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GÊNEROS TEXTUAIS
1.1 Texto como evento comunicativo: conceitos de texto-produto e de texto-processo
Comecemos pensando sobre o que não é texto. A afirmação de Savioli e Fiorin (2006, p. 11) irá nos auxiliar nesse sentido: “não é amontoando os ingredientes que se prepara uma receita; assim também não é superpondo frases que se constrói um texto”. De acordo com os autores, o texto não é uma sobreposição de frases, algo construído desorganizadamente, sem planejamento, por mera inspiração. Para ilustrar esse pensamento, traçam um comparativo com a culinária e, pensando desse modo, não basta termos farinha, ovos e leite para fazermos um bolo, por exemplo. Temos que saber como fazê-lo, como esses ingredientes deverão organizar-se para que a massa se transforme em uma iguaria que possa ser degustada.
Em sua obra, Marcuschi (2012) cita alguns nomes que determinam o conceito de texto a partir de duas alternativas básicas. A primeira delas diz respeito aos critérios internos ao texto. De acordo com esse pensamento, o texto seguiria uma “sequência coerente de sentenças” (MARCUSCHI, 2012, p. 22), ou seja, uma sucessão harmoniosa, composta por sentenças que o determinariam como tal. Essa foi a primeira visão que os linguistas tiveram sobre o texto, denominada de análise transfrástica, ou seja, aquela em que se parte da frase para o texto.
O termo sequência, por si só, já sugere um antes e um depois. Sendo assim, seguindo-se essa linha de pensamento, o texto poderia ser definido como um conjunto linear de sentenças, capaz de produzir um efeito comunicativo. Porém, o que dizer do texto que é composto por uma única palavra: “Alegria!”? Nota-se que a definição proposta não satisfaz uma logicidade de sentido, já que “Alegria!”, dita em um contexto determinado, produzirá o efeito comunicacional pretendido, mesmo não havendo mais de uma sentença que determine sua coerência e, consequentemente, sua compreensão.
A segunda definição trazida por Marcuschi (2012) vai além dos critérios linguísticos apenas, levando a conceber o texto como uma unidade comunicativa, ou seja, o texto é visto em sua amplitude, como um todo constituído de sentido.
Talvez um dos conceitos que melhor possa traduzir o que é texto tenha sido desenvolvido por Halliday e Hasan (1976, apud MARCUSCHI, 2012, p. 28): “Um texto é uma unidade em uso. Não é uma unidade gramatical, tal como uma frase ou uma sentença; e não é definido por sua extensão. [...] Um texto é, melhor dizendo, uma unidade semântica: não uma unidade de forma e sim de sentido.” Dessa definição, podemos inferir que a diferença entre texto e não texto concentra-se, basicamente, em sua unidade semântica de sentido e de não sentido.
Pensando em texto como processo de interação comunicacional, é importante lembrarmos que ele pode apresentar sentidos distintos, de acordo com o modo como será compreendido pelo leitor. No entanto, Marcuschi (2008, p. 242) relata que se deve tomar cuidado para não ver o texto como uma “caixinha de surpresas”, já que, desse modo, ninguém se entenderia. O texto é conduzido por fatores que conduzem à compreensão textual e que lhe darão sentido.
O texto é o resultado de um processo de interação entre os indivíduos que desejam se comunicar, seja da forma oral, seja do modo escrito. O texto será, ainda, constituído por características próprias, como a monitoração mais ou menos ampla, a presença ou a ausência de dinamicidade, menor ou maior contextualização, pouco ou muito planejamento, dentre outros fatores apontados por Koch e Elias (2010).
Por que, então, é importante que se compreenda o que é texto e como seu sentido é produzido? Apesar da complexidade conceitual de texto, a resposta é simples: para a elaboração do que se entende por processo de comunicação, já que o texto é fator predominante em comunidades de escrita, como a nossa.
1.2 Definição de texto e discurso
Debruçar-se sobre o estudo do texto requer a compreensão de enxergá-lo como um processo linguístico desenvolvido por indivíduos que desejam se comunicar. Você concorda que, sob esse aspecto, texto e discurso estariam interligados e sob um mesmo patamar de entendimento e uso? Dessa forma, ocorrem-nos alguns questionamentos sobre o que é discurso e para que ele serve.
Na perspectiva da linguística textual, texto e discurso têm sido abordados em conjunto. Não como duas unidades isoladas, porém interligadas. Logicamente, essa é uma perspectiva que não é adotada por todos os linguistas, mas que está ganhando um espaço cada vez maior nos estudos linguísticos.
Nessa esteira de pensamento, Marcuschi (2012, p. 81) afirma que “não é interessante distinguir rigidamente entre texto e discurso, pois a tendência atual é ver um continuum entre ambos como uma espécie de condicionamento mútuo”. Desse modo, texto e discurso seriam estudados e analisados em conjunto para se obter não uma distinção pura somente entre eles, mas para que haja a ideia de concretude de uso de ambos.
Porém, para que possamos perceber texto e discurso do modo como é apresentado pelo autor, é necessária sua distinção. 
1.2.1 Texto
O texto não é um conjunto de palavras que formam frases que, por sua vez, formam sentenças isoladas. Longe disso, o texto é tido como um todo organizado de sentido, o qual irá comunicar algo a alguém em um determinado espaço, conduzido por um determinado fim comunicacional. Para Fiorin (2012, p. 146), “o texto é uma estrutura, no sentido de que ele é um todo organizado de sentido, que é composto com procedimentos linguísticos próprios”. Por outro lado, seu sentido será determinado não somente pelo que ele está dizendo, mas, ainda, pelo que está fora dele, o que é externo a ele.
1.2.2 Discurso
Para o estudo linguístico, o discurso representa todo e qualquer enunciado usado em situações diversas e distintas.
Em uma abordagem inicial e histórica, temos o discurso relacionado à literatura. Atualmente, no entanto, ele diz respeito aos diferentes gêneros, sejam eles literários ou não literários, falados, escritos ou sinalizados.
No dicionário Aurélio, a palavra “discurso” refere-se a “qualquer manifestação concreta da língua. Unidade linguística maior do que a frase; enunciado, fala” (FERREIRA, 2009, p. 686). Perceba que o discurso é tido como “enunciado”, a “fala”, ou seja, a realização da língua dentro de um processo comunicativo.
Para uma análise mais aprofundada do que seja discurso, analisemos um termo isolado que poderá apresentar diferentes abordagens de acordo com o discurso que lhe é atribuído.
Em um contexto de informação, a palavra “flor” poderá apresentar a seguinte estrutura discursiva:
O texto dá dicas sobre o comércio de flores e sobre o lucro que poderá ser obtido com essa atividade. Perceba que a linguagem utilizada é direta e simples, própria desse tipo de discurso. A intenção é esclarecer o leitor sobre as vantagens do referido comércio, indicando que as flores, além de bonitas, podem se tornar uma ótima fonte de renda. O texto continua explorando possibilidades e informando sobre essa atividade comercial.
Por outro lado, nas mãos de um poeta, o termo “flor” poderá ultrapassar seu significado literal, sendo atribuído a seu amor ou mesmo a seu sentimento. Vejamos o poema a seguir, “Flor que não dura”, de Fernando Pessoa (2016).
Flor que não dura
Flor que não dura
Mais do que a sombra dum momento
Tua frescura
Persiste no meu pensamento.
Não te perdi
No que sou eu,
Só nunca mais, ó flor, te vi
Onde não sou senão a terra e o céu.
No poema apresentado, a flor representa a dor do poeta por algo que viverá pouco, que logo terá seu viço substituído pela debilidade.
Dando continuidade à nossa análise, para sabermos o valor semântico de uma palavra, podemos recorrer ao dicionário e localizar o verbete correspondente a ela. Nossa palavra teria esses significados, de acordo com o dicionário Aurélio:
Vejam que são inúmeros os significados atribuídos à palavra flor — quatorze, mais precisamente —. Há desde a informação botânica, aquela que dá vida à espécie biológica, até os sentidos mais abstratos,como a explicação do termo “flor” para uma coisa de excelente qualidade.
Apesar de os textos exemplificados apresentarem as mesmas características entre si — por exemplo, quem escreve, a quem se destina, sua finalidade, sua estrutura etc. —, cada um pode ser classificado dentro de um gênero do discurso: um artigo, um poema e um verbete de dicionário. No entanto, o termo que serviu de base para todos eles é o mesmo: flor. A análise de um termo específico ilustra o modo como podemos lidar com as diversas situações comunicativas da língua, concretizando-a por meio do discurso.
O que texto e discurso têm em comum? Podemos dizer que o texto está situado no plano da esquematização, enquanto o discurso, no plano do dizer.
Essas competências levam a compreender o texto como algo físico, aquele que dará forma ao que o discurso quer dizer, ou seja, enunciar algo por meio da língua. Nesse sentido, a ação individual da língua é realizada por meio do enunciado, que nada mais é do que o próprio discurso.
Remetendo ao conceito de texto como um todo organizado de sentido, Fiorin (2012) ressalta que o discurso também será organizado da mesma forma, complementando que ambos vão além da frase como construção puramente sintática, mobilizando outras estruturas.
Veja o exemplo:
Não há dúvidas de que a estrutura sintática da frase está correta, porém perceba que instiga outras estruturas que vão além da frase para que haja compreensão da mensagem discursiva. Há que se pensar, por exemplo, qual situação, entre tantas, envolve o aviso: se em um consultório médico, para que não haja interrupção da consulta; se no avião, em que o sinal do celular poderá interferir no sistema de navegação da aeronave.
Além disso, o sentido de uma parte dependerá da outra, em se tratando de texto e discurso.
