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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Dra. Giselle Soares GUIA DA DISCIPLINA 2021 1 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS: UMA BREVE INTRODUÇÃO Objetivo Refletir sobre a relevância da filosofia e sua relação com a educação, de maneira a introduzir aspectos relevantes sobre o pensar filosófico, bem como suas possibilidades de contribuição para a ação educativa e a formação do docente. Introdução A filosofia é uma área relevante do saber e sua primeira contribuição é nos oferecer elementos metodológicos e teóricos para que possamos refletir sobre a existência humana e sobre o mundo que nos cerca. Desta forma, a disciplina de Filosofia da Educação ressalta aspectos e etapas construídos pelos filósofos ao longo do tempo. Além disto, propõe inicialmente uma reflexão sobre a própria contribuição da filosofia e o papel da educação no nosso tempo. Ao abordar a filosofia como área do saber, propõe-se seguir percurso das principais escolas filosóficas, bem como seus principais representantes, o que permite também a reflexão sobre a educação, seu percurso e como ela foi construída ao longo do tempo, refletindo o modo de pensar e as determinações sócio-históricas de cada tempo histórico. Portanto, o percurso a seguir é histórico porque remete às etapas relevantes da construção do pensar filosófico. Por fim, é esperado que os alunos da disciplina possam refletir sobre as contribuições da filosofia para a ampliação do saber científico, para o entendimento do desenvolvimento da humanidade e para a construção da concepção de escola e educação conhecidas por nós. 1.1. A educação e seu processo Refletir sobre a educação pressupõe considerar que a mesma se realiza por um processo que está presente na sociedade e nas relações sociais entre os indivíduos. Tal processo transcende os muros da escola, mas é verdade que ele está fortemente 2 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância presente na escola, pautando metodologias, currículos, normativas e diferentes formas de gestão, está presente também no cotidiano escolar, envolve dilemas, afetos, influências culturais, as questões sociais e políticas constitutivas da sociedade, ente outros aspectos. A escola de hoje resulta de um processo que ultrapassa as lições de todo dia, uma vez que é reflexo dos acontecimentos passados, além dos acontecimentos do tempo presente. Por esse motivo, velhas formas de ensinar se mesclam a novas metodologias, ao desenvolvimento tecnológico, mas a escola sintetiza também as desigualdades presentes em sociedade, abarcando o conjunto de conhecimentos universais, bem como o comportamento dos diferentes grupos sociais presente na sociedade global. Desta forma, os diferentes jeitos de agir, sentir e pensar se manifestam na escola e, de algum modo, interagem com o acúmulo de conhecimento produzido que caracterizam a escolarização com o propósito de preparar os alunos para o exercício da razão. Nesse quadro se insere a possibilidade de refletir sobre o acúmulo de conhecimento produzido pela ciência na história da humanidade e, também a possibilidade de identificar e refletir sobre os dilemas presentes na sociedade que, muitas vezes, interferem no próprio processo de educação. Os exemplos são muitos. Podemos destacar a pandemia da Covid-19 que demandou um distanciamento e a utilização de diferentes formas de ensinar, explicitando as diferenças sociais e as possibilidades para a utilização da tecnologia na educação, além das questões existenciais e afetivas. Quantas indagações podemos levantar sobre esse assunto? Podemos pensar que a educação alcança de forma diferente os diversos grupos sociais, considerando o acesso à escola dos alunos de periferias, os alunos indígenas? Podemos pensar que entre os grupos de alunos que puderam acompanhar as aulas de suas casas como se constituiu a relação entre a comunidade escolar e as diferentes famílias? De algum modo, a relação entre educação e filosofia permite a retomada do esforço de vários pensadores da história da humanidade em construir modelos teóricos e conceitos para explicar as questões que caracterizam a existência humana. Além disto, 3 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância permite o exercício de reflexão e interpretação sobre os acontecimentos que envolvem a comunidade escolar e marcam a realidade dos alunos. 1.2. A filosofia e seu processo A construção do conhecimento filosófico se desenvolveu associada à história da humanidade, por esse motivo ela remete para períodos históricos e para a própria construção do conhecimento, ou seja, pela busca humana no esforço de exercitar a racionalidade. Portanto, seu desenvolvimento remete para a busca pelo saber, e mais, pelo como saber, como orientar de forma sistemática, racional os procedimentos necessários para a construção das explicações racionais sobre o mundo, sobre as coisas presentes no mundo e sobre as particularidades que explicam a racionalidade. A filosofia é considerada a ‘ciência mãe das outras ciências’ e tem sua história associada à história do desenvolvimento científico, ao esforço humano em construir o conhecimento e as explicações pautadas no exercício da razão com o uso do rigor científico, construindo métodos e conceitos teóricos. A filosofia é anterior ao período antigo, mas esse processo ganha força na Grécia Antiga, onde o filósofo era “amigo ou amante da sabedoria; a filosofia significava amor ao saber. Para os gregos antigos o amor e admiração em relação à vida e à realidade levavam os homens a filosofar” (Mattar, 2010, p.05). É importante destacar que a filosofia faz parte das ciências humanas e se distingue de outros tipos de conhecimento, tais como o senso comum, a teologia, as artes. De algum modo, há relação entre esses níveis de conhecimento e o principal aspecto de diferenciação é o aspecto teórico (Mattar, 2010, p.05). Quando nos perguntamos sobre o que é filosofia ou algo sobre a realidade, estamos, de algum modo, filosofando, pois o exercício de indagar já é filosofia, pois o processo filosófico se realiza por “refletir sobre conceitos problematizados e investigados pela tradição filosófica, relacionando-os com seu mundo e sua realidade”. A realização desse exercício depende de uma postura filosófica que se faz com uma “postura crítica permanente”, envolve uma “consciência crítica sobre o conhecimento, a razão e a realidade, levando em consideração fatores sociais, históricos e políticos”. A disposição 4 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância para indagar é o começo e a continuidade da filosofia, pois o “pensar crítico compreende a autorregulação e a autocorreção do processo do pensamento” (Mattar, 2010, p.07). Assim, a filosofia se realiza pelo “pensamento de investigador voltando-se reflexivamente sobre si próprio e seu conteúdo de conhecimentos elaborados e conceituados”. Portanto, a postura crítica permite que o filósofo ou aquele que indaga atente para o “caminho intelectual a ser percorrido”, uma vez que a dúvida é necessária para a construção do conhecimento filosófico e parte do trabalho intelectual. Tal exercício permite que se amplie a visão e o entendimento sobre a realidade (Mattar, 2010, p.08). Segundo Mattar (2010, p.09), filosofar é “um exercício de abrir fissuras na tessitura do real, que inicialmente parecia compacta”, ou seja, é um “exercício de iluminar parcelas escusas da realidade” e de perceber e ter capacidade de indagar sobre a complexidade da vida e da realidade. 1.3. A relação entre filosofia e educação A disciplina de filosofia da educação pressupõe que há uma relação entre filosofia e educação. Podemos considerar que tal relaçãose caracteriza de forma estreita, uma vez que a noção de filosofar se desenvolve como exercício ligado a busca pelo conhecimento, à realização de reflexões, questionamentos e, portanto, construção de indagações e argumentos sobre a realidade. O caminho percorrido para alcançar o conhecimento também remete para a busca da verdade. Na Grécia Antiga, os filósofos eram educadores, em momentos diferentes da nossa história, filósofos se destacaram como professores. De certa forma, o filósofo, professor e o pedagogo trabalham como o conhecimento, como o propósito de interpretar a realidade para além da aparência dos fatos, com profundidade, com capacidade de realizar um exercício racional. Segundo Heidegger, “ensinar não significa senão deixar os outros aprender, quer dizer, um conduzir mútuo até a aprendizagem” para que se possa conhecer e para resgatar ou valorizar o princípio humano presente em nós. Afinal, o exercício da razão 5 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância pertence a humanidade e nos coloca na direção do entendimento e da função de nossa existência (HEIDEGGER, 1992, p.79 Apud Perissé, 2008, p.12). Para Perissé (2008, p.11), o filósofo pensa em termos educacionais e didáticos, as ideias precedem os argumentos, transformam-se em virtudes e no exercício da própria inteligência, onde se busca estimular a elaboração das ideias e do pensar do outro. Nesse sentido, a filosofia é “ensinante, educadora e humanizadora”. Portanto, a filosofia da educação significa o exercício de filosofar. Além da sociedade é necessário compreender os processos educativos, explicar com rigor o caminho percorrido para a elaboração das ideias, explicitando o “pensar” e o “repensar” (Perissé, 2008, p.13). O filósofo ou o educador presta atenção na realidade e nos processos educativos, nas habilidades, dificuldades, virtudes que suscitam a realidade educacional e, por consequência a realidade. Nesse sentido, a filosofia da educação se realiza como um pensar vivo sobre a educação. Trata-se de pensar a realidade considerando também seus dilemas, aspectos sociais, políticos, as transformações, inclusive as tecnológicas (PERISSÉ, p.15). Refletir e argumentar pressupõe exercício racional, ao mesmo tempo, a superação dos imediatismos para que se construa explicações, interpretações e conhecimento resultantes de um processo de educação na busca pela verdade. 