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Cultura e Sociedade - AVA - Unid1-2

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cultura e sociedade
Prof.a Ma. Cristiane fatiMa alves
Prof.a Ma. Malu roManCini
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica: 
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD: 
Prof.a Dra. Gisele Caroline 
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Marta Yumi Ando
Olga Ozaí da Silva
Simone Barbosa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Cristiane Alves
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não 
vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande res-
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, 
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica 
e profissional, refletindo diretamente em nossa 
vida pessoal e em nossas relações com a socie-
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente 
e busca por tecnologia, informação e conheci-
mento advindos de profissionais que possuam 
novas habilidades para liderança e sobrevivên-
cia no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino 
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de 
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes 
atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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unidade
01
sumário da unidade
introdução ..............................................................................................................................................................5
1. natureZa da cultura ........................................................................................................................................6
1.1 conceituação de cultura .............................................................................................................................6
1.2 características da cultura .......................................................................................................................8
1.3 estrutura da cultura ...................................................................................................................................9
1.3.1 traços culturais ..........................................................................................................................................9
1.3.2 Padrões culturais ......................................................................................................................................10
1.4 manifestações da cultura ......................................................................................................................... 11
1.4.1 etnocentrismo ............................................................................................................................................. 11
1.4.2 relativismo cultural ................................................................................................................................12
cultura
Prof.a Ma. Cristiane fatiMa alves
Ensino a distância
DISCIPLINA:
cultura e sociedade
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1.5 Processos culturais: mudanças culturais, difusão cultural, aculturação e 
endoculturação ..................................................................................................................................................13
1.5.1 mudança cultural .......................................................................................................................................13
1.5.2 difusão cultural .......................................................................................................................................14
1.5.3 aculturação .................................................................................................................................................14
1.5.4 endoculturação ..........................................................................................................................................15
2. diversidade cultural ....................................................................................................................................16
considerações finais ........................................................................................................................................18
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EDUCAÇÃO A DistânCiA
introdução
O que você entende por cultura? Você acha que todo mundo tem cultura? No cotidiano, 
quando dizemos cultura, logo pensamos em música, dança, teatro, artes plásticas, exposições, 
leituras, museus etc. Entretanto, a cultura como um conceito antropológico é bem mais que isso. 
Todos nós temos cultura, porque ela é transmitida de geração a geração, de pessoa a pessoa, como 
uma herança social. 
Cultura é tudo aquilo que nos faz seres humanos e que nos afasta dos outros animais. Um 
pequeno leão já nasce sabendo vários aspectos da vida, podendo crescer e evoluir, mesmo sem 
o suporte dos pais. E os bebês humanos? Goste ou não, somos uma espécie que precisa treinar 
desde cedo para virar gente, ou seja, precisamos aprender tudo. 
Cada comportamento humano foi ensinado por outra pessoa. Desse modo, a forma 
como comemos, falamos e fazemos nossas atividades no cotidiano é diretamente impactada pela 
sociedade ao redor. 
É por isso que todos nós somos diferentes, ainda mais quando nos comparamos com 
pessoas de outros países ou períodos históricos. 
A cultura se modifica e transforma também quem vive nela. Goste ou não.
Um abraço!
Bons estudos!
Profa. Ma. Cristiane Alves.
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EDUCAÇÃO A DistânCiA
1. natureZa da cultura
Todos sabemos o que significa “cultura” no senso comum. Quando falamos que “João não 
tem cultura” e que “Suzana é culta”, estamos nos referindo a certo nível educacional, querendo 
indicar com isso sua capacidade de compreender ou organizar certos conhecimentos básicos da 
política, economia, artes e filosofia e situações.
Vamos exemplificar com outra situação corriqueira na área da saúde. É usual afirmar 
que um “bom paciente” é aquele que “possui cultura”, cultura suficiente para compreender e 
seguir as orientações e cuidados transmitidos pelo médico ou enfermeiro. Esse tipo de paciente 
é contrastado com o “sem cultura” ou “inculto”, considerado um paciente mais “difícil”, que age 
inadequadamente por “ignorância” ou guiado por “superstições” (LANGDON; WIIK, 2010, p. 
174).
Na visão do senso comum, a palavra cultura é equivalente à quantidade de leituras, ao 
controle de informações, nível socioeconômico e à formação escolar avançada dos indivíduos. 
Contudo, no campo científico da antropologia, a palavra “cultura” é desprovida de juízo 
de valor, tem um significado amplo: “[...] engloba os modos comuns e aprendidos da vida, 
transmitidos pelos indivíduos e grupos, em sociedade” (MARCONI; PRESOTTO, 2019, p. 13). 
Trata-se de “[...] um conceito-chave para interpretação da vida social - [...] a maneira de viver total 
de um grupo, sociedade, país ou pessoa (DA MATTA, 2011, p. 122). A partir dessa perspectiva, 
todos nós possuímos cultura, pois ter cultura não tem qualquer relação com nível de inteligência. 
Todos nós aprendemos os modos de conviver em sociedade, ou seja, todos temos uma cultura. 
O termo cultura deriva do latim colere, que significa cultivar, colher, culto – que está 
associado ao cuidado do homem com a natureza e a agricultura. Esseconceito não se restringe ao 
campo da Antropologia. Inúmeras áreas do conhecimento – Agronomia, História, Biologia, Artes, 
Sociologia, Literatura etc. – valem-se dele, embora seja em cada uma dessas áreas trabalhado a 
partir de distintos enfoques e usos.
 Nesse sentido, a palavra cultura é polissêmica, trazendo consigo uma pluralidade de 
sentidos que remetem a significados diversos em áreas do saber humano diferentes. Diante disso, 
neste e-book, vamos abordar o conceito de cultura do ponto de vista antropológico.
1.1 conceituação de cultura
Os antropólogos vêm elaborando diversos conceitos sobre cultura; assim, esse conceito no 
campo da antropologia pode variar no tempo, no espaço e em sua essência. Sendo assim, podemos 
dizer que é por meio desse conceito que os antropólogos estudam o “outro”. Apresentaremos 
alguns conceitos clássicos de cultura.
Em 1871, o antropólogo britânico Edward Burnett Tylor formulou a primeira definição 
de cultura no âmbito da antropologia. Para ele, “[...] cultura [...] é conjunto complexo que inclui 
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade ou hábitos 
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (TYLOR apud LARAIA, 2009, p. 19). 
A definição apresentada por Tylor defende o princípio do evolucionismo, que acreditava 
haver uma escala evolutiva de progresso cultural que as sociedades primitivas deveriam percorrer 
para chegar ao nível das sociedades civilizadas.
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No entanto, o conceito sustentado pelo pressuposto evolucionista foi refutado por 
Franz Boas, antropólogo alemão naturalizado americano, preocupado em estudar a diversidade 
humana. Para ele, cultura representava uma totalidade singular, ou seja, cada cultura tem as suas 
manifestações de hábitos sociais que se exprimem através da língua, das crenças, dos costumes, 
que influi sobre o comportamento dos indivíduos. Não há diferença natural, biológica entre os 
povos, as diferenças são culturais, adquiridas ao longo da vida, não inatas. 
Para o antropólogo americano Alfred Kroeber, a cultura seria o superorgânico, em 
detrimento do orgânico, que era o natural (biológico). Para Kroeber, a cultura é exclusiva das 
sociedades humanas. Assim, o homem é o único animal que tem capacidade para acúmulo 
cultural. 
Com base nessa argumentação, o comportamento do homem não é biologicamente 
determinado, todas as suas ações dependem inteiramente de um processo de aprendizado. Assim, 
diferentemente de todos os outros animais, o homem é o único animal capaz de criar modos de 
vida, adaptar-se a situações e/ou ambientes adversos, transformar o meio no qual está inserido 
ou até mesmo recriá-lo, ou melhor, gerar cultura.
Já o antropólogo norte-americano Clifford Geertz considera a cultura como sistemas 
simbólicos de valores e significados. Para ele, a cultura é um conjunto de mecanismos de controle 
– planos, receitas, regras, instruções, aquilo que os engenheiros de informática chamam de 
programas para comandar o comportamento (GEERTZ, 1973, p. 44). Para Geertz, a cultura é a 
própria condição de existência dos seres humanos, produto das ações por um processo contínuo, 
através do qual os indivíduos dão sentido às suas ações. Ela ocorre na mediação das relações dos 
indivíduos entre si, na produção de sentidos e significados.
Atualmente, Da Matta (2011, p. 122) define cultura como “[...] um mapa, um receituário, 
um código, através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e 
modificam o mundo e a si mesmas”.
A conceituação de cultura entre os antropólogos não é unânime e, com o tempo, os autores 
vão problematizando a noção totalizante de cultura dada pelos antropólogos evolucionistas, 
tornando-a mais interpretativa, parcial, polissêmica, saindo da ideia do todo para apresentar 
feições da cultura. Além disso, o que essas definições apresentam em comum é a tentativa 
de abarcar todas as realizações humanas, representada em dois níveis complementares: as 
realizações materiais e imateriais. As primeiras referem-se aos bens materiais fabricados pelo ser 
humano, desde o arado até o foguete espacial. Já as últimas tratam das nossas crenças, valores, 
conhecimentos, ideias e todos os sentimentos. 
Tomemos um bebê francês, nascido na França, de pais franceses, descendentes, 
através de numerosas gerações, de ancestrais que falavam francês. Confiemos 
esse bebê, imediatamente depois de nascer, a uma pajem muda, com instruções 
para que não permita que ninguém fale com a criança ou mesmo veja durante a 
viagem que a levará pelo caminho mais direto ao interior da China. Lá chegando, 
entrega ela o bebê a um casal de chineses, que o adotam legalmente, e o criam 
como seu próprio filho. Suponhamos agora que se passem três, dez ou trinta anos. 
Será necessário debater sobre que língua falará o jovem ou adulto francês? Nem 
uma só palavra de francês, mas o puro chinês, sem um vestígio de sotaque, e com 
a fluência chinesa, e nada mais (KROEBER apud LARAIA, 2009, p. 33). 
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1.2 características da cultura
Vamos apresentar os principais atributos que envolvem a atuação do conceito de cultura 
para que se possa compreender o significado de atividades socioculturais a partir de Kottak 
(2013).
•	 A	 cultura	 é	 aprendida: toda pessoa, por meio da interação com outros indivíduos e 
de um processo de aprendizagem consciente ou inconsciente, internaliza ou incorpora 
uma tradição cultural pelo processo de enculturação. A cultura pode ser ensinada pela 
transmissão, como quando os pais ensinam a seus filhos a dizer “muito obrigado”, quando 
alguém lhes dá alguma coisa ou lhes faz um favor. A cultura também pode ser transmitida 
por meio da observação. As crianças prestam atenção às coisas que acontecem ao seu 
redor e tendem a replicar esse comportamento. 
•	 A	cultura	é	simbólica: a cultura é um sistema de símbolos, pois determina o modo como 
vemos e vivenciamos o mundo, pois nos ajuda a atribuir significados às coisas. Produtos 
e serviços têm significados diferentes para pessoas de cultura, classe social, estilo de vida 
diferentes. Um exemplo de como a cultura nos ajuda a atribuir significados às coisas 
está no uso das cores. No Brasil, usar branco na passagem de ano está associado à paz, 
enquanto no Oriente simboliza a morte.
•	 A	cultura	é	compartilhada: é um atributo dos indivíduos como membros em si.
•	 A	cultura	e	a	natureza: “A cultura nos ensina a expressar de forma particular as demandas 
biológicas naturais que compartilhamos com outros animais” (KOTTAK, 2013, p. 46). 
Por exemplo, todos nós temos que comer, mas a cultura nos ensina o quê, quando e como.
•	 A	cultura	é	abrangente: comportamentos, jeitos, manias se inscrevem no nosso dia a dia 
e ficam, ou seja, a cultura está enraizada na sociedade. 
•	 A	cultura	é	integrada: as culturas não são conjuntos de costumes e crenças, mas sistemas 
integrados e estruturados. As culturas estão integradas pelas suas atividades econômicas 
e sociais, símbolos e valores importantes. Por exemplo, se uma parte muda, como a 
economia, outras partes também mudam. 
•	 A	cultura	é	adaptável: a cultura não é estática ou rígida, em muitos casos ela é adaptável, 
ou seja, a cultura é aprendida e muda para se ajustar às características do ambiente e à 
disponibilidade de tecnologia. 
Vale ressaltar que as regras culturais não ditam rigidamente o nosso comportamento. Há 
espaço para criatividade, flexibilidade, diversidade e divergência no seio das sociedades.
Ao contrário das antas, nós, os humanos, precisamos aprender tudo
“Quem não se lembra da aula de Biologia ou anatomia nos tempos de escola?
É por conta disso que tendemos a achar que o funcionamento do nosso corpo é 
um território único e exclusivo da Biologia e das Ciências Naturais. 
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EDUCAÇÃO A DistânCiA
1.3 estrutura da cultura
Para analisar a cultura, podemos utilizar dois conceitos: os traços culturais e padrões 
culturais.
1.3.1 traços culturais
O traço cultural, também chamado de elemento cultural, é a menor unidade identificável 
e a mais simples que distingue uma cultura. Kottak (2013, p. 54) complementa que o traço é uma 
“[...] característica da cultura que não é generalizada nem muito difundida a um único lugar, 
estando confinada à cultura ou sociedade”. 
O traço cultural pode ser expresso de forma material e imaterial. O primeiro por meio dos 
bens materiais: computador, celular, vestido, carro, mesa etc. E o segundo por meio de atitudes, 
comportamentos, habilidades e ações: aperto de mão, beijo, abraço, oração, festa etc. 
Ao contrário do que você pensa, a maneira como a gente anda, come, vai ao 
banheiro, transa, toma banho, se depila ou se barbeia é construída a partir de um 
vocabulário cultural que aprendemos com os outros humanos.
A natureza nos dá o corpo, assim como deu para as antas, morcegos e tartarugas. 
Mas as regras de etiqueta sobre esse uso são dadas pela cultura. Não é à toa que 
um bebê precisa ser ensinado a engatinhar, a andar e a pegar as coisas; um filhote 
de leão, não. Nasce sabendo. Já nós nascemos com a necessidade de aprender. 
Cada sociedade tem uma forma de aprender a usar o corpo, dançar, correr e até 
mesmo dar à luz. Sem aprender a desenvolver expressões e movimentos, não 
somos plenamente capazes de fazer o uso eficaz da maquinaria biológica.
Há muito tempo, a Antropologia estuda esse tema. Marcel Mauss, antropólogo 
francês, foi um dos primeiros estudiosos do assunto. Suas pesquisas mostraram 
como o jogo social modifica e impacta aquilo que a natureza criou. Para o bem e 
para o mal. 
Não é raro vermos matérias dos jornais falando da longevidade dos velhos 
japoneses ou das famílias mediterrâneas. Ou ainda, nos depararmos com os altos 
índices de obesidade nos Estados Unidos e o estilo fit dos franceses e italianos, 
apesar da comida gordurosa que compõe a dieta de alguns países europeus. A 
pergunta que fica é: se temos os mesmos 46 cromossomos, o que faz com que 
uns engordem e outros vivam mais? A resposta é a cultura. Nosso corpo é uma 
malha composta por códigos genéticos e culturais”.
ALCOFORADO, Michel. Ao contrário das antas, nós, humanos, 
precisamos aprender tudo. Disponível em: <https://
antropologiadoconsumo.com.br/blog/ao-contrario-das-antas-
nos-os-humanos-precisamos-aprender-tudo>. Acesso em: 27 jan. 
2021.
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EDUCAÇÃO A DistânCiA
Todavia, atualmente, o empréstimo cultural (difusão cultural) tem acelerado a distribuição 
dessas características por meio de sistemas de transportes e comunicação, tornando-as mais 
generalizadas. Ainda assim, certas particularidades culturais persistem.
O elemento cultural só tem significado e valor próprio dentro de sua cultura, por exemplo, 
uma música é um traço identificador de uma cultura, visto que traz características, com o ritmo, 
letra, melodia ou instrumentos que pertencem a uma determinada sociedade; torna-se, portanto, 
representativa dela. Uma obra de arte, um aparelho celular, um aperto de mão são traços culturais 
que têm importância diferenciada para cada sociedade.
Quando os traços culturais são adotados por outra cultura, esses são modificados para se 
moldar à cultura que os adota e são reintegrados – com novos padrões – para se adequar ao seu 
novo contexto (KOTTAK, 2013). 
Para compreendermos um traço cultural, é preciso entender o seu significado, sua 
importância e sua utilização em determinada sociedade, pois ele é específico para cada cultura, 
por isso que é identificador, uma vez que tem significado diferente para cada grupo. 
1.3.2 Padrões culturais
Os padrões culturais referem-se à conduta e ao comportamento estabelecidos pela 
sociedade, são representados pelos costumes, pelos usos, pelas normas, pela moral, pela lei que 
as pessoas devem respeitar e obedecer para manter o equilíbrio e o funcionamento da sociedade 
e do grupo.
As pessoas, por meio do processo de enculturação, assimilam os diferentes elementos 
da cultura e passam a agir conforme os padrões estabelecidos pelo grupo ou pela sociedade. 
Nesse sentido, o padrão cultural é um comportamento homogêneo, padronizado, generalizado e 
regularizado que estabelece o que é aceitável ou não em uma cultura (MARCONI; PRESOTTO, 
2019).
Você já observou que, no Brasil, temos diferentes padrões culturais diante dos tipos de 
comida e alimentação? Comer é um ato estritamente cultural. A combinação de arroz com feijão 
é um deles. Para muitos brasileiros, essa combinação é considerada uma refeição completa. Sem 
essa combinação, mesmo havendo carne, muitos não satisfazem a sua fome. Eles podem até comer 
um abundante prato de comida chinesa cheio de legumes misturados com um pouco de carne 
que, mesmo assim, podem até “sair da mesa com fome”. Já os chineses sentem-se completamente 
saciados com esse tipo de comida.
