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P ág in a1 P ág in a2 AVISO DE DIREITOS AUTORAIS Prezado aluno, antes de iniciarmos nossos estudos, lembramos que todo o material deste curso se destina ao uso exclusivo de quem o adquirir no site do Trino Concursos, e sua aquisição não autoriza sua reprodução, conforme proteção conferida pelas legislações civil (como a Lei 9.610/98 e o Código Civil) e penal (especialmente pelo art. 184 do Código Penal). Sentimos a obrigação de esclarecer que, acaso haja a inobservância das disposições legais aplicáveis, o fornecimento das aulas será interrompido e nenhum valor pago será restituído, sem prejuízo de toda a responsabilização cabível. Bons estudos! P ág in a3 DIREITO CONSTITUCIONAL MINISTÉRIO PÚBLICO MINISTÉRIO PÚBLICO ........................................................................................................... 4 NORMAS QUE REGEM O MINISTÉRIO PÚBLICO ....................................................................... 5 “Quarentena” para ingresso na carreira ............................................................................... 6 ESTRUTURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA CF/88 .................................................................... 9 Ministério Público Eleitoral .................................................................................................. 10 Procurador-Geral da República ............................................................................................ 15 Procurador-Geral de Justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios ....................... 17 Procurador-Geral do Trabalho, Procurador-Geral da Justiça Militar e Procurador-Geral Eleitoral ................................................................................................................................ 21 Conflito de atribuições entre órgãos do Ministério Público ................................................. 24 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ........................................................ 26 Unidade ................................................................................................................................ 26 Indivisibilidade ..................................................................................................................... 31 Independência funcional ...................................................................................................... 32 ATUAÇÃO AUTÔNOMA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL PERANTE O STF.................... 33 PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL .................................................................................... 37 GARANTIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ................................................................................... 38 VEDAÇÕES IMPOSTAS AOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ........................................ 40 Membro do Ministério Público pode advogar?.................................................................... 42 Exercício de outros cargos públicos por membros do Ministério Público ............................ 45 Exercício de atividade político-partidária por membro do Ministério Público..................... 47 FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ........................................................... 50 CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO (CNMP) .................................................... 58 Composição do Conselho ..................................................................................................... 59 Atribuições do Conselho ....................................................................................................... 61 MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS ...................................................... 64 O Ministério Público de Contas e seus membros se submetem ao CNMP? ......................... 68 P ág in a4 MINISTÉRIO PÚBLICO Ao longo das Constituições brasileiras, o Ministério Público passou por uma evolução, chegando aos contornos que tem atualmente, no regime da CF/88. Foi na CF/88 que o Ministério Público foi definitivamente desatrelado dos Poderes da República, recebendo tratamento topográfico fora da disciplina dos Poderes Executivo e Judiciário (diferentemente, por exemplo, das Constituições de 1891 e de 1967, em que o MP foi inserido na seção que tratava do Poder Judiciário; e da Constituição de 1969 – EC 1/69 –, em que foi alocado no capítulo do Poder Executivo). Além disso, note que, no regime constitucional anterior, a União era representada em juízo pelos Procuradores da República (membros do Ministério Público Federal), podendo a lei, nas comarcas de interior, atribuir essa função ao Ministério Público local. Já na CF/88, vedou-se que o Ministério Público exercesse a representação judicial e a consultoria jurídica dos entes públicos, tarefa essa que, foi atribuída à Advocacia Pública. Além disso, conforme veremos à frente, o Procurador-Geral da República, na vigência da CF/88, não mais é livremente demissível pelo Presidente da República. Fica, portanto, vedada a demissão ad nutum do PGR. Tudo isso mostra que, no regime da CF/88, o Ministério Público foi libertado de vinculações com os Poderes da República. E foi nesse sentido que o atual texto constitucional, em seu art. 127, caput, estabeleceu que o MP é instituição permanente essencial à função jurisdicional do Estado, além de lhe haver conferido missões de alta relevância: “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.” P ág in a5 NORMAS QUE REGEM O MINISTÉRIO PÚBLICO Além da Constituição Federal, outras normas – regulamentando o texto constitucional – foram editadas para disciplinar o Ministério Público, a saber: I) Lei 8.625/93: é a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (LONMP), que traz normas gerais para a organização do Ministério Público nos Estados. Essa lei é de iniciativa privativa do Presidente da República, conforme consta do art. 61, § 1º, II, “d”, da CF/88. “Art. 61, § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: (...) d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (...)” II) Lei Complementar 75/93: é a Lei Orgânica do Ministério Público da União (LOMPU), cuja iniciativa é do Procurador-Geral da República (chefe do MPU), nos termos do art. 128, § 5º, da CF/88. O Ministério Público da União, nos termos do art. 128, I, da CF/88, compreende o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público Militar (MPM), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), todos independentes entre si. A LOMPU trata do estatuto, organização e atribuições do MPU e, diferentemente da LONMP P ág in a6 (que é uma lei de caráter nacional), tem abrangência apenas federal (isto é, somente se aplica no âmbito da União). “Art. 128. O Ministério Público abrange: I - o Ministério Público da União, que compreende: a) o Ministério Público Federal; b) o Ministério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II - os Ministérios Públicos dos Estados.” III) Leis complementares estaduais: cada Estado deve editar lei complementar própria, de iniciativa do Procurador-Geral de Justiça (chefe do MP estadual), para disciplinar o Ministério Público local, conforme decorre do art. 128, §5º, da CF/88. “Art. 128, § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cujainiciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: (...)” “Quarentena” para ingresso na carreira Nos termos do art. 129, § 2º, da CF/88, as funções do Ministério Público apenas podem ser exercidas por integrantes da carreira, que devem residir na própria comarca em que atuam, salvo autorização do chefe da instituição. “Art. 129, § 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição.” P ág in a7 O ingresso na carreira, por sua vez, ocorre por meio de aprovação em concurso público de provas e títulos com a participação da OAB em todas as suas fases, inclusive na apreciação de eventuais recursos endereçados à banca examinadora, conforme consta do Enunciado nº 11 do CNMP: “Art. 1º É obrigatória a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases de concurso para ingresso no Ministério Público, inclusive na apreciação de eventuais recursos apreciados pela respectiva banca, sob pena de nulidade de todas as fases posteriores à comprovada ausência de participação. Art. 2º O enunciado terá aplicação a partir de sua publicação. Brasília-DF, 13 de dezembro de 2016.” Para o ingresso na carreira do Ministério Público, há um requisito constitucional que se convencionou chamar de “quarentena de entrada”. Essa “quarentena” consiste na exigência de que o candidato ao cargo (que deve ser bacharel em direito) possua pelo menos 03 (três) anos de atividade jurídica, conforme previsto no art. 129, § 3º, da CF/88. “Art. 129, § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade P ág in a8 jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação.” Uma