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BMF3 Eixo Tireotrófico A tireoide, localizada imediatamente abaixo da laringe e ocupando as regiões laterais e anterior da traqueia, é uma das maiores glândulas endócrinas, normalmente pesando de 15 a 20 gramas em adultos. Essa glândula secreta dois hormônios principais, a tiroxina e a tri-iodotironina, usual-mente chamados T4 e T3, respectivamente. Ambos aumentam intensamente o metabolismo do organismo. A ausência completa de secreção tireoidiana, em geral, faz com que o metabolismo basal caia para 40% a 50% do normal, e o excesso extremo de secreção pode aumentá-lo de 60% a 100%. A secreção tireoidiana é controlada, principalmente, pelo hormônio tireoestimulante (TSH), secretado pela hipófise anterior. A tireoide também secreta calcitonina, hormônio importante para o metabolismo do cálcio A tireoide é composta por grande número de folículos fechados (de 100 a 300 micrômetros de diâmetro), que estão cheios de uma substância secretora, chamada coloide, e revestidos por células epiteliais cuboides, que secretam seus produtos para o interior dos folículos. O coloide é constituído, em sua maior parte, pela grande glicoproteína tireoglobulina, cuja molécula -contém os hormônios tireoidianos. Uma vez que a secreção chega aos folículos, deve ser reabsorvida, através do epitélio folicular, para o sangue, a fim de poder realizar sua função no corpo. O fluxo sanguíneo tireoidiano é cerca de cinco vezes maior que o peso da glândula a cada minuto, fluxo maior do que qualquer outra área do corpo, com a possível exceção do córtex adrenal. A tireoide contém também células C, que secretam calcitonina. TIREOIDE E IODO Os hormônios da tireoide são aminas derivadas do aminoácido tirosina, e eles são incomuns porque contêm o elemento iodo. Atualmente, os hormônios da tireoide são o único uso conhecido do iodo no corpo, embora outros poucos tecidos também concentrem esse mineral. Para formar quantidades normais de tiroxina, é necessária a ingestão de cerca de 50 miligramas de iodo na forma de iodeto a cada ano, ou cerca de 1 mg/semana. Para prevenir a deficiência de iodo, o sal comum de cozinha é suplementado com cerca de uma parte de iodeto de sódio para cada 100.000 partes de cloreto de sódio. Síntese dos hormônios da tireoide 1a – transporte de iodeto do sangue para as células e folículos glandulares da tireoide. A membrana basal das células tireoidianas tem a capacidade específica de bombear, ativamente, iodeto para o interior da célula. Esse bombeamento é realizado pela ação de simporte de sódio- iodeto (NA/I symporter), que cotransporta um íon iodeto, junto com dois íons sódio, através da membrana basolateral (plasma), para a célula. A energia para transportar iodeto contra o gradiente de concentração vem da bomba de sódio-potássio adenosina trifosfatase (ATPase), que bombeia sódio para fora da célula, instituindo, desse modo, baixa concentração de sódio intracelular e gradiente de difusão facilitada para dentro da célula. 2 – o iodeto é transportado para fora das células da tireoide pela membrana apical para o folículo, por meio de molécula contratransportadora de íons cloreto-iodeto, chamada pendrina (pendrin). 1b – as células da tireoide são típicas células glandulares secretoras de proteínas. O retículo endoplasmático e o aparelho de Golgi sintetizam e secretam para os folículos uma grande glicoproteína chamada tireoglobulina (Tg). A Tg é uma glicoproteína que contém múltiplos 1a 1b 2 3 4 5 6 7 8 resíduos de tirosina. Ela é sintetizada nas células epiteliais foliculares da tireoide e secretada, através da membrana apical, na luz folicular, onde é armazenada no coloide. 