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MÓDULO 04 - FORMAÇÃO DE PREÇOS NA AGRICULTURA FUNDAMENTOS DE ECONOMIA RURAL 1 Módulo 04 – Formação de Preços na Agricultura 1. Introdução O mecanismo de formação de preços pode ser demonstrado pelas curvas de oferta e demanda. A premissa básica inicial da teoria neoclássica não supõe intervenção governamental (por qualquer política de regulamentação de preços ou produtos), revelando a determinação do equilíbrio, o preço do bem e sua quantidade produzida proporcionados pelo ajustamento da oferta e demanda de alimentos. Considerando as características específicas dos mercados alimentares, os valores de tal preço e de tal quantidade dependerão destes fatores ligados à oferta e demanda. Nesse sentido, a utilização das curvas de oferta e demanda de alimentos poderemos compreender diversos fenômenos, como: a causa da queda contínua do preço de algumas commodities básicas durante longos períodos; a ocorrência de escassez alimentar em determinados mercados; a elevação de preços de alimentos básicos no período de entressafra etc. Ao longo do tempo, dependerão ainda de suas reações a outras variáveis econômicas, tais como atividade econômica agregada e custos de mão-de-obra, que estarão sofrendo modificações. A partir de agora, analisaremos as curvas de oferta e demanda processo fundamental para entendermos a formação de preços na agricultura. 2. Demanda e Oferta A microeconomia, ou teoria dos preços, analisa a formação de preços no mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual vai ser o preço e a quantidade de determinado bem ou serviço em mercados específicos. O princípio básico é que, por um lado, as famílias escolhem o que comprar visando maximizar a utilidade, e, por outro lado, as empresas decidem o que produzir visando maximizar os lucros. A combinação das quantidades de fatores de produção, bens e/ou serviços que os consumidores estariam dispostos a adquirir são geralmente infinitas e ilimitadas, enquanto as quantidades desses elementos que os empresários teriam condições de vender se traduzem sempre em uma oferta finita e limitada, em face da escassez dos recursos produtivos. A oferta finita e limitada impõe a determinação de um denominador comum, que nada mais será do que o preço. 2 A determinação deste preço, que dependerá muito da estrutura econômica e mercadológica envolvida, é uma tarefa a que se propõe a microeconomia ao estudar a questão, tanto no âmbito dos fatores de produção como no caso dos bens e/ou serviços. Em suma, estudar microeconomia é compreender qualitativamente o modo pelo qual a quantidade e o preço de mercado são determinados e de como eles variam ao longo do tempo. Portanto, para entender microeconomia, é preciso compreender o estudo do comportamento das curvas da Oferta e da Demanda. As curvas de oferta e demanda nos informam a quantidade que deverá ser produzida pelas empresas e a quantidade que será demandada pelos consumidores em função dos preços. 3. Hipótese coeteris paribus Para analisar um mercado específico, a microeconomia se vale da hipótese de que tudo o mais permanece constante (em latim, coeteris paribus). Assim, Coeteris paribus é uma hipótese segundo a qual todas as demais condições que possam influenciar no relacionamento entre duas variáveis, funcionalmente dependentes, sejam mantidas constantes (tudo o mais constante). 4. Demanda A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir, num dado período de tempo. Na teoria da demanda, o comportamento do consumidor pode ser analisado de acordo com as: a) preferências do consumidor: as pessoas podem preferir uma mercadoria à outra; b) restrições orçamentárias: os consumidores têm renda limitada, o que restringe as quantidades de mercadorias que podem adquirir. De uma maneira geral, os consumidores analisam em conjunto as preferências e as restrições orçamentárias visando maximizar sua satisfação. Como exemplo, poderíamos imaginar uma pessoa em um restaurante. Diversos são os fatores que vão influenciar na sua escolha. O cliente, recebendo o cardápio, olha as opções de prato e os preços. A escolha do prato, na maioria das vezes, vai levar em consideração o gosto do cliente e o preço dos outros pratos. A reação típica dos consumidores aos preços pode ser explicada por três razões. A primeira é que os preços constituem uma espécie de obstáculo para os consumidores: quanto mais alto o preço, menor será o número de consumidores dispostos e aptos a adquirir o bem e ou serviço. Por outro lado, os preços mais baixos representam um obstáculo menor, aumentando, conseqüentemente, as quantidades procuradas pelos consumidores. 3 A segunda razão é o efeito substituição: quando o preço de um determinado produto aumenta, permanecendo invariáveis os preços de seus sucedâneos, os consumidores tendem a substituí-lo, reduzindo as quantidades procuradas. Por fim, a terceira razão tem a ver com o conceito de utilidade marginal – que é a satisfação adicional (na margem) obtida pelo consumo de mais uma unidade do bem. A utilidade marginal é decrescente, porque o consumidor vai perdendo a capacidade de percepção da utilidade proporcionada por mais uma unidade do bem, chegando à saturação. O chamado paradoxo da água e do diamante ilustra a importância do conceito de utilidade marginal. Por que a água, mais necessária, é tão barata, e o diamante, supérfluo, tem preço tão elevado? Ocorre que a água tem baixa utilidade marginal (é abundante), enquanto o diamante, por ser escasso, tem grande utilidade marginal. A demanda de um bem ou serviço pode ser afetada por muitos fatores, como por exemplo: Preço do bem Fatores climáticos e sazonais Renda Propaganda Preço dos outros bens Facilidades de crédito Riqueza (patrimônio) Expectativas sobre o futuro Hábitos, gostos, preferências dos consumidores 4.1. Relação entre a quantidade demandada e preço do (próprio) bem: lei geral da demanda Há uma relação inversamente proporcional entre a quantidade procurada e o preço do bem, coeteris paribus. É a chamada lei geral da demanda. Princípio da demanda: em geral, quanto menor o preço de um bem ou serviço, maior sua procura. Essa relação quantidade demandada/ preço do bem pode ser representada por uma escala de procura (Tabela 1). 4 Tabela 1. Escala de Procura Preços Unitários ($) Quantidades Demandadas (unidades-ano) 2,00 18.000 2,50 16.000 3,00 14.000 3,50 12.000 4,00 10.000 4,50 8.000 5,00 6.000 5,50 4.000 6,00 2.000 Outra forma de apresentar essas diversas alternativas é pela curva de procura (Figura 1). Para tanto, traçamos um gráfico com dois eixos, colocando no eixo vertical os vários preços (P), e no horizontal as quantidades demandadas ou transacionadas. Assim: 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 Quantidades Demandadas (unidades-ano) P re ç o U n it á ri o ( $ ) Figura 1 – Curva típica da demanda A curva da demanda inclina-se de cima para baixo, no sentido da esquerda para a direita, refletindo o fato de que a quantidade procurada de determinado produto varia inversamente com relação a seu preço, coeteris paribus. Matematicamente, a relação entre a quantidade demandada e o preço de um bem ou serviço pode ser expressa pela chamada função de demanda ou equação de demanda. Dx = f(Px), ou seja, a quantidade demandada é função do preço, e todas as demais condicionantes permanecem constantes. 