Buscar

O_nascimento_da_Museologia_confluencias

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 268 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 268 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 268 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

90 ANOS DO
MUSEU HISTÓRICO
 NACIONAL 
em debate (1922-2012) A 
o completar noventa anos de existência, o Museu Histórico Nacional (MHN) se 
vê inserido na dinâmica do mundo moderno, afinado com as demandas do seu 
tempo. O desafio da produção e divulgação do passado em diferentes suportes, 
como as exposições e as publicações, nos impulsiona a estabelecer diálogos cada 
vez mais amplos e constantes com a sociedade, de um modo geral, e as instituições de cultura, 
ensino e pesquisa, mais especificamente.
O Seminário Internacional é um dos principais espaços de realização desses diálogos. 
Com edição anual, sempre em outubro, momento em que o MHN comemora seu aniversário 
de inauguração, reúne professores, pesquisadores, técnicos, profissionais das mais diversas 
áreas do conhecimento, estudantes e público geral para apresentação de trabalhos, debates 
e reflexões sobre diversos assuntos, desde os ligados à história e à museologia até os mais 
específicos, relacionados a alguma data comemorativa. O evento de 2012 não poderia deixar 
de ser dedicado aos noventa anos de criação do MHN, por um longo tempo também chamado 
Casa do Brasil.
Realizado entre os dias 1 e 3 de outubro de 2012, o Seminário Internacional 90 anos 
do Museu Histórico Nacional em debate (1922-2012) não se dedicou apenas à análise da 
trajetória institucional do museu. Conforme mostra a organização do livro e o programa do 
evento a que o leitor terá acesso nesta publicação, houve a preocupação em abordar o 
momento histórico no qual o MHN foi criado, as iniciativas que antecederam e sucederam à 
sua criação em ações pioneiras, como a preservação do patrimônio – com a Inspetoria de 
Monumentos Nacionais, entre 1934 e 1937 –, bem como as que significaram uma continuidade 
de iniciativas pioneiras do MHN – como a Escola de Museologia da Universidade Federal do 
Estado do Rio de Janeiro (Unirio), oriunda do Curso de Museus criado no MHN em 1932.”
90 ANOS DO MUSEU 
HISTÓRICO NACIONAL
em debate (1922-2012)
Organizadores:
ALINE MONTENEGRO MAGALHÃES
RAFAEL ZAMORANO BEZERRA
Colaboradores:
ANGELA DE CASTRO GOMES
RUTH LEVY
CESAR ORNELLAS
JOSÉ NEVES BITTENCOURT
VERA LÚCIA BOTTREL TOSTES
ADLER HOMERO FONSECA DE CASTRO
SUELY MORAES CERAVOLO
RODRIGO CANTARELLI
ALINE MONTENEGRO
LETÍCIA JULIÃO
LEILA BIANCHI AGUIAR
MÁRCIA CHUVA
CÊÇA GUIMARAENS
IVAN COELHO DE SÁ
BRUNO BRULON
LUCIANA MENEZES DE CARVALHO
HENRIQUE DE VASCONCELOS CRUZ
A marca “Livros do Museu His-
tórico Nacional” surgiu na oca-
sião das comemorações dos 80 
anos de fundação do MHN. A 
produção editorial da Instituição 
sempre foi elevada e referên-
cia nos estudos sobre História, 
Museologia e Patrimônio. Nes-
te sentido, a edição anual dos 
Anais do Museu Histórico Na-
cional, o lançamento dos Livros 
dos Seminários Internacionais e 
a intensificação da publicação 
de catálogos e obras sobre o 
acervo, bem como o livro que 
ora apresentamos ao público 
leitor, vêm manter a tradição 
editorial do MHN como local 
de produção e divulgação do 
conhecimento científico. Sem 
alterar a tradição de qualidade 
de conteúdo dos livros e peri-
ódicos lançados pela Institui-
ção, a marca “Livros do Museu 
Histórico Nacional” representa 
uma interface de comunicação 
da Instituição com a sociedade.
Vera Lúcia Bottrel Tostes
Diretora do MHN
9
0
 A
N
O
S
 D
O
 M
U
S
EU
 H
IS
TÓ
R
IC
O
 N
A
C
IO
N
A
L
 em
 debate (1
9
2
2
-2
0
1
2
)
90 ANOS DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL
em debate (1922-2012)
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL
RIO DE JANEIRO | 2014
90 ANOS DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL
em debate (1922-2012)
Presidenta da República 
Dilma Vana Rousseff
Ministra da Cultura
Marta Suplicy
Instituto Brasileiro de Museus
Presidente Angelo Oswaldo de Araújo 
 Santos
Museu Histórico Nacional
Diretora Vera Lúcia Bottrel Tostes
Livros do Museu Histórico Nacional
Editor Vera Lúcia Bottrel Tostes
90 anos do Museu Histórico Nacional 
 em debate (1922-2012)
Organização
Aline Montenegro Magalhães
Rafael Zamorano Bezerra
Revisão
Fernanda Maria Santos Silveira e 
Cristina Loureiro de Sá
Diagramação
Avellar e Duarte Serviços Culturais
Produção Editorial
Avellar e Duarte Serviços Culturais
M188 
90 anos do Museu Histórico Nacional em debate / organização: Aline Montenegro 
 Magalhães, Rafael Zamorano Bezerra – Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2014. 
 272 p. : il.; 22,5 cm. – (Livros do Museu Histórico Nacional)
 Livro baseado no Seminário Internacional: 90 anos do Museu Histórico Nacional em debate 
(1922-2012), de 01 a 03 de outubro de 2012.
 ISBN: 978-85-85822-20-0
 1. Museus. 2. Memória. 3. Patrimônio. 4. Coleções. 5. Museologia. 
 I. Título. II. Magalhães, Aline Montenegro. III. Bezerra, Rafael Zamorano. IV. Série.
CDD 069
As opiniões e conceitos emitidos nesta publicação são de inteira responsabilidade de seus autores, 
não refletindo necessariamente o pensamento do Museu Histórico Nacional. 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte e para fins não comerciais. 
90 ANOS DO
MUSEU HISTÓRICO
 NACIONAL 
em debate (1922-2012) 
Sumário
APRESENTAÇÃO
Apresentação
Vera Lúcia Bottrel Tostes
página 7
Os museus e a modernização: o lugar dos 
seminários internacionais do MHN
Aline Montenegro Magalhães e Rafael Zamorano Bezerra
página 10
VISÕES SOBRE 1922
O contexto historiográfico de criação do Museu 
Histórico Nacional: cientificidade e patriotismo 
na narrativa da história nacional
Angela de Castro Gomes
página 14
O Rio e a Exposição do Centenário
Ruth Levy
página 31
Evocações sobre o Morro do Castelo: de berço da 
cidade a obstáculo ao progresso
Cesar Augusto Ornellas Ramos
página 49
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL – 
HISTÓRIA, ACERVO
Fazendo história em um museu de história –
Noventa anos de aquisição e interpretação no 
Museu Histórico Nacional
José Neves Bittencourt
página 72
O Museu Histórico Nacional e seu conjunto 
arquitetônico: preservação e resgate
Vera Lúcia Bottrel Tostes
página 95
O poder político vem do cano de uma arma
Adler Homero Fonseca de Castro
página 109
MUSEUS E PATRIMÔNIO
A Inspetoria Estadual de Monumentos Nacionais 
do estado da Bahia: do discurso à ação (1927-
1938)
Suely Moares Ceravolo
página 122
Um prelúdio pernambucano: a inspetoria de 
monumentos entre 1928 e 1930
Rodrigo Cantarelli
página 143
De objetos de notável valor a monumentos 
históricos: a letra e a ação preservacionista da 
Inspetoria de Monumentos Nacionais (1934-1937)
Aline Montenegro Magalhães
página 157
Museus e a preservação do patrimônio no Brasil
Letícia Julião
página 173
Projetos nacionais de preservação do patrimônio: 
promoção, divulgação e turismo nos sítios 
urbanos patrimonializados durante a gestão de 
Rodrigo Mello Franco de Andrade
Leila Bianchi Aguiar
página 187
Para descolonizar museus e patrimônio: refletindo 
sobre a preservação cultural no Brasil
Márcia Chuva
página 195
DO CURSO DE MUSEUS À ESCOLA DE 
MUSEOLOGIA – 80 ANOS
Institucionalização das práticas museológicas: 
oitenta anos do Curso de Museus
Ivan Coelho de Sá
página 221
ANEXO
Programa do Seminário Internacional 90 anos 
do Museu Histórico Nacional em debate (1922-
2012)
página 262
Cultura e diversidade: patrimônio e museus na 
urbs contemporânea
Cêça Guimaraens
página 209
O nascimento da Museologia: confluências e 
tendências do campo museológico no Brasil
Bruno Brulon Soares, Luciana Menezes de Carvalho e Henrique de 
Vasconcelos Cruz
página 242
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 99
APRESENTAÇÃO
Apresentação
Vera Lúcia Bottrel Tostes*
Ao completar noventa anos de existência, o Museu Histórico Nacional (MHN) se vê inserido na dinâmica do mundo moderno, afinado com as demandas do seu tempo. O desafio da produção e divulgação do passado em diferentes suportes, como as exposições e as publicações, nos impulsiona a estabelecer diálogos cada vez mais amplos e constantes com a sociedade, de um modo 
geral, e as instituições de cultura, ensino epesquisa, mais especificamente.
O Seminário Internacional é um dos principais espaços de realização desses diálogos. Com 
edição anual, sempre em outubro, momento em que o MHN comemora seu aniversário de 
inauguração, reúne professores, pesquisadores, técnicos, profissionais das mais diversas áreas do 
conhecimento, estudantes e público geral para apresentação de trabalhos, debates e reflexões sobre 
diversos assuntos, desde os ligados à história e à museologia até os mais específicos, relacionados a 
alguma data comemorativa. O evento de 2012 não poderia deixar de ser dedicado aos noventa anos 
de criação do MHN, por um longo tempo também chamado Casa do Brasil.
