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Alunos perguntam sempre o que fazer com paciente apresentando sangramento, e como tudo em medicina a gente faz diagnóstico e tratamento. Para isso preciso saber a semiologia e fisiopatologia do problema para indicar a maneira mais correta. Por isso quero recapitular um conceito do início do semestre: a eumenorreia. Paciente eumenorréica é a paciente que tem ciclos menstruais regulares e fluxo menstrual normal. Padrões normais de sangramento: 21 a 35 dias - A duração de um ciclo menstrual em média é de 28 dias, com margem de variação de 4 a 5 dias para menos ou mais. Menstruar por exemplo de 23 em 23 dias não é muito bom, mas está no limite do que a literatura considera como normal (mas acredito que a longo prazo poderia dar uma anemia ferropriva); e temos o limite superior em torno de 5 dias acima dos 28 (33 dias). O ciclo menstrual varia de mulher para mulher e pode variar também de um ciclo para o outro na mesma mulher, de modo que, temos termos para designar as alterações de fluxo menstrual. Quando os ciclos têm períodos de atraso? O nome utilizado para designar esses períodos de atraso é oligomenorreia. Então, quando tenho ciclos de 40/50/60 dias, eu uso oligomenorreia para designa-lo. E se o atraso for superior a 3 meses ou idealmente 3 ciclos daquela paciente eu uso o termo amenorreia. Se eu tenho ciclo muito curto, a cada 15dias/20 dias, o termo é polimenorreia. • Intervalo:- Obs.: os livros mais recentes não consideram 21 dias como normal mais porque pode dar anemia posteriormente, então não considere ciclos de 21 dias como normais. 2 a 8 dias (média 4 dias) - Quanto ao fluxo, a duração de um fluxo menstrual normal é em torno de 5 dias, com variação de 2 dias para menos ou para mais (de 3 a 7 dias). E da mesma maneira, o fluxo pode variar de mulher para mulher e de um fluxo para o outro na mesma mulher. Se o fluxo dura mais de 7 dias, usamos o termo hipermenorreia; e se o fluxo dura menos de 3 dias, usamos o termo hipomenorreia; • Duração:- Até 80 ml (média 30 ml) - Podemos ter também alterações em relação a quantidade do fluxo para menos ou para mais. Quando o fluxo é muito abundante independente da duração, o termo utilizado é a menorragia. O fluxo menstrual normal é de 20 a 80ml. Mas é uma avaliação muito subjetiva, depende muito da informação da paciente. São relatos como: “aumentou muito”, “está sujando minha roupa”, “eu usava 1 pacote de absorvente agora uso 3”... Se a menstruação for escassa, não temos um termo específico porque menstruar pequenas quantidades não é patológico. Lembrando que não usamos o termo • Fluxo:- Adriana Ávila e Raissa Novelli T.67 Sangramento uterino anormal terça-feira, 20 de outubro de 2020 13:15 Página 1 de GO pequenas quantidades não é patológico. Lembrando que não usamos o termo menstruação para aquelas pacientes que tomam ACO. Menstruação conceitualmente é a descamação do endométrio proveniente de ciclo ovulatório, quem toma ACO tem pouco mesmo, mas não é menstruação propriamente dita e não temos um termo para fluxo escasso simplesmente porque não é patológico. Variação entre ciclos: 3 a 4 dias;- Pós-menopausa sem TRH;- Pós-menopausa com TRH cíclica e contínua. Como definimos a menopausa? Consideramos uma mulher menopausada se ela está há 1 ano sem nenhum tipo de fluxo menstrual. Menopausa é um evento dentro de um conjunto maior de transformações que marcam o declínio da vida reprodutiva e que chamamos de climatério. Assim como a menarca é um evento dentro da puberdade, a menopausa é um evento dentro do climatério. Tanto puberdade quanto climatério implicam em outras modificações, uma para aquisição da capacidade reprodutiva e outra para o encerramento da capacidade reprodutiva e da fertilidade, onde os fenômenos menarca e a menopausa são apenas eventos pontuais dentro de um conjunto maior de alterações físicas e psíquicas. Isso é importante porque já deixo claro com vocês que qualquer sangramento após a menopausa deve ser investigado, nunca deve ser interpretado como normal. - O primeiro grupo de causa: 1) Causas anatômicas/orgânicas, significa que existe alguma alteração física passível de detecção pelo exame físico e/ou exames complementares, é aquele que impõe alguma alteração morfológica/estrutural/anatômica nos órgãos genitais que