6 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. A FILOSOFIA ANTIGA Objetivo Compreender as principais características da filosofia antiga grega e as suas contribuições para o desenvolvimento da ciência, bem como para a concepção de educação. Introdução A partir dos principais representantes e suas principais características de pensamento, a filosofia antiga grega influenciou todo o desenvolvimento da filosofia e do conhecimento científico. Por esse motivo seu estudo é relevante e cabe identificar sempre o contexto histórico em que cada etapa de pensamento é desenvolvida. Os representantes da filosofia antiga são autores clássicos e representantes de um conhecimento universal que perpetua ao longo dos séculos, sendo referência para pensar o percurso filosófico e o desenvolvimento das ciências. O exercício da razão e o desenvolvimento de um método para orientar as reflexões realizadas correspondem às primeiras contribuições desses pensadores. Assim, seguimos a trilha dos principais passos desses autores e os primeiros conceitos elaborados nesse percurso. 2.1. Sócrates A filosofia antiga corresponde a filosofia do período grego romano, embora a filosofia já existisse antes, a filosofia ocidental começa na Grécia Antiga, por isso é considerada como filosofia antiga. O pensamento filosófico se desenvolve em função do esforço de alguns em construir uma explicação racional sobre o mundo, as coisas e o homem, pois na Grécia Antiga as explicações que prevaleciam eram as histórias mitológicas, as explicações pautadas dos mitos, os deuses gregos que influenciavam o mundo e a vida humana. A data atribuída ao nascimento da filosofia é o final do século VII a.C., na Grécia antiga. A filosofia “nasce como conhecimento racional da ordem do mundo e da natureza, 7 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância donde cosmologia”. A filosofia se tornou “em toda a Antiguidade clássica, e para os poderosos da época, os romanos, a forma superior ou a mais elevada do pensamento e da moral” (Chauí, 2008, p.32/ 33). Segundo Chauí (2008, p.38), a filosofia na Grécia antiga se divide em quatro períodos, sendo eles: • Pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII a.C. ao final do século V a.C. – a filosofia se ocupou, especialmente de explicar sobre as origens do mundo e as causas das transformações da natureza; • Período socrático ou antropológico, do final do Século V a.C. até o século IV a.C. - preocupação em explicar sobre as questões humanas, aquelas que cercam o ‘homem’, com destaque para aética, a política e as técnicas, no esforço de dimensionar o homem no mundo; • Período sistemático, do século IV a.C. até o século III a.C. – a filosofia destaca o que pode ser objeto de conhecimento filosófico, buscando identificar os critérios que permitem alcançar a verdade e a ciência; • Período helenístico ou greco-romano de século III a.C. até século VI d.C. – preocupação com a ética, o conhecimento humano e as relações entre homem e natureza, bem como com Deus. A formação da cidade e o desenvolvimento da democracia como forma de governo impulsionaram na Grécia Antiga o exercício da razão entre aqueles que participação da vida pública da sociedade grega: os cidadãos. A Ágora se constituiu um espaço comum e público onde se debatia questões de interesse geral. O desenvolvimento da democracia é uma característica da sociedade grega e, de certo modo, influenciou o desenvolvimento da filosofia. A democracia grega se pautava no princípio de igualdade entre os homens adultos com direito de participação no governo da cidade, a pólis. Tal participação no governo se constituía como democracia direta, os homens que tinham o direito de participação no governo exprimiam, discutiam e defendia 8 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância publicamente suas opiniões sobre as questões da cidade, por esse motivo eram reconhecidos como cidadãos. A participação acontecia através da capacidade de “saber falar” e de “ser capaz de persuadir” os outros cidadãos. Nesse sentido, a educação grega voltou-se para a educação do “bom cidadão”. A “nova educação estabelece como padrão ideal a formação do bom orador, isto é, aquele que saiba falar em público e persuadir os outros na política” (Chauí, 2008, p.40). Á g ora grega – www.viajonarios.com.br acesso em 08/02/2021 Paidéia grega – www.educ.fc.ul.pt caesso em 08/02/2021 Assim, a filosofia se associa a persuasão, ao debate, a discussão e argumentação de temas de interesse dos cidadãos que fazem parte da Pólis, com isso a filosofia grega é reflexo da racionalização dos cidadãos gregos. Os pré-Socráticos correspondem aos primeiros filósofos ocidentais, foram “observadores e estudiosos da natureza” (Mattar, p.42). Os Sofistas, também pré- Socráticos, ganharam destaque na sociedade grega pela valorização da argumentação, “mestres da oratória, eles ensinavam a desenvolver argumentos a favor e contra a mesma posição”, eram professores e trabalhavam com a dialética, a poética, a linguagem, a retórica e a gramática, o que revela a valorização deles pela erudição que deveria estar na forma de falar, mas também estava presente na elaboração do raciocínio (Mattar, 2010, p.46). Nessecaso, os “sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, que aprendiam a defender a posições ou opiniões diferentes, isso em assembleias como o propósito de debaterem e exercitarem a construção de argumentos capaz de persuadir os demais (Chauí, 2008, p.40). http://www.viajonarios.com.br/ http://www.educ.fc.ul.pt/ 9 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os Sofistas trabalhavam com a reflexão filosófica. Para Protágoras o “homem é a medida de todas as coisas”, valorizando o homem no lugar da natureza passaram a preparar governantes e cidadãos da Pólis grega, enfim dedicaram-se à educação dos líderes políticos da sociedade grega, com os sofistas a paideia passa a ser considerada uma teoria consciente da educação como fundamento racional (Mattar, p.47). Sócrates é considerado o patrono da Filosofia porque não se conformou com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade, com as crenças inquestionadas da sociedade grega. “Ele costumava dizer que era impelido por um espírito interior”, esse “o levava a desconfiar das aparências e procurar a realidade verdadeira de todas as coisas”, questionando para além da aparência das coisas, na busca da realidade essencial e profunda das coisas (CHAUÍ, 2008, p.11). Para Sócrates “antes de querer conhecer a natureza e antes de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo”. Desse concepção ganhou destaque e tornou-se célebre a expressão do filósofo, “Conhece-te a ti mesmo”. Ao propor a realização de questionamentos Sócrates indagava sobre “as ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que julgavam conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, irritados, curiosos, pois quando tentavam responder o célebre “o que é?”, descobriam, surpresos, que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e ideias”. À medida que as pessoas esperavam uma resposta dele a devolutiva era “sei que nada sei” (Chauí, 2008, p.41). Nesse movimento se constituía seu exercício ou método e buscava a “definição daquilo que uma coisa, uma ideia, um valor é verdadeiramente”, ou seja, buscava alcançar a essência real e verdadeira da coisa, da ideia, do valor (Chauí, 2008, p.42). O filósofo considerava o conceito como aquilo que conhece o pensamento, por isso buscava identificar o conceito, e não a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas, das ideias e dos valores”. Considerava o conceito como uma “verdade intemporal, universal e necessária que o pensamento descobre mostrando que é a essência universal intemporal e necessária de alguma coisa” (Chauí, 2008, p.42). 10 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sócrates e seu método – www.todoestudo.com.br acesso em 08/02/2021 Nesse exercício, Sócrates “questiona o senso comum, as crenças e as opiniões, opondo a episteme (conhecimento) e à doxa (opinião)”. O método percorrido por Sócrates tem como proposta “aprender” no lugar de ensinar com o risco de levantar impasses com seus questionamentos sem se chegar a conclusão, por esse motivo, o caminho percorrido com a série de questionamentos é a busca da verdade. Com isso, a linguagem torna-se “fundamento do discurso filosófico”, a filosofia considerada como um “método linguístico de construção conceitual” (Mattar, 2010, p.49). Desse modo, Sócrates se tornou um perigo para a sociedade grega, especialmente por fazer os jovens pensarem. Por essa sociedade acabou acusado e condenado, mas deixou discípulos que continuaram o caminho pela busca da essência da verdade, realizando o desenvolvimento da filosofia antiga. 