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Pesquisa de levantamento: Uma Metodologia para Estimular Pessoas a Falar Sobre Si Mesmas m Por que fazer Levantamentos? Amostragem de uma População Intervalos de Confiança Tamanho da Amostra Técnicas de Amostragem Amostragem Probabilística Amostragem Randômica Simples Amostragem Randômica Estratificada Amostragem por Agrupamento Amostragem Não Probabilística Amostragem Acidental Amostragem por Quota Avaliação das amostras Referencial da Amostra Taxa de Retorno Razões para Usar Amostras de Con veniência Elaboração das perguntas Definição dos Objetivos da Pesquisa Atitudes e Crenças Fatos e Dados Demográficos Comportamentos Formulação das Questões Simplicidade Questões Ambíguas Questões Tendenciosas Formulação Negativa “Dizer sim ” e “Dizer não” C Respostas às Questões Questões Abertas versus Questões Fechadas Número de Alternativas de Respos tas Escalas de Avaliação Escala de Avaliação Gráfica Escala de Diferencial Semântico Escala Não Verbal para Crianças. Atribuiçfio de Rótulos às Alterna tivas de Resposta t- Finallzaçflo do Questionário Formatação do Questionário Redefinição das Questões r Aplicação de Levantamentos Questionários Aplicação em Grupo Levantamentos por Correio Levantamentos pela Internet Entrevistas Entrevistas Face a face Entrevistas por Telefone Entrevistas de Grupo Focal t Levantamentos Planejados para Estudar Mudanças ao Longo do Tempo Termos Estudados Questões de Revisão Atividades P esquisas de levantamento empregam questionários e entrevistas, com o objetivo de solicitar às pessoas informações sobre si mesmas - suas atitudes e crenças, dados demográficos (idade, gênero, renda, estado civil etc.) - e outros fatos, além de comportamentos passados e previsão de compor tamentos futuros. Este capítulo explorará os métodos de planejamento e reali zação de levantamentos, incluindo técnicas de amostragem. POR QUE FAZER LEVANTAMENTOS? Durante as últimas semanas, li vários relatos sobre resultados de levanta mentos em meu jomal local. Um deles foi um levantamento feito com eleitores da Califórnia, para medir sua preferência em relação a dois concorrentes à Pre sidência dos EUA. Outro foi um levantamento realizado em todo o Estado, com pais de crianças de 3 a 16 anos, para examinar suas preocupações a respeito de cuidado com as crianças e escolas. Um levantamento nacional feito com adoles centes relatou suas experiências com violência. Também deparei com levanta mentos no trabalho. Meu departamento realizou um levantamento com os re- cém-graduados no programa de mestrado, colhendo informações sobre empre go e percepções referentes a sua experiência no programa. Um de meus alunos terminou recentemente um levantamento com vítimas de violência doméstica, que viviam em dois abrigos locais, para medir sua experiência com a polícia. Finalmente, deparei com um levantamento em casa, quando minha esposa, que havia comprado um carro novo recentemente, recebeu um levantamento do fabricante solicitando sua avaliação sobre a qualidade do carro e o atendimento dado pelo vendedor. Levantamentos são, claramente, um método comum e im portante para estudar comportamento. Levantamentos fornecem uma metodologia para solicitar às pessoas que falem sobre si mesmas. Eles tomaram-se extremamente importantes, à medida que a sociedade passou a exigir dados sobre uma série de assuntos, não se satis fazendo com a intuição e com registros não sistemáticos. Meu departamento necessita de dados sobre os graduados para planejar mudanças no currículo. Fabricantes de automóveis querem dados sobre os compradores para avaliar e aumentar a qualidade do produto e a satisfação do consumidor. Sem coletar esses dados, ficamos totalmente dependentes das histórias que pudermos ouvir ou das cartas que um graduado ou consumidor possa vir a escrever-nos. Outros levantamentos podem ser importantes para ajudar legisladores ou agências go vernamentais a tomar decisões em termos de políticas públicas. Em pesquisa básica, muitas variáveis importantes são mais facilmente estudadas por meio de questionários ou entrevistas; exemplos incluem satisfação conjugal, comporta mentos sexuais e atitudes. 1 4 4 M étodos de P esquisa em C iências do C omportamento Freqüentemente, pensamos em dados de levantamentos como uma “foto grafia” do pensamento e dos comportamentos das pessoas em dado momento. No entanto, o método de levantamento também é um meio importante de pes quisadores estudarem relações entre variáveis e a mudança de atitudes e com portamentos no decorrer do tempo. Por exemplo, Steinberg e Dornbusch (1991) examinaram a relação entre o número de horas que estudantes secundaristas trabalham e variáveis tais como notas médias, uso de droga e álcool e distúrbios psicossomáticos. A amostra consistiu em 3.989 estudantes de segundo grau de nove escolas da Califórnia e de Wisconsin. Os pesquisadores constataram que “muitas horas de trabalho durante o ano escolar estão associadas com menor investimento e pior desempenho escolar, aumento de distúrbios psicológicos e somáticos, uso de drogas e álcool, delinqüência e autonomia em relação aos pais” (Steinberg; Dornbusch, 1991, p. 304). A Figura 7-1 mostra um resultado típico: freqüentemente, há alguns aspec tos positivos de trabalhar menos de 10 horas por semana (em oposição a não estar empregado); com base nesse ponto, no entanto, o aumento do número de horas de trabalho está associado a efeitos negativos progressivamente maiores. Fonte: “Correlatos negativos do trabalho em tempo parcial durante a adolescência”, de L. Steimberg e S. M. Dornbusch, 1991, Developmental Psychology, 27, p. 303-313. Direitos autorais © 1991 da Associação Americana de Psicologia. Reproduzido mediante autorização. Figura 7.1 Relação entre horas de trabalho e notas escolares. A pesquisa de levantamento também é importante para complementar os resultados da pesquisa experimental. No Capítulo 2, vimos que Winograd e Soloway (1986) realizaram experimentos sobre as condições que nos levam a P esquisa de Levantamento : U ma M etodologia para E stim u iar P essoas 1 4 5 esquecer o lugar no qual guardamos coisas. Para estudar esse assunto usando métodos de levantamento, Brown e Rahhal (1994) fizeram perguntas a adultos mais jovens e mais velhos sobre suas experiências reais em relação a guardar coisas e depois esquecer o local. Eles relataram que a demora dos adultos mais velhos para achar seus objetos é muito maior que a dos mais jovens; os adultos mais velhos escondem seus objetos de possíveis ladrões, enquanto os mais jovens escondem coisas de amigos e parentes. É interessante que a maioria dos objetos perdidos acaba sendo encontrada, em geral por acaso, em local anteriormente visitado. Essa pesquisa ilustra a necessidade, já enfatizada em capítulos anterio res, de métodos múltiplos para compreender qualquer comportamento. Uma suposição subjacente ao uso de questionários e entrevistas é a de que as pessoas estão dispostas e são capazes de dizer a verdade e de dar respostas acuradas. Os pesquisadores têm examinado essa questão estudando possíveis vieses na forma de as pessoas responderem. Uma predisposição de resposta é uma tendência a responder a todas as questões de uma perspectiva particular, em lugar de fornecer respostas diretamente relacionadas às questões. Assim, predisposições de resposta podem afetar a utilidade dos dados obtidos em auto- relatos. A predisposição de resposta mais comum é denominada conveniência social ou tendência a apresentar-se sob um “ângulo favorável”. Ela leva o indiví duo a responder de forma socialmente aceitável - da forma que ele acha que “a maioria das pessoas" responde ou que revela seus traços mais favoráveis. Conve niência social pode ser um problema em muitas áreas de pesquisa, mas prova velmente é mais acentuado quando as questões referem-se a assuntos delicados, tais como comportamento agressivo ou violento, abuso dedrogas ou práticas sexuais. Não deveríamos assumir, no entanto, que as pessoas sempre fornecem informações enganosas sobre si mesmas. Jourard (1969) sugeriu que as pessoas provavelmente mentem mais quando não confiam no pesquisador. Se o pesqui sador comunica aberta e honestamente os objetivos e usos da pesquisa, promete informar os resultados prontamente e assegura o anonimato, pode-se esperar que os participantes forneçam respostas honestas. Voltaremos agora a duas considerações importantes na pesquisa de levan tamento: as técnicas de amostragem e a construção de um instrumento de le vantamento. AMOSTRAGEM DE UMA POPULAÇÃO A maioria dos projetos de pesquisa envolve amostragem dos participantes de uma população. A população é composta por todos os indivíduos de interes se para o pesquisador. A população num grande levantamento de