Vamos pensar na seguinte situação:
Um homem está tranquilamente sentado no sofá de casa, assistindo a um jogo de futebol na TV, quando a mulher dele chega toda molhada e com aspecto de irritada. O marido, então, pergunta para ela, com ar surpreso:
— Caramba! Está chovendo?! — ele corre o olhar para a janela, vendo que cai um temporal lá fora.
Ela, ainda mais irritada, responde:
—  Não! Esqueci os vidros do carro abertos enquanto passei pelo lava a jato!
O marido, então, comenta:
— Engraçadinha que você é.
E, pegando a carteira dele e as chaves do carro da mulher, diz:
— Vou à farmácia comprar um remédio.
Ao entrar no carro e sentar-se ao volante, percebe que o banco está encharcado e finalmente compreende o porquê de a mulher estar toda molhada.
O texto apresentado traz uma situação de diálogo natural entre duas pessoas, seguindo uma linha de raciocínio lógica e esperada pelo leitor até o momento em que uma informação o surpreende, deixando claro que não há obviedade no texto, pois a última informação dada o surpreende. Podemos perceber, com isso, que a interligação entre todas as partes do texto formam um sentido discursivo necessário à completa compreensão do texto.
Para um melhor entendimento de que texto e discurso são complementares entre si, observe o quadro a seguir que aborda os diferentes planos em que cada um atua:
 a imagem par
Como você pode observar, texto e discurso pertencem a planos diferentes, porém um irá complementar o outro. O texto irá se manifestar por meio da aproximação que se deseja do discurso. Este, por sua vez, será o conteúdo, aquilo que se quer dizer e que será expresso por meio do texto, que irá utilizar mais ou menos sensibilidade para corresponder maior ou menor força de compreensão. Fiorin (2012) chama atenção para o fato de que um mesmo discurso poderá ser representado em textos diversos, como é o caso de livros que viram filme, por exemplo.
Se o texto é a manifestação do discurso, temos as seguintes assertivas:
Sendo assim, o texto é o que dará sentido à situação de comunicação, sendo que todo texto será produzido dentro de um contexto. Temos, então, texto e discurso como sendo duas unidades que se complementam dentro de uma situação comunicativa.
Se formos pensar nos diversos textos produzidos a partir de um determinado discurso, podemos identificar alguns fatores que se mostram similares em gêneros discursivos diversos. Os discursos proferidos em forma de agradecimento pela conclusão de um trabalho de curso ou um pronunciamento de formatura seguirão uma determinada estrutura de identificação e de reconhecimento.
Ocupa lugar de destaque no discurso, também, a palavra. Observe que em um contexto discursivo, a palavra “plástico” poderá apresentar vários significados. O lixo embalado em sacolas plásticas, acumulado nas margens dos rios, causará a poluição das águas, significando uma preocupação ambiental. Em outro contexto, porém, o plástico poderá representar uma fonte de renda, pois, desde que separado da forma adequada, pode ser reciclado. O termo “plástico” também pode ser encontrado, ainda, na pintura, ou seja, nas artes plásticas, como o quadro produzido por um pintor.
A palavra assume um importante papel como responsável pelo que é dito e pelo que não é dito em um discurso. Em “Carlos não viajou”, o não dito é que “Carlos perdeu o avião” ou que “Carlos viajará em outro momento” ou, ainda, que “Carlos não quis viajar”. Isso significa dizer que, dentre as possibilidades geradas pelo não dito, somente o que foi dito terá um valor de verdade.
“O texto é a manifestação do discurso por meio de um plano da expressão, o que significa que um mesmo discurso pode ser manifestado por textos diversos” (FIORIN, 2012, p. 162).
Esta é a situação de interação entre texto e discurso que interessa a você neste momento: a de que ambos farão parte do sistema comunicacional da língua mas que são entendidos como diferentes em suas manifestações. Esse entendimento irá auxiliá-lo na tomada de decisões em momentos de prática de sala de aula, ou seja, quando você será chamado a formular questões e respostas em relação ao funcionamento da língua sob uma perspectiva comunicacional, levando em consideração as práticas de ensino e de aprendizagem do dia a dia.
1.3 Texto e contexto: contexto linguístico, sociocognitivo e histórico
Todo texto é produzido por sujeitos que desejam se comunicar, e esses sujeitos fazem parte de um ambiente socialmente constituído, com seus costumes e práticas de conduta, convencionalmente organizado de acordo com suas leis e regras sociais limitadoras ou indutivas do seu comportamento.
Sendo assim, um texto não poderá ser tomando em sua forma e estrutura somente, mas de acordo com aspectos que lhe são inerentes, tanto internamente quanto externamente. Ao conjunto desses aspectos denominamos contexto.
Sob a perspectiva da análise transfrástica o contexto dizia respeito aos modos como o leitor obtinha as informações necessárias para a compreensão do enunciado, quer dizer, girava em torno dos referentes apresentados no texto. Veja um exemplo:
Em uma sentença como essa, dentro da análise transfrástica, o contexto seria a informação que o leitor recebe dentro do próprio texto, ou seja, que a partícula “-las” se refere a “honrarias”. Nesse sentido, Koch e Elias (2010, p. 78) chamam a atenção para que “o estudo das relações referenciais se limitava, em geral, aos processos correferenciais (quer anafóricos ou retrospectivos, quer catafóricos ou prospectivos)”, limitando, também, o conhecimento do leitor, pois o texto nada mais era do que o fruto de algo incontestável. A interação com o autor do texto não era levada em conta.
Com o avanço das pesquisas relacionadas ao texto, a visão de contexto foi adquirindo outras formas. Em um cenário no qual o texto é tido como produto de interação entre indivíduos que querem se comunicar, o contexto passa a ser percebido como parte integrante da interpretabilidade do texto, já que interessa saber o que ele quer dizer, qual a sua finalidade comunicacional.
Os aspectos contextuais dizem respeito ao sentido que o leitor passa a dar ao texto com o qual está tendo contato naquele momento.
Para estudar o contexto, é trazida até você a metáfora citada por Koche Elias (2017), a do texto como um iceberg, cuja ponta seria o explícito, o dito no texto; e a parte imersa, o implícito, o não dito no texto, mas que subjaz sua compreensão. O contexto, seguindo a linha metafórica, é o próprio iceberg, o conjunto de explícitos e de implícitos que darão sentido ao texto.
Dentre os tipos de contexto, há o contexto linguístico, o sociocognitivo e o histórico. 
1.3.1 Contexto linguístico
De que se encarrega o contexto linguístico? Das propriedades linguísticas que acompanham uma palavra, expressão ou enunciado.
Uma campanha de um banco foi veiculada em outdoors espalhados pela cidade de São Paulo há alguns anos. Tratava-se de várias frases que pretendiam chamar a atenção de quem trabalhava muito e não disponibilizava tempo para a família e os amigos. Uma das frases dizia o seguinte: “Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça: vírgulas significam pausas.” 
Ao analisar o contexto linguístico dessa frase, você perceberá uma duplicidade de sentido em “vírgulas significam pausas”, ao levar em conta a chamada inicial “Trabalhe, trabalhe, trabalhe”. As pausas sugeridas pela campanha referem-se àquelas que o trabalhador deverá fazer entre um espaço de trabalho e outro, seguindo o critério de sentido que a campanha evidencia: mais tempo para você, sua família e seus amigos e menos tempo dedicado ao dinheiro.
Os recursos linguísticos adotados na campanha se referem aos fatores que ocorrem simultaneamente com a produção dos enunciados linguísticos. Tais enunciados irão afetar a interpretação, a adequação e a significação do sentido do texto. O que isso significa? Isso quer dizer que uma palavra ou mesmo um enunciado será circundado linguisticamente, promovendo o sentido da mensagem que se quer transmitir.
É a pragmática que estuda o contexto linguístico. De acordo com ela, a comunicação só ocorrerá de forma efetiva se houver a compreensão daquilo que foi enunciado. A pragmática vai estudar a prática linguística de seus usuários, a relação destes com a linguagem e com o mundo que o cerca.
Muito embora tenha sido gerada no campo filosófico, atualmente, a pragmática é parte integrante da linguística.
1.3.2 Contexto sociocognitivo
A análise inicial de como o contexto se relacionava com o texto foi, aos poucos, dando lugar a outro tipo de contexto, o sociocognitivo. Sob essa perspectiva, pressupõe-se o texto como ato de interação entre os indivíduos que desejam se comunicar. Para tanto, ambos terão que, necessariamente, compartilhar dos mesmos conhecimentos, sejam eles sociais, enciclopédicos etc. Logicamente, será da ordem do leitor a decisão de, ao se deparar com algo que ainda não é de seu conhecimento, buscar essa compreensão ou não, de acordo com a sua necessidade. Além disso, esse processo poderá sofrer alterações com o desconhecimento do sujeito que não domina o assunto proposto no texto, levando-o a interpretações equivocadas, o que irá causar interferência no processo comunicativo pretendido pelo autor. Segundo Koch (2006, p. 36), “a mente humana é um processador de informação, ou seja, ela recebe, armazena, recupera, transforma e transmite informação”. Se o leitor não identificar, no texto, um conhecimento prévio do que trata, não poderá compreendê-lo. Quer um exemplo? As bulas de remédios, pois trazem algumas informações que não são compreendidas por quem não é da área médica.
A cognição diz respeito aos processos mentais utilizados pelo indivíduo para a aquisição do conhecimento, sendo que esse processo se dá por meio do uso do pensamento, da percepção, do reconhecimento, da memória etc. Ainda de acordo com a autora, “o conhecimento não consiste apenas em uma coleção estática de conteúdos de experiência, mas também em habilidades para operar sobre tais conteúdos e utilizá-los na interação social” (KOCH, 2006, p. 37). O indivíduo irá lançar mão daquilo que já sabe, fazendo a escolha dos conhecimentos que melhor se encaixem na situação de compreensão do texto com o qual está tendo contato.