2.2. Platão Platão, discípulo de Sócrates, deixou sua obra escrita no formato de diálogos, tal formato permite que o refletir ocorra entre quem escreve e quem lê, favorecendo o exercício de pensar ‘a dois’, em seus diálogos produzidos se utiliza das alegorias para ilustrar conceitos ou ideias. O método filosófico de Platão se aproximava ao de Sócrates, utilizando-se também da maiêutica, “das imagens atinge-se uma definição”, seguida da dialética, questionamentos sobre o objeto estudado, após esse percurso intelectual é possível alcançar a ciência ou a epistéme (Mattar, 2010, p.50) O filósofo ficou conhecido por ter elaborado o Mito da Caverna, uma alegoria que propõe uma reflexão sobre a percepção da realidade das coisas e permite a distinção http://www.todoestudo.com.br/ 11 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância entre o sensível e o inteligível. Nesse caso, o sensível são as coisas materiais, corpóreas cujo conhecimento nos é dado por meio de nosso corpo na experiência sensorial ou dos órgãos dos sentidos e pela linguagem baseada nesses dados. A ‘caverna’ corresponde a um lugar sombrio, o alcance da luz é o próprio exercício de pensar e elaborar ideias, ou seja, é tarefa da filosofia. Alegoria da caverna em HQ - www.saberpolítica.com.br acesso em 08/02/2021 O sensível nos dá imagens das coisas tais como nos aparecem e nos parecem, sem alcançar a realidade ou a essência verdadeira delas. As imagens sensíveis formam a mera opinião – a dóxa – que varia de pessoa para pessoa e pode variar numa mesma pessoa, dependendo das circunstâncias. O inteligível é o conhecimento verdadeiro que alcançamos exclusivamente pelo pensamento. São as ideias imateriais e incorpóreas de todos os seres ou as essências reais e verdadeiras das coisas. Para Platão, a filosofia se realiza no esforço do pensamento para abandonar o sensível e passar ao inteligível (Chauí, 2008, p.43). 12 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.3. Aristóteles Aristóteles, discípulo de Platão, foi considerado a “inteligência da escola”’, décadas depois da morte de Platão, fundou sua escola filosófica, denominada “Liceu” e gostava de ensinar caminhando, por isso seu método é chamado peripatético – “local de passeio”. Além disto, tinha o hábito de trabalhar com classificações, animais, vegetais, virtudes paixões. Ao trabalhar com classificações descobria “leis entre os objetos classificados”. Tal sistematização resultou na elaboração de um saber em forma de enciclopédia, agrupando a “totalidade de saberes e à construção de um sistema” (Mattar, 2010, p.55). A obra de Aristóteles abrange toda as áreas do conhecimento e sistematiza o que já havia sido elaborado de opinião sobre os assuntos catalogados. O “objeto de sua filosofia não é apenas o homem, mas o universo, inclusive em seus processos naturais”, com esse esforço, a filosofia e as ciências naturais foram aproximadas novamente, mas também se dedicou a outros temas, entre eles a ética, a política, a linguagem (Mattar, 2010, p.55). Em crítica a Platão, Aristóteles considera que “as ideias teriam sua origem sua origem na própria experiência”. Assim, a imaginação seria a “ponte entre a sensibilidade e a razão”. Para ele os seres têm matéria e forma. As “substâncias adquiririam diferentes formas, moldando os seres. Assim, o “universal corresponderia à forma” e o individual e mutável, à “matéria”. A separação entre forma e matéria seria um “exercício intelectual”, por isso para Aristóteles a lógica tem importância (Mattar, 2010, p.56). Para Aristóteles a filosofia corresponde ao conhecimento da totalidade dos conhecimentos e práticas humanas, “ela também estabelece uma diferença entre esses conhecimentos, distribuindo-os numa escala que vai dos mais simples e inferiores aos mais complexos e superiores. Essa classificação e distribuição dos conhecimentos fixou, para o pensamento ocidental, os campos de investigação da filosofiacomo totalidade do saber humano” (Chauí, 2008, p.43). 13 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Metereologia de Aristóteles – www.wikiwand.com acesso em 08/02/2021 Segundo Aristóteles, os campos de conhecimento filosófico são os seguintes: ciências produtivas; ciências práticas; ciências teoréticas ou contemplativas. As ciências produtivas correspondem às áreas que envolvem uma técnica e giram em torno de ações humanas, tais como a medicina, arquitetura. As ciências práticas correspondem as áreas práticas humanas, envolvendo o campo da ética. As ciências teoréticas ou contemplativas “existem independentemente do homem e de suas ações”, tais como as ciências naturais, as ciências da realidade pura (Chauí, 2008, p.44). A contribuição desses três pensadores foi decisiva para que a filosofia se constituísse como saber racional, científico e que realiza a interpretação da realidade e das coisas humanas orientadas pelo método. Assim, cada um seguiu seus passos que se somaram na consolidação da ciência que se constituiu como a mãe de várias áreas do saber. http://www.wikiwand.com/ 14 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES DA FILOSOFIA MEDIEVAL Objetivo Associar o desenvolvimento da filosofia medieval e do cristianismo com a concepção de educação, bem como com o processo de busca da verdade. Introdução A filosofia propicia à humanidade métodos e rigor para a busca da verdade. No entanto, a noção de verdade varia no tempo e no espaço, sendo fortemente influenciada pela visão de mundo prevalecente em dado momento histórico. Nesse sentido, as ideias centrais dos principais autores da filosofia medieval permitem associar filosofia e desenvolvimento das ideias cristãs na sociedade, além de esclarecer sobre a concepção de educação. Vale lembrar que nesse período histórico a fé era o princípio norteador de toda a sociedade e influenciava intensamente o exercício da razão. 3.1. Santo Agostinho O cristianismo influenciou também a história da filosofia. Tal influência se divide em dois períodos diferentes, sendo a filosofia patrística (do século I ao século VI d.C.) e a filosofia medieval (do século VIII ao século XIV). Patrística corresponde às contribuições dos apóstolos Paulo e João, bem como aos padres da igreja católica, ou seja, esse período da filosofia ocorreu em função das contribuições dos “primeiros dirigentes espirituais e políticos do cristianismo, após a morte dos apóstolos (p.46). A proposta era aproximar o cristianismo do pensamento filosófico grego-romano, o que facilitaria para o convencimento dos pagãos sobre a ‘nova verdade’ e a importância de se converter, a tarefa em questão é a evangelização e a defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. A Idade Média, diferente da Antiguidade Clássica, foi considerado por alguns autores como a “Idade das Trevas” por significar um período de baixa produção intelectual. Na verdade corresponde a um período da história da humanidade onde a produção intelectual vinculava-se estreitamente aos valores do cristianismo e à influência da Igreja na sociedade. 15 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Cabe ressaltar que na Idade Média a organização sociopolítica foi o feudalismo, um modelo de produção e organização da sociedade baseado na relação servil, sendo que a sociedade se dividia em estamentos, classes rígidas com ausência de mobilidade entre elas, se dividiam como a nobreza, o clero e os servos. A principal atividade econômica era a agricultura, as terras eram concedidas pelo rei aos senhores feudais e os servos trabalham nelas através do trabalho servil, ou seja, em troca do trabalho garantiam a sobrevivência. Portanto, podemos considerar que na Idade Média as “artes eram divididas e trívio (liberais): gramática, dialética e retórica; e quadrívio (matemáticas): aritimética, geometria, música e astronomia”, esses conhecimentos eram considerados “profanos”, em função da influência da Igreja que era a “instituição detentora do saber”, com isso a fé tornou-se “padrão de conhecimento”. O espirito filosófico da época se pautava pela teologia, as artes e as técnicas auxiliavam a decifrar as escrituras para que se entendesse a “palavra de Deus” (Mattar, 2010, p.64). Entre as ideias introduzidas pela filosofia patrística destacam-se “a ideia da criação do mundo a partir do nada, de pecado original do homem, de Deus como trindade”, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos, ressureição dos mortos, a presença do mal no mundo entre outras ideias (Chauí, 2008, p.46). Santo Agostinho e o imago Dei no Ocidente – www.estadodaarte.estadao.com.br acesso em 08/02/2021 http://www.estadodaarte.estadao.com.br/ 16 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Entre esses pensadores se destacou Santo Agostinho que defendia a ideia de um “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio da vontade (ou do poder da vontade para escolher entre alternativas opostas igualmente possíveis), pelo qual o homem, por ser dotado de liberdade para escolher entre o bem e o mal, é o responsável pela existência do mal no mundo (p.47). Santo Agostinho buscou relacionar a filosofia clássica e o cristianismo. Considerava que a “mente humana possuiria uma centelha do intelecto divino”. Desenvolveu uma noção de “tempo histórico, com um destino e um objetivo: o juízo final”. Assim, considerava que o homem é um pecador por natureza e desenvolveu a noção de interioridade, essa na Modernidade foi considerada como subjetividade. Defendia o seguinte pensamento, “não procure fora. Entra em ti mesmo: no homem interior habita a verdade” (Mattar, 2010, p.66). 