opinião pública, por exemplo, pode ser composta por todos os eleitores de um país em condições 1 4 6 M é to d o s de P e s q u isa em C iências d o C o m p o rta m e n to de votar. A população de interesse exclui menores de 18 anos, presos, visitantes estrangeiros e outras pessoas que não votam. O leitor pode realizar um levanta mento em que a população consiste em todos os estudantes de sua faculdade ou universidade. Com tempo e dinheiro suficientes, um pesquisador que realize um levantamento pode entrar em contato com todos os indivíduos que compõem a população. Os Estados Unidos tentam fazer isso a cada 10 anos, no censo oficial que envolve toda a população. Com uma população relativamente pequena, pode ser fácil estudar toda a população. Na maioria dos casos, no entanto, estudar a população total poderia ser um empreendimento exagerado. Felizmente, isso pode ser evitado pela seleção de uma amostra da população de interesse. Com uma amostragem apropriada, podem-se usar as informações obtidas dos participantes (ou “respondentes”), que foram amostrados, para estimar precisamente características da população toda. A teoria estatística permite inferir, com base nos dados obtidos, que a po pulação comporta-se como a amostra (o Capítulo 13 trata da lógica subjacente à inferência estatística). Intervalo de Confiança Quando os pesquisadores fazem inferências sobre populações, fazem isso com certo grau de confiança. A seguir, encontra-se uma afirmação que o leitor poderá encontrar em relatos dos resultados de um levantamento: “Os resultados do levantamento são acurados com uma diferença de três pontos percentuais, considerando-se um nível de confiança de 95%.” O que isso quer dizer? Suponha que o leitor pergunte a estudantes se preferem estudar em casa ou na escola e que 61% digam que preferem estudar em casa. Sabemos agora que os valores da população real provavelmente estão entre 58% e 64%. Isso é denominado inter valo de confiança - podemos ter 95% de confiança de que o valor real da popu lação situa-se dentro do intervalo em tomo do resultado amostrai obtido. O valor amostrai é sua melhor estimativa do valor populacional. No entanto, como somente dispomos de uma amostra e não da população inteira, os resultados podem conter erros. O intervalo de confiança fornece informação sobre a mag nitude do erro. O termo formal para esse tipo de erro é erro de amostragem. O conceito de erro de mensuração foi discutido no Capítulo 5 - quando se mede um único indivíduo numa variável, o escore obtido pode desviar do escore real em virtude de erro de mensuração. Da mesma forma, quando se estuda uma amostra, o resultado obtido pode desviar do valor real da população em virtude de erro de amostragem. Os resultados de levantamentos freqüentemente relatados em jornais e no exemplo anterior são expressos em percentagens. O que dizer sobre questões P esqutsa df. Levantamento: U ma M etodologia para E stimular P essoas 1 4 7 que demandam mais informações quantitativas? A lógica nesse caso é a mesma. Por exemplo, suponha que tenha perguntado a estudantes quantas horas e mi nutos estudaram no dia anterior. Suponha que o tempo médio de estudo relata do foi 76 minutos. Pode-se calcular um intervalo de confiança com base no ta manho da amostra; por exemplo, o intervalo de confiança de 95% pode variar entre 66 e 86 minutos. O valor real da população provavelmente situa-se nesse intervalo. Tamanho da Amostra É importante notar que o tamanho do intervalo de confiança diminui com o aumento do tamanho da amostra. Embora o tamanho do intervalo de confian ça seja determinado por vários fatores, o mais importante deles é o tamanho da amostra. A probabilidade de uma amostra grande fornecer dados que reflitam exatamente o valor real da população aumenta com o aumento do tamanho da amostra. O leitor pode compreender intuitivamente o sentido desta afirmação: uma amostra de 200 pessoas de sua escola deve fornecer dados mais acurados sobre sua escola do que uma amostra de 25 pessoas. Qual deveria ser o tamanho de uma amostra? Pode-se determinar o tama nho da amostra por meio de uma fórmula matemática que considere o tama nho do intervalo de confiança e o tamanho da população que está sendo estu dada. A Tabela 7.1 mostra o tamanho da amostra necessário para que uma percentagem da amostra seja acurada num intervalo de mais ou menos 3%, 5% e 10%, dado um nível de confiança de 95%. Note em primeiro lugar que há necessidade de aumentar o tamanho da amostra para aumentar a acuracidade. Se o tamanho da população for 10.000, precisamos de uma amostra de 370 para ter 5% de precisão da estimativa; o tamanho da amostra precisa aumen tar para 964 para que haja 3% de precisão da estimativa. É importante tam bém perceber que o tamanho da amostra não é uma percentagem constante do tamanho da população. Muitas pessoas acreditam que uma amostragem apropriada requer certa percentagem da população; essas pessoas freqüente mente reclamam dos resultados de levantamentos, quando descobrem que um levantamento de um Estado inteiro foi feito “apenas” com 700 ou 1.000 pes soas. No entanto, como se pode verificar na tabela, o tamanho de amostra necessário não muda muito, mesmo quando a população aumenta de 5.000 para 100.000 ou mais. Como diz Fowler (1984), “uma amostra de 150 pessoas descreve com praticamente o mesmo grau de acuracidade uma população de 1.500 ou 15 milhões” (p. 41). 1 4 8 M étodos de P esquisa em C iências do C om portam ento Tabela 7.1 Tamanho da amostra e precisão de estimativas da população (nível de confiança de 95%). Tamanho da população Precisão da estimativa ±3% ±5% ± 10% 2.000 696 322 92 5.000 879 357 94 10.000 964 370 95 50.000 1.045 381 96 100.000 1.056 383 96 > 100.000 1.067 384 96 Nota: O tamanho das amostras foi calculado com base em suposições conservadoras sobre a natureza dos valores reais da população. TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM Há duas técnicas básicas para amostrar indivíduos de uma população: amostragem probabilística e amostragem não probabilística. Na amostragem probabilística, cada membro da população tem uma probabilidade especificada de ser escolhido. A amostragem probabilística é muito importante, quando que remos fazer afirmações precisas sobre determinada população, com base nos resultados de um levantamento. Na amostragem não probabilística, não sabe mos qual é a probabilidade de um membro qualquer da população ser escolhido. Embora essa abordagem não seja tão sofisticada quanto a amostragem proba bilística, veremos que a amostragem não probabilística é bastante freqüente e útil em muitas circunstâncias. Amostragem Probabilística Amostragem randômica simples. Na amostragem randômica simples, cada membro da população tem a mesma probabilidade de ser selecionado para a amostra. Se a população tiver 1.000 membros, cada um tem uma chance em mil de ser selecionado. Suponhamos que o leitor queira amostrar os estudantes que freqüentam sua escola. Deve obter uma lista com os nomes de todos eles; dessa lista irá escolher randomicamente os que irão compor a amostra. Aorealizar entrevistas por telefone, os pesquisadores geralmente têm um computador que gera randomicamente uma lista de números de telefone, com P esquisa de Levantamento: U ma M etodologia para Estimular P essoas 1 4 9 os prefixos usados por residências na cidade ou na área do estudo. Isso produzi rá uma amostra randômica da população, porque a maioria das residências possui telefone (se houver muitas pessoas sem telefone, a amostra poderá ficar viesada). Algumas companhias inclusive fornecem aos pesquisadores uma lista com números de telefones para levantamentos, que exclui os números de telefo nes de empresas e os que não estão em uso. Esse procedimento resulta numa amostragem randômica de moradias e não de indivíduos. Pesquisadores que realizam levantamentos usam outros procedimentos, quando precisam selecio nar randomicamente uma pessoa na residência; por exemplo, podem usar um critério de seleção randômica, como “o adulto de sexo masculino mais velho da casa”. Amostragem randômica estratificada. Um procedimento um pouco mais complexo é a amostragem randômica estratificada. A população é dividida em subgrupos (ou estratos), utilizando-se então a técnica de amostragem randômica para selecionar membros para cada estrato da amostra. Pode-se usar qualquer número de dimensões para dividir a população, mas a dimensão (ou as dimen sões) escolhida deve ser relevante para o problema estudado. Por exemplo, um levantamento de atitudes sexuais poderia realizar a estratificação com base em idade, sexo e nível de escolaridade, porque esses fatores estão relacionados com atitudes sexuais. Fazer a estratificação com base em altura ou cor de cabelo seria ridículo. A