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HisCulAfrBraAfrInd-I-CRC-U1

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1
EA
D
Arte Africana
1. OBjETIVOS
• Apontar os principais aspectos geográficos e históricos da 
África Negra.
• Reconhecer os aspectos gerais da arte negra africana.
• Identificar as principais características da arte de cada re-
gião da África Negra.
• Estabelecer relações entre geografia, história e arte da 
África Negra e do resto do mundo: Europa, Oriente próxi-
mo e Américas. 
• Interpretar e compreender as dimensões religiosa, histó-
rica e material da arte negra africana, aproximando-nos , 
dessa forma, da nossa própria arte e cultura.
2. CONTEÚDOS
• Introdução: a África vista pelos não africanos. 
• Continente Africano: a África Branca e a África Negra.
34 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
• Surgimento do homem na África e primeiras civilizações.
• Primeiras civilizações da África Negra.
• Reino de Cuxe. 
• Civilização de Nok. 
• Império do Gana.
• Império do Mali.
• Reino do Congo.
• Chegada dos europeus à África Negra.
• Escravidão. 
• Zonas Estilísticas da arte negra africana.
• Preceitos da arte de toda a África Negra. 
• Savana Sudanesa: povos Bambara, Dogon e Senufo.
• Camarões: povos Bamum e Duala.
• Selva Ocidental: povos Fang e Bakota.
• Congo: Bakongo, Bakuba, Baluba e Bapende.
• África do Leste, do Sul e Madagascar: Zimbábue.
• Golfo da Guiné: povo Ibo.
• Golfo da Guiné: povo Iorubá.
• Golfo da Guiné: povo Bini.
• Golfo da Guiné: povo Achanti.
• Golfo da Guiné: povo Fon.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
1) Tenha sempre a mão o significado dos conceitos expli-
citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema dos 
Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades 
deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu 
desempenho acadêmico.
2) Antes de iniciar os estudos desta unidade, é interessante 
conhecer um pouco da biografia de um pensador, cujas 
ideias também norteiam o estudo deste Caderno de Refe-
rência de Conteúdo. Para saber mais, acesse os sites indica-
dos ao término da unidade:
35
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
Pierre Fatumbi Verger (1902-1996)
Etnólogo e fotógrafo, nasceu em Paris e começou a viajar pelo mundo na déca-
da de 1930, estudando o continente africano e a Diáspora africana, ou seja, o 
comércio de escravos que levou africanos para outros continentes (em especial, 
as Américas) entre os séculos 15 e 19. Recebendo na África o nome de Fatumbi, 
o qual tinha um significado ligado à religião, Verger foi, também, babalaô (título 
concedido ao iniciado na religião Iorubá que exerce funções ligadas ao Ifá – jogo 
de búzios), o que o permitiu enorme acesso ao riquíssimo universo das tradições 
religiosas Iorubás, transmitidas por meio da oralidade. Verger fixou residência 
em Salvador no pós-Segunda Guerra e dali continuou suas pesquisas relativas à 
cultura e às religiões africanas e afro-brasileiras.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta unidade, vamos estudar os principais aspectos geo-
gráficos e históricos da África Negra, as características gerais da 
arte negra africana, bem como as características mais marcantes 
da arte de cada região da África Negra.
Além disso, estabeleceremos as relações entre geografia, 
história e arte da África Negra e o resto do mundo: Europa, Orien-
te próximo e Américas, e refletiremos sobre a dimensão religiosa, 
histórica e material da arte negra africana, aproximando-nos, as-
sim, da nossa própria arte e cultura.
Bons estudos!
5. ÁFRICA VISTA PELOS NÃO AFRICANOS
África... Africanos... Qual é sua primeira reação ao ler ou ao 
ouvir essas palavras? O que lhe vem à cabeça? De quê você se 
lembra? O que você imagina: animais selvagens, selvas e savanas 
ou deserto do Saara? O que você pensa em relação aos povos afri-
canos e aos povos negros da África?
Para o Brasil, cuja população, em grande parte, descende 
de africanos (e até mesmo os brancos têm, muitas vezes, "sangue 
negro"), a África representa um dos mais importantes pilares da 
cultura, do comportamento, da religiosidade e do jeito de ser.
36 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Entretanto, mesmo no Brasil, quando nos referimos à África 
vêm à nossa mente “coisas ruins”, como: fome, corrupção, guer-
ras, genocídios e até um suposto "primitivismo" talvez pitoresco 
mesmo para nós, brasileiros.
Chegou, portanto, o momento de descobrirmos quais dessas 
coisas supostamente "ruins" são verdadeiras, quais são mentiro-
sas, quais são apenas verossímeis e quais são preconceitos que 
adotamos sem pensar de onde vieram e porque ganharam força. 
Com o mesmo empenho, vamos descobrir o que de mara-
vilhoso há tanto na África quanto no que nos foi trazido pela pre-
sença africana no Brasil, o que confirma nossas expectativas de 
beleza, bem como o que é enriquecedor cultural e artisticamente.
Você pode pensar: qual o caminho para chegar a essa nova 
visão? 
Acreditamos que este caminho é o estudo da História e a 
Arte Africana e Afro-brasileira, dos primórdios à modernidade, 
uma vez que isso nos permitirá formular uma visão sobre a África 
e a arte africana com mais conhecimento de causa e maturidade; 
criar nossas próprias opiniões sobre o assunto; ser agente do nos-
so conhecimento, bem como derrubar eventuais preconceitos.
Vale ressaltar que quando tratamos de preconceitos não nos 
referimos apenas aos preconceitos raciais ou de desconhecimento 
da história e cultura da África, mas também à visão dos não afri-
canos (especialmente brancos europeus), cujo problema é mais 
amplo.
Note que o referido problema é gerado por uma visão "euro-
cêntrica" da história, pois como afirma o ditado: “a história é contada 
pelos vencedores"; ou, pelo menos, por aqueles que detêm o poder. 
Se compararmos africanos e europeus ao longo da história 
(o que também não é de todo recomendável, mas, mesmo assim, 
37
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
faremos, pontuando todas as ressalvas), descobriremos que, até 
aproximadamente o século 15, as culturas da Europa e da África 
Negra se equiparavam em termos de desenvolvimento, tecnologia 
e sofisticação. Contudo, a partir do final da Idade Média e do início 
do Capitalismo, a Europa entrou em uma espiral de desenvolvi-
mento econômico que a tornou apta não apenas a se destacar, 
mas também a dominar, econômica e militarmente, todo o resto 
do mundo.
Pode-se afirmar, desse modo, que grande parte da história 
a que temos acesso é a contada pelos europeus, no caso, os “ven-
cedores”! Isso, muitas vezes, leva-nos a não perceber o quanto tal 
história pode guardar, no fundo, a intenção de justificar:
• uma suposta “superioridade” branca-europeia sobre o 
resto do mundo;
• a dominação do mundo pelos europeus com a ideia de 
que estes distribuíram não apenas exploração e domina-
ção, mas também "progresso" e "civilização" aos povos 
considerados "bárbaros".
Para perceber que nada há, ou houve, de "bárbaro" nos povos 
africanos, começaremos a “descobrir” seu gigantesco continente.
6. CONTINENTE AFRICANO
Antes de tratarmