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CURSO CIÊNCIAS CONTÁBEIS DISCIPLINA: ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS TEMA 02: PADRONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES TEXTO PARA APOIO AO ESTUDO O que é padronização? As demonstrações financeiras de empresas brasileiras do segmento não financeiro (aquelas que não são bancos, seguradoras ou operam em atividades correlatas no mercado financeiro) não são organizadas de forma semelhante, não apresentam o mesmo grau de confiabilidade, incorporam eventuais falhas conceituais da contabilidade nacional (tal como a inexistência de registro de inflação desde 1995) e necessariamente não utilizam métodos semelhantes de contabilização de suas principais variáveis econômicas (flexibilidade existente na contabilidade em algumas situações). Dessa forma, se torna inviável que as demonstrações brasileiras sejam analisadas da forma como são publicadas ou preparadas originalmente. É imperioso que estes demonstrativos financeiros sejam organizados de uma forma padrão e que sofram ajustes técnicos de forma a possibilitarem uniformidade e comparabilidade na análise a ser realizada. Em descrição sucinta, este é o processo de padronização das demonstrações financeiras. É o primeiro e importantíssimo passo no processo de análise das demonstrações financeiras. Pode se afirmar, com convicção, que na inexistência da realização deste procedimento, o nível de exatidão das conclusões da análise ficaria, no mínimo, comprometido, ou mais provavelmente se tornaria simplesmente inaceitável a margem de erro existente na análise. Devido à importância deste procedimento, o processo de padronização será detalhado em seus principais pontos, citados a seguir: ✓ Organização dos demonstrativos (escolher estrutura padrão para análise); ✓ Ajustes conceituais de análise de balanços; ✓ Padronização dos procedimentos contábeis; ✓ Ajustes técnicos contábeis e, ✓ Ajustes necessários para sensibilização final do risco de crédito. Motivos para a padronização Segundo Matarazzo, a padronização é realizada pelos seguintes motivos: ✓ Simplificação; ✓ Comparabilidade; ✓ Adequação aos objetivos da análise; ✓ Precisão nas classificações de contas; ✓ Descoberta de erros; e ✓ Intimidade do analista com as demonstrações financeiras da empresa. Os três primeiros motivos (simplificação, comparabilidade e adequação) são denominados Organização dos Demonstrativos nesta apostila. A Precisão se refere à série de ajustes mencionados, assim como a fase de Padronização dos procedimentos contábeis. A intimidade do analista com os demonstrativos analisados é uma justificativa levantada apenas por Matarazzo. Organização dos demonstrativos Pode ser considerado o primeiro procedimento de padronização. Trata-se de organizar as demonstrações financeiras conforme uma estrutura padrão. Esta forma de organização padrão consiste em se classificar por igual às contas contábeis. Este procedimento acarreta em consistência na estrutura das demonstrações analisadas e permite melhor capacidade de análise sobre as mesmas. Afinal, a análise se baseará em grupamentos contábeis uniformes: as mesmas contas contábeis formam o Ativo Circulante ou Realizável de cada empresa analisada e estas mesmas contas passarão a possuir denominação igual. Não existe uma estrutura que pode ser considerada como ideal para se utilizar como padrão. A estrutura deve elaborada de forma a contemplar o nível de detalhamento e rigor que se pretende obter em cada análise. Entretanto, alguns comentários gerais podem ser efetuados acerca das características desejáveis em uma estrutura contábil padrão para análise de demonstrações financeiras. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a simplicidade da estrutura financeira a ser analisada deve ser uma característica a ser valorizada. Somente devem ser destacadas as contas realmente relevantes para se entender a situação financeira da entidade e aquelas necessárias para o cálculo de um indicador econômico específico. Apenas um número excessivo de contas não agrega em conhecimento para o analista e dificulta a visão geral e objetividade na análise. Um pequeno número de contas é realmente relevante para saúde financeira de uma empresa e explicam seu comportamento econômico. Logo, somente elas devem estar segregadas na estrutura de análise. Outro ponto de atenção é que a estrutura deve ser elaborada de forma que seja adequada para calcular todos os indicadores econômicos selecionados para a análise das demonstrações financeiras. Como exemplo, a geração de caixa operacional é calculada com base no lucro da atividade