5 Efetivamente, a procura de uma mercadoria não é influenciada apenas por seu preço. Existe uma série de outras variáveis que também afetam a procura. Para a maioria dos produtos, a procura será também afetada pela renda dos consumidores, pelo preço dosbens substitutos (ou concorrentes), pelo preço dos bens complementares e pelas preferências ou hábitos dos consumidores. Bem de Giffen: é o bem cuja demanda diminui quando seu preço cai. Geralmente é um bem inferior com grande peso nos gastos dos consumidores. Ex: passagem de ônibus. Essa classe de bens recebe esse nome em homenagem a Sir Robert Giffen, que foi citado no século XIX por Alfred Marshall como o criador da idéia. Giffen imaginou uma família muito pobre, que sua renda fosse de 100 unidades monetárias e era suficiente apenas para consumir arroz durante o mês. Uma queda no preço do arroz faz com que esta família não consuma mais arroz, pois eles já estavam saturados deste produto e darão preferência a outro produto. Sendo assim, a demanda é diretamente proporcional ao preço, e não inversamente, como na maioria dos casos. 4.2. Relação entre a quantidade demandada e a renda do consumidor A demanda é em função da renda, tudo o mais permanecendo constante. Matematicamente: Dx = f (R). Se aumentar a renda de um consumidor, este normalmente desejará gastar mais e demandará maior quantidade de bens. Entretanto, esse aumento da demanda não acontece para todos os bens. Precisamente, esse fato nos permite estabelecer a distinção entre os bens normais e bens inferiores: Bem normal: é aquele cuja quantidade demandada aumenta quando aumenta a renda; Bem inferior: é aquele cuja quantidade demandada diminui quando aumenta a renda. Os bens inferiores, geralmente, são bens para os quais há alternativas de maior qualidade. Ex. carne de segunda, roupas de baixa qualidade, transporte coletivo, etc. Dentre os bens normais, cabe distinguir os bens de luxo e os bens de primeira necessidade. Bem de primeira necessidade: é aquele quando, ao aumentar a renda, a quantidade demanda do bem aumenta em menor proporção. Ex. açúcar, arroz, pão. Nesses exemplos, o consumo está saciado, por isso não ocorre um aumento do consumo; Bem de luxo: é aquele quando, ao aumentar a renda, a quantidade demanda do bem aumenta em maior proporção. Ex. celulares, televisão, computadores, etc. 6 4.3. Relação entre a quantidade demandada de um bem e preços de outros bens A quantidade demandada de um bem depende das variações dos preços dos bens relacionados a ele. Essa relação entre a quantidade demandada de um bem ou serviço com os preços de outros bens dá origem a dois conceitos importantes: bens substitutos e bens complementares. Matematicamente, Dx = f (Ps, Pc), tudo o mais permanecendo constante. Ps é o preço dos bens substitutos e Pc o preço dos bens complementares. Para esta função, não há uma relação geral: o aumento do preço do bem X poderá aumentar ou reduzir a demanda do bem Y. A reação depende do tipo de relação existente entre os dois bens. Bens substitutos ou concorrentes (ou ainda sucedâneos): trata-se de dois bens que, se ocorrer um aumento (ou redução) no preço de um deles, vai ocasionar um aumento (ou redução) na quantidade demandada do outro, mantendo constante o nível de satisfação. O consumo de um pode substituir o consumo do outro, pois ambos atenderão a mesma necessidade do indivíduo. Esses bens são rivais no consumo, isto é, possuem características ou finalidades semelhantes. Ex. transporte rodoviário e avião, manteiga e margarina, refrigerante e suco de frutas, carne de frango e carne bovina, adubos químicos e adubos orgânicos, etc. Bens complementares: são bens que, quando houver aumento (ou redução) do preço de um deles (bem X), vai ocasionar uma queda (ou aumento) na quantidade demandada do bem Y. São aqueles que, em geral, são consumidos conjuntamente, quando a satisfação ou a utilidade do uso ou consumo de um bem pode ser ampliada pelo uso ou consumo de outro bem. Ex: preço dos aparelhos de DVD e quantidade de DVD; sapatos e cadarços; quantidade de automóvel e preço da gasolina. 4.4. Relação entre a quantidade demandada e os hábitos do consumidor A demanda é em função do gosto do consumidor, tudo o mais permanecendo constante. Matematicamente, Dx = f (G). Os hábitos ou gostos também experimentam alterações que podem ocasionar deslocamentos na curva de demanda. As preferências dos consumidores podem ser alteradas simplesmente porque os gostos se modificaram com o decorrer do tempo ou devido a campanhas publicitárias. Podemos ter, por exemplo, campanhas que estimulam o consumo (beba mais leite) ou reduzam o consumo (fumo é prejudicial à saúde). Além das variáveis anteriores, que se aplicam ao estudo da procura pela maior parte dos bens, alguns produtos são afetados por fatores mais específicos, como efeitos sazonais e a localização do consumidor, ou fatores mais gerais, como as condições de crédito, as perspectivas da economia, o congelamentos ou tabelamento de preços e os salários. 7 5. Oferta Define-se oferta como a quantidade de um bem ou serviço que os produtores desejam vender por unidade de tempo. A oferta representa os planos dos produtores ou vendedores, em função dos preços de mercado. Considera-se que os produtores são racionais, no sentido de que estão produzindo com o lucro máximo, dentro das restrições de custos de produção. Como no caso da demanda, a oferta é dada por uma série de possibilidades alternativas, correlacionando as duas variáveis consideradas, preços e quantidades. O comportamento típico dos produtores é o de aumentarem as quantidades ofertadas, caso os preços aumentem, reduzindo-as em caso de reduções de preços incompatíveis com os custos de produção. Para quem realiza a oferta, preços mais altos não são obstáculos: ao contrário, são estímulos. Princípio da oferta: em geral, quanto maior o preço de um bem ou serviço, maior sua oferta. Podemos representar a relação quantidade ofertada/ preço do bem por uma escala de oferta (Tabela 2) ou também pela curva de oferta (Figura 2). Tabela 2. Escala de oferta Preços Unitários ($) Quantidades Ofertadas (unidades-ano) 2,0 6.000 2,5 7.000 3,0 8.000 3,5 9.000 4,0 10.000 4,5 11.000 5,0 12.000 5,5 13.000 6,0 14.000 8 0 1 2 3 4 5 6 7 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000 11.000 12.000 13.000 14.000 Quantidades ofertadas (mil unidades ano) P re ç o ( $ ) Figura 2. Curva típica de oferta Conforme podemos perceber na Figura 2, a conformação gráfica da curva de oferta é oposta à da procura. Colocando-se as quantidades ofertadas no eixo horizontal e os preços no eixo vertical, a curva resultante será ascendente, da esquerda para a direita. Assim, para preços mais altos, maiores serão as quantidades ofertadas. Matematicamente, a função ou equação da oferta é dada pela expressão: QO = f (P). Em que: QO = quantidade ofertada de um bem ou serviço, num dado