras civis mostra que erros graves estão sendo sistematicamente cometidos no desenvolvimento dos empreendimentos. Contratações mal feitas, com prazos e custos inexequíveis, planejamentos mal elaborados e/ou elaborados tardiamente, riscos de eventos que prejudicam seriamente o sucesso do projeto sem o devido tratamento e mão de obra não capacitada são os principais erros verificados. CONTRATOS O documento hábil que promove o acerto entre as partes interessadas para a execução das obras chama-se contrato, que pode ser compreendido como “todo acordo de vontades firmado livremente pelas partes, para criar obrigações e direitos recíprocos. Todo contrato – privado ou público – é dominado por dois princípios: o da lei entre as partes (lex inter partes) e o da observância do pactuado (pacta sunt servanda); o primeiro impede a alteração do que as partes convencionaram, e o segundo as obriga a cumprir fielmente o que avençaram e prometeram reciprocamente (MEIRELLES, 1996, p.194). 4 O conteúdo de um contrato é a vontade das partes expressas no momento de sua formalização, daí a necessidade de cláusulas fixadas com fidelidade quanto ao objeto, os direitos, obrigações, encargos e responsabilidades dos contratantes. Todo contrato possui cláusulas essenciais e cláusulas acessórias: as primeiras fixam as condições fundamentais para sua execução, as segundas não afetam o conteúdo negocial, podendo ser omitidas. Segundo Carvalho Filho (2006), contratos de obras são aqueles em que o objeto pactuado consiste em construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação de determinado bem (art.6º, I). Destaca-se quatro regimes de execução de obras: 1) empreitada por preço global, quando preço ajustado leva em consideração a obra como um todo; como se trata de empreitada, pode o empreiteiro contribuir apenas com seu trabalho ou pode também fornecer os materiais, aplicável aqui o art. 610º do Código Civil – CC; 5 2) empreitada por preço unitário, no qual o preço leva em conta determinadas unidades da obra a ser realizada; 3) empreitada integral (art. 6º, VIII, e), em que se contrata um empreendimento em sua integralidade, compreendendo todas as etapas das obras, serviços e instalações; e 4) tarefa, “quando se ajusta mão-de-obra para pequenos trabalhos, por preço certo, com ou sem fornecimento de materiais (art. 6º, VIII, d). O reajustamento contratual de preços e de tarifas é a medida convencionada entre as partes contratantes para evitar que, em razão das elevações do mercado, da desvalorização da moeda ou do aumento geral de salários no período da execução do contrato, venha a romper-se o equilíbrio financeiro do ajuste. Essa revisão ou reajustamento de preços ou de tarifas é conduta contratual autorizada por lei para corrigir os efeitos ruinosos da inflação. Isso não é decorrência da imprevisão das partes, ao contrário é previsão de uma realidade existente, da qual o legislador brasileiro institucionalizou o reajustamento dos valores contratuais (art. 55º, III, e 65º, § 8º da Lei 8883, de 08.06.1994). Carvalho Filho (2006) afirma ainda que: Equação econômico-financeira do contrato é a relação de adequação entre o objeto e o preço, que deve estar presente ao momento em que se firma o ajuste. Quando é celebrado qualquer contrato, as partes se colocam diante de uma linha de equilíbrio que liga a atividade contratada ao encargo financeiro correspondente (CARVALHO FILHO, 2006, p.169). 6 GESTÃO DE CONTRATOS A gestão de contratos é o conjunto de técnicas, procedimentos, medidas e controles que visam à administração correta e eficaz de todas as variáveis envolvidas na contratação, desde a proposta negocial, passando pela negociação do contrato, discussão e redação de cláusulas, cautelas na formalização do contrato, até a execução, acompanhamentoe entrega do trabalho – seja ele uma obra, um projeto, um serviço, ou qualquer outra prestação (MOURA - ACWEB). Blak (2000) define a administração contratual como o “complexo formal” da realização física do objeto do contrato. É, simultaneamente, uma atividade burocrática e indispensável. Entretanto, o bom gerenciamento do contrato pode fazer desta burocracia uma oportunidade. O gerenciamento de um contrato deve iniciar pela escolha adequada do tipo de contrato