posso detectar no exame físico (especular e toque) e/ou exame complementar. Lembrando que o exame complementar que serve de ponto de partida para investigar sangramento anormal é a ultrassonografia, de preferência com acesso endovaginal. Exemplos de causas anatômicas/orgânicas: miomas uterinos, pólipos endometriais, câncer de colo, câncer de endométrio; • Outro grupo de causas: 2) Causas disfuncionais, ou hormonais, ou endócrinas, significam simplesmente algum tipo de alteração no eixo hipotálamo-hipófise- gônada(ovário)-endométrio, é uma alteração funcional, não existe um substrato anatômico passível de ser detectado por exame físico ou complementar, é um diagnóstico quase de exclusão. Se um sangramento uterino é de causa hormonal/disfuncional, obrigatoriamente ele vai ter que ser corrigido com alguma mediação hormonal, se não, o diagnóstico vai ter que ser revisto porque as causas de sangramento anatômico/orgânico geralmente são mais abordáveis do ponto de vista cirúrgico e não do ponto de vista medicamentoso. Exemplos: se eu tenho um mioma posso fazer uma miomectomia, uma histerectomia; se tenho um pólipo posso fazer polipectomia, uma ablação do endométrio; câncer de útero e endométrio posso fazer tratamento cirúrgico ou radioterápico… são todos métodos cirúrgicos, não medicamentoso. Já o sangramento disfuncional/hormonal/endócrino, • Eu considero como causas de sangramentos uterinos anormais 4 grandes grupos de causas. Página 2 de GO cirúrgicos, não medicamentoso. Já o sangramento disfuncional/hormonal/endócrino, ele tem que ser corrigido com medicação hormonal, e se não está respondendo, reveja o diagnóstico porque pode ter algo passando batido; O outro grupo não entra tanto no contexto da aula de hoje porque são 3) Causas obstétricas, não ginecológicas. Posso ter ameaça de abortamento, abortamento em evolução, abortamento incompleto, abortamento completo… várias formas de abortamento. Posso ter gravidez ectópica, geralmente tubária, que rompe; posso ter uma doença trofoblástica gestacional… As causas obstétricas de sangramento uterino anormal sempre têm que ser levadas em consideração no diagnóstico diferencial das mulheres em idade fértil, ainda que elas desconheçam a presença de gravidez mas nós pensamos por ela. Essas causas não são o enfoque da aula de hoje, elas entram como diagnóstico diferencial, mas no 8 período vocês aprenderão sobre elas, como por exemplo as anormalidades na placentação (placenta previa…); • O último grupo de causas de sangramento uterino anormal são: 4) Causas clínicas/sistêmicas. A paciente pode ter uma coagulopatia, distúrbios da coagulação qualquer, um processo mieloproliferativo (leucemia), um processo linfoproliferativo (linfoma). Paciente com coagulopatia, hemofilia, leucemia, linfoma, geralmente tem histórico de outros tipos de sangramentos (epistaxe, hemorragia digestiva, sangramento aos traumas…), os sangramentos genitais não costumam ser a primeira manifestação dessas condições clínicas, mas devemos pensar nessa possibilidade. • Pergunta1: SOP entra onde nas causas? Resposta: Essa condição na verdade é um estado de anovulação, e é um distúrbio do eixo hipotálamo-hipófise-gônada-endométrio. Portanto, entra no grupo das causas funcionais/hormonais (2). O exame ginecológico da paciente portadora de SOP (anovulação crônica), ele não dá achados no exame físico/complementar ginecológico muito especificamente no útero, dá nos ovários. Algumas pessoas questionam a nomenclatura da síndrome dos ovários policísticos porque a policistose ovariana é simplesmenteuma manifestação anatomopatológico de um estado anovulatório qualquer, qualquer estado anovulatório crônico pode cursar com policistose ovariana detectável anatomopatologicamente no ovário ou ultrassonograficamente. Mas como é um distúrbio do eixo/distúrbio hormonal, ele não é considerado um distúrbio orgânico. Essas pacientes geralmente cursam com oligomenorreia e amenorreia, mas costumam cursar também, depois de longos períodos de oligomenorreia ou amenorreia, com hipermenorreia e/ou menorragia porque o endométrio vai proliferando sem oposição da ação antagonista da progesterona, então quando ele descama, é muito, descoma em focos ou em blocos. Pergunta 2: As ISTs que acometem o colo do útero podem entrar em algum quadro de causa? Resposta: Até