Vista como um processo permanente, a aquisição do conhecimento perpassa pelo processo textual e contextual da comunicação, o que irá exigir ajustes, um acomodar-se e um desacomodar-se diante de conhecimentos vistos como ultrapassados e daqueles que estão surgindo.
A ativação da memória que busca os conhecimentos necessários para a interpretação do texto compete, também, ao momento histórico em que o contexto está inserido. 
1.3.3 Contexto histórico
Todo texto é produzido dentro de um tempo e um espaço que sofrerão, inevitavelmente, mudanças ao longo de seu caminho. Um texto produzido em uma determinada época poderá não trazer o mesmo efeito compreensivo na atualidade ou mesmo não produzir o mesmo efeito.
A mudança comportamental é um bom exemplo de como um texto perderá seu efeito com o passar do tempo. O contexto histórico em que um texto é produzido irá determinar a ativação da memória para situações que há muito não são cogitadas em uma determinada sociedade. É o caso de textos de algumas revistas dos anos 1950, as quais traziam dicas de como as mulheres poderiam servir aos maridos, cuidando deles conforme ditava a sociedade da época. Algumas dicas davam conta de que a esposa deveria esperar o marido sempre bem arrumada, assim como a casa, e com o jantar pronto, além de nunca reclamar caso ele chegasse tarde ou não dormisse em casa.
O contexto histórico é o de uma sociedade que determinava padrões rígidos de comportamento. Essa mesma sociedade passou por mudanças e, no presente, essas dicas seriam compreendidas como se fossem insultos às mulheres da atualidade.
Por outro lado, alguns textos sobrevivem ao tempo, tendo seu contexto preservado, como o caso de leis e decretos públicos.
1.4 Modalidade oral e modalidade escrita
Oralidade e escrita são tomadas como sinônimos, muitas vezes, de modo equivocado, diga-se de passagem. A abordagem de ambas, em muitos estudos e pesquisas, vem sendo questionada por linguistas no âmbito da importância que é dada à escrita em detrimento da fala.
Tanto a modalidade oral quanto a modalidade escrita são processos interdependentes, mas que devem ser analisados separadamente, em um primeiro momento. 
1.4.1 Modalidade oral
Quando se pensa em oralidade, pensa-se em algo constituído, natural, que não necessita de grandes ajustes. A fala é, pois, tida como um processo inato que fará parte da vida do indivíduo falante por toda a vida.
No entanto, há algumas situações que devem ser consideradas. Uma delas diz respeito aos casos em que a fala não faz parte do processo comunicativo de alguém com pouca ou nenhuma audição. É o caso da comunidade surda, que, em sua maioria, utiliza somente a língua de sinais e a escrita para se comunicar. Logicamente que há, dentre essa comunidade, indivíduos que adquirem a oralidade por meio de um processo de aprendizagem da fala. Há técnicas para isso e muitos surdos acabam por usar a oralidade em sua comunicação. Tratamos, neste estudo, da situação de quem não passou por tal processo, seja por decisão própria, seja por impossibilidade de acesso.
Outra situação que deve ser considerada é a condição sociocultural do indivíduo que não teve acesso a uma cultura letrada, que vive em um ambiente em que os módulos de escrita são parcos, os quais, portanto, acabam por afetar-lhe o comportamento oral.
Em uma sociedade letrada como a nossa, atribuímos à fala uma condição secundária para a comunicação, já que a escrita domina, em grande parte, esse método. Além disso, a formação professoral dá uma ênfase bem maior à escrita, limitando a oralidade a um segundo plano.
Ocorre que alguns linguistas vêm se preocupando com o estudo da oralidade.
A oralidade se dá por meio da voz, produzida pelo aparelho fonador. O termo “oral” vem do latim orale e faz referência a tudo que é relativo ou pertencente à boca. Linguisticamente, o termo ganha outro significado, o de “som produzido com o véu palatino levantado, o que impede a passagem do ar também pela cavidade nasal” (FERREIRA, 2009). Nesse sentido, a voz é o que sustenta acusticamentea fala.
Não nos interessa, para este estudo, o aprofundamento e a análise da oralidade em seu sentido científico, já que são da competência da Fonologia e da Fonética tais estudos. Apenas convém ressaltar que cada língua tomará um critério para a realização de sua fala, de acordo com os princípios de emissão de sons pertencentes àquela língua.
Alguns fatores determinam a oralidade, como a entonação, a acentuação e o ritmo. Cada um cumprirá um papel e, juntos, irão constituir o que denominamos de linguagem falada. Lembre-se de que esses aspectos são constituintes apenas da fala e inexistentes, pois, na escrita. Nesta, para que entonação, acentuação e ritmo estejam representados, é necessária uma contextualização ou o uso de sinais gráficos, como a pontuação e a acentuação gráfica.
1.4.2 Modalidade escrita
Vivemos em uma sociedade grafocêntrica, ou seja, centrada na escrita. Convivemos com a escrita nos rótulos das embalagens dos produtos que consumimos, nas mensagens que recebemos via e-mail ou aplicativo de celular, nos textos que somos chamados a estudar em ambiente acadêmico, como este, nas paradas de ônibus informando qual linha devemos usar para chegar a um determinado lugar etc. A todo momento estamos envolvidos na escrita ou na leitura de textos em seus mais diversos formatos. A escrita ocupa um lugar na nossa sociedade de tal modo que, se uma pessoa não a dominar, estará condenada a viver na limitação da compreensão daquilo que essa mesma sociedade deseja, quer, impõe em termos de comunicação.
Tanto a fala quanto a escrita refletem a expressividade de um povo, de uma cultura que deseja transmitir seus conhecimentos para as gerações seguintes. Marcuschi (2008) ilustra essa situação com dois exemplos simples. No primeiro deles, o autor diz que a declamação de um poema é um ato de fala que, originalmente, foi concebido como escrita. Na contramão desse caminho, podemos citar uma palestra proferida na modalidade oral em um evento acadêmico, que poderá originar um artigo escrito para publicação em uma revista científica, por exemplo.
Na concepção da escrita como processo interativo, esta “é vista como produção textual, cuja realização exige do produtor a ativação de conhecimentos e a mobilização de várias estratégias” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 34). As autoras trazem o sentido do “pensar” enquanto se escreve, tanto no conteúdo do texto quanto no leitor desse texto, formando, com isso, a interação pretendida.
Escrever é um ato que exige, ainda segundo as autoras, planejamento e uso de algumas estratégias. Para tanto, o produtor de um texto escrito deverá acionar alguns conhecimentos sobre o que se escreve, para quem se escreve, qual o momento da escrita e da leitura, entre outros; selecionar, organizar e desenvolver as ideias que fazem parte de sua produção, mantendo uma linearidade no processo de escrita; e, ainda, revisar constantemente aquilo que está sendo produzido. Perceba que a escrita, portanto, é um ato que exige, tanto de seu produtor, quanto de seu leitor, a mobilização de diversos conhecimentos.
Como ato comunicativo, tanto fala quanto escrita estão inseridos em um sistema de comunicação protagonizado por elementos essenciais a esse processo.
1.4.3 Sistema de comunicação
Para que a comunicação se efetive de modo interacional, ou seja, para que possa transmitir uma ideia a alguém, é necessário identificar quais elementos fazem parte de uma situação comunicativa. O sistema de comunicação traduz com precisão os elementos necessários ao ato de interação comunicacional.
Uma mensagem só será tida como tal se puder ser emitida por alguém e absorvida por outrem. Assim, no sistema de comunicação, todos os seus constituintes têm o seu devido valor. Conheça separadamente cada um deles:
emissor – é quem transmite a mensagem ao receptor;
receptor – é quem recebe, decodifica e interpreta a mensagem enviada pelo emissor;
mensagem – é a informação transmitida pelo emissor ao receptor. É o conteúdo, propriamente dito;
código – é o conjunto de sinais ou signos, linguísticos ou não, comuns ao emissor e ao receptor. A língua portuguesa, por exemplo, é o código usado para que pessoas possam se comunicar no território brasileiro. Por isso a importância de dominar as especificidades da língua para que a mensagem possa ser transmitida e recebida com clareza;
canal de comunicação – é a via, o meio (oral, escrito, visual ou corporal) pelo qual a mensagem é transmitida, servindo de suporte físico à transmissão.
Visto como um sistema, sua estrutura não deverá ser desorganizada. Se um dos componentes desse sistema falhar, a comunicação ficará comprometida, passando a ocorrer o que denominamos de ruídos na comunicação. Em uma chamada telefônica, durante um espetáculo musical, por exemplo, a compreensão da mensagem poderá ficar comprometida pelo som alto produzido pela música. Assim é o processo de comunicação, em que todos os fatores devem concorrer para a sua compreensão.
Atente para o importante fato de que as mensagens mudam conforme o canal. Há mensagens visuais (dança, fotografia), sonoras (música, o som de uma sirene), gustativas (o sabor de um tempero), dentre outras. Em uma sociedade letrada como a nossa, a linguagem falada e a escrita são utilizadas para passar mensagens a todo o momento, sejam elas associadas a imagens, sejam da forma dialógica ou, ainda, sinalizadas.
A oralidade e a escrita não devem ser consideradas como dois polos opostos, já que fazem parte de um mesmo sistema linguístico. No entanto, embora vistas desse modo, e resultantes de uma única gramática, apresentam especificidades próprias. Dizer que a escrita é o resultado da fala, que aquela é o espelhamento desta, resulta em pensarmos, de uma forma simplista, que se trata de um processo em que adquirir a escrita é tão simples — ou tão complexo — quanto adquirir a fala.
A aquisição da escrita é tão complexa quanto a aquisição da fala, porém deve ser vista tão naturalmente quanto a primeira. Pensar na escrita como puro produto da fala é desconsiderar o plano fonológico e o plano fonético de uma língua, além de sua ortografia. É importante o reconhecimento da apreensão do conhecimento de uma língua, de modo aprofundado, a partir do que ela carrega consigo como conhecimento adquirido. Isso tornará o processo de aprendizagem efetivamente dentro de uma realidade constituída em uma sociedade que é permeada pelos atos de fala e de escrita, atos estes que constituem, ainda, o pilar de sustentação das comunidades que vivem na dependência dos atos comunicativos embasados mais na escrita do que na fala.
Tratar o (re)conhecimento da língua como fundamentação para uma aprendizagem sólida sobre a língua que falamos e a língua que escrevemos é dar o devido valor ao conhecimento adquirido por parte dos aprendizes tanto em fase inicial quanto em fase final da escolarização.
2.1 A tipologia textual descritiva (gêneros: diário, relato de viagem)
O que compreendemos por descrição? O detalhamento, falado ou escrito, sobre algo ou alguém. Portanto, um texto descritivo irá apresentar uma pessoa, um cenário, uma situação com riqueza de detalhes, pormenorizando-os para que o leitor tenha acesso às circunstâncias que envolvem determinada situação de maneira a compreendê-la. A descrição, desse modo, servirá para enriquecer o texto, pensando que o leitor não tem acesso a tais informações no momento da leitura.
Vejamos um trecho do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, indicando a descrição da maneira como vive o personagem (ASSIS, 1994, p.2):agem para Zoom
A primeira frase descreve, brevemente, Dom Casmurro, o narrador do texto, mostrando ao leitor o modo como vive aquele homem: só, mas com um criado. Tal informação nos faz pensar que o criado não lhe dá o alento social que uma família poderia dar-lhe. O criado apenas cumpre o papel de empregado, de alguém que cuida da casa e das coisas do patrão. Dom Casmurro, por sua vez, ao relatar que vive só, ou seja, além de ser privado do convívio rotineiro com outras pessoas, o termo “só” remete à solidão, um estadode isolamento vivido pelo personagem.
Em seguida, a descrição segue o caminho da casa em que ele vive, antecipada pelo motivo que o levou a construí-la. Percebemos, ainda, que a riqueza de detalhes é manifestada na descrição da sala principal da casa, o que nos faz pensar que o personagem assim o fez porque, possivelmente, seja desse ambiente que ele mais gosta.
Essa descrição faz referência a duas situações: a do homem que vive só, na mais perfeita solidão, e da casa, ou melhor, de uma parte da casa. O leitor, nesse sentido, terá duas informações em um mesmo relato, em um mesmo momento descritivo. Notamos, assim, o quão importante é para o texto a situacionalidade de sentimento (solidão) e de espaço (a casa) para formar, a partir dessas informações, um cenário de vida do personagem.
Outro exemplo de descrição é aquele que é dado por meio da descrição de um lugar pelo olhar de uma criança. Quando o telefone era de acesso somente para poucos, o telefone celular não existia e a tecnologia da internet tampouco, a maneira como as pessoas se comunicavam era por meio de cartas. Nelas, costumavam narrar as viagens que faziam, davam notícias aos familiares e amigos sobre suas vidas, sobre suas rotinas longe deles, expunham os sentimentos, dentre outras situações. Vamos ler um trecho de uma carta fictícia escrita aos pais por uma menina de nove anos, em viagem de férias à casa dos avós. O texto mostra a descrição de um lugar em que ela foi passear com a avó. Na descrição, a menina demonstra todo o encantamento que sente:
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Como você pode ver, a menina detalha um passeio em um lugar, caracterizando-o com detalhes para que os pais possam imaginá-lo, já que não o conhecem. Notamos, desse modo, que a descrição auxiliou duas pessoas a “ver com os olhos” de outra, ou seja, a decifrar um lugar por meio do detalhamento feito por uma criança. A situação exposta no trecho da carta demonstra o quanto a menina estava maravilhada pelo que tinha visto e vivido. Os pais possivelmente foram contagiados de tal maneira pela descrição da menina, que conseguiram ter uma ideia do espaço em que ela havia estado.
Essa é mais uma característica do texto descritivo, a de remeter o leitor ao mundo do autor do texto no momento em que se encontra diante dos detalhes descritos. O leitor traça em sua mente a cena ou cenário descrito no texto. Contudo, o que é importante ressaltar é que cada leitor terá seu próprio desenvolvimento de descrição, uma interpretação individual, que será única para alguns detalhes. Quando Dom Casmurro descreve que “a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos bicos, de espaço a espaço”, cada leitor formará, em sua mente, uma imagem diferente e que será única, pois não há a imagem dessa pintura. A descrição não é rica em detalhes que possam fazer com que todos os leitores percebam a mesma figura. Não sabemos quais flores miúdas são, qual seu aspecto, cor, formato; não sabemos que grandes pássaros são, se um cisne ou um pelicano, ou nenhum dos dois, mas outro pássaro qualquer, desde que seja grande. Mesmo assim, temos uma situação de comparação, pois um pássaro grande opõe-se a um pequeno, mas, poderá ser grande para o autor e nem tão grande para o leitor.
O que queremos dizer é que a descrição realizada pela escrita, desde que não seja de algo, alguém ou algum lugar conhecido do leitor, poderá deixar margem para inúmeras interpretações. Se os pais da menina que escreveu a carta já conhecessem o centro comercial em que ela foi com a avó, os dois fariam o reconhecimento do mesmo cenário, pois ele já existe, já está formado em suas memórias, bastando apenas resgatá-lo. Diferente disso é o caso da descrição de uma imagem, como a exposta a seguir: 
A figura mostra a paisagem do campo retratada por uma típica casa de fazenda à beira de uma estrada de chão, tendo ao fundo outras casas e uma plantação. Além disso, o cenário mostra a vegetação do lugar, com uma cadeia de montanhas ao fundo. Tudo isso caracteriza a leitura de um texto descritivo no formato visual.
Essa leitura poderá ser realizada por diferentes pessoas, que não se distanciarão do que nela está expresso. Isso pensando em uma descrição visual. Se duas ou mais pessoas forem chamadas a descrever, na forma escrita, a mesma imagem, possivelmente o façam de maneiras diferentes.
Como você pode observar, por meio dos exemplos dados, o texto descritivo apresenta algumas características. De acordo com Savioli e Fiorin (2006, p. 240), o texto é formado com base em informações concretas, configurando o que os autores chamam de “texto figurativo”. No texto de “Dom Casmurro”, a concretude pode ser definida pelos termos “pintura do teto e das paredes” e “grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros”.
Outra característica apontada pelos autores é a simultaneidade das ocorrências. Na carta da menina para seus pais, ela relata que o prédio do centro comercial é grande, existem muitas lojas nele e há escadas que sobem e descem, tudo isso sem identificar a coordenação de tempo. Nesse tipo de texto, não há a intenção de apresentar uma sequência temporal daquilo que está sendo descrito, pois esse tipo de informação não irá alterar o sentido que se quer dar ao texto.
Por último, os autores apontam o uso de verbos de estado, principalmente, sendo que o presente e o pretérito imperfeito são os tempos verbais de maior uso. Essa predominância também é apontada por Koch e Elias (2010, p. 65) como característica dos textos descritivos, já que neles “os verbos de estado e situação, ou aqueles que indicam propriedades, qualidades, atitudes”, são representados “no presente, em se tratando de comentário, e no imperfeito, no interior de um relato”. É o caso da descrição da escada-rolante feita pela menina: “Então, a escada começa a andar, e a gente sobe por uma e desce por outra. Eu não queria mais sair de lá! Subia por uma e descia por outra!”. Os verbos “começa”, “sobe” e “fica” foram usados no presente para indicar como ocorre o funcionamento da escada-rolante, enquanto “subia” e “descia”, indicam o que a menina vivenciava no momento da subida e da descida.
O predomínio da objetividade, com enfoque no real, sem determinar a opinião de quem descreve, ou da subjetividade, em que a descrição é realizada por meio de opiniões e sensações, sendo manifestado o sentimento do autor do texto, são outras características do texto descritivo.
Tal texto está presente nos gêneros crônica, reportagem, notícia, entre outros.
2.2 A tipologia textual narrativa (gêneros: conto, biografia, fábula, romance, lenda, novela, carta)
A narração é o primeiro modo de texto que usamos e com o qual temos contato. Desde crianças, aprendemos a narrar, a contar fatos e acontecimentos. Contamos como caímos e machucamos o joelho, como foi nosso dia na escola, fazemos extensas narrações de como será nosso futuro, no trabalho ou na vida pessoal.
A contação de histórias é, possivelmente, uma das primeiras formas de o ser humano se socializar, pois esses momentos eram tidos como a oportunidade de as pessoas ouvirem fatos ou acontecimentos, reais ou simplesmente inventados, sobre os mais diversos assuntos. Essa prática ainda é comum em comunidades indígenas, por exemplo, nas quais as pessoas sentam-se em torno do fogo para ouvir histórias.
Narrar faz parte da vida do ser humano. Por isso mesmo é tão importante ler histórias para uma criança, pois, nesse momento, ela terá contato com um tipo de texto que é próprio de seu cotidiano.
Também será a narração um dos primeiros textos com o qual a criança terá contato na escola, muito embora não seja o único. A narração é a principal escolha da escola para inserir os alunos no mundo do texto e isso ocorre porque essa tipologia textual apresenta uma sequência lógica de fatos, facilitando a compreensão de quem lê ou escuta.
