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Resumo: MILANI, C. R. S.; PINHEIRO, L. Política externa brasileira: os desafios de sua caracterização como política pública. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, 35, n. 1, janeiro 2013. 11-41.

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Resumo: MILANI, C. R. S.; PINHEIRO, L. Política externa brasileira: os desafios
de sua caracterização como política pública. Contexto Internacional, Rio de
Janeiro, 35, n. 1, janeiro 2013. 11-41.
Por Raissa Januzzi Pessotti
O artigo discute a chamada nova configuração da política externa
brasileira (PEB) e seu enquadramento como política pública. Para isso os
autores fazem uma breve contextualização da evolução da disciplina de Análise
de Política Externa (APE) e seus principais marcos de desenvolvimento do
pensamento analítico do campo: a incorporação do processo decisório
doméstico como variável explicativa da PEX; posteriormente a dimensão de
percepção de indivíduos e grupos; e as controvérsias domésticas.
Um conjunto de fatores históricos como fim do bipolarismo, a
globalização e revolução tecnológica, a preponderância do neoliberalismo, as
crises financeiras globais, entre outros, impactaram a configuração e as
características da PEX gerando novas possibilidades e constrangimentos. Das
mudanças significativas observa-se o alargamento dos temas da agenda de RI,
a crescente participação e institucionalização de outros atores, o
reconhecimento da interconexão entre o nível doméstico e estrutural indo em
direção oposta aos pressupostos Realistas. Em síntese a PEX passa ser
concebida como resultante da interação entre diversos atores, no âmbito
doméstico e internacional.
A politização da PEB, intensifica-se a partir dos anos 1980, com o
movimento de ruptura do insulamento burocrático e relativa autonomia do
Itamaraty; a ampliação da participação de atores estatais não tradicionais; dos
atores não estatais (públicos e privados); dos setores econômicos, sociais e
culturais, dentre outros. Levando ao reconhecimento do impacto assimétrico
dos efeitos distributivos da consecução da PEB e a internacionalização de
políticas públicas, ou seja, há uma tendência à democratização e politização da
PEB, que começa a ser entendida pelos vários participantes de sua formulação
e implementação como uma política pública.
Em síntese, a mudança é caracterizada pela pluralidade de atores e suas
capacidades, a descentralização da agenda, o fim do monopólio do Itamaraty e
a superação da asserção de continuidade da PEB. Questiona-se também, os
efeitos dessa mudança na percepção dos demais Estados sobre a relativização
do Itamaraty e sua nova fonte de legitimidade (democracia). Há um
enfraquecimento da estabilidade e continuidade da PEB? Diminui-se a
capacidade de coordenação do Itamaraty ou cria uma nova credencial ao país
de uma PEX mais representativa.
Entretanto, é necessário pontuar que mesmo nessa nova configuração,
para ser enquadrada como PEX a ação necessita chancela estatal e assim,
algumas condutas de atores não estatais são apenas práticas internacionais.
Também necessário é o abandono da noção de interesse nacional Realista; o
reconhecimento da dialética das relações domésticas; e a compreensão de que
políticas de Estado expressas na PEX são resultados de dinâmicas
governamentais.
Algumas implicações da caracterização da PEB como política pública
são o fortalecimento do diálogo político sobre a inserção internacional do
Brasil; o favorecimento de disputas burocráticas domésticas; o
enfraquecimento da diferenciação entre política doméstica e internacional;
aumento da participação de órgãos governamentais de formas distintas;
reforço por accountability horizontal e vertical; e a e a evidência de que o
interesse nacional é resultado de competição. Por fim, os autores suscitam a
ausência e, portanto, necessidade de arcabouço institucional e jurídico que
abranjam a nova configuração da PEB e assegurem sua democratização.

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