importante questão que já foi objeto de análise pelo STF e pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) é a seguinte: o preenchimento do requisito de 03 (três) anos de atividade jurídica deve ser comprovado em que momento? Somente na posse? Ou seria necessária essa comprovação antes mesmo do momento da investidura no cargo? No que diz respeito ao cargos públicos em geral, a jurisprudência é tranquila no sentido de que os requisitos para a investidura somente precisam ser comprovados no momento da posse, conforme consta da Súmula 266 do STJ (“O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso público.”). Porém, em relação ao requisito da “quarentena de entrada” para investidura no cargo de membro do Ministério Público, o Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que deve ser comprovado por ocasião da inscrição definitiva no concurso. Nas palavras da Corte, “os três anos de atividade jurídica contam-se da data da conclusão do curso de Direito e o fraseado "atividade jurídica" é significante de atividade para cujo desempenho se faz imprescindível a conclusão de curso de bacharelado em Direito. O momento da comprovação desses requisitos deve ocorrer na data da inscrição no concurso, de molde a promover maior segurança jurídica tanto da sociedade quanto dos candidatos” (ADI 3460/DF; Relator(a): Min. CARLOS BRITTO; Julgamento: 31/08/2006; Órgão Julgador: Tribunal Pleno). Esse entendimento também se aplica em relação à exigência de três anos de atividade jurídica para ingresso na magistratura. Nesse sentido, segundo o STF, “a exigência de comprovação, no momento da inscrição definitiva (e não na posse), do triênio de atividade jurídica privativa de bacharel em Direito como condição de ingresso nas carreiras da magistratura e do ministério público (arts. 93, I e 129, §3º, CRFB - na redação da Emenda Constitucional P ág in a9 n. 45/2004) foi declarada constitucional pelo STF na ADI 3.460. (...) Mantidas as premissas fáticas e normativas que nortearam aquele julgamento, reafirmam-se as conclusões (ratio decidendi) da Corte na referida ação declaratória. (...) Tese reafirmada: “é constitucional a regra que exige a comprovação do triênio de atividade jurídica privativa de bacharel em Direito no momento da inscrição definitiva”. (...)” (RE 655265/DF; Relator(a): Min. LUIZ FUX; Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN; Julgamento: 13/04/2016; Órgão Julgador: Tribunal Pleno). É interessante notar, conforme destaquei acima, que o entendimento constante dos julgados trazidos acima se aplica tanto ao concurso para ingresso no Ministério Público quanto ao concurso para ingresso na magistratura. Inclusive, como você irá perceber, essas duas carreiras recebem tratamento semelhante em diversas questões, e não apenas em relação à “quarentena de entrada”. ESTRUTURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA CF/88 Quando estudamos o Poder Judiciário, vimos que, apesar do seu caráter unitário, ele é estruturado em diversas Justiças, havendo na Constituição Federal a previsão da Justiça Estadual, da Justiça Federal, da Justiça do Trabalho etc. Em relação ao Ministério Público, também se verifica a existência de uma estrutura organizacional com diferentes órgãos, inclusive órgãos “comuns” (que atuam na “justiça comum”) e órgãos “especializados” (que atuam na “justiça especializada”). Como então está organizado o Ministério Público na CF/88? Isso é tratado no art. 128 da Constituição Federal, que prevê o Ministério Público da União (MPU) e o Ministério Público dos Estados. O MPU, por sua vez, compreende o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público Militar (MPM) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Veja: P ág in a1 0 “Art. 128. O Ministério Público abrange: I - o Ministério Público da União, que compreende: a) o Ministério Público Federal; b) o Ministério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II - os Ministérios Públicos dos Estados.” Algumas observações devem ser feitas de imediato. Primeiramente, note que o Ministério Público Militar é uma carreira do Ministério Público na esfera federal e tem atuação apenas perante a Justiça Militar Federal, não atuando perante a Justiça Militar Estadual (na qual é o Ministério Público Estadual que exerce suas atribuições). Além disso, não obstante o semelhante tratamento jurídico-constitucional existente entre os Estados e o Distrito Federal, o Ministério Público do Distrito Federal (e Territórios) foi afastado da esfera estadual e inserido no MPU, o que se deve ao fato de ser organizado e mantido pela União, nos termos do art. 21, XIII, da CF/88. “Art. 21. Compete à União: (...) XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios;” Ministério Público Eleitoral Como você já deve ter notado, ao tratar, acima, da estrutura do Ministério Público na Constituição Federal, não fiz menção ao Ministério Público Eleitoral. E o motivo é muito simples: não há referência, na CF/88, ao Ministério Público Eleitoral. P ág in a1 1 Na verdade, o que ocorre é que o Ministério Público Eleitoral não possui estrutura própria, tendo uma formação mista: é composto, em parte, por membros do MPF e, em parte, por membros do Ministério Público Estadual. A tabela abaixo ilustra isso de forma esquematizada: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (ARTS. 73 A 79, LC 75/93) ÓRGÃO ORIGEM GRAU DE JURISDIÇÃO EM QUE ATUA − Procurador-Geral Eleitoral (é o Procurador-Geralda República) − Vice-Procurador-Geral Eleitoral (é um dos Subprocuradores- Gerais da República) − O PGR pode ser escolhido dentre membros de qualquer das carreiras do MPU, mas, na prática, tem sempre sido escolhido entre membros do Ministério Público Federal. − Ministério Público Federal − Tribunal Superior Eleitoral − Procuradores Regionais Eleitorais (são designados pelo Procurador-Geral Eleitoral dentre Procuradores Regionais da República) − Ministério Público Federal − Tribunais Regionais Eleitorais − Juízes auxiliares designados pelos TREs para apreciação de reclamações e representações que lhes sejam dirigidas (art. 96, § 3º, da Lei 9.504/97) − Promotores eleitorais − Ministério Público Estadual − Juízes Eleitorais − Juntas Eleitorais P ág in a1 2 “Art. 73. O Procurador-Geral Eleitoral é o Procurador- Geral da República. Parágrafo único. O Procurador-Geral Eleitoral designará, dentre os Subprocuradores-Gerais da República, o Vice-Procurador-Geral Eleitoral, que o substituirá em seus impedimentos e exercerá o cargo em caso de vacância, até o provimento definitivo. Art. 74. Compete ao Procurador-Geral Eleitoral exercer as funções do Ministério Público nas causas de competência do Tribunal Superior Eleitoral. Parágrafo único. Além do Vice-Procurador-Geral Eleitoral, o Procurador-Geral poderá designar, por necessidade de serviço, membros do Ministério Público Federal para oficiarem, com sua aprovação, perante o Tribunal Superior Eleitoral. Art. 75. Incumbe ao Procurador-Geral Eleitoral: I - designar o Procurador Regional Eleitoral em cada Estado e no Distrito Federal; II - acompanhar os procedimentos do Corregedor-Geral Eleitoral; III - dirimir conflitos de atribuições; IV - requisitar servidores da União e de suas autarquias, quando o exigir a necessidade do serviço, sem prejuízo dos direitos e vantagens inerentes ao exercício de seus cargos ou empregos. Art. 76. O Procurador Regional Eleitoral, juntamente com o seu substituto, será designado pelo Procurador- P ág in a1 3 Geral Eleitoral, dentre os Procuradores Regionais da República no Estado e no Distrito Federal, ou, onde não houver, dentre os Procuradores da República vitalícios, para um mandato de dois anos. § 1º O Procurador Regional Eleitoral poderá ser reconduzido uma vez. § 2º O Procurador Regional Eleitoral poderá ser destituído, antes do término do mandato, por iniciativa do Procurador-Geral Eleitoral, anuindo a maioria absoluta do Conselho Superior do Ministério Público Federal. Art. 77. Compete ao Procurador Regional Eleitoral exercer as funções do Ministério Público nas causas de competência do Tribunal Regional Eleitoral respectivo, além de dirigir, no Estado, as atividades do setor. Parágrafo único. O Procurador-Geral Eleitoral poderá designar, por necessidade de serviço, outros membros do Ministério Público Federal para oficiar, sob a coordenação do Procurador Regional, perante os Tribunais Regionais Eleitorais. Art. 78. As funções eleitorais do Ministério Público Federal perante os Juízes e Juntas Eleitorais serão exercidas pelo Promotor Eleitoral. Art. 79. O Promotor Eleitoral será o membro do Ministério Público local que oficie junto ao Juízo incumbido do serviço eleitoral de cada Zona. Parágrafo único. Na inexistência de Promotor que oficie perante a Zona Eleitoral, ou havendo impedimento ou P ág in a1 4 recusa justificada, o Chefe do Ministério Público local indicará ao Procurador Regional Eleitoral o substituto a ser designado.” Não estando o Ministério Público Eleitoral previsto na CF/88 e sendo ele composto por membros