Realizado entre os dias 1 e 3 de outubro de 2012, o Seminário Internacional 90 anos do 
Museu Histórico Nacional em debate (1922-2012) não se dedicou apenas à análise da trajetória 
institucional do museu. Conforme mostra a organização do livro e o programa do evento a que o 
leitor terá acesso nesta publicação, houve a preocupação em abordar o momento histórico no qual 
* Museóloga. Diretora do Museu Histórico Nacional. Professora da Escola de Museolgia da Unirio.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL1010
o MHN foi criado, as iniciativas que antecederam e sucederam à sua criação em ações pioneiras, 
como a preservação do patrimônio – com a Inspetoria de Monumentos Nacionais, entre 1934 e 
1937 –, bem como as que significaram uma continuidade de iniciativas pioneiras do MHN – como 
a Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), oriunda do 
Curso de Museus criado no MHN em 1932. 
Nessa perspectiva, o presente livro foi organizado em dossiês temáticos que procuraram 
acompanhar o curso de realização do seminário. Em Visões sobre o ano de 1922 apresentamos 
o artigo da conferência de abertura proferida por Angela de Castro Gomes sobre o contexto 
historiográfico desse momento. Sendo o MHN um lugar de escrita de história, nada mais 
enriquecedor do que contrapor Gustavo Barroso, seu primeiro diretor, com os autores e as 
concepções de história do tempo de sua criação. Em seguida, Ruth Levy assina um estudo sobre 
a Exposição Comemorativa do Centenário da Independência, cujo conjunto arquitetônico sob 
o qual o MHN foi criado figurou entre os pavilhões, o das Grandes Indústrias. Cesar Augusto 
Ornellas Ramos, nas suas Evocações do Morro do Castelo..., analisa a história deste que, 
considerado o berço da cidade do Rio de Janeiro, após uma grande polêmica que teve lugar na 
imprensa, veio abaixo justamente em 1922.
O dossiê Museu Histórico Nacional – história, acervo apresenta os artigos de José Neves 
Bittencourt, uma análise sobre os noventa anos de trajetória institucional, um texto de minha 
autoria sobre a preservação do conjunto arquitetônico que abriga o MHN, um estudo de Adler 
Homero Fonseca de Castro sobre nossa coleção de canhões.
O seguinte trata do assunto Museus e patrimônio. Contém trabalhos de Suely Ceravolo 
sobre a Inspetoria de Monumentos da Bahia, e de Rodrigo Cantarelli a respeito da Inspetoria de 
Monumentos de Pernambuco – ambas criadas na década de 1920, em âmbito estadual, que só 
agora têm recebido atenção devida dos estudiosos. Em seguida, Aline Montenegro escreve sobre a 
Inspetoria de Monumentos Nacionais, analisando o descompasso entre sua legislação e sua ação. 
Letícia Julião aborda o papel dos museus na história da preservação do patrimônio nacional. Já 
no âmbito do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual Instituto do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Leila Bianchi Aguiar analisa a relação entre a 
preservação do patrimônio cultural das cidades ditas “históricas” e o desenvolvimento do turismo, 
e Márcia Chuva propõe uma reflexão sobre a atribuição de valor aos objetos de museus, focando o 
Museu das Missões no Rio Grande do Sul como um estudo de caso. Fechando este dossiê temos o 
artigo de Cêça Guimaraens, uma análise sobre o papel dos museus no espaço urbano.
Do Curso de Museus à Escola de Museologia é dedicado à análise do ensino da museologia 
no Brasil, iniciativa pioneira na América Latina, levada a cabo no Museu Histórico Nacional com 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 11
a criação do Curso de Museus em 1932. Voltado para formar profissionais especializados para o 
trabalho nos museus, os então chamados conservadores, o curso funcionou no MHN até 1979, 
quando foi transferido para a Universidade do Rio de Janeiro (Unirio),2 onde, até hoje, como Escola 
de Museologia, forma museólogos que atuam em diversas instituições no Brasil e no exterior. 
Neste último dossiê contamos com dois artigos que analisam a trajetória do Curso de Museus e 
suas transformações. Um de autoria do professor Ivan Coelho de Sá e outro dos autores Bruno 
Brulon, Luciana Menezes de Carvalho e Henrique de Vasconcelos Cruz.
A todos que colaboraram com esta edição, em especial aos autores, o nosso agradecimento por 
enviarem generosamente seus estudos. Graças a essa contribuição é possível a leitura crítica dos 
noventa anos da trajetória do Museu Histórico Nacional e da história dos museus e da preservação 
do patrimônio no Brasil. 
Parabéns à Escola de Museologia pelos oitenta anos existência! Parabéns ao Museu Histórico 
Nacional pelos noventa anos de atividades ininterruptas. Que o dinamismo e a troca continuem 
sendo as marcas dessas duas instituições exemplares. 
A todos que nos leem, desejamos boas reflexões!
2 Atual Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL1212
Os museus e a modernização: o lugar dos seminários 
internacionais do MHN
Aline Montenegro Magalhães*
Rafael Zamorano Bezerra**
Em uma época em que diversos museus tornaram-se centenários, ou próximos disso, fala-se 
muito sobre o papel a ser ocupado por essas instituições em um futuro próximo, marcado pelo 
advento das tecnologias de informação e pelas crescentes demandas por uma democracia mais 
participativa e plural, em termos sociais e étnicos. Comenta-se, especialmente, sobre a necessidade 
de modernização das instituições museológicas, a fim de adaptarem-se à realidade contemporânea. 
Nesse aspecto, duas imagens de modernização são recorrentes no campo museológico e vamos 
chamá-las aqui, improvisadamente, de “modernização tecnológica” e de “modernização política”.
A “modernização tecnológica” pode ser pensada em dois aspectos. O primeiro diz respeito ao 
acesso à informação, que se torna mais eficiente na medida em que a tecnologia melhora e agiliza 
a produção e a recuperação de dados sobre o acervo museológico, a partir da indexação de temas 
e de periodizações, das catalogações, dos inventários e dos demais dispositivos de controle da 
ciência da informação. O segundo aspecto é o expográfico, em que exposições virtuais, recursos 
multimídia, aplicativos para smartphones, monitores touch screen nos circuitos expositivos e 
todas as inovações das primeiras décadas do século XXI são incorporados como recurso didático 
e interativo a fim de atrair público e aproximar a linguagem museográfica às novas tecnologias de 
informação e comunicação (TICs).
A sociedade contemporânea é marcada pela proliferação de dispositivos digitais, como jogos, 
tablets, mobiles, entre outros. Neste contexto, os museus poderiam ser um contraponto a esse modelo 
de sociedade: um lugar onde crianças e jovens pudessem desenvolver uma melhor noção do tempo 
* Historiadora e coordenadora da pesquisa no Museu Histórico Nacional. Doutora em História Social (PPGHIS/UFRJ). Professora na 
Universidade Estácio de Sá e pesquisadora associada do PROARQ/UFRJ.
** Historiador no Museu Histórico Nacional (MHN/Ibram). Doutor em História Social (PPGHIS/UFRJ).
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 13
OS MUSEUS E A MODERNIZAÇÃO: O LUGAR DOS SEMINÁRIOS INTERNACIONAIS DO MHN
ao conhecer objetos estranhos ao seu cotidiano, outrora tão úteis como os dispositivos digitais 
atuais. O objeto antigo, nessa perspectiva, pode se tornar uma novidade, e os museus não devem ter 
receio de serem locais decoisas velhas. É conhecida, no meio museológico, a história de um jovem 
que, ao ver uma máquina de escrever, exclamou: “Nossa! Um computador que imprime ao mesmo 
tempo em que digitamos!” O contato com artefatos de outros tempos suscita curiosidade, instiga 
a imaginação e provoca questionamentos inocentes, como o do filho pequeno do historiador Marc 
Bloch que arguiu o pai sobre a utilidade da História, questão que foi o mote para suas clássicas 
reflexões sobre o ofício do historiador,1 ou as inquietações do personagem do filme do aclamado 
diretor alemão Werner Herzog, sobre a história de Kaspar Hauser, um adolescente do século XIX 
que cresceu num porão escuro sem nunca ter tido contato com outros homens, mas que ao ser 
“civilizado” fazia questionamentos inocentes e inquietantes, improváveis de serem elaborados por 
alguém enquadrado nos padrões de sociabilidade de sua época.2 Tais perguntas, passíveis de serem 
provocadas por meio dos objetos nas exposições, levam a crer que o espetáculo da tecnologia por 
si mesma não traz grandes avanços aos museus em termos expográficos. 
A “modernização tecnológica” nos parece ser mais útil quando é usada como ferramenta para 
a formulação de novas perguntas e para a ampliação do acesso à informação sobre o acervo, sua 
divulgação pública e gratuita para pesquisa, assim como para a melhora da qualidade e da agilidade 
nas consultas.
Outra imagem é a “modernização política” e diz respeito às transformações no uso político dos 
museus, como espaços de consagração da memória e de produção de esquecimento. Trata-se de 
discursos museográficos visando ao “resgate”, à celebração ou à rememoração das memórias que 
foram oprimidas, esquecidas ou apagadas no jogo político da dominação, no qual a produção de 
memórias é uma das principais estratégias de poder.
Os museus sempre tiveram um papel fundamental nas ideologias políticas, na construção das 
identidades nacionais e no sentimento de pertencimento a uma história, sociedade, comunidade 
ou nação. Os tradicionais museus nacionais, como o MHN, serviram durante anos como templo 
da história-memória3 nacional, onde os grandes homens e suas realizações eram celebrados. A 
história-memória construída nesses museus vincula-se às elites nacionais e aos seus interesses, 
deixando grande parte da população e suas manifestações culturais fora do cânone estabelecido 
pelas elites. É claramente um museu suscetível ao uso político e ideológico.
1 BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
2 O ENIGMA de Kaspar Hauser [título em alemão: Jeder für sich und Gott gegen alle]. Direção Werner Herzog. Produção: Henning Von 
Gierke. Intérpretes: Bruno Schleinstein, Walter Ladengast e outros. Roteiro: Werner Herzog, Jakob Wassermann. Alemanha: 1974. DVD.
