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Antropologia Digital

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ANTROPOLOGIA V 
 
Marcelle Pereira Cardoso 
 
Trabalho final de curso, adaptado da resenha anterior feita a partir do livro de Ulf 
Hannerz – Esplorando a Cidade, Capítulo 6, A Cidade como um teatro- contos de Goffman. 
 
 
“Como o self (eu) é visto pelo outro e não como ele é estabelece em seu ego em relação 
as redes sociais” 
 
As redes sociais digitais deixam clara a atuação dos atores sociais em um campo vasto, 
em que, espontaneamente, dados pessoais são tornados públicos, e, dessa maneira, é oferecida 
uma gama de informações para coleta de dados. Estudos já defendem o emprego da ciber 
etnografia como o método mais apropriado para visualizar a escala global das plataformas 
digitais, oferecendo ao observador uma postura objetiva para o conhecimento dos fenômenos 
sociais em redes digitais. Diferente da etnografia tradicional e suas entrevistas face a face, esta 
metodologia possibilita a observação do comportamento social na rede e sua interação com a 
comunidade online. 
Os fenômenos que se deram por conta das plataformas do Facebook, Tweeter, Youtube 
e Whatsapp, nos traz outras dinâmicas investigativas, em virtude dos novos recursos 
tecnológicos que se dão na comunicação online, em que cada ator social digital pode ser produto 
e produtor dos referenciais culturais que marcam os diferentes tempos e redes sociais. 
Erving Goffman, da antiga escola chicagonense na antropologia urbana, realizou 
trabalhos de campo, por volta da década de 60, de forma presente é claro, mas que são 
perfeitamente análogas aos comportamentos digitais atuais. Quase sempre interessado em 
ocasiões microssociologias e aquilo que nelas ocorrer, o antropólogo costuma ir além das 
heranças etnográficas para reconhecer a conduta humana. 
 Entre às comunidades virtuais estão as páginas e as comunidades do Facebook, que 
através do olhar etnográfico podemos observar os fenômenos em sua efetividade, a partir da 
participação em grupos com os demais usuários das redes. Tal processo tende a ativar diversas 
plataformas e, em certos casos, garante verdadeiros portais de acesso aos processos que são 
mais formalizados no exercício da pesquisa. Este fato pode ser exemplificado pela pesquisa no 
Facebook, onde se inicia a partir da atuação de uma página pessoal na rede. O que por outro 
lado, implica em atentar a certos elementos que compõem a exposição e a atuação do 
pesquisador na rede. Cabe, então, ao pesquisador saber elaborar na rede, o que Goffman 
chamaria de “construção da fachada”, a fim de compor os símbolos que irão constituir a 
identidade do pesquisador. Portanto, usar de estratégias ao adicionar amigos, compartilhar 
fotos e opiniões que possam comprometer sua formalidade online. 
Goffman diz que quando uma pessoa se põe na presença de outra, ela pode já ter uma 
idéia mais ou menos justificada de quem é o outro e como ele é. Em alguns casos ele pode 
depender do fluxo de comunicação na situação que se encontra. Um indivíduo disponibiliza 
informação sobre si, intencionalmente ou não, de acordo com a expressão que ele “da” ou 
“deixa escapar”. Mais ainda seria simples demais essa distinção, pois uma pessoa pode passar 
uma informação intencionalmente de forma que não pareça intencional. A vantagem disso é 
porque as pessoas confiam mais em informações aparentemente não controladas, ou pensadas 
antes. As pessoas cientes disso ou não, lutam para apresentar um quadro de si mesma que seja 
convincente e ao mesmo tempo vantajosa para elas. 
As atividades de um indivíduo durante a presença contínua diante de grupo, que 
causam efeitos a esse grupo, ele chama de “performance” e o que você usa pra expressar isso, 
ele chama “fachada” que compõe tanto o ambiente quanto a “fachada pessoal” o ambiente 
seria + ou – imutável. O ambiente doméstico, o quanto os móveis, fotografias, uma estante de 
livros representando a posição intelectual, contam sobre o indivíduo. Os objetos de uma sala de 
estar com aparência de luxo, que traduzem a idéia de uma condição econômica privilegiada, 
podem eventualmente terem sido adquiridos por leilão, por exemplo. 
Interessante Goffman usar o termo “face”, para descrever o valor social que a pessoa 
reivindica por meio da posição que o outro a vê adotar durante um contato, quando nem se 
imaginava uma rede social de tal importância global. Não se pode ignorar tais análises tão bem 
comparadas ao Facebook ou outras redes sociais e sem ser diretamente a estas. 
Ter face ou estar face, segundo o autor significa manter-se de maneira crível e ter uma 
linha consistente como alvo. Portanto, é aquilo que precisa ser desempenhado, para estar em 
“face”. A política do “face” pode ser um tanto agressiva quanto na reinvindicação, mas às vezes 
os intercâmbios são mais relaxados, se demandamos pouco presumindo que nossa modéstia 
será bem recompensada, já que os outros oferecem avaliações lisonjeiras de nosso valor. Se 
reivindicamos demais, o outro pode delicadamente insinuar antes de nos tornar irrevogável. E 