Não só o que comer é determinado de maneira particular pela cultura, mas quando comer 
também é. A maioria dos brasileiros está condicionada a sentir fome e comer a maior refeição do 
dia ao meio-dia para “digerir bem a comida” e ficar “bem alimentado para o trabalho” até o final 
da tarde. Em outras culturas, entretanto, esses horários foram estabelecidos diferentemente. Por 
exemplo, o norte-americano não sente falta do feijão, em geral, come pouco ao meio-dia, pois 
eles preferem o jantar como a maior refeição do dia. Em outras culturas, o indivíduo pode ficar 
horas sem se alimentar e sem sentir a sensação de fome. 
Nessa perspectiva, somos influenciados pelos padrões culturais na sociedade em 
que vivemos. Embora cada um tenha suas individualidades devido às próprias experiências, 
“[...] os padrões culturais, de diferentes culturas produzem tipos distintos de personalidades, 
característicos dos membros dessas sociedades” (MARCONI; PRESOTTO, 2019, p. 22). O padrão 
cultural se forma pela repetição contínua, ou seja, quando muitas pessoas, em determinada 
cultura, agem de modo igual, durante um vasto período de tempo, desenvolve-se um padrão 
cultural.
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1.4 manifestações da cultura
O etnocentrismo e o relativismo cultural são duas noções fundamentais e opostas do 
pensamento antropológico para analisar e entender as sociedades. 
1.4.1 etnocentrismo
O conceito de etnocentrismo é uma tendência de supervalorizar a própria cultura e aplicar 
seus próprios valores culturais ao julgar o comportamento e as crenças das demais culturas. 
Todos somos portadores etnocêntricos, ou seja, entendemos o nosso modo de vida, explicações, 
opiniões e costumes como os mais corretos, adequados e morais, já que, para nós, é a nossa 
cultura e o que faz sentido nela que estão no centro do nosso entendimento. Assim, a referência 
do que é certo, verdadeiro, errado é dada pela cultura na qual nascemos, por isso, consideramos 
os comportamentos diferentes como estranhos, imorais ou selvagens.
O contato com uma outra sociedade pode evidenciar traços culturais que você considere 
estranhos, causando certo estranhamento sobre o modo de vida do outro. No primeiro momento, 
você pode até se surpreender ou achar engraçado o modo como as pessoas de outras sociedades 
falam, se vestem, se comportam, comem etc. Esse estranhamento acontece, pois não conhecemos 
direito o porquê de aquela sociedade ou grupo agir de determinada forma.
Desse modo, ao se deparar com culturas diferentes, procure sempre entender o seu 
porquê. Assim, evitamos a compreensão etnocêntrica a seu respeito, ou seja, não manifestamos 
comportamento agressivo ou atitudes discriminatórias e até de intolerância aos costumes 
presentes em outras culturas, que muitas vezes são utilizadas para justificar a violência praticada 
contra elas. 
Compreendemos que, em mundoque possibilita cada vez mais contatos com culturas 
diferentes, temos que saber conviver e entender os diferentes modos de vida, pois nem todos vão 
ter a mesma visão de certo e errado, e então para que sejamos respeitados nos nossos pensamentos, 
é preciso que respeitemos o certo e o errado do outro. 
Devemos reconhecer que existem culturas diferentes e não culturas superiores ou 
inferiores. Assim, com o tempo e com a interação cultural, o que é considerado estranho pode se 
tornar compreensível quando analisado segundo os próprios valores e conhecimentos do sistema 
cultural do outro. Ou seja, quando se tem uma atitude de respeito pelas diferenças culturais em 
vez de julgamentos de valor tomados com base no próprio sistema cultural, esse comportamento 
é denominado relativismo cultural. 
Como sabemos, os comportamentos e ideologias das pessoas são passíveis 
de mudança ao longo dos anos. Vivemos tempo de aceitação das diferenças e, 
portanto, isso exigiu um novo posicionamento da Disney+.
Muitos de nós crescemos assistindo aos clássicos da Disney. “Peter Pan”, “Dumbo”, 
“Aladdin”, entre outras obras, desde a década de 1970. Agora, um streaming foi 
lançado exclusivamente para que possamos reviver os desenhos da infância. 
Entretanto, algumas dessas produções possuem uma compreensão etnocêntrica 
e equivocada de outras culturas.
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1.4.2 relativismo cultural
Em oposição ao etnocentrismo, está o relativismo cultural, que defende a manutenção 
das diferenças culturais, preservando as identidades e a diversidade das inúmeras sociedades 
existentes (FARFAN; BANETE; QUEIROZ, 2017). Ou seja, o comportamento em uma cultura 
não deve ser condenado segundo nossos próprios valores e classificações de mundo. Nesse 
sentido, “[...] os padrões ou valores de certo ou erro, do uso e costumes, das sociedades em geral, 
estão relacionados com a cultura da qual fazem parte” (MARCONI; PRESOTTO, 2019, p. 20). 
Desse modo, um hábito cultural pode ser válido em relação a um contexto cultural e não a outro 
e ser repudiado.
Por anos, nada se falou sobre a abordagem utilizada por essas produções. Mas 
passamos por um processo de mudança de pensamento coletivo e a Disney 
percebeu esses erros. 
Assim, a Disney + colocou avisos no início de cada filme que possuía alguma 
conotação preconceituosa, conscientizando sobre o que aprendemos de não ter 
um olhar etnocêntrico para as diferenças culturais. 
Vale lembrar que era errado naquela época e continua sendo errado hoje em dia. A 
diferença é que, agora, temos plena consciência disso. Ainda bem.
O que é diferente para você pode ser normal para mim. E vice-versa. Não há um 
jeito certo ou errado de se viver a cultura. Mas por que as pessoas acreditam que 
há um jeito melhor do que outro? Culpa do etnocentrismo. A visão etnocêntrica 
é aquela que vê o mundo com base em sua própria cultura, desconsiderando 
outras culturas ou considerando a sua própria cultura, hábitos e costumes como 
superiores.
Tendemos a querer proximidade de quem pensa igual à gente. Mas busque 
conhecer novos pontos de vista de pessoas diferentes de você. Todos nós temos 
preconceitos enraizados dentro de nós. Por isso, desconstrua sua própria mente 
quando se encontrar numa situação em que não entende por que fulano faz 
determinada coisa. Busque compreender e não criticar.
Entender as diferenças é difícil. Mas é um exercício fundamental para nós. O que 
você está fazendo para buscar novos olhares para reconhecer as diferenças?
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1.5 Processos culturais: mudanças culturais, difusão cultural, aculturação 
e endoculturação 
Embora saibamos que a cultura seja formada por conjunto de regras que nos diz como o 
mundo pode e deve ser classificado, isso não impede que seja renovada continuamente por meio 
do processo cultural. 
De acordo Marconi e Presotto (2019, p. 22), processo “[...] é a maneira, consciente ou 
inconsciente pela qual as coisas se realizam, se comportam ou se organizam”. Nesse sentido, 
processos são mudanças pelas quais as culturas estão sujeitas a passar assimilando novos 
elementos culturais ou abandonando os antigos, por meio do crescimento, da transmissão, da 
difusão, da aculturação e da estagnação.
1.5.1 Mudança cultural
A mudança cultural é qualquer modificação nos elementos e padrões de maneira 
significativa ou não na cultura de uma sociedade. Pode acontecer de modo pacífico ou não, 
dependendo do grau de aceitação ou resistência dos povos. 
Existem dois tipos de mudança cultural: uma que é interna (endógena), resultante da 
dinâmica dos membros do grupo, e uma segunda que é o resultado do contato com outras 
sociedades (exógena). Assim, temos mudança quando: 
•	 Novos elementos são inseridos ou os velhos modificados por meio das descobertas e 
invenções;
•	 Novos elementos são tomados por empréstimo/copiados de outras sociedades;
•	 Elementos culturais não considerados adequados ao novo contexto são abandonados ou 
substituídos;
•	 Alguns elementos culturais, por falta de transmissão de gerações, são esquecidos.
Quando os povos se mantêm isolados, ocorre a estagnação da cultura, modicando-se 
apenas em consequência das variações e motivações dos seus membros. Contudo, somente as 
culturas totalmente isoladas podem se manter estáveis. Em contrapartida, alguns elementos 
podem desaparecer ou renascer. O desaparecimento, muitas vezes, ocorre em razão das condições 
religiosas, sociais e econômicas. Já o renascimento cultural pode ocorrer em consequência dos 
fatores internos ou externos. 
Para que haja a mudança cultural, os novos elementos culturais, acrescentados a uma 
cultura, precisam ser mais significativos que os anteriores; caso contrário, a cultura permanece 
estacionária ou declina. 