3.2. São Tomás de Aquino A imposição das ideias cristãs foi transformada como verdades reveladoras por Deus, tornando-se dogmas, ou seja, “verdades inquestionáveis”. Tal quadro acabou influenciando na distinção entre as “verdades reveladas ou da fé” e “verdades da razão ou humanas”, no esforço de conciliar a razão e a fé. Tais ideias de dividiram em três posições iniciais: “Os que julgavam fé a razão irreconciliáveis e a fé superior à razão”. “Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé”. Os que julgavam “razão e fé inconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se” (Chauí, 2008, p.47). A filosofia medieval corresponde ao período em que a Igreja Romana dominava a Europa. Nesse período, em torno das catedrais se formavam universidades e escolas, por isso, esse período da filosofia é também chamado de escolástica. Sob influência do “Problema dos Universais” da patrística, de Platão e Aristóteles, a filosofia medieval ainda acrescentou outros problemas. A filosofia cristã tornou-se a teologia, “um de seus temas mais constantes são as provas de existência de Deus e da imortalidade da alma, isto é, demonstrações racionais da existência do infinito criador e do espírito humano imortal” (Chauí, 2008, p.47). 17 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nesse período, prevaleciam as seguintes ideias, a “diferença e a separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo); a diferença entre razão e fé”, a diferença e a “separação entre corpo (matéria) e alma (espírito)”; o Universo era considerado como uma “hierarquia de seres, onde superiores dominam e governam os inferiores”; ocorria ainda a “subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual dos papas e bispos” (Chauí, 2008, p.47). Filosofia Escolástica – www.todamateria.com.bracesso em 08/02/2021 A escolástica se utilizava da disputa como método que consistia em argumentação de tese a partir da Bíblia e dos filósofos que influenciaram tal corrente filosófica. “Uma ideia era considerada uma tese verdadeira ou falsa dependendo da força ou da qualidade dos agrupamentos encontrados nos vários autores”, condicionando o pensamento ao princípio de autoridade, ou seja, “uma ideia é considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade reconhecida (Chauí, 2008, p.47/48). São Tomás de Aquino foi o principal representante da escolástica, buscou associar filosofia e teologia, o “pensamento de Aristóteles e as Escrituras”, valorizando http://www.todamateria.com.br/ 18 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância o mundo sensível como fonte de conhecimento, propôs as cinco vias para provar a existência de Deus (Mattar, 2010, p.68). 19 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. FILOSOFIA MODERNA Objetivo Compreender o percurso histórico da filosofia, identificando as características das contribuições dos principais filósofos, bem como as determinações sócio-históricas que influenciaram essa etapa do pensamento filosófico. Introdução A filosofia moderna corresponde ao esforço intelectual em colocar o homem e sua capacidade de pensar no centro das reflexões e da construção das explicações científicas. Portanto, a razão e a capacidade humana passa a ser o princípio norteador do conhecimento e das explicações concebidas. Nesse sentido a filosofia avança na elaboração de teorias e métodos sobre a capacidade humana de conhecer. Emergem, conceitos e concepções capazes de sustentar tais explicações, promovendo a ampliação das ideias racionais e a intensificação do saber filosófico como norteador do processo de produção do conhecimento. Cabe ressaltar que o Renascentismo correspondeu a um movimento cultural, econômico e político da Europa entre os séculos XIV e XVII. Tal período corresponde à fase de transição da Sociedade Medieval para a Sociedade Moderna. Entre suas características destacam-se o racionalismo onde se reconhecia que a razão era o caminho para alcançar o conhecimento; o cientificismo se pautava na experiência científica para validar um conhecimento; o individualismo que representava a necessidade da prevalência da individualidade, da afirmação da personalidade individual e correspondeu ao princípio da ideologia liberal; o antropocentrismo que entendia que o homem era centro do Universo; o classicismo como referência do conhecimento produzido na Antiguidade Clássica para orientar o exercício da razão. 4.1. Descartes e o racionalismo Em contraponto à influência do cristianismo na filosofia se afirma o Renascentismo que aconteceu entre os séculos XIV e XVII, um período de transição presente na ordem 20 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância da sociedade feudal. Pode-se considerar que tal período significou a valorização do individualismo, princípio essencial da sociedade moderna. Nesse contexto, o homem retorno ao lugar central do pensamento, com isso, o humanismo como princípio e valor nas produções humanas. O homem “prático, como o artista e o artesão, predomina sobre os homens meditativos” (Mattar, p.74). As contribuições da filosofia que aconteceram na Idade Moderna (século XVI) se mantiveram mais atuais em relação as produções da filosofia antiga e medieval, em parte pelo tempo, em parte pelos valores que se constituíram nesse período e ainda estão presentes entre nós. Cabe ressaltar que a humanidade e a filosofia caminharam para o desenvolvimento do conhecimento universal e, com isso, científico, buscando respostas racionais. Desta forma, a filosofia moderna é também conhecida como racionalismo que se caracteriza, em síntese, pelas seguintes mudanças teóricas: • Esforço em demonstrar que a capacidade da razão humana pode conhecer e demonstrar o conhecimento sobre a verdade; • Aquele que reflete é o sujeito do conhecimento que deve reconhecer as condições para sua realização e daí produzir conhecimento sobre as coisas ou objetos do conhecimento; • Conhecer é exercitar a consciência reflexiva e o sujeito do conhecimento é a própria inteligência. Assim, aquilo que é objeto de conhecimento ou pode ser estudado deve ser “representado por um conceito ou por uma ideia clara e distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto”. Além disto, em função do exercício da razão a natureza, a sociedade e a política podem ser estudadas e explicadas por aquele que se propõe a conhecer. A “realidade é racional porque é um sistema ordenado de causalidades físico-matemáticas perfeitas e plenamente conhecíveis pela razão humana (Chauí, 2008, p.49). 21 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Homem Vitruviano – www.literaturavicentina.blogspot.com acesso em 08/02/2021 È importante pensarmos que a “realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem”, pois pelo conhecimento a realidade pode ser interpretada e explicada através de conceitos, com isso o sujeito do conhecimento é capaz de intervir na realidade, exatamente por isso é necessário examiná-la, pensar sobre a realidade, explica-la. Portanto, a intervenção humana na realidade que se pelo domínio da técnica, resultado de um processo racional mediado pela ciência. Tal fator justifica a importância das diversas correntes filosóficas, das teorias científicas e das possibilidades futuras a serem construídas pela humanidade (Chauí, 2008, p.49). A filosofia moderna se divide em três correntes filosóficas: o racionalismo, o empirismo e o idealismo. http://www.literaturavicentina.blogspot.com/ 22 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Descartes é um dos principais representantes do racionalismo, uma vertente do pensamento filosófico que considera como princípio para a produção do conhecimento da verdade, o exercício da razão no ser humano. Foi matemático e filósofo, além de ter fundado a geometria analítica. Ao chegar em um método racional, Descartes inicia a filosofia moderna, isso porque seu método representa o esforço de superar os princípios filosóficos que norteavam a busca da verdade na Idade Média. Ao percorrer o exercício racional elabora a frase: “penso, logo existo”. Tal premissa resulta da ênfase na “razão e no mundo sensível como fontes de conhecimento”, trabalhando com a metafísica, as ciências físicas e a ética, constrói uma metáfora do conhecimento comparado a uma árvore do qual as raízes seriam a metafísica, o tronco a física e os galhos as diversas ciências, sendo as três principais: medicina, mecânica e moral” (Mattar, 2010, p.76). Assim, o método cartesiano, elaborado por Descartes, se constitui na “recusa de qualquer fundamento princípio ou verdade recebida da tradição e da experiência”. O sujeito deve “fundar as bases e as condições para a construção do conhecimento”. Com esse exercício, Descartes não aceita como verdade aquilo que levanta pontos de dúvida, ou seja, tudo pode ser questionando, as coisas e o corpo físico. Nesse percurso, o filósofo elabora sua frase ou premissa mais conhecida (Mattar, 2010, p.76). Descartes em HQ – www.filosofianaescola.combr. Acesso em 08/02/2021 É importante destacar com esse exemplo que os racionalistas utilizam o método dedutivo, “o uso de uma trilha lógica, partindo de enunciados gerais, para chegar a uma determinada conclusão”. Por esse motivo, para Descartes “corpo e alma são entidades separadase livres, e a consciência está ligada à ideia de alma, não ao corpo físico. O http://www.filosofianaescola.combr/ 23 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância conhecimento é produzido uma vez que as “ideias estão dentro de nós e se revelam gradativamente, durante nosso crescimento intelectual. Nesse processo, Descartes estabelece o dualismo entre corpo e alma (Antonio, 2014, p.45). 