Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL PRÓ-REITORIA DE ASSUNTOS ACADÊMICOS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS, DA TERRA E ENGENHARIAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL Juliana Mendes Dias Barra do Piraí, 2018 Juliana Mendes Dias MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL Artigo Científico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil pelo curso de Engenharia Civil, do Instituto de Ciências Exatas, da Terra e Engenharias, do Centro Universitário Geraldo Di Biase. Professor-orientador: Marco Aurélio Silva de Oliveira. Barra do Piraí, 2018 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL Juliana Mendes Dias1 Marco Aurélio Silva de Oliveira2 RESUMO Empregada pelo homem desde a antiguidade, a alvenaria estrutural é um sistema construtivo que vem sendo utilizado no Brasil há algumas décadas, desde então, tal sistema vem sendo cada vez mais empregado, em especial nos empreendimentos de baixa renda, devido o fato de ser um método construtivo eficiente e econômico. No entanto, patologias como as fissuras podem afetar a longevidade, a estética e as propriedades estruturais das edificações. No presente trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica do sistema construtivo em alvenaria estrutural com o objetivo de analisar a relação causa e impacto das manifestações patológicas acometidas nas edificações construídas em alvenaria estrutural. Através desta pesquisa, espera- se que haja uma melhoria da qualidade, e assim mitigar as patologias causadas por erros de execução, materiais de baixa qualidade e incompatibilidade de projetos. Palavras–chave: Patologias. Edificações. Fissuras. ABSTRACT Since it was used by man since ancient times, structural masonry is a constructive system that has been used in Brazil for some decades, since then, such a system has been increasingly used, especially in low income enterprises, due to the fact that it is a efficient and economical construction method. However, pathologies such as fissures can affect the longevity, aesthetics and structural properties of buildings. In the present work a bibliographical research of the constructive system in structural masonry was carried out with the objective of analyzing the relation cause and impact of the pathological manifestations affected in the buildings built in structural masonry. Through this research, it is expected that there will be an improvement of the quality, and thus mitigate the pathologies caused by errors of execution, low quality materials and incompatibility of projects. Keywords: Pathologies. Buildings. Fissures. 1 Discente do Curso de Graduação em Engenharia Civil. Centro Universitário Geraldo Di Biase (2018). email: jdias.civil@gmail.com 2 Docente Orientador. Graduado em Engenharia Civil, pelo Centro Universitário de Volta Redonda - UNIFOA , Pós Graduado em Matemática, pelo Centro Universitário Geraldo Di Biase. Docente do Curso Superior – FERP-UGB. email:marcoasoliveira70@gmail.com 3 1 INTRODUÇÃO Sabe-se que a alvenaria estrutural é um processo construtivo que garante o isolamento e suporte de toda a edificação, dessa forma o emprego de vigas e pilares que transferem os carregamentos de forma concentradas são dispensáveis, sendo alterados por blocos com eficácia no que concerne a resistência aos esforços de compressão, os mesmos são capazes de propagar o seu próprio peso, o carregamento da laje e os carregamentos dos andares superiores até a fundação. Verifica-se que para haver um tempo de vida útil de determinada edificação, é essencial uma relação de elementos adequados, desde a concepção da construção à utilização da mesma, de modo compatível ao que foi projetado para tal edificação. Dessa forma, observa-se que as patologias mais relevantes que ocorrem em alvenaria estrutural são trincas, fissuras e rachaduras, de acordo com a sua espessura. Encontram-se disfunções referentes à mão de obra não especializada para este método construtivo, a inexistência de harmonização entre os projetos de hidráulica, elétrica, gás, incêndio, entre