amostragem randômica estratificada tem a vantagem de garantir que a amostra irá refletir acuradamente a composição numérica dos vários subgrupos. Esse tipo de precisão é particularmente importante quando alguns subgrupos significativos para o estudo representam uma parcela muito pequena da popu lação. Por exemplo, se os afro-americanos representam 5% de uma cidade com 100.000 habitantes, uma amostra randômica simples de 100 pessoas poderia ser composta sem incluir qualquer afro-americano, enquanto a amostra randômica estratificada incluiria cinco afro-americanos escolhidos randomicamente da po pulação. Na prática, quando é importante representar um grupo pequeno da população, os pesquisadores irão “superdimensionar” a amostragem desse gru po, para assegurar a inclusão de uma amostra representativa do grupo. Assim, se seu campus tiver uma distribuição semelhante à da cidade descrita aqui e se o leitor quiser comparar atitudes de afro-americanos e brancos, deverá amostrar uma porcentagem grande de estudantes afro-americanos e apenas uma percen tagem pequena de estudantes brancos, para obter um número razoável de respondentes de cada grupo. Amostragem por agrupamento. O leitor pode imaginar que a obtenção de uma lista de todos os membros de uma população pode ser difícil. O que fazer se os dirigentes de sua escola decidem não lhe fornecer a lista de todos os estudantes? O que fazer se esdver estudando uma população para a qual não existe uma lista 1 5 0 M étodos de P esquisa hm C iências do C om portamento de membros? Nessa situação, pode-se usar uma técnica denominada amostragem por agrupamento. Em lugar de realizar uma amostragem randômica de uma lista de indivíduos, o pesquisador pode identificar “agrupamentos” de indivíduos e, então, extrair uma amostra desses agrupamentos. Uma vez escolhidos os agrupa mentos, todos os indivíduos de cada agrupamento serão incluídos na amostra. Por exemplo, o leitor pode realizar o levantamento de estudantes por meio de uma amostragem por agrupamento, identificando todas as salas de aula - as salas de aula são os agrupamentos de estudantes. Poderá, então, selecionar amostras randômicas da lista completa de salas de aula e solicitar a todos os membros das salas escolhidas para responder a seu levantamento (certifique-se, naturalmente, de que ninguém responda ao levantamento duas vezes). Muito freqüentemente, o uso de uma análise de agrupamentos requer uma série de amostragens de agrupamentos maiores até menores - uma abordagem de “múltiplos estágios”. Por exemplo, um pesquisador interessado em estudar agências municipais de saúde pode, primeiro, determinar randomicamente vá rios Estados para amostrar e, então, amostrar randomicamente municípios de cada Estado escolhido. O pesquisador pode, então, ir até as agências de saúde, em cada um desses municípios, e estudar as pessoas que trabalham lá. Note que a principal vantagem da amostragem de agrupamentos é que o pesquisador não precisa fazer a amostragem com base em listas de indivíduos, para obter uma amostra de indivíduos realmente randômica.1 1 Quando o delineamento amostrai é de natureza probabilística, programas de análise estatística específicos podem ser utilizados para a estimação dos intervalos de confiança, tais como Sampling, Wesvar e Sudaan. Uma crítica sobre o uso de programas como esses, especificamente o SUDAAN, encontra-se em Pessoa et al. (1997) Análise estatística de dados de pesquisas por amostragem: problemas no uso de pacotes-padrão. Rmsta Brasileira de Estatística 58(210): 53-75. O software Sampling foi desenvolvido como parte de um projeto de pesquisa financiado pela FAPEMIG, uma instituição dc fomento à pesquisa do Estado de Minas Gerais. Sua estrutura foi concebida de modo a permitir que o usuário execute facilmente a análise estatística de dados por meio de métodos estatísticos que levem em consideração o procedimento amostrai utilizado na coleta desses dados. Esse programa funciona como um complemento do popular software estatístico “Minitab For Windows” (2000). Tal opção pela criação do Sampling como um complemento de outro software deve-se principalmente à grande difusão, baixo custo e facilidade de manipulação do “Minitab For Windows”. Sampling ê um programa muito simples de ser usado e funciona de forma totalmente interativa. Seu manuseio requer do usuário conhecimentos básicos sobre o “Minitab For Windows", além de, é claro, conhecimento das técnicas de amostragem. O programa funciona em um sistema de várias macros interligadas a uma macro mestre em que as informações são armazenadas. As perguntas são feitas passo a passo em uma seqüência lógica de análise. Por funcionar a partir do “Minitab”, o usuário, além dos recursos disponíveis no Sampling, tem a grande vantagem de desfrutar de todos os outros recursos estatísticos importantes a uma análise estatística, sem precisar sair do software. Em termos do espaço ocupado no disco rígido, o Sampling é bem econômico. P esquisa de Levantamento: U ma M etodologia para E stimular P essoas 1 5 1 Amostragem Não Probabilística As técnicas de amostragem não probabilística, por sua vez, são bastante arbitrárias. Pode-se definir uma população, mas despender pouco esforço para assegurar que a amostra representa acuradamente a população. No entanto, entre outras coisas, a amostragem não probabilística é barata e conveniente. Dois tipos de amostragem não probabilística são a amostragem acidental e a amostragem por quota. Amostragem acidental. Uma forma de amostragem não probabilística é a amostragem acidental ou upor conveniência”. Pode ser considerada um méto Tecnicamente, para obter uma boa performance, o programa requer no mínimo um computador com processador Pentium™ 100 e 16 MB de memória RAM. Cabe salientar que, no sistema Windows 95 (ou superior), a capacidade de armazenamento de dados é limitada apenas pela quantidade de memória disponível (“Minitab” versão 11.0 ou superior). Configurações inferiores podem ser utiliza das, porém o processamento toma-se mais lento. O programa também pode ser utilizado com versões anteriores do Minitab a partir da versão 10.0. Os procedimentos amostrais disponíveis no software Sampling são : • Amostragem Aleatória Simples com ou sem reposição. • AmostragemSistemática. • Amostragem Estratificada. • Amostragem do Tipo EP.S. • Amostragem por Conglomerados. • Amostragem em Dois ou Três Estágios - Subamostragem • Subamostragem Estratificada. • Pós- Estratificação. O software Sampling foi desenhado tendo a Amostragem Estratificada como seu procedimento amostrai base. Desse modo, as análises estatísticas para os casos em que se tem apenas uma amostra proveniente de um procedimento amostrai, como Amostragem Aleatória Simples, Amostragem Siste mática e Amostragem por Conglomerados, são obtidas como casos particulares da Amostragem Estratificada quando se tem apenas um estrato na população, o que significa dizer que o estrato é a própria população. A Amostragem do tipo RRS. é tratada como um caso particular da Subamostragem. De modo geral, o software Sampling permite ao usuário a estimação dos parâmetros populacionais (média, total e proporções) por meio dos métodos estatísticos não viciados usuais de estimação pontual e intervalar (Cochran, 1977) ou pelos métodos de Rázão e Regressão, e nesse caso a variância dos estimadores poderá ser obtida pelo método separado ou método combinado. A estimação por intervalo é executada para 4 diferentes valores do nível de signifícância a, isto é, 1,2,5, 5 e 10 %. Para a construção dos intervalos, é utilizada a distribuição t-Student para o caso de amostras pequenas (amostras com tamanho menor que 30 unidades amostrais) e a distribuição Normal para caso de amostras grandes. Nos módulos de Amostragem Aleatória Simples, Amostragem Sistemática e Amostragem Estratificada, o usuário também poderá proceder a uma análise descritiva de seus dados (opdonal) ou calcular o tamanho n da amostra necessário para obter uma precisão especificada a priori com a respectiva alocação ótima ou proporcional. Exemplos de uso do software Sampling estão apresentados na seção Como Fazer uma Análise (ND- 1 5 2 M étodos de P esquisa em C iências do C omportamento do para obter participantes do tipo “pegue-os onde puder encontrá-los”. Assim, o leitor poderia selecionar uma amostra de estudantes de sua escola segundo sua conveniência. Poderia parar diante do centro acadêmico às nove horas da manhã, pedir a colaboração das pessoas que sentam perto em sua classe ou visitar algumas repúblicas de estudantes. Infelizmente, é provável que esses pro cedimentos introduzam vieses na amostra, de tal forma que ela não será uma representação acurada da população de todos os estudantes. Assim, se o leitor selecionar sua amostra entre os