4.2. Locke e o empirismo O empirismo, outra corrente da filosofia moderna, considera a experiência sensível como fonte de nossas ideias, a experiência do conhecimento para os empiristas passam antes pelos sentidos. Desse modo, os empiristas destacam a “importância da sensação e da experiência”, os empiristas abordam temas como o “uso de hipóteses, a estrutura do raciocínio indutivo e probabilidade” (Mattar,2010, p.79). Ao contrário dos racionalistas, os empiristas acreditam que a “experiência deve ser o guia e o critério de validade para nossas afirmações”. Portanto, o uso dos sentidos nos leva ao conhecimento. O método empírico e experimental influenciou a produção do conhecimento e o desenvolvimento das ciências modernas que se pautam no conhecimento empírico, no exame da realidade para a elaboração de interpretações e de teorias. O método propõe que o conhecimento se realize por meio da observação e da indução, “formam-se hipóteses que devem ser então verificadas e testadas por experiências” (Mattar, 2010, p.79). O empirismo se desenvolveu de forma intensa na Inglaterra do século XVI que já vivia o crescimento econômico e o início da Revolução Industrial que culminou com a formação do modo capitalista de produção. John Locke foi um filósofo empirista inglês, opôs-se à concepção da existência de ideias inatas, considerava que não “existiriam pensamentos a priori, nem princípios práticos inatos”. Defendeu que o conhecimento estaria “fundado na experiência” e nossa mente ao nascermos seria uma “tábula rasa” (Mattar, 2010, p.146). As experiências individuais tornam-se ideias gerais, por vezes abstratas, são os universais que se formam quando ideias particulares se tornam ideias gerais Os universais são representações gerais porque se tornam presentes nas experiências individuais, seriam “criações do entendimento e não possuiriam existência real”. Remetem 24 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância para a individualidade das coisas, pois “as ideias gerais representariam universalmente, por meio de uma relação mental” (Mattar, 2010, p.147). Locke – www.pedagogiaaopedaletra.com.br acesso em 08/02/2020 Para se chegar ao conhecimento por meio de ideias claras e diversas, elaboração de hipóteses e probabilidades, Locke sugere quatro partes da razão: • Capacidade de encontrar provas: a descoberta de provas pela razão humana permite a ampliação do conhecimento; • Ordenação: “disposição regular e metódica das provas, colocando-as numa ordem clara e adequada”; • Preparação da conexão entre as provas: “percepção da conexão que existe entre as ideias”; • Capacidade de tirar conclusões: ao se chegar em uma conclusão correta, é possível ampliar o conhecimento (Mattar, 2010, p.147). 4.3. Kant e o idealismo O idealismo foi uma corrente do pensamento filosófico que se desenvolveu na Alemanha e ressalta a importância do sujeito do conhecimento. Assim, o “mundo material só pode ser compreendido plenamente a partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva (Mattar, 2010, p.149). O seu principal representante foi Kant que tentou superar a divisão entre racionalismo e empirismo, entre suas principais obras se destaca a Crítica da Razão Pura; no percurso de suas reflexões e produções, o filósofo se volta primeiro para explicar as questões ligadas a epistemologia, a teoria do conhecimento, ou seja, ao como conhecer, em seguida se dedicou ao tema da moral e, por fim, a reflexão e construção de conceitos. http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br/ 25 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Na Crítica da Razão, Kant faz uma distinção entre conhecimentos empíricos e conhecimentos a priori. De um “ponto de vista cronológico, o conhecimento tem início com a experiência”, mas nem todos os conhecimentos se originam da experiência para o autor. (Mattar, 2010, p.150). Capa de A Crítica da Razão Pura – www.netmundi.org acesso em 08/02/2021 Vale dizer que na teoria de Kant, o “conhecimento não teria origem apenas no ser humano ou no objeto”, mas a interação entre os dois. Nesta perspectiva, é a “ação humana que torna o conhecimento universal, porém para que esse conhecimento seja constantemente atualizado, é necessária a experiência (Antonio, 2014, p.50). Assim, os “conhecimentos empíricos têm sua origem à posteriori”, a partir da experiência dos sentidos, enquanto o conhecimento a priori não depende da nossa experiência, pois se fundamenta na nossa capacidade de conhecer. Em decorrência disso, Kant ressalta a necessidade com critérios de classificação do conhecimento, o que remete para a universalidade do conhecimento, estabelecimento de leis e juízo que orientam o conhecimento e a elaboração das ideias (Mattar, 2010, p.150). A universalidade proposta por Kant é uma indução que se definem por juízos estabelecidos antes da experiência dos sujeitos para conhecer algo, as fórmulas matemáticas são exemplo disso, são definidas a partir de critérios e não podem ser retiradas à medida que se realiza a experiência do conhecimento matemático. O esforço de Kant está em distinguir as intuições que se realizam pelo sensível, pelas sensações e, os conceitos que resultam do esforço do pensamento. http://www.netmundi.org/ 26 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4.4. Rousseau e o Iluminismo O iluminismo corresponde a outra corrente da modernidade e do esforço em afirmar a filosofia a partir de um conhecimento universal, distanciando-se das explicações religiosas e contribuindo para a construção do saber científico. Tal fase compreendeu os séculos XVIII e XIX e como corrente do pensamento filosófico defendeu-se que pela razão, o homem pode alcançar a liberdade e, com isso, a felicidade social e política, essas ideias sustentaram a Revolução Francesa de 1789. Nesta perspectiva, a razão permitiria o aperfeiçoamento e o progresso, o homem poderia se aperfeiçoar, liberando-se de preconceitos religiosos, sociais e morais, no lugar disso se desenvolveria as ciências, as artes e a moral. Os iluministas vislumbravam o progresso das civilizações, considerando a existência de sociedade desenvolvidas e primitivas, estabelecendo um contraponto entre civilização e natureza. Assim, no estado de natureza há a prevalência das leis naturais e imutáveis. Na civilização há a prevalência da liberdade, da vontade livre dos homens que é regulada pela moral, seu exercício representa o aperfeiçoamento humano. Ao valorizar a razão, há também o esforço em conciliar racionalismo e empirismo, além da preocupação com o Estado e o desenvolvimento da filosofia política e social. O iluminismo é também conhecido como Século das Luzes porque correspondeu a um movimento político, social, cultural e filosófico. Entre os iluministas destaca-se Rousseau que produziu na área de filosofia política e ética. Rousseau, incialmente considerou que o ser humano é “naturalmente bom, mas, ao longo de sua vida a sociedade em que ele vive o corrompe”. Ao se orientar por uma visão naturalista considera que a essência humana é bondosa. No entanto, a civilização e as produções humanas como a ciência, as artes, geraram sentimentos repulsivos, tais como ciúme, vaidade, com isso, a sociedadehumana se corrompeu (Antonio, 2014, p.51). O filósofo trabalha com a tese do “bom selvagem”, tal ideia é recorrente em sua obra e defendida utilizando argumentos diferentes. Em Do Contrato Social, uma das obras de referência de filosofia política, defende a “ideia de que, não sendo possível um retorno do ser humano ao seu estado natural, deve ser criado um contrato entre todos” com o objetivo de estabelecer os princípios de uma vida em sociedade satisfatória. Assim, o 27 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância contrato social é uma pacto social entre todos na sociedade que se sustenta pela vontade geral dos indivíduos e o objetivo seria uma sociedade justa entre os indivíduos. www.2.bp.blogspot.com acesso em 08/02/2021 Em Emílio ou Da Educação, um romance pedagógico em que narra a vida de Emílio, um órfão. A proposta pedagógica defendida na obra é a de que “ a criança deve desenvolver seus próprios instintos” e o educador deve “preservar a natureza da criança” (Antonio, 2014, p.55). O método pedagógico sugerido por Rousseau se divide em quatro etapas: Primeira fase – 0 a 5 anos de idade – prioridade da amamentação e desenvolvimento físico livre. Segunda fase – 5 a 12 anos de idade – promoção do contato da criança com o meio que ela vive, sem a intervenção do educador. http://www.2.bp.blogspot.com/ 28 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Terceira fase - 12 a 15 anos de idade – com a presença e participação do educador, o adolescente deve aprender por meio de experiências vividas pelo estudo de matérias e realização de ofício. Quarta fase – de 15 a 20 anos de idade - preparação para a vida social e para a fase da razão (Antonio, 2014, p.56). A proposta pedagógica de Rousseau pode ser entendida como uma reflexão sobre a influência da sociedade na educação e na formação das crianças e adolescentes do que uma alternativa viável à efetiva aplicação do método, pois defende que as crianças devem ser educadas isoladas da vida social, será possível isso? No entanto, crescer e experimentar uma relação livre pode se configurar como algo instigante. 