outros. Além disso, também deve ser levada em consideração a utilização de materiais inadequados, no tocante ao surgimento de anomalias na alvenaria estrutural. Considerando a falha no conhecimento a respeito da alvenaria estrutural e os problemas analisados no processo construtivo da mesma, surge o problema da pesquisa: Como identificar as causas de manifestações patológicas em empreendimentos construídos em alvenaria estrutural? Foram levantadas algumas questões específicas, com base na indagação principal: Como qualificar os principais aspectos de manifestações patológicas em alvenaria estrutural? Quais mecanismos de qualidade mais adequados para mitigar as causas de manifestações patológicas no processo construtivo em alvenaria estrutural? O objetivo geral deste artigo é verificar as patologias presentes na alvenaria estrutural, suas causas e efeitos. O objetivo específico abrange, de acordo com literatura própria, relatar as manifestações patológicas mais significativas em alvenaria estrutural, apurar as principais falhas desse método construtivo, além de 4 exprimir recomendações técnicas no tocante à alvenaria estrutural, com intenção de conter manifestações patológicas comuns ao sistema. Tendo em vista contribuir para o aumento da qualidade das edificações executadas em alvenaria estrutural, estudos têm sido desenvolvidos ao longo dos anos, com intuito de investigar as causas de manifestações patológicas, suas formas, dimensão, posição, assim como maneiras de prevenir as suas incidências. Nota-se que a associação de falhas no projeto, execução e serviços relacionados podem fomentar as manifestações patológicas. No presente estudo, fundamentado nas verificações relatadas, visa-se fazer uma análise das relações de causa e efeito das manifestações patológicas em projetos elaborados em alvenaria estrutural, valendo-se de mecanismos para mitigar tal problema e consequentemente a melhoria da qualidade. Em decorrência dos fatos citados o estudo torna-se relevante devido à necessidade de pesquisas científicas sobre o tema, de maneira que se possa confirmar um resultado satisfatório com as formas precisas de execução, partindo- se de experiência de outros profissionais que apresentam, através de pesquisas e métodos construtivos; contribuindo para prevenção de futuras patologias em alvenaria estrutural. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Alvenaria Estrutural No momento em que a alvenaria é adotada na construção para resistir ao seu peso próprio, e, além disso, suportar cargas é caracterizado como autoportante, mais comumente chamada de alvenaria estrutural. (OLIVEIRA; MELO; FILHO, 2016, p.02) Segundo Richter (2007, p. 46), como na alvenaria estrutural não se utilizam pilares e vigas de concreto, o processo construtivo torna-se mais simplificado que o convencional, reduzindo fases e mão de obra, e consequentemente redução do tempo de execução. De acordo com Teixeira (2010, p.06) os principais elementos utilizados na execução de edifícios em alvenaria estrutural são os blocos estruturais, argamassa 5 de assentamento, graute de enchimento e armadura. No decorrer da construção é comum o uso de elementos pré- fabricados como contravergas, vergas, coxim, escadas, dentre outros. A alvenaria estrutural estabelece algumas limitações ao projetista, afirma Silva (2013, p. 35), como: impedimento de posterior remoção das paredes; vãos máximos entre quatro e cinco metros; restrição donúmero de pavimentos, devido às limitações dos materiais disponíveis no mercado; limitação do pé direito (flambagem das paredes); entre outros. Nos dias de hoje, a alvenaria estrutural tem sido aplicada nos diversos tipos de construção, mas no presente estudo serão analisados os edifícios multifamiliares. Devido à economia no processo de execução, esse método construtivo torna-se favorável para construção de edifícios. No entanto, percebe-se com certa freqüência, o aparecimento de patologias nas edificações, o que revela que neste sistema construtivo, a compatibilização de projetos, mão de obra qualificada e materiais de qualidade devem ser bastante considerados. 