adicionada do montante de depreciações (e valores correlatos como amortizações e exaustões). O lucro da atividade, por sua vez, é obtido com base no lucro operacional, constante nas demonstrações financeiras, adicionado do resultado financeiro líquido e do resultado da equivalência patrimonial. Logo, para este ponto em específico, a qualquer estrutura padrão de análise deve contemplar o cálculo segregado do lucro da atividade e um campo específico para a informação do montante de depreciações. Ajustes conceituais de análise de balanços A partir da definição da estrutura padrão ideal para análise, o passo seguinte é iniciar uma série de ajustes nos números originais das demonstrações financeiras, com finalidade de adaptar os demonstrativos para maior exatidão dos cálculos dos indicadores econômicos, igualar as práticas contábeis selecionadas, eliminar erros contábeis identificados e sensibilizar a análise para aspectos econômicos relevantes para a decisão sobre o risco de crédito envolvido. A primeira série de ajustes citada anteriormente pode ser denominada de ajustes conceituais de análise de balanços. Os principais ajustes desta natureza são: identificação dos passivos onerosos, definição dos saldos de disponibilidades, identificação do volume de ativos e passivos cíclicos, tratamento dos saldos referentes às participações de minoritários existentes nas demonstrações consolidadas e eliminação dos resultados não recorrentes existentes nos resultados apurados. Os passivos onerosos são as obrigações com incidência de juros. Neste caso, o mais correto do ponto de vista de análise de demonstrações financeiras é a reclassificação destes saldos para a linha de empréstimos. Isso vale para passivos com acionistas, com empresas ligadas e de qualquer outra natureza. O saldo de disponibilidades a ser considerado para fins de análise de demonstrações financeiras deve ser aquele volume de recursos livre de qualquer destinação. Esta premissa obedece à lógica de que a importância destes saldos é proporcionar reservas financeiras para fazer frente a valores devidos de financiamentos. Caso existam saldos contábeis de disponibilidades com destinação já devidamente conhecida (como, por exemplo, compromissos financeiros já assumidos ou investimentos na construção de ativos imobilizados), estes devem ser considerados ativos cíclicos e não, disponibilidades. Os ativos e passivos cíclicos são aqueles saldos contábeis relacionados ao ciclo operacional da empresa. Como exemplos, podem ser citados os saldos de bancos, clientes, estoques, despesas antecipadas, fornecedores, impostos a pagar e salários a pagar. Estes valores são necessários para calcular a necessidade de capital de giro (assunto a ser debatido posteriormente nesta obra). Caso a análise a ser efetuada contemple esta variável, estes valores devem ser devidamente segregados. Os resultados não recorrentes são aqueles pontuais ao exercício analisado e que, em condições normais de operação, não irão se repetir em um horizonte de tempo previsível. Dessa forma, resultados com estas características devem ser expurgados do resultado para fins de análise das demonstrações financeiras, sob pena de distorcer as conclusões a serem obtidas nos indicadores de rentabilidade e cobertura. Afinal, não se pode contar com estes resultados para o futuro e, portanto, étemerário e incorreto considerar estes valores para balizar qualquer expectativa de eventos futuros (capacidade de pagamento de financiamentos e retornos esperados da atividade, como exemplos). O maior exemplo destes ajustes são as outras receitas operacionais, não recorrentes por conceito (alienação de ativos imobilizados). Ajustes das práticas contábeis A contabilidade possui, como conceitual básico, os Princípios contábeis, que indicam as práticas contábeis universais e que criam as condições para a Contabilidade ser útil, consistente e uniforme em todo o mundo (apesar de existirem pequenas diferenças na sua aplicação e enunciado entre os países). No Brasil, os Princípios Contábeis são: entidade, continuidade, prudência, oportunidade, competência e registro pelo valor original de entrada. A base conceitual destes princípios norteou as formas de avaliação dos saldos de ativos e passivos previstos na Legislação Societária Brasileira. Ao contrário do que muitos pensam, os princípios contábeis referidos na Resolução 750/1993 não foram abolidos, mas sim diluídos entre os CPCs e redirecionados para a Resolução 1.374/2011 – NBC TG Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil e Financeiro, que entrou em vigor a partir de 2017. Adicionalmente, a Legislação Societária, de