As mudanças culturais estão relacionadas à	 inovação. Inovação é o processo de 
introdução de uma nova ideia ou objeto numa cultura. Existem duas formas de inovação: 
descoberta e invenção. Invenção é o processo de criação de novos elementos culturais. Objetos 
como telefone, automóvel, televisão e computador são invenções. Mas ideias, como a democracia, 
o protestantismo e o capitalismo, também são invenções, que, assim como os objetos citados, 
também produziram grande impacto na vida em sociedade. Diferentemente da invenção, que 
implica a criação de novos elementos, a	 descoberta trata do reconhecimento ou do melhor 
conhecimento de alguma coisa existente, como a identificação de uma nova estrela, o contato 
com a culinária de outra cultura ou a descoberta da estrutura do DNA. 
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De maneira geral, a mudança cultural não se processa no mesmo ritmo em todas as 
sociedades, em algumas culturas essa mudança pode ser lenta, sendo que as trocas dos elementos 
culturais ocorrem sem grandes traumas, ou seja, quase imperceptível ou pode ser mais rápida e 
brusca.
Para Laraia (2009, p. 73), cada mudança cultural, por menor que seja, representa o 
desfecho de numerosos conflitos entre as tendências conservadoras e as inovadoras. Isso porque 
as primeiras “[...] pretendem manter os hábitos inalterados, muitas vezes atribuindo aos mesmos 
uma legitimidade de ordem sobrenatural”. As segundas contestam a sua permanência e pretendem 
substituí-los por novos procedimentos.
As culturas estão sempre em mudança. Entender essa dinâmica é importante para 
atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos etnocêntricos. Da mesma forma, é 
fundamental que compreendamos as diferenças entre as sociedades, e as diferenças que também 
acontecem dentro do mesmo sistema cultural. 
1.5.2 Difusão cultural 
A difusão cultural, de acordo com Farfan, Banete e Queiroz (2017), remete à ideia de 
propagar-se. A difusão cultural “[...] é um fenômeno que explica como um elemento cultural é 
transmitido de uma sociedadea outra” (COSTA, 2010, p. 227). Esse conceito busca compreender 
como um elemento cultural se difunde através das culturas, ainda que não haja proximidade 
contínua e direta entre elas. 
Essa troca de informações e produtos ou empréstimo de traços entre as culturas 
aconteceu em toda história humana, pois nunca as culturas estiveram de fato isoladas. De acordo 
com Kottak (2013), essa adoção de um novo traço cultural pode ocorrer pela difusão direta 
ou indireta. A difusão direta acontece “[...] quando duas culturas fazem atividades comerciais, 
casamentos ou guerras entre si, e forçada quando a cultura subjuga outra e impõe seus costumes 
ao grupo dominado” (KOTTAK, 2013, p. 61). Já a difusão indireta acontece quando elementos 
culturais são passados de um grupo para outro. Por exemplo, atualmente, grande parte da difusão 
internacional é indireta – a cultura é difundida por meios de comunicação de massa e tecnologia 
de informação avançada. 
 O processo de difusão cultural acontece de maneira consciente e inconsciente, alguns 
elementos culturais podem ser copiados parcialmente ou readaptados nas culturas que os 
recebem. 
 
1.5.3 aculturação 
O processo de aculturação é a troca entre diferentes sociedades a partir do contato 
contínuo e direto (MARCONI; PRESSOTTO, 2019; KOTTAK, 2013). Esse contato origina 
mudanças nas estruturas culturais de cada grupo ou de ambos. Na aculturação, uma cultura é 
receptora ou exerce influência sobre a construção cultural do outro. 
Na aculturação, a troca pode ser recíproca ou não. Ela também pode variar conforme a 
intensidade da convivência entre as sociedades, pois uma cultura pode incorporar somente parte 
ou incorporá-la completamente. 
Um exemplo de aculturação no território brasileiro foi o contato entre portugueses e 
indígenas no século XV. Como sabemos, essa aculturação não aconteceu de modo pacífico. A 
colonização portuguesa forçou os indígenas a modificar certos padrões culturais, como suas 
crenças religiosas, costumes culinários, vestimentas etc. 
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Esse processo levou-os à mudança cultural e à assimilação – é “[...] o processo mediante o qual os 
grupos que vivem em um território comum, embora procedentes de lugares diversos, alcançam 
uma ‘solidariedade cultural’” (MARCONI; PRESOTTO, 2019) – dessas culturas indígenas. Apesar 
desse processo, até hoje a cultura indígena ainda resiste, em certa medida, no país. Podemos 
perceber os traços culturais indígenas na nossa cultura por meio da culinária (ex.: tapioca), 
conhecimentos populares sobre medicina natural, objetos e palavras.
A aculturação nem sempre, como comentamos, é semelhante à mudança cultural, por 
exemplo, a culinária oriental é profusamente apreciada e consumida por diversas pessoas de 
sociedades diferentes sem que, no entanto, altere seus hábitos ou a forma como pensam acerca de 
um outro aspecto de seu mundo.
 A aculturação não acontece de forma rápida, é um processo longo e complexo que 
modifica o modo de pensar, de agir, de sentir e de viver em uma sociedade, em passos lentos, e 
faz com as pessoas partilhem outros valores e atitudes diferentes das suas de origem.
1.5.4 endoculturação
Endoculturação é o processo de aprendizagem, interiorização, assimilação e apropriação 
formal ou informal que aprendemos, desde a infância, a se portar no mundo. Trata-se de um 
processo permanente mediado pelos pais quando somos crianças, posteriormente, por instituições 
– escolas, religião, trabalho e de tantos outros grupos sociais – e também do conhecimento que 
adquirimos das experiências do cotidiano ao longo da vida.
Os diversos elementos culturais que compõem a vida do cidadão norte-americano
O cidadão norte-americano está cercado de objetos provenientes de várias culturas 
que foram difundidas no seu dia a dia, por exemplo: ele utiliza um leito construído 
segundo o padrão originário do Oriente Próximo, mas que foi modificado na 
Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de cobertas 
feitas de algodão, cuja planta se tornou doméstica na Índia; podendo ser também 
de linho ou de lã de carneiro, ambos domesticados no Oriente Próximo; ou de 
seda, cujo emprego foi descoberto na China. Todos esses materiais foram fiados 
e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama esse 
cidadão faz uso dos “mocassins” que foram inventados pelos índios das florestas 
do Leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho, cujos aparelhos são 
uma mistura de invenções europeias e norte-americanas, umas e outras recentes. 
Tira o pijama, que é um vestuário inventado na Índia, lava-se com o sabão que foi 
inventado pelos antigos gauleses e faz a barba, que é um rito masoquístico que 
parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito (LINTON, 1959, p. 331).
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2. diversidade cultural
A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade. Culturas 
diferentes podem ser facilmente identificadas por uma série de características, tais como: 
vestimentas, culinária, manifestações religiosas, diferenças linguísticas, tradições, entre outros 
aspectos. Em uma mesma sociedade, é possível e comum existir uma grande diversidade cultural. 
Por exemplo, o Brasil, em razão do seu vasto território, apresenta uma grande diversidade cultural 
entre as regiões. 
Vivemos em um mundo cheio de diversidade cultural e sempre estamos sujeitos a 
acreditar que o exótico e o diferente estão muito distantes de nós. 
Na atualidade, a palavra empatia está na moda, para onde quer que olhemos, encontraremos 
a palavra empatia destacada. A ideia é pedir para que as pessoas tenham mais empatia. No 
entanto, caímos nos jogos das palavras e alguns esquecem do verdadeiro significado de empatia. 
De acordo com o dicionário Dicio (2020), “[...] empatia é a ação de se colocar no lugar de outra 
pessoa, buscando agir e pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias”. 
Mas a empatia é uma utopia, uma forma superficial de lidar com as desigualdades e preconceitos. 
Toda e qualquer tentativa de se colocar no lugar do outro é falha, sabe por quê? Porque todo 
nosso conhecimento sobre a dor e o sofrimento vem de um ponto particular. A minha dor nunca 
será igual à sua, portanto, a empatia é uma fórmula falha. Jamais vamos entender como o outro 
se sente de verdade.
Devemos trabalhar com a palavra alteridade. Alteridade é entender o que o outro pensa, 
sente e age de outro modo porque ele é diferente de você, sem julgar as razões e motivações dessas 
diferenças ou tentar se imaginar no lugar dele. A alteridade não existe para você entender o que 
o outro passa, afinal, não estamos falando da empatia. A alteridade é uma forma de reconhecer 
que as diferenças existem, sem tentar imaginar o lugar da outra pessoa. 
Precisamos sair da bolha, lidar com a alteridade é o que nos permite desapegar de nossas 
visões de mundo. Quando a bolha é quebrada, os horizontes de possibilidades são ampliados. 
A alteridade é grande aliada para empresas quando o assunto é reconhecer as diferenças 
e trazê-las para dentro do mercado. A Nike é um exemplo de empresa que levou a alteridade em 
consideração. A empresa fez uma pesquisa e identificou que as mulheres muçulmanas tinham 
vergonha de praticar atividades físicas por conta das vestimentas. A partir dessa informação, a 
Nike desenvolveu uma coleção de hijabs, para que a marca se encaixasse na realidade cultural 
dessas consumidoras. 