2.2 Principais Patologias em Alvenaria Estrutural Patologia em medicina significa estudo de doenças. Na atualidade, também é aplicada na engenharia civil para caracterizar anomalias nas edificações; visto que as edificações podem desenvolver defeitos análogos a doenças: deformações, rupturas, manchas, rachaduras, dentre outras. (GUILHERME; ROCHA, 2012, p. 25) De acordo com Silva (2013, p. 52) é fundamental para os trabalhadores da construção civil, do operário ao engenheiro, o conhecimento a respeito de ocorrências patológicas nas edificações. Segundo o mesmo autor, quando se tem o conhecimento sobre problemas e as causas que uma construção pode vir a manifestar, a possibilidade de se cometer erros é bastante reduzida. São inúmeras as prováveis causas das anomalias encontradas nas edificações. Porém, de maneira geral, podem-se imputar as causas de patologias a falhas de projeto, de execução, ou ainda, falta de conservação. Dividem-se as fases de construção de uma edificação, para a identificação ou recomendação de um meio de manutenção de um indício de patologia, da seguinte forma: planejamento, projeto, materiais, execução e emprego, sendo possível o surgimento de fenômenos 6 patológicos em decorrência de falhas em alguma dessas fases. (LIMA; MELO, 2012, p. 02) Causas do surgimento de patologias nas fases de construção de uma edificação no mundo: Causas % País Projeto Materiais Execução Utilização Inglaterra 49 11 29 10 Alemanha 40 14 29 09 Bélgica 46 15 22 08 França 37 05 51 07 Espanha 32 16 39 13 Brasil 18 07 51 13 Tabela 1: Causas de patologias nas edificações no mundo Fonte: (OLIVEIRA; MELO; FILHO, 2016, p. 03) De acordo com Silva (2013, p. 52) um tipo comum de patologia que acomete as construções são as fissuras; estas podem prejudicar a aparência, a durabilidade e até mesmo as características estruturais da edificação. As fissuras podem manifestar-se na etapa de projetos (de fundação, arquitetônico, estrutural, de instalação), na fase de execução da alvenaria e na fase de acabamentos, além disso, podem manifestar-se na fase de utilização, devido o mau uso da unidade. Ainda segundo o mesmo autor a fissura é causada por tensões atuantes nos materiais, e no momento em que a demanda é maior que a capacidade de resistência do material, a fissura tende a amenizar essas tensões. De acordo com Magalhães (2004, p. 38) diferentes parâmetros podem classificar as fissuras, como: a forma, a direção, o tipo, as causas, as tensões implicadas, entre outros. Priorizou-se o estudo da classificação das fissuras pelas causas, visto que o presente trabalho procura um resultado da correlação entre a conformidade e a confiabilidade. Desta forma, tal classificação pode conduzir a busca pela origem dos fenômenos patológicos, quer seja em projeto ou na execução das edificações. Os mecanismos de formação de fissuras, quanto às causas, em alvenaria estrutural se classificam em: 7 2.2.1 Recalque de Fundação O recalque diferencial em fundações é a disfunção mais preocupante dentre os variados problemas patológicos causadores de fissuras. A ocorrência e evolução dessa classe de fissura é indício da existência de um problema mais crítico nas fundações, podendo prejudicar a estabilidade da edificação ao longo do tempo, e dessa forma pondo em perigo os seus usuários. (SILVA, 2013, p. 54) De acordo com Alexandre (2008, p. 65)o recalque diferencial pode ser oriundo de diversas causas: rebaixamento do lençol freático, erros de projeto, inexistência de homogeneidade do solo no decorrer da construção, estabilizações diferenciadas de aterros e interferência de fundações vizinhas. Ainda segundo o mesmo autor, esses fatores ocasionam fissuras inclinadas na orientação do ponto onde se deu o maior recalque, geralmente ocorre nos primeiros pavimentos, mas conforme a intensidade pode ocorrer nos demais pavimentos. Além disso, constatam-se que o surgimento de fissuras de outros aspectos pode ocorrer na alvenaria estrutural devido carregamentos