pode, mas não é muito comum a manifestação de sangramento uterino anormal, normalmente se apresentam é com secreção vaginal anormal, lesões ulceradas… Na clamídia o colo pode apresentar hiperemia, ficar friável e sangrante, mas não é muito comum que sangre espontaneamente, pode sangrar no trauma (durante o ato sexual - termo é sinusiorragia). Tipos (sintomas sinal): Página 3 de GO Tipos (sintomas sinal): Algumas formas de sangramento uterino anormal serão mais prevalentes em algumas faixas etárias e menos prováveis em outras. Por exemplo, não penso em causa obstétrica em mulher menopausada. Puberdade precoce, câncer, corpo estranho - 8/9 anos é a idade em que normalmente se desencadeia a puberdade. • Antes dos 8 anos:- Aumento do fluxo; aumento da duração; diminuição ou aumento do intervalo; irregularide; combinação dos anteriores; DIU sangramento em uso de contracepção hormonal - nos primeiros dois anos subsequentes à menarca, enquanto o eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal está amadurecendo, é comum que haja irregularidades. Cuidado para não abordar como patológico algo que pode ser fisiológico, se não tem repercussão sistêmica passamos apena a orientação e acompanhamento porque tende a regularizar espontaneamente nos próximos dois anos após a menarca. • Menarca:- Sempre anormal; uso de TH? - Sangramento após a menopausa nunca deve considerar como normal, SEMPRE deve ser investigado. E levar em consideração o contexto se a paciente faz ou não reposição hormonal (vou falar mais sobre nas próximas aulas). • Pós-menopausa:- Causas: Ciclos anovulatórios - na puberdade ainda se faz muitos ciclos anovulatórios, especialmente próximo à menarca, e tende a regularizar espontaneamente; • Complicações da gravidez - temos que fazer diagnóstico diferencial com as causas obstétricas, porque muitas vezes elas desconhecem a existência da gravidez; • Coagulopatias - são prevalentes nessa faixa etária, as leucemias, os linfomas..;• Trauma genital.• Puberdade:- Ciclos anovulatórios – menos frequentes que na puberdade e pré-menopausa - as causas disfuncionais são menos prováveis, é um período em que os ciclos anovulatórios são menos frequentes e normalmente se ovula regularmente; • Complicações da gravidez - por ser o período fértil;• DIU de cobre;• Endometrite - embora não seja a manifestação principal;• Sangramentos do colo e vagina;• Pólipo endometrial;• Miomas/adenomiose.• Menacme: período que vai da menarca até a menopausa, período reprodutivo da mulher. Notem que nessa faixa etária, as causas orgânicas são mais prevalentes. - Ciclos anovulatórios – folículos residuais mais resistentes - nos dois anos pré- menopausa é provável que isso aconteça por extinção da população folicular e maior • Pré-menopausa:- Página 4 de GO menopausa é provável que isso aconteça por extinção da população folicular e maior resistência desses folículos à ação das gonadotrofinas, então faço ciclos anovulatórios mais frequentemente. Não espero que uma mulher de 46-48 anos com queixas de irregularidade menstrual volte a menstruar regularmente espontaneamente. Ela tende a fazer ciclos anovulatórios cada vez mais; Pólipos endometriais - Mas nesse grupo as causas orgânicas também são importantes; • Miomas/adenomiose;• Conversão periférica de androgênios - essa conversão aqui entra mais na causa disfuncional, porque essas pacientes têm hipoestrogenismo, mas do ponto de vista relativo algumas cursam com hiperestrogenismo, principalmente as pacientes obesas que possuem maior tecido subcutâneo e portanto maior atividade da enzima aromatase, elas convertem androgênio em estrogênio que ficam estimulando o endométrio; • Hiperplasia endometrial;• Adenocarcinoma de endométrio.• Pólipos endometriais;• Hiperplasia endometrial;• Adenocarcinoma de endométrio;• Tumor ovariano secretante.