do MPF e do Ministério Público Estadual, fica a pergunta: a função eleitoral do MP é de natureza federal ou estadual? De uma leitura da LC 75/93, resta evidente a natureza federal do MP Eleitoral, pois esse diploma legal prevê que: I) O Ministério Público Federal exercerá suas funções nas causas de competência dos Tribunais e Juízes Eleitorais (art. 37, I, LC 75/93); II) Cabe ao Ministério Público Federal o exercício das funções do Ministério Público perante a Justiça Eleitoral, atuando em todas as fases e instâncias do processo eleitoral (art. 72, LC 75/93); III) O Promotor Eleitoral, nos termos do art. 79 da LC 75/93, será o membro do Ministério Público local que naturalmente atue perante o juízo incumbido do serviço eleitoral, mas que, na falta dele, haverá indicação, pelo Chefe do MP local, de um substituto a ser designado pelo Procurador Regional Eleitoral (que, como vimos, é integrante do MPF), de modo que fica claro que, quando o Promotor de Justiça atua como órgão eleitoral, faz isso na qualidade de Ministério Público Federal. “Art. 37. O Ministério Público Federal exercerá as suas funções: I - nas causas de competência do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e dos Juízes Federais, e dos Tribunais e Juízes Eleitorais; (...)” “Art. 72. Compete ao Ministério Público Federal exercer, no que couber, junto à Justiça Eleitoral, as funções do P ág in a1 5 Ministério Público, atuando em todas as fases e instâncias do processo eleitoral.” “Art. 79. O Promotor Eleitoral será o membro do Ministério Público local que oficie junto ao Juízo incumbido do serviço eleitoral de cada Zona. Parágrafo único. Na inexistência de Promotor que oficie perante a Zona Eleitoral, ou havendo impedimento ou recusa justificada, o Chefe do Ministério Público local indicará ao Procurador Regional Eleitoral o substituto a ser designado.” Procurador-Geral da República Quem é e o que faz o Procurador-Geral da República? O Procurador-Geral da República (PGR) é o chefe do Ministério Público da União, além de ser, também, o chefe do MPF, como prevê o art. 45 da LC 75/93. A sua escolha é feita pelo Presidente da República, dentre membros do MPU maiores de 35 (trinta e cinco) anos, condicionada à aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, tendo mandato de 02 (dois) anos e sendo possível sua recondução ao cargo de forma ilimitada (evidentemente, a cada recondução, é necessário haver nova aprovação do Senado). É o que consta do art. 128, § 1º, da CF/88: “Art. 128, § 1º, CF/88 O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos P ág in a1 6 membros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução.” Você certamente já ouviu falar em uma certa “lista tríplice” apresentada ao Presidente da República para a escolha do PGR dentre os nomes nela indicados. Essa lista, no entanto, não está prevista na CF/88, sendo uma criação costumeira da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Esse costume teve início no ano 2001, mas, por não estar prevista no ordenamento jurídico, nunca vinculou a escolha do Presidente da República. É curioso notar que, apesar de o PGR ser o chefe do Ministério Público da União, a lista tríplice promovida pela ANPR vem contemplando apenas Procuradores da República (que são integrantes do Ministério Público Federal apenas), excluindo, portanto, os membros das demais carreiras do MPU, que criticam essa medida excludente. O PGR, uma vez investido no cargo, pode ser destituído pelo próprio Presidente da República, mas não de forma livre. Para isso, é necessário que haja prévia autorização da maioria absoluta do Senado Federal, conforme prevê o art. 128, § 2º, da CF/88. Aqui há uma diferença em relação ao regime constitucional anterior à CF/88: antes, tanto a nomeação quanto a exoneração do PGR pelo Presidente da Repúblicaeram livres, mas, a partir da CF/88, que trouxe um cenário de maior desvinculação do Ministério Público em relação aos Poderes da República, tanto a nomeação quanto a destituição do PGR dependem de aprovação da maioria absoluta do Senado Federal. “Art. 128, § 2º, CF/88 A destituição do Procurador-Geral da República, por iniciativa do Presidente da República, deverá ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal.” P ág in a1 7 Procurador-Geral de Justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios O Procurador-Geral de Justiça (PGJ) é o chefe do Ministério Público Estadual (e também do Distrito Federal e Territórios). Assim, em cada Estado e no Distrito Federal haverá um Procurador-Geral de Justiça chefiando o respectivo MP. O procedimento de escolha do PGJ é diferente do que a CF/88 prevê em relação ao PGR. Nos Estados e no DF, há a formação de uma lista tríplice composta de nomes escolhidos dentre integrantes da carreira, na forma prevista na respectiva lei local do MP. Uma vez formada a lista tríplice, a escolha do PGJ será feita pelo Chefe do Executivo (Governador para os Estados e Presidente da República para o Distrito Federal e Territórios, já que, nos termos dos arts. 21, XIII, e 22, XVII, da CF/88, é a União que organiza e mantém o MPDFT). O PGJ tem mandato de 02 (dois) anos, sendo permitida a sua recondução, mas, diferentemente do que ocorre em relação ao PGR (que pode ser reconduzido ilimitadamente), a recondução do PGJ só pode ocorrer uma única vez. Tudo isso está previsto no art. 128, § 3º, da CF/88: “Art. 128, § 3º, CF/88 Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida uma recondução.” Em relação à definição dos critérios para a formação da lista tríplice prévia à escolha do Procurador-Geral de Justiça, tendo em vista que o Ministério Público possui a prerrogativa da iniciativa das proposições legislativas acerca de sua organização, os P ág in a1 8 mencionados critérios apenas podem ser definidos em lei complementar decorrente de proposta apresentada pelo próprio Ministério Público (art. 128, §§ 3º e 5º, CF/88), não podendo, nem mesmo, ser disciplinados em Emenda à Constituição Estadual. Isso porque o Ministério Público não possui legitimidade para iniciar o processo de aprovação de Emenda Constitucional, de modo que permitir o tratamento da matéria por meio de tal espécie normativa equivaleria a suprimir sua prerrogativa para, autonomamente, apresentar a proposição legislativa sobre o tema. Nesse sentido, já se manifestou o Supremo Tribunal Federal na ADI 5171, julgada em 30/08/2019. Veja: “(...) 1. O Ministério Público é o titular da iniciativa de projeto de lei que organiza, institui atribuições e estabelece a estrutura da carreira, dispondo também sobre a forma de eleição, de composição da lista tríplice e de escolha do Procurador-Geral de Justiça, na forma do artigo 128, §§ 3º e 5º, da Constituição Federal, observados os limites traçados pelo texto constitucional e pela legislação orgânica nacional (Lei 8.625/1993). 2. A Emenda Constitucional 48/2014 à Constituição do Estado do Amapá revela-se formalmente inconstitucional: (i) por tratar de matéria relativa à alteração do estatuto jurídico da carreira do Ministério Público Estadual, porquanto o Poder Legislativo não ostenta essa competência, violando diretamente o artigo 128, §§ 3º e 5º, do texto constitucional; e (ii) ao consagrar a iniciativa eivada de incompetência, a Constituição Estadual viola a Constituição Federal, que reclama lei complementar de iniciativa do Procurador-Geral para disciplinar o tema. 3. A lei orgânica do Ministério Público é a via legislativa apta a definir os membros da carreira elegíveis para o cargo de Procurador-Geral de Justiça. 4. Consectariamente, a emenda constitucional de P ág in a1 9 iniciativa parlamentar, ao dispor sobre a data para a realização da eleição, para a formação de lista tríplice para o cargo de Procurador-Geral de Justiça, viola as disposições do artigo 128, § 3º e 5º, da Constituição Federal, que exige lei complementar estadual de iniciativa daquela autoridade. (...)” (ADI 5171/AP; Relator(a): Min. LUIZ FUX; Julgamento: 30/08/2019; Órgão Julgador: Tribunal Pleno) Há a necessidade de aprovação da escolha do PGJ pelo Poder Legislativo, tal qual ocorre com o PGR? NÃO, pois a CF/88, no seu art. 128, § 3º, traz como única exigência a formação de lista tríplice de acordo com a lei respectiva para escolha de um dos nomes pelo Chefe do Executivo. Inclusive, assim já decidiu o Supremo Tribunal Federal. Nas palavras da Corte, “a Constituição Federal de 1988 não prevê a participação do Poder Legislativo estadual no processo de escolha do chefe do Ministério Público, de modo que não podem a Constituição Estadual e a legislação infraconstitucional exigir tal participação parlamentar. Salvo em tema de destituição do Procurador-Geral de Justiça, porque, agora sim, a Magna Carta condiciona tal desinvestidura forçada à aprovação do Poder Legislativo, pela maioria absoluta dos respectivos membros. Violação ao princípio da separação dos Poderes” (ADI 3727/RN; Relator(a): Min. AYRES BRITTO; Julgamento: 12/05/2010; Órgão Julgador: Tribunal Pleno). E esse entendimento foi reiterado pelo STF