período e P = preço do bem ou serviço. A relação direta entre a quantidade ofertada de um bem e o preço desse bem se deve ao fato de que um aumento no preço de mercado estimula as empresas a elevar a produção. Dessa forma, novas empresas poderão ser atraídas, aumentando a quantidade ofertada do produto. Além do preço do bem, a oferta de um bem ou serviço é afetada por muitos fatores, como: Preço dos fatores de produção Objetivos da empresa Preços dos outros bens Concorrência Alterações tecnológicas 5.1. Relação entre a quantidade ofertada e o custo de produção A oferta de um bem depende dos preços dos fatores de produção. De fato, o preço de fatores, como insumos, salário e da tecnologia empregada, determina o custo de produção. Nesse sentido, havendo um aumento do preço do fator de produção, isso aumentaria o custo e desestimularia a produção, ou seja, vai ocorrer uma retração da oferta. Dessa forma, os bens que, para serem produzidos, empregam grandes quantidades deste fator sofrerão aumentos significativos, enquanto aqueles que empregam pouco sofrerão menos. Ex: 9 o preço da terra para o agricultortem significativa importância para o produtor, enquanto que outros setores que utilizam menos esse fator sofrerão um impacto menor. 5.2. Relação entre a quantidade ofertada e alterações tecnológicas A relação entre a oferta e o nível de conhecimento tecnológico é diretamente proporcional. Em outras palavras, melhorias tecnológicas promovem melhorias de produtividade no uso dos fatores de produção, e, portanto, podem propiciar uma redução de custos e um aumento da oferta. 6 – Equilibrio de mercado O preço em uma economia de mercado é determinado tanto pela oferta quanto pela procura. A situação de equilíbrio ocorrerá quando os interesses dos produtores coincidirem com os dos consumidores. Tais interesses serão revelados por uma escala de preços sobre a qual os produtores e os consumidores farão suas avaliações de compras e vendas. Dessa forma, a ação simultânea da oferta de bens e serviços e da demanda por esses bens e serviços irá determinar um preço e uma quantidade de equilíbrio numa economia de mercado. O equilíbrio de mercado é atingido quando, a determinado preço, todos os consumidores dispostos a comprar, bem como todos os produtores dispostos a vender, atingem seu objetivo. A Tabela 3 representa a oferta e a demanda de um bem X. Tabela 3. Oferta de demanda de um bem X Preços Unitários ($) Quantidades (unidades-ano) Relações Estabelecidas Demandadas Ofertadas 2,00 18.000 6.000 QD > QO 2,50 16.000 7.000 QD > QO 3,00 14.000 8.000 QD > QO 3,50 12.000 9.000 QD > QO 4,00 11.000 9.500 QD > QO 4,50 10.000 10.000 Equilíbrio 5,00 6.000 12.000 QD < QO 5,50 4.000 13.000 QD < QO 6,00 2.000 14.000 QD < QO A posição de equilíbrio é dada pela intersecção das curvas de demanda e oferta (Figura 3). No ponto de intersecção, define-se o ponto de equilíbrio. 10 Figura 3. Equilíbrio de mercado Se a quantidade ofertada se encontrar abaixo daquela de equilíbrio E, teremos uma situação de escassez do produto (QO < QD). Haverá uma competição entre os consumidores, pois as quantidades procuradas serão maiores que as ofertadas. Assim, formaram-se filas, o que forçará a elevação dos preços, até atingir-se o equilíbrio, quando as filas cessarão. Analogamente, se a quantidade ofertada se encontrar acima do ponto de equilíbrio E, haverá um excesso ou excedente de produção (QO > QD), um acúmulo de estoques não programado do produto, o que provocará uma competição entre os produtores, conduzindo a uma redução de preços, até que se atinja o ponto de equilíbrio. A situação de equilíbrio é o único preço que harmoniza os interesses conflitantes dos produtores e dos consumidores. Ele sincroniza, igualando-as, as capacidades e as disposições de procura e de oferta, livremente manifestadas no mercado. 7. Deslocamento das curvas de demanda e oferta Os deslocamentos das curvas de procura e da oferta, a não ser que sejam simultâneos no tempo e rigorosamente proporcionais, modificam os preços em equilíbrio, jogando-os para mais ou para menos. Em resposta a deslocamentos para mais ou para menos das curvas de procura e de oferta, ocorrem quatro hipóteses de movimento dos preços. A procura se expande e a oferta permanece inalterada: como exemplo, poderíamos citar os movimentos dos preços durante a semana santa e de flores no dia de finados. Nos meses que 11 antecedem estas datas, os frigoríficos de peixes armazenam estoques maiores e os floricultores aumentam o plantio. Ainda assim, percebem-se variações nos preços, em relação aos períodos de procura “normal”. A procura se retrai e a oferta permanece inalterada: nos estádios de futebol, bandeiras, bonés e camisetas com as cores e o logotipo do time perdedor são vendidos por preços mais baixos após os jogos. A demanda, por esses produtos, se retrai tanto e joga os preços tão para baixo que os vendedores guardam os estoques para o próximo jogo. Movimentos de preços resultantes de aumento da oferta: o exemplo clássico é o da oferta de produtos agrícolas perecíveis em épocas de safra, como morangos, goiaba, mangas, entre outros. O aumento da oferta desses produtos na época da safra não é acompanhado na mesma magnitude pela demanda. O excesso de oferta, aliado ao fato de serem produtos perecíveis, faz com que os produtos sejam vendidos a preços menores. D0 D1 O E E’ $ QT Redução da procura, mantendo-se inalterada a oferta: cairão as quantidades transacionadas e os preços também. P($)= QT = D0 D1 O E E’ $ QT Expansão da procura, mantendo-se inalterada a oferta: aumentarão, ao mesmo tempo, as quantidades transacionadas e os preços. P($)= QT = 12 A procura permanece inalterada e a oferta se retrai: após o período de secas, que inevitavelmente afeta as pastagens, a oferta de boi gordo diminui, elevando as cotações do produto. As cotações só não chegam a pontos mais altos em função do confinamento de animais e da estocagem antecipada de carnes nos frigoríficos. Apesar desses procedimentos, os movimentos de alta ocorrem praticamente todos os anos. 8. Conceito de elasticidade Cada produto tem uma sensibilidade específica com relação as variáveis dos preços e da renda. Essa sensibilidade ou reação pode ser medida por meio do conceito de elasticidade. Genericamente, a elasticidade reflete o grau de reação ou sensibilidade de uma variável quando ocorrem alterações em outra variável, coeteris paribus. A elasticidade é um conceito econômico que pode ser objeto de cálculo a partir de dados do mundo real, permitindo-se, desse modo, o confronto das proposições da teoria econômica com os dados da realidade. 