Figura	1	- Marca cria linha de uniformes aquáticos inclusiva para mulheres. Fonte: A Gazeta (2019).
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Armadilha cultural
Uma grande companhia alimentícia lançou uma marca de mistura para bolo, 
adaptando a receita para os sabores locais preferidos pelos chineses. Em vários 
testes, os entrevistadosaprovaram o sabor do bolo. No entanto, uma vez na 
prateleira, o produto não vendia de jeito nenhum. 
Isso aconteceu porque, apesar de se preocupar com um elemento cultural 
importante ao adaptar o sabor do produto, a empresa esqueceu de outro elemento 
cultural fundamental: a culinária chinesa é preparada em panelas, como wok ou 
frigideiras usadas no fogão. Normalmente, não há forno nas cozinhas da zona 
urbana chinesa, o que impediria o preparo daquela massa específica.
A solução encontrada foi bastante simples: adaptar o preparo básico, para que o 
bolo pudesse ser cozido em panelas, no fogão.
SAUERBRONN, João Felipe Rammelt; BARROS, Denise Franca. Comportamento 
do consumidor. São Paulo: FGV, 2016.
Para tentarmos entender a alteridade, existem alguns meios para enxergar essas 
diferenças dos outros em relação à nossa própria realidade, e um desses meios 
são as produções cinematográficas. Trouxe aqui duas indicações de séries da 
Netflix para ajudá-lo a olhar para o mundo por meio de outras lentes.
A primeira, uma das mais impactantes, é Olhos que condenam. 
Baseada em fatos reais, a série conta a história de cinco meninos 
negros acusados de estupro e forçados a confessar um crime 
jamais cometido. A cor da pele condenou esses cinco meninos. 
De forma tocante, a série retrata a vida particular de cada um 
antes, durante e depois da condenação.
A minissérie Nada ortodoxa conta a história de uma jovem 
judia ortodoxa, Esty, que desde jovem cresceu e aprendeu a ver 
a vida como sua comunidade a ensinou. Mas a protagonista 
foi percebendo que não se encaixava mais naquele contexto. 
Decidiu, então, romper com a sua comunidade. Mas como a 
liberdade cobra um preço, a série mostra como a personagem 
foi perdendo o apoio de todos que conhecia e se entendendo ao 
longo de sua jornada de autoconhecimento.
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considerações finais 
Apresentei a você, nesta unidade, o conceito de cultura a partir do viés antropológico. 
Com essa abordagem, foi possível compreender que a cultura não é herdada geneticamente ou 
inata, mas uma herança social. 
O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de 
um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas 
numerosas gerações que o antecederam.
Convivemos com uma pluralidade de culturas, um indivíduo não pertence a uma única 
cultura, mas a várias culturas diferentes.
Cultura: um conceito antropológico - Roque de Barros 
Laraia. Uma introdução ao conceito antropológico de 
cultura, realizada de forma didática, clara e simples. A 
primeira parte do livro refere-se ao conceito de cultura 
a partir das manifestações iluministas até os autores 
modernos, enquanto a segunda procura demonstrar como 
a cultura influencia o comportamento social e diversifica 
enormemente a humanidade, apesar de sua comprovada 
unidade biológica. O autor procura utilizar, sempre que 
possível, exemplos referentes à nossa sociedade e às 
sociedades tribais que compartilham nosso território, o 
que não impede a utilização de exemplos de autores que 
trabalham em outras partes do mundo. 
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unidade
02
sumário da unidade
introdução ............................................................................................................................................................ 20
1. a afirmação HistÓrica dos direitos Humanos ....................................................................................21
2. conceito e características dos direitos Humanos ..........................................................................25
3. terminologia: direitos Humanos, direitos fundamentais e direitos do Homem ..................28
4. as gerações (ou dimensões) de direitos Humanos ........................................................................... 30
5. o multiculturalismo e Pluralismo .........................................................................................................33
6. diversidade e tolerÂncia ............................................................................................................................36
7. direitos Humanos e minorias .....................................................................................................................39
8. Questões de gÊnero e diversidade seXual ............................................................................................43
considerações finais ........................................................................................................................................ 46
direitos Humanos e diversidade
Prof.a Ma. Malu roManCini 
Ensino a distância
DISCIPLINA:
cultura e sociedade
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introdução
Os direitos humanos surgiram na era moderna, no século XVII, como uma teoria 
abstrata, cujo objetivo inicial era limitar o poder do Estado, por meio do controle da ação 
dos seus governantes. Sua concretização pode ser observada a partir do século XVIII, com o 
constitucionalismo, que previa a organização do Estado e a liberdade e igualdade entre os 
cidadãos.
Com isso, começaram a ser garantidos aos cidadãos alguns direitos individuais, como 
as liberdades, que eram exercidas inicialmente pelos indivíduos (liberdade de expressão, de 
iniciativa econômica) e depois pela coletividade (como o direito de sindicalização, de greve). 
Essa retrospectiva histórica será estudada inicialmente para, em seguida, serem tecidas 
considerações sobre o conceito e as características dos direitos humanos.
Logo após, serão abordadas as semelhanças e diferenças entre as diversas nomenclaturas 
de direitos. Conforme foram surgindo, os direitos foram divididos em gerações, que serão 
aprofundadas posteriormente neste estudo.
Serão tratados tópicos relativos aos direitos humanos e à diversidade. O primeiro item 
a ser estudado é o multiculturalismo ou pluralismo, que nada mais é do que a convivência 
harmônica entre várias culturas diferentes no mesmo espaço organizado, que pode ser uma 
cidade, um bairro, estado ou país. 
Posteriormente, será analisada a diversidade e sua inter-relação com a tolerância, uma vez 
que a diversidade nasce e as pessoas devem respeitar as diferenças, pois todos são seres humanos 
e somente por isso devem ser respeitados. Na sequência, serão abordados os direitos humanos 
e minorias. Muitas são as minorias que ainda lutam para garantir seu espaço e seus direitos na 
sociedade, por isso faz-se mister tratar do assunto neste estudo.
A última parte desta apostila abordará as questões de gênero e diversidade sexual e sua 
relação com os direitos humanos. Isso é importante, pois a sociedade evolui e pode-se afirmar 
que, nos últimos anos, muitas foram as inovações no que tange ao gênero das pessoas. Portanto, 
deve-se estar atento a essas questões também.
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1. a afirmação HistÓrica dos direitos Humanos 
O reconhecimento do homem à imagem e semelhança de Deus é um aspecto religioso-
filosófico bastante importante, pois a partir disso deu-se início à proteção do homem contra o 
próprio homem justamente por ser descendente de um ser divino. 
Contudo, como observa Comparato (2013, p. 31), “[...] essa igualdade universal dos filhos 
de Deus só valia, efetivamente, no plano sobrenatural, pois o cristianismo continuou admitindo, 
durante muitos séculos, a legitimidade da escravidão, a inferioridade natural da mulher em 
relação ao homem”, dentre outras desigualdades.
A filosofia kantiana teve grande contribuição para o reconhecimento dos direitos humanos 
por ressaltar a natureza racional do homem, como um fim em si mesmo, e não como coisa, ou 
seja, um meio para se atingir um fim. No entanto, a máxima kantiana foi totalmente relegada, 
na Revolução Industrial, com a consideração dotrabalhador como mercadoria ou insumo no 
processo de produção, bem como no século XX pelos nazistas e soviéticos, considerados “[...] 
gigantescas máquinas de despersonalização dos seres humanos (COMPARATO, 2013, p. 36-38).
O reconhecimento científico da natureza humana se deu com a teoria evolucionista de 
Charles Darwin, que coloca o homem no topo da cadeia evolutiva das espécies vivas.
O pensamento do século XIX contribuiu para a compreensão de que o homem age de 
acordo com os seus valores éticos e isso transformou a teoria jurídica, pois “Os direitos humanos 
foram identificados como os valores mais importantes da convivência humana, aqueles sem os 
quais as sociedades acabam perecendo, fatalmente, por um processo irreversível de desagregação” 
(COMPARATO, 2013, p. 41).
A evolução da filosofia, sobretudo do pensamento existencialista do século XX, bem 
como a evolução da biologia, foram importantes para reconhecer o caráter único e insubstituível 
de cada pessoa, que é portadora de um valor próprio, demonstrando que sua dignidade existe 
singularmente em todo indivíduo.
O reconhecimento do homem como ser sujeito de direitos declarados num documento 
com um sentido universal se deu apenas com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, 
em 1948, que trouxe esse sentido de que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e 
direitos”. No entanto, tal consideração não resolveu o problema dos direitos humanos, que sofre 
mais com a falta de efetivação atualmente do que por reconhecimento.
Os direitos humanos nem sempre tiveram a mesma concepção, ou abrangeram os 
mesmos direitos, como vemos hoje em dia. Diversos doutrinadores, como Flávia Piovesan, 
Fábio Konder Comparato e André de Carvalho Ramos, afirmam que os direitos humanos vêm 
sendo construídos ao longo do tempo, “[...] são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas 
circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e 
nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas” (BOBBIO, 2004, 
p. 25).