29 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. FILOSOFIA e SOCIEDADE MODERNA Objetivo Compreender as principais correntes do pensamento da filosofia moderna e seus reflexos para a construção do sistema de educação prevalecente na vida em sociedade. Introdução A sociedade moderna é resultado de uma mudança sócio-histórica profunda com reflexos para a ordem social, política e econômica da vida em sociedade. Nesse sentido, a mudança foi norteada pela implementação e consolidação do modo capitalista de produção, a vida em sociedade passou a se organizar em torno do trabalho nas grandes cidades, desenvolvendo a noção de cidade urbana ou grandes centros urbanos. Do ponto de vista econômico a mudança corresponde ao próprio modo de produção que passou a vigorar na sociedade, o capitalismo se caracteriza como um modo de produção que depende do trabalho que passou a ser assalariado, com a separação entre quem investe na produção e quem trabalha. Assim, desenvolveu-se a concepção de Estado moderno, os direitos fundamentais do homem, entre eles o direito à propriedade privada, além da noção de cidadania reconhecendo a igualdade jurídica entre todos os indivíduos da vida em sociedade. As ciências respaldaram esse processo de transformação social e ocorreu a fragmentação dos saberes com a diversificação das diferentes áreas do conhecimento, desenvolvimento do saber técnico-científico e ampliação das ciências humanas. 5.1. Comte e o Positivismo Positivismo surgiu na França, no início do século XIX, se desenvolveu sob a influência do iluminismo, das ciências naturais, as mudanças da sociedade ocorridas com a formação da sociedade moderna e o modo capitalista de produção. Comte foi seu principal representante e sua teoria positivista se pauta na razão e no progresso humano, o que aconteceria através do desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Na direção do progresso, as sociedades se desenvolveriam em estágios de desenvolvimento, segundo Comte: 30 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Fase teológica: a justificativa do mundo e da vida está em Deus; • Fase metafísica: crença humana nas forças ocultas para explicar os fatos e acontecimentos; • Fase positiva: prevalência da ciência para se buscar respostas sobre as coisas (Antonio, 2014, p. 58). www.pensador.com acesso em 08/02/2021 Nesta perspectiva teórica a sociedade deveria se desenvolver, a ordem social deveria ser mantida para que os indivíduos e a sociedade caminhassem na direção do progresso, por isso a frase: ‘ordem e progresso’. Comte e o positivismo influenciaram a formação da sociologia 5.2. Marx, Engels e o Marxismo Marx filósofo alemão que elaborou em conjunto com Engels, a teoria social crítica que se propôs a buscar a essência da sociedade moderna e, com isso, elaborar sua crítica, propondo o caminho identificado por eles que possibilitaria a transformação social. Portanto, essa concepção teórica e corrente filosófica tem como pressuposto apreender o movimento real da sociedade para identificar a possibilidade de sua superação através de um processo de transformação social. Como isso efetivamente ocorre? Primeiro, é importante pensar na metodologia utilizada por Marx e Engels, sendo a dialética e o materialismo histórico. A dialética envolve três etapas: afirmação, negação e superação, representam passos metodológicos para a orientação do pensamento e da elaboração das reflexões sobre a realidade social. Nesta perspectiva, a afirmação refere-se a um aspecto da realidade, no segundo momento deve o pesquisador negar a realidade, elaborando questionamentos para http://www.pensador.com/ 31 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância romper a aparência dos fatos que inicialmente definem essa realidade, esse processo permite que seja elaborada uma nova ideia sobre a realidade, é um caminho para que se alcance a essência da realidade, por fim, essas etapas permitem que o pesquisador elabore uma ideia crítica da realidade investigada, essa crítica contém uma ideia de superação. Segundo, ao lado da dialética essa concepção teórica se desenvolve o materialismo histórico que entende que a sociedade se sustenta pela produção material da vida social, ou seja, pelo trabalho que permite os homens que garantam suas necessidades objetivas, ao mesmo tempo, afirmam sua existência e fazem a história a partir de suas condições de existência e circunstâncias vividas. Assim, acredita-se que a história é feita pelo homem a partir de suas condições objetivas de existência, com isso, a história é movimento e depende do protagonismo humano. Do ponto de vista metodológico, esse movimento permite que se elabore uma concepção crítica da realidade. O objeto de estudo em questão foi a sociedade capitalista que se sustenta pelas contradições sociais e por forças antagônicas representadas pelos conflitos de classe e pelo processo de desigualdade social construído nessa sociedade. Tal antagonismo é representando pelo confronto entre capital e trabalho ou pelo confronto presente na sociedade entre capitalistas e trabalhadores, definidos por Marx e Engels como burguesia e proletariado. Manifesto Comunista em Quadrinhos – www.vitralizado.com acesso em 08/02/2021 Com base nisso, como podemos aproximar a teoria social crítica da educação? Para Marx e Engels a superação da sociedade capitalista está na base dessa sociedade e pode acontecer com a tomada de consciênciae ação política dos trabalhadores, o que seria através da práxis, a ação consciente ou a consciência em http://www.vitralizado.com/ 32 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância movimento. Portanto pela participação, pela educação podem os trabalhadores mobilizarem-se para que se efetive um processo de transformação social que culmine com a emancipação, eliminando as bases de opressão e da produção material da vida social arraigada na exploração do homem pelo homem. 33 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA Objetivo Conhecer as principais características do estruturalismo e do pragmatismo, associando-os à concepção de escola e ao desenvolvimento do processo de conhecimento. Introdução Com a diversificação da vida em sociedade, as ciências humanas passam a investigar a complexidade da vida social e as diferenças entre modos de vida, culturas diferentes, por exemplo. Tal aspecto demandou o desenvolvimento de diferentes correntes do pensamento filosófico e das ciências humanas. Nesse contexto, se destaca o estruturalismo e o pragmatismo. 6.1. Estruturalismo e Pós-estruturalismo O estruturalismo se desenvolveu na França, em meados do século XX, envolve a filosofia e outras áreas das ciências humanas, das ciências exatas e da biologia. Entre seus representantes estão Lévi-Strauss, Foucault, Barthes, Bourdieu. Os pós- estruturalistas associam-se ao debate em torno da pós-modernidade, entre esses pensadores destacam-se Gilles Delleuze, Guattari, Jameson e Baudrillard. Na concepção estruturalista a realidade é composta por estruturas, essas estão presentes nos diferentes aspectos da realidade ou naquilo que os seres humanos produzem, tais como as artes, a cultura, a linguagem, o corpo, a arquitetura, comportamentos, educação. Desta forma, o método científico consiste em “identificar essas estruturas e explicar como suas partes se organizam numa totalidade, formalizando-as”. A estrutura corresponde a uma “totalidade que se transforma esse autorregula” (Mattar, 2010, p.92). 34 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Pós-estruturalistas: Foucault, Barthes, Boudrillard, Eco - www.forumpermanente.org acesso em 08/02/2021 Foucault, filósofo estruturalista, considera que os “pensamentos de uma pessoa ou sociedade são guiados por estruturas inconscientes”, considera que existem “diferentes universos conceituais” que variam com o momento histórico e com a localidade. Para Foucault a “ideia de progresso é ilusória; o que acontece na verdade, é a simples troca de sistema de pensamento por outro de tempos em tempos” (Antonio, 2014, p.77). Em sua teoria relacionou o saber e o poder, em obras como Vigiar e Punir, Microfísica do Poder, e A Arqueologia do Saber. Tal relação se manifesta nas instituições sociais; por exemplo, nas escolas como instituições de ensino, há o “poder disciplinar como forma de moldar o comportamento dos alunos dentro do padrão desejado”. Assim, a “ideia do saber está sempre ligada a do poder”, com isso se sustenta a ideia de que o professor tem poder em decorrência de seu saber (Antonio, 2014, p.77). A classificação é outro aspecto que influencia o sistema escolar e revela a estrutura de ensino e, consequentemente a estrutura de uma sociedade, como por exemplo, as características físicas, de idade e até, de cultura ou religião. Desse modo, Foucault é um filósofo que contribui para reflexões sobre padrões sociais e pedagógicos. 