estudantes que estiverem passando pelo centro acadêmico às nove horas da manhã, a amostra irá excluir estudantes que não freqüentam esse local e também poderá eliminar os que estudam à tarde e à noite. Em meu campus, essa amostra diferirá da população geral de estudantes, porque terá alunos mais jovens que trabalham menos horas e têm maior proba bilidade de viver em repúblicas. Amostras viesadas como essa limitam a possibi lidade de usar os dados amostrais para estimar os valores reais da população. Seus resultados podem não ser generalizáveis para a população pretendida, mas apenas descrever a amostra viesada obtida. Amostragem por quota. Outra forma de amostragem não probabilística é a amostragem por quota. Um pesquisador que usa essa técnica escolhe uma amostra que reflete a composição numérica de vários subgrupos na população. Assim, a amostragem por quota é semelhante ao procedimento de amostragem estratificada descrito anteriormente, mas não envolve amostragem randômica. A título de exemplo, suponhamos que o leitor deseje assegurar que sua amostra de estudantes irá incluir 19% de calouros, 23% de alunos do segundo ano, 24% de alunos do terceiro ano, 22% de formandos e 10% de graduados, porque essas são as percentagens das classes na população total. A técnica de amostragem por quota permite-lhe garantir que terá essa percentagem, mas ainda poderá coletar seus dados usando a técnica de amostragem acidental. Se não conseguir o número suficiente de formandos em frente ao centro acadêmico, poderá procurá-los em suas salas de aula para completar a amostra. Embora a amostragem por quota seja um pouco mais sofisticada que a amostragem aci dental, permanece o problema da ausência de restrições à forma de escolha dos indivíduos nos vários subgrupos. A amostra reflete a composição numérica da população toda de interesse, mas os respondentes dentro de cada subgrupo são selecionados de maneira acidental. AVALIAÇÃO DAS AMOSTRAS As amostras deveriam ser representativas da população da qual são extraí das. Uma amostra completamente não viesada é uma amostra muito representati va da população. Como criar uma amostra totalmente não viesada? Em primeiro P esquisa de Levantam ento : U ma M etodologia para E stimular P essoas 1 5 3 lugar, o leitor deve extrair randomicamente uma amostra de uma população, que contenha todos os indivíduos da população. Em segundo lugar, deve entrar em contato e obter respostas completas de todos os indivíduos selecionados para com por a amostra. É difícil atingir esses padrões. Mesmo se a amostragem for randômica, poderão surgir vieses de duas fontes: do referencial de amostragem usado e de baixas taxas de retomo. Além disso, apesar de as amostras não probabilísticas terem maiores fontes potenciais de viés em comparação com as amostras probabilísticas, há muitas razões para usá-las e avaliá-las positivamente. Referencial da Amostra O referencial da am ostra é a população real de indivíduos (ou agrupa mentos) da qual uma amostra randômica é extraída. Raramente, há coincidên cia perfeita com a população de interesse - alguns vieses serão introduzidos. Se o leitor definir sua população como “os moradores de sua cidade”, o referencial da amostragem pode ser uma lista de números de telefone usados para estabele cer contato entre 17 e 21 horas. Esse referencial exclui pessoas que não possuem telefone ou aquelas cuja agenda impede que estejam em casa na hora do telefo nema. Além disso, se o leitor usar a lista telefônica para obter números, irá excluir pessoas cujos números de telefone não constam da lista. Considere ainda outro exemplo. Suponhamos que queira saber o que médicos pensam sobre a forma como sua profissão é retratada pela televisão. Um referencial de amostragem razoável poderia ser todos os médicos relacionados na lista telefô nica. Imediatamente, o leitor verifica que limitou sua amostra a uma área geo gráfica. Poderia verificar ainda algo mais importante: limitou sua amostra aos médicos que têm consultórios particulares - excluiu médicos que atuam em clínicas e hospitais. Ao avaliar os resultados de seu levantamento, deverá consi derar quão bem a composição da amostra representa a população de interesse. Freqüentemente, os vieses introduzidos são pequenos; no entanto, eles podem ter conseqüências. Taxa de R etorno A taxa de retorno num levantamento é simplesmente a percentagem de pessoas da amostra que de fato respondeu ao levantamento. Assim, se o leitor enviar 1.000 questionários para uma amostra randômica de adultos de sua co munidade e receber 500 respostas de volta, a taxa de retomo é de 50%. A taxa de retomo é importante, porque indica o grau de viés que pode existir numa amos tra de respondentes. As pessoas que deixam de responder podem diferir das que respondem de muitas maneiras, incluindo idade, renda, estado civil e educação. 1 5 4 M étodos de P esquisa em C iências do C omportamento Quanto mais baixa a taxa de retorno, maior a probabilidade de esses vieses distorcerem os resultados e, assim, limitarem a possibilidade de generalização dos resultados para a população de interesse. Em geral, levantamentos enviados pelo correio têm taxa de retorno mais baixa em comparação com os feitos por meio de telefone. Com ambos os méto dos, no entanto, as taxas de retomo podem ser maximizadas, se seguirmos al guns passos. No caso de levantamentos feitos pelo correio, deve-se mandar um cartãoou uma carta explicativa uma semana antes de enviar o levantamento. Lembretes posteriores e mesmo uma segunda cópia do questionário muitas ve zes são eficientes em aumentar a taxa de retomo. Em geral, é conveniente acres centar um envelope selado pessoalmente endereçado em lugar de um envelope de resposta comercial. No caso de levantamentos por telefone, pode-se telefonar novamente para as pessoas que não estavam em casa e pode-se agendar um telefonema em horário mais conveniente para as que estavam ocupadas. Algu mas vezes, um incentivo pode ser necessário para aumentar a taxa de retorno. Tal incentivo pode incluir um pagamento em dinheiro, um presente ou um cer tificado de participação. Uma nota nova “em sinal de agradecimento” pode ser incluída junto com o questionário enviado pelo correio. Outro incentivo é a chance de concorrer a um prêmio. Finalmente, os pesquisadores deveriam tentar con vencer as pessoas de que o levantamento é importante e sua participação muito significativa. Razões para Usar Amostras de Conveniência Muitas das pesquisas em Psicologia usam técnicas de amostragem não probabilística para obter participantes, tanto em levantamentos quanto em ex perimentos. A vantagem dessas técnicas é que o investigador pode obter partici pantes sem gastar muito dinheiro ou tempo, selecionando um grupo amostrai específico. Por exemplo, é comum selecionar participantes entre alunos de cur sos introdutórios de Psicologia. Freqüentemente, esses alunos são convidados a participar de estudos que estão sendo realizados na faculdade por professores ou por estudantes; os alunos de cursos introdutórios de Psicologia podem então escolher os estudos dos quais desejam participar. Mesmo em estudos que não recrutam universitários, a amostra freqüente mente é selecionada por conveniência, em vez de ser selecionada em função da preocupação de obter uma amostra randômica. Um de meus colegas estuda crianças, mas elas quase sempre provêm de uma escola particular de primeiro grau. O leitor pode imaginar que isso se deve ao fato de meu colega ter estabele cido uma boa relação com os professores e com a direção, o que torna bastante fácil obter permissão para realizar a pesquisa. Embora a amostra seja algo P esquisa ub Levantamento: U ma M etodologia para E stim uiar P essoas 1 5 5 viesada, porque inclui somente crianças de um bairro, com certas característi cas sociais e econômicas, meu colega não está muito preocupado com isso. Por que os pesquisadores não estão mais preocupados em obter amostras randomizadas para suas pesquisas? A razão mais importante é que a pesquisa está sendo realizada para estudar relações entre variáveis mais do que para esti mar acuradamente valores da população. No estudo com estudantes do segun do grau, anteriormente citado (Steinberg; Dornbusch, 1991), a amostra incluiu somente estudantes de segundo grau da Califórnia e de Wisconsin. Os dados amostrais forneceram informações sobre o número médio de horas que esses estudantes trabalhavam e diversas outras variáveis. No entanto, os pesquisado res não estavam interessados em estimar precisamente o número de horas que adolescentes do país todo trabalham. Eles estavam mais interessados em saber se o número de horas que os adolescentes trabalhavam estava relacionado com variáveis como notas escolares e uso de álcool. A discussão desse assunto