3 – oxidação do iodo. O primeiro estágio essencial à formação dos hormônios tireoidianos é a conversão dos íons iodeto para a forma oxidada de iodo, ou iodo nascente (I0) ou I3−, que, então, é capaz de se combinar diretamente com o aminoácido tirosina. Essa oxidação da tirosina é promovida pela enzima peroxidase, acompanhada de peróxido de hidrogênio, os quais constituem potente sistema capaz de oxidar iodetos. A peroxidase localiza-se na membrana apical da célula ou ligada a ela, produzindo, assim, o iodo oxidado, exatamente no ponto da célula em que a molécula de tireoglobulina surge, vinda do aparelho de Golgi e através da membrana celular, sendo armazenada no coloide da tireoide. Quando o sistema da peroxidase é bloqueado ou quando está hereditariamente ausente das células, a formação de hormônios tireoidianos cai para zero. 4 – a ligação do iodo com a molécula de tireoglobulina é chamada organificação da tireoglobulina. O iodo oxidado, até mesmo na forma molecular, liga-se diretamente, embora de forma muito lenta, ao aminoácido tirosina. Nas células da tireoide, entretanto, o iodo oxidado está associado à enzima peroxidase tireoidiana, que reduz a duração desse processo para segundos ou minutos. Por isso, no intervalo de tempo em que a molécula de tireoglobulina leva para ser liberada pelo aparelho de Golgi, ou para ser secretada pela membrana apical da célula para o folículo, o iodo se liga a cerca de um sexto de seus aminoácidos tirosina. A síntese de hormônios da tireoide exige a iodação dos resíduos de tirosina da proteína Tg, que é armazenada no coloide. A tirosina é, inicialmente, iodada para monoiodotirosina e, então, para di-iodotirosina. Então, nos minutos, horas, ou mesmo dias seguintes, cada vez mais resíduos de iodotirosina se acoplam uns aos outros. O principal produto hormonal da reação de acoplamento é a molécula tiroxina (T4), formada quando duas moléculas de di-iodotirosina se unem; a tiroxina permanece como parte da molécula de tireoglobulina. Outra possibilidade é o acoplamento de uma molécula de monoiodotirosina com uma de di-iodotirosina, formando a tri-iodotironina (T3), que representa cerca de 1/15 do total de hormônios. 5 – conjugação de duas tirosinas iodadas para formar tiroxina ou tri-iodotironina. 6 – endocitose. Em resposta ao TSH, as células foliculares captam a tireoglobulina a partir do coloide por um processo de endocitose mediada por receptor. Se os níveis de TSH permanecerem elevados, a quantidade de coloide no folículo será reduzida, uma vez que ele é sintetizado, secretado, iodado e reabsorvido com muita rapidez para se acumular. 7 – liberação proteolítica dos hormônios T3 e T4. Durante o processo de proteólise da tireoglobulina ionizada conjugada, pode ocorrer a formação de MIT e DIT, as quais sofrem um processo de reciclagem do iodo ligadas à tirosina denominado deiodização pela enzima deiodinase formando um iodeto a partir do iodo do MIT e DIT Além disso, a desiodação intracelular fornece um mecanismo para a reciclagem do iodeto para a participação na síntese de um novo hormônio tireoidiano na superfície celular apical. 8 – liberação na corrente sanguínea (MCT: transportador de monocarboxilatos). REGULAÇÃO DA LIBERAÇÃO DO TSH A síntese e a liberação dos hormônios da tireoide são reguladas por retroalimentação negativa pelo eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano. O TRH é um tripeptídeo sintetizado no hipotálamo e liberado das terminações nervosas na eminência mediana, a partir da qual é transportado por meio do plexo capilar porta para a adeno-hipófise. O TRH liga-se aos receptores Gαq/11 da membrana celular nos tireotrofos da adeno-hipófise, onde ativa a fosfolipase C, resultando na hidrólise do difosfato de fosfatidilinositol e na geração de trifosfato de inositol (IP3) e diacilglicerol (DAG) (em resumo: processo de sinalização intracelular com receptor acoplado à proteína G). Esse processo leva a um aumento das concentrações de Ca2+ citosólico, com consequente estimulação da exocitose e liberação de TSH na circulação sistêmica. O TSH é transportado na corrente sanguínea até a glândula tireoide, onde se liga ao receptor de TSH localizado na membrana basolateraldas células epiteliais foliculares da tireoide. O receptor de TSH é um receptor de membrana celular acoplado à proteína G (GPCR). A função adequada desse receptor é de importância crítica para o desenvolvimento, o crescimento e a função da glândula tireoide. O processo de sinalização intracelular regula a captação de iodeto e a transcrição da Tg, da tireoperoxidase (TPO), a atividade do simportador de sódio-iodeto, o efluxo de iodeto, a produção de H2O2 e a iodação da Tg. FUNÇÕES DO TSH Os efeitos específicos do TSH na tireoide são: 1. Aumento da proteólise da tireoglobulina já armazena-da nos folículos, com resultante aumento da liberação dos hormônios tireoidianos para o sangue circulante e diminuição da própria substância -folicular. 