para uma determinada aquisição, pois para cada estratégia de suprimentos deve ser utilizado um tipo de contrato (PALANEESWARAN ET AL., 2003). Quando não escolhido de forma apropriada, levando em conta as características do empreendimento - tipo de edifício, complexidades e tamanho do empreendimento, alocação de risco, prazos para o projeto e construção, seleção das equipes - pode ter impacto negativo nos resultados como acréscimo de custo e prazo, perda da qualidade, quebra de contrato e disputas judiciais. O ciclo de PDCA - também chamado de Deming ou de Ciclo de Shewhart- pode ser uma ferramenta interessante para o gerenciamento de contratos. Ele é uma ferramenta de gestão que tem como objetivo promover a melhoria contínua dos processos por meio de um circuito de quatro ações: planejar (plan), fazer (do), checar (check) e agir (act). O intuito é ajudar a entender não só como um problema surge, mas também como deve ser solucionado, focando na causa e não nas consequências. Uma vez identificada a oportunidade de melhoria, é hora de colocar em ação atitudes para promover a mudança necessária e, então, atingir os resultados desejados com mais qualidade e eficiência. 7 Com fortes relações com o PDCA, Trinkunienè e Trinkunas (2014) definiram o ciclo de vida de um contrato de construção conforme esquema da figura abaixo: Com base na figura, Oviedo Haito e Moratti (2014) explicam uma forma de entender as etapas do ciclo de vida de um contrato através da classificação seguinte: - Pedido ou ordem, é o ponto produto do planejamento dos suprimentos onde vai ser formalizado o tipo de contrato a ser implementado entre as partes. - Especificação, é o ponto onde as características específicas à contratação são introduzidas e formalizadas, adaptando o conteúdo de contratos padronizados. - Negociação, é a etapa onde se definem as premissas dos objetivos fundamentais a serem realizados no contrato. Esta etapa é caracterizada pela 8 participação de todos os interessados, e nela se busca a harmonização entre seus interesses para a produção de um contrato exequível e justo para as partes. - Aprovação, devido à complexidade nos contratos, estes devem ser avaliados pelas diferentes partes interessadas, inclusive dentro da organização de, por exemplo, a contratante. Assim, gestores técnicos, de suprimentos, administrativos, entre outros são incumbidos de analisar os acordos para a produção do documento final do contrato a ser assinado. - Assinatura do contrato, representa a etapa de formalização do acordo, concluindo as negociações e definindo o escopo, no sentido do seu conteúdo, incorporando os aspectos anteriormente definidos nesta apostila. - Execução, consiste na realização do objeto do contrato, nas condições e sob os marcos anteriormente negociados. - Verificação, a implementação e acompanhamento do contrato deve ser realizada de forma estruturada. Alertas, fluxos de processos, avaliação de riscos, controle de finanças e de progressos, métricas de controle, entre outras, devem ser avaliadas constantemente e a sua satisfação deve ser certificada entre as partes, ou terceiros contratados com este fim específico. - Renovação, esta última fase consiste na interpretação da avaliação do andamento do contrato. Aqui, a decisão a ser tomada é de se continuar os vínculos construídos num determinado contrato entre as partes, premiando o desempenho adequado com a prorrogação do contrato em causa, ou concedendo novos contratos aos fornecedores. 9 A IMPORTÂNCIA DE UMA BOA GESTÃO DE CONTRATOS A gestão de contratos, segundo a metodologia Contract Lifecycle Management (Gestão do Ciclo de Vida do Contrato), criada pela National Contract Management Association (NCMA), compreende o acompanhamento e a fiscalização de todas as etapas de um contrato: pré-contratação, negociação, pré-execução, execução e entrega. Assim, a gestão de contratos impacta diretamente os planejamentos orçamentário e estratégico da construtora ou incorporadora. Segundo Blak (2000), com a descentralização das organizações empresariais, característica básica da modernização e informatização do processo produtivo, surgiu a necessidade de sistematizar o fluxo de informações e desenvolver, dentro de cada projeto, uma boa administração contratual. Mesmo