no julgamento (em 21/12/2020) da medida cautelar requerida na ADI 6608, oportunidade em que a Corte afirmou a “inconstitucionalidade de normas que sujeitam a escolha do Chefe do Ministério Público estadual à aprovação das Assembleias Legislativas”. E a destituição do PGJ? Ela é possível? Sim, mas também aqui há diferença em relação ao PGR. Nos termos do art. 128, § 4º, da CF/88, o PGJ pode ser destituído, mas o ato de destituição não será do Chefe do Executivo, e sim da própria Assembleia Legislativa P ág in a2 0 local, mediante deliberação da maioria absoluta de seus membros, na forma prevista na lei orgânica do respectivo MP. Conforme vimos acima, em relação ao PGR, a destituição é ato do próprio Presidente da República, mas depende de prévia autorização da maioria absoluta do Senado Federal. “Art. 128, § 4º, CF/88 Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva.” Aqui, é necessário ter CUIDADO com um detalhe: o art. 128, § 4º, da CF/88 prevê que a destituição do PGJ se dará por ato do Poder Legislativo respectivo. Em relação ao MP Estadual, não há dúvida alguma de que esse ato é da Assembleia Legislativa local. Porém, em relação ao MPDFT, esse ato é do Senado Federal, e não da Câmara Legislativa do DF, conforme prevê a LC 75/93, em seu art. 156, § 2º (transcrito no quadro abaixo), norma essa que decorre naturalmente da vinculação constitucional do MPDFT à União. “Art. 155. O Procurador-Geral de Justiça é o Chefe do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Art. 156. O Procurador-Geral de Justiça será nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes de lista tríplice elaborada pelo Colégio de Procuradores e Promotores de Justiça, para mandato de dois anos, permitida uma recondução, precedida de nova lista tríplice. § 1º Concorrerão à lista tríplice os membros do Ministério Público do Distrito Federal com mais de cinco anos de exercício nas funções da carreira e que não tenham sofrido, nos últimos quatro anos, qualquer P ág in a2 1 condenação definitiva ou não estejam respondendo a processo penal ou administrativo. § 2º O Procurador-Geral poderá ser destituído, antesdo término do mandato, por deliberação da maioria absoluta do Senado Federal, mediante representação do Presidente da República.” Houve ainda outra questão decidida pelo Supremo Tribunal Federal acerca do mandato do Procurador-Geral de Justiça: se houver vacância antes do término do biênio do mandato, o novo PGJ irá tão somente concluir o período já iniciado (exercendo um “mandato tampão”) ou irá cumprir um novo período completo de 02 (dois) anos? Segundo o STF, como o art. 128, § 3º, da CF/88 fixa em 02 (dois) anos o mandato do PGJ, é inconstitucional norma que estabeleça que, em caso de vacância do cargo, o novo Procurador-Geral de Justiça se limita a concluir o período anteriormente iniciado (ADI 1783, j. 11/10/2001). Procurador-Geral do Trabalho, Procurador-Geral da Justiça Militar e Procurador-Geral Eleitoral Para facilitar e tendo em vista o que há de relevante a tratar sobre esses cargos, abordo o tema no quadro esquematizado abaixo: ATRIBUIÇÕES QUEM É ESCOLHA PROCURADOR- GERAL DO TRABALHO É o Chefe do Ministério Público do Trabalho (art. 87, LC 75/93). É um integrante do MPT com mais de 35 (trinta e cinco) anos de idade e mais de 05 (cinco) É escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre indicados em lista tríplice P ág in a2 2 anos de carreira. Acaso não haja número suficiente de membros com o tempo de carreira exigido, poderá concorrer à lista quem contar com mais de 02 (dois) anos de “casa” (art. 88, LC 75/93). elaborada por voto plurinominal, facultativo e secreto do Colégio de Procuradores do Trabalho, para mandato de 02 (dois) anos, admitida uma única recondução, hipótese em que o procedimento de escolha deve ser novamente observado. É possível que o PGT seja exonerado (pelo PGR) antes do término do seu mandato, mediante proposta do Conselho Superior do MPT resultante de deliberação de dois terços de seus membros através de voto secreto (art. 88, LC 75/93). P ág in a2 3 PROCURADOR- GERAL DA JUSTIÇA MILITAR É o Chefe do Ministério Público Militar (art. 120, LC 75/93). ATENÇÃO! A LC 75/93 rotulou o cargo como Procurador-Geral da Justiça Militar, apesar de o órgão que ele comanda ser o Ministério Público Militar (sem “Justiça”). É um integrante do MPM com mais de 35 (trinta e cinco) anos de idade e mais de 05 (cinco) anos de carreira. Acaso não haja número suficiente de membros com o tempo de carreira exigido, poderá concorrer à lista quem contar com mais de 02 (dois) anos de “casa” (art. 121, LC 75/93). É escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre indicados em lista tríplice elaborada por voto plurinominal, facultativo e secreto do Colégio de Procuradores da Justiça Militar, para mandato de 02 (dois) anos, admitida uma única recondução, hipótese em que o procedimento de escolha deve ser novamente observado. É possível que o PGJM seja exonerado (pelo PGR) antes do término do seu mandato, mediante proposta do Conselho Superior do MPM resultante de deliberação de dois P ág in a2 4 terços de seus membros através de voto secreto (art. 121, LC 75/93). PROCURADOR- GERAL ELEITORAL É o integrante do Ministério Público que exerce as atribuições do MP nas causas de competência do TSE (art. 74, LC 75/93). Necessariamente, o Procurador-Geral da República será o Procurador-Geral Eleitoral (art. 73, LC 75/93). Conforme vimos, necessariamente, o Procurador-Geral da República será o Procurador-Geral Eleitoral (art. 73, LC 75/93). Conflito de atribuições entre órgãos do Ministério Público Houve um caso que gerou bastante repercussão ao ser decidido pelo Supremo Tribunal Federal, envolvendo um conflito negativo de atribuições entre um Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal em que se discutia qual desses órgãos teria a atribuição para apurar uma determinada infração penal (um afirmando caber ao outro a apuração). Até então, havia o entendimento (STF, ACO 889, PET 3528, ACO 853, PET 3631) de que essa questão deveria ser decidida pelo Supremo Tribunal Federal, haja vista consubstanciar um conflito entre diferentes entes da Federação (a União de um lado e um Estado de outro). E esse posicionamento se fundamentava no art. 102, I, “f”, da CF/88: “Art. 102, CF/88. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: P ág in a2 5 I - processar e julgar, originariamente: (...) f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;” Posteriormente, ao ser provocado a decidir o conflito de atribuições suscitado no bojo da ACO 1.567, o STF, julgando questão de ordem, modificou o seu entendimento (e é por isso que esse tema ganhou maior importância, inclusive, em provas de direito constitucional) e fixou a tese de que cabe ao Procurador-Geral da República apreciar conflitos de atribuição entre órgãos do Ministério Público. Essa decisão foi alvo de fortes críticas no sentido de sua inconstitucionalidade, porque, além de não haver feito distinção alguma entre Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal, afrontou a autonomia dos MPs dos Estados, colocando-os em situação de subordinação institucional ao PGR, que, conforme vimos, é chefe do Ministério Público da União e não dos Estados. Então, posteriormente, na ACO 843 (julgada em 08/06/2020), o Supremo Tribunal Federal, considerando as críticas no sentido de que os Ministérios Públicos Estaduais não se encontram submetidos ao Ministério Público da União (nem tampouco, portanto, ao Procurador-Geral da República), modificou novamente o seu entendimento e decidiu que a competência para apreciar os conflitos de atribuições entre Ministérios Públicos de diferentes entidades federativas é do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o que faz sentido, já que o CNMP é órgão incumbido do controle administrativo do Ministério Público e o conflito de atribuições tem caráter administrativo. P ág in a2 6 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO Quando os concursos apresentam questões sobre o Ministério Público, é comum aparecer o tema dos princípios institucionais, principalmente, em provas de primeira fase. Os princípios institucionais do Ministério Público estão previstos no art. 127, § 1º, da CF/88 e são os seguintes: unidade, indivisibilidade e independência funcional. “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. § 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. (...)” Unidade Significa que o Ministério Público é uma instituição única. Em outras palavras: o fato de o MP apresentar divisões internas não faz com que haja diferentes Ministérios Públicos dentro do Ministério Público. Assim, por exemplo, se no Ministério Público do Estado de São Paulo houver uma Promotoria da Infância, uma Promotoria da Família, uma Promotoria de Crimes Cibernéticos etc., isso não irá significar a existência de um Ministério Público de São Paulo para cada Promotoria. E corrobora isso o fato de que em cada carreira do Ministério Público há um só chefe, ao qual toda a estrutura