8.1. Elasticiade-preço da demanda Para determinados produtos, uma pequena alteração no preço pode provocar alterações bastante acentuadas nas quantidades procuradas. Para outros, pode ocorrer exatamente o inverso, ou seja, alterações muito acentuadas nos preços não são capazes de provocar grandes modificações nas O0 D O1 E E’ $ QT Redução da oferta, mantendo-se inalterada a procura: menores quantidades serão transacionadas a preços mais altos. P($)= QT = O0 D O1 E E’ $ QT Expansão da oferta, mantendo-se inalterada a procura: maiores quantidades serão transacionadas a preços mais baixos. P($)= QT = 13 quantidades procuradas. E há casos em que as variações preços-quantidades são rigorosamente proporcionais. Para calcular a elasticidade da demanda (Ep), pode-se utilizar a seguinte expressão: Variação percentual ∆Q x 100 Elasticidade da = da quantidade demandada Q________ demanda Variação percentual ∆P x 100 do preço P A seguir, aplicaremos essa fórmula para calcular a elasticidade da demanda de três empresas que vendem chicletes. Caso 01 – Elasticidade da demanda na Empresa RSP Preço unitário dos chicletes ($) (P) Quantidade demanda (milhares de unidades) (Q) Variação percentual da quantidade demandada (∆Q/Q x100) Variação percentual do preço (∆P/P x100) Elasticidade da demanda (Ep) 5 100 80/100 x 100 = 80 2/5 x 100 = 40 80/40 = 2 3 180 Caso 02 – Elasticidade da demanda na Empresa PNT Preço unitário dos chicletes ($) (P) Quantidade demanda (milhares de unidades) (Q) Variação percentual da quantidade demandada (∆Q/Q x100) Variação percentual do preço (∆P/P x100) Elasticidade da demanda (Ep) 5 100 10/100 x 100 = 10 1/5 x 100 = 20 10/20 = 0,5 4 110 Caso 03 – Elasticidade da demanda na Empresa ZBP Preço unitário dos chicletes ($) (P) Quantidade demanda (milhares de unidades) (Q) Variação percentual da quantidade demandada (∆Q/Q x100) Variação percentual do preço (∆P/P x100) Elasticidade da demanda(Ep) 3 15 5/15 x 100 = 33,3 1/3 x 100 = 33,3 33,3/ 33,3 = 1 2 20 14 8.1.1. Tipologia das elasticidades da demanda Demanda Elástica: a variação da quantidade demandada supera a variação do preço. [Ep] > 1. Os consumidores desse produto têm grande reação ou resposta, nas quantidades, a eventuais variações de preços. Em caso de aumento de preços, ocorre uma diminuição do consumo. Por outro lado, quando há diminuição do preço de mercado, o consumo aumenta. Exemplo do Caso 1: [Ep] = 2 Nesse caso, uma queda de 40% nos preços, a quantidade demandada aumenta em 80%. Demanda Inelástica: a expansão relativa das quantidades procuradas é menos do que proporcional á redução relativa dos preços. [Ep] < 1. Exemplo do Caso 2: [Ep] = 0,5 Nesse exemplo, a redução de 20% nos preços, provoca um aumento de apenas 10% nas quantidades procuradas. Os consumidores desse produto reagem pouco às variações dos preços, isto é, possuem baixa sensibilidade ao que acontece com os preços de mercado. Demanda de Elasticidade unitária: a expansão relativa das quantidades procuradas é rigorosamente proporcional à redução relativa dos preços. [Ep] = 1. Exemplo do Caso 3: [Ep] = 1,0 A redução de 33% nos preços, nesse exemplo, provoca um aumento de exatamente 33% nas quantidades procuradas. Casos extremos: Demanda perfeitamente inelástica: sua elasticidade é zero, quando, ao variar o preço, a demanda não mostrar nenhuma resposta na quantidade demandada. Demanda perfeitamente elástica ou infinita: ocorre quando os compradores não estão dispostos a pagar mais que um determinado preço, qualquer que seja o bem. $ QT Demanda perfeitamente elásitica $ QT Demanda perfeitamente inelásitica 15 Quadro 1. Significado e valor do coeficiente dos diferentes conceitos de elasticidade preço da demanda Conceitos Significado Valor do Coeficiente Demanda Elástica As quantidades procuradas são relativamente sensíveis a alteração nos preços [Ep] > 1 Demanda de Elasticidade Unitária As variações nas quantidades procuradas são rigorosamente proporcionais às variações nos preços [Ep] = 1 Demanda Inelástica As quantidades procuradas são relativamente insensíveis a alteração nos preços [Ep] < 1 8.1.2. Fatores que influenciam o grau de elasticidade-preço da demanda Afinal, o que faz com que alguns bens tenham demanda elástica ou inelástica, isto é, que fatores explicam os valores obtidos para a elasticidade-preço da demanda? Os principais fatores que influenciam a elasticidade-preço da procura são: Essencialidade do bem; Periodicidade de aquisição; Disponibilidade de bens substitutos; Importância no orçamento. Essencialidade do bem: refere-se ao grau de necessidade do produto, em contraposição a sua caracterização como supérfluo. Os produtos de maior essenciabilidade tendem a ter coeficientes de elaticidade-preço baixos, isto é, inferiores a um, portanto, demanda inelástica. Em casos de alta essenciabilidade, apresentam coeficiente bastante próximo de zero. Como exemplo, poderíamos citar o gás de cozinha e a gasolina. Ainda que os preços aumentem, os consumidores não podem prescindir deles. Disponibilidade de bens substitutos: quanto maior o número de produtos que se substituem mutuamente, maiores os coeficientes de elasticidade-preço. Por outro lado, não havendo substitutos, a curva de procura tende a ser mais inelástica. Os casos clássicos são o sal de cozinha e a manteiga. O sal é de baixa elasticidade não só por sua essenciabilidade, como também porque não tem substituto. Já a manteiga apresenta um alto coeficiente de elasticidade, pois tem vários substitutos, mais ou menos perfeitos, como a margarina e a geléia. 16 Periodicidade de aquisição: o intervalo de tempo entre uma e outra aquisição do produto também é apontado como fator determinante da elasticidade-preço da procura. Grandes intervalos de tempo podem “apagar” da memória os preços de referência. Os exemplos clássicos são as especiarias de uso doméstico, como o cravo da índia, a canela em casca e a noz-moscada. Variações nos preços desses produtos tendem a não serem percebidas pelos consumidores, reproduzindo-se em baixa variação das quantidades procuradas. Para outros produtos, como automóveis novos e computadores, a periodicidade é de tal amplitude que os produtos se modificam entre uma aquisição e outra, reduzindo a sensibilidade a preços. Importância no orçamento: a importância dos gastos com o produto em relação ao orçamento total do consumidor tende a influenciar a elasticidade-preço da procura, nas seguintes direções: a) produto com baixa importância no orçamento, apresenta baixa elasticidade, tornando a procura inelástica, ou seja, com coeficientes inferiores a um; b) produto com alta importância no orçamento, alta elasticidade-preço, tornando a procura elástica, com coeficientes superiores a um. Por exemplo, a elasticidade-preço da demanda de carne tende a ser mais elevada que a de fósforos, já que o consumidor gasta uma parcela maior de seu orçamento com carne do que com fósforos. Já o sal de cozinha aparece de novo como produto de baixa elasticidade-preço devido à baixa importância no orçamento. 