3 NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Projeto história. Revista do programa de estudos de Pós-graduação 
em História e do Departamento de História. São Paulo, n.10, p. 7-29, 1981.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL14
ALINE MONTENEGRO MAGALHÃES E RAFAEL ZAMORANO BEZERRA
A contraproposta a esse museu, que se revela em algumas ocasiões em processos que estamos 
chamando aqui de “modernização política”, inverte o jogo, porém usa a mesma estratégia. Nele, 
o elemento minoritário e historicamente excluído do cânone é representado em objetos díspares 
e ordinários, que remetem ao homem comum, o chamado “povo”. Embora essas propostas 
apresentem um caráter democratizante da memória, uma vez que incorporam segmentos 
marginalizados da memória nacional, estão sujeitas às oscilações políticas, características do 
revezamento de poder das democracias.
A construção de qualquer identidade pressupõe um processo de exclusão e inclusão. Os espaços 
ideais para tais construções são as festas e feiras populares, práticas musicais e esportivas, rituais 
religiosos etc., em suma, as manifestações culturais mais espontâneas e orgânicas e, portanto, 
menos suscetíveis às influências políticas dos grupos de poder, como ocorre nas instituições 
públicas de memória. Por isso, consideramos que os museus, principalmente os museus nacionais, 
como o Museu Histórico Nacional ou o Museu Nacional de Belas Artes, deveriam se distanciar 
das responsabilidades de serem os “representantes da diversidade cultural brasileira”, “guardiães 
da memória nacional” ou os “representantes da nossa identidade”, como se afirma enfaticamente. 
Em outras palavras, os museus devem se distanciar do papel de serem lugares de construção 
de memória e identidade, para se tornarem espaços privilegiados para o estudo da construção e 
transformação dos “lugares de memória” e das identidades nacionais. Assim, as funções básicas 
de um museu (preservação, comunicação e pesquisa) , deveriam ser orientadas por objetivos 
muito claros, baseadas em linhas de pesquisa, com suas escolhas divulgadas e problematizadas em 
ações educativas, artigos acadêmicos publicados em periódicos etc. Assim, os museus atuariam na 
promoção de um pensamento crítico sobre os processos de construção de identidade, memória e 
esquecimento, cujo caminho seria orientado, de acordo com seu acervo, historicidade e público-
alvo, assumindo assim o caráter de laboratório da história,4 constituindo-se em locais de produção 
e reflexão crítica, e não somente espaços de celebração e afirmação de identidades.
Claramente, o trabalho de pesquisa seria primordial. Não somente a pesquisa aplicada, voltada ao 
levantamento de dados e à autenticação de acervo. Essa pesquisa é fundamental e necessária. Porém, 
acreditamos que a pesquisa científica e acadêmica deveria ter um espaço estratégico na atividade 
museológica. Apesar de várias ciências terem se desenvolvido nos museus, como a mineralogia, a 
botânica, a antropologia, a arqueologia e a própria museologia, ao longo dos anos as pesquisas científica e 
acadêmica foram esvaziadas da grande maioria dos museus, que aos poucos foram sendo deslegitimados 
como lugares de produção de conhecimento, papel assumido atualmente por universidades, centros de 
4 MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Do teatro da memória ao laboratório da história: a exposição museológica e o conhecimento histórico. 
Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 2, n. 1, p. 9-42, 1994 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
47141994000100002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19. mar. 2014.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 15
OS MUSEUS E A MODERNIZAÇÃO: O LUGAR DOS SEMINÁRIOS INTERNACIONAIS DO MHN
pesquisa e museus ligados à área de ciência, tecnologia e inovação. Isso se estrutura no próprio 
planejamento da gestão pública de vários museus federais, que, vinculados ao Ministério da Cultura, 
não são enquadrados, tampouco reconhecidos, como instituições de ciência e tecnologia. Ao se 
posicionarem apenas como instituições de representação de identidades, entretenimento e turismo, os 
museus acabam por se tornar instituições mais políticas do que científicas, portanto mais suscetíveis 
às disputas e às pressões por representação e memória, que se tornam aspectos limitadores nas 
políticas de aquisição de acervo, nas pesquisas e nos projetos educativos e de exposição. 
Assim, consideramos que o que chamamos aqui de “modernização tecnológica” e de 
“modernização política” deveriam ser baseadas no fortalecimento da pesquisa aplicada, científica 
e acadêmica, promovendo uma rede entre as atividades do chamado “tripé museológico”. Ou seja, 
os museus deveriam ter linhas de pesquisa vinculadas às políticas de aquisição de acervos e aos 
programas educativos e de exposições, tornando a instituição museológica uma interface entre 
o conhecimento técnico, científico e escolar e a sociedade. Um museu nacional, por exemplo, 
poderia, em vez, de se propor a representar o nacional, ser um espaço de reflexão e pesquisa sobre 
as representações da nação ao longo dos anos, não pensando nelas como algo essencial, mas sim 
como algo negociado, inventado, disputado e construídodia após dia. Linhas de pesquisa também 
poderiam ser criadas a partir das características tipológicas e semânticas dos objetos em coleções, 
atualizando os tradicionais estudos de cultura material, como a heráldica, a numismática e a 
ourivesaria, disciplinas fundamentais à classificação e identificação de determinados artefatos. Isso 
não implica o retorno à museologia tradicional, voltada ao estudo das coleções e dos objetos, mas 
uma retomada de tais conhecimentos, buscando neles as técnicas necessárias a um trabalho mais 
objetivo e mais bem embasado das coleções. 
Esses processos de modernização deveriam incluir publicações científicas e de divulgação, no 
formato de anais, revistas ou jornais, com avaliação científica baseadas em sistemas de arbitragem 
por pares e indexadas nas bases nacionais e internacionais de divulgação científica. Esse trabalho de 
produção e divulgação daria lastro ao caráter científico dos museus e aos estudos de suas coleções, 
sendo as publicações umas das interfaces entre os museus, as universidades e os centros de pesquisa.
Portanto, o seminário internacional 90 anos do Museu Histórico Nacional em debate (1922-
2012), e a publicação dos artigos relativos aos temas apresentados no evento, constituem espaços 
nos quais as propostas de modernização baseadas em pesquisas científicas e acadêmicas se mostram 
viáveis por possibilitarem a reunião de trabalhos especializados sobre as práticas preservacionistas 
e museológicas a partir da celebração dos 90 anos de existência do MHN. Ou seja, a experiência 
desse seminário mostra a viabilidade de se usar uma data comemorativa para promover a produção, 
a troca e a divulgação do conhecimento.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL16
VISÕES SOBRE 1922
O contexto historiográfico de criação do Museu Histórico 
Nacional: cientificidade e patriotismo na narrativa da 
história nacional
Angela de Castro Gomes*
Inicio agradecendo o honroso convite a mim dirigido pelo Museu Histórico Nacional (MHN), 
em data tão significativa, atribuindo-o à admiração e ao carinho que tenho pela instituição, o que 
espero ter demonstrado em eventos anteriores, sempre enriquecedores. Certamente, contrariando 
as expectativas do público, inicio declarando que as reflexões que se seguirão querem ser modestas, 
mas honestas. Por isso, não pretendo trazer nada de propriamente novo, e muito menos fazer 
qualquer incursão sobre a história desse prestigioso museu, uma vez que estaria ensinando missa 
ao vigário. Dessa forma, é bom começar explicando que tais considerações têm como ponto de 
partida uma preliminar que precisa ficar clara para resguardar as escolhas da conferencista. 
Essa preliminar diz respeito ao desafio contido em um convite para se falar sobre o ano de 1922, 
uma vez que ele é considerado o momento de “início” da história do MHN. De fato, tal ano já se 
consolidou em nossa memória histórica como uma data simbólica dos processos de transformação 
pelos quais passava o Brasil, após três décadas de República. O ano de 1922 é, antes de tudo, 
lembrado como o das comemorações do Centenário da Independência, que, para ser devidamente 
assinalado, envolveu mais uma das grandes reformas urbanas que a capital federal vivenciou no 
século XX. Desenhado o cenário, a grandiosidade do evento repercutiu em todo o país e também 
no exterior como um marco da nacionalidade que afirmava sua grandeza econômica e cultural, e 
não apenas suas belezas naturais. É a esse monumental acontecimento, e não por acaso, que estão 
ligadas diversas iniciativas políticas – públicas e privadas – de teor memorial, como o retorno dos 
restos mortais do imperador Pedro II, ainda em 1921; as grandes festas promovidas em São Paulo 
em torno do Museu Paulista ou do Ypiranga, que assume sua face histórica; a própria criação do 
* Professora Titular da Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre e doutora pelo Iuperj. Pesquisadora 1A do CNPq.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 17
O CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DE CRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: CIENTIFICIDADE E PATRIOTISMO 
NA NARRATIVA DA HISTÓRIA NACIONAL
Museu Histórico Nacional; e também a abertura do Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, 
outra instituição voltada para a história pátria. Tudo isso, além de outras festividades ocorridas nos 
estados, ainda pouco contempladas pelas pesquisas acadêmicas, ao contrário das aqui citadas.
Mas 1922 foi igualmente o ano da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, cujos 
desdobramentos são duradouros e decisivos para a cultura brasileira, embora não tenham sido 
tão imediatos. O movimento modernista, que foi plural e não só paulista, articulava-se a uma 
série experimentações culturais, em especial vivenciadas no Rio de Janeiro, ainda que com outros 
formatos e diapasão. Unindo essa multiplicidade de propostas modernizadoras e como uma questão 
comum o desejo de transformar a sociedade e a cultura brasileiras mediante estratégias que podiam 
ser: ou mais nacionalistas ou mais internacionalistas; ou mais ligadas às vanguardas estéticas da 
época ou mais inclinadas a um diálogo com a tradição do país, o que evidenciava a variedade de 
projetos modernistas existentes e sua competição por espaço no campo político e cultural. 