Para saber um pouco mais, este vídeo apresenta uma breve 
apresentação da história dos direitos humanos. Disponível em: 
<https://youtu.be/kcA6Q-IPlKE>. Acesso em: 2 fev. 2021.
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Como se pode observar, os direitos foram sendo conquistados como frutos de lutas em 
razão do sofrimento físico e moral do homem. Nesse sentido, Bobbio explica que
[...] a liberdade religiosa é um efeito das guerras de religião; as liberdades 
civis, da luta dos parlamentos contra os soberanos absolutos; a liberdade 
política e as liberdades sociais, do nascimento, crescimento e amadurecimento 
do movimento dos trabalhadores assalariados, dos camponeses com pouca 
ou nenhuma terra, dos pobres que exigem dos poderes públicos não só o 
reconhecimento da liberdade pessoal e das liberdades negativas, mas também a 
proteção do trabalho contra o desemprego, os primeiros rudimentos de instrução 
contra o analfabetismo, depois a assistência para a invalidez e a velhice, todas 
elas carecimentos que os ricos proprietários podiam satisfazer por si mesmos 
(BOBBIO, 2004, p. 25).
A concepção inicial dos direitos humanos se deu com a necessidade de limitação do 
poder do Estado, representado por seus governantes, que deveriam atuar a serviço do povo e não 
para o bem próprio. Esse sentido pode ser observado em 1215, na Magna Carta, que preconizou 
algumas limitações ao poder do rei (COMPARATO, 2013, p. 103-108).
Ato contínuo, observa-se em 1679, com a instituição da Lei de Habeas Corpus, uma 
garantia processual adequada à criação de direitos subjetivos na Inglaterra, já que nesse país 
a ação judicial é o meio efetivo de assegurar a existência de direitos. Essa lei foi criada para 
proteger a liberdade de locomoção, um direito fundamental. Em 1689, a Inglaterra fez com 
que os sucessores de Jaime II, que fugiu para a França, Guilherme III e Maria II assinassem a 
Declaração de Direitos (Bill of Rights) que delegou ao Parlamento os poderes de legislar e de 
criar tributos, retirando essa prerrogativa do monarca. Por meio dessa Declaração, criava-se uma 
organização do Estado cuja função era “[...] proteger os direitos fundamentais da pessoa humana 
[...]”, bem como ficou garantido “[...] o direito de petição e a proibição de penas inusitadas ou 
cruéis” (COMPARATO, 2013, p. 125-135).
A Declaração de Independência das antigas treze colônias britânicas ocorrida em 1776 
e a Constituição dos Estados Unidos da América do Norte representaram o ato inaugural da 
democracia moderna. É importante lembrar que esses eventos representaram a cultura local 
existente na época, cujos reflexos podem ser observados até os dias atuais. Dentre os aspectos 
culturais, destacam-se: a propagação da ideia de igualdade jurídica entre os cidadãos americanos; 
a defesa (por todos) das liberdades dos indivíduos; e a necessidade de consentimento do povo 
para os atos governamentais. Esse espírito de liberdade religiosa e de expressão, e de igualdade 
que consta na Declaração de Independência, é que a qualifica como “[...] o primeiro documento 
político que reconhece, a par da legitimidade da soberania popular, a existência de direitos 
inerentes a todo ser humano, independentemente das diferenças de sexo, raça, religião, cultura 
ou posição social” (COMPARATO, 2013, p. 149).
Em seguida, surgem as declarações de direitos norte-americanas, que vieram para 
proteger os direitos individuais. A Declaração do bom povo de Virgínia ocorreu em 1776, 
seguida da Pensylvania, no mesmo ano, e de Massachussetts em 1780. Essas declarações tiveram 
importância pelo reconhecimento de tais direitos humanos pelo Estado, transformando-os em 
direitos fundamentais. A principal finalidade de se colocar os direitos humanos na Constituição 
é a de proteger os indivíduos contra os abusos dos governantes (COMPARATO, 2013, p. 152).
A Revolução Francesa, que veio em seguida, tinha a intenção de alterar toda a concepção 
pré-existente e levar esse novo pensamento para o restante do mundo. O objetivo da Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, era justamente a universalização dos direitos do 
homem, ou seja, de conferi-los a todos os homens de todos os lugares. A declaração francesa é 
de extrema importância, pois consagra os direitos de liberdade, de igualdade e de fraternidade, já 
que «todos os homens nascem livres e com direitos iguais». 
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Além da abolição dos privilégios de alguns poucos, essa declaração impulsionou ideias que foram 
garantidas em Constituições e tratados posteriores de “[...] soberania popular, sistema de governo 
representativo, igualdade de todos perante a lei, presunção de inocência, direito à propriedade, à 
segurança, liberdade de consciência, de opinião, de pensamento” e o dever de garantir os direitos 
humanos pelo Estado (RAMOS, 2014, p. 40).
Em 1848, a Constituição Francesa trouxe algumas questões relevantes à evolução dos 
direitos humanos, como os valores do trabalho, a abolição da pena de morte em matéria política 
e o fim da escravidão em terra francesa.
A Convenção de Genebra, de 1864, inaugurou a introdução dos direitos humanos na 
esfera internacional, o que se denominou “[...] direito humanitário [...]; isto é, o conjunto das leis 
e costumes da guerra, visando minorar o sofrimento de soldados doentes e feridos, bem como de 
populações civis atingidas por um conflito bélico” (COMPARATO, 2013, p. 167, grifo do autor). 
No século XX, destaca-se, inicialmente, a Constituição Mexicana, de 1917, que foi a 
primeira a qualificar os direitos trabalhistas como direitos fundamentais, além das consagradas 
liberdades individuais e dos direitos políticos. 
Em 1918, eclodiu a Revolução Russa e com ela a Declaração dos Direitos do Povo 
Trabalhador e Explorado, documento que, influenciado pelos movimentos socialistase pela 
persistência da miséria, ganhou apoio popular. O objetivo dos movimentos socialistas era garantir 
direitos sociais às pessoas, no intuito de conferir-lhes condições mínimas de existência.
A Carta Mexicana influenciou a Constituição de Weimar, de 1919, e a criação da 
Organização Internacional do Trabalho no mesmo ano, ambas instituídas após o fim da Primeira 
Guerra Mundial (1914-1918). Essa Constituição estabeleceu uma estrutura elaborada do Estado 
da democracia social, sobretudo no que tange ao direito à educação e aos direitos trabalhistas, 
sendo retomada após o fim da Segunda Guerra. De acordo com Fábio Comparato, 
A democracia social representou efetivamente, até o final do século XX, a melhor 
defesa da dignidade humana, ao complementar os direitos civis e políticos — que 
o sistema comunista negava — com os direitos econômicos e sociais, ignorados 
pelo liberal-capitalismo (COMPARATO, 2013, p. 185).
Enquanto os direitos individuais constituem instrumentos de defesa contra o Estado, os 
direitos sociais demandam uma atuação positiva do Estado para garantir, por meio de políticas 
públicas, o direito à educação, à saúde, ao trabalho, à previdência social, dentre outros.
Com a tendência de consolidação dos direitos sociais, em 1926, é aprovada a Convenção 
de Genebra sobre a Escravatura pela Assembleia da Liga das Nações. Até essa data, muitos países 
aceitavam a escravidão, e o tráfico de escravos era um negócio de alta lucratividade no mercado 
nacional e internacional.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi palco de muitas atrocidades contra o ser 
humano, sobretudo pela quantidade de vítimas, sendo a maior parte delas civis, contrapondo todas 
as normativas já analisadas de proteção dos direitos humanos. O fim dessa guerra é marcado pela 
conscientização da comunidade internacional de que o respeito à dignidade humana era medida 
que demandaria esforços de todas as nações, mas que deveria ser respeitada incondicionalmente, 
especialmente para se evitar um novo conflito. 
A criação da Organização das Nações Unidas, em 1945, evidencia essa conscientização, 
que culminou na internacionalização dos direitos humanos de forma mais efetiva. O art. 55, da 
Carta de São Francisco (tratado que cria a ONU), determina que a Organização deve favorecer 
“[...] o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para 
todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”, ao passo que o art. 56 estabelece que os 
membros devem agir em cooperação para alcançar o disposto no artigo anterior (ONU, 1945).
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 Em 1948, foi aprovada a Resolução da Assembleia Geral da ONU denominada Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, que explicita o rol dos direitos humanos, sendo eles enumerados 
em direitos políticos e liberdades individuais, direitos econômicos, sociais e culturais. André de 
Carvalho Ramos explica que
Entre os direitos civis e políticos constam o direito à vida e à integridade física, o 
direito à igualdade, o direito de propriedade, o direito à liberdade de pensamento, 
consciência e religião, o direito à liberdade de opinião e de expressão e à liberdade 
de reunião. Entre os direitos sociais em sentido amplo constam o direito à 
segurança social, ao trabalho, o direito à livre escolha da profissão e o direito à 
educação, bem como o ‘direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua 
família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados 
médicos e os serviços sociais indispensáveis (direito ao mínimo existencial - art. 