8.1.3. Relação entre a receita total do produtor e o grau de elastiticidade A receita total do produtor, que equivale ao gasto total dos consumidores, para uma dada mercadoria é igual à quantidade vendida vezes seu preço unitário de venda. RT = P x Q Em que: RT = receita total; P = preço Q= quantidade vendida. Dada uma variação no preço do produto, o que acontecerá com a receita total do produtor? Tal resposta dependerá da reação dos consumidores, isto é, do grau de elasticidade-preço da demanda. Dessa forma, podem ocorrer três possibilidades: demanda elástica: a redução no preço do bem tenderá a aumentar a receita total, pois o aumento percentual na quantidade vendida será maior do que a redução percentual do preço, pois trata-se de um mercado em que os consumidores têm demanda bastante sensível aos preços. Da mesma forma, um aumento de preço provocará redução da receita total; demanda inelástica: o raciocínio é inverso – aumento de preço provoca aumento da receita total, e redução de preço provoca diminuição da receita total; 17 demanda elástica unitária: aumento ou redução no preço não afetam a receita total, já que o percentual de variação no preço corresponde a igual percentual da variação na quantidade (em sentido contrário). O Quadro 2, a seguir, apresenta uma síntese das variações esperadas na receita total em decorrência das diferentes elasticidades-preço da demanda. Quadro 2. Variações esperadas na receita total em face das diferentes elasticidades-preço da demanda. Elasticidade-Preço Quando o preço de mercado sobe Quando o preço de mercado cai Elástica RT cai RT sobe Inelástica RT sobe RT cai Unitária RT inalterada RT inalterada Isso explica, por exemplo, o que ocorre com mercados agrícolas. Via de regra, a demanda por alimentos é inelástica, dada a sua essencialidade. Ou seja, a variação da quantidade demandada é menor do que a variação de preço. Assim, se a produção for reduzida, ela será compensada por uma variação de preços proporcionalmente mais elevada, o que representará um aumento de seu faturamento. Isso explica por que, muitas vezes, o produtor agrícola prefere até destruir parte de sua produção para manter os preços. Evidentemente, essa possibilidade tem um limite, pois se poderia imaginar que, sempre que a demanda é inelástica, é vantajoso aumentar os preços dos produtos de forma indefinida. Entretanto, vimos que um dos fatores que determinam o valor da elasticidade-preço é o peso do bem no orçamento do consumidor. Então, quando se eleva o preço de mercado, o gasto com o bem aumenta, e o consumidor passaa ser cada vez mais sensível às variações de preços desse produto, tornando a demanda cada vez mais elástica. A Tabela 4 apresenta estimativa da elasticidade-preço da procura (Ep) para alguns produtos no Brasil e nos Estados Unidos. 18 Tabela 4 – Estimativa da Ep para alguns produtos no Brasil e nos Estados Unidos Produto Brasil EUA Açúcar 0,13 0,24 Arroz 0,10 - Banana 0,41 - Café em pó 0,08 0,21 Carne Bovina 0,94 0,50 Carne Suína 2,21 0,46 Farinha de trigo 0,70 0,15 Feijão 0,16 - Leite 0,14 0,31 Ovos 1,20 0,30 Refeição restaurante 2,27 - Tomate 3,04 - Fonte: Nogueira e Brandt (apud Mendes, 1989) e Marques e Aguiar (1993) 8.2. Elasticidade-renda da demanda O coeficiente de elasticidade-renda da demanda (ER) mede a variação percentual da quantidade da mercadoria comprada resultante de uma variação percentual na renda do consumidor, coeteris paribus. ER = variação percentual na quantidade demandada variação percentual na renda do consumidor Se a elasticidade-renda da demanda (ER) é negativa, o bem é inferior, ou seja, aumentos de renda levam a quedas no consumo desse bem, coeteris paribus. Se a elasticidade-renda da demanda (ER) é positiva, mas menor do que 1, o bem é normal, isto é, aumentos de renda levam a aumentos no consumo. Se a elasticidade-renda da demanda (ER) é positiva e maior que 1, o bem é superior ou de luxo, ou seja, aumentos na renda dos consumidores levam a um aumento mais que proporcional no consumo do bem. Por exemplo: ER = 1,5 – um aumento na renda do consumidor de, digamos, 10% levará a um aumento do consumo desse bem de 15%, coeteris paribus. A Tabela 5, a seguir, apresenta o resultado de estimativas de elasticidade-renda para alguns produtos selecionados no Brasil e nos Estados Unidos. É claro que, devido a diferenças estruturais entre os dois países, há um comportamento diferente entre eles, da mesma forma que haveria uma significativa diferença entre uma pesquisa realizada em duas regiões do país, em função das diferenças sociais, econômicas e culturais. 19 Ao observar a Tabela 5, verifica-se que farinha de mandioca e farinha de milho apresentam coeficientes negativos, indicando que são bens inferiores. Esse dado indica que são produtos consumidos em função de uma restrição de recursos, relativamente ao consumo de produtos similares supostamente de maior qualidade. Para os americanos, em média, o peixe, a margarina e o feijão são considerados bens inferiores. O grupo das carnes apresenta comportamento de bens normais, exceto a carne de frango, que é classificada como bem de luxo. Bem de luxo é aquele em que um aumento da renda ocasiona um impacto significativo na demanda. Para o Brasil, os alimentos apresentam um elasticidade renda de 0,30, enquanto que, para os Estados Unidos, a elasticidade renda é de 0,15. Esses dados confirmam a expectativa de que, caso ocorra um processo de aumento de renda real ou que haja efetivamente uma melhor distribuição de renda no Brasil, logo haveria um impacto significativo na demanda por esse tipo de bem de consumo. Tabela 5 – Estimativas de Elasticidades-renda (ER) para produtos selecionados no Brasil e nos Estados Unidos Produtos Elasticidade-renda Brasil EUA Açúcar 0,04 - Arroz 0,6 - Banana 0,33 - Bens duráveis 1,20 2,20 Café 0,45 - Carne de frango 1,14 - Carne bovina 0,99 0,47 Carne suína 0,79 0,15 Farinha de mandioca - 0,33 - Farinha de milho - 0,14 - Farinha de trigo 0,32 0,35 Feijão 0,20 - 0,49 Fumo 0,60 1,02 Laranja 0,56 0,26 Leite 0,58 0,16 Maça - 0,14 Manteiga - - 0,42 Mandioca - 0,60 - Margarina - 0,2 Ovos 1,00 0,16 Peixe 0,40 - 0,04 Queijo - 0,45 Restaurantes - 1,48 Roupas - 2,01 Alimentos 0,30 0,15 Não alimentos - 1,22 Fonte: IBE/FGV; Thomas, Strauss e Barbosa (1991) 20 De uma maneira geral, produtos mais sofisticados, como eletrônicos e automóveis, apresentam elasticidade-renda da demanda superior à dos produtos eletrônicos básicos, como alimentos, que têm um limite fisiológico a seu consumo. Ou seja, se houver um aumento da renda dos consumidores, eles não vão consumir muito mais arroz, feijão, açúcar do que já consomem, mas certamente gastarão em bens de consumo duráveis, como TV, automóvel, micro-computador. 9. Elasticidade-preço da oferta O mesmo raciocínio utilizado para a demanda também se aplica à oferta. Uma curva típica de oferta mostra que uma alteração para mais no nível dos preços provoca uma alteração também para mais nas quantidades ofertadas. Porém, não há razão para supor que, para quaisquer bens e serviços, as quantidades ofertadas sejam igualmente sensíveis às variações nos preços. Na realidade, também no caso da oferta, há diferentes graus possíveis de sensibilidade dos produtores aos preços, conduzindo a diferentes coeficientes de elasticidade-preço. Esses diferentes graus de sensibilidade podem ser quantificados através do conceito formal de elasticidade-preço da oferta. Epo = Variação percentual da quantidade ofertada Variação percentual do preço do bem Oferta Elástica: a expansão relativa das quantidades ofertadas é mais do que proporcional à expansão relativa dos preços. [Epo] >1 Oferta de elasticidade unitária: a expansão relativa das quantidades ofertadas é rigorosamente proporcional à expansão relativa dos preços. [Epo] = 1 Oferta Inelástica: a expansão relativa das quantidades ofertadas é menos do que proporcional à expansão relativa dos preços. [Epo] < 1 Quadro 4. Significado e valor do coeficiente dos diferentes conceitos de elasticidade preço da oferta Conceitos Significado Valor do Coeficiente Oferta Elástica As quantidades ofertadas são relativamente sensíveis à alteração nos preços Epo > [1] Oferta de Elasticidade Unitária As variações nas quantidades ofertadas são rigorosamente proporcionais às variações nos preços Epo = 1 Oferta Inelástica As quantidades ofertadas são relativamente insensíveis à alteração nos preços Epo < 1 21 As elasticidades da oferta são menos difundidas que as da demanda. A elasticidade-preço da oferta é usada mais freqüentemente para os produtos agrícolas. 