será aprofundada mais adiante, no Capítulo 14. Por enquanto, é importante reconhecer que algumas amostras não probabilísticas são mais representativas do que outras. A amostra estudada por Steinberg e Dornbusch parece ser bastante representativa dos adolescentes em geral do país. Os adolescentes são de apenas dois Estados, mas são provenientes de diferentes áreas geográficas e de diferentes escolas. Estudantes de cursos introdutórios de Psicologia são bastante representativos de estudantes universitários em geral, e a maioria das amostras de universitários é bastante representativa de adultos jovens. Não há muitos vieses óbvios, particularmente se estiverem sendo estuda dos processos psicológicos básicos. Outras amostras poderiam ser muito menos representativas da população pretendida. Há relativamente pouco tempo, um programa de televisão de uma rede local, que trata de temas de interesse públi co, solicitou que os telespectadores votassem, por telefone ou e-mail, contra ou a favor de uma medida de controle de armas que seria apreciada pelo Congresso. No programa seguinte, anunciaram que 90% dos respondentes eram contrários à medida. Os problemas de amostragem nesse caso são evidentes: grupos con trários ao controle de armas poderiam ter entrado imediatamente em contato com seus membros, incentivando-os a votar; além disso, não havia limites para o número de vezes que alguém podia votar. De fato, o programa recebeu cerca de 100 ligações a mais do que costumava receber em levantamentos desse tipo. E provável que esta amostra não fosse representativa da população da cidade ou mesmo dos telespectadores do programa. ELABORAÇÃO DAS PERGUNTAS Deve-se pensar bastante ao redigir perguntas para um levantamento. Esta seção descreve alguns dos fatores mais importantes que o pesquisador preciSEr considerar. 1 5 6 M étodos de P esquisa em C iências do C omportamento Definição dos Objetivos da Pesquisa A primeira coisa que o pesquisador deve fazer, ao elaborar perguntas para um levantamento, é explicitar os objetivos da pesquisa: O que deseja saber? As perguntas do levantamento devem estar vinculadas às perguntas a que a pes quisa visa responder. Muitas vezes, um levantamento perde foco, quando os pes quisadores começam a formular qualquer pergunta que lhes ocorre sobre um assunto, sem considerar exatamente a utilidade da informação que será obtida. Esse processo geralmente requer que o pesquisador decida o tipo de pergunta a ser formulada. Como vimos anteriormente, há três tipos gerais de perguntas para levantamentos (Judd; Smith; Kidder, 1991). Atitudes e crenças. Perguntas sobre atitudes e crenças focalizam a manei ra como as pessoas avaliam e pensam determinados assuntos. Deveriam ser gastos mais recursos com serviços de saúde mental? Você está satisfeito com a maneira como a polícia respondeu a seu chamado? Como você avalia este ins trutor? Fatos e dados demográficos. Questões factuais pedem às pessoas para dar informações sobre si mesmas ou sobre sua situação. Na maioria dos estudos, a descrição adequada da amostra exige a obtenção de informações demográficas. Informações tipicamente solicitadas são idade e sexo. Dependendo do tema do estudo, incluem-se perguntas sobre raça, renda, estado civil, emprego e número de filhos. Evidentemente, se o leitor estiver interessado em comparar grupos, como homens e mulheres, deve obter informações relevantes sobre o grupo a que o indivíduo pertence. No entanto, não tem sentido fazer uma pergunta se não houver razão real para utilizar o dado obtido. Outras informações factuais serão coletadas dependendo do tema de seu levantamento. Todos os anos, uma revista sobre direitos do consumidor envia- me perguntas sobre os reparos necessários em produtos que possuo, como carro e máquina de lavar louça. Questões factuais sobre doenças podem ser feitas e outras informações médicas podem ser solicitadas em levantamentos sobre saú de e qualidade de vida. Comportamentos. Outras questões de levantamentos podem focalizar com portamentos passados ou futuros. Quantas vezes na última semana praticou exercício físico durante mais de 20 minutos? Quantos filhos planeja ter? Já sen tiu depressão a ponto de não poder trabalhar? Formulação das Questões E preciso ter muito cuidado e formular as melhores questões para um le vantamento. Algumas considerações importantes são descritas a seguir. P esquisa dk Levantam ento: U ma M etodologia paka E stim u ia k P kssoas 1 5 7 Simplicidade. As questões formuladas num levantamento devem ser bas tante simples. As pessoas devemser capazes de entender e responder às pergun tas com facilidade. Evite jargões que as pessoas não compreendam. No entanto, algumas vezes pode ser necessário formular uma questão de forma um pouco mais complexa, para facilitar o entendimento. Em geral, isso ocorre quando é preciso definir um termo ou descrever um assunto antes de formular a pergun ta. Assim, antes de perguntar se uma pessoa aprova a Proposição J, provavel mente haverá necessidade de descrever brevemente o conteúdo do que está em votação. Questões ambíguas. Evite questões ambíguas em que se perguntam duas coisas ao mesmo tempo; por exemplo, uma questão como “deveriam ser conce didas mais verbas para centros recreativos e para programas de alimentação?” é difícil de responder, porque investiga duas atitudes potencialmente diferentes. Se estiver interessado nos dois assuntos, formule duas questões distintas. Questões tendenciosas. Uma questão tendenciosa induz a pessoa a res ponder de determinada maneira. Por exemplo, as perguntas “Você aprova a eli minação do desperdício no orçamento destinado à escola pública?” e “Você aprova a redução do orçamento destinado à escola pública?” provavelmente irão eliciar respostas diferentes. Questões tendenciosas freqüentemente incluem palavras que têm conotações emocionais negativas, tais como desperdício, imoral, perturbador ou perigoso. Esteja atento para questões tendenciosas. Formulação negativa. Evite formular questões de forma negativa. Consi dere a seguinte questão a título de exemplo: “A cidade não deveria aprovar a proposta de criação de abrigos para mulheres?” Concordar com essa questão significa discordar da proposta. Essa formulação pode confundir as pessoas e resultar em respostas incorretas. Uma formulação melhor seria: “A cidade deve ria aprovar a proposta de criação de abrigos para mulheres?” “Dizer sim” e “dizer não”. Se fizermos muitas perguntas sobre um assun to, pode-se manifestar uma predisposição de resposta. A pessoa pode concordar ou discordar sistematicamente. Denomina-se essa tendência “dizer sim” ou “di zer não”. O respondente pode estar expressando real concordância, mas, por outro lado, pode simplesmente estar concordando com qualquer coisa que seja dita. Uma forma de detectar uma predisposição de resposta desse tipo é formu lar questões de tal forma que a concordância consistente seja improvável. Por exemplo, num estudo sobre padrões de comunicação familiar, o pesquisador pode solicitar às pessoas que indiquem seu grau de concordância com as seguin tes afirmações: “Os membros da minha família passam muito tempo juntos” e “Passo a maioria de meus finais de semana com meus amigos”. Igualmente, uma medida de solidão (por exemplo, Russell, Peplau e Cutrona, 1980) formula algumas questões, de tal forma que a concordância significa que o respondente é solitário (“Eu me sinto isolado dos outros”), e outras com o significado inverso, 1 5 8 M étodos de P esquisa em C iências do C omportamento de tal forma que a discordância signifique solidão (por exemplo, “Eu me sinto parte de um grupo de amigos”). Embora seja possível que alguém possa de fato concordar com ambos os itens, concordar ou discordar consistentemente com um conjunto de questões relacionadas, expresso de forma padrão e de forma inversa, indica que o indivíduo está “dizendo sim” ou “dizendo não”. RESPOSTAS ÀS QUESTÕES Questões Fechadas Versus Questões Abertas As questões podem ser tanto abertas quanto fechadas. As questões fecha das apresentam um número limitado de alternativas de resposta, enquanto as questões abertas permitem que as pessoas respondam livremente. Assim, o leitor poderia perguntar a uma pessoa: “Qual é a coisa mais importante quando se trata de preparar uma criança para a vida?”, apresentando em seguida uma lista de problemas para serem escolhidos (uma questão fechada) ou deixar a questão aberta para a pessoa fornecer a resposta. O uso de questões fechadas é uma abordagem mais estruturada; a codificação é mais fácil e as alternativas de resposta são as mesmas para to dos. A categorização e a codificação das respostas dadas a questões abertas demandam tempo e, por isto, maior custo. Algumas vezes, uma resposta não pode ser categorizada, porque