2. Aumento da atividade da bomba de iodeto que aumenta a “captação de iodeto” pelas células glandulares, às vezes elevando a proporção entre as concentrações intra e extracelular de iodeto na subs-tância glandular para até oito vezes o normal. 3. Aumento da iodização da tirosina para formar os hormônios tireoidianos. 4. Aumento do tamanho e da atividade secretora das células tireoidianas. 5. Aumento do número de células tireoidianas, além da transformação de células cuboides em colunares e grande pregueamento do epitélio tireoidiano nos folículos. Em resumo, o TSH aumenta todas as conhecidas atividades secretoras das células glandulares tireoidianas. O efeito precoce mais importante, após a administração de TSH, é o início da proteólise da tireoglobulina, que provoca a liberação de tiroxina e tri-iodotironina no sangue, depois de 30 minutos. Os demais efeitos levam horas ou até mesmo dias e semanas para se desenvolver plenamente. Os autoanticorpos dirigidos contra o receptor podem atuar como agonistas, simulando as ações do TSH no caso da doença de Graves (hipersensibilidade do tipo II), ou como antagonistas, no caso do hipotireoidismo autoimune (tireoidite de Hashimoto). TRANSPORTE E LIBERAÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS NOS TECIDOS Uma vez liberados na circulação, os hormônios da tireoide circulam, em sua maior parte, ligados à proteína, predominantemente (70%) à globulina ligadora da tireoide (TBG). As outras proteínas envolvidas na ligação dos hormônios tireoidianos são a transtiretina, que liga 10% da T4, e a albumina, que liga 15% da T4 e 25% da T3. Uma pequena fração de cada hormônio (0,03% de T4 e 0,3% de T3) circula em sua forma livre. Dos dois hormônios da tireoide, a T4 liga-se mais firmemente às proteínas de ligação do que a T3 e, portanto, apresenta menor taxa de depuração metabólica e meia-vida mais longa (7 dias) do que a T3 (1 dia). Os rins excretam prontamente a T4 e a T3 livres. A ligação dos hormônios da tireoide às proteínas plasmáticas assegura uma reserva circulante e retarda sua depuração. METABOLISMO E LIBRAÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Conforme assinalado antes, a glândula tireoide libera principalmente T4 e quantidades muito pequenas de T3, apesar de a T3 ter maior atividade que a T4. A principal fonte de T3 circulante consiste na desiodação periférica da T4 por enzimas denominadas desiodinases, que desempenham um importante papel no metabolismo periférico do hormônio tireoidiano. Como em um sistema de retroalimentação clássico, o eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano é controlado pela quantidade de hormônio livre disponível. AÇÕES DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS O efeito geral dos hormônios tireoidianos consiste em ativar a transcrição nuclear de grande número de genes. No entanto, em praticamente todas as células do organismo é sintetizado grande número de enzimas, proteínas estruturais, transporte de proteínas e outras substâncias. O resultado final é o aumento generalizado da atividade funcional de todo o organismo. Os receptores de hormônios tireoidianos são expressos em praticamente todos os tecidos e afetam inúmeros eventos celulares. Seus efeitos são mediados principalmente pela regulação transcricional de genes-alvo, sendo, por isso, conhecidos como efeitos genômicos. Há pouco tempo, tornou-se evidente que os hormônios da tireoide também exercem efeitos não genômicos, os quais não exigem a modificação da transcrição gênica. Ativação