A narração pressupõe o envolvimento de um ou mais personagens em determinado espaço e tempo, constituindo um enredo que será desenvolvido por um narrador.Há, ainda, o elemento imprescindível para uma narração: o conflito. Esse elemento será responsável por determinar a desacomodação da situação inicial, promovendo a transformação da realidade.
Para compreender como se dá a estrutura e quais características compõem um texto narrativo, observemos o trecho do romance de Eça de Queirós, “O primo Basílio”. Nele, o narrador expõe a atual situação de Luísa, que está se restabelecendo de uma doença e está sendo cuidada, com zelo extremo, pelo marido, Jorge (QUEIRÓS, 1994, p. 204).
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Perceba que os elementos da narrativa estão presentes no trecho do texto. Os personagens são Jorge e Luísa, apresentados ao leitor em outra parte do romance. Temos, ainda, um terceiro personagem, o médico Dr. Caminha. O tempo é o de convalescença de Luísa. Não um tempo marcado cronologicamente, numericamente, mas um tempo qualquer, um período. O espaço é a casa do casal, mais especificamente o quarto deles, que não está descrito, mas que, pela narração, é possível sua depreensão. O conflito é representado pela situação de doença que precede o trecho. Infere-se que havia uma doença porque Luísa está em convalescença e, ainda, porque há a fala do Dr. Caminha informando que ela estava fora de perigo.
O narrador, nesse caso, é um narrador em terceira pessoa. Esse tipo de narrador poderá ser onipresente, ou seja, está em todos os lugares, em toda parte do texto narrado, ou onisciente, que conhece toda a trama.
Há ainda outro tipo de narrador, qual é ele? É o narrador em primeira pessoa, sendo um dos personagens da narração. Esse tipo de narrador irá contar a história a partir de sua perspectiva, sob sua óptica, mantendo o seu ponto de vista sobre a trama. Ele não será, necessariamente, a personagem principal da trama. Poderá ser qualquer um, desde que apresente os fatos dentro da estrutura que determina esse tipo de texto.
Ainda analisando o texto, você pode perceber algumas características próprias da narrativa. A primeira delas é a organização cronológica de maneira sequencial, ou seja, há um antes e um depois dos acontecimentos narrados. Esse tempo pode ser psicológico e, nesse sentido, mesmo apresentando uma sequência temporal, de modo linear, não é material e nem pode ser mensurado. No exemplo dado, o narrador diz que Jorge vestia Luísa, depois ajoelhava-se para lhe calçar os sapatos para, em seguida, envolvê-la com um roupão. Há, nessa sequência, uma ocorrência que vem antes e uma que vem depois, logo em seguida ou não. Primeiro Luísa era vestida, depois calçada com os sapatos e, por último, envolvida no roupão, e não primeiro calçada para depois ser vestida.
Outra característica presente na narrativa é a situacionalidade. Savioli e Fiorin (2006, p. 226) dizem que o texto narrativo apresenta uma “série de mudanças de situação, de transformações de estado”, como o que ocorre na passagem em que o narrador diz que Luísa estava livre de perigo, significando que ela estava melhorando de seu estado de saúde, e não que estava adoecendo.
A presença de verbos de ação na narrativa, assim como de advérbios temporais e causais, são características textuais apontadas por Koch e Elias (2010). Podemos identificar tais situações na fala “E dependia toda dele” ou, ainda, “Deitava-se vestido”. Os verbos “depender” e “deitar” indicam ações repetidas, que se sucediam; já a conjunção “e” (e dependia) indica que há um assujeitamento total de Luísa em relação ao marido, já que não tinha forças para quase nada.
Vejamos outro exemplo de texto narrativo. O livro de literatura infantil “A bruxa e o caldeirão”, de José Leon Machado, conta a história de uma bruxa que não conseguia fazer as poções, tampouco preparar a comida porque havia um furo em seu caldeirão, e isso a incomodava muito. No trecho a seguir (MACHADO, 2003, p. 4), a bruxa está angustiada porque, se precisar elaborar uma das poções maiores, não terá como usar o caldeirão.
O texto mostra uma sucessão de acontecimentos, disposta em uma sequência cronológica: primeiro a moça engoliu a nuvem e, depois, a vomitou. Para que isso acontecesse, ela ingeriu uma das poções poderosas da bruxa. Percebemos que há, entre uma ocorrência e outra, um tipo de acontecimento que dá a ideia de que algo se encaminha para o final: engoliu a nuvem, tomou a poção e vomitou a nuvem.
Além disso, a parte narrada pela bruxa na história se passa em um lugar que o leitor poderá identificar como sendo uma aldeia, já que a moça era filha de um aldeão, pessoa que pertence a uma aldeia. Por fim, os verbos “vomitar” e “furar” definem um acontecimento ocorrido em algum momento do tempo passado.
O texto narrativo apresenta uma estrutura básica, organizada de modo linear para apresentar os fatos e as ocorrências do texto. Essa estrutura é composta por introdução, desenvolvimento e conclusão. Há autores que, para envolver mais ainda o leitor no enredo da trama, fogem dessa linearidade, apresentando, inicialmente, as consequências dos fatos para, depois, desenvolver o assunto. Essa é uma forma de prender a atenção do leitor para o desenrolar dos fatos.
No conto “A bruxa e o caldeirão”, a introdução da narração ocorre com o seguinte parágrafo (MACHADO, 2003, p. 2):
A introdução do conto narra o início do acontecimento, apresentando uma estrutura linear dos fatos que começam a ser narrados. Note que o termo “quando” pressupõe um acontecimento que ocorre ao mesmo tempo que outro: a bruxa prepara a sopa e, simultaneamente, o caldeirão verte líquidos pelo furo. A informação seguinte é de que nunca tal fato havia ocorrido.
Dando continuidade, o narrador em terceira pessoa relata que a bruxa saiu a procurar uma solução para o caso, consultando seus livros e a própria memória para resolver o problema, pois necessitava do caldeirão para fazer as poções e as refeições. Nesse momento, por intermédio do narrador, o leitor percebe a aflição da bruxa, que fica dias sem saber o que fazer até que tem a ideia de voltar à feira na qual havia comprado o caldeirão (MACHADO, 2003, p.5):
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No desenvolvimento da narração exemplificado, o leitor constata um fato: a bruxa não faz ideia do tempo decorrido entre a compra do caldeirão, novo, e o furo que agora lhe incomodava. Para que o leitor perceba que a bruxa não tem consciência do tempo, na introdução, o narrador conta que tal fato nunca tinha ocorrido antes, sendo que aquele era o único caldeirão que ela havia usado em toda sua vida de bruxa. Dando continuidade à narração, o narrador informa que, mesmo não tendo sido o mercador que vendeu o artefato, este iria resolver o problema. É então que lhe oferece outro caldeirão, um novo, e sugere que use o velho como vaso de plantas.
A bruxa aceita a sugestão, compra outro caldeirão e, antes de retornar para casa, roga uma praga ao mercador: se acontecer o mesmo, de o caldeirão furar, transformará o mercador em sapo.
No parágrafo de conclusão (MACHADO, 2003, p. 9), o autor apresenta a seguinte narração:
 
O conto apresenta uma estrutura narrativa linear, levando o leitor a perceber fatos, situações e personagens dispostos em um tempo que, por sinal, é o que se sobressai na história, pois a personagem principal não tem ideia do tempo transcorrido para si, que é uma bruxa dotada da eternidade temporal, diferente dos demais seres humanos, como é o caso do mercador. Outra forma de indução ao sentido do tempo transcorrido não percebido pela bruxa é o fato de ela pensar, nas duas situações ocorridas, que os caldeirões tinham pouco uso.
Você percebeu, no transcorrer do conto, que a estrutura da narração é fator preponderante para que o leitor interaja com o texto, para que ele compreenda a história que está sendo narrada, prendendo-se a ela.
A narrativa ainda irá apresentar dois tipos de linguagem, denominados tipos de fala ou de discurso: o discurso direto e o indireto. No discurso direto, a fala é reproduzida de modo exato pelo narrador:
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Já no discurso indireto, o narrador apresenta a história com suas próprias palavras:
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A narrativa irá contemplar os gêneros romance, notícia, conto e novela, entre tantos outros.
2.3 A tipologia textual expositiva (gêneros: resumo, resenha, reportagem, verbete de dicionário, cardápio)
O texto expositivo encontra-se no rol dos textos dissertativos e objetiva transmitir e construir o conhecimento a partir de sua apresentação (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004). São os textos encontrados em ambientes acadêmicos e/ou escolares, porém não somente neles.
O verbete de dicionário é um típico exemplo de texto expositivo. Você certamente já ouviu dizer que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa. No entanto, originária do latim, essa palavra é encontrada também em outras línguas, não exatamente escrita do mesmo modo, como ocorre no espanhol – soledad. Ocorre que seu sentido é diferenciado, e quem nos mostra isso é o dicionário. Veja o quadro a seguir.
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Perceba que há a exposição detalhada e conceitual da palavra “saudade” e o que ela significa na língua portuguesa. Diferentemente do que ocorre no espanhol, em que o termo soledad carrega o sentido de nostalgia em relação à casa, ao lar, “saudade”, como bem expõe o texto do verbete, remete a um sentimento nostálgico que é, ao mesmo tempo, suave. Além disso, esse sentimento vem acompanhado da vontade de rever a pessoa de quem se sente falta. Por outro lado, o termo também está associado à botânica e a uma espécie de música cantada pelos marinheiros. Tudo isso é possível de ser conhecido por meio da exposição/informação dada pelo texto de um dicionário. Dessa forma, com todos esses significados, como o uso da palavra será determinado? Pela situação de uso, para fazer valer seu sentido.