com a preocupação contínua de desenvolver uma delegação planejada e um sistema de comunicação interno bastante funcional, muitas vezes, a falta de experiência da equipe, ou mesmo, o próprio dinamismo do projeto, aliado a descentralização física e filosófica da organização ocasionam falhas graves de administração contratual que podem gerar resultados insatisfatórios, como cláusulas desvantajosas, gastos acima da capacidade financeira da empresa, multas por atrasos de pagamento e “claims” ou pleitos contratuais, muitas vezes até, inconsistentes devido a falhas metodológicas de administração contratual durante o processo produtivo, tais como a ausência de documentação técnica, juridicamente e contratualmente validada, que possa sustentar suas alegações. A natureza dinâmica e não repetitiva de um projeto eleva o nível de incerteza, dificultando a determinação prévia com precisão de custos, e frequentemente os riscos não são avaliados corretamente, provocando flutuações nos resultados esperados (CASAROTTO FILHO et al., 1999). 10 Blak (2000) reforça que o desenvolvimento da administração contratual tem início antes mesmo da efetiva assinatura do contrato. A boa prática desta técnica exige que a equipe responsável pelo projeto tenha conhecimento desta estratégia, aplicando os preceitos da administração contratual desde esta fase inicial de preparação de edital e apresentação de propostas. Se houver negligência nesta etapa, quer por parte da equipe proponente ou contratante, as consequências podem acarretar prejuízos, insatisfações e disputas judiciais, nem sempre com o melhor resultado. O contrato é a base de toda a Administração Contratual. Em resumo, empresas que fazem gestão de contratos adequada conseguem agir de forma mais estratégica e garantir maior produtividade e redução de custos, com o poder de negociação. Para a correta formalização e cumprimento dos contratos, é importante que as construtoras tenham uma política de compliance. A redação adequada dos documentos, a clareza de cláusulas jurídicas para resguardar as partes, o controle de prazos e as renovações – tudo isso precisa ser devidamente garantido. Para tanto, é essencial ter uma boa gestão de contratos. Isso porque parte fundamental dessa atividade é garantir que os documentos estejam alinhados com a legislação, as normas de segurança e demais particularidades do segmento da construção civil. Assim, suas obras se tornam mais seguras, sem atrasos e com maior qualidade. 11 MODALIDADES DE CONTRATOS EM GERÊNCIA DE PROJETOS O objetivo das formas padrão de contrato é facilitar os acordos contratuais entre os diferentes atores de um projeto; as formas-padrão de contrato são termos em condições preestabelecidas, e variam de país para país e de um tipo de empreendimento para outro. Segundo Gómez et al. (2006), esses contratos-padrão são geralmente usados e aceitos pelas partes, mas é praticamente impossível cobrir todasas eventualidades que possam ocorrer durante a evolução do projeto. A principal crítica aos contratos-padrão é o fato de serem soluções compromisso, mas a vantagem de se adotá-lo é que, com o transcorrer do tempo, as pessoas envolvidas ficam familiarizadas com o seu conteúdo geral e seus pontos fortes e fracos. Quando se escolhe a implementação do empreendimento por construtoras, a proprietária pode seguir vários caminhos de contrato, dependendo dos seguintes aspectos: se a responsabilidade pelo projeto, compra dos materiais, construção e comissionamento serão de uma única organização ou será dividida em várias organizações independentes; se o construtor principal vai gerenciar tanto o projeto quanto a construção, ou só será responsável pelo gerenciamento com a construção realizada por terceiros; e qual será o mecanismo de pagamentos. Uma construtora, assim como qualquer outra empresa, precisa ter todos os seus procedimentos formalizados e em conformidade com a lei. Por isso, seja você um gestor, gerente de departamento ou advogado, é fundamental conhecer os contratos de construção civil antes de firmar qualquer relação de negócio. Existem vários tipos de contratações nesse segmento. Desde contratos de trabalho regidos pela CLT até contratações com base no Código Civil ou em legislação específica. 