de células-alvo por hormônios tireoideanos A tiroxina (T4) e a tri-iodotironina (T3) entram na membrana celular através de um processo de transporte mediado por carregador, dependente de adenosina trifosfato. Uma grande parte de T4 é deiodada para formar T3, que interage com o receptor de hormônio tireoidiano, ligado como um heterodímero ao receptor de retinoide X, do elemento genético de resposta ao hormônio tireoideano. Essa ação aumenta ou reduz a transcrição de genes que levam à formação de proteínas, produzindo, assim, a resposta celular ao hormônio tireoidiano. São demonstradas as ações dos hormônios tireoidianos nas células de diferentes sistemas. Na+-K+- ATPase, adenosina trifosfatase de sódio-potássio; mRNA, ácido ribonucleico mensageiro; SNC, sistema nervoso central; TMB, taxa metabólica basal. Ação genômica: transcrição de genes diversos. Ação não-genômica: membrana plasmática, citoplasma, algumas organelas (como as mitocôndrias); regulação de canais iônicos; fosforilação oxidativa e possivelmente ativação de mensageiros secundários intracelulares, tais como monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) ou as cascatas de sinalização das proteinocinases. Hormônios tireoidianos e atividade metabólica celular • aumenta o número a atividade das mitocôndrias - Mais ATP e energia; • aumenta a atividade de bombas específicas - Na+/K+ - ATPase - geração de calor; • aumenta a produção e atividade enzimática - requer mais vitaminas. Hormônios tireoidianos e desenvolvimento do organismo • crescimento ósseo; • desenvolvimento do cérebro durante a vida fetal e nos primeiros anos de vida pós-natal. • hormônios tireoidianos e metabolismo de carboidratos; • aumenta a captação de glicose pelas células, a glicólise, a gliconeogênese, a absorção pelo trato gastrointestinal e secreção de insulina. Hormônios tireoidianos e metabolismo das gorduras • aumenta a mobilização dos ácidos graxos do tecido adiposo para os líquidos extracelulares; • no entanto, reduz as concentrações de colesterol, fosfolipídios e triglicerídeos no plasma, embora aumente a de ácidos graxos livres. Hormônios tireoidianos e os sistemas fisiológicos • aumento do fluxo sanguíneo e do débito cardíaco - vasodilatação na maioria dos tecidos, elevando o fluxo sanguíneo; • aumento da frequência cardíaca - apresenta efeito direto na excitabilidade do coração, o que eleva a frequência cardíaca; • aumento da força cardíaca - elevação da atividade enzimática, provocada por apenas ligeiro aumento da secreção do hormônio tireoidiano, já é capaz de aumentar a força da contração cardíaca (porém, quando a secreção do hormônio tireoidiano é acentuadamente elevada, a força do músculo cardíaco fica deprimida, devido ao catabolismo proteico excessivo, por longos períodos); • aumento da respiração - um maior metabolismo aumenta a utilização de oxigênio e a formação de dióxido de carbono; esses efeitos ativam todos os mecanismos que elevam a frequência e a profundidade da respiração; • aumento da motilidade gastrointestinal; • efeitos excitatórios no sistema nervoso central - aumenta a atividade cerebral; • aumento da força muscular - porém, no excesso de hormônios tireoidianos, os músculos ficam enfraquecidos, devido ao catabolismo proteico. no hipertireoidismo é comum a apresentação de tremor muscular leve; • efeito no sono - hipertireoidismo - efeito exaustivo, paciente apresenta cansaço, mas sente dificuldade para dormir. hipotireoidismo - sonolência extrema; • efeito na função sexual - redução na libido; impotência; alteração do ciclo menstrual e sangramento menstrual anormal (para mais ou para menos).Referências SILVERTHORN, Dee Unglaub; Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada, 7ed; Capítulo 23: Controle Endócrino do Crescimento e do Metabolismo. MOLINA, Patricia E.; Fisiologia Endócrina, 5ed; Capítulo 4 – Glândula tireoide. HALL, John E.; Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica, 13ed; Capítulo 77 – Hormônios Metabólicos da Tireoide.
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