não tem sentido ou porque a pessoa não conse guiu pensar numa resposta. Além disso, uma questão aberta pode ser muito esclarecedora sobre o que as pessoas pensam. Questões abertas são mais úteis quando o pesquisador quer saber o que as pessoas pensam e como percebem naturalmente seu mundo; questões fechadas tendem a ser mais usadas quan do as dimensões das variáveis estão bem definidas. Schwars (1999) aponta que algumas vezes as duas abordagens podem le var a conclusões diferentes. Cita os resultados de uma pergunta sobre prepara ção de crianças para a vida. Quando “pensar por si mesmas” era uma alternati- va fechada, 62% escolheram esta opção; no formato aberto, no entanto, somen te 5% forneceram essa resposta. Esse resultado ilustra a necessidade de se co nhecer bem um assunto ao formular questões fechadas. Número de Alternativas de Respostas No caso de questões fechadas, há um número fixo de alternativas de respos tas. Em levantamentos de opinião pública, uma dicotomia simples “sim/não” ou “concordo/discordo” muitas vezes é suficiente. Na pesquisa mais básica, freqüen P esquisa de L evantamento: U ma M etodologia para E stim u ia r P essoas 1 5 9 temente é preferível apresentar várias alternativas para que as pessoas se expres sem - por exemplo, escalas de cinco ou sete pontos de “concordo fortemente a discordo fortemente” ou “muito positivo a muito negativo”.2 Por exemplo: Concordo fortemente Discordo fortemente Escalas de Avaliação Escalas de avaliação como a do exemplo anterior costumam ser usadas em muitas áreas de pesquisa. As escalas de avaliação solicitam que as pessoas fa çam julgamentos “de grau” em relação a várias dimensões - grau de concordân cia, preferência ou confiança, por exemplo. As escalas de avaliação podem assu mir muitos formatos diferentes. O formato usado depende de fatores como o assunto que está sendo investigado. Talvez a melhor maneira de garantir uma compreensão da variedade de formatos seja simplesmente examinar alguns exem plos. A escala mais simples e direta de avaliação apresenta às pessoas cinco ou sete alternativas de resposta, com rótulos para definir os extremos. Por exemplo, E necessário que estudantes universitários se submetam a um exame abrangente para que possam graduar-se. Concordo fortemente_____________ ____ Discordo fortemente Qual é seu grau de confiança na culpa do réu em relação à acusação de tentativa de assassinato? Nenhuma confiança___________________ Muita confiança Escala de avaliação gráfica. Uma escala de avaliação gráfica requer que a pessoa faça uma marca numa linha de 100 milímetros, com descrições nas ex tremidades da linha que funcionam como âncoras. Avalie o filme a que acabou de assistir. Muito tedioso____________________________________ / _ _____ Muito divertido Em seguida, posiciona-se uma régua sobre a linha para obter o escore na escala que varia de 0 a 10 0 . 2 Há um artigo que explora o processo cognitivo sobre questões fechadas com número fixo de alternativas: Dashen, M. e Flicker, S. (2001) Understanding the cognitive process of open-ended categorical questions and their effects on data quality. Journal of Official Statistics 17(4): 457-477 (NT). 160 M k i u d u s i»i. h-syu isA e m C iências do C omportamento Escala de diferencial semântico. A escala de diferencial semântico é uma medida do significado dc conceitos, que foi desenvolvida por Osgood e seus cola boradores (Osgood; Suei; Tannenbaum, 1957), Os respondentes avaliam qual quer conceito ~ pessoas, objetos, comportamentos, idéias - numa série de adje tivos bipolares, usando uma escala de sete pontos. Fumar cigarros Bom ____: _ _ _ : _ : ____: __ : ____ : _____Mau Forte _____ : ____: _ : _____: ______:____ : ____ Fraco Ativo ___ : ___ : ____ : ____: _____ : ____ : ____Passivo As pesquisas realizadas com o diferencial semântico têm mostrado que pra ticamente qualquer coisa pode ser medida por meio dessa técnica. Pode-se ava liar o que as pessoas pensam sobre coisas específicas (maconha), locais (centro acadêmico), pessoas (governador, prefeito), idéias (aborto, redução de impos tos) ou comportamentos (freqüentar a igreja, usar transporte público). Um con junto considerável de pesquisas mostra que os conceitos são julgados segundo três dimensões básicas: a primeira e mais importante é avaliação (por exemplo, adjetivos como bom-mau, sábio-tolo, bondoso-cruel); a segunda é atividade (por exemplo, ativo-passivo, lento-rápido, excitável-calmo) e a terceira é potência (por exemplo, fraco-forte, duro-mole, grande-pequeno). Escala não verbal para crianças. Crianças pequenas podem não ser capa zes de compreender os tipos de escalas descritos, mas são capazes de fazer ava liações. Por exemplo, o leitor pode solicitar a crianças apontar uma dessas faces exibindo sorrisos e caretas de desagrado. Aponte o rosto que mostra como você se sente a respeito do brinquedo: Atribuição de Rótulos bs Alternativas de Resposta Nos exemplos apresentados até aqui, apenas os extremos da escala de ava liação são rotulados. Os respondentes decidem o significado das outras alterna tivas de resposta. Essa ó uma abordagem razoável, e as pessoas geralmente são capazes de usnr essas escalas sem dificuldade. Algumas vezes, os pesquisadores precisam fornecer rótulos para definir melhor o significado de cada alternativa. Temos aqui uma alternativa bastante padronizada à escala concordo-discordo anteriormente apresentada: P esquisa de Levantamento: U ma M etodologia para E stimular P essoas 1 6 1 Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo fortemente fortemente Esse tipo de escala supõe que a alternativa do meio é um ponto “neutro", situado entre os extremos. Algumas vezes, no entanto, não é possível ou desejá vel ter uma escala perfeitamente balanceada. Considere uma escala em que uin professor universitário deve avaliar um estudante para um trabalho ou progra ma para graduados. Essa escala particular pede avaliações comparativas dos estudantes: Avalie o potencial de sucesso desse estudante, em comparação com outros graduados. abaixo 50% 25% 10% 5% da média melhores melhores melhores melhores Observe que a maioria das alternativas pede uma avaliação em termos do grupo de estudantes que representam os 25% melhores da turma. Isso é feito porque estudantes que se apresentam para esses programas tendem a ser bri lhantes e motivados e, assim, os professores os avaliam favoravelmente. A for mulação das alternativas tenta forçar um refinamento da avaliação, para dis tinguir os melhores entre os bons alunos. Rotular alternativas é particularmente interessante quando a pergunta diz respeito à freqüência de um comportamento. Por exemplo, pode-se perguntar “Qual é a freqüência com que pratica exercícios físicos durante mais de 20 mi nutos?” Que tipo de escala poderia ser usada para levar as pessoas a responder a esse tipo de pergunta? As alternativas poderiam ser (1) nunca, (2) raramente, (3) algumas vezes, (4) freqüentemente. Esses termos têm significado, mas são vagos. A seguir, encontra-se outro conjunto de alternativas, semelhantes às des critas por Schwarz (1999): ______ _ Menos de duas vezes por semana ______Cerca de duas vezes por semana ____ _ Cerca de quatro vezes por semana ____Cerca de seis vezes por semana ______Pelo menos uma vez por dia Outra escala possível é a seguinte: Menos de uma vez por mês Cerca de uma vez por mês Cerca de uma vez a cada duas semanas 1 6 2 M étodos de P esquisa em C iências do C om portam ento _____ Cerca de uma vez por semana _ _ _ _ Mais de uma vez por semana Schwarz (1999) denomina a primeira versão escala de alta freqüência, por que a maioria das alternativas indica alta freqüência de exercício. Denomina a segunda versão escala de baixa freqüência. Schwarz salienta que os rótulos de vem ser escolhidos com cuidado, porque as pessoas podem interpretar o significa do da escala diferentemente, dependendo dos rótulos usados. Se o leitor estivesse realmente fazendo perguntas sobre exercício, poderia escolher alternativas dife rentes das descritas aqui. Além disso, sua escolha poderia ser influenciada por fatores como a população estudada. Se estivesse estudando pessoas que praticam muito exercício, provavelmente teria de usar uma escala de freqüência mais alta do que se estivesse estudando pessoas que costumam fazer pouco exercício. FINALIZAÇÃO DO QUESTIONÁRIO Formatação do Q u estion ário A aparência de um questionário impresso deve ser atraente e profissional. O questionário deve ser bem digitado e não conter erros de ortografia. As pes soas devem ter facilidade em identificar as perguntas e as alternativas de respos ta. Deixe espaço suficiente entre as perguntas, para que as pessoas não fiquem confusas ao ler o questionário. Se utilizar uma escala com formato especial, como uma