Se não bastasse, 1922 foi também o ano da fundação do Partido Comunista do Brasil, o PCB, 
que não tinha então nem organização nem condição de produzir maior impacto na vida política, 
sendo lembrado, nessa enumeração, muito mais em função de uma visão teleológica de sua própria 
história, ou talvez da história do anticomunismo no Brasil, ambas responsáveis por profundas 
marcas na cultura política republicana do século XX. Ainda no campo político, o ano de 1922 e 
os seguintes assinalaram a irrupção de inúmeros movimentos de propaganda nacionalista, bem 
como de rebeldia política, civil e militar, entre os quais o maior destaque é o chamando movimento 
tenentista, que teve papel central na eclosão da Revolução de 1930 e nos acontecimentos do imediato 
pós-1930. Nesse caso, de modo amplo e geral, essas são mobilizações que criticam duramente a 
face política da experiência Primeira República, cada vez mais considerada fracassada, não só em 
sua prática (a violência nas eleições, o voto de cabresto, as fraudes no reconhecimento dos eleitos), 
como principalmente em seus princípios, já que o liberalismo, cada vez mais identificado com o 
federalismo, via-se atacado e desacreditado. 
Além disso, a década de 1920 é assinalada pela organização da Associação Brasileira de 
Educação (ABE), em 1924, que deu suporte institucional às ideias da Escola Nova, outro movimento 
de caráter político-cultural que queria modernizar o país por meio de um instrumental sólido e 
seguro: a educação de seu povo, a começar pela da “infância”. Os anos 1920 são igualmente os da 
menos lembrada, porém não menos importante, reforma da Constituição, ocorrida em 1926, que 
apontava para uma tendência de fortalecimento da União perante os estados, já que evidenciava a 
realização de ajustes ao modelo de liberalismo e federalismo adotado pela Constituição de 1891. 
A essa altura está absolutamente claro que seria uma temeridade e quase inutilidade insistir em um 
tipo de exposição com tal objetivo, pela dimensão e pela profundidade que exigiria. 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL18
ANGELA DE CASTRO GOMES
Assim, tal percurso foi realizado como preliminar para se chegar a uma observação de fundo. 
A de que é no contexto dos anos 1920 – marcado por esse grande conjunto de eventos que luta pela 
modernização do país e, ao mesmo tempo, vai realizando efetivamente essa modernização –, que a 
Primeira República começa a “envelhecer”. Ou seja, quero destacar essa dupla direção do processo 
de mudança político-social que se vivia, combinando projetos de modernização em vários campos 
– política constitucional, movimentos sociais, artes plásticas, literatura, educação, ciência etc. – e, 
não paradoxalmente, pela mesma razão, fortalecendo o diagnóstico de que a Primeira República 
estava não só comprometida, precisandose reformar ou “se republicanizar”, como estava igualmente 
ultrapassada em seus princípios e arquitetura. Por essa última avaliação, tornava-se uma república 
indesejada, e, por tal motivo, outro modelo devia ser articulado e experimentado como seu reverso. 
No caso, um modelo antiliberal e de teor crescentemente autoritário. Quer dizer, o que os anos 
1920 trazem de distinto, considerando-se as críticas que a Primeira República vinha recebendo há 
décadas, é que, para boa parte dos políticos e intelectuais, não se tratava mais de pensá-la na ótica 
de um “horizonte de expectativas” liberal, capaz de se aperfeiçoar; mas sim de um novo horizonte 
que se devia abrir, segundo os novos parâmetros que circulavam internacionalmente, dando a ver 
outro tipo de futuro para os projetos de modernização do Brasil. Como se sabe, nesses momentos 
da história, dependendo do futuro imaginado, os atores do presente que por ele lutam olham para 
o passado com lentes diferentes, dependendo dos objetivos que querem alcançar, ou seja, do grau 
e do tipo de mudanças que desejam implementar. Por isso, podem colocar-se como herdeiros de 
suas tradições, respeitando e valorando seu legado; ou podem apresentar-se como uma ruptura, 
como um ponto zero, que precisa se separar desse passado, até mesmo negando-o radicalmente, em 
qualquer dimensão de positividade.
Foi nesse tempo de extrema riqueza de produção de ideias e da crença em sua realização, 
foi nessa ambiência sociocultural que abrigava novas iniciativas de construção de futuros e de 
passados que o MHN foi criado. Um tempo de possibilidades e de incertezas políticas, evidenciado 
pelos embates que passam a recorrer às armas e não apenas às palavras. É certamente devido aos 
avanços dessa perspectiva historiográfica, que acentua a ebulição e indeterminação dessa década, 
valorando a experiência dos atores políticos, que os anos da Primeira República vêm passando 
por uma espécie de revival. Dessa forma multiplicam-se o número de historiadores e cientistas 
sociais que se dedicam a estudar seus diferentes aspectos, assinalando a riqueza do período. Nesse 
amplo e novo conjunto de trabalhos, observa-se que a Primeira República tem sido retomada em 
uma chave distinta daquela que a consagrou como uma república “velha”. Cada vez mais procura-
se desnaturalizar esse “adjetivo”, que data justamente dos anos 1920, consagrando-se no Estado 
Novo. Nomear fatos, personagens etc. nada tem de ingênuo, comportando classificações repletas 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 19
O CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DE CRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: CIENTIFICIDADE E PATRIOTISMO 
NA NARRATIVA DA HISTÓRIA NACIONAL
de juízos de valor, como a antropologia de Levi Strauss e a história dos conceitos de Koselleck 
nos advertem. Por isso, essa nova literatura destaca a historicidade desse vocabulário, as batalhas 
de memória que ele evidencia, refletindo sobre as razões de sua duração e de seu deslizamento do 
campo da luta político-ideológica dos anos 1920/1940 para os livros acadêmicos e escolares das 
décadas de 1950 e seguintes. Para além do enfrentamento dessa questão, tais estudos investem no 
universo de debates e de movimentos políticos, sociais e culturais então ocorridos para demonstrar a 
riqueza de possibilidades que se abria aos múltiplos projetos existentes, apontando para a dimensão 
da participação política e não mais se atendo apenas ao espaço da representação política, mesmo 
considerando-se seus limites. Enfim, a Primeira República, com destaque os anos 1920, é um campo 
fértil e aberto a pesquisas, não podendo ficar aprisionada pela expressão República Velha. 
O que os trabalhos mais recentes também ressaltam é que havia entre eles, ao menos, um ponto 
em comum. As circunstâncias eram as do pós-Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa, como 
fatos conhecidos e consumados. Naquela época, nenhum intelectual duvidava de que o mundo se 
transformara radicalmente, e que nunca mais seria o mesmo. Os modelos políticos conhecidos 
estavam abalados; os nacionalismos, alguns radicais e xenófobos, na ordem do dia; e as demandas 
pela extensão de direitos políticos e sociais crescendo, e anunciando a realidade do que então se 
chamava sociedade de massas. Os tempos eram de crise, e categorias como decadência e atraso 
passavam a circular no vocabulário político internacional e nacional de modo intenso. Tempos 
de crise são tempos de modernização nos quadros mentais e políticos de um país, praticamente 
impelidos a imaginar projetos de futuro. Pelo mesmo motivo, tempos de crise são tempos de 
incursões ao passado.
 No caso do Brasil, vale lembrar que a virada do século XIX para o XX fora marcada pela abolição 
da escravatura e pela instalação do regime republicano, que exigiram a criação (ou recriação) de 
uma história e memória nacionais, segundo os parâmetros de uma cultura política republicana, 
que tinha de investir em novos símbolos, rituais, festas e heróis nacionais para sua legitimação. A 
Primeira República e os anos 1920, com as comemorações do Centenário da Independência, são, 
assim, um período estratégico para a conformação de uma escrita da história no e do Brasil, bem 
como para a delimitação do perfil do historiador, o que só poderia acontecer por meio de debates e 
disputas sobre o que é e para que “serve” a História, como modo de conhecimento das sociedades. 
Foi em razão dessa longa preliminar e das duas questões anteriormente mencionadas, que 
minha opção foi fugir dos anos 1920 e me deslocar para as décadas anteriores, situando alguns 
debates que demarcam uma história da história do Brasil e que, a meu ver, conectam-se diretamente 
com o clima cultural e historiográfico de criação do MHN. Um museu que devia ser, por definição, 
uma instituição cultural destinada a narrar a história da nação brasileira, e só poderia fazê-lo em 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL20
ANGELA DE CASTRO GOMES
articulação com os parâmetros do que se entendia e praticava como saber disciplinar de sua época. 
Assim, escolhi autores e textos que me propiciassem situar o que se dizia nesse campo de fronteiras 
ainda tão fluidas sobre o status e o valor do conhecimento histórico, relacionando-o com a temática 
da educação, em especial por meio de uma literatura voltada para um público mais amplo, no qual 
se destacam as crianças. Começo, portanto, com uma questão central para os historiadores do fim 
do século XIX e da primeira metade do XX: a da cientificidade e “utilidade” da História.1
 *
 Considerando o caráter disciplinar da História, arduamente construído a partir do século 
XVIII (para alguns estudiosos) e vitorioso no século XIX (para todos os historiadores), a primeira 
parte de meu percurso ressalta alguns parâmetros no interior dos quais a cientificidade dessa 
disciplina foi sendo pensada no Brasil republicano, no contexto de suas primeiras décadas. Para 
isso recorro aos discursos ocorridos à sombra da instituição de consagração dos historiadores desde 
meados do século XIX: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Mais precisamente, 
à contribuição apresentada pelo jurista e historiador Pedro Lessa, quando aceito como sócio, pois 
ela tem algumas características preciosas para os fins de minha reflexão.
 O trabalho que Lessa apresentou tinha como título “Reflexões sobre o conceito da História” e, 
segundo nota que o precedeu no número da Revista do IHGB que o publicou em 1908, já aparecera 
“alhures”. A intenção da Comissão de Redação que o examinara era permitir sua leitura “aos que 
não puderam ainda apreciar as esclarecidas considerações sobre o conceito de História e aos que 
desejarem de pronto relê-las.”2 Na verdade, esse ensaio fora produzido para outra situação. Na 
capa do folheto que o divulgara isoladamente tinha outro título – “É a História uma ciência?” –, 
seguido do esclarecimento: “O estudo reproduzido nesse opúsculo foi escrito e publicado como 
introdução à História da civilização na Inglaterra, de Buckle, traduzida para o vernáculo pelo Sr. 
