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As teorias científicas são produtos históricos que contribuem ou alteram radicalmente o desenvolvimento do conhecimento, e surgem influenciadas pelas condições da vida social, nos seus aspectos econômicos, políticos, culturais etc. Assim, Sigmund Freud (1856-1939), médico vienense, construiu uma teoria que conseguiu modificar o modo de pensar a vida psíquica. Seu objetivo era estimular o pensamento e derrubar preconceitos. Freud ousou colocar os “processos misteriosos” do psiquismo, isto é, as fantasias, os sonhos, os esquecimentos e a interioridade humana, como temas da investigação científica. Desse modo, ele criou a Psicanálise, termo que se refere a uma teoria, a um método de investigação e a uma prática profissional. Compreender a sua criação significa percorrer sua trajetória pessoal, pois Freud a produziu com base em experiências pessoais. A Psicanálise, enquanto teoria, caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Como método de investigação, caracteriza-se pelo método interpretativo, buscando o significado oculto daquilo que é manifestado por meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os senhos, os delírios, as associações livres e os atos falhos. A prática profissional (análise) refere-se à forma de tratamento, a qual busca pelo autoconhecimento ou a cura por meio do método de investigação. Atualmente, a Psicanálise é usada como base para psicoterapias, aconselhamento e orientação; é aplicada no trabalho com grupos e instituições. Também serve como um instrumento importante para a compreensão de fenômenos sociais relevantes. Freud formou-se em medicina na Universidade de Viena (1881), e especializou-se em Psiquiatria. Entretanto, ele não tinha condições financeiras para se dedicar integralmente à vida acadêmica e de pesquisador. Então, ele começou a clinicar, atendendo pessoas acometidas de “problemas nervosos”. Mas, ele ganhou uma bolsa de estudos em Paris, onde trabalhou com Jean Martin Charcot (neurologista francês que descobriu o Mal de Parkinson) que tratava histerias com hipnose. Depois Freud retornou para Viena e voltou a clinicar, trabalhando principalmente com a hipnose para eliminar sintomas de distúrbios nervosos. Em Viena Freud trabalhou com Josef Breuer, médico e cientista, com quem continuou as suas investigações. O trabalho de destaque dos dois é conhecido como “Caso de Ana O.”. Ana O. foi uma paciente que apresentava sintomas de histeria, os quais surgiram na época em que ela cuidava do pai enfermo. Nesse período ela tinha afetos e pensamentos que desejavam que o pai morresse, ideias as quais foram reprimidas e substituídas pelos sintomas. Em estado de vigília ela não conseguia indicar a origem dos sintomas, mas sob efeito da hipnose, relatava de onde surgiu cada um deles, que estavam ligados a vivências anteriores relacionadas com o episódio da doença do pai. Ao relembrar essas cenas e vivências, os sintomas desapareciam devido à liberação das reações emotivas associadas ao evento traumático. Freud utilizou a hipnose por muito tempo, mas posteriormente passou a usar o método catártico, tratamento que possibilita a liberação de afetos e emoções ligados a acontecimentos traumáticos que não puderam ser expressos na ocasião da vivência dolorosa. Esse método leva à eliminação dos sintomas. Posteriormente, ele percebeu que nem todos os pacientes se prestavam a ser hipnotizados e passou a confiar na fala desordenada do paciente (sem nem fazer perguntas). Quando Freud abandonou as perguntas no trabalho terapêutico e permitiu que os pacientes falassem livremente, ele percebeu que num determinado momento eles ficavam embaraçados/envergonhados com algumas ideias e imagens que lhes ocorriam. A força psíquica que se opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento, Freud denominou resistência. E chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma ideia ou representação insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma. Esses conteúdos psíquicos estão no inconsciente. A primeira teoria sobre a estrutura do aparelho psíquico apresenta o inconsciente, o pré- consciente e o consciente. • Inconsciente: é onde estão os conteúdos que foram reprimidos e não podem ser acessados em estado de vigília. Esses conteúdos podem ter sido conscientes em algum momento e foram para o inconsciente, ou ser genuinamente inconsciente. É um sistema do aparelho psíquico com leis próprias de funcionamento. É atemporal (não existe percepção de tempo). • Pré-consciente: refere-se ao sistema em que permanecem os conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência nesse momento, mas, no momento seguinte, pode estar. • Consciente: é o sistema que recebe informações do mundo exterior e interior simultaneamente. É onde destacam-se a percepção, a atenção e o raciocínio. Com as investigações práticas sobre as causas e funcionamento das neuroses, Freud descobriu que a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos se referia a conflitos de ordem sexual, localizados na infância. Ou seja, na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático reprimidas, que se configuravam como origem dos sintomas atuais. Confirmava-se, então, que os acontecimentos nessa fase deixam marcas profundas na estruturação da pessoa. Assim, ele concluiu que a função sexual existe desde o princípio da vida e que o desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar à sexualidade adulta. • Fase oral: é a primeira fase do desenvolvimento libidinal. A zona de erotização é na boca e, está ligada, em um primeiro momento, à sucção. Assim, o ato de alimentar-se se desliga da função meramente nutritiva e se torna autoerótica. • Fase anal: a zona de erotização é o ânus, ligada à função de defecação, tanto na retenção quanto na expulsão das fezes. • Fase fálica: a zona de erotização é o órgão sexual. A masturbação é um comportamento exploratório. Essa fase se caracteriza pelo ápice e declínio do Complexo de Édipo. • Período de latência: caracteriza-se por uma diminuição das atividades sexuais, isto é, há um “intervalo” na evolução da sexualidade que se prolonga até a puberdade. Nesse período há o desenvolvimento de sentimentos fraternos, a curiosidade sobre o mundo, o início da formação de uma escala de valores morais. • Fase genital: atingida na puberdade, é a última fase do desenvolvimento sexual. O objeto de erotização não está mais no seu próprio corpo, mas em um objeto externo ao indivíduo, ou seja, em outras pessoas. é em torno desse processo que ocorre a estruturação da vida psíquica do sujeito. No Édipo, a mãe é o objeto de desejo do menino, e o pai é o rival que impede o acesso ao objeto desejado. Assim, o menino passa a agir como o pai para conquistar a mãe, escolhendo-o como modelo de comportamento (identificação) e passando a internalizar as regras e as normas sociais representadas e impostas pela autoridade paterna. Mas, por medo de perder o amor do pai, o menino troca a mãe pela riqueza do mundo social e cultural. Desse modo, ele pode participar do mundo social, pois tem suas regras básicas internalizadas por meio da identificação com o pai. Também existe o Édipo feminino, mas o objeto de desejo é trocado. corresponde a algo que para o indivíduo assume valor de realidade, e é isso que importa, mesmo que não corresponda à realidade objetiva. Freud descobriu a realidade psíquica ao perceber que muito do que era relatado pelos pacientes não tinha de fato ocorrido, mas que tinha a mesma força e consequência de uma situação real. econômico (existe uma quantidade de energia que “alimenta” os processos psíquicos); tópico (o aparelho psíquico é constituído de um número de sistemas que são diferenciados quanto à sua natureza e seu modo de funcionamento,o que permite considerá-lo como “lugar” psíquico; dinâmico (no interior do psiquismo existem forças que entram em conflito e estão permanentemente ativas, das quais a origem é a pulsão). estado de tensão que busca, por meio de um objeto, a supressão desse estado. Eros (pulsão de vida): abrange as pulsões sexuais e as de autoconservação; tânatos (pulsão de morte): pode ser autodestrutiva ou estar dirigida para fora e se manifestar como pulsão agressiva ou destrutiva. é uma produção, como um comportamento ou pensamento, resultante de um conflito psíquico entre o desejo e os mecanismos de defesa. Ele sinaliza e busca encobrir um conflito ao mesmo tempo. É o ponto de partida da investigação psicanalista. é onde se localizam as pulsões de vida e de morte, sendo regido pelo princípio do prazer. é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as “ordens” do superego. É regido pelo princípio da realidade, que com o princípio do prazer, rege o funcionamento psíquico. Nesse sentido, a busca pelo prazer é substituída pelo evitamento do desprazer. Suas funções básicas são: percepção, memória, sentimentos e pensamentos. origina-se com o Complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. A moral e os ideais são funções do superego. O seu conteúdo refere-se as exigências sociais e culturais. *Sentimento de culpa: o indivíduo sente-se culpado por algo que fez ou que desejou fazer, porque esse desejo é considerado mau pelo ego, pois alguém importante para ele, como o pai, pode puni-lo por isso. E a principal punição é a perda do amore do cuidado dessa figura de autoridade. A culpa existe, pois, mesmo sem realizar a ação, o desejo continua. Esse sentimento pode variar desde uma manifestação “normal” até um grau mais elevado que o localiza como adoecimento grave (pode levar à autodepreciação e até o suicídio). É importante considerar que o id, ego e o superego não funcionam de forma separada e que não são uma estrutura vazia, mas sim, habitadas pelo conjunto de experiências pessoais e particulares de cada um. Isso significa que, para compreender determinado comportamento ou modo de estar no mundo, é necessário resgatar a história pessoal do sujeito. A percepção de um acontecimento pode ocasionar constrangimento. Para evitar o desprazer, a pessoa pode “deformar” ou suprimir a realidade. Para isso, o indivíduo utiliza os mecanismos de defesa, processos inconscientes realizados pelo ego, o qual exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo, dessa forma, o aparelho psíquico. o indivíduo “não vê” e “não ouve” o que ocorre, ou seja, suprime a percepção do que está acontecendo. Um exemplo é quando entendemos uma proibição como uma permissão porque não ouvimos o “não”. É o mais radical mecanismo de defesa. o ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e, para isso, o indivíduo adota uma atitude oposta. Um exemplo é a mãe que superprotege o filho, do qual tem muita raiva porque atribui a ele muitas das suas características. o indivíduo retorna a etapas anteriores do seu desenvolvimento. Por exemplo, uma pessoa que está bastante ansiosa e come demais (volta à fase oral). o indivíduo projeta algo de si no mundo externo, como em outras pessoas. Um exemplo é um jovem supercompetitivo que critica os colegas por serem competitivos, sem perceber que ele também é. o indivíduo constrói uma argumentação intelectualmente convincente que justifica os estados “deformados” da consciência. Um exemplo é um político que tenta encontrar justificativas para seus roubos, como se “não tivesse saída” e tem o discurso facilmente comprado por seus eleitores, mantendo assim, a sua autoestima. *Os mecanismos de defesa não são patológicos, mas seu uso distorce a realidade. REFERÊNCIA: BOCK, Ana Mercês Bahia; FORTA DO, Odair; TEXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias. 1999. (CAP. 3)
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