12 Os contratos de construção civil que você pode adotar em uma obra variam conforme as atividades realizadas, os serviços prestados, os prazos estipulados e demais condições. Veja as principais modalidades e suas características! Contrato de Trabalho Os contratos de trabalho estão previstos na CLT, legislação que determina todas as obrigações nessa modalidade de contratação. E podem ser de diversos tipos, por exemplo: Por tempo indeterminado (com jornada integral ou parcial); Por tempo determinado (contrato de experiência, por obra, de trabalho temporário, etc); Intermitente (sem definição de jornada de trabalho). Contrato de Terceirização Muito comum na construção civil, este tipo de contratação é estabelecido entre a prestadora e a tomadora de serviços. A empresa terceirizada presta serviços para a construtora, sem que os empregados constituam vínculo empregatício com o negócio. É a terceirizada a responsável por remunerar, gerir e garantir os direitos dos funcionários. Ainda assim, durante a execução dos serviços, a tomadora assume responsabilidade subsidiária em relação às obrigações trabalhistas. 13 Contrato por Empreitada Entre os contratos de construção civil, outro formato bastante implementado é aquele que conta com empreiteiras. No qual o dono de uma obra, seja uma construtora ou incorporadora, contrata o serviço do empreiteiro. O empreiteiro pode contratar seus próprios funcionários para realizar parcial ou totalmente o projeto contratado. Neste caso, a relação se estabelece com um contrato de sub empreitada, regido pela CLT. Contudo, na relação entre a empreiteira e a construtora, não há subordinação. De forma que o empreiteiro tem autonomia em relação ao seu trabalho, tendo apenas a obrigação de entregar o que foi previamente acordado. Quanto à remuneração, está vinculada à atividade a ser executada, e não ao tempo de execução do projeto. Nesse sentido, os contratos com empreiteiras podem ser dos seguintes tipos: Empreitada por preço global ou por preço fechado Segundo Velloso (2014), a empreitada por preço global consiste na contratação da execução da obra ou serviço por preço certo e total, independente das quantidades e preços unitários. Se o valor previsto para a execução de um serviço ou obra é ultrapassado, a contratada se responsabiliza pelo custo excedente. Deve ser empregada somente quando for possível definir previamente no projeto, com boa margem de precisão, as quantidades dos serviços a serem executados. Para essa modalidade o escopo dos serviços deve estar especificado de forma objetiva e conter todos os elementos e informações necessários (projetos, desenhos, dados, cronogramas e fluxogramas) para que os concorrentes possam elaborar suas propostas de preços com total e completo 14 conhecimento do objeto licitado, visando a minimização dos riscos a serem absorvidos pela contratada durante a execução das obras ou serviços. Seu uso se verifica, geralmente, em contratações de objetos mais comuns, quando os quantitativos de materiais empregados são poucos sujeitos a alterações durante a execução da obra ou da prestação de serviços e podem ser aferidos mais facilmente. A construtora paga à empreiteira um preço fixo para a execução da obra completa. Se necessário, deve arcar com os custos extras, como aumento de preço de materiais ou gastos excedentes. Os contratos do tipo turnkey englobam o fornecimento integral do projeto executivo, dos materiais e equipamentos e da construção, montagem e colocação em operação por um único fornecedor, e seu preço é global. O principal benefício é que a contratante age como proprietária, negociando as melhores condições para o empreendimento sem diminuição de desempenho; e a principal desvantagem é a grande dificuldade de gerenciamento dos contratos no longo prazo, o custo fixo e a necessidade de qualidade. Nessa modalidade, acerta-se um valor global com o empreiteiro para todos os serviços incluídos, e o pagamento é realizado de uma só vez, ao término dos trabalhos, ou com parcelamentos predefinidos, se o serviço não for de curta duração. Ao não liberar pagamentos parciais, o contratante obriga o empreiteiro a terminar o serviço o quanto antes, mesmo se não for possível estipular multas por atraso. Pode-se, também, trabalhar com as chamadas Ordens de Serviço, uma prática que facilita a vida do empreiteiro e do gerente da obra, agiliza os pagamentos e simplifica a gestão de mão-de-obra terceirizada. A proprietária não usa a sua engenharia de forma tradicional, mas limitada a inspecionar, realizar medições e garantir a qualidade e desempenho exigidos; geralmente, este tipo de contrato é chamado de EPC – Engineering, Procurement and Construction. 