• Pós-menopausa: Aqui não existem causas disfuncionais, não há mais atividade cíclica do eixo hipotálamo-hipófise-gônada-endométrio, então só podem haver causas orgânicas. Então aqui a preocupação com malignidade é importante, tanto causas benignas ou malignas. - Caso 1: 14 anos, sangramento volumoso, síncope. Vários episódios semellhantes desde a menarca (aos 13 anos). Virgem sem uso de contraceptivo (cuidado com essa informação porque pode haver sim causa obstétrica em alguns casos). • Exame: hipocorada, pulso filiforme, 108 bpm, PA=110/60 mmHg em decúbito dorsal e 90/40 mmHg em ortostatismo. Genitália externa sem lesões, hímen roto, sem lesões no colo e vagina, sangramento copioso. • Anamnese e exame físico:- Ciclo anovulatório - paciente recém saída da menarca, geralmente não cursa com sangramentos tão volumosos mas é uma possibilidade; • Abortamento (ectópica, mola) - comprovadamente teve relação sexual então os diagnósticos diferenciais de causas obstétricas entram aqui; • Coagulopatia - não é comum o sangramento ser manifestação inicial, geralmente tem outros sangramentos também; • Trauma - a princípio foi descartado;• Hormônios exógenos.• Hipóteses diagnóstica:- Pergunta: Hímen roto é capaz de definir se mulher já teve relação? Do ponto de vista do contexto de que houve penetração. Existe uma condição de hímen complacente (que Página 5 de GO do contexto de que houve penetração. Existe uma condição de hímen complacente (que é mais rara) em que pode haver penetração sem a ruptura himenal. Mas a identificação da ruptura himenal e das carúnculas mirtiformes atestam que houve penetração. Hemograma - espero encontrar queda dos níveis de hemoglobina, de hematócrito, uma situação de anemia ferropriva. (episódios há mais de ano, ela chegou a desmaiar); • Coagulograma - TAP, RNI, TPP, contagem de plaquetas, tempo de coagulação...;• HCG - já que condições obstétricas estão no diagnóstico diferencial;• Ultra-som? - pode ser empregada questionavelmente, mas nesses grupos de causas é pouco provável que eu encontre causas orgânicas. • Exames complementares:- Transfusão, suplementação de ferro - se os níveis de hemoglobina estiverem muito baixos (abaixo de 6 ou 7). Suplementação de ferro por via oral, parenteral, IM. Vou me basear nos níveis de hemoglobina para tomar essa decisão; • Estradiol 2mg/dia;○ Valerato de estradiol VO, 2,5 mg 6/6 h + Progestágeno - pretendo com isso reestabelecer a função ovariana, a primeira fase do ciclo reprodutivo antes da ovulação é estrogênica e ela está sangrando porque endométrio está descamando, então vou reepitelizar esse endométrio utilizando alguma forma de estrogênio. ○ Estrógenos conjugados VO 2,5-7,5 mg/dia - para cessar esse sangramento, se a causa é disfuncional, tenho que administrar tratamento hormonal: • Tratamentos:- Ao hematologista - se encontro alguma alteração de coagulação, leucemia, linfoma… encaminha ao especialista, que é o hematologista, que vai investigar e fechar o diagnóstico; • Curetagem - se se tratar de abortamento, o sangramento só cessa quando for feito o esvaziamento uterino, que pode ser feito com a curetagem, aspiração (mioaspiração manual intrauterina, técnica de esvaziamento da cavidade uterina); • Gestação ectópica- intervenção cirúrgica.• Eventualmente encaminhar, dependendo do resultado: Pergunta: Por que ciclo anovulatório entrou como Hipótese diagnóstica se ela apresentava episódio de sangramento há quase 1 ano? Podem haver sangramentos relevantes dentro da ciclicidade, podendo ter períodos de atraso seguidos de episódios de hemorragia. Quem entra nos estados anovulatórios só tem estímulo estrogênico (não produz progesterona) então o endométrio vai espessando até descamar (em focos dá hipermenorreia e em blocos dá menorragia), então se tiver acesso aos ciclos dela você pode identificar esses ciclos da paciente. Caso 2: 14 anos, irregularidade menstrual, virgem, menarca aos 13 anos;• Exame: normocorada, PA=110/70 mmHg, abdome livre, hímen íntegro, sem Anamnese e exame:- Página 6 de GO Exame: normocorada, PA=110/70 mmHg, abdome livre, hímen íntegro, sem trauma na região genital. • Imaturidade do eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano.• Diagnóstico:- Exames? - praticamente dispensa a solicitação de investigação complementar e tratamento específico. - Tratamento - geralmente basta orientação, calendário menstrual, se ela não tem os fluxos anotados posso pedir pra que ela anote e leve prospectivamente para acompanhar e esperar regularização em até 1 ano. - Caso 3: 33 anos, fluxo e duração aumentados (hipermenorreia e menorragia), há cerca de um ano (crônico), intervalos regulares de 31 dias. HP: anemia tratada com sulfato ferroso. HGO: G3P3A0, laqueadura tubária. • Exame: hipocorada +/4+, abdome livre, sem sangramento ou lesões ao exame especular, útero discretamente aumentado, anexos livres (normalmente tuba e ovário não são palpáveis mesmo). • Anamnese e exame:- Mioma;• Adenomiose - forma de endometriose;• Pólipo endometrial;• Anovulação - praticamente descartada visto que os ciclos são regulares. • Diagnóstico: causas disfuncionais são pouco prováveis pois o ciclo dela é regular; causas obstétricas também menos prováveis pois ela já fez laqueadura; mais provável que seja uma causa anatômica. - Mioma: imagem ultrassonográfica - faz ultrassonografia com acesso endovaginal e encontro essa lesão no útero, um nódulo miomatoso que é responsável pelo aumento de volume do útero e pelo sangramento uterino anormal. Mioma: imagem video-histeroscopica - essa aqui é a visão histeroscópica do mioma uterino. (Video-histeroscopia é uma forma de endoscopia ginecológica feita por acesso transvaginal com paciente sob sedação ou anestesia e com o qual consigo enxergar a cavidade intrauterina). Nesse caso vemos essa lesão abaulada protundindo pra dentro da cavidade uterina e vou classificá-lo como mioma submucoso, e ele é o responsável pelo sangramento. Página 7 de GO Pergunta: Quando se trata de um mioma subseroso como que consegue ver? Resposta: quando é um mioma subseroso eu não consigo ver por esse acesso. Os miomas subserosos são aqueles localizados subjacentes ao perimetrio e não são acessíveis por essa via, não são visualizados pela via vaginal, somente pela via laparoscópica. Mas eles não costumam cursar com sangramento. Pergunta: Já dá para fazer a retirada do mioma com a histeroscopia? Resposta: Geralmente já dá para fazer a retirada do mioma com a histeroscopia, os miomas submucosos são ressecáveis, então o procedimento ao mesmo tempo que é diagnóstico, ele pode ser terapêutico. Podemos ver alterações de ecogenicidade, da espessura da parede posterior (1) em comparação com a parede anterior (2), é o eco do endométrio (círculo verde) e aqui é o fundo do útero (3). Lembrando que nenhum método de imagem é obrigado a fazer diagnóstico histopatológico pra mim, somente descrição da imagem mesmo. Aqui temos imagens hipoecogênicas de diâmetros variáveis (bolinhas amarelas) na espessura da parede posterior do corpo uterino, aí eu que vou julgar se essa imagem é indicativa de adenomiose. uma forma de endoscopia ginecológica feita por acesso transvaginal com paciente sob sedação ou anestesia e com o qual consigo enxergar a cavidade intrauterina). Nesse caso vemos essa lesão abaulada protundindo pra dentro da cavidade uterina e vou classificá-lo como mioma submucoso, e ele é o responsável pelo sangramento. Adenomiose: Outra condição orgânica plausível pra paciente do caso 3. A Adenomiose é uma forma de invasão do miométrio por endométrio. Vou discutir essa imagem futuramente. Pólipo endometrial: Outra hipótese diagnostica da paciente 3. Existem pólipos que são adenomas e pólipos que são adenocarcinoma. A imagem é um corte longitudinal, aqui a parede anterior do útero (1), o fundo do útero (2), parede posterior do útero (3), e aqui é o colo (círculo Página 8 de GO Na ultrassonografia a pessoa não vai escrever que é um pólipo, a descrição feita da imagem é: lesão de base séssil, hiperecogênica, projetando-se no interior da cavidade uterina, medindo x por y, com contorno x… e o médico ou o patologista que irão dizer que é um pólipo. O médico de imagem não faz diagnóstico morfológico/etiológico. - • Hemograma - como a paciente vem sangrando há algum tempo, peço hemograma e tento quantificar o grau de perda que ela está tendo; • Ultra-som - basicamente é suficiente para identificar o quadro. • Hormonais? - dispensável qualquer tipo de dosagem de hormônio (estrogênio, progesterona, FSH, LH) Exames complementares: - • Contraceptivo hormonal - eles diminuem sangramento, é um efeito esperado dos ACOs, é um dos benefícios não contraceptivos; • AINEs - principalmente se ela tem queixa de dor, muita cólica. • Inibidores de enzimas proteolíticas (ácido tranexâmico) - tratamento adjuvante, não é tratamento etiológico para esses casos, pode ser utilizado em várias condições hemorrágicas. • DIU de progestágeno; • Miomectomia, polipectomia - em casos de miomas uterinos e de pólipos endometriais; • Ablação endometrial - a histeroscopia é capaz de fazer a ablação endometrial em que eu resseco profundamente o