AdolfoJ. A. Melchert.”3 Quer dizer, por motivos pessoais, embora membro do IHGB desde 1901, 
só foi possível a Pedro Lessa tomar posse em 10 de junho de 1907. Na oportunidade, o mineiro, 
1 Esse texto foi escrito para ser lido como uma conferência, beneficiando-se, em especial nessa parte, do livro: GOMES, A. C. A República, 
a História e o IHGB. Belo Horizonte: Fino Traço, 2009 (segunda impressão).
2 O texto está publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, t. 69, v. 114, 1906, p. 193-285 (publicado em 1908). O 
discurso de posse de Pedro Lessa está na RHIGB, t. 70, v. 116, 1907, p. 716-22 (publicado em 1908).
3 Trata-se de uma edição de 108 páginas, feita pela Tipografia da Casa Eclética, situada na Rua Direita, n. 6, em São Paulo, no ano de 1900, 
o mesmo das comemorações do Quarto Centenário do Descobrimento. O opúsculo consultado por mim está na Biblioteca Nacional, e foi 
dedicado, pelo autor, ao Dr. José Carlos Rodrigues, proprietário da coleção comprada por Benedito Ottoni. Contudo, não consegui consultar 
o livro traduzido de Henry Thomas Buckle.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 21
O CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DE CRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: CIENTIFICIDADE E PATRIOTISMO 
NA NARRATIVA DA HISTÓRIA NACIONAL
nascido na cidade do Serro em 1859, encontrava-se em plena fase de consagração intelectual e 
política. Naquele mesmo ano, fora nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e três 
anos depois entraria para a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Algo que chama a atenção nesse texto é a sugestiva alteração de seu título, realizada pelo 
IHGB, naturalmente com conhecimento do autor. Em lugar de uma pergunta direta sobre 
a cientificidade da história, algumas reflexões sobre seu conceito. Para mim, a razão para tal 
mudança, que certamente foi bem pensada, está no tipo de resposta dada por Lessa à questão 
título. Ela também explicaria o tipo de leitura do famoso livro de Buckle, recém-traduzido para o 
português, o que certamente lhe deu muito mais visibilidade, retirando-o de um circuito de iniciados 
na língua inglesa.4 O ensaio publicado na Revista do IHGB tem 90 páginas e foi muito elogiado 
por sua erudição. Possui 162 notas de rodapé e muitos são os autores e livros citados. Entre os 
autores, figuram nomes de historiadores como Langlois e Seignobos, do Introduction aux études 
historiques,5 Michelet, Fustel de Coulanges, Mommsen e Oliveira Martins (mas não Ranke); e 
também nomes de “filósofos e pensadores” como Schopenhauer, Maquiavel, Montesquieu, Stuart 
Mill, Taine, entre outros.6
Como o texto foi escrito por volta de 1900, ano de sua primeira publicação, o discurso realizado 
no IHGB em 1907 reafirma suas ideias principais sobre o que era a história e qual deveria ser o 
trabalho do historiador “moderno”. Começando pelo fim e antecipando a resposta de Pedro Lessa 
à questão-chave - “É a história uma ciência?”-, verifica-se que ela é negativa: a história não era, e 
talvez nunca se tornasse uma ciência. Portanto, o autor discordava das intenções e das respostas de 
Buckle, que acreditava ser possível tornar a história uma ciência, considerando-a fundada em uma 
doutrina na qual a natureza tinha grande centralidade. A resposta negativa de Lessa, que o leitor 
encontra apenas no final do texto, só ganha sentido quando se entende o que o autor “define” por 
ciência e por história, naturalmente em diálogo com as concepções de seu tempo.
4 Sobre Buckle e também sobre a recepção da Introdução de Pedro Lessa ao livro traduzido para o português, ver ALVES, João Luiz. O 
conceito de história para Pedro Lessa, A Manhã, suplemento Autores e Livros, Ano IV, 23/07/1944, p. 56. Trata-se de um texto “resenha”, 
no qual o autor acompanha cada parte da monografia de Lessa. O jornal também indica que foi pronunciado como Discurso Acadêmico na 
ABL, v. 5. 
5 Chales-Victor Langlois era um medievalista e Charles Seignobos um modernista, sendo que ambos escreveram para a famosa coleção, 
coordenada por Ernest Lavisse, Histoire de France. Essa coleção, bem como o livro mencionado, são marcos reconhecidos da chamada 
Escola metódica ou histórica, de forma frequente e equivocada, conhecida também como “positivista”. No livro Introduction aux études 
historiques, Hachette, cuja primeira edição é de 1898, os autores procuram definir o método da disciplina histórica, conforme a Escola 
metódica ou histórica. Essa escola dominou a historiografia francesa e influenciou a historiografia, internacionalmente, até os anos 1930, 
quando da emergência da Escola dos Annales. Uma de suas características foi o reconhecimento da contribuição dos historiadores alemães, 
entre os quais Mommsen, citado e elogiado por Pedro Lessa em seu ensaio, escrito logo depois do lançamento dos Études. 
6 Em quase todos os casos, Pedro Lessa menciona o nome do autor e do livro sem qualquer outra referência; algumas vezes, contudo, indica 
a página de uma citação. No caso das citações de Buckle, ele as faz de uma tradução de Baillot, sobre a qual não fornece maiores indicações. 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL22
ANGELA DE CASTRO GOMES
O século XIX era considerado, já no início do XX, como de grande importância intelectual, 
tanto pelos avanços das ciências naturais como pelos avanços das ciências sociais e da história. 
Essas últimas, inclusive, não mais poderiam ignorar os conhecimentos estabelecidos pelas 
primeiras nem se abster de trabalhar com os métodos científicos da “observação e da comparação”, 
dessa feita voltados para os “acontecimentos humanos”. Fica assim explícita a importância da 
contribuição das ciências naturais, bem como seu impacto no compartilhamento de uma concepção 
de ciência vigente no mundo europeu dos séculos XVI ao XIX, aproximadamente, que postula 
que o mundo físico e também o social são regulados por leis ou, como aparece na nomenclatura 
de Pedro Lessa, por “relações constantes”. Uma concepção de ciência, vale lembrar, presente em 
diversos “cientificismos” que circulavam internacionalmente, e com os quais o “pensamento social 
brasileiro”, ao menos até as décadas de 1920/1930, precisou dialogar continuamente, quer aderindo 
a eles em alguns aspectos quer negando-os, mais ou menos radicalmente. Posto isso, é interessante 
examinar os tipos de reflexões que Lessa tece sobre o que entende serem as relações da história 
com as ciências sociais e, em especial, com a sociologia, considerada “a ciência social geral”, 
capaz de construir “relações constantes”.7 
Vê-se então que, para ele, a história deveria concentrar sua aspiração na tarefa de “conhecer 
a sociedade”, o que só era possível trabalhando-se com duas séries de processos lógicos (os 
indutivos e os dedutivos), examinando-se e comparando-se “fatos singulares”, mediante o uso de 
“documentos”. Essa era, por excelência, a missão da história. O modo pelo qual se conectava com 
as ciências sociais, também voltadas para o conhecimento das sociedades, era muito particular, 
pois o ideal das ciências sociais era outro e bem distinto: produzir generalizações, investigando o 
presente, não o passado. Buscando definir o que era a história, distinguindo-a da sociologia, Lessa 
igualmente ressaltava que ela não devia ser confundida com a “filosofia da história”, já que esta 
também buscava – embora de maneira distinta – estabelecer princípios gerais sobre as sociedades 
no tempo. Ou seja, Pedro Lessa, desejando identificar e delimitar o que fazia a história, segundo 
os “modernos parâmetros” científicos de seu tempo, que eram os da nascente escola metódica 
francesa, nega cientificidade a esse tipo de “conhecimento do social”, na medida em que não lhe 
seria possível estabelecer “leis” ou mesmo “relações constantes”. Dito de outra maneira, para 
Lessa, como a história trabalhava com acontecimentos que não se repetiam, que eram complexos 
e possuíam causas múltiplas, ela não permitia o traçado de generalizações e, nesse sentido preciso, 
justamente para afirmar a necessidade de um método específico para a história, ele optava pornegar sua cientificidade, segundo o paradigma da época.
7 A sociologia se relacionaria com as ciências sociais especiais, como a antropologia e a economia, por exemplo, do mesmo modo que a 
biologia se relacionava com a botânica e a zoologia, no caso das ciências naturais, segundo Pedro Lessa. 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 23
O CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DE CRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: CIENTIFICIDADE E PATRIOTISMO 
NA NARRATIVA DA HISTÓRIA NACIONAL
Certamente com tal conclusão, o ensaio de Pedro Lessa suscitou aplausos e discordâncias, 
dentro e fora do IHGB, que perduraram durante a década de 1900. É o que se constata pelo discurso 
de recepção, proferido por Clóvis Beviláqua, outro grande nome do Direito brasileiro, quando da 
entrada de Lessa na ABL, exatamente em 1910.8 Nesse sentido, é importante remarcar que Beviláqua 
também era sócio do IHGB, desde 1906, portanto quando Pedro Lessa foi aceito pela sociedade 
de discurso que então reconhecia e consagrava aqueles que eram identificados como historiadores. 
Nela, inclusive, ele percorre uma trajetória – sócio correspondente, honorário, benemérito –, até se 
tornar, em 1943, grande sócio benemérito. Quem recebe Pedro Lessa, por conseguinte, é alguém 
com atributos de mesmo tipo e de mesma e pública qualidade.
Fazendo o elogio ao jornalista, político e magistrado, caracterizado como possuidor de uma 
posição “empirista” em relação ao Direito, Beviláqua reserva uma parte de sua saudação para 
comentar as concepções de Lessa sobre a questão da cientificidade da história. Considerando 
duas variáveis – o passar do tempo e o que entende como um “tom dubitativo” da conclusão do 
ensaio de 1900 –, ele expressa sua crença de que Lessa pudesse ter alterado sua maneira de pensar, 
reconsiderando sua recusa de cientificidade à história. 