15 Segundo Gómez et al (2006), este método é o preferido pelos financiadores, e para isso a contratada deve obter informações suficientes para realizar uma oferta de preço global, o que geralmente atrasa o processo de oferta e aumenta o custo inicial de engenharia do projeto básico por parte da proprietária. Segundo Casarotto Filho, Fávero e Castro (1999), no contrato de preço global a contratada recebe um valor fixo previamente estabelecido, o que não impede o estabelecimento de cláusulas de correção monetária, e como são frequentes as modificações de escopo, geralmente é incluídas no contrato algumas cláusulas que regulam a prestação de serviços adicionais, bem como sua forma de remuneração. Suas vantagens indicam a exigência de menores custos de administração; o oferecimento de maiores garantias comerciais à contratante, ao mesmo tempo em que permite melhor comparação entre propostas concorrentes. Suas desvantagens envolvem as seguintes situações: obriga a definição prévia do projeto e escopo antes da concorrência; pode implicar preços mais altos para refletir fatores de segurança; os riscos podem reduzir o número de concorrentes qualificados; a elaboração da proposta é mais demorada; não favorece a melhor qualidade; tende a gerar conflitos e disputas entre as partes, a respeito da abrangência do escopo. Para Choma e Choma (2005), uma vantagem de se trabalhar dessa maneira é que o empreiteiro tem plena consciência do total do serviço a ser executado e do valor que receberá quando de seu final. Outra vantagem aparece quando o construtor vincula o pagamento das parcelas às entregas de etapas do cronograma geral de execução;se esse procedimento for bem trabalhado, o resultado final pode ser compensador. 16 Empreitada por preços unitários ou tomada de preços Neste tipo de contrato, são definidos o serviço a ser realizado e os preços unitários (por unidade de medida) do material necessário. O preço final é calculado a partir da multiplicação entre o total do preço dos serviços executados e a quantidade de itens utilizados. O empreiteiro é remunerado pelo serviço executado, medido segundo preços unitários definidos previamente. Esse costume é muitas vezes responsável por vários problemas, pois não compromete o empreiteiro no cumprimento dos serviços no prazo que o contratante necessita. Uma maneira de melhorar os resultados de um tipo de contrato como esse é tomar alguns cuidados, como: verificar previamente as medidas de campo e as de projeto, comparando-as com o orçamento, para evitar surpresa no momento de realizar as medições; calcular os preços unitários para cada serviço; negociar com o empreiteiro a execução de recortes, arremates e requadros dentro dos preços unitários contratados, 17 evitando fazer medições separadas para esses serviços menores; e colocar no contrato penalidades caso o empreiteiro não cumpra os prazos estipulados, se o fato correr por sua culpa exclusiva (CHOMA; CHOMA, 2005). A contratante deve tomar muito cuidado na contratação de empreiteiros por homem-hora principalmente em contratos longos, pois o resultado mensal se torna vantajoso somente para o contratado. Dependendo dos preços acertados, a produtividade dos funcionários alocados deve ser alta, para compensar os valores pagos por administração, o que raramente acontece. A contratante deve também ficar alerta aos detalhes de acabamento e arremates no momento das medições, pois frequentemente os empreiteiros executam os serviços de produção maior e destinam poucos funcionários para a execução de serviços demorados, como recortes e requadros; para o empreiteiro, isso significa maior faturamento momentâneo, pela alta produção, mas para o contratante o fato de o contratado deixar para trás os arremates dos serviços pode comprometer as etapas posteriores. As vantagens são a eliminação da necessidade de se