6.2. Pragmatismo e John Dewey O pragmatismo se formou no esforço de alguns filósofos revalorizarem a lógica, nos Estados Unidos e se propôs a “dar significado às experiências com base em sua http://www.forumpermanente.org/ 35 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância contextualização prática”. A palavra já significa em grego ‘ação’, ‘atividade’ (Antonio, 2014, p.78). Os filósofos pragmatistas consideram que a “verdade pura é inacessível à inteligência do ser humano”, pois entendem que o “ser humano sempre analisará suas experiências com base em valores e opiniões pessoais, o que impossibilita a definição permanente de qualquer coisa. Assim, uma avaliação se realiza a partir de “resultados práticos originados de nossos atos ou pensamentos” (Antonio, 2014, p.78). www.saberpolitica.com.br acesso em 08/02/2020 Na educação, John Dewey, com base no pragmatismo, fundou o instrumentalismo que considera o pensamento definido como um “instrumento que usamos para interagir com o complexo mundo ao nosso redor”. Assim, nosso pensamento é “guiado para solucionar problemas”, por isso a principal tarefa da educação para Dewey é “tornar o ser humano apto a pensar de forma correta”, preparando os alunos para enfrentarem os “desafios práticos futuros”. Portanto, deve a sala de aula ser um lugar de investigação científica ao invés de ser um lugar onde se trabalha a memorização de conteúdos (Antonio, 2014, p.78). Tal corrente filosófica influenciou o movimento Escola Nova que no Brasil ganhou força na década de 1930. http://www.saberpolitica.com.br/ 36 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. TENDÊNCIAS PEDAGÒGICAS LIBERAIS Objetivo Examinar a influência do pensamento liberal para o sistema escolar e o desenvolvimento das propostas pedagógicas. Introdução O pensamento liberal e a valorização do individualismo estão presentes na vida em sociedade e, de certa forma, se perpetuam através dos modelos de educação e da forma como a maior parte das escolas se organizam, consequentemente se desenvolvem propostas pedagógicas pautadas nos valores vigentes da sociedade. 7.1. Tendência pedagógica liberal tradicional As tendências pedagógicas são várias e expressam diferentes classificações ou são orientadas por princípios e concepções diferentes. De modo geral, prevalecem as tendências pedagógicas liberais e as progressistas. Nas páginas seguintes vamos examinar as características das principais tendências para a compreensão de seus significados. A tendência pedagógica liberal tradicional, inspirada na ideologia liberal que sustentou a formação do sociedade moderna e o modo capitalista de produção. Tal ideologia defende o direito à propriedade privada e considera o individualismo e a liberdade como princípios norteadores da vida social. A defesa da igualdade de oportunidades é considerada, mas não há o debate sobre as desigualdades sociais. Assim, a tendência pedagógica liberal tradicional entende que a escola deve “preparar o indivíduo para desenvolver uma atribuição social futura, escolhida com base em sua inclinação natural” (Antonio, 2014, p.89). 37 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância www.fazendo pedagogia.wordpress.com A pedagogia liberal se realiza pela educação tradicional formada no século XIX e presente ainda na nossa realidade. Nesta perspectiva, a escola é vista como um “preparatório do intelecto e da integridade moral do indivíduo” para que possa se preparar para fazer parte da vida social, assumindo um papel ou uma profissão nessa sociedade. A escola também se volta para questões culturais e os “conteúdos ministrados são os mesmos para todos”, o aproveitamento do ensino “depende da capacidade e do esforço individual” (Antonio, 2014, p.90). A educação tradicional se desenvolve com a noção de um professor autoritário que exige dos alunos concentração e disciplina. Nessa escola há pouco espaço em sala de aula para o diálogo, um dos pontos de crítica atribuídosa ela. 7.2. Tendência Pedagógica liberal renovada A tendência pedagógica liberal renovada se desenvolve associada ao movimento da Escola Nova iniciada nos Estados Unidos e na Europa, no final do século XIX. No Brasil influenciou o modelo escolar na década de 1930. Nessa tendência pedagógica, o principal papel da escola é “tornar as atividades individuais apropriadas ao meio social”, a escola tem a finalidade de reproduzir a vida, proporcionando aos alunos experiências que possam “interagir com o meio e se educar, adequando seus interesses pessoais às demandas da sociedade” (Antonio, 2014, p.91). Ao propor o trabalho em sala de aula a partir de problemas e desafios reais, o “desenvolvimento dos processos de raciocínio e as habilidades mentais são mais valorizadas que o conteúdo assimilado”. Desta forma, o método pedagógico se orienta por 38 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “experimentos, investigações e descobertas”, além da valorização do trabalho em equipe. A relação entre professor e aluno deve ser franca e aberta, o professor é considerado como um “auxiliar na evolução do aluno” e a disciplina em sala de aula é resultado da conscientização do aluno sobre seus direitos e deveres (Antonio, 2014, p.92). A tendência pedagógica liberal renovada é pouco frequente em escola básica, mas se difundiu mais nas universidades. 7.3. Tendência pedagógica liberal renovada não diretiva Tendência pedagógica liberal renovada não diretiva enfatiza a função escolar no desenvolvimento pedagógico do aluno. Assim, o “crescimento pessoal do aluno é mais importante do que conhecimento didático”, com isso, o professor orienta os alunos com o propósito de criar na “sala de aula um ambiente propício para a autorreflexão e bem estar psicológico” (Antonio, 2014, p.93). O professor deve elaborar estratégias individuais aos alunos com o objetivo de promover esse desenvolvimento que deve culminar o processo de autoconhecimento do aluno. A motivação para a aprendizagem deve ser interna e o professor-educador não interfere na trajetória do aluno. Portanto, no lugar de prova essa tendência pedagógica trabalha com a autoavaliação. 7.4. Tendência pedagógica liberal tecnicista Tendência pedagógica liberal tecnicista propõe que a escola prepare os alunos para o trabalho ou para a realização de tarefas em postos de trabalho, devendo transmitir conhecimento e técnicas de trabalho de forma clara e eficaz. No Brasil, essa tendência foi introduzida durante a ditadura militar, na década de 1960. www.funfilosedu.blogspot.com Acesso em 08/02/2021 http://www.funfilosedu.blogspot.com/ 39 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Tal tendência pedagógica considera que o ser humano é um “produto do meio em que vive, sendo sua consciência construída a partir das relações que estabelece nele”. Nesse caso, a principal função da escola é a preparação do indivíduo para o mercado de trabalho, onde se valoriza o uso e domínio da tecnologia e de técnicas, então é o professor um transmissor de conhecimento e repertório (Antonio, 2014, p.95). 40 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. TENDENCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS Objetivo Compreender as propostas pedagógicas que propõem um visão crítica da sociedade capitalista e seu modelo de educação. Introdução As correntes do pensamento filosófico que elaboraram uma reflexão crítica da sociedade, influenciaram a formação de propostas pedagógicas que se orientam pela valorização do desenvolvimento humano, bem como seu processo de educação. Para tal a escola e a proposta pedagógica deve se realizar pela crítica da realidade social e por estratégias que motivem o desenvolvimento intelectual de cada aluno. 8.1. Tendência pedagógica libertária Tendências pedagógicas progressistas foi iniciada por Snyders, um francês que defendeu que a análise crítica da realidade social deveria ser realizada em sala de aula, pois defendia que a “educação deve ser acima de tudo um processo que gere nos alunos a consciência social, política e coletiva”, pensando possibilidade da inclusão social (Antonio, 2014, p.97). A pedagogia progressista tem três vertentes, a pedagogia libertária, a pedagogia libertadora e a crítico-social dos conteúdos. Tendência pedagógica progressista libertária foi introduzida no Brasil pelos trabalhadores imigrantes que vieram da Europa para trabalhar nas lavouras ainda no século XIX. Tal pedagogia se fundamenta na crítica das instituições tradicionais. Para a pedagogia libertária a “educação deve ser capaz de transformar a personalidade do indivíduo, funcionando como agente libertador e tornando o aluno apto a administrar seu próprio aprendizado e sua vida como um todo” (Antonio, 2014, p.101). A metodologia libertária foca seu trabalho nas experiências em grupo, ou seja, o aprendizado se dá pela convivência em grupos que devem ser organizados pelos próprios 41 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância alunos e devem promover a troca de experiências, enquanto se apropriam dos conteúdos. O professor deve ter uma postura de conselheiro. 