endométrio. Não garante que ela não sangre mais porque endométrio reepiteliza bem, mas esse procedimento costuma ser efetivo a médio/longo prazo. • Histerectomia - se já é paciente com prole constituída e tal, posso usar esse tratamento mais invasivo (retirada do útero). Tratamento: Caso 4: Anamnese e exame: anterior do útero (1), o fundo do útero (2), parede posterior do útero (3), e aqui é o colo (círculo amarelo). E aí temos essa projeção dessa imagem ecogênica pra dentro da luz da cavidade uterina (P). Imagem histeroscópica do pólipo. Aqui também dá para fazer a polipectomia, posso ressecar esse pólipo pela própria via de acesso histeroscópica. Página 9 de GO • 43 anos, ciclos irregulares, volume e duração aumentados (menorreia e hipermenorreia), G5P4A1, laqueadura tubária. - Anamnese e exame: • Obesa, normocorada (então a perda não parece ser tão esfoliativa assim), abdome livre, sem lesões em colo e vagina, útero RV (útero que se volta para trás. Não é patológico, é uma variação anatômica presente em 15% das mulheres, mas aí não consigo identificar se ele está ou não aumentado de volume. E úteros RV quando estão aumentados para serem percebidos no exame físico, ele tem que estar volumosamente aumentados), volume aumentado? Anexos livres? A obesidade também dificulta o exame físico, então nesse caso eu fico mais dependente de propedêutica complementar mesmo. - Exame físico: - • Anovulação - 43 anos já posso pensar em fase pré-menopausa e ela tinha irregularidades no ciclo, então posso pensar na possibilidade dela estar fazendo ciclos anovulatórios por exaustão da população folicular; • Mioma, Pólipo, Adenomiose, Hiperplasia, adenocarcinoma endometriais - Mas como o exame físico foi um tanto quanto inconclusivo e nessa faixa etária causas anatômicas são importantes, tenho que pensar nos miomas, pólipos, adenomiose, doenças endometriais..;Diagnóstico: A faixa etária da paciente tem vários diagnósticos possíveis, tanto orgânicos/anatômicos quanto disfuncionais/hormonais. Hiperplasia endometrial: endométrio hiperplásico, muito desenvolvido. Imagem de US - eco endometrial bastante espessado (1), aqui seria o correspondente ultrassonográfico da imagem anatomopatologica anterior.1 Adenocarcinoma do Endométrio: O câncer de endométrio não é tão prevalente nessa faixa etária, normalmente ele é mais comum em mulheres menopausadas. Aqui Página 10 de GO - • Hemograma - não se espera muitos achados, ela estava normocorada, o quadro evoluía há mais tempo; • Ultra-som - fundamental para essas pacientes já que o exame físico é inconclusivo; • Biópsia de endométrio - se o endométrio estiver muito espessado eu posso biopsiar para obter uma amostra de tecido para diagnóstico histopatológico se a suspeita de câncer for mais forte, embora nessa faixa não seja tão prevalente; • Histeroscopia - exame que identificaria um mioma submucoso, um pólipo endometrial… que por sua vez poderiam ser diagnosticados e tratados com esse procedimento; • Curetagem - A curetagem remove o endométrio como um todo e aí manda para o patologista. Se for um pólipo endometrial ou um mioma, a curetagem não é tão eficiente, se for um pólipo mais pediculado ele não sai no procedimento. De fato a histeroscopia é superior à curetagem mas seu custo é maior. Exames complementares: - • Progestágenos – anovulação, hiperplasia sem atipias - Se for uma paciente pré climatérica, com exames complementares sem nada ou somente com hiperplasia simples sem atipias, basta administrar pra ela o que ela não tem, a progesterona (ela não está ovulando direito). Administro todo mês uma série de 10 dias de progesterona, ou seja, eu vou mimetizar o papel do corpo lúteo, e como depois o corpo lúteo regride, eu suspendo a progesterona e o endométrio descama controladamente; • Cirurgia – mioma, câncer, hiperplasia atípica, pólipo endometrial - caso tenha achado compatíveis com alterações anatômicas; • AINEs, ácido tranexâmico - tratamentos coadjuvantes. Tratamento: E aí eu trato de acordo com a causa. Caso 5: • 35 anos, ciclos irregulares desde a laqueadura, há 4 anos, duração e fluxo normais, cólicas, G5P5A0 - ela tem um distúrbio no ciclo, não no fluxo, ela não tem hipermenorreia, menorragia… ela tem ciclos curtos. - Anamnese e exame: de endométrio não é tão prevalente nessa faixa etária, normalmente ele é