9.1. Principais fatores determinantes da elasticidade-preço da oferta Os principais fatores determinantes da elasticidade-preço da oferta são: A disponibilidade de fatores de produção. Defasagens de resposta (fator tempo exigido pelo processo produtivo). Disponibilidade de fatores: embora os produtores possam sensibilizar-se com as variações para mais nos preços dos produtos, dispondo-se a produzir mais, eles podem encontrar diferentes graus de dificuldade para expandir a produção, em função da disponibilidade dos fatores produtivos, naturais, humanos e de capital. Ocorrendo flexibilidade na oferta de fatores, ou então ociosidade, as quantidades ofertadas podem ser aumentadas, no caso de estimulação via preços. Mas em situações de pleno emprego ou de oferta inflexível a capacidade de oferta torna- se inelástica, por mais que os produtores se encontrem estimulados. Um dos casos clássicos é o da oferta de água mineral: a vazão da nascente é determinada e quantitativamente limitada. Isso pode configurar até casos de anelasticidade da oferta. A geração de energia por hidroelétricas é outro exemplo clássico. Embora as usinas possam regular a produção para mais ou para menos, as tarifas são menos relevantes que a disponibilidade de água nos reservatórios. Defasagens de resposta: o fator tempo é outro relevante determinante da elasticidade de oferta. Independentemente da disponibilidade ou não de recursos, há determinados produtos que exigem grandes intervalos de tempo para serem produzidos, definindo curvas de oferta inelásticas. Entre a sinalização dos preços mais altos e a defasagem de tempo para a produção, podem ocorrer intervalos tão longosque impeçam a pronta resposta dos produtores. Exemplo: produtos agrícolas, como o café, a laranja, os bovinos de corte, entre outros. 10. Instabilidade de preços na agricultura Os preços agrícolas são substancialmente mais instáveis que os preços da maioria dos produtos e serviços não-agrícolas. A natureza biológica da produção agrícola é, certamente, uma das principais causas desta instabilidade de preço. Isto faz com que a produção planejada seja bastante diferente da produção efetivamente obtida. Variações climáticas e incidência de pragas e doenças provocam grandes variações em rendimento ou produtividade. 22 As variações estacionais na produção também contribuem para instabilidade mensal dos preços. Inúmeros produtos são colhidos apenas uma ou duas vezes por ano, e alguns dentre estes não podem ser estocados e ou são altamente perecíveis. Além disso, a seqüência de eventos na produção de produtos agrícolas é separada por intervalos de tempo significantes. Muitos produtos agrícolas não se adaptam aos sistemas de produção em linha de montagem, e ocorrem, com certos produtos, grande retardamentos entre decisão de produzir e concretização da produção. Isto faz com que os preços permaneçam em níveis mais baixos ou altos, por períodos relativamente longos, dada a incapacidade de pronta resposta da parte dos produtores. A natureza descentralizada da produção agrícola, bem como sua dispersão geográfica, complica o processo de determinação do preço. O grande número de pequenas unidades de produção dificulta os processos de controle, reunião e estimativa da produção. A dispersão geográfica também contribui para dificultar estes três processos. É importante ressaltar, que as forças determinantes dos preços agrícolas não se confinam às fronteiras nacionais. Para uma série de produtos, como açúcar, soja, café, cacau e algodão, é necessária uma perspectiva mundial para que se possam compreender as variações de preço. 10.1 Algumas características da produção agropecuária A formação dos preços nos mercados agropecuários segue, basicamente, as mesmas regras de mercado dos demais bens e serviços finais gerados na economia. Existem, entretanto, certos aspectos da produção agropecuária que devem ser mais bem comentados, pois acabam afetando diretamente o preço agropecuário. a) Atomização – a produção agrícola tem como uma das principais características o grande número de unidades de produção, isto é, a produção é dispersa sem distinção de marca e qualidade. O grande número de produtores dificulta o controle da produção agrícola e a utilização da economia de escala no transporte. b) Difícil previsão – a produção agrícola, por sua natureza biológica, é de difícil previsão por causa dos fatores incontroláveis (clima) ou pouco controláveis (pragas e doenças). Estas duas características (grande número de produtores e fatores de difícil controle) fazem com que a produção e a oferta agrícola sejam instáveis, com conseqüências adversas para os agricultores. c) Sazonalidade – essa é outra característica típica do setor agrícola e ela diz respeito à variação na produção ao longo dos meses do ano. Isto significa que a produção e a oferta se concentram em 23 determinados meses do ano com conseqüências sobre os preços recebidos pelos produtores, os custos de transporte, armazenagem e processamento. - queda nos preços dos produtos – na época da colheita, notadamente para aqueles produtos com demanda mais inelástica a preços e com menores possibilidades de armazenamento. Ressalta-se que uma vez colhida a safra, a quantidade produzida e os custos de produção são constantes (fixos) e, portanto, uma queda no preço resulta não apenas em queda de receita, mas também de renda para o produtor. - maior necessidade de armazenamento para a produção – cuja oferta é sazonal, mas a demanda é mais ou menos constante ao longo dos meses do ano. Em determinadas épocas do ano, os armazéns e silos estão completamente cheios, e, em outras, estão relativamente vazios. Assim, a capacidade destes equipamentos (silos e armazéns) deve ser maior do que deveria ser, caso a produção não fosse estacional. Isto significa custos maiores de armazenamento, devido à um maior valor de investimento (com aumento do juro sobre capital investido e da depreciação). - maior capacidade de processamento – para transformar a produção que é perecível. Assim, devido a sazonalidade, as fábricas de processamento devem ter um maior dimensionamento, notadamente quando a agroindústria industrializa produtos “in natura” que não podem ser armazenados. Estas “plantas industriais”, com maiores investimentos, resultam, via depreciação e juros, em maiores custos, uma vez que operam com baixa capacidade (ou até que não operam) no período de entressafra. - aumento no custo de transporte – no período da safra devido à maior necessidade de movimentar a produção para os pontos de armazenamento, processamento e de consumo. Na época da colheita há um aumento na demanda (necessidade) de transporte relativamente à oferta (capacidade) de transporte, resultando em aumento real do frete. Em outras palavras, em decorrência do fato de a produção agrícola ser estacional, os preços recebidos pelos produtores caem na época da colheita e há aumentos nos custos de armazenamento, processamento e transporte, contribuindo para elevar o custo de vida para os consumidores, principalmente na entressafra. 