Em dez anos, as ideias, que se não petrificam na intransigência do sectarismo, podem sofrer 
modificações, e vós fechastes o trabalho de então, como quem não considera o caso irrevogavelmente 
julgado [...]. [...] Dissestes que “a História coleciona e dispõe, metodicamente, os materiais, em cuja 
observação e comparação haurem suas induções ciências diversas. O método descritivo, aplicado 
pelo historiador, é um excelente instrumento”, acrescentastes, “para a aquisição de verdades gerais 
da Sociologia e seus ramos especiais”. [...] Este pensamento é justo [...]. Mas, se assim é, forçoso 
se faz reconhecer que o historiador, para apanhar a verdadeira expressão dos fatos e a sua natural 
filiação, tem de penetrar-lhes o âmago e descobrir as influências físicas, econômicas, étnicas, 
morais e até individuais, de cujo concurso resultaram. Não será um simples narrador [...]. E nessa 
tarefa, sem dúvida escabrosíssima, há os elementos de uma ciência, não de leis ou de noções, mas 
de fenômenos, que se expõem metodicamente, coordenados, segundo a relação da casualidade.9
 Está aí, muito claramente, o desejo de afirmar um caráter científico para a história em novos 
parâmetros, que não eram mais o das “verdades gerais”, próprios às ciências sociais. Tal distinção, 
contudo, não tornava o historiador um “simples narrador”, já que o rigor do “método descritivo” 
que utilizava e a complexidade do objeto que enfrentava asseguravam à sua exposição metódica 
dos fenômenos sociais “os elementos de uma ciência”. Beviláqua, certamente reverberando debates 
8 Clóvis Bevilácqua (1859-1944) era cearense e foi autor do anteprojeto do Código Civil Brasileiro em 1901 a convite do presidente Epitácio 
Pessoa. Atuou pouco na ABL, apesar de ter sido um de seus sócios fundadores, sendo seu discurso de recepção a Pedro Lessa considerado 
sua maior peça oratória nessa Casa.
9 Discurso de recepção de Clóvis Beviláqua, proferido em 6 de setembro de 1910. Em ABL, sessão do acadêmico Clóvis Beviláqua http://
www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=8389&sid=179, acesso em: 10/06/2012.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL24
ANGELA DE CASTRO GOMES
e demandas que eram travados em torno do estatuto científico da história como disciplina, fixava 
sua especificidade, tanto em face das ciências sociais como da literatura, pois a escrita da história, 
mesmo não produzindo leis, não era obra de ficção, ainda que recorresse à arte narrativa. Nesse 
sentido, embora acompanhando as reflexões de Lessa, chegava a uma conclusão distinta: a de que 
a história devia ser uma ciência.
No Brasil dos anos 1910, pode-se aventar que os princípios da escola metódica já fossem 
mais conhecidos e compartilhados, o que absolutamente não implicava diminuição do prestígio de 
diversos cientificismos de matriz sociológica. Algo bem perceptível quando da entrada de Oliveira 
Vianna para o IHGB, em 1924. Credenciado pelo seu livro de estreia - Populações meridionais 
do Brasil, de 1920 -, esse autor colaborara para o Dicionário Histórico, elaborado pelo IHGB na 
passagem do Centenário da Independência, escrevendo o verbete sobre etnografia, e intitulando-o 
“o tipo étnico brasileiro”. O que me interessa em particular, nesse caso, é ressaltar de que modo 
um intelectual identificado com um modelo de ciência social “cientificista” está sendo recebido e 
consagrado como historiador. Seu discurso de posse é valioso, pois nele faz apreciações sobre o 
caráter científico da história, conectando-a com sua “utilidade” como saber ensinável.10 Nele, Vianna 
defende uma argumentação que afirma o caráter científico da história, situando sua especificidade 
e importância por sua vinculação com uma “missão pedagógica”. Seguindo seu vocabulário, a 
história tinha um “valor pragmático” bem singular que as demais ciências sociais não possuíam, o 
que era de extrema importância para os Estados nacionais.
Distintamente de Pedro Lessa, Oliveira Vianna postulava que a “nova” história podia ser 
uma ciência, realizando generalizações, desde que adotasse procedimentos que garantissem a 
neutralidade e a objetividade do conhecimento, características das “modernas” ciências sociais. 
O sociólogo/historiador defendia, claramente, que, se a história desejasse alcançar o estatuto 
de “ciência moderna”, precisava buscar uma forte associação com a sociologia. O trabalho 
com os “testemunhos de arquivos”, como Viana dizia, precisava ser acrescido de “experiências 
complementares”, trazidas pelas ciências sociais, para que a história se tornasse científica, 
realmente. Uma proposta que, como se pode verificar, nem seguia as ponderações de Clóvis 
Beviláqua nem agradava historiadores, então muito respeitados, como Capistrano de Abreu. Este 
é incisivo em sua crítica à solução dada por Vianna à questão da cientificidade da história, quando, 
em carta ao amigo Lúcio de Azevedo, escreve: “A impressão deixada por seu primeiro escrito sobre 
as populações meridionais do Brasil é que conhece melhor Le Play que nossa terra.”11 
10 Todas as referências são do discurso de posse Oliveira Vianna, Revista do IHGB, t. 96, v. 150, 1924.
11 ABREU, C. de. Correspondência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1977. Carta a João Lúcio de Azevedo, “São 
Lourenço, 7 de maio” (colocada entre as cartas de 1926), v. 2, p. 355.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 25
O CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DE CRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: CIENTIFICIDADE E PATRIOTISMO 
NA NARRATIVA DA HISTÓRIA NACIONAL
Contudo, essa demanda por cientificidade, segundo padrões sociológicos, não impediu que 
Vianna reconhecesse na história uma “bela arte narrativa” e que, por isso, identificasse nessa 
disciplina um “valor pragmático”, um teor educativo, muito especial e específico. Para Vianna, 
a história não “servia” apenas a um círculo “limitado, privativo, circunscrito e especializado” de 
pessoas, como a maioria das outras ciências sociais, inclusive a sociologia. Ela possuía um público 
muito mais amplo e diversificado, e só o “encantava” por seu poder de “arte de ficção”, ou seja, de 
narrativa literária. Na história, o estudo e a narrativa do passado não se faziam por mera curiosidade, 
comparável à das viagens ou dasmemórias. 
A história possuía um “alto valor pragmático” em duplo sentido. Em primeiro lugar, porque o 
conhecimento do passado é uma maneira de corrigir concepções acerca do presente, produzindo 
uma base segura para se projetar o futuro. No caso de países novos, como o Brasil, esse valor 
era fundamental, pois nossa história, diferentemente da dos países velhos, não trazia “lições de 
resignação”, mas sim “de entusiasmo”. Por isso a história interessa (e devia interessar) a todos os 
homens, tendo como “utilidade prática” a criação de “um sentimento de patriotismo” e de uma 
“consciência coletiva”, formados pela admiração despertada por um passado comum. Era pela 
história, particularmente se servindo da arte de narrar, que se aumentava o respeito nutrido por 
um povo por seus antepassados, e pelo patrimônio por eles legado, unindo-os através do tempo. A 
história, aproximando o passado do presente, impulsionava o futuro, tornando-se “uma maravilhosa 
escola de educação cívica”. 
Mas não era essa a única utilidade da história “moderna”. Justamente por ela possibilitar, como 
ciência objetiva, o conhecimento dos “elementos estruturais de um povo, as condições íntimas de 
seu viver, as particularidades fundamentais da sua mentalidade, da sua sensibilidade”, tornava-se 
essencial “à ação de todos que exercem uma função dirigente na sociedade, principalmente os 
que têm o encargo de direção política”.12 Portanto, se a evolução de um povo tem condicionantes 
fortíssimos, sendo “o papel reservado à ação da vontade consciente modestíssimo”, mais uma 
razão para potenciar os efeitos dessa ação pela ciência, o que tornava o “culto ao passado” um 
ponto de partida para a intervenção do homem na história.
Oliveira Vianna não poderia ser mais claro ao demarcar os objetivos patrióticos da história 
em sua dimensão educativa, quer para o povo quer para as elites governantes. Portanto, em seu 
discurso, ele está compatibilizando uma concepção de história científica, segundo o modelo das 
novas ciências sociais, com uma concepção de história ensinável, cujo valor educativo e político, 
chamado por ele de pragmático, deixa evidente a função cívico-patriótica da disciplina. Sua 
narrativa não devia temer as artes da ficção, da boa literatura, já que era por meio da emoção 
12 Ibidem, p. 450-1.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL26
ANGELA DE CASTRO GOMES
que se criava uma comunidade nacional, composta dos que estão vivos, dos que já morreram e 
dos que ainda vão nascer, na fórmula conhecida do pensamento conservador. Por conseguinte, o 
cientificismo sociologizante de Oliveira Vianna não o impedia, muito ao contrário, de defender a 
importância do ensino da história, não só porque aí se radicava uma de suas especificidades como 
ciência social, como porque era a História uma das principais encarregadas da educação cívica do 
povo, isto é, da formação dos cidadãos e de seus dirigentes.
Acompanhando-se os discursos de Pedro Lessa, Clóvis Beviláqua e Oliveira Vianna é possível 
ver como o debate sobre o estatuto de cientificidade da história era algo fundamental nas décadas 
do início do século XX, e como ele não pode ser separado das preocupações sobre a importância 
do conhecimento histórico para as sociedades “modernas”. Por isso, é fundamental atentar para 
a confluência existente no IHGB no reconhecimento da “função educativa” da disciplina, o que 
certamente já ocorria sob a Monarquia, mas ganhava contornos mais militantes com a República, 
uma vez que o novo regime reconhece o “povo” como interlocutor e ator da história. Nesse sentido, 
os autores, além de nos possibilitarem situar a diversidade de concepções de história que convivem 
no IHGB no início do século XX, evidenciam que tanto os que se orientavam por uma matriz que 
seguia, em tese, os procedimentos da escola metódica francesa, realizando uma escrita da história 
como memória da nação, como os que se pautavam por modelos cientificistas, conhecendo e se 
apropriando da literatura sociológica, confluíam ao afirmar o valor educativo da história como 
matéria a ser ensinada a todos. 