do órgão está submetida: o Procurador-Geral de Justiça P ág in a2 7 é o Chefe do Ministério Público Estadual, o Procurador-Geral do Trabalho é o Chefe do MPT, o Procurador-Geral da República é o Chefe do MPU etc. Inclusive,a partir do que foi dito acima, é possível perceber que a unidade se refere a cada órgão, não sendo possível falar em unidade entre MPU e os Ministérios Públicos Estaduais nem tampouco entre as carreiras integrantes do MPU (possuindo cada uma delas chefia própria). E esses aspectos foram abordados pelo STF no julgamento da ADPF 482, na qual o que se debateu foi o seguinte: é constitucional a permuta entre membros de diferentes Ministérios Públicos? No caso, o ato impugnado foi um acórdão do CNMP que permitiu a remoção, por permuta nacional, entre membros dos Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. E o Supremo Tribunal Federal acolheu a ADPF, decidindo ser inconstitucional o ato em questão, por ofender a regra do concurso público (art. 37, II, CF/88) e o princípio da unidade do Ministério Público. No que diz respeito ao princípio da unidade do MP, o STF esclareceu, conforme explicamos acima, que esse princípio significa que os membros do Ministério Público integram um só órgão sob a direção única de um só Procurador-Geral. Em outras palavras, para cada Procurador-Geral, existe um único Ministério Público sob seu comando e Ministérios Públicos sob diferentes chefias não se misturam. Logo, não há unidade entre diferentes carreiras do Ministério Público. Já em relação ao desrespeito à exigência constitucional de concurso público (o que, aliás, é uma decorrência lógica da constatação de que o princípio da unidade se verifica isoladamente para cada carreira do Ministério Público submetida a uma chefia própria), a Suprema Corte registrou que a permuta nacional entre membros de diferentes Ministérios Públicos equivale à transferência, que é a forma de provimento que permite ao servidor investir-se em cargo pertencente a carreira diversa daquela para a qual obteve aprovação em concurso público, o que burla a regra do concurso público, conforme, inclusive, consta da Súmula Vinculante nº 43, segundo a qual, “é inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, P ág in a2 8 sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.” Portanto, segundo o STF, é inconstitucional a permuta nacional entre membros de diferentes Ministérios Públicos. Confira a ementa desse julgado: “(...) INEXISTÊNCIA DE UMA ÚNICA CARREIRA COMUM A TODOS OS MINISTÉRIOS PÚBLICOS ESTADUAIS E AO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO. INCONSTITUCIONALIDADE DA REMOÇÃO, POR PERMUTA NACIONAL, ENTRE MEMBROS DE MINISTÉRIOS PÚBLICOS DIVERSOS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONCURSO PÚBLICO. SÚMULA VINCULANTE 43 DO STF. (...) 1. O Ministério Público da União e os Ministérios Públicos dos Estados são disciplinados por leis complementares próprias, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores- Gerais, as quais estabelecem a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público (art. 128, § 5º, da CF). 2. Por força do princípio da unidade do Ministério Público (art. 127, § 1º, da CF), os membros do Ministério Público integram um só órgão sob a direção única de um só Procurador-Geral. Só existe unidade dentro de cada Ministério Público, não havendo unidade entre o Ministério Público de um Estado e o de outro, nem entre esses e os diversos ramos do Ministério Público da União. 3. A remoção, por permuta nacional, entre membros do Ministério Público dos Estados e entre esses e membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, admitida na decisão impugnada, equivale à transferência, ou seja, forma de ingresso em carreira P ág in a2 9 diversa daquela para a qual o servidor público ingressou por concurso, vedada pelo art. 37, II, da Constituição Federal e pela Súmula Vinculante 43, segundo a qual “é inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido”. (...)” (ADPF 482/DF; Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES; Julgamento: 03/03/2020; Órgão Julgador: Tribunal Pleno) O princípio da unidade do Ministério Público e a obrigação de compartilhamento intrainstitucional de dados de investigações Houve no âmbito do Ministério Público Federal um debate sobre a obrigatoriedade de compartilhamento intrainstitucional de dados colhidos em investigações e esse debate chegou ao Supremo Tribunal Federal na Reclamação nº 42.050. No caso, o Procurador-Geral da República quis ter acesso à base de dados da chamada Operação Lava Jato nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, mas encontrou resistência dos Procuradores da República que atuavam nos casos, que recusaram o compartilhamento das informações. Em virtude disso, a Procuradoria Geral da República apresentou, ao Supremo Tribunal Federal, uma reclamação constitucional (Rcl 42.050), alegando que essa recusa de compartilhamento de dados ofenderia a decisão tomada pela Suprema Corte da ADPF 482 (analisada acima), na qual foi reconhecida a inconstitucionalidade da permuta nacional entre membros de diferentes carreiras do Ministério Público. P ág in a3 0 Essa reclamação foi distribuída por prevenção a Ministro Edson Fachin, mas como estava em curso o período de recesso do Poder Judiciário, o Presidente do STF, Ministro Dias Toffoli, concedeu tutela liminar, determinando o fornecimento dos dados pretendidos pela Procuradoria Geral da República. Ocorre que, ao retornar do recesso, o Min. Relator Edson Fachin inadmitiu a reclamação e a extinguiu sem resolução do mérito, por vislumbrar a ausência do pressuposto da estrita aderência. Como assim? É que o Supremo Tribunal Federal possui jurisprudência consolidada no sentido de que, para se admitir uma reclamação com vistas à observância da autoridade de uma decisão do Tribunal, é necessário que o ato impugnado se enquadre precisamente no paradigma invocado para o controle desse ato. Isso é o que se chama de estrita aderência, que, se não estiver presente, inviabilizará o conhecimento da reclamação. No caso, a Procuradoria Geral da República alegou, dentre outras coisas, que a decisão tomada na ADPF 482, ao considerar inconstitucional a permuta nacional entre membros de diferentes carreiras do Ministério Público, utilizou como fundamento o princípio da unidade do Ministério Público e que esse princípio asseguraria, também, o compartilhamento intrainstitucional de informações pretendido pelo Procurador-Geral da República. O Min. Fachin, por sua vez, ao analisar o caso, esclareceu não haver, na situação, uma estrita aderência entre o ato de recusa de fornecimento de informações pelos Procuradores da República responsáveis pelas investigações da Operação Lava Jato nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná e a decisão tomada pelo STF na ADPF 482. Isso porque a ADPF 482 tratou da remoção por permuta nacional entre membros de diferentes carreiras do Ministério Público, e não de compartilhamento de informações dentro da instituição por seus membros. Ademais, segundo o Ministro Fachin, na ADPF 482, o Supremo Tribunal Federal utilizou o princípio da unidade do Ministério Público tão somente como um dos fundamentos de decidir, não tendo ele P ág in a3 1 constado do dispositivo da decisão, que é a parte da decisão que produz a eficácia vinculante e erga omnes, já que o STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes. Ademais, na ADPF 482, a Suprema Corte não definiu o conteúdo nem tampouco o alcance do princípio da unidade do Ministério Público, que não foi o objeto da ação. Por tais motivos, não se poderia, segundo Min. Fachin, vislumbrar a estrita aderência entre o ato atacado na reclamação e a decisão tomada na ADPF 482, quefoi invocada como paradigma para a impugnação desse ato. A consequência disso foi a extinção da reclamação constitucional sem resolução do mérito. Como isso pode aparecer nas provas? Duas possibilidades surgem: I) O examinador pode perguntar se é possível exigir, em sede de reclamação constitucional, o compartilhamento intrainstitucional de dados no Ministério Público. Nesse caso, a resposta será negativa, já que não existe um precedente com eficácia erga omnes e vinculante que trate da matéria, conforme vimos acima. II) O examinador pode questionar se é possível afirmar que, segundo o STF, o princípio da unidade do Ministério Público obriga os membros da instituição a compartilhar dados de investigações com o Procurador-Geral. Nesse caso, a resposta também deve ser negativa, já que, como bem esclareceu o Min. Edson Fachin na Rcl 42.050, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADPF 482, não definiu o teor e o alcance do princípio da unidade do Ministério Público, de modo que não afirmou, em momento algum, que esse princípio determina o compartilhamento de dados em questão. Indivisibilidade P ág in a3 2 O princípio da indivisibilidade é uma decorrência lógica do princípio da unidade. Segundo a indivisibilidade, é possível que um membro do MP substitua outro e