ter uma definição completa das quantidades dos serviços a serem realizados e a desvantagem é a exigência de maior rigor nas medições dos diversos serviços. Contrato de obra por administração ou preço de custo Mais um dos contratos de construção civil é aquele no qual, geralmente, o projeto não está pré-definido em sua totalidade – mas é detalhado no decorrer da obra. Então, a construtora realiza a obra e, em contrapartida, recebe uma taxa mensal de administração (de 8% a 25% sobre os custos). A contratada cobra uma taxa de administração, que pode ser cobrada através de um percentual sobre os custos de materiais e mão de obra ou uma remuneração fixa mensal. Essa modalidade de contratação é comumente usada 18 quando se tem uma ideia “macro” do projeto, mas os detalhes ainda não estão definidos, os preços e as quantidades são variáveis. Significa dizer que há maior flexibilização. A contratante saberá exatamente o custo de cada item da obra, porém não será capaz de ter com exatidão o valor final antes de finalizar a obra. Se houver economia nas quantidades, o contratante é favorecido com isso. Se houver uma possibilidade de negociação e redução do preço unitário, ele também é beneficiado. Contrato com Preço Máximo Garantido (PMG) O PMG é uma proposta de orçamento da construtora. Caso a obra ultrapasse esse valor, a construtora arca com o prejuízo. Caso o valor seja menor do que o proposto, as partes contratuais dividem os lucros. Este tipo de contrato é uma espécie de “meio termo” entre o contrato de preço fechado e o contrato de custo. Com o PMG, a construtora entrega ao cliente um orçamento que já prevê todos os custos com mão de obra, materiais e remuneração. Para poder lidar com possíveis imprevistos, as partes acertam duas condições que precisam ser cumpridas ao fim da obra e do contrato. Contrato de Prestação de Serviços Terceirização na construção civil é a transferência de atividades ligadas à produção, para pessoas físicas ou jurídicas; essas são contratadas para execução de partes, etapas ou sistemas perfeitamente definidos do empreendimento, que são realizados com total autonomia, cujos riscos e garantias são de responsabilidade do contratado.(SERRA, 2001). 19 No contrato de prestação de serviços em construção, existe uma prestação continuada do serviço até que se obtenha o resultado pré-estabelecido entre as partes. Este contrato pode ser de vários tipos, como freelancer ou trabalho autônomo. Assim, o trabalhador presta seus serviços à construtora, sem que haja vínculo empregatício nem exclusividade. Também pode ser como pessoa jurídica, em que a construtora realiza um contrato civil com uma empresa ou um microempreendedor individual para a prestação de serviços. Ou, ainda, com uma cooperativa, cujos sócios são autônomos, sendo o contrato regido pelo Código Civil e pela Lei do Cooperativismo. Segundo Chôma e Chôma (2005), até meados dos anos 90, a maioria das construtoras possuíam seus próprios trabalhadores, com o passar dos anos e desaquecimento do mercado, o custo desse grande quadro de funcionários tornou-se impraticável e a solução foi contratar empreiteiras especializadas em cada tipo de serviço. A terceirização então foi consolidada como uma técnica de gestão empresarial, pelo qual se repassam algumas atividades para terceiros, estabelecendo uma relação de parceria. A empresa passa a concentrar seus esforços nas tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atua. Desde então, terceirização tem sido uma estratégia, pois empresas que detém todo o processo construtivo, tornam-se muito rígidas estruturalmente. Segundo dados de 2016, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 63% das empresas, nas quais se enquadram as de construção civil, já utilizam serviços terceirizados. De acordo com Lordsleem Júnior e Barros (2003), esse setor tem empregado intensivamente a subcontratação também como uma forma de reduzir atividades sob a responsabilidade direta da empresa, passando a terceiros parte significativa da obra, ficando, porém, com a responsabilidade indireta do serviço executado. 