No caso dos que seguiam a matriz cientificista, apesar da diversidade que comporta, o que pode 
causar estranheza é o fato de ela, mesmo postulando determinismos (é certo que em graus variados) 
e valorizando os fenômenos naturais, objetivos e coletivos, defender uma “função pragmática” para 
a disciplina. Vale então lembrar que o paradigma cientificista raramente era imune à ação humana, 
pois se havia uma evolução da humanidade já traçada, seu ritmo ficava dependendo da intervenção 
dos grandes e sábios homens. Portanto, como Oliveira Vianna ilustra tão bem, o valor educativo da 
história era insubstituível quando a matéria era criar o amor à pátria, pelo conhecimento do passado, 
pela criação de uma “mentalidade” comum. Uma convergência, de um lado surpreendente, mas de 
outro compreensível, pois se pautava no que singularizava a história e a diferenciava das demais 
ciências sociais. 
Desse modo, no Brasil, como também ocorreu em outras experiências nacionais, houve 
uma convivência entre concepções diferenciadas de história que se orientavam pelos mais 
compartilhados paradigmas que dividiam e disputavam espaço durante toda a primeira metade do 
século XX. Mas, como igualmente ocorreu em outras experiências nacionais, esses paradigmas 
desembocavam em uma proposta de história ensinável interessada na construção de uma pátria 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 27
O CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DE CRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: CIENTIFICIDADE E PATRIOTISMO 
NA NARRATIVA DA HISTÓRIA NACIONAL
como comunidade de sentimentos, fundada no conhecimento de um passado comum, povoado 
por grandes homens e feitos, e habitado por um povo de muitas qualidades. Uma história com 
objetivos cívico-patrióticos que mobilizava a razão, mas principalmente as emoções, pois eram 
estas que tornariam o passado “vivo” (ressuscitado), construindo um vínculo afetivo e duradouro 
entre os cidadãos de uma nação republicana. 
*
 O período entre 1890 e 1920 pode assim ser considerado decisivo no que se refere ao 
estabelecimento das bases de uma historiografia no Brasil, quer pelo reconhecimento de métodos 
que caracterizam o ofício do historiador quer pela afirmação do “valor pragmático”, ou seja, 
cívico-patriótico da história. Esse é, portanto, um período estratégico na profissionalização dos 
praticantes da disciplina, o que se vinculou a preocupações com a rotinização de seus conteúdos 
“eruditos/científicos”, tendo-se em vista alcançar um amplo e diversificado público, adulto e 
infantil, por meio das mídias mais modernas, como os jornais, as revistas e os manuais escolares. 
Não é casual, assim, que também entre 1890 e 1920 o Brasil tenha assistido à conformação 
de uma literatura infantil, e que ela tenha se articulado fortemente aos projetos nacionalistas e 
modernizadores então vigentes. 
Ao longo dessas décadas, a educação foi entendida como um dos recursos mais poderosos para 
se produzir transformações sociais profundas e duradouras no país, em especial quando voltada para 
a “infância”, pois era nesse momento que os valores e as crenças dos futuros cidadãos republicanos 
seriam “moldados”. O livro e a leitura, bem como um conjunto de práticas e equipamentos culturais 
– como os museus, as exposições e as festas cívicas –, eram vetores estratégicos para o aprendizado 
de um nacionalismo republicano, que devia se traduzir em uma escrita da história de teor cívico-
patriótico que narrava episódios, exaltava figuras históricas e divulgava costumes de grupos que 
compunham a nação brasileira. Em 1890, apenas um ano após a proclamação da república, dois livros 
são exemplares dessa tendência que somente faria crescer ao longo da primeira década do século 
XX, ganhando o mercado editorial e conquistando novos autores, que escreviam para crianças ou 
se preocupavam com as condições de seu aprendizado na escola e fora dela.13 Refiro-me ao famoso 
13 Tenho total consciência das questões quecercam a difícil definição do que é literatura infantil e foram enfrentadas, por exemplo, pela 
Comissão Nacional de Literatura Infantil do MES, em 1936. Entretanto, para os objetivos deste texto, estou aproximando o gênero literatura 
infantil (aquele intencionalmente produzido para a criança, usando o critério da ficcionalidade) e os livros escolares, ou seja, os textos com 
explícitos objetivos didáticos e programáticos, considerando a época, o que é distinto do que hoje são os “livros didáticos”. Entendo que, 
entre 1890 e 1930, essas fronteiras eram fluidas, em especial quando se tratava de uma narrativa cívico-patriótica presente em manuais 
escolares de educação cívica; em livros de história do Brasil para os ensinos primário e secundário; e em “livros de histórias” com elementos 
maravilhosos e também intenções morais.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL28
ANGELA DE CASTRO GOMES
texto de José Veríssimo, cuja segunda e mais conhecida edição é de 1906, A educação nacional, 
publicado pela editora Livraria Francisco Alves; e ao manual de Silvio Romero, prefaciado por João 
Ribeiro, A história do Brasil ensinada pela biografia de seus heróis, da Livraria Alves e Cia. 
Minha intenção, aqui, é destacar o vínculo efetivo que uma espécie de pedagogia da 
nacionalidade estabelece com a construção de uma cultura política republicana, e como essa 
nova cultura política necessitava “imaginar” um passado, com destaque para um passado 
histórico nacional, que devia ser ensinado por meio de uma narrativa acessível que mobilizasse 
meios capazes de agradar a um amplo público, em especial o infantil. A dimensão pedagógica e 
patriótica dessa literatura era de grande importância, pois por intermédio dela eram conquistadas 
a aprovação do Estado – quando os livros eram adotados nas escolas – e também a do mercado, 
já que o público infantil despontava como um segmento consumidor de potencialidade. Com 
tais estímulos, ocorreu a especialização de editores e também de autores de literatura infantil, 
um gênero que devia apelar para a imaginação das crianças e transmitir valores morais, 
adequando-se aos programas escolares, se visasse alcançar esse mercado específico. No campo 
da literatura para crianças, seja nos “livros de literatura infantil” seja nos “livros escolares” 
(que podiam se confundir em um só), a incorporação de figuras e episódios históricos, aliada à 
construção de uma narrativa de moral cívico-patriótica, é uma constante. 
Algo que pode ser observado facilmente, a partir de alguns títulos, entre inúmeros exemplos 
que poderiam ser citados desde os anos 1890: Lições de História do Brasil, de 1895, do literato 
e folclorista Basílio Magalhães; Porque me ufano de meu país, do conde Afonso Celso, sócio 
do IHGB, de 1900; História do Brasil adaptada ao ensino primário e secundário, de João 
Ribeiro, de 1900; Contos pátrios, de Olavo Bilac e Coelho Neto, de 1904, e Pátria brasileira, 
de 1909; Histórias de nossa terra, de Júlia Lopes de Almeida, de 1906; As nossas histórias, de 
1907, e Os nossos brinquedos, sobre a temática do folclore, de Alexina de Magalhães Pinto, 
de 1908; Através do Brasil, de Olavo Bilac e Manoel Bonfim, de 1910; Minha terra, minha 
gente, de Afrânio Peixoto, de 1915; A pátria brasileira, de Coelho Neto, de 1916; Nossa 
pátria: narração dos fatos da História do Brasil, através de sua evolução com muitas gravuras 
explicativas, de Rocha Pombo, de 1917; História do Brasil e Noções de História do Brasil, de 
Osório Duque Estrada, autor da letra do Hino Nacional, de 1918; Contos da História do Brasil, 
de Viriato Corrêa, de 1921, e A filha da floresta, de Tales de Andrade, também de 1921.
Todos esses livros, como os títulos deixam claro, podem ser classificados como manuais 
cívico-patrióticos, um tipo de literatura muito valorizada e utilizada nas escolas de vários países 
na primeira década do século XX. O patriotismo era, no vocabulário pedagógico e político da 
época, a palavra/sentimento que fazia com que a história se aproximasse da educação, mas com sua 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 29
O CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DE CRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: CIENTIFICIDADE E PATRIOTISMO 
NA NARRATIVA DA HISTÓRIA NACIONAL
especificidade, que era a de trabalhar “através do tempo”. Entretanto, se para muitos educadores 
a educação cívica não se confundia com a disciplina da história, ultrapassando-a, pois devia estar 
presente no ensino de todas as disciplinas, cabia à história um lugar muito especial na produção de 
um sentimento de amor à pátria, pois esse amor devia fundar-se fortemente no conhecimento e na 
valorização de um passado comum. A pátria não devia ser confundida com o Estado, nem mesmo 
com a nação e suas leis, em sua dimensão político-administrativa. A pátria era e devia ser entendida 
e sentida como uma comunidade afetiva, como uma entidade suprema e sagrada, objeto do respeito 
e do amor dos cidadãos, sobretudo dos cidadãos republicanos. 
No entanto, como Patrícia Hansen vem observando em seus estudos sobre Olavo Bilac, “ao 
contrário do que aparenta, a literatura cívico-patriótica da Primeira República não é um conjunto 
de textos ideologicamente homogêneo. A análise de uma de suas principais características, o 
ufanismo, presente em vários textos em maior ou menor grau, demonstra que não é sempre que 
o orgulho exacerbado da pátria oblitera a consciência das deficiências nacionais.”14 Segundo a 
autora, já haveria na Primeira República uma espécie de clivagem nessa literatura, havendo duas 
orientações em convivência:
A primeira, excessivamente otimista, entendia que o futuro grandioso prospectado para o Brasil 
seria uma consequência óbvia da “pujança virtual” associada à grandeza territorial e às riquezas 
naturais do país. A outra, na qual se incluem os textos de Bilac, condicionava o futuro nacional a 
uma completa transformação mental, moral e até física, do homem brasileiro. Nesta perspectiva, era 
necessário executar uma ação de caráter pedagógico, que fizesse das crianças e jovens brasileiros, 
homens cientes dos problemas e obstáculos ao progresso do país e capazes de superá-los pelo 
adequado aproveitamento dos inegáveis recursos da terra pátria.15
 É essa segunda variante que desejo destacar, porque acredito que ela era mais compartilhada 
do que se imagina, tendo ganhado força no pós-1930 e permanecido vigente após 1945. Nessa 
concepção, o orgulho exacerbado da pátria não era uma virtude, pois ele escondia os males ou 
deficiências nacionais, além de minimizar e até ignorar os sentimentos de convivência pacífica 
entre as nações, o que se tornou uma preocupação internacional após a Primeira Guerra Mundial, 
voltando a estar na ordem do dia no contexto da Segunda Guerra.