exerça as funções deste, sem que haja alguma repercussão prática. Isso ocorre porque a prática dos atos de um Promotor ou de um Procurador é atribuída à instituição Ministério Público, e não à pessoa do seu membro. Independência funcional De forma bem simples, a independência funcional é a autonomia de convicção que os integrantes do Ministério Público possuem. Assim, os Promotores e Procuradores do MP, no exercício de suas funções, não se submetem a nenhum poder hierárquico, podendo atuar (ou deixar de atuar) da maneira que melhor entenderem. A hierarquia existente no âmbito do Ministério Público se limita às questões de caráter administrativo, sendo ela exercida pelo Chefe da Instituição, mas nunca alcança as questões do exercício das atribuições dos membros da carreira. Nesse contexto, é importante ter em mente que, conforme decidiu o STF na ADI 5505, julgada em 15/04/2020, o princípio da independência funcional não afasta a necessidade de que os membros do Ministério Público atuem de acordo com os limites e com a distribuição de atribuições estabelecidos em lei. Essa ação teve como objeto a Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, e, nas palavras da Corte, “a independência funcional do órgão do Ministério Público é exercida dentro das atribuições fixadas na lei, mercê de a atuação do Parquet se dar, institucionalmente, de forma organizada e hierarquizada, uma vez que seus agentes exercem as respectivas funções sob determinadas regras e limites impostos pela estrutura interna do organismo. (...) Os princípios da independência funcional e do promotor natural não podem ser invocados, via de regra, para invalidar P ág in a3 3 a distribuição de atribuições efetuada pela lei, sob pena de desconsideração dos princípios institucionais da unidade e da indivisibilidade do Parquet. (...) In casu, o artigo 22, XLI e LV, da Lei Complementar 141/1996 do Estado do Rio Grande do Norte (Lei Orgânica do Ministério Público estadual), que atribui ao Procurador-Geral de Justiça a competência para interpor recursos ao Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça e neles oficiar, e o artigo 38, V, da referida Lei, que atribui aos Procuradores de Justiça a incumbência de encaminhar acórdãos, no prazo de vinte e quatro horas, ao Procurador-Geral de Justiça, com manifestação pela conveniência da interposição do recurso devido, não padecem de inconstitucionalidade formal ou material, uma vez que (i) não há incompatibilidade entre os dispositivos estaduais e as normas gerais delineadas na Lei federal 8.625/1993; (ii) o processo legislativo que originou a norma foi deflagrado pelo Procurador-Geral de Justiça; (iii) não se cogita de vulneração aos princípios do promotor natural e da independência funcional, eis que se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual, veiculada por meio de lei, a qual não possibilita a ingerência do Procurador-Geral de Justiça nas atividades dos Procuradores de Justiça, que conservam plena autonomia no exercício de seus misteres legais”. ATUAÇÃO AUTÔNOMA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL PERANTE O STF A questão aqui é a seguinte: considerando que o art. 46 da LC 75/93 prevê que “incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal, manifestando-se previamente em todos os processos de sua competência”, pode o Ministério Público Estadual atuar de forma autônoma (desvinculada do Procurador-Geral da República), ajuizando ações e apresentando recursos, perante o STF? Ou a atuação perante a Suprema Corte é uma exclusividade do PGR? P ág in a3 4 “Art. 46, LC 75/93. Incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal, manifestando-se previamente em todos os processos de sua competência. Parágrafo único. O Procurador-Geral da República proporá perante o Supremo Tribunal Federal: I - a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e o respectivo pedido de medida cautelar; II - a representação para intervenção federal nos Estados e no Distrito Federal, nas hipóteses do art. 34, VII, da Constituição Federal; III - as ações cíveis e penais cabíveis.” Em um primeiro momento, diante de uma reclamação constitucional apresentada por um MP Estadual em virtude do descumprimento da Súmula Vinculante nº 9 (Rcl 7.358), o STF reconheceu a legitimidade autônoma do órgão, até porque foi ele quem atuou nas 1ª e 2ª instâncias. Além disso, a Corte observou que o art. 46 da LC 75/93 de fato confere uma exclusividade de atuação perante o STF ao Procurador-Geral da República, mas esse dispositivo se encontra inserido em capítulo da lei que disciplina especificamente o Ministério Público Federal, sendo incabível, portanto, aplicar essa regra ao MP Estadual. Em oportunidade posterior (RE 593.727), o STF apreciou novamente esse tema e, de forma mais ampla e genérica, afirmou que o Procurador-Geral da República não possui ingerência sobre o MP Estadual, haja vista que, segundo a CF/88, a ele cabe chefiar o MPU tão somente. Assim, o Ministério Público de Estado-Membro não se encontra vinculado nem subordinado (seja no plano processual, administrativo ou institucional) ao PGR, o que lhe confere legitimidade ampla para postular, autonomamente, perante o STF, no bojo de recursos e processos (originários) em que seja ele (o MP Estadual) um dos sujeitos da relação processual (isto é, uma das partes P ág in a3 5 do processo). Nesse caso, o PGR funciona como “fiscal da ordem jurídica”, enquanto o MP Estadual atua com legitimidade autônoma, podendo praticar os atos próprios de parte (pois parte ele é), inclusive, realizar sustentação oral. Veja as ementas desses casos: “(...) 1. Inicialmente, entendo que o Ministério Público do Estado de São Paulo não possui legitimidade para propor originariamente Reclamação perante esta Corte, já que “incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 46 da Lei Complementar 75/93” (Rcl 4453 MC-AgR-AgR / SE, de minha relatoria, DJe 059, 26.03.2009). 2. Entretanto, a ilegitimidade ativa foi corrigida pelo Procurador-Geral da República, que ratificou a petição inicial e assumiu a iniciativa da demanda. 3. Entendimento original da relatora foi superado, por maioria de votos, para reconhecer a legitimidade ativa autônoma do MinistérioPúbico Estadual para propor reclamação. (...) (Rcl 7358/SP; Relator(a): Min. ELLEN GRACIE; Julgamento: 24/02/2011; Órgão Julgador: Tribunal Pleno) “(...) 3. Questão de ordem levantada pelo Procurador- Geral da República. Possibilidade de o Ministério Público de estado-membro promover sustentação oral no Supremo. O Procurador-Geral da República não dispõe de poder de ingerência na esfera orgânica do Parquet estadual, pois lhe incumbe, unicamente, por expressa definição constitucional (art. 128, § 1º), a Chefia do Ministério Público da União. O Ministério P ág in a3 6 Público de estado-membro não está vinculado, nem subordinado, no plano processual, administrativo e/ou institucional, à Chefia do Ministério Público da União, o que lhe confere ampla possibilidade de postular, autonomamente, perante o Supremo Tribunal Federal, em recursos e processos nos quais o próprio Ministério Público estadual seja um dos sujeitos da relação processual. Questão de ordem resolvida no sentido de assegurar ao Ministério Público estadual a prerrogativa de sustentar suas razões da tribuna. (...). (ACO 1567 QO/SP; Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI; Julgamento: 17/08/2016; Órgão Julgador: Tribunal Pleno) Por fim, é importante fazer uma observação: como vimos, o Ministério Público Estadual não se submete ao Procurador-Geral da República e possui legitimidade autônoma para postular perante o Supremo Tribunal Federal. Isso, porém, não significa que os “ramos” do Ministério Público da União também possuam essa autonomia de atuação perante a Suprema Corte, pois, conforme vimos, o MPU é chefiado pelo PGR. Nesse sentido, já decidiu o STF na Rcl 4.453-MC-AgRAgR e na Rcl 4.801-MC-AgR. Veja: “(...) 1. Incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 46 da Lei Complementar 75/93. (...) 3. O exercício das atribuições do Ministério Público do Trabalho se circunscreve aos órgãos da Justiça do Trabalho, consoante se infere dos arts. 83, 90, 107 e 110 da Lei Complementar 75/93. 4. Agravo regimental interposto pelo Ministério Público do Trabalho contra decisão proferida em reclamação ajuizada nesta Casa. 5. Processo que não está sujeito à P ág in a3 7 competência da Justiça do Trabalho, mas sim do próprio Supremo Tribunal Federal, motivo por que não pode o Ministério Público do Trabalho nele atuar, sob pena de usurpação de atribuição conferida privativamente ao Procurador-Geral da República. 