mais comum em mulheres menopausadas. Aqui nesse endométrio já vemos muita vascularização. Peça de câncer de endométrio. Página 11 de GO hipermenorreia, menorragia… ela tem ciclos curtos. - Exame físico: sem alterações - • Anovulação - essa hipótese é consistente; • Ciclos regulares < 30 dias - pode ser que ela só tenha ciclos curtos mesmo; • Mioma, Adenomiose, Pólipo endometrial - mas é uma faixa etária em que as causas orgânicas e anatômicas são possíveis; Diagnóstico: Obs.: Síndrome pós laqueadura existe ou não existe? “Depois da laqueadura minha menstruação nunca mais foi a mesma” é uma constatação frequente de paciente. As vezes essa paciente tinha alguma alteração que estava mascarada pelo uso de ACO, que costuma ser um bom tratamento para as causas disfuncionais/endócrinas, e quando ela interrompe esse tratamento e faz a laqueadura, as alterações se manifestam. Há quem defenda que de fato existe do ponto de vista fisiopatológico a síndrome pós laqueadura, baseado no fato de que haveria alterações nas veias ovarianas (que ocorrem ali próximo ao mesossalpinge que causariam flutuações dos níveis hormonais. Mas para provar isso seria necessário dosar estrogênio e progesterona seriadamente na veia ovariana e ninguém fez esse trabalho ainda, então quem questiona é porque não existe comprovação. Então, nessa paciente do caso 5, pode ser que seja por causas hormonais ou por causas anatômicas, então tem que investigar. - • Ultra-som; • Biópsia endometrial - se a ultrassonografia mostrar algum achado suspeito (embora o cancer de endométrio não seja muito frequente nessa faixa etária). Exames: - • Mioma, pólipo, adenomiose - se for por essas causas, posso fazer miomectomia, polipectomia, histerectomia... • Anovulação: progestágeno - se for causa hormonal/endócrina apenas, faço a série de progesterona por 10 dias a cada mês. Progesterona oral ou vaginal. A mais comum e mais barata mas com mais efeitos colaterais é a Medroxiprogesterona 5 a 10mg/dia. Temos o Nomegestrol (progestogenio de síntese) muito utilizado. Um melhor, porém mais caro, é a progesterona natural micronizada (oral ou vaginal); • Calendário menstrual - Mas se isso não aborrece muito a paciente e não tem consequência na qualidade de vida dela, pode sugerir que ela faça só acompanhamento, com calendário. Tratamento: Caso 6: • 32 anos, atraso menstrual seguido de sangramento copioso. Ciclos regulares 30/5 dias. Usa DIU há cerca de 3 anos (provavelmente DIU de cobre porque o DIU hormonal geralmente gera amenorreia). - Anamnese e exame: • Normocorada, ausência de sangramento no momento, fios do DIU com cerca de 1,5 cm - como não tem aumento e útero é improvável que exista alguma causa anatômica, tipo mioma, tipo pólipo. - Exame físico: Página 12 de GO anatômica, tipo mioma, tipo pólipo. - • Ciclo anovulatório - pode ser que sim pela queixa de atraso menstrual, embora não seja faixa etária comum de anovulação e sabemos que DIU nenhum impede a ovulação; Diagnóstico: • DIU deslocado - apesar de ter visualizado ele no local, ele pode ter deslocado de posição e quando ele está deslocado de posição, ele pode falhar na sua eficácia e favorecer a ocorrência também de um abortamento. Então causas obstétricas não estão descartadas, mas é menos provável visto que exame físico não fala de aumento do volume uterino..; Abortamento - ela teve atraso na menstruação e depois sangramento copioso. Então complicações obstétricas não estão ainda completamente descartadas. • Obs.: o termo spotting geralmente é utilizado para o sangramento em vigência do uso de ACO (escape). - • Ultra-som - para avaliar o posicionamento do DIU; • HCG - pela possibilidade de causa obstétrica então é pertinente a dosagem do beta-HCG. Exames: - • Orientação; • Retirada/troca do DIU - se estiver deslocado tem que ser retirado e colocar outro caso a paciente queira continuar com ele; • Curetagem: abortamento incompleto. Tratamento: Caso 7: • 60 anos, menopausa aos 50 anos, não usa estrogenioterapia, apresentou pequeno sangramento - lembrando que nenhum sangramento após menopausa pode ser considerado normal. - Anamnese e exame: • Vagina e colo atróficos (sem estrogênio há 10 anos, é uma alteração esperada), sem lesões no colo, útero de volume normal para a fase (normalmente são mais pequenos), vestígio de sangue no colo e fórnix