aí saímos “fora da face” , não de forma intencional, outros fingem não perceber até que 
tenhamos tempo para reorganizar. Parece nos que, toda essa façanha, vem do fato do indivíduo 
/ator viver muito mais em função daquilo que o mesmo representa ou quer representar ao 
outro. 
Quando Goffman estabelece o termo “performance”, consequentemente surge uma 
outra posição social nesse grande palco da vida que ele chama de “papel discrepante”. Esse é 
o intermediário. Por exemplo, o motorista da família, o crítico do restaurante, ambos circulam 
entre palco e bastidores e às vezes público podendo ser um influenciador para ambos nos lados. 
Segundo Goffman, com este papel, deve-se ter precaução, não se deve confiar em quem não 
tem “performance” ou lealdade dramatúrgica. 
E como não pensar no que chamamos hoje de “influencer”. O digital influencer é um 
formador de opinião capaz de influenciar multidões de seguidores em mídias sociais, como as 
citadas anteriormente. Essas pessoas saíram do anonimato e ganharam as multidões online, 
inspirando comportamentos, estilos de vida e hábitos de consumo. Basicamente, é a pessoa que 
detém o poder de influência em um determinado grupo de pessoas. Esses profissionais das 
redes sociais impactam centenas e até milhares de seguidores, todos os dias, com o seu estilo 
de vida, opiniões e hábitos. Eles fecham parcerias com grandes marcas para criar conteúdo 
exclusivo, promover as ofertas e deram um “boom” no marketing digital em todos os 
seguimentos imagináveis. Ainda assim, com toda significância do “influencer” na atual 
sociedade, não se encaixa na categoria “performance” de Goffman, uma vez que eles se 
encontram numa posição intermediária ficamos entre o público e os atores. 
Talvez sejam reanalisáveis esse conceito, se levarmos em consideração a repercussão 
desses então profissionais do ramo digital justamente por se posicionarem dando voz àqueles 
que se sentem não compreendidos no meio social. Podemos citar por exemplo, Felipe Neto, aos 
32 anos o influenciador brasileiro foi escolhido pela revista Time como uma das 100 
personalidades mais influentes do mundo, soma mais de 36 milhões de seguidores em seu canal 
do YouTube, 13 milhões no Instagram e 10 milhões no Twitter. E toda essa potência de 
comunicação é usada por ele como ferramenta de trabalho e transformação. Felipe Neto divide 
com seus seguidores seus erros e suas fragilidades. Fala abertamente sobre depressão, medos 
e aprendizados. Diante do cenário político atual, marcado por constantes episódios de 
intolerância, ele passou a usar suas redes sociais para promover debates sobre censura, 
preconceito, opressão e outros temas cruciais. “Não sou só um menino que faz vídeo para o 
YouTube, também sou um cidadão brasileiro que lê, estuda, tenta evoluir e que quer ter 
responsabilidade com o conteúdo que produz”, diz Influencer. 
Sociologia do engano. Termo usado porGoffman para analisar a forma paralela ou 
virtual de viver. Seria uma habilidade para gerências impressões, por manipulação consciente, 
ele categoriza como uma “subvida”, indivíduos que vivem inclusos por alguma circunstância 
qualquer da vida, mas ele estende isso ao externo, dizendo que em toda a sociedade, 
organizações estão tentando determinar o que às pessoas devem ou não fazer e até o que 
deveriam ser, em parte, reagem criando subvidas. É importante, no entanto que não pensemos 
que a conexão entre a estrutura social urbana e o gerenciamento de impressões são apenas 
como uma chance das pessoas se ocultarem seja o que for. Na verdade no que às pessoas 
tentam restringir, são com menos frequência segredos realmente tenebrosos do que realmente 
os “de cor cinza”, e sim os que consideram pequenos constrangimentos ou uma simples 
informação irrelevante para a “performance”. O tenebroso é mais interessante. 
Para que nos revelar então? 
Podemos ficar presos a uma descrição excessivamente estática de relacionamentos 
estranhos, com revelações na apresentação do “self” o posto acontece, pessoas observáveis, se 
tornam inteiras e pouco interessantes. A essa altura as possíveis distinções entre o eu e o outro 
já se romperam, e , se o ego já está ciente disso, as tendências fantasiosas se restringem. 
Goffman estabelece que a medida que se vislumbra o fim do gerenciamento de 
impressões, revelações pessoais construídas são a dinâmica da vida urbana. O autor reconhece 
que não tem uma posição definida sobre as experiências urbanas. Ele fez observações baseadas 
na sociedade estadunidense, bastante influenciada pelo protestantismo, que se importam 
muito mais com o “self” como um construtor da consciência humana. 
Começamos este ensaio falando sobre pesquisas etnográficas digitais, sendo possível 
desenvolvimento em torno da cultura, já que atualmente o universo digital compõe a nova mídia 
símbolo da contemporaneidade. Atualmente, essa modalidade, movimenta-se sob novas 
direções antropológicas, que levaram a um alargamento da necessidade de compreensão destas 
novas fontes de dados, das relações comunicacionais e da interação social.

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