20 Uma terceirização mal conduzida pode resultar em um processo desastroso; seu planejamento deve focar a seleção criteriosa dos parceiros, a negociação adequada do escopo e do nível dos serviços a serem prestados e, principalmente, o modo de realizar o acompanhamento permanente do parceiro (RUSSO, 2007). Pode-se destacar como benefícios de uma terceirização a otimização dos serviços (com o aumento da especialização do processo, possibilitando para a empresa contratante a avaliação do seu desempenho), um menor custo operacional fixo e uma melhor administração de seu tempo. Como aspecto negativo, verifica-se a alteração na estrutura de poder e autoridade dos serviços, dificultando a administração da empresa e dos serviços prestados por parte da contratante (FIDELIS; BANOV, 2006). Ao optar pela terceirização de tarefas, operações ou serviços prestados a seus clientes, a empresa substitui a gestão interna dessas atividades pela administração dos contratos que fará com terceiros. Sendo assim, o instrumento de contrato passa a ser essencial nos aspectos de controle e de relacionamento com o terceirizado (RUSSO, 2007). 21 22 FORMALIZAÇÃO DOS CONTRATOS Segundo Choma e Choma (2005), muitos empreiteiros não leem os contratos antes de assinar, considerando-os uma mera formalidade. Hedley (2002)considera ser possível uma sequência de passos para ajudar o empreiteiro a rever as condições da obra e saber se realmente possui capacidade técnica para realizá-la, antes da assinatura do contrato. São eles: a) Revisar a proposta – rever com a equipe os custos, as necessidades de recursos, e confirmar preços com fornecedores; b) Rever todas as plantas e relatórios – muitas vezes, o empreiteiro faz as estimativas de preços sem conhecer os projetos completos; c) Rever todas as especificações – além das plantas, o tipo de acabamento, as solicitações e os critérios de medição são de fundamental importância; d) Visitar o local da obra – alguns canteiros possuem limitações sérias de espaço, obrigando o empreiteiro a utilizar guindastes e gruas para mover o material; problemas com o acesso também afetam a produção e a logística do canteiro; e) Revisar a programação da obra – se o empreiteiro fez algum cronograma estimativo para orçar a obra, deve revisar as estimativas de tempo, para ter certeza de ser possível concluir o contrato no prazo; f) Completar uma lista de checagem do projeto – o empreiteiro deve conferir se o contrato está claro no que diz respeito ao escopo, aos prazos, aos marcos intermediários, às exigências de materiais, ferramentas, equipamentos e à segurança do trabalho, entre outros; g) Verificar recursos do projeto – levantar a capacidade financeira do contratante para arcar com a obra e se seu capital de giro é suficiente para mobilizar a sua equipe e mantê-la até (no mínimo) a primeira medição; 23 h) Ler todo o contrato – além de uma leitura acurada, procurar sempre a orientação de um advogado; i) Executar o contrato – depois de toda essa revisão, o empreiteiro estará muito mais seguro para executar o contrato. Contratações bem feitas são essenciais para o sucesso de um projeto. No momento da contratação deve-se buscar exaurir todas as dúvidas existentes no processo da mesma. O escopo tem que ser bem definido assim como as obrigações de cada parte. Os parâmetros do produto e/ou serviço a ser entregue devem estar claros para ambas a partes. Os responsáveis pela contratação devem ter maturidade suficiente para avaliar a exequibilidade dos prazos e preços. É prática comum no mercado a contratação de serviços de obras civis por preços e prazos inexequíveis. Essa prática é adotada por empreiteiras que buscam de forma irresponsável a renovação de suas carteiras de clientes. Essas empresas adotam uma arriscada estratégia de reverter os prejuízos com a prática de medições maximizadas e reivindicações financeiras ao longo da execução das obras. Muitas vezes se verifica práticas corruptas e/ou pagamento de propinas. Os agentes devem estar preparados para eventuais destratatos, entretanto todos devem trabalhar para minimizar a probabilidade de ocorrência do mesmo. Para o empreendedor a mudança de um parceiro no decorrer da obra é muito prejudicial mesmo quando se faz o devido uso das multas indenizatórias. Um destrato só deve ser realizado quando a permanência do contratado for ainda mais prejudicial ao empreendimento do que a sua saída. 