O texto expositivo é caracterizado, segundo Koch e Elias (2010, p. 67), pela “representação conceitual”, ordenada de maneira lógica. Esse conceito será transmitido por meio de informações, basicamente neutras, usadas com o objetivo de explicar, de definir desde um termo (como a palavra “saudade”) até um tema (aquisição da escrita).
Veja outro exemplo de texto expositivo. O Ministério do Meio Ambiente noticiou, em outubro de 2017, a norma que aborda o processo de produção e comercialização de mudas e sementes com o objetivo de recuperar a vegetação nativa brasileira. Verifique um trecho do texto da notícia no quadro a seguir:
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Podemos dizer que a notícia também é um exemplo de texto expositivo? Por quê? Sim, pois comunica, divulga uma informação. Observe que o texto apresentado configura essa tipologia por apresentar características como objetividade e logicidade, como se verifica na primeira frase da notícia: O processo de produção e comercialização de sementes está mais ágil.
Outros gêneros textuais como a palestra, o artigo científico e o seminário também fazem parte do grupo dos textos expositivos.
2.4 A tipologia textual argumentativa (gêneros: artigo de opinião, crônica, editorial, carta (se endereçada à sociedade, como uma carta aberta), redação de uma prova)
Para que se possa compreender do que trata o texto argumentativo, vamos conceber o que é argumentar. De acordo com Ferreira (2009), argumentar é apresentar os raciocínios que constituem uma argumentação. É discutir, alegar e sustentar controvérsias. É concluir. Sendo assim, o texto argumentativo terá por objetivo convencer o leitor, persuadi-lo sobre determinado tema, por meio de argumentos que possam sustentar o posicionamento do autor. Desse modo, Savioli e Fiorin (2006, p. 284) sustentam que “todo texto é argumentativo, porque todos são, de certa maneira, persuasivos”, e prosseguem, dizendo que “seja a argumentação considerada em sentido mais amplo ou mais restrito, o que é certo é que, quando bem feita, dá consistência ao texto, produzindo sensação de realidade ou impressão de verdade”.
O convencimento é a característica marcante do texto argumentativo. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) possui, em seu site, um espaço destinado a Textos para Discussão. Um deles, intitulado “Tributação do capital no Brasil e no mundo”, traz vários argumentos sobre o assunto.
Observe, no exemplo, que algumas características presentes no texto dão conta do poder de argumentação usado pelo autor, como o uso de modalizadores, que nada mais são do que termos usados como fatores argumentativos. Os adjetivos “surpreendente”, “interditado” e “suposta” são modalizadores que aparecem no texto para evidenciar as ideias propostas. Advérbios e verbos auxiliares também são considerados modalizadores na composição do texto argumentativo.
Além dos termos, há as expressões modalizadoras, como “acredito que”, “na minha opinião”, “creio fielmente” etc. No entanto, de acordo com Savioli e Fiorin (2006, p. 293), essas expressões não são suficientes para dar o sentido de veracidade ao texto, já que “num texto, não se prometem sinceridade e convicção. Constrói-se o texto de forma que ele pareça sincero e verdadeiro.” Para os autores, “a argumentação é exatamente a exploração de recursos com vistas a fazer o texto parecer verdadeiro, para levar o autor a crer” (SAVIOLI; FIORIN, idem).
Outra característica presente no texto que nos serve de exemplo é a apresentação do tema por meio de um questionamento direto (qual o grau adequado de progressividade do imposto de renda e como devem ser tributados os lucros e demais rendas do capital?), a autoridade retratada nas citações de autores que irão agregar valor ao que o autor está afirmando (muito maior do que o previamente estimado por pesquisas domiciliares, como demonstrado por Medeiros, Souza e Castro, 2015; Morgan, 2017).
Assim como a narração, perceba que o texto argumentativo também está estruturado em introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, o autor irá apresentar a ideia principal do texto, bem como o assunto que será desenvolvido nos parágrafos seguintes. O desenvolvimento constitui-se na parte mais importante do texto, pois é nele que o autor irá sustentar seus argumentos, apresentando provas e razões sobre aquilo que está sendo exposto, a fim de afirmar e reafirmar a ideia principal exposta na introdução. A capacidade do autor para desenvolver seus pensamentos e ideias será definida nessa etapa do texto. Caso ele não consiga apresentar elementos suficientes para convencer o leitor, não terá êxito em sua tese.
Por fim, na conclusão, o autor irá retomar aquilo que foi apresentado na introdução, fazendo um fechamento das ideias desenvolvidas ao longo do texto. É importante ressaltar que a conclusão poderá dar ideia de continuidade ou não, dependendo da situação de escrita. Por exemplo, se for um texto de uma pesquisa, ele poderá ter continuidade. Sendo assim, na conclusão o autor irá indicar que há condições de serem desenvolvidas que deem continuidade ao tema defendido. É o caso dos trabalhos de conclusão de curso ou dissertações de mestrado, os quais deixam em aberto, muitas vezes, a possibilidade de continuidade da pesquisa desenvolvida.
Outro exemplo que podemos citar do uso de texto argumentativo é o caso dos processos seletivos para acesso aos cursos de graduação, que são realizados pela produção de redações, como o que ocorre com o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM.
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A proposta de redação do ENEM de 2016 solicitou ao candidato que produzisse um texto do tipo dissertativo-argumentativo. Sendo assim, ele deveria fazer uso de argumentos que convencessem o leitor de seu posicionamento sobre o tema "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil". Perceba que é solicitado ao candidato, ainda, uma proposta de intervenção, ou seja, além de o candidato apresentar argumentos para convencer o leitor sobre seu posicionamento contrário ou favorável, deveria, na conclusão, apresentar uma proposta de intervenção, ou seja, uma solução para o problema.
Talvez esse seja o tipo de texto mais complexo para ser desenvolvido, visto que deve contar com um vocabulário amplo, indicado ao tema, além de exigir de quem produz o texto um conhecimento sobre elementos coesivos,responsáveis por interligar as ideias apresentadas. A coerência, também exigida nesse tipo de texto, fará com que as ideias sejam dispostas de modo harmônico, auxiliando o leitor, como a coesão, na compreensão do texto. É por essa razão que as escolas trabalham incansavelmente esse tipo de texto no ensino médio, sobretudo no terceiro ano, para que o alunado possa dar conta de processos seletivos como esse para ingresso em um curso superior.
Além das redações e dos editoriais, outros gêneros que compõem o texto argumentativo são a carta do leitor, o debate, a resenha crítica e o artigo de opinião, entre outros.
2.5 A tipologia textual injuntiva (gêneros: receitas, manual de instruções, bula, regras de jogo, lista de compras)
A maioria de nós já passou por alguma situação em que necessitava de auxílio para realizar alguma tarefa e buscou no texto essa ajuda. Ao convidar amigos para um jantar, por exemplo, buscamos auxílio na internet para encontrar uma receita de algo que agrade aos convidados. Em sua linguagem, a receita culinária irá estabelecer alguns comandos, como você pode observar no quadro a seguir:
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Como você pode perceber, a linguagem utilizada na receita remete a comandos dados por alguns verbos como pegar, reservar, misturar, acrescentar, deitar, levar, polvilhar e desenformar, todos no modo imperativo e usando a impessoalidade, ou seja, a terceira pessoa do singular.
Já podemos observar, com isso, uma das características do texto injuntivo: o uso do modo imperativo dos verbos. 
De acordo com o “Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, injunção (substantivo feminino) significa “ordem formal; imposição. Pressão das circunstâncias. Imposição; exigência” (FERREIRA, 2009, p. 1108). Compreendendo dessa forma o termo, podemos conceber o texto injuntivo como sendo um tipo textual que irá determinar, por meio da linguagem, um ou mais comandos estabelecidos em relação a algo ou a alguém. Porém, mais do que simples comandos, o texto injuntivo também deverá cumprir uma função, a de instruir ou explicar.
Outra característica presente nesse tipo de texto é a ordem com que os enunciados estão dispostos. A ordenação é fundamental, pois ela servirá de guia para que se chegue ao resultado desejado.
Veja outro exemplo. Ao adquirir um produto eletrônico, você não costuma dar muita atenção aos manuais de instruções, não é? Isso porque, na maioria dos casos, os aparelhos são de fácil manuseio, não exigindo alto conhecimento. No entanto, há situações em que essas instruções são necessárias. É o caso das impressoras multifuncionais, ou seja, aquelas que, além de imprimir, fazem cópias. Imaginemos que você necessite fazer uma cópia, mas ainda não esteja habituado com a máquina. O manual de instruções, nesse caso, será de grande ajuda. Veja o que ele diz no quadro a seguir:lize sobre a imagem para Zoom
Assim como na receita de bolo de fubá, há, nesse trecho do manual de instruções de uso de uma impressora, a presença de comandos configurados pelo uso de verbos no imperativo conjugados na terceira pessoa: abra, insira, pressione, escolha. Esses verbos darão o sentido de comando que o leitor deverá seguir para que consiga atingir os resultados propostos pelo texto. Neste caso, o de conseguir fazer uma cópia de um documento ou de uma foto. Observe que as instruções estão enumeradas, formando uma sequência que o usuário deverá seguir. Por isso a importância do uso verbal na forma imperativa, para que o leitor possa compreender que, se não fizer o que está sendo instruído, se pular qualquer um dos passos, o resultado não será alcançado. Ou seja, se o usuário seguir todos os passos mas não colocar o papel na impressora, esta não irá imprimir o documento ou a foto.