24 d) Variações cíclicas – O ciclo de produção diz respeito às variações na produção durante um período de anos e é um importante fator a influenciar o consumo, uma vez que ele esta relacionado com a disponibilidade de mercadoria e com os preços. Os ciclos de produção são particularmente importantes para produtos como: carne bovina, cacau, laranja, maça, que por levarem diversos meses ou anos para chegar ao ponto de irem ao mercado, podem ter preços consideravelmente diversos daqueles que prevaleciam no mercado quando a produção foi planejada. e) Concentração geográfica da produção – embora uma variedade de produtos agrícolas seja produzida em todos os estados, há uma crescente especialização geográfica da produção rural. Cada região tende a se especializar na produção de mercadorias para as quais seus recursos são mais adequados. Esta concentração da produção tem conseqüências sobre o sistema de comercialização, uma vez que a mesma deve prover o transporte inter-regional. 10.2. Características dos produtos agropecuários a) Matéria-prima – o produto da agricultura é essencialmente uma matéria-prima bruta, que geralmente são comercializadas na forma homogênea, ou seja, sem nenhum grau de diferenciação ou agregação de valor, sendo, então denominados de commodities1. Além disso, essa matéria prima, via de regra, deve ser processada ou beneficiada, antes de chegar ao consumidor final. b) Volumoso – em comparação com os bens industriais, os produtos agrícolas são relativamente volumosos, o que, em conseqüência, afeta os custos de transporte e de armazenamento. Quanto maior o volume de uma mercadoria, maiores os custos de transporte e de armazenamento. c) Perecível – os produtos agropecuários geralmente são perecíveis, o que obriga, em alguns casos, à aceleração do processo de comercialização. A perecibilidade afeta os custos de estocagem, transporte e também de processamento se o produto é industrializado. d) Qualidade – a qualidade dos produtos agrícolas varia de um ano para ano e mesmo de estação para estação, e é um atributo importante que afeta o consumo. O custo de transporte para produtos 1 A palavra commodity – mercadoria, em inglês – adquiriu um sentido mais específico no jargão do comércio. Nem todas as mercadorias são commodities. Para que uma mercadoria possa receber essa qualificação é necessário que ela atendaa pelo menos três requisitos mínimos: (a) padronização em um contexto de comercio internacional, (b) possibilidade de entrega nas datas acordadas entre comprador e vendedor e (c) possibilidade de armazenagem ou de venda em unidades padronizadas. 25 de qualidade inferior é praticamente o mesmo de produtos de superior qualidade. Deste modo, é provável que não compense transportar, em longas distanciais produtos de qualidade inferior. 10.3. Produtos agrícolas e Elasticidade Por que o conhecimento da elasticidade-preço da demanda é importante para a comercialização? Porque safras abundantes, com elevação da oferta, causam uma queda no preço maior do que o correspondente aumento na demanda, fazendo com que a renda do setor agropecuário caia de uma forma geral. Sabemos que a receita total da venda de um produto é dada por RT = p.q. (Receita Total = preço x quantidade vendida). Normalmente, se aumentarmos o preço de um produto agrícola, a quantidade consumida diminuirá. No caso de demanda elástica, a queda do consumo é mais do que proporcional ao aumento no preço. Como conseqüência, a receita total diminuirá. No caso dos produtos agrícolas, é interessante salientar que suas demandas geralmente são inelásticas em relação ao preço. Isso se deve principalmente à essencialidade desses produtos e à maior capacidade de saturação dos alimentos para o consumidor. Dessa forma, uma queda do preço dos produtos agrícolas deve provocar mais uma realocação dentro da cesta de consumo dos indivíduos do que um aumento proporcional no consumo do alimento cujo preço caiu. Também de interesse na comercialização é saber como o consumo vai se comportar diante de variações na renda do consumidor. Para isso, define-se a chamada elasticidade-renda ER, que mede como o consumo vai se alterar quando a renda variar em 1% com tudo o mais constante. Se ER > 0, diz-se que o produto em análise é “normal”. Se ER < 0, diz-se que o produto é “inferior”. Caso ER > 1, diz-se que o produto é de “luxo”. Os produtos agrícolas são, de maneira geral, bens normais. O principal fator determinante desse comportamento da demanda de produtos agrícolas é a saturação a nível baixo de consumo desses produtos. Além dos efeitos do preço do bem e da renda dos consumidores, o consumo de um produto vai variar quando o preço de outro se alterar. Define-se então a elasticidade-preço cruzada da demanda Epspc, que mede em quanto o consumo de um bem i vai variar quando o preço de outro bem j variar em 1%. Quando Epspc > 0, diz que os produtos i e j são substitutos, isto é, se aumentarmos o preço do produto i, a quantidade consumida do produto j aumentará. Um exemplo clássico, no Brasil, é o relacionamento entre as carnes bovina e suína. Quando o preço da carne de boi sobe, a quantidade 26 consumida tende a diminuir. Parte do consumo então desloca para a carne de porco, que para muitos consumidores serve como um substituto para a carne de vaca. Quando Epspc < 0, diz-se que os bens i e j são complementares, isto é, se, por exemplo, o preço do produto j aumentar, o consumo dele diminui e diminui também o consumo do produto i. Como exemplo, pode-se pensar no consumo de pão e de manteiga. Quando o preço do pão sobe, a quantidade consumida desse tende a diminuir, o mesmo ocorrendo com o consumo de manteiga, visto que esses dois produtos são consumidos geralmente juntos (são complementares). 