24 SUGESTÕES DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS Segundo o Guia Contrate Certo, do CBIC (2017), após escolhido o empreiteiro e todos os documentos e informações pertinentes, recomenda-se a celebração de contrato escrito, no qual deverão constar dados referentes ao escopo do trabalho, preço e responsabilidades mútuas. O guia ainda sugere um modelo que deve conter: a) Identificação do empreiteiro. b) Objeto do contrato. Nele deve conter o serviço contratado e as especificações que o envolvem, ou seja, o escopo dos trabalhos, com maior detalhamento possível. c) Prazo do contrato, contendo o prazo de duração dos serviços. d) Preço e forma de pagamento. Nessa cláusula deverá conter o valor global dos serviços e disciplina para as medições, quem fará, em qual data, documentos que devem ser apresentados como condicionantes para o pagamento, dados para emissão da nota fiscal e para pagamento. e) Documentos que acompanharão a nota fiscal. Recomenda-se que Contratante exija documentos pertinentes ao cumprimento da legislação trabalhista e da segurança do trabalho, como GFIP, GPS, folha de pagamento, comprovante de entrega de EPI´s, entre outros. f) Retenção de tributos na fonte. O Contrato deverá prever uma retenção de tributos na fonte, conforme legislação vigente à época. g) Retenção Técnica. O contrato poderá conter cláusula que se prevê que a empresa contratante retenha um percentual das parcelas devidas ao longo da execução dos serviços, ela tem função de resguardar a empresa Contratante ao fim da execução do serviço. O contrato ainda deve prever que mesmo após a 25 devolução dos valores referentes à retenção técnica, caso alguma ação seja proposta contra a empresa Contratante em decorrência de ações do empreiteiro, ela poderá exigir o ressarcimento dos valores de que eventualmente dispor. h) Medicina e segurança do trabalho. Cláusula contratual deverá prever que o empreiteiro seja obrigado, por si ou por seus prepostos e empregados, a cumprir todas as normas de segurança do trabalho previstas na legislação, bem como aquelas decorrentes de Convenções Coletivas de Trabalho e do regulamento interno da empresa contratante, inclusive com a previsão de liberação dos seus empregados para a participação de eventuais treinamentos por ela ministrados. i) Alojamentos. Se for o caso e precisar de alojamentos, eles devem estar de acordo com a NR18 e 24. j) Obrigações da empresa contratante. Deve conter obrigações específicas, como: efetuar o pagamento, fornecer todas as informações e esclarecimentos para execução de um bom serviço, comunicar o empreiteiro com relação às reclamações ou falhas, indicar pessoa responsável pelo relacionamento com o empreiteiro. k) Demais obrigações do empreiteiro. Além das obrigações já especificadas, deverá conter obrigações genéricas com relação às leis trabalhistas, garantia dos serviços, qualificação dos profissionais, possibilidade ou não de subcontratar. l) Multas contratuais. Importante a previsão de multas pecuniárias no caso de inobservância das condições contratuais. m) Encerramento do contrato. Resolução, resilição ou rescisão. O contrato deve trazer as hipóteses em que se poderá ser rescindido. n) Foro e resolução controvérsias. O contrato deve prever o foro para dirimir eventual dúvida. 26 REFERÊNCIAS BLAK, Gisele. Gestão contratual - Desenvolvimento de metodologia de administração contratual aplicado à engenharia civil. Dissertação (Mestrado em engenharia civil) – Curso de pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2000. BRASIL. Lei n.10.406, de 10 jan. 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial, Brasília, 11 jan. 2002. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 15. ed. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2006. CASAROTTO FILHO, Nelson; FÁVERO, José Severino; CASTRO, João Ernesto Escosteguy. Gerência de Projetos: engenharia simultânea. São Paulo: Atlas, 1999. CHÔMA, André Augusto; CHÔMA, Adriana Carstens. Como Gerenciar Contratos com Empreiteiros. PINI. São Paulo, 2005. DRUCKER, Peter. O Gerente Eficaz. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1968. FIDELIS, G. J.; BANOV, M. R. Gestão de recursos humanos: tradicional e estratégica. São Paulo: Érica, 2006. 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