6. Parecer da própria Procuradoria-Geral da República nesse sentido. (...)” (Rcl 4453 MC-AgR-AgR/SE; Relator(a): Min. ELLEN GRACIE; Julgamento: 04/03/2009; Órgão Julgador: Tribunal Pleno) PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL Você certamente já ouviu falar no princípio do promotor natural. Em relação a esse princípio, o que tem tido maior relevância nos últimos tempos é a discussão sobre se ele realmente existe (e se deve ser aplicado) e quais seriam as suas implicações. Mas antes de passarmos a essas questões, é necessário saber: o que significa o princípio do promotor natural? Nada mais é do que a aplicação do princípio do juiz natural ao âmbito do órgão de acusação. Assim, tal qual ao acusado é garantido o julgamento por um órgão independente e previamente existente e competente, a ele também se assegura, constitucionalmente, o direito de somente ser processado (acusado) por um órgão independente do Estado, ficando vedada a designação arbitrária de membros do Ministério Público para o exercício dessa atribuição (não se admite a figura do promotor ad hoc ou por encomenda). Após debates doutrinários iniciados antes mesmo da CF/88, o Supremo Tribunal Federal (HC 67.759) reconheceu que o texto constitucional consagra o princípio do promotor natural, o qual, segundo a Corte, representa uma proteção tanto ao próprio membro do Ministério Público (pois lhe assegura independência no exercício de suas funções) quanto à sociedade (que tem reconhecido o direito de ver atuando, sempre, o P ág in a3 8 Promotor incumbido do caso a partir de critérios abstratos e predeterminados estabelecidos em lei). Segundo o STF, a CF/88, ao trazer um fortalecimento institucional do Ministério Público, teve como objetivos, dentre outros, assegurar que ninguém sofra persecução penal arbitrária por membro do MP designado em caráter de exceção (isto é, ad hoc) e intensificar as prerrogativas de independência funcional e inamovibilidade dos integrantes da carreira, o que contribui para evitar o chamado “acusador de exceção”. Inclusive, na ADI 5505, julgada em 15/04/2020, o Supremo Tribunal Federal, mais uma vez, deixou claro o reconhecimento da existência desse princípio, afirmando que “o princípio do promotor natural significa tão somente a existência de órgão do Ministério Público escolhido por prévios critérios legais”. Como este tema se insere melhor nos programas de direito penal e processo penal, não irei mais a fundo nele e assim podemos seguir para o próximo tópico da aula. GARANTIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO As garantias do Ministério Público são as mesmas da Magistratura, podendo, inclusive ser divididas em garantias institucionais e garantias funcionais (isto é, dos seus membros). Assim, as garantias institucionais (previstas no art. 127, §§ 2º e 3º, da CF/88) são as autonomias funcional, administrativa e financeira, enquanto as garantias funcionais (previstas no art. 128, § 5º, I, da CF/88) são a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de subsídio. “Art. 127. (...) § 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a P ág in a3 9 criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento. § 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. § 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 3º. § 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do § 3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. § 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.” “Art. 128, § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as P ág in a4 0 atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: I - as seguintes garantias: a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado; b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa; c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I;” Considerando a semelhança de tratamento,nesse ponto, entre o Ministério Público e o Poder Judiciário, as mesmas considerações feitas em relação a essas garantias quando estudamos a Magistratura devem ser trazidas para esta aula, não havendo necessidade de repetir, aqui, todo aquele conteúdo. VEDAÇÕES IMPOSTAS AOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO Os impedimentos (vedações) que devem ser observados pelos integrantes das carreiras do Ministério Público se encontram previstos nos arts. 128, §§ 5º, II, e 6º e 129, IX, parte final, da CF/88: “Art. 128, § 5º, CF/88. Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos P ág in a4 1 Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: (...) II - as seguintes vedações: a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais; b) exercer a advocacia; c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; e) exercer atividade político-partidária; f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. § 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 95, parágrafo único, V.” “Art. 95, Parágrafo único, CF/88. Aos juízes é vedado: I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; III - dedicar-se à atividade político-partidária. IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.” P ág in a4 2 “Art. 129, CF/88. São funções institucionais do Ministério Público: (...) IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.” A leitura e memorização dessas disposições constitucionais é de extrema importância para provas (especialmente, para provas objetivas), sendo pertinente aprofundar algumas dessas vedações, conforme você verá abaixo. Membro do Ministério Público pode advogar? Como se pode notar da leitura dos dispositivos constitucionais transcritos acima, dentre os vários impedimentos (vedações) impostos aos membros do Ministério Público, foi inserida a impossibilidade de exercer atividade de advocacia, seja no âmbito privado, seja em favor de entidades públicas. Foi necessário que o constituinte de 1988 previsse de forma tão clara e ampla a vedação ao exercício da advocacia? Sim, porque antes da CF/88 era permitido aos membros do Ministério Público advogar, inclusive, cabendo ao MPF a representação judicial da União. Com a entrada em vigor da CF/88, o MP recebeu um novo perfil constitucional, ganhando autonomia em relação aos Poderes da República e ficando afastado da advocacia, seja ela pública ou privada (aqui ressalvo o art. 29, caput, do ADCT, que previu continuar a cargo do MPF a representação judicial da União até que fosse editada a lei disciplinando a AGU). Porém, houve a previsão, no ADCT de 1988, da possibilidade de quem já era integrante do Ministério Público antes da CF/88 optar por permanecer submetido ao regime constitucional anterior. Vamos ver o teor do art. 29 do ADCT. P ág in a4 3 “Art. 29, ADCT. Enquanto não aprovadas as leis complementares relativas ao Ministério Público e à Advocacia-Geral da União, o Ministério Público Federal, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, as Consultorias Jurídicas dos Ministérios, as Procuradorias e Departamentos Jurídicos de autarquias federais com representação própria e os membros das Procuradorias das Universidades fundacionais públicas continuarão a exercer suas atividades na área das respectivas atribuições. § 1º O Presidente da República, no prazo de cento e vinte dias, encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei complementar dispondo sobre a organização e o funcionamento da Advocacia-Geral da União. § 2º Aos atuais Procuradores da República, nos termos da lei complementar, será facultada a opção, de forma irretratável, entre as carreiras do Ministério Público Federal e da Advocacia-Geral da União. § 3º Poderá optar pelo regime anterior, no que respeita às garantias e vantagens, o membro do Ministério Público admitido antes da promulgação da Constituição, observando-se, quanto às vedações, a situação jurídica na data desta. § 4º Os atuais integrantes do quadro suplementar dos Ministérios Públicos do Trabalho e Militar que tenham adquirido estabilidade nessas funções passam a integrar o quadro da respectiva carreira. § 5º Cabe à atual Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, diretamente ou por delegação, que pode ser ao Ministério Público Estadual, representar judicialmente a União nas causas de natureza fiscal, na P ág in a4 4 área da respectiva competência, até a promulgação das leis complementares previstas neste artigo.” Considerando o disposto no § 3º do art. 29 do ADCT, para saber se um membro do Ministério Público pode advogar ou não, é necessário saber a qual regime de impedimentos ele estava submetido no momento da entrada em vigor da CF/88. Assim, em 05 de outubro de 1988, o cenário a respeito do exercício da advocacia pelos integrantes das carreiras do Ministério Público era o seguinte: a) Os membros do Ministério Público Estadual não podiam advogar (art. 24, § 2º, LC 40/81). b) Os membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios não podiam advogar (art. 60, LC 40/81, que previa a aplicação ao MPDFT das normas previstas nessa lei). c) Os membros das carreiras do MPU, à exceção do MPDFT, podiam advogar, exceto nas situações em que isso contrariasse os interesses da União ou da Fazenda Nacional (Lei 1.341/51, Lei 6.788/80 e Decreto 40.359/56). Em resumo, após a CF/88, os únicos membros do Ministério Público que permaneceram podendo advogar foram os integrantes das carreiras do MPU (exceto os do MPDFT) que optaram por continuar sujeitos ao regime jurídico anterior e que não tenham sofrido, após a entrada em vigor da Constituição de 1988, interrupção em sua inscrição nos quadros da OAB. Isso, inclusive, foi regulamentado pelo CNMP, através de sua Resolução nº 8/2006: “Art. 1º Somente poderão exercer a advocacia com respaldo no § 3º do art. 29 do ADCT da Constituição de 1988, os membros do Ministério Público da União que integravam a carreira na data da sua promulgação e que, desde então, permanecem regularmente inscritos P ág in a4 5 na Ordem dos Advogados do Brasil. (Redação dada pela Resolução n° 16, de 30 de janeiro de 2007) Parágrafo único. O exercício da advocacia, para os membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios está, incondicionalmente, vedado, desde a vigência do artigo 24, § 2º, da Lei Complementar nº 40/81. (Incluído pela Resolução n° 16, de 30 de janeiro de 2007) Art. 2º Além dos impedimentos e vedações previstos na legislação que regula o exercício da advocacia pelos membros do Ministério Público, estes não poderão fazê-lo nas causas em que, por força de lei ou em face do interesse público, esteja prevista a atuação do Ministério Público, por qualquer dos seus órgãos e ramos (Ministérios Públicos dos Estados e da União). Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.” Exercício de outroscargos públicos por membros do Ministério Público Conforme consta do art. 128, § 5º, II, “d”, da CF/88 (transcrito acima), é vedado ao integrante do Ministério Público “exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério”. Por conta dessa vedação, o STF, ao julgar a ADPF 388, entendeu que membros do MP não podem ocupar cargos fora do âmbito do próprio Ministério Público, exceto cargo/função no magistério (professor). Esse caso concreto apreciado pela Suprema Corte se referiu à nomeação de um P ág in a4 6 Procurador de Justiça para o cargo de Ministro da Justiça, de modo que, para ocupar o cargo no Ministério, ele teria de se exonerar do MP. Lembre, no entanto, que tal vedação, por força do art. 29 do ADCT, não alcança os integrantes do Ministério Público que já haviam ingressado na carreira antes da CF/88 e que optaram por permanecerem submetidos ao regime anterior. Veja a ementa da ADPF 338: “(...) Membros do Ministério Público. Vedação: art. 128, § 5º, II, “d”. (...) 6. Licença para exercício de cargo. A vedação ao exercício de outra função pública vige “ainda que em disponibilidade”. Ou seja, enquanto não rompido o vínculo com a Instituição, a vedação persiste. 7. Comparação com as vedações aplicáveis a juízes. Ao menos do ponto de vista das funções públicas, a extensão das vedações é idêntica. 8. Cargo versus função pública. O que é central ao regime de vedações dos membros do MP é o impedimento ao exercício de cargos fora do âmbito da Instituição, não de funções. (...) Ação julgada procedente em parte, para estabelecer a interpretação de que membros do Ministério Público não podem ocupar cargos públicos, fora do âmbito da Instituição, salvo cargo de professor e funções de magistério, e declarar a inconstitucionalidade da Resolução 72/2011, do CNMP. Outrossim, determinada a exoneração dos ocupantes de cargos em desconformidade com a interpretação fixada, no prazo de até vinte dias após a publicação da ata deste julgamento. (ADPF 388/DF; Relator(a): Min. GILMAR MENDES; Julgamento: 09/03/2016; Órgão Julgador: Tribunal Pleno) P ág in a4 7 É importante registrar que essa vedação imposta aos membros do MP se aplica, nos mesmos termos, aos magistrados, conforme prevê o art. 95, p. único, I, CF/88. E sobre ela surgiu o seguinte questionamento: ao estabelecer que o membro do Ministério Público (assim como o magistrado) apenas pode exercer, cumulativamente, uma função de magistério, a Constituição Federal quis dizer que ele apenas pode ocupar um único cargo ou emprego de professor? Segundo o STF, não. Isso foi decidido na ADI 3126 MC, que disse respeito aos magistrados, mas, como vimos aqui, também se aplica aos membros do Ministério Público. Nesse precedente, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o intuito da CF/88, ao estabelecer essa vedação, não foi restringir a possibilidade de cumulação a um único cargo ou emprego de professor, mas sim que o exercício do magistério deve ser compatível com o exercício do cargo no Ministério Público ou na magistratura para que possa haver a cumulação entre eles. Em outras palavras, é necessário que haja compatibilidade de horários entre o exercício da docência e o exercício do cargo no MP (ou na magistratura), mas a possibilidade de cumulação não fica necessariamente limitada a um único cargo ou emprego. E essa questão foi regulamentada nesses mesmos termos pela Resolução 73/2011 do CNMP (no âmbito do Ministério Público) e pela Resolução 226/2016 do CNJ (no âmbito da magistratura). Exercício de atividade político-partidária por membro do Ministério Público Outra vedação imposta a membros do Ministério Público que merece uma abordagem mais aprofundada diz respeito à impossibilidade de exercício de atividades P ág in a4 8 político-partidárias, prevista no art. 128, § 5º, II, “e”, da CF/88, também já transcrito acima. A atual redação dessa disposição constitucional foi dada pela EC 45/04. Antes dessa alteração no texto da Constituição, o art. 128, § 5º, II, “e”, ressalvava exceções legais, ou seja, permitia que o membro do Ministério Público, mesmo que tenha ingressado na carreira após a CF/88, exercesse atividade político-partidária nos casos (excepcionais) previstos pela legislação. Veio a EC 45/04 e suprimiu a possibilidade de haver qualquer exceção a essa vedação. Por conta dessa alteração trazida pela EC 45/04, surgiu o seguinte questionamento: considerando que foi suprimida a possibilidade de a lei excepcionar a vedação do art. 128, § 5º, “e”, da CF/88, os integrantes do MP que ingressaram na carreira antes da CF/88 e que optaram por se sujeitar ao regime anterior, podem exercer atividade político-partidária sem necessidade de deixarem definitivamente o cargo? Já houve decisão monocrática do TSE no sentido de que a vedação em questão (já com a alteração trazida pela EC 45/04) não se aplica aos membros do MP que exerceram a opção prevista no art. 29, § 3º, do ADCT. Além disso, o TSE (no RO 1.070) confirmou a candidatura de membro do MP/SP (Fernando Capez) integrante da carreira desde antes da CF/88 que se elegeu Deputado Estadual (essa questão chegou ao Supremo Tribunal Federal no RE 594.154, mas este foi julgado prejudicado, pois o mandato do Deputado foi concluído enquanto seu julgamento ainda se encontrava pendente). E houve um interessante caso em que o Supremo Tribunal Federal conseguiu se manifestar sem que o julgamento houvesse ficado prejudicado: o RE 597.994. Nesse precedente, a interessada era uma Promotora de Justiça que ingressou na carreira após a CF/88 (portanto, não contemplada pela possibilidade de escolha prevista no art. 29, § 3º, do ADCT) que se encontrava licenciada do Ministério Público e estava exercendo o mandato de Prefeita do Município de Santarém/PA, para o qual havia sido eleita no pleito eleitoral do ano 2004, portanto, antes da entrada em vigor da EC 45/04 (o que se deu em 31/12/2004). No ano 2008, ela registrou sua candidatura à reeleição para esse P ág in a4 9 mesmo cargo e o STF decidiu que ela poderia concorrer porque se tratava de reeleição, que é um direito previsto expressamente no art. 14, § 5º, da CF/88. Logo, como ela já se encontrava no exercício do mandato para o qual foi eleita antes de a EC 45/04 suprimir qualquer possibilidade de exceção à vedação do art. 128, § 5º, II, “e”, da CF/88 e o texto constitucional permitia a reeleição, a Suprema Corte admitiu sua recandidatura. O que se pode concluir desse julgado é que, para o Supremo Tribunal Federal, após a EC 45/04, não é permitido ao membro do Ministério Público que ingressou na carreira após a CF/88 iniciar atividade político-partidária que já não estivesse sendo regularmente desempenhada antes da alteração do art. 128, § 5º, II, “e”, da CF/88. Porém, é permitido que a atividade iniciada anteriormente continue sendo desempenhada mesmo após a EC 45/04. Resumindo, o que temos na jurisprudência sobre essa tormentosa questão é o seguinte: a) O TSE admitindo, ao apreciar casos concretos, o exercício de atividade político- partidária, mesmo após a EC 45/04, por membro do Ministério Público que ingressou na carreira antes da CF/88 e que optou por se submeter ao regime anterior, nos termos do art. 29, § 3º, do ADCT. b) O STF entendendo, em um caso concreto apreciado, que membro do Ministério Público que ingressou na carreira após a CF/88 (e que, até a EC 45/04, podia exercer atividade político-partidária, inclusive, candidatando-se a cargos eletivos, nos termos da lei) pode continuar exercendo a atividade político- partidária que já havia sido regularmente iniciada antes da entrada em vigor da EC 45/04, a qual, alterando o art. 128, § 5º, II, “e”, da CF/88, suprimiu qualquer possibilidade de exceção legal à vedação em questão (igualando,
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