escala de avaliação de cinco pontos, use-a consistentemente. Não mude de uma escala de cinco pontos para uma de quatro pontos e depois para uma de sete pontos, por exemplo. Aconselha-se também cuidado na organização seqüencial das questões. Em geral, é melhor fazer as questões mais importantes e interessantes no início, para atrair a atenção e motivar a pessoa para responder ao levantamento até o final. Roberson e Sundstrom (1990) obtiveram taxas de retorno proporcional mente elevadas, num levantamento sobre atitudes de empregados, em que fize ram as questões importantes no início e solicitaram dados demográficos no fi nal. Além disso, questões sobre o mesmo assunto ou tema devem ser agrupadas. Procedendo dessa forma, seu levantamento terá uma aparência mais profissio nal e as pessoas estarão mais propensas a levá-lo a sério. Redefinição das Questões Antes de aplicar realmente o levantamento, convém apresentar as questões a um pequeno grupo de pessoas e pedir que “pensem alto” enquanto respondem. P tsy u isA de Levantamento: U m a M etodot.ogia para E stimular P essoas 1 6 3 Os participantes podem ser escolhidos na população que será estudada ou po dem ser amigos ou colegas que forneçam respostas razoáveis às questões. Para o procedimento de “pensar alto”, é preciso solicitar às pessoas que lhe digam como interpretam cada questão e como respondem às alternativas de resposta. Esse procedimento pode fornecer informações úteis para aprimorar as questões (o Capítulo 9 apresenta uma discussão adicional sobre a importância de estudos- piloto como este). a p l ic a ç ã o d e l e v a n t a m e n t o s Há duas maneiras de aplicar um levantamento. Uma é usar um questioná rio. Os respondentes lêem as questões e indicam suas respostas numa folha de respostas. A outra maneira é usar um formato de entrevista. Um entrevistador formula as perguntas e registra as respostas, numa interação verbal pessoal. Tanto questionários quanto entrevistas podem ser apresentados de várias ma neiras. Vamos examinar vários métodos de fazer levantamentos. Questionários No caso de questionários, as questões são apresentadas em formato escrito e os respondentes escrevem suas respostas. Há muitas características positivas no uso de questionários. Primeiro, em geral são mais baratos que as entrevistas. Também permitem o completo anonimato do respondente, quando não se soli citam informações que o identificam (por exemplo, nome, número da carteira de identidade ou número da carteira de motorista). No entanto, a aplicação de questionários requer que os respondentes sejam capazes de ler e compreender as questões. Além disso, muitas pessoas acham tedioso ficar sentadas sozinhas, lendo e respondendo a perguntas; assim, pode haver um problema de motiva ção. Podem-se aplicar questionários em grupo, pelo correio ou pela Internet. Aplicação em grupo.No caso de uma aplicação grupai, o pesquisador distribui os questionários para um grupo de indivíduos. O grupo pode ser com posto por estudantes reunidos numa sala de aula, por pais que comparecem a uma reunião na escola dos filhos ou por pessoas recém-admitidas num emprego que comparecem ao local de trabalho para receber orientação sobre suas atri buições. Uma vantagem dessa abordagem é que os participantes estão “cativos”, sendo mais provável que respondam completamente ao questionário, uma vez que tenham começado. Além disso, o pesquisador está presente para responder a possíveis dúvidas que as pessoas tenham. Levantamentos pelo correio. Podem-se enviar levantamentos pelo cor reio, para o endereço residencial ou comercial dos indivíduos selecionados para 1 6 4 M é to d o s d e P e s q u isa f.m C iên c ias d o C o m p o rta m e n to 1 compor a amostra, e esta é lima forma econômica de entrar em contato. No entanto, a desvantagem desse formato é a baixa taxa de retorno. É fácil colocar o questionário de lado e esquecê-lo em função das inúmeras outras tarefas que as pessoas têm de realizar, em casa e no trabalho. Mesmo que as pessoas come cem a preencher o questionário, alguma coisa pode ocorrer para distraí-las ou, então, podem-se aborrecer e simplesmente jogar o questionário no lixo. Alguns métodos, anteriormente descritos, usados para aumentar a taxa de retorno, po dem ser úteis. Outra desvantagem á a ausência de alguém para ajudar, caso a pessoa fique confusa ou tenha algo a perguntar. Levantamentos pela Internet. É muito fácil planejar um questionário para ser aplicado via Internet. Podem-se usar tanto questões abertas quanto fecha das. Quando a pessoa termina de responder ao questionário, envia suas respos tas imediatamente para o pesquisador. Um primeiro problema a considerar é a composição da amostra. Em geral, levantamentos pela Internet estão relaciona dos em setores de busca e, dessa forma, os interessados num assunto podem descobrir que alguém está coletando dados a respeito. Alguns dos principais institutos de pesquisa estão construindo bancos de dados de pessoas interessa das em participar de levantamentos. Sempre que realizam um levantamento, selecionam uma amostra do banco de dados e enviam por e-mail um convite para participação. A Internet também facilita a obtenção de amostras de pes soas com características particulares. Há toda sorte de grupos com interesses especiais na Internet, grupos dirigidos para indivíduos com doenças particula res, classificados por idade e estado civil, profissão e assim por diante. Os grupos com interesses especiais usam grupos de divulgação de notícias, de discussão via e-mail e salas de bate-papo, para trocar idéias e informações. Os pesquisadores podem convidar pessoas que usam esses recursos para participar de suas pesqui sas. Uma preocupação em relação a dados obtidos pela Internet diz respeito à similaridade dos resultados obtidos em comparação com os obtidos por métodos convencionais. Embora ainda haja relativamente poucas pesquisas sobre esse assunto, os dados disponíveis indicam que os resultados obtidos via Internet são comparáveis aos obtidos por métodos convencionais (Krantz; Ballard; Scher, 1997; Stanton, 1998). Entrevistas O fato de uma entrevista envolver uma interação entre pessoas tem uma implicação importante. Primeiro, as pessoas freqüentemente estão mais propen- sas a concordar em responder a perguntas feitas por uma pessoa real do que em responder a um questionário enviado pelo correio. Os entrevistadores adquirem habilidade em convencer pessoas a participar. Assim, as taxas de retomo tendem a ser mais altas quando se usam entrevistas. O entrevistador e o entrevistado P esquisa de Levantamento: U ma M etodologia para E stimular P rssoas 1 6 5 freqüentem ente estabelecem um bom contato inicial, que motiva a pessoa a responder a todas as perguntas e a completar o levantamento. É mais provável que as pessoas deixem perguntas sem resposta num questionário que devem preencher por escrito do que numa entrevista. Uma vantagem importante de uma entrevista é a possibilidade de o entrevistador esclarecer eventuais dúvidas que surjam. Além disso, um entrevistador pode fazer perguntas adicionais se considerá las necessárias para ajudar a esclarecer as respostas. Um problema potencial em relação a entrevistas é denominado viés do entrevistador. Esse termo descreve todos os vieses que podem surgir do fato de o experimentador como um ser humano único estar interagindo com outro ser humano. Um problema potencial é a possibilidade de o entrevistador interferir sutilmente nas respostas do entrevistado em conseqüência de sinais inadverti dos de aprovação ou desaprovação para certas respostas. Outro problema de corre das expectativas que os entrevistadores podem ter, levando-os a “ver o que procuram” nas respostas do entrevistado. Essas expectativas podem viesar suas interpretações das respostas ou podem levá-los a aprofundar as respostas de certos entrevistados, mas não de outros ~ por exemplo, ao questionar brancos, mas não pessoas de outros grupos ou ao testar meninos, mas não meninas. A seleção cuidadosa e o treino dos entrevistadores ajuda a limitar esses vieses. Examinaremos agora três métodos para realizar entrevistas: face a face, por telefone e com grupo focal. E ntrevistas face a face. As entrevistas face a face requerem que o entrevistador e o entrevistado se encontrem. Em gerai, o entrevistador vai à casa da pessoa ou a seu escritório, embora algumas vezes o participante vá ao escritório do entrevistador. Essas entrevistas tendem a ser caras e a con sumir muito tempo. No entanto, costumam ser usadas quando a amostra é pequena e a interação face a face tem benefícios claros. Entrevistas por telefone. Quase todas as entrevistas para levantamentos em larga escala são feitas por telefone. Entrevistas por telefone são mais baratas do que as face a face