Isso posto, por que a ideia de injunção presente no texto de um manual que instrui o usuário se faz tão importante? Porque irá determinar o sucesso ou o fracasso daquilo que está sendo comunicado.
Outro aspecto que podemos apontar no texto injuntivo é o uso da linguagem conativa. Ela está presente em textos publicitários porque tem forte apelo ao consumidor. Veja um exemplo no caso a seguir.
Neste ano de 2018, o Ministério da Saúde aproveitou o tema da Copa do Mundo como pano de fundo para sua campanha de vacinação contra a Influenza. De acordo com o Ministério, “a influenza ou gripe é uma infecção aguda do sistema respiratório, ocasionada pelo vírus influenza, com elevado potencial de transmissão” (BRASIL, s/d). A campanha publicitária visa atingir um público específico e, sendo assim, utiliza-se de uma linguagem que cumpra tal propósito, fundamental para que a população tome conhecimento sobre quem pode participar e qual o objetivo.
Um dos cartazes da campanha apresenta a seguinte chamada: “Entre para o time da saúde. Vacine-se contra a gripe e fique protegido” (BRASIL, 2018). Nessa chamada, podemos identificar um tipo de linguagem que predomina: a conativa, também denominada de apelativa.
De acordo com Barros (2010, p. 35), os textos que empregam a linguagem conativa desejam produzir “os efeitos de sentido de interação com o destinatário, a que se procura convencer ou persuadir, e de que esperam, como resposta, atitudes e comportamentos, sejam eles linguísticos ou não”.  Em relação às funções da linguagem, vale lembrar que, ainda de acordo com a autora, há predominância de uma função em relação a outra, e não somente uma única função presente nos textos. O que se observa é uma hierarquização, e é nesse sentido que vemos, no texto do cartaz, a presença de apelação, de comando quando pede, com certa dose de exigência, para que “entre para o time da saúde”. Para tanto, o leitor entenderá que deverá vacinar-se contra a gripe para que, com isso, fique protegido e atinja o objetivo da campanha: permanecer saudável.
A linguagem do texto injuntivo poderá sofrer alterações dependendo do gênero textual em que virá representado. Como você viu, nos casos de receitas culinárias, manuais de instruções e campanhas publicitárias, a linguagem é mais direta, com o uso do imperativo na terceira pessoa para determinar o comando que será dado. No entanto, não podemos esquecer que toda linguagem é dinâmica e, por isso mesmo, passível de mudanças e alterações que podem ocorrer de acordo, por exemplo, com a necessidade do leitor.
É o caso das bulas de remédios, em que a linguagem está, atualmente, mais próxima do consumidor, fazendo com que o usuário de determinado medicamento possa compreender melhor o texto que tem nas mãos.
O texto injuntivo irá contemplar os gêneros anúncios publicitários, discursos políticos de campanha eleitoral, discursos religiosos, manuais de instruções, receitas, bulas de remédios, regras de jogo e comandos diversos, como as normas do trânsito, entre outros.
DESCRITIVO – Consiste na caracterização de um objeto, ou seja, a autora se preocupa em fornecer um “retrato verbal” daquilo que se propôs a descrever, fazendo observar a sequência de aspectos e características que o compõe.
NARRATIVO – Trata-se de um fato ficcional ocorrido em determinado tempo e lugar, envolvendo personagens. Acima de tudo, há o narrador que, no caso específico, conta esse fato na terceira pessoa. (crônica, conto, charge, tirinha, piada, romance)
DISSERTATIVO – Caracteriza-se por refletir, comentar, conceituar, expor ideias ou ponto de vista para fornecer conhecimento, associando-se à ideia de análise e compreensão. De forma coerente, o autor tenta persuadir o receptor por meio de argumentos articulados e construídos dentro de um repertório cultural produtivo. (reportagem, texto expositivo: dissertação expositivo, resumos, dissertação argumentativa: resenha (resumo + opinião de quem produz), artigos de opinião (dissertação argumentativa).
Tipo textual: estrutura do texto
Gênero textual: função social, uso no cotidiano
Tipos textuais:
- relacionados à estrutura do texto
- é a forma como o texto se apresenta
- características definidas do texto
- classificada de acordo com a estrutura, objetivo e finalidade do texto
Classificação dostipos textuais:
- narração
- argumentação
- descrição
- prescrição
- exposição (informativo)
- injunção (ordem, instruções)
Crônica: baseada no cotidiano
Conto: fictício
Romance: narrativa longa, para constituir o imaginário do leitor utiliza-se partes descritivas (ambiente, personagens)
Gêneros textuais: 
- a intenção é transmitir a mensagem ao interlocutor de forma efetiva - foco na função comunicativa e não os aspectos estruturais;
- possuem função social específica da língua (comunicar algo) e se adequam ao uso que se faz deles, sendo assim, ocorrem em situações cotidianas de comunicação e apresentam uma intenção comunicativa bem definida;
- gêneros textuais são subgrupo de “tipos” textuais;
- são livres, se adequam à situações cotidianas;
- possuem um conjunto ilimitado de características determ... o estilo do autor, conteúdo, composição e função, porém características comuns em alguns facilitam o agrupamento.
Exs.: receita culinária, blog, e-mail, lista de compras, bula de remédios, telefonema, carta comercial, carta argumentativa etc.
Tipo textual: relaciona-se com a forma que um texto se apresenta - caracterizada pela presença de certos traços linguísticos predominantes
gênero textual: tem funções sociais específicas, que são pressentidas e vivenciadas pelos usuários da língua
dissertar: é defender um ponto de vista, uma tese, são necessários argumentos. O ideal é ter uma posição final definida, clara, esclarecida e sustentada, sempre língua padrão (português formal)
narrar: é contar um fato
descrever: dar detalhes
O que vou escrever? Para quem eu vou escrever? Sobre o que vou escrever?
3.1 Gêneros textuais: definição e funcionalidade
Quando se pensa em gênero textual, geralmente nos vêm à mente uma variedade de textos que usamos em nosso dia a dia para nos comunicar. É exatamente isso que define um gênero textual: a atividade linguística produzida com fim comunicativo.
Como gênero textual, podemos compreender o agrupamento de textos com as mesmas características e propriedades, destinados a situações comunicativas diversas. Os gêneros textuais, na visão de Marcuschi (2008, p. 155), “são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos caraterísticos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas”. São a concretização da linguagem de acordo com a necessidade e a situação a que o indivíduo está exposto.
Comunicamo-nos de acordo com a situação exigida. Ou seja, ao escrevermos um artigo, não o fazemos do mesmo modo que em uma carta de apresentação, assim como não falamos ao telefone do mesmo modo que apresentamos um trabalho da faculdade ou quando estamos em um almoço de família. Essa diferença é percebida de acordo com a situação que exigirá uma comunicação adequada ao ambiente, seja ela escrita, seja oral.
Desse modo, cada situação de uso irá determinar um gênero textual, sendo que a escolha deverá ser amparada no objetivo proposto para o momento comunicativo, o ambiente em que ele irá circular socialmente e a função que irá exercer (KOCH; ELIAS, 2010). Por isso mesmo é necessário que se dê uma atenção maior ao ensino dos gêneros em sala de aula, visto que há uma infinidade deles, todos passíveis de mudança ao longo do tempo.
Pensando desse modo, os gêneros textuais devem ser explorados em sala de aula com a funcionalidade para que são desenvolvidos, seja de modo oral ou escrito, seja literário ou não literário. O aluno poderá, a partir dessa percepção de educação, compreender a variedade de gêneros textuais existentes em nossa sociedade, para que servem e em quais momentos são usados.
Por isso o ensino do gênero deve tomar lugar importante na escola, e não apenas como coadjuvante do ensino de regras e questões referentes à linguagem.
3.1.1 Ensino dos gêneros textuais
A escola ainda trata o ensino do gênero textual como uma normatização, usando o gênero textual como pretexto para ensinar normas gramaticais ou para criar leitores de diferentes textos, sem a atenção necessária à sua compreensão ou ao seu fim. Desse modo, são formados leitores que atuam de forma passiva em relação ao texto, não obtendo, na maioria dos casos, a competência leitora que irá determinar o uso do texto de modo eficaz em situações diversas de comunicação a que o indivíduo estará sujeito a todo momento.
Os gêneros são, muitas vezes, confundidos com o veículo que os conduzem até o destinatário. É o caso do jornal, tido como gênero textual, por alguns. O gênero está presente no jornal em forma de artigos, reportagens, cartas dos leitores, crônicas etc. Portanto, jornal é o suporte que sustenta os textos, ele é o veículo para os diversos gêneros contidos nele.
O gênero é o vínculo que existe entre a linguagem e o indivíduo. Toda atividade linguística é produzida por meio de um gênero, pois, de acordo com o pensamento de Fiorin (2017, p. 68), “os seres humanos agem em determinadas esferas de atividades, as da escola, as da igreja, as do trabalho num jornal, as do trabalho numa fábrica, as da política, as das relações de amizade e assim por diante”. Em cada uma dessas esferas o ser humano irá se comunicar usando um enunciado para uma determinada situação. Essa ação só irá ocorrer dentro e motivada por determinados tipos de enunciados, elaborados de acordo com a situação de uso. Então esses enunciados não são estáveis? Isso mesmo, esses enunciados sofrem alterações de acordo com as mudanças que, de igual modo, ocorrem nas esferas de atividades comunicativas.
A visão bakhtiniana dos gêneros textuais prevê uma visão do processo de produção do gênero. De acordo com Fiorin (2017, p. 68), para Bakhtin “interessam-lhe menos as propriedades formais dos gêneros do que a maneira como eles se constituem”. Tal visão é sustentada por Schnewly e Dolz (2004) que afirmam ser o gênero fator fundamental para que haja uma ação em um contexto de linguagem. De acordo com os autores, todo o trabalho com a linguagem na escola é constituído pelos gêneros, mesmo que não se queira. Desse modo, os gêneros constituem “o instrumento de mediação de toda estratégia de ensino e o material de trabalho, necessário e inesgotável, para o ensino da textualidade (SCHNEWLY; DOLZ, 2004, p. 44).