11. Modelo Teórico de Preço de Mercado O preço que se consegue por um produto num mercado competitivo reflete a satisfação que o consumidor espera conseguir com o consumo daquele produto. Isso também significa o nível de equilíbrio onde o máximo que os consumidores estão dispostos a pagar coincide com o mínimo que os produtores concordam em receber pela produção daquela quantidade de produto. O sistema de decisões de mercado é o encontrado nas chamadas “economias abertas” ou “capitalistas”. Basicamente, ele requer que cada consumidor e cada firma tomem suas decisões baseadas nos seus próprios interesses e guiados por sinais. No modelo que denominamos de competição perfeita, todas as empresas são pequenas em relação ao total do mercado e os produtos são homogêneos. Nessas condições, as empresas têm de aceitar o preço de mercado, uma vez que não há razão para cobrarem menos porque podem vender o que quiserem ao preço corrente. De outro lado, se cobrarem um centavo a mais, perderão todos os clientes porque estes preferirão comprar a preços mais baixos no mercado. A condição de homogeneidade do produto e a pequena participação na produção total fazem com que o produtor individual seja um tomador de preços, isto é, ele aceita o preço que o mercado determina. É a chamada “commoditização” dos produtos agrícolas, condição muito comum e desvantajosa, porque se o produtor tentasse vender mais caro, não conseguiria, pois seu produto é por hipótese igual ao dos demais e não haveria razão para algum consumidor pagar mais pelo seu produto. Os preços dos produtos agropecuários estão sujeitos a grandes oscilações e são de difícil precisão, gerando muitas dificuldades nas tomadas de decisão. Tanto o investidor como o produtor rural se defrontam frequentemente com o problema de tentar prever as oscilações de preços de produtos agropecuários. Portanto, na vida real dificilmente se observa o processo de formação de preços, mas sim os preços finais. O comportamento dos preços dos produtos agropecuários exibe alguns movimentos característicos interessantes denominados tendência, ciclo e sazonalidade. 27 11.1. Tendência, Ciclo e Sazonalidade A Tendência pode ser observada dispondo-se de uma série histórica de preços, permitindo-se observar se existe uma trajetória de alta, queda ou estabilização dos preços. Não havendo grandes mudanças nos fatores que agem sobre um determinado mercado, seria de se esperar que os preços mantivessem a tendência indicada pela série histórica. Alterações na tendência estariam basicamente ligadas a fatores tais como inovações tecnológicas, mudanças de hábitos e diferentes taxas de crescimento entre oferta e demanda. A Figura 2.3 apresenta uma análise gráfica obtida a partir dos preços deflacionados da saca de soja recebidos pelos produtores no Estado de São Paulo. O gráfico mostra uma tendência histórica de queda dos preços reais para o produtor rural, com uma leve elevação de 1995 pra cá. Os Ciclos, por sua vez, referem-se a flutuações que ocorrem em períodos maiores de um ano, geralmente associadas ao comportamento do produtor diante do mercado e às variações de oferta de seu produto. Enquanto a tendência é um movimento de longo prazo, os ciclos são indicadores de curto prazo – geralmente de dois a dez anos, com diferentes intensidades. Conhecê- los pode permitir, por exemplo, investir num produto cujos preços vão começar a reagir brevemente ou, por outro lado, sair fora de uma produção que vai começar a se enfraquecer. Os ciclos de preços nem sempre são bem visíveis como mostra a Figura 2.4 onde se colocaram dados para identificar o ciclo do preço da soja ao produtor. 28 Já a Sazonalidade é caracterizada por um movimento de preços ao longo do ano devido à safra e entressafra, estações do ano, hábitos dos consumidores e outros fatores. Como conseqüência da sazonalidade, o produtor receberá preços menores durante a safra e mais atraentes ao longo da entressafra, razão pela qual, em muitos casos, torna-se preferível armazenar o produto e só comercializá-lo na entressafra. A Figura 2.5 apresenta a sazonalidade média, mínima e máxima dos preços da soja recebidos pelos produtores do Estado de São Paulo no período de 1980-1997. O menor preço médio aconteceu em agosto (US$ 14,87/ por saca) enquanto o maior aconteceu em janeiro (US$ 17,19/ por saca). O mês de outubro, apesar de apresentar um dos maiores preços médios (US$ 16,68/ por saca) tambémapresenta o menor valor (US$ 6,82) com a mais alta volatilidade medida pelo desvio padrão (US$ 4,93). O mês de agosto, apesar de não apresentar o maior preço médio (US$ 15,12), traz o menor risco médio do período, com US$ 3,06. A sazonalidade e a volatilidade associada a ela fazem com que o preço varie ao longo do ano conforme já visto. Isto, se de um lado representa risco para o produtor, de outro, pode permitir ganhos e representar atratividade para o especulador. É importante alertar para o risco existente na tentativa de prever preços futuros baseando- se nos acontecimentos passados. Para isto, deve-se assumir que as condições existentes se mantenham constantes, o que pode não ser – e geralmente não é – necessariamente verdadeiro. A previsão de preços é um trabalho que pode se sofisticar e exigir muito treinamento, mas algumas ferramentas simples e um pouco de bom senso podem propiciar resultados satisfatórios para o produtor. 29 12. Tipos de Mercados Observando-se os mercados, distinguem-se basicamente quatro tipos: Mercado Spot A palavra spot – ponto, em inglês – é empregada em economia para qualificar um tipo de mercado cujas transações se resolvem em um único instante do tempo. Por exemplo, quando vamos a uma feira, compramos e pagamos uma dúzia de laranjas, estamos realizando uma transação desse tipo. Eventualmente, poderemos retornar ao mesmo vendedor, na semana seguinte, e comprar mais algumas laranjas, mas a transação resolveu-se naquele instante do tempo. No caso de commodities, frequentemente utiliza-se o termo mercado físico para designar esse tipo de mercado. Mercado a Termo Ao contrário do mercado spot, em que as transações se consumam em um instante do tempo, outros mercados têm como referência dois ou mais instantes no tempo. São contratos em que as partes acordam que alguns ou todos os elementos da transação podem ocorrer no futuro. Comprador e vendedor podem detalhar um contrato especificando a mercadoria, a data de entrega, o local, meio de transporte, meio de pagamento e qualquer outro elemento que ambas as partes desejem incorporar ao contrato. O mercado a termo apresenta grande flexibilidade e pode acomodar o interesse das partes. Por esse motivo, os exemplos desse tipo de mecanismo são muito variados, contemplando preços preestabelecidos ou preços variáveis, pagamento antecipado ou no momento da entrega do produto, entre outras alternativas. 30 Nem tudo são flores nos contratos a termo. Exatamente por se tratar de um contrato em que as partes comprometem-se com obrigações futuras – e adicionalmente, não se constroem uma relação de longo prazo, mas apenas para a duração do contrato – há o risco do não-cumprimento dessas obrigações. Mercado de Futuros Nesse mercado, as transações são padronizadas e simplificadas, não permitindo a inclusão de idiossincrasias, mesmo que o comprador e vendedor assim desejem. Os contratos de futuros especificam apenas o período para entrega, o lugar e objeto transacionado. Além disso, esses três elementos são especificados de modo limitado. 7. Deslocamento das curvas de demanda e oferta Variação percentual ∆Q x 100 8.1.2. Fatores que influenciam o grau de elasticidade-preço da demanda 9. Elasticidade-preço da oferta 10.2. Características dos produtos agropecuários
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