e permitem a coleta relativamente rápida de dados, porque vários entrevistadores podem trabalhar ao mesmo tempo. Técnicas compu tadorizadas de levantamento de dados por telefqne reduzem os custos de levanta mentos por telefone, reduzindo o trabalho e os custos da análise de dados. Com um sistema de entrevista por telefone com suporte de computador (ETSC), as perguntas do entrevistador são enviadas para a tela do computador, e os dados são introduzidos no computador para análise. Entrevistas de grupo focal. Um grupo focal é uma entrevista com um grupo de cerca de seis a dez indivíduos, geralmente reunidos por um período de duas a três horas. Praticamente, qualquer assunto pode ser explorado num gru po focal. Freqüentemente, os membros do grupo são selecionados por ter um 1 6 6 M étodos de P f.sqihsa f.m C iências do C omportamento conhecimento ou interesse particular no assunto. Como o grupo focal requer que as pessoas gastem tempo e algum dinheiro para ir ao local de reunião do grupo, costuma-se dar algum tipo de incentivo monetário ou um presente aos participantes. As perguntas tendem a ser abertas e são feitas ao grupo todo. Uma vantagem é a possibilidade de interação do grupo; as pessoas podem responder umas para as outras, e um comentário pode provocar uma variedade de respostas. O entrevistador deve ter habilidade para trabalhar com grupos, tanto para faciliLar a comunicação quanto para lidar com problemas que possam surgir, tais como uma ou duas pessoas tentando dominar a discussão ou existência de hostilidade entre membros do grupo. Costuma-se gravar a discussão, o que permite transcrição posterior. As fitas e transcrições são então analisadas para encontrar temas de consenso e de discordância entre os membros do grupo. Podem-se analisar as transcrições com a ajuda de um programa de computador para localizar certas palavras e frases. Os pesquisadores geralmente preferem formar pelo menos dois ou três grupos para discutir um assunto, para garantir que a informaçãoobtida não seja uma pecu liaridade de um grupo de pessoas. No entanto, como cada grupo focal custa tem po e dinheiro e fornece uma grande quantidade de informações, os pesquisadores não formam muitos grupos para discutir um mesmo assunto. LEVANTAMENTOS PLANEJADOS PARA ESTUDAR MUDANÇAS AO LONGO DO TEMPO Os levantamentos costumam ser planejados para estudar pessoas num ponto específico do tempo. Muitas vezes, no entanto, os pesquisadores desejam fazer comparações ao longo do tempo. Por exemplo, no município em que vivo, um jornal local contratou uma empresa para realizar levantam entos anuais randomizados dos moradores. Como as perguntas são as mesmas todos os anos, é possível examinar mudanças ao longo do tempo em variáveis tais como satis- fação com a área ou atitudes em relação ao sistema escolar e problemas do município considerados importantes. Da mesma forma, as universidades fazem levantamentos com um grande número de calouros todos os anos, no país todo, para estudar mudanças na composição, nas atitudes e nas aspirações desse gru po (Astin, 1987). Freqüentemente, os pesquisadores testam hipóteses sobre como o comportamento muda ao longo do tempo. Por exemplo, Sebald (1986) compa rou levantamentos feitos com adolescentes em 1963, 1976 e 1982. Perguntou-se aos adolescentes quem procuravam para pedir conselho a respeito de diferentes assuntos. A principal descoberta foi o aumento da busca de conselhos com os companheiros em lugar dos pais de 1963 para 1976, mas diminuição do papel orientador dos companheiros de 1976 para 1982. P esquisa de Levantam ento: U ma M etodologia para E stimular P essoas 1 6 7 Outra maneira de estudar mudanças ao longo do tempo é realizar um es tudo de painel, em que a mesma pessoa é pesquisada, em dois ou mais pontos, ao longo do tempo. Num estudo de painel de “duas ondas”, as pessoas são pesquisadas em dois pontos no tempo, no de “três ondas” há três levantamentos e assim por diante. Estudos de painel são particularmente úteis quando a ques tão de pesquisa focaliza a relação existente entre uma variável “num primeiro tempo” e outra variável, “num segundo tempo”. Por exemplo, Hill, Rubin e Peplau (1976) realizaram um levantamento com casais que estavam iniciando um rela cionamento, para estudar variáveis tais como similaridade de atitudes. As mes mas pessoas foram pesquisadas mais tarde, para determinar se ainda manti nham o relacionamento e, em caso afirmativo, quão satisfeitas estavam com o relacionamento. Os resultados mostraram que a similaridade de atitudes, medi da num primeiro tempo, é um preditor da duração do relacionamento. O leitor dispõe agora de uma grande quantidade de informações sobre métodos para estimular pessoas a falar sobre si mesmas. Se realizar uma pesqui sa desse tipo, é recomendável que siga as orientações descritas neste capítulo e que consulte outras fontes, tais como Judd et al. (1991) e Converse e Presser (1986), para elaborar suas próprias questões. No entanto, o leitor poderá tam bém adaptar questões e questionários inteiros utilizados em pesquisas anterio res. Por exemplo, Greenfield (1999) estudou o novo fenômeno da adição à Internet, adaptando perguntas com base em um grande número de pesquisas existentes sobre adição a jogo. Considere o uso de perguntas anteriormente desenvolvidas, em especial se forneceram dados úteis em outros estudos. (No entanto, certifi que-se de não estar violando direitos autorais.) Robinson e colaboradores com pilaram diversas medidas de atitudes sociais, políticas e profissionais, desenvol vidas por outros autores (Robinson; Athanasiou; Head, 1969; Robinson; Rusk; Head, 1968; Robinson; Shave; Wrigtsman, 1991). Vimos no Capítulo 4 que tanto o método experimental quanto o método não experimental são necessários para compreender plenamente o comporta mento. Os dois capítulos anteriores focalizaram as abordagens não experimen tais. No próximo capítulo, iremos descrever detalhadamente o planejamento de pesquisas experimentais. Termos Estudados _____ _________________ _____ _____ _ Amostragem Amostragem acidental (por conveniência) Amostragem não probabilística Amostragem por agrupamento Amostragem por quota 1 6 8 M étodos de P esquisa em C iências do C om portamento Amostragem probabilística Amostragem randômica estratificada Amostragem randômica simples Aplicação grupai de levantamentos Entrevista face a face Entrevista por telefone Entrevista por telefone com suporte de computador (ETSC) Escala de alta freqüência Escala de avaliação Escala de avaliação gráfica Escala de diferencial semântico Estudo de painel Grupo focal Intervalo de confiança Levantamento pela Internet Levantamento pelo correio Pesquisa de levantamento População Predisposição de resposta Predisposição para “dizer sim” e para “dizer não” Questões abertas Questões fechadas Referencial da amostragem Taxa de retorno Viés do entrevistador Questões de Revisão ___________________________________ 1. O que é um levantamento? Descreva algumas questões de pesquisa que podem ser investigadas por meio de um levantamento. 2. Diferencie técnicas de amostragem probabilística e não probabilística. Quais são as implicações de cada uma? 3. Diferencie amostragem acidental e amostragem por quota. P esquisa de Levantamento: U ma M etodologia para E stimular P essoas 1 6 9 4 . Diferencie am ostragem randômica sim ples, randôm ica estratificada e por agrupam ento. 5 . Por que pesquisadores interessados em testar hipóteses sobre relações entre variáveis não se preocupam m uito em realizar am ostragem randômica? 6. Quais são as vantagens e as desvantagens do uso de questionários versus entrevistas num levantamento? 7. Diferencie os vários m étodos de aplicação de um levantam ento: questioná rio, entrevista e Internet. 8. Que fatores devem ser considerados na elaboração de perguntas para um levantamento (incluindo perguntas e alternativas de resposta)? 9 . Defina viés do entrevistador. 10. O que é predisposição de resposta de conveniência social? 11. Como o tamanho da amostra afeta a interpretação dos resultados de um levantamento? Atividades______________________________ ____________ 1. No estudo de Steinberg e Dornbusch (1991) sobre trabalho de adolescentes (ver Figura 7.1), aumento das horas de trabalho estava associado a redu ção das notas escolares. Podemos concluir que trabalhar mais tempo causa redução das notas? Por que sim ou por que não? Como se poderia expandir essa investigação mediante um estudo de painel? 2. Escolha um assunto para levantamento. Elabore pelo menos cinco questões fechadas que possam ser incluídas no levantamento. Para cada questão escreva uma versão “boa” e uma versão “precária”. Para cada questão pre cária, indique os elementos que a prejudicam e justifique as vantagens da versão “boa”.