Em outras palavras, a escola deverá tomar o cuidado para não exaurir o trabalho com os gêneros em didáticas de ensino que não preveem seu uso em situações concretas de comunicação. Para tanto, é necessária a prática de ensino voltada a condições comunicativas que estejam de acordo com a realidade sociocultural do indivíduo. De que adianta a prática de um artigo de opinião se este gênero não estiver relacionado com a situação em que ele será divulgado? De nada. Enquanto o aluno produzir textos pensando em como será avaliado e não para que - ou para quem - o está produzindo, enquanto essa produção for efetivada de modo mecânico, massivo e exaustivo, o principal objetivo do texto, quer seja o de cumprir uma função comunicativa, ficará comprometido e poderá ser ineficiente.
De acordo com Koch e Elias (2010, p. 61), “a escolha do gênero se dá sempre em função dos parâmetros da situação que guiam a ação e estabelecem a relação meio-fim, que é a estrutura básica de toda atividade mediada”. Sendo assim, o enunciador se utilizará de um instrumento composto por signos linguísticos, o gênero, para agir de modo discursivo em uma dada situação de comunicação.
Os gêneros textuais, sejam eles escritos, sejam orais, devem fazer parte da escola assim como fazem parte da vida do aluno e continuarão a existir depois que sair dela. Não podemos mais pensar no estudo do texto somente em termos de classificações, que levam o aluno à exaustão da memória e que não promovem o conhecimento necessário para o uso em situações concretas de linguagem.
O texto deve ser considerado como parte integrante do conhecimento que o aluno deverá levar para a vida. Seu uso constará de inúmeros momentos e certamente não se resumirão a um ou doistipos ou a meia dúzia de gêneros. Portanto, como papel social da escola, de transmissora de conhecimentos, o estudo do texto deve integrar toda a vida escolar do aluno.
3.1.2 Classificação dos gêneros textuais
Tidos em grande número, é quase impossível uma classificação dos gêneros textuais. No entanto, ela se faz necessária para nortear o uso do texto de acordo com cada momento que exigirá a comunicação. Mesmo assim, há que se ter o cuidado para não tomar essa classificação como estanque. Também o pensamento de flexibilidade deve prevalecer para que se compreenda os domínios sociais em que cada gênero irá transitar.
Talvez seja por esse motivo que Schnewly e Dolz (2004) optam pela não classificação dos textos e dos discursos. Segundo eles, a lista já é bastante extensa e muito discutida por diversos estudiosos, parecendo-lhes que tudo já foi dito. Os autores preferem discutir a relação existente entre tipos e gêneros textuais para que o uso destes ocorra de modo prático e de acordo com cada situação de uso que o processo comunicacional venha a exigir.
Para trabalhar os gêneros na escola, os autores propõem o que denominam de proposta provisória de agrupamento de gêneros. 
A discussão que se instala a partir do quadro proposto pelos autores é a de relação entre tipo e gênero textual. Cada tipo de texto trazido à esquerda no quadro revela os domínios sociais em que ele atuará no modo comunicacional, as tipologias eleitas pelos autores e a capacidade de linguagem que dominará cada texto. À direita do quadro estão dispostos os gêneros que podem ser usados de acordo com cada domínio, capacidade e tipologia.
Os autores se referem à coerência existente entre a relação proposta, capaz de estabelecer o uso de determinado gênero de acordo com a necessidade do indivíduo, em conformidade com a situação de uso e da comunicação que se pretende. O que os estudiosos do texto propõem é uma definição das “capacidades de linguagem globais” (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 50) que poderão se relacionar com os tipos textuais a que o sujeito está ou estará exposto.
Um manual de instruções, por exemplo, poderá ser interpretado como pertencendo ao domínio das instruções e prescrições, servindo para descrever ações e comandos, com o uso da linguagem relativa à regulação mútua de comportamentos. Isso significa dizer que o texto de um manual de instruções de montagem de um aparelho, ou de uma ferramenta, ou de um jogo, ou de um móvel será conduzido por uma linguagem própria, com estruturas muito semelhantes entre si.
Vamos analisar cada um dos aspectos tipológicos apresentados pelos autores (SCHNEUWLY; DOLZ, 1999), com base nos domínios sociais de comunicação e nas capacidades de linguagem dominantes:
a) Narração: o domínio social de comunicação diz respeito à cultura literária ficcional. Vale lembrar que os autores atribuem à narração a literatura de ficção. Porém, em uma biografia ou mesmo em crônicas, encontramos fatos verdadeiros, reais, os quais se tornaram parte de uma literatura que compreende, também, o inverídico, mas não somente ele. Já a linguagem será dominada pelas mimeses, ou seja, pela reprodução, imitação de ações diversas desenhadas em uma trama que beira a verdade, ou embasada na verdade de fatos que serão dispostos cronologicamente no texto.
b) Relato: a documentação e a memorização das ações desenvolvidas pelos indivíduos fazem parte da tipologia relato, pois nele é possível representar, por meio do discurso, experiências diversas. É o caso do diário íntimo. Foi por meio de relatos expostos nesse gênero textual que tomamos conhecimento de fatos históricos, como os observados na obra “O diário de Ane Frank”. O registro do dia a dia de uma família de judeus escondidos em um sótão faz parte da história de segregação racial vivida por esse povo durante o domínio alemão na Holanda. Atualmente, os blogs guardam as mesmas características dos diários. No entanto, como são públicos, muitas informações não são registradas.
c) Argumentação: esse é um tipo de texto que os autores atribuem à discussão de problemas diversos, inseridos em um contexto social de controvérsias. Nesse sentido, a linguagem utilizada deverá ser capaz de desenvolver argumentos que sustentem o ponto de vista do autor do texto, que fará uso da refutação de ideias contrárias às suas, além da negociação desses argumentos para convencer o leitor de seu propósito textual. O Trabalho de Conclusão de Curso é desenvolvido dentro desses critérios, pois o aluno deverá argumentar sobre sua tese, posicionando-se a favor dela e convencendo o leitor de sua necessidade.
d) Exposição: a transmissão e a construção de saberes estão inseridos neste conjunto de textos apontados pelo autores. Os textos próprios dessa tipologia terão uma linguagem voltada para a apresentação desses saberes. É o caso das palestras das quais participamos em eventos acadêmicos. Nelas, o palestrante expõe seus saberes, seu conhecimento sobre determinado tema, explicando e apresentando-os por meio de uma linguagem própria do meio acadêmico e científico. Para que os presentes possam compreender o que está sendo explanado, terão, igualmente, que possuir conhecimentos mínimos sobre aquilo que está sendo exposto pelo palestrante.
e) Instrucional e prescritivo: são denominações adotadas pelos autores que levam ao texto injuntivo. Como você já viu, esse tipo de texto dará instruções ou prescrições sobre determinado assunto. Para tanto, utilizará uma linguagem que seja capaz de regulamentar o comportamento daquele que terá contato com ele. Um jogo só alcançará resultado se os participantes compreenderem as regras, as quais são da competência do texto instrucional.
Os gêneros possuem:
- forma
-função
- estilo
- conteúdo
3.2 Os elementos que compõem os gêneros textuais: tema, composição e estilo
Fiorin (2017, p. 69) afirma que “os gêneros estão sempre vinculados a um domínio da atividade humana, refletindo suas condições específicas e suas finalidades”. Sendo assim, o conteúdo temático, a organização composicional e o estilo são elementos de formação presentes nos gêneros textuais que determinam a esfera de atuação de cada um.
Vejamos três exemplos de textos, cada um de um gênero diferente:
Cada um dos textos reserva características que os diferenciam. O primeiro texto se refere a um anúncio de venda de imóvel, produzido para conquistar o cliente pelos detalhes do condomínio. Já o segundo texto é uma poesia de Antônio dos Anjos (ANJOS, 1994, p. 08) que utiliza a metalinguagem para expressar os sentimentos do poeta. Por último, o texto é um relato de viagem de turismo a João Pessoa.
O que nos dá a informação de que os textos são diferentes, como leitores que somos, é nossa competência metagenérica (KOCH; ELIAS, 2017). É ela que determinará que o primeiro texto se refere ao gênero anúncio; o segundo, ao gênero poesia; e, o terceiro, ao gênero relato de viagem. Mas, o que se compreende por competência metagenérica? Compreende-se a competência desenvolvida pelo indivíduo, a qual lhe permite refletir criticamente sobre os gêneros textuais, identificando a diferença entre um e outro, mesmo que estejam veiculados em outros suportes.
Sendo assim, o conteúdo temático diz respeito ao domínio de sentido presente no texto. De acordo com Fiorin (2017, p. 69), ele “não é o assunto específico do texto”. Em nossos exemplos, o conteúdo temático, então, irá se referir à venda de imóvel, aos sentimentos de um poeta e a uma viagem de turismo. A estrutura textual, nesse caso, está embasada em diferentes conteúdos temáticos.
É possível, também, compreender que cada um dos textos que serviram como exemplo será constituído por uma estrutura que o determinará como tal. O anúncio de venda está estruturado em torno da oferta de venda de um apartamento. A poesia, por sua vez, apresenta uma estrutura composta por versos e estrofes. Por último, o relato de viagem se estrutura em torno dos fatos que ocorreram durante o período relatado.
O que se observa, então, é a forma como esses textos estão estruturados de modo

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