posterior. - Exame físico: - • Hiperplasia endometrial; • Adenocarcinoma endometrial; • Proliferação; • Pólipo, mioma; • Vaginite atrófica. Diagnóstico: a possibilidade de malignidade nas mulheres menopausadas é maior. Nesse grupo, as causas obstétricas e disfuncionais/hormonais estão descartadas (ela não engravida mais e não tem mais influência do eixo hipotálamo-hipófise-gônada). Então vou pesquisar as causas orgânicas/anatômica, que podem ser benignas ou malignas: Ultra-som - o ponto de partida é US, de preferência com acesso endovaginal. É - Exames: Página 13 de GO • Ultra-som - o ponto de partida é US, de preferência com acesso endovaginal. É acessível, de baixo custo, pouco invasivo e vou medir a espessura do endométrio. O diagnóstico diferencial principal que preciso investigar é o câncer de endométrio. A espessura endometrial máxima, medida pela ultrassonografia, admissível para mulheres da pós menopausa que não fazem uso de hormônio, é de 4-5mm. Se encontro endométrio com espessura de 4 ou5mm no máximo, eu posso encerrar essa investigação e apenas acompanha essa paciente, mas se encontro maior que 5mm eu tenho que buscar um diagnóstico histopatológico, existem 3 métodos: histero-sonografia, histeroscopia e biópsia de endométrio; • Histero-sonografia - é uma ultrassonografia mas eu injeto um pouco de líquido que distende a cavidade abdominal e facilita visualização de miomas, pólipos... • Histeroscopia - o procedimento ideal, padrão ouro, porque tenho a visão direta da cavidade endometrial e posso identificar e visualizar lesões e colher mais especificamente; • Biópsia de endométrio - método mais barato e menos invasivo é a biópsia do endométrio, mas tem alta taxa de falso negativo. Se vier positivo eu confirmo mas se vem negativo ainda não posso excluir, porque como é feito ás cegas eu posso não ter biopsiado a região com presença do câncer; • Curetagem uterina - posso fazer a curetagem (retira endométrio todo e manda pro patologista) que é relativamente acessível mas ainda assim é feito às cegas. ○ Ex. cirurgia, quimio, radio, estrogênio tópico - vou comentar na aula de câncer de endométrio; ○ No caso onde a biópsia não identificou câncer, e identificou apenas o endométrio proliferativo e hiperplasia, eu tenho que pensar na possibilidade e pesquisar uma fonte de estrogênio (tumor ovariano, medicação hormonal). • Específico para a causa: - Tratamento: Obs.: mulheres que fazem uso de medicação hormonal considere aqueles valores de espessura do endométrio no US de 8 a 10mm. Caso 8: • 58 anos, em terapia estrogênica com esquema combinado cíclico (combinado cíclico quer dizer que ela usa estrogênio com progesterona fazendo intervalos), sangrando antes do 10º dia do progestágeno. - Anamnese e exame: - Exame físico: sem alterações - • Pólipo, mioma, adenomiose - essas condições são hormonodependentes então sem estímulo hormonal diminui, mas ela está repondo hormônio então pode haver estímulo; • Uso incorreto da medicação; • Sem alterações; • Hiperplasia endometrial; Adenocarcinoma do endométrio - para diferenciar, analisa a espessura do Diagnóstico: não é muito diferente do que vimos no caso anterior Página 14 de GO • Adenocarcinoma do endométrio - para diferenciar, analisa a espessura do endométrio no ultrassom (como ela faz reposição hormonal, a medida tem que ser acima de 8 ou 10mm para prosseguir com investigação de malignidade). • Ultra-som; • Histero-sonografia; • Biópsia endometrial; • Histeroscopia; • Curetagem uterina. - Exames: - • Orientação/troca de medicação; • Dirigido à patologia em questão. Tratamento: de acordo com a causa Pergunta 1: O próprio climatério pode ser a causa? Resposta: Nesse caso a paciente já estava menopausada e o climatério causa distúrbio de sangramento é lá na fase perimenopausa (47/48/49 anos). A idade da menopausa é arbitrária mas o limite superior é definido como 55 anos, mas são números arbitrários, tem mulher que para de menstruar muito antes disso. Pergunta2: Qual a diferença de menorragia para metrorragia? Resposta: Metrorragia é um termo genérico que significa simplesmente sangramento uterino, de qualquer etiologia, e menorragia significa fluxo menstrual volumoso, abundante, >80ml (dependendo da informação da paciente). Página 15 de GO
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