XXV) (RAMOS, 2014, p. 43).
Ainda em 1948, foi aprovada a Convenção para a prevenção e a repressão do crime de 
genocídio, ainda como resposta às atrocidades da Segunda Guerra Mundial cometidas contra 
judeus e outras minorias étnicas. O genocídio foi definido como crime contra a humanidade 
no Tribunal de Nuremberg, criado para julgar os criminosos nazistas em 1945, sendo que a 
Convenção definiu que tal crime não se liga necessariamente a um estado de guerra, bem como 
determinou a imprescritibilidade dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade.
Em 1950, foi aprovada a Convenção Europeia dos Direitos Humanos para a proteção dos 
direitos das liberdades fundamentais. A Convenção limitou-se à proteção dos direitos individuais 
clássicos, mas inovou ao instituir órgãos incumbidos de fiscalizar o respeito aos direitos ali 
declarados, bem como a competência para julgar as eventuais violações pelos signatários, como o 
Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Essa inovação é de fundamental importância, sobretudo 
porque, mais do que declarar os direitos, é importante efetivamente garanti-los.
Em 1966, foram aprovados dois Pactos Internacionais de Direitos Humanos pela 
Assembleia Geral da ONU, um sobre Direitos Civis e Políticos e outro sobre Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais. Essa divisão se deu porque os membros ocidentais queriam reconhecer apenas 
os direitos individuais clássicos, ao passo que os países comunistas e africanos destacavam os 
direitos sociais e econômicos. Na verdade, “[...] a liberdade individual é ilusória, sem um mínimo 
de igualdade social” (COMPARATO, 2013, p. 316).
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos foi aprovada em 1969 na Conferência 
de São José da Costa Rica e reproduz boa parte do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e 
Políticos de 1966, mas ampliou a proibição do restabelecimento da pena capital para os países 
que a tenham abolido, bem como vedou sua aplicação a crimes políticos ou comuns. Além disso, 
a Convenção criou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de 
Direitos Humanos como órgãos competentes para proteger os direitos constantes nesse tratado.
Em 1981, foi aprovada a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos 
Povos, que garante, dentre outros, seu direito à existência enquanto tal, à livre disposição de 
suas riquezas e recursos naturais, ao desenvolvimento, à paz e à segurança e à preservação do 
equilíbrio ecológico. Este último direito foi introduzido pela primeira vez em uma convenção 
internacional pela Carta Africana.
A Convenção sobre o Direito do Mar, assinada em 1982, em Montego Bay, afirma a 
existência de direitos fundamentais da humanidade sobre os mares e oceanos. Por certo que todos 
querem explorar e aproveitar os fundos marinhos e oceânicos e o subsolo, o que se contrapõe à 
necessidade de conservação dos recursos vivos e de proteção e preservação do meio marinho. 
Nessa Convenção, há o reconhecimento de que o leito do mar, os fundos marinhos, o subsolo são 
patrimônio da humanidade. 
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Figura	1	- Limites do mar. Fonte: Econometriz (2021).
Em 1992, a Convenção sobre a Diversidade Biológica foi assinada no Rio de Janeiro e 
regula o direito da humanidade à preservação da biosfera, mantendo uma harmonia ambiental 
no planeta, sobretudo pela aplicação do princípio da solidariedade entre as gerações presentes e 
as futuras.
Em 1998, foi criado o Tribunal Penal Internacional, em decorrência da ideia de que, 
por vivermos numa cidadania mundial, todas as pessoas, de qualquer nacionalidade, precisam 
ser responsáveis por suas práticas, sobretudo a responsabilização penal e a respectiva sanção 
de práticas que violem a dignidade humana. O Tribunal é permanente e tem competência para 
julgar os autores dos crimes de genocídio contra a humanidade, de guerra e de agressão.
2. conceito e características dos direitos Humanos
De acordo com Ramos (2014, p. 25), “Os direitos humanos constituem em um conjunto 
de direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e 
dignidade. Os direitos humanos são os direitos essenciais e indispensáveis à vida digna”. Como 
as necessidades humanas variam de acordo com a época, não há como se estabelecer um rol dedireitos fixado, sendo que novas demandas vão surgindo com o tempo e inserindo novos direitos 
nessa lista.
Ramos ainda explica que “[...] os direitos humanos representam valores essenciais, que são 
explicitamente ou implicitamente retratados nas Constituições ou nos tratados internacionais 
[...]”, revelando que uma sociedade pautada na defesa dos direitos tem como consequências “[...] 
o reconhecimento de que o primeiro direito de todo indivíduo é o direito a ter direitos [...]”, bem 
como de que os direitos de um indivíduo devem conviver com os direitos dos outros (RAMOS, 
2014, p. 26, grifo do autor).
Essa segunda afirmação traz diversos desdobramentos, tendo em vista que, numa vida 
em sociedade, o exercício do direito de uma pessoa sempre entrará em conflito com o exercício 
do direito de outra. Para ilustrar, menciona-se o direito da vida privada em conflito com o direito 
à liberdade de informação, o direito à propriedade e o direito ao meio ambiente equilibrado, 
o direito à vida do bebê e o direito reprodutivo da mulher (aborto). São questões ainda sem 
uma resposta definitiva, que serão construídas no tempo, no sentido de criar uma interação na 
sociedade, em que as pessoas convivam tendo seus direitos garantidos.
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A Organização das Nações Unidas assim determina: 
Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, 
independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião 
ou qualquer outra condição. Os direitos humanos incluem o direito à vida 
e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho 
e à educação, entre e muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem 
discriminação (UNRIC, 2021).
Para Flávia Piovesan, a concepção contemporânea de direitos humanos é caracterizada 
pela universalidade e pela indivisibilidade desses direitos:
Universalidade, porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob 
a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade 
de direitos, considerando o ser humano como um ser essencialmente moral, 
dotado de unicidade existencial e dignidade. Indivisibilidade, porque a garantia 
dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, 
econômicos e culturais – e vice-versa. Quando um deles é violado, os demais 
também o são (PIOVESAN, 2004, p. 22).
Os direitos humanos apresentam características que lhes são comuns, que são: historicidade, 
universalidade, essencialidade, irrenunciabilidade, inalienabilidade, imprescritibilidade, vedação 
ao retrocesso (MAZZUOLI, 2015, p. 899-901).
A historicidade mostra que os direitos humanos foram sendo construídos com o 
decorrer do tempo e ganhando maior relevância com as reivindicações da revolução burguesa, 
passando pela revolução industrial, garantindo direitos sociais aos trabalhadores, posteriormente, 
desenvolvendo-se o Estado social, ampliando-os mais tarde para os direitos civis, políticos, 
econômicos, sociais e culturais, do meio ambiente, do desenvolvimento, da paz etc.
A universalidade indica que todas as pessoas são titulares dos direitos humanos, bastando-
lhes a condição de “ser humano”. Isso também significa que qualquer pessoa, em qualquer lugar, 
pode reclamar a proteção desse direito, independentemente de raça, sexo, cultura, posição social 
etc.
A essencialidade atribui aos direitos humanos a característica de serem essenciais por 
natureza, ou seja, são valores indispensáveis, e todos têm o dever de protegê-los.
A irrenunciabilidade significa que os direitos humanos não são passíveis de renúncia. 
Ainda que o titular do direito não o exerça efetivamente, isso não implica renúncia. Essa 
característica também determina que, ainda que seu titular autorize expressamente, a violação 
dos seus direitos não será convalidada por essa autorização.
A inalienabilidade determina que os direitos humanos são inalienáveis por não 
permitirem que seu titular os aliene, os transfira ou ceda tais direitos, de forma onerosa ou gratuita. 
Em outras palavras, ainda que tenha o consentimento do titular, esses direitos são indisponíveis, 
inegociáveis.
A imprescritibilidade	é uma característica que estabelece que os direitos humanos são 
imprescritíveis, não importando o decurso do tempo, significando que a pessoa não perde esses 
direitos.
A vedação	ao	retrocesso, por fim, é uma das características que impede que os direitos 
humanos sejam diminuídos. Por meio dessa característica, o Estado não pode proteger menos, 
ou conferir menos direitos, pois isso seria considerado um retrocesso na proteção dos direitos 
humanos. O objetivo é sempre alcançar melhorias, normas mais benéficas de proteção, e não 
limitações, restrições, qualquer coisa que nulifique ou restrinja direitos anteriormente garantidos. 
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Tal característica também impede que as normas já postas sejam interpretadas de forma a limitar 
ou restringir direitos já garantidos.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, as características mais importantes 
dos direitos humanos são:
o Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa.
o Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem 
discriminação a todas as pessoas.
o Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado deles; eles podem ser limi-
tados em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser restringido se uma 
pessoa é considerada culpada de um crime diante de um tribunal e com o devido processo 
legal.
o Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é insufi-
ciente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um direito vai 
afetar o respeito por muitos outros.
o Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância, sendo 
igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa.