forma inconsistente e incorreta, previu alternativa a algumas formas de avaliação baseadas nos Princípios Fundamentais. Os maiores exemplos destas formas alternativas de avaliação são o método de valorização de ativos pelo menor valor entre o valor de entrada e o valor de mercado (contrariando frontalmente o Princípio do Registro pelo Valor Original, sob a alegação infundada de seguir a Convenção do Conservadorismo). Adicionalmente, além destas formas alternativas que contrariam Princípios fundamentais, a Legislação também prevê algumas regras alternativas, que não são incompatíveis com os Princípios (na realidade, os complementam para sua viabilidade prática), mas que criam formas diferentes e legais de se contabilizar uma mesma operação. Como exemplo, podem ser citados os métodos de valorização dos estoques (custo médio, PEPS, UEPS e unidade específica) e os métodos de cálculo da depreciação (linear, unidades produzidas, horas trabalhadas e soma dos dígitos). Independente da origem e amplitude de suas consequências nos registros contábeis, estas diferentes formas de avaliação das contas patrimoniais são legais e constituem em alternativas passíveis de serem utilizadas por qualquer empresa. Desta forma, ao se comparar empresas em uma análise de demonstrações financeiras, é fundamental que se uniformize os procedimentos de avaliação patrimonial utilizados (caso resultem em diferenças monetárias significativas no Balanço Patrimonial e resultado apurado), de forma a existir uniformidade na análise a ser realizada. Para tornar mais claro o impacto da utilização destes diferentes critérios de avaliação do Balanço Patrimonial, será apresentado um exemplo prático e em perfeita consonância com o momento atual da contabilidade brasileira. Supondo que uma analista irá analisar duas empresas com situação financeira semelhante, incluindo resultados e outras variáveis fundamentais para a análise (nível de geração de caixa, lucros apurados, valor do patrimônio líquido e nível de endividamento). Ao fazer a análise, como era de se esperar, este analista conclui pela igualdade entre as condições financeiras de ambas as empresas. Entretanto, apenas naquele ano de realização da análise, uma das empresas analisadas optou por não realizar o teste de imparmeint de seus ativos imobilizados. O analista, devido a este fato relevante, toma a decisão de atualizar a análise realizada. Nesta nova análise, os seguintes resultados são alterados na empresa que realizou a reavaliação: ✓ Redução substancialmente os valores do seu ativo imobilizado. ✓ A rentabilidade sobre o ativo se manterá a mesma, pois o lucro diminuiu, e o ativo teve seu saldo reduzido substancialmente; ✓ Esse efeito também será notado em todos os demais índices de rentabilidade; ✓ O grau de imobilização será modificado, uma vez que suas duas variáveis de cálculo sofreram modificações: o patrimônio líquido e o ativo imobilizado. Retornando ao exemplo apresentado, uma afirmação que pode ser realizada é que os resultados das duas análises realizadas serão diferentes. Isso porque os resultados de diversos indicadores relevantes foram bastante diferentes. A conclusão da nova análise dependerá da importância que o analista atribui a cada indicador econômico e, consequente, das ponderações utilizadas. Por exemplo, caso os resultados dos indicadores de liquidez seja considerados mais relevantes, a empresa que fez o teste de impairment apresentará uma piora na sua situação financeira. E, também, caso os indicadores de rentabilidade sejam mais relevantes, a situação financeira da empresa que fez o teste de impairment declinará. Assim, se torna clara a necessidade de padronização dos procedimentos contábeis de avaliação das contas patrimoniais antes de se iniciar a análise em si das demonstrações financeiras. No exemplo citado, o correto seria que as duas empresas tivessem realizado o teste de impairment. O importante seria não analisar as empresas com procedimentos tão distintos de avaliação patrimonial (uma com teste de impairment e outra sem, tornando-as incomparáveis). AS INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE MATERIAL DE APOIO AO ESTUDO FORAM EXTRAÍDAS DAS SEGUINTES PUBLICAÇÕES: ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e analise de balanços. Livro texto. 8 ed. São Paulo. Atlas 2006 .376p. ISBN 978.85.224.4235.5 IUDICIBUS, Sergio de .Análise de Balanços:10ed. São Paulo. Atlas, 2009 xxii, 258p ISBN 978 85 224 5421 1 MATARAZO, Dante Carmine. Analise Financeira de Balanços abordagem gerencial: Livro texto 7 ed. São Paulo: Atlas 2010.
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