8.2. Tendência pedagógica libertadora A tendência pedagógica progressista libertadora tem Paulo Freire como representante e como objetivo desenvolver aluno cidadãos. Para Paulo Freire, cidadania é a “capacidade de compreender e transformar a sociedade”, para isso, a escola deve formar cidadãos. Em seu trabalho educativo Freire considerava a experiência anterior de seus alunos para ensinar, uma vez que defendia que a “leitura do mundo precede a leitura da palavra” (Antonio, 2014, p.98). Além disso, a educação é também guiada pelos sentimentos, ao mesmo tempo em que é guiada pela consciência de educandos e educadores como uma troca, um processo, pois a “educação tem o poder de sensibilizar os indivíduos, ela também pode promover mudanças na sociedade”. Portanto, a alfabetização se concretiza pela utilização de palavras comuns do cotidiano dos alunos, “numa contínua associação do aprendizado com a vida”, os “grupos de discussão” correspondem a uma estratégia que promove o diálogo entre educador e educandos (Antonio, 2014, p.98). www.pedagogiando.blogspot.com acesso em 08/02/2021 A metodologia libertadora se orienta por três estágios, a investigação, a tematização e a problematização. Com o objetivo de alfabetizar-se e, ao mesmo tempo, aprofundar a interpretação sobre a realidade social e a elaboração de ideias sobre ela. No Brasil e no mundo o método Paulo Freire se constitui como referência para pensar e realizar uma educação que promova a reflexão e a construção das possibilidades de mudanças sociais. http://www.pedagogiando.blogspot.com/ 42 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8.3. Tendência pedagógica crítico-social dos conteúdos Tendência pedagógica progressista crítico-social dos conteúdos surgiu nos anos 1970 como um esforço de educadores brasileiros em realizar uma educação capaz de transformar a sociedade. Tal tendência atribui valor aos conteúdos que devem ser inseridos na realidade social dos alunos. Nesse sentido, também são valorizados os “relacionamentos interpessoais e a evolução que eles proporcionam”, especialmente em relação ao “desenvolvimento da personalidade do aluno e sua assimilação pessoal da sociedade em que vive” (Antonio, 2014, p.113). A possibilidade de realizar a crítica social pelo aluno se dá quando o aluno vivencia e observa na sua rotina o que aprende na sala de aula, possibilitando ao aluno “trabalharcom conteúdos que estão adequados à realidade vivida socialmente por eles” (Antonio, 2014, p.113). A proposta metodológica dessa tendência é estabelecer um equilíbrio entre teoria e prática, associando os conteúdos aos interesses e à vida social dos alunos. Nesse caso, deve o professor agir como um mediador junto aos alunos, orientando-os e interagindo com eles e os conteúdos. O aluno deve vivenciar uma participação ativa, crítica e consciente, uma vez que o papel da escola nessa tendência pedagógica é ser o agente transformados da realidade. 43 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9. FILOSOFIA E EDUCAÇÂO: TEMAS EM DEBATE Objetivo Problematizar questões presentes na sociedade contemporânea, considerando seus reflexos para o processo de aprendizagem, bem como a possibilidade da filosofia respaldar as reflexões realizadas. Introdução A filosofia contribui para a reflexões sobre questões presentes no nosso tempo. Além disto, a consideração e a atenção dessa questões as reflexões se voltam para a prática educativa, para a possibilidade de realizar debates em sala de aula capazes de motivar o exercício de reflexão e elaboração de ideias por parte dos alunos. 9.1. Subjetividade e educação O tema da subjetividade ganhou destaque nas últimas décadas. Na educação esse está ligado ao reconhecimento de o conhecimento se dá por meio de um processo interno de quem conhece. Segundo Paulo Freire, ‘conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito e somente enquanto sujeito que o homem realmente pode conhecer (Apud Antonio, 2014, p.114). www.resarchgate.net acesso em 08/02/2021 Antonio considera que a subjetividade se define como o “espaço íntimo do sujeito, associado a seus processos internos”, ou seja, subjetivos. Na filosofia a subjetividade se associa à reflexões sobre a consciência do indivíduo e reconhece que ‘sujeito’ é aquele que tem capacidade de pensar por si mesmo, com isso a filosofia passa a “analisar as diferenças entre os indivíduos”, esses considerados como “sujeitos singulares”, mas com “identidade própria” (Antonio, 2014, p.114). http://www.resarchgate.net/ 44 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Essas ideias influenciaram a educação e propostas pedagógicas, como Paulo Freire que entende a educação como caminho fundamental para assegurar o desenvolvimento subjetivo e humanizador dos sujeitos. Cabe ressaltar a relevância desse processo como contraponto à educação bancária realizada nos marcos de uma sociedade desumanizante, por esse motivo Freire associa a objetividade e subjetividade para que a educação se realiza como um processo em busca da autonomia do indivíduo. Nesta perspectiva, a ética de quem educa é central, pois há um responsabilidade em potencializar pela educação o desenvolvimento dos indivíduos, realizando uma ação conscientizadora onde seja possível a valorização do saber individual para que seja possa dialogar com os vários sujeitos. A singularidade permite a construção de um conhecimento crítico, viabilizando a leitura do mundo e a liberdade dos educandos. 9.2. Tecnologia e sociedade contemporânea O desenvolvimento tecnológico do nosso tempo é desdobramento da ciência e da sociedade moderna, pois chegamos a um nível de especialização que favorece toda a inovação tecnológica. Com isso, podemos indagar qual o lugar da filosofia nesse cenário de realidade? Quais os dilemas postos para o processo de formação e escolarização dos jovens do nosso tempo? Primeiro aspecto a considerar é que a filosofia sempre contribui para a interpretação da realidade e para se pensar em métodos para continuar o processo de conhecimento da realidade e buscar desvelar as questões em torno da essência humana. Portanto, a filosofia interage se apropria e interage com as questões vinculadas à intensificação dos usos da tecnologia que caracterizam a vida na sociedade contemporânea. Entre os temas pertinentes à filosofia se destacam as reflexões sobra a relação entre tempo e espaço, uma vez que com a ampliação da esfera virtual vivenciamos uma espécie de deslocamento entre tempo e espaço, ou seja, passamos a participar de espaços diferentes no mesmo tempo, passamos a interagir com mais intensidade por um longo período de tempo do nosso dia, damos conta de múltiplas tarefas ao mesmo tempo. 45 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Um reflexão sobre a evolução humana - www.hermanoprojetos.com acesso em 08/02/2021 Diante da presença da esfera virtual e da esfera real da vida, há alterações na forma como nos comportamos, mas há também mudanças no processo de construção do conhecimento e no reconhecimento da autoria das produções, pois uma ideia elaborada por um autor pode ser veiculada amplamente nas redes sociais sem a devida atribuição autoral. Por esse motivo, a ampla circulação de ideias pode comprometer o debate intelectual, pois corremos o risco de citar ou divulgar uma ideia sem saber exatamente qual a fonte, uma vez que a ampla circulação de informações favorece a sua rapidez na veiculação, mas não assegura que se preserve a autoria delas, então temos a apropriação das ideias com o amplo acesso às informações, mas nem sempre são assegurados os direitos de autoria e a fonte pode se perder da ideia elaborada. Contudo, podemos pensar no dilema ético constituído nos marcos da chamada sociedade da informação. Tal dilema remete para o reconhecimento das fontes de informação, mas não se restringe a isso, remete também para a identificação e o reconhecimento do que é ético em nossa sociedade, especialmente sobre os usos e nosso comportamento nas redes sociais. Por exemplo, muitas vezes comentamos ou fazemos postagens sem nos darmos conta de que tudo fica registrado na rede de informações, sejam nossas curtidas, postagens, comentários. Assim, devemos ter em mente que há uma responsabilidade ou uma conduta no nosso agir em sociedade e, ao mesmo tempo, no nosso agir nas redes sociais. A ética é uma das características do nosso perfil? Essa resposta não é simples, pois demanda a definição do que é ético nas redes sociais, demanda a identificação dos valores que permeiam a ampla comunicação e interação entre diferentes pessoas. http://www.hermanoprojetos.com/ 46 Filosofia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Após pontuar algumas questões que envolvem os usos da tecnologia e da processualidade de informações que temos acesso, cabe indagarmos como isso se reflete no processo de formação de crianças, adolescentes e jovens? Além disto, cabe a pergunta sobre como o sistema escolar se utiliza da tecnologia, das redes sociais para que a educação se aproprie desses recursos e permite o desenvolvimento de aulas que favoreçam o uso positivo dessas ferramentas? Vale lembrar que nem todos os alunos conseguem acessar e utilizar as redes da mesma forma, tal acesso se define, em linhas gerais, pelas condições socioeconômicas de cada um. Outro aspecto que vale mencionar é o quanto as propostas pedagógicas conseguem prever e absorver práticas que promovam de forma reflexiva o uso das tecnologias da informação de forma a realizar uma alternativa aos alunos para que incorporem na sua experiência a utilização consciente dos recursos tecnológicos. Enfim, conforme exposto aqui as questões vinculadas a como utilizar a tecnologia e, ao mesmo tempo, como buscar formas de conhecer para que se desenvolva seu uso responsável são diversas e complexas; porém é certo que tal desafio pode favorecer um amplo debate e a construção da democratização do acesso e do uso dos recursos tecnológicos e das redes sociais. 9.3. Dilemas
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