desbalanceados, sobretudo no caso de sapatas corridas ou vigas de fundação abundantemente flexíveis. Figura 1: Fissuras oriundas de recalque das fundações Fonte: Richter (2007, p. 69) 8 2.2.2 Sobrecarga de Carregamento de Compressão De acordo com Richter (2007, p. 64), geralmente as fissuras oriundas da sobrecarga de carregamento de compressão são verticais. Essas fissuras são resultantes de esforços transversos de tração imbuídos nos tijolos pelo atrito da superfície da junta de argamassa com a maior área dos tijolos. Quando é submetida à constrição, a argamassa normalmente tem uma deformação maior do que os tijolos, com tendência a ampliar-se lateralmente e propagando a tração lateral aos tijolos. Tais esforços laterais de tração são os causadores das fissuras verticais. (RICHTER, 2007, p. 64) Figura 2: Fissuras verticais devido à sobrecarga de carregamento Fonte: Sampaio (2010, p. 19) A alvenaria estrutural se mostra resistente à compressão, todavia para atender a resistência do aglomerado é fundamental estar relacionada ao bom comportamento de alguns fatores particulares, como a resistência das argamassas e dos blocos, execução correta do prumo, correto grauteamento e execução correta das espessuras das juntas. (SAMPAIO, 2010, p. 19) Em virtude de abertura nas alvenarias, as fissuras causadas por sobrecarga de carregamento podem se apresentar em outros sentidos; nesta situação, nos vértices desses vãos dá-se uma enorme concentração de tensões, principiando-se do canto da abertura, essas fissuras comumente são inclinadas. (SILVA, 2013, p.59) 9 De acordo com Guilherme e Rocha (2012, p. 30) nestas aberturas acontecem patologias, devido uma grande concentração de carga proveniente da descontinuação da alvenaria. Para evitar esse fato, o uso de vergas e contravergas, com seção capaz de sustentar essas cargas, se faz necessário para redistribuição dessas tensões. Figura 3: Fissuras inclinadas Fonte: Silva (2013, p. 59) A ação de cargas concentradas também pode ocasionar o rompimento dos componentes da alvenaria, ocasionando a partir do seu local de aplicação, fissuras inclinadas. (SILVA, 2013, p. 60) Segundo Guilherme e Rocha (2012, p. 28) são de suma importância o planejamento antecipado dos projetos de instalações em alvenaria estrutural, em razão das paredes terem função estrutural e prováveis cortes lhe ocasionarão possível perda de resistência. Na elaboração da paginação das paredes, os pontos de instalações devem ser antevistos, assim como as pequenas caixas de elétrica, que devem ser afixadas nos blocos antecipadamente; outro fator importante a ser previsto são as prumadas de água e de esgoto shafts, além disso, deve ser considerado que os ramais de esgoto e água têm que ser embutidos em paredes hidráulicas que não tenham função estrutural. (GUILHERME; ROCHA, 2013, p. 28) 10 A imagem 04 apresenta a fachada de um edifício com defeitos na execução, como: inexistência de vergas e contravergas, desaprumo, mau execução das juntas e blocos danificados; que provavelmente acarretarão em manifestações patológicas. Figura4: Fachada comprometida por falhas de execução Fonte: (OLIVEIRA; MELO; FILHO, 2016, p. 04) 2.2.3 Variação Térmica De acordo com Alexandre (2008, p. 71) em uma construção, os segmentos e componentes estão propensos a variações de temperatura, diárias ou estacionais, que refletem em alterações nas dimensões dos materiais de construção, que pode ser na forma de dilatação ou contração. Se por ação da variação de temperatura, as movimentações dos elementos da construção são limitadas pelas diferentes ligações que envolvem os segmentos e componentes, surgem tensões que podem ocasionar o aparecimento de fissuras. Ainda de acordo com o mesmo autor, lajes de cobertura e paredes de fachada esquentam-se ao longo do dia e resfriam-se a noite, consequentemente gera movimentos de dilatação e contração, e dessa maneira são mais propensos ao surgimento de fissuras, devido à variação de temperatura ser maior nesses locais. Segundo Valle (2008, p. 18) devido à variação de temperatura as movimentações mais