Quadro	1	– Declaração Universal dos Diretos Humanos (DUDH). Fonte:	Unesco (2021).
Em 1993, na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos da ONU, algumas 
características desses direitos foram afirmadas solenemente, como a universalidade desses 
direitos, o que trouxe maior respaldo e maior responsabilidade aos Estados para garanti-los. 
Uma vez que são universais, ultrapassam os limites dos territórios, e devem ser respeitados pelos 
Estados onde quer que se encontrem.
Figura	2	– Os direitos humanos são universais. Fonte: Tosi (2018).
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O resultado dessa Conferência foi a Declaração e Programa de Ação de Viena, que assim 
determinou:
5. Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes 
e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos 
humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma 
ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em 
consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é 
dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades 
fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais.
Observa-se, com isso, que a Declaração veio para reforçar que os direitos humanos 
possuem essas características, especialmente a universalidade, que determina que os direitos 
humanos devem ser garantidos a todas as pessoas, independentemente de raça, cor, religião, sexo, 
ou mesmo de estarem localizadas neste ou naquele território.
Além dessas características já abordadas, Carlos Weis atribui, no contexto da 
contemporaneidade, a indivisibilidade, a interdependência e a transnacionalidade também como 
características dos direitos humanos. Para o autor, 
Ao se afirmar que os direitos humanos são indivisíveis,se está a dizer que 
não existe meio-termo: só há vida verdadeiramente digna se todos os direitos 
previstos no Direito Internacional dos Direitos Humanos estiverem sendo 
respeitados, sejam civis e políticos, sejam econômicos, sociais e culturais. [...] A 
interdependência diz respeito aos direitos humanos considerados em espécie, ao 
se entender que um certo direito não alcança a eficácia plena sem a realização 
simultânea de alguns ou de todos outros direitos humanos (WEIS, 1998). 
Além disso, Weis destaca que a transnacionalidade decorre da internacionalização dos 
direitos humanos e da ratificação dos principais tratados internacionais pela grande maioria dos 
países. Isso significa que os direitos humanos devem ser respeitados em todo o globo (WEIS, 
1998).
3. terminologia: direitos Humanos, direitos fundamentais e 
direitos do Homem
Alguns doutrinadores apresentam distinções doutrinárias acerca das expressões “direitos 
do homem”, “direitos fundamentais” e “direitos humanos”, que serão analisadas a seguir.
Acerca da expressão “direitos humanos”, André de Carvalho Ramos alerta para o fato de 
que alguns autores argumentam ser uma expressão redundante. No entanto, isso só faz parte do 
reconhecimento de que “[...] esses direitos são de todos, sem qualquer outra consideração ou 
aspecto qualificativo. Trata-se, então, de ênfase e valorização da condição humana como atributo 
para o exercício desses direitos” (RAMOS, 2014, p. 49).
Valério Mazzuoli explica que “Direitos do homem - é a expressão de cunho mais naturalista 
do que jurídico-positivo. [...] São direitos que, em tese, ainda não se encontram nos textos 
constitucionais ou nos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos”. De acordo 
com o autor, são raros exemplos que ainda não se encontram em algum documento escrito 
(MAZZUOLI, 2015, p. 896, grifo do autor).
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Direitos fundamentais - é a expressão mais afeta à proteção constitucional dos 
direitos dos cidadãos. Liga-se, assim, aos aspectos ou matizes constitucionais 
(internos) de proteção, no sentido de já se encontrarem positivados nas 
Constituições contemporâneas. São direitos garantidos e limitados no tempo e 
no espaço, objetivamente vigentes numa ordem jurídica concreta (MAZZUOLI, 
2015, p. 896, grifo do autor).
Para Gilmar Mendes, 
Os direitos fundamentais assumem posição de definitivo realce na sociedade 
quando se inverte a tradicional relação entre Estado e indivíduo e se reconhece 
que o indivíduo tem, primeiro, direitos, e, depois, deveres perante o Estado, e 
que os direitos que o Estado tem em relação ao indivíduo se ordenam ao objetivo 
de melhor cuidar das necessidades dos cidadãos (MENDES, 2014, p. 121).
“Direitos humanos - são, por sua vez, inscritos (positivados) em tratados ou decorrentes 
de costumes internacionais. Trata-se daqueles direitos que já ascenderam ao patamar do Direito 
Internacional Público” (MAZZUOLI, 2015, p. 896, grifo do autor).
Com isso, pode-se observar que, embora pareçam a mesma coisa, não são, já que os 
direitos do homem são aqueles que ainda não estão normatizados, os direitos fundamentais são 
aqueles garantidos nas Constituições de cada país e os direitos humanos são os assegurados nos 
tratados internacionais.
Fábio Comparato esclarece que
A doutrina jurídica alemã contemporânea distingue, nitidamente, os direitos 
humanos dos direitos fundamentais. Estes últimos são os direitos que, 
consagrados na Constituição, representam as bases éticas do sistema jurídico 
nacional, ainda que não possam ser reconhecidos, pela consciência jurídica 
universal, como exigências indispensáveis de preservação da dignidade humana. 
Daí por que os direitos humanos autênticos existem, independentemente de 
seu reconhecimento na ordem jurídica estatal, e mesmo contra ela, ao passo 
que alguns direitos, qualificados como fundamentais na Constituição de 
um país, podem não ter a vigência universal, própria dos direitos humanos 
(COMPARATO, 2013, p. 174).
É importante lembrar que nem todos os direitos humanos estão garantidos nas 
Constituições, sobretudo a brasileira. Enquanto os direitos humanos podem ser reclamados por 
qualquer pessoa que sofrer uma violação em qualquer lugar do planeta, nem todos os direitos 
fundamentais podem ser exercidos por todas as pessoas. É o caso do direito de voto, que é um 
direito fundamental do brasileiro, mas que não pode ser exercido pelo estrangeiro no Brasil.
André de Carvalho Ramos apresenta diversas terminologias para os direitos humanos 
consignadas na Constituição Federal do Brasil e em diversos tratados internacionais. O autor 
explica que “[...] essa imprecisão terminológica é resultado da proteção de certos direitos essenciais 
do indivíduo, pela qual a denominação de tais direitos foi sendo alterada, a partir do redesenho 
de sua delimitação e fundamentação” (RAMOS, 2014, p. 46).
No início do entendimento, “direito natural” seria o reconhecimento de que os direitos 
são inerentes à natureza do homem, sendo que “direitos do homem” também adviria dessa 
concepção jusnaturalista, mas que foi carreado de um caráter sexista, por se restringir às pessoas 
do sexo masculino, preterindo os direitos da mulher. Já os “direitos individuais” abrangeriam 
apenas os direitos relacionados ao indivíduo, excluindo os direitos coletivos ou considerados 
em sua coletividade. Dentre outras denominações, a doutrina francesa trata das “liberdades 
públicas”, enquanto a escola alemã de Direito Público do século XIX aborda os “direitos públicos 
subjetivos”, ou seja, aqueles tidos contra o Estado (RAMOS, 2014, p. 47).
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Já no século XXI, predominam as expressões «direitos humanos» e «direitos fundamentais». 
Os primeiros seriam aqueles estabelecidos em tratados internacionais, enquanto os segundos 
seriam aqueles reconhecidos e positivados pelas Constituições de cada Estado. No entanto, essa 
máxima não é absoluta, como se observa na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia 
(que é um tratado) e a Constituição Federal do Brasil, que menciona, em algumas passagens, os 
“direitos da pessoa humana”. 
O autor argumenta que já não se deve mais reproduzir o discurso de que os direitos 
humanos não são válidos nos Estados que não os tiverem positivados em suas regras internas, 
como direitos fundamentais. A internacionalização dos direitos humanos, ou o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos, retira essa necessidade de prever a regra no direito interno, 
como se observa tanto no sistema interamericano como no sistema europeu, em que os Estados 
podem ser responsabilizados pelo descumprimento das normas de direitos humanos previstas 
nos tratados (RAMOS, 2014, p. 48).
Além disso, o art. 5º, § 3º, da Constituição Federal, cuja redação foi incluída pela Emenda 
Constitucional nº 45, de 2004, determina que:
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que 
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas 
constitucionais (BRASIL, 1988).
Em outras palavras, caso um tratado internacional de direitos humanos seja aprovado 
com o mesmo rito das emendas constitucionais, serão equivalentes, ou seja, um direito previsto 
num tratado de direitos humanos será considerado constitucional e, portanto, um direito 
fundamental.
4. as gerações (ou dimensões) de direitos Humanos
Na contemporaneidade, os direitos humanos estão divididos em gerações que se 
fortalecem mutuamente e se complementam em prol de cada ser humano. Essa divisão só 
ocorreu posteriormente pela análise histórica das lutas para a conquista dos direitos humanos, 
e não param de ocorrer, já que não basta a mera declaração deles nos textos internacionais ou 
constitucionais. Antes de mais nada, é preciso garanti-los a todas as pessoas.
Nesse

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