Se a enumeração anterior foi longa e cansativa, ela cumpriu a tarefa de deixar evidente a 
sistemática produção dessa literatura cívico-patriótica e a importância de seus autores, muitos dos 
14 HANSEN, P. S. Bilac e a literatura infantil: civismo e ideologia nos primeiros livros para crianças brasileiras, um dos resultados do 
Projeto de Pesquisa de Pós-Doutorado, Olavo Bilac, ideólogo do nacionalismo, financiado pela Faperj/Capes e desenvolvido no CPDOC/
FGV, 2010, mimeo.
15 Idem.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL30
ANGELA DE CASTRO GOMES
quais grandes nomes da literatura para adultos, em prosa e verso. Os editores são um capítulo à parte e 
merecem reflexão cuidadosa, pois entre eles estão a Livraria Francisco Alves, a Livraria Castilho, de 
grande sucesso no mercado de livros para crianças, além da Editora Melhoramentos, com particular 
prestígio nos meios educacionais já nos anos 1920. Toda essa gama de atores do campo intelectual, 
sejam editores sejam autores que se dedicam à tarefa de escrever para um público amplo, nesse caso 
o público infantil, estão sendo aqui muito valorizados e entendidos como “mediadores culturais”. 
Trata-se, contudo, de utilizar essa categoria em sentido forte e sem qualquer conotação negativa ou 
pejorativa, afastando-se uma excessiva dicotomia entrea escrita dos historiadores “propriamente 
ditos” (identificados com o espaço do IHGB e, no pós-1930, com o das universidades), e a desses 
mediadores culturais. Eles costumam ser taxados como intelectuais “menores” pelo valor atribuído 
à sua produção, quer em termos de conteúdo, que seria simples e mesmo simplista, na chave do 
divertir e ensinar; quer por causa das mídias utilizadas, menos “nobres” que o livro, sendo efêmeras 
em grande parte, como é o caso dos periódicos e dos manuais escolares. 
Para reverter esse tipo de apreciação, muito consolidada, é bom ressaltar dois pontos. Em 
primeiro lugar, tais vetores culturais têm sido tratados pela literatura que trabalha com história 
do livro e da leitura e também com história de intelectuais como um dos meios mais seguros de 
se acessar formas de representações coletivas do passado, sendo assim entendidos como “vetores 
de memória”: como instrumentos estratégicos para se compreender a construção de memórias 
históricas nacionais. Em segundo lugar, os avanços da profissionalização e institucionalização 
da pesquisa histórica mantêm, no Brasil e no mundo, sólidas conexões com a preocupação da 
divulgação desse tipo de saber, podendo ou não estar encarnada no mesmo indivíduo (historiador 
e divulgador). Como diversos estudos de historiografia vêm assinalando, não há como se entender 
o processo de institucionalização e consolidação da disciplina sem relacioná-lo com as múltiplas 
estratégias de sua divulgação, em especial com aquelas voltadas para uma “pedagogia da 
nacionalidade”, que envolveria também as instituições museais e as práticas festivas, sobretudo 
as de teor cívico patriótico. Os vínculos entre essa escrita da história para um grande público 
e os projetos políticos de Estados nacionais são por demais óbvios para serem ignorados, mas 
nunca se deve considerar qualquer tipo de texto um mero instrumento de “manipulação político-
ideológica”, minimizando a dinâmica dos processos de recepção cultural, ou deixando de 
considerar o grau de liberdade ou autoritarismo de governos, nessa área específica, em momentos 
históricos determinados.
Os anos 1920, como se tem assinalado nos estudos de literatura infantil, são de inflexão nesse 
gênero em razão do aparecimento dos trabalhos de Monteiro Lobato, considerado um marco na 
renovação do que até então se escrevia para a infância. Sem absolutamente questionar o lugar 
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 31
O CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DE CRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: CIENTIFICIDADE E PATRIOTISMO 
NA NARRATIVA DA HISTÓRIA NACIONAL
desse autor, o que me interessa nessa incursão que relaciona historiografia, ensino de história e 
literatura para crianças é chamar a atenção para um dos pontos da crítica que Lobato desenvolve 
sobre o que até então se praticava, visando, entre outros objetivos, valorizar sua própria produção. 
Mas, ressalvo desde logo que ele não estava sozinho na elaboração de tais considerações, mas 
muito bem acompanhado e há muito tempo. Uma constatação que, pelo menos, evidencia que 
muitos literatos e educadores já vinham se dando conta das insuficiências dos livros destinados às 
crianças, sobretudo ante a importância da leitura realizada nesse momento da vida, reconhecida 
como decisiva por sua influência e duração. 
Em artigo de 1921,16 Lobato faz um diagnóstico que aponta para o fato de as crianças 
brasileiras aprenderem a ler na escola à força e em “livros horrorosos”, inclusive graficamente. 
Além disso, neles a infância era apresentada ao que chamava de uma “pátria pedagógica”, em estilo 
melodramático e ufanista que acabava por afastá-la da leitura e, acrescento eu seguindo a lógica 
de Lobato, do desejado amor à pátria. Em sua linguagem “o didatismo cívico” da literatura infantil 
existente acabava por “secar as crianças”, que ficavam apenas conhecendo um patriotismo “besta” 
(Lobato gostava de usar esse adjetivo). 
Vale lembrar que, nesse mesmo ano de 1921, Lobato publicava seu primeiro livro de literatura 
infantil, Narizinho arrebitado, anunciado no catálogo de sua editora Revista do Brasil, em 1922, 
como uma “obra fora dos moldes habituais e escrita de modo a interessar profundamente as 
crianças, poupando trabalho aos professores e pais”. E finalizando: “Adapta-se para o uso das 
escolas de São Paulo, da Paraíba e de outros estados”.17 Ou seja, ele anunciava um livro que 
queria ser (e foi) inovador, mas também que se voltava para o mercado de livros escolares, o 
que garantia circulação e bons rendimentos. Como os estudiosos de literatura infantil assinalam, 
Lobato, de fato, inovou muito o repertório literário infantil, criando personagens de tipo novo e 
cuidando da apresentação gráfica dos livros, até porque foi, durante um bom tempo, seu próprio 
editor. Contudo, compreensivelmente, não rompeu inteiramente com as características da literatura 
“cívico-patriótica” então produzida. Esta se vinculava, mais ou menos diretamente, ao mercado 
escolar e aos objetivos nacionalistas da ação educativa – que podiam ser ufanistas ou não –, o que 
evidentemente impunha “adaptações”, como ele mesmo explica na propaganda de Narizinho.
As críticas de Lobato à má qualidade gráfica do livro infantil/escolar e ao seu estilo enfadonho 
nada tinham de novas, sendo conhecidas há muito, como o texto de José Veríssimo, A educação 
nacional, já mencionado, evidencia muito bem. De todo modo, o que desejo ressaltar é que, 
16 Estou citando artigo de Lobato de A onda verde, no qual é discutida a questão da formação de leitores, a partir de SOARES, G. P. Semear 
horizontes: uma história da formação de leitores na Argentina e no Brasil (1915-1954). Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007. p. 180-2.
17 SOARES, G. P. Op. cit., citação na p. 185.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL32
ANGELA DE CASTRO GOMES
inclusive Lobato, embora com recursos literários bem distintos dos autores do início do século XX, 
também se inseriu nessa vertente de escritores que se dedicaram a explorar a dimensão histórica 
ao se voltarem para o público infantil. Mesmo não caindo em um “patriotismo besta”, ele também 
escreveu sobre fatos e personagens da história, tratando igualmente de folclore brasileiro. 
Por fim e para concluir, insisto na riqueza desse contexto de debates, com inovações e críticas, 
que envolvia o campo da história do Brasil, quer em seu locus mais erudito quer nas múltiplas 
possibilidades de escrita que as mídias impressas ofereciam para se ganhar um público mais amplo 
de leitores, divertindo-os e instruindo-os no amor à pátria. Foi nesse tempo que o MHN foi criado, 
por determinação do então presidente Epitácio Pessoa, na ocasião das comemorações do Centenário 
da Independência. Abrigado no Pavilhão das Grandes Indústrias da “Exposição Internacional de 
1922”, o núcleo inicial do museu devia não apenas evocar os acontecimentos históricos do passado 
nacional brasileiro, mas igualmente voltar-se para a instrução pública, vale dizer, buscar alcançar 
um público de não iniciados. Um grande desafio, já que implicava construir uma linguagem museal 
que articulasse os dois valores da disciplina da história tão propagados: o científico e o pragmático, 
apelando para a razão e a emoção dos que o visitassem. Um desafio que ainda permanece e este 
seminário procura, mais uma vez, enfrentar.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 33
O Rio e a Exposição do Centenário
Ruth Levy*
O Rio de Janeiro foi cenário, em 1922, de um grande espetáculo: a Exposição Internacional 
Comemorativa do Centenário da Independência. A obra, descrita como “um trabalho hercúleo, 
executado no curto espaço de alguns meses”, afirmando “solenemente a nossa atividade 
empreendedora”1, ocupou, com seus palácios e pavilhões uma grande área do centro da cidade, 
que ia do Passeio Público à Ponta do Calabouço e de lá se estendia pelo espaço recém-conquistado 
com a demolição do Morro do Castelo.
A ideia da comemoração já vinha desde alguns anos antes. Em 1916, foi apresentado à Câmara 
um projeto de autoria dos deputados José Bonifácio e Bueno

Continue navegando