relevantes que ocorrem são: 11 Na união de materiais com coeficientes de dilatação térmica distintos, sujeitos a variações de temperatura análogas, como elementos da alvenaria e a argamassa de assentamento; Na exposição de componentes a diversas solicitações térmicas naturais, tendo como exemplo a cobertura em referência as paredes da edificação; No gradiente de temperatura por toda extensão de um mesmo elemento, pode-se citar como exemplo, em uma laje de cobertura o gradiente de temperatura entre a face protegida e a face exposta. Até mesmo em lajes com sombreamento por telhados, é interessante enfatizar que há a possibilidade de desenvolvimento de fissuras por variações térmicas. Contudo esse tipo de manifestação patológica não implica em transtornos com relação à segurança da edificação. (RICHTER, 2007, p. 62) Figura 5: Formação de fissuras horizontais devido à variação de temperatura Fonte: Sampaio (2010, p. 24) Segundo Silva (2013, p. 62) as fissuras ocasionadas por variação de temperatura podem assumir variadas configurações, simultaneamente ou separadamente. Todavia, as fissuras características são as horizontais, contudo também pode apresentar-se com componentes inclinados, acontece este fato quando a movimentação da laje é restrita por algum motivo. 12 2.2.4 Reações Químicas Magalhães (2004, p. 80) relata que fissuras originadas por reações químicas se manifestam predominantemente na horizontal, são ocasionadas por efeito da dilatação das juntas de argamassa produzida pela reação química dos materiais que a constitui. Ainda de acordo com o mesmo autor, os fatores mais comuns para essa reação química, são a dilatação das juntas de argamassa produzida pela reação do cimento com sulfatos, e a hidratação retardada das cales. Quando produzidas com cales mal hidratadas, as argamassas de assentamento podem revelar excessivas taxas de óxido livre de magnésio e cal, que no contato com umidade, se hidratará e de modo conseqüente terá seu volume ampliado, sendo capaz de alcançar o dobro da dimensão anterior. A umidade pode ser oriunda de chuvas, vazamentos, percolada do solo, dentre outros. Esta dilatação da argamassa acarretará na manifestação de fissuras no revestimento, seguindo as juntas de assentamento dos componentes que constituem a alvenaria. Além de fissuras, esta ocorrência pode provocar nos revestimentos de argamassa, desagregação, deslocamento e pulverulências. (SILVA, 2013, p.64) De acordo com Richter (2007, p. 70) estas fissuras podem ser verificadas especialmente nas fachadas, em razão da ocorrência de umidade por infiltração de chuvas, além disso, essa manifestação patológica acontece de preferência nas imediações dos topos das alvenarias, local onde os esforços de compressão são menores, vindos do peso próprio da edificação. Contudo Silva (2013, p. 64) ressalta que em diferentes alturas da alvenaria pode ocorrer a figura deste tipo de patologia. Figura 6: Configurações típicas de ataques por reações químicas Fonte: Richter (2007, p. 70) 13 2.2.5 Retração Fissuras originadas por retração decorrem de movimentações de componentes construtivos ou de seus elementos, devido retração de itens à base de cimento. (MAGALHÃES, 2004, p. 58) De acordo com Alexandre (2008, p. 73) em relação a um artefato à base de cimento, diversas causas provocam a sua retração, constituindo-se as principais a relação água/cimento, as condições de cura, tipo e constituição do cimento, classe e granulometria dos agregados. Ainda segundo o mesmo autor a retração é formada pelo desaparecimento de água que está quimicamente agregada no interior do concreto. Essa redução de água provoca uma retração dos elementos de concreto da construção que não é seguida pela alvenaria. Conforme Silva (2013, p. 65) a retração de elementos à base de cimento é oriunda da perda de água nos compostos em estado plástico (retração plástica), supressão de água por secagem (retração hidráulica), devida carbonatação da cal das argamassas (retração por carbonatação), comportamento química de hidratação do cimento (retração química) ou devida o esfriamento dos elementos à base de cimento posteriormente a cura (retração térmica). Richter (2007, p.70) afirma que as fissuras nas alvenarias por ação da retração normalmente são ocasionadas pela retração da junta de argamassa, dos blocos de concreto, ou pelo movimento por retração de outros componentes construtivos, tais como as lajes. As fissuras na horizontal são as mais freqüentes, e são resultantes da contração das lajes. Normalmente este gênero de fissura se encontra especialmente nos pavimentos superiores, todavia pode se revelar nos pavimentos interpostos. De acordo com Silva (2013, p. 66) apesar das fissuras por retração serem comumente horizontais, elas também podem se apresentar de forma vertical em conseqüência da retração da alvenaria com blocos de concreto. Nesta situação, a abertura na parte mais elevada é mais evidente e diminui à medida que fica mais próximo da base. Fissuras denominadas mapeadas é outro tipo de configuração, que podem ser originadas por retração das argamassas, por abundância de desempenamento, sendo normalmente superficiais estas fissuras. (SILVA, 2013, p. 67) 14 Figura 7: Fissuras mapeadas causadas por retração da argamassa Fonte: Silva (2013, p. 67) 2.3 Condutas a serem realizadas na Alvenaria Estrutural para melhoria do seu funcionamento ou correção de alguma manifestação patológica Segundo Oliveira; Mello; Filho (2016, p. 11) conforme o objetivo que se planeja atingir existe inúmeras ações para impedir o desenvolvimento ou correção de alguma manifestação patológica na alvenaria estrutural. A definição da estratégia a ser seguida vai depender do gênero da patologia, da simplicidade do diagnóstico e das possibilidades econômicas, técnicas e praticáveis de tais procedimentos. (ARAÚJO, 2010, p. 21) A seguir serão apresentados alguns procedimentos para reabilitação de paredes em alvenaria estrutural, acometidas por patologias, podendo ser utilizado uma ou diversas técnicas combinadas: 2.3.1 Fechamento de Juntas De acordo com Sampaio (2010, p. 32) esse procedimento é recomendado em situações de fendilhamento, recalques, esforço excessivo de compressão, ações térmicas, dentre outros; onde é realizada a retirada da argamassa danificada, substituindo-a por outra que exprima melhores propriedades, ou seja, que evidencie melhor comportamento em relação às propriedades mecânicas. Podem-se acrescentar armaduras de reforço, juntamente com a argamassa de assentamento horizontal, com propósito de melhorar as propriedades mecânicas. 15 2.3.2 Uso de Juntas Deslizantes Para as ocorrências de fissuras na alvenaria estrutural adjacentes à laje de cobertura, a dissociaçãoda laje e as paredes é a melhor forma para resolver esse problema. Para a dissociação da laje e a parte mais elevada da parede é preciso escorar a laje e retirar a última junta de assentamento, e inserir nessa junta um material maleável, como o neopreme, por exemplo. Se não puder ser realizado o escoramento da laje, o recomendado é raspar a junta de argamassa até aproximadamente 10 mm de profundidade, e preencher com selante flexível. (ARAÚJO, 2010, p. 27) 2.3.3 Injeção de Graute ou Resina Epóxi De acordo com Oliveira; Mello; Filho (2016, p. 13) compreende-se por injeção o procedimento que assegura o preenchimento perfeito de espaço constituído entre as margens de uma fenda. Dessa forma, o intuito fundamental da injeção de graute é a recomposição das características originais da parede, por meio do preenchimento de fissuras, vazios e trincas que se encontram na alvenaria em virtude da sua degradação química e física ou ações mecânicas. Segundo os mesmos autores a injeção de graute se apresenta de duas formas: de argamassa de cimento, ou resina epóxi. Normalmente a injeção de argamassa de cimento é mais adequada para maiores aberturas, enquanto a injeção de resina epóxi é apropriada para fissuras menores, com menos de 2,0 mm de largura. Esse dispositivo tem sido bastante eficaz na recuperação da resistência de estruturas deterioradas, tornando melhor o desempenho mecânico global. 2.3.4 Reboco Armado e Argamassa Armada Segundo Cyrino (2012, p. 68) o conceito de se inserir telas ao reboco/emboço é análogo ao do concreto armado, quando se melhora a capacidade de resistência 16 da peça, viabilizando seu rendimento em relação aos esforços de tração e, evidentemente, com referência a tela de aço soldada, também se aumenta a resistência à compressão. Nesse procedimento pode-se também empregar fibra de vidro como componente de reforço, todavia, para execução de tal reparo é imprescindível o uso de mão de obra especializada. Sendo um dos mecanismos mais empregados atualmente, de acordo com Maurício (2012, p. 32) o reboco armado e argamassa armada é um recurso sugerido para alvenarias que necessitam de reforço para deter fissuras provenientes de problemas estruturais ou com referência a qualquer condição que afete suas propriedades mecânicas, por exemplo, deterioração por fatores ambientais, ações sísmicas e fendilhação. Ainda segundo o mesmo autor, para executar a reparação, deve-se preencher a fissura com pasta de cimento e posteriormente receber o elemento de reforço, que pode ser tela de aço, redes de fibra de carbono ou redes de fibra de vidro. Dessa forma, o revestimento deve ter uma espessura pequena, todavia, o necessário para preservar contra corrosão a armadura. 2.3.5 Reforço com Compósito FRP Conforme Araújo (2010, p. 35) além da adição de armaduras metálicas para reforço estrutural, o uso de armaduras de compósito FRP (Fiber Reinforced Polymer) pode ser utilizado com o mesmo objetivo. FRP são mecanismos compósitos reforçados com fibras. Esse mecanismo pode ser executado com colagem na parte externa da parede, ou por colagem numa fenda. Segundo o mesmo autor, as fibras mais utilizadas na confecção dos materiais compósitos são: vidro, carbono, aramida e basalto. Nos FRP as fibras são encarregadas da capacidade de carga e enrijecimento do compósito, ao mesmo tempo em que a matriz assegura a transferência de tensões entre fibras, assim como sua proteção ao meio ambiente. Os cortes horizontais proporcionam o crescimento da capacidade de suportar aos esforços de cisalhamento posto no seu próprio plano. Com relação aos cortes verticais imbuídos na base da alvenaria, atuam como ancoragem, aumentando a resistência à flexão. (OLIVEIRA; MELLO; FILHO, 2016, p. 15) 17 3 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Conforme o estudo realizado, constata-se que a resistência da alvenaria estrutural está diretamente associada com a qualidade dos materiais empregados na execução da construção, ou seja, o emprego de materiais de má qualidade prejudica o bom funcionamento da edificação, tornando-se um agente causador de manifestações patológicas. Outro fator determinante para evitar patologias em alvenaria estrutural, é a qualidade da mão de obra. O desaprumo, o preenchimento incorreto das juntas de argamassa e o grauteamento executado de maneira errônea (falhas construtivas comuns), revelam a falta de preparo e conhecimento da mão de obra empregada na alvenaria estrutural. Além disso, é essencial a compatibilização de projetos nesse método construtivo, pois a ausência desta relação transforma-se em um dos principais causadores de patologias. Apesar da evidente capacidade da alvenaria estrutural no tocante a sua alta resistência, diminuição do tempo de execução e custos, é fundamental que às empresas construtoras utilizem mecanismos de monitoramento e controle de qualidade mais eficiente, com um estreito acompanhamento da execução nos canteiros de obra, para que se sigam rigorosamente as normas técnicas desse método construtivo. Dessa maneira, conclui-se que o processo construtivo em alvenaria estrutural é viável, desde que sejam seguidas as normas técnicas, para se evitar futuras manifestações patológicas, com as retratadas neste estudo e consequentemente evitar despesas com execução de reparos, que podem acarretar custos mais excessivos comparados aos de prevenção. Durante o estudo, observou-se que há poucas literaturas referentes a patologias em alvenaria estrutural, dessa forma, como proposta para trabalhos futuros, sugere-se a elaboração de artigos técnicos e manuais com informes em níveis mais elevados sobre o processo construtivo e as possíveis patologias em alvenaria estrutural, para profissionais do ramo da Engenharia, Arquitetura e Tecnólogos, a fim de ampliar o acervo já existente. Outra situação a ser considerada seria a produção de manuais contendo as condutas corretas em relação ao método construtivo em alvenaria estrutural, com linguagem descomplicada para profissionais do canteiro de obras. 18 REFERÊNCIAS ALEXANDRE, Ilídio Francisco. Manifestações Patológicas em Empreendimentos Habitacionais de Baixa Renda Executados em Alvenaria Estrutural: uma análise da relação causa e efeito. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2008. ARAÚJO, Adelmo S. Estudo do Reforço de Edifícios em Alvenaria Resistente por Perfis Metálicos. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil na Área de Tecnologia das Construções) - Universidade Católica de Pernambuco. Recife, Pernambuco, 2010. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15961-1 - Alvenaria estrutural – Blocos de concreto: Parte 1: Projeto. Rio de Janeiro, 2011. ------. NBR 5674 – Manutenção de Edificações- Requisitos para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro, 2012. CYRINO, Lucílio F. Influência do Reboco e do Reboco Armado Com Tela Soldada na Resistência de Alvenaria de Vedação Submetida à Compressão Simples. Dissertação (Mestrado em Engenharia dos Materiais e Construção) - Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2012. FREIRE, Ailton Soares. Indicadores de Projeto para Edifícios em Alvenaria Estrutural. Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, São Paulo, 2007. GUILHERME, Alexandre do E. Santo; ROCHA, Elton A. Patologias em Alvenaria Estrutural de Blocos Cerâmicos. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, Paraná, 2012. LIMA, Alexandre Nascimento; MELO, Rodrigo Januário. Patologias em Residências de Delmiro Gouveia e Região: causas e soluções. Universidade Federal de Alagoas. Maceió, Alagoas, 2012. MAGALHÃES, Ernani Freitas. Fissuras em alvenarias: configurações típicas e levantamento de incidências no Estado do Rio Grandedo Sul. Dissertação (Mestrado Profissionalizante) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2004. MAURÍCIO, Thiago G. Garcia. Rebocos Armados Aplicados em Paredes de Edifícios Antigos e Novos: levantamento de soluções, técnicas de aplicação e características. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil – Perfil de Construção) - Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Nova de Lisboa. Lisboa, Portugal, 2012. 19 OLIVEIRA, Francielly D. de; MELO, Nayane F. de; FILHO, Marcio A. de Oliveira. Principais Patologias em Edifícios de Alvenaria Estrutural. Universidade Estadual de Goiás. Anápolis, Goiás, 2016. PARSEKIAN, Guilherme A.; HAMID, Ahmad A.; DRYSDALE, Robert G. Comportamento e Dimensionamento de Alvenaria Estrutural. 2. ed. São Carlos- SP: EDUFSCAR, 2013. PARSEKIAN, Guilherme A. (Org). Parâmetros de Projeto de Alvenaria Estrutural com Blocos de Concreto. 3. ed. São Carlos – SP: EDUFSCAR, 2014. RICHTER, Cristiano. Qualidade da Alvenaria Estrutural em Habitações de Baixa Renda: uma análise da confiabilidade e da conformidade. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2007. SAMPAIO, Marliane B. Fissuras em Edifícios Residenciais em Alvenaria Estrutural. Tese (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Estadual de São Paulo. São Carlos, São Paulo, 2010. SILVA, Leandro B. da. Patologias em Alvenaria Estrutural: causas e diagnóstico. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Minas Gerais, 2013. TEIXEIRA, José S. Patologias em Alvenaria Estrutural de Blocos Cerâmicos. Escola de Engenharia Kennedy. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2010. VALLE, Juliana B. de Senna. Patologia das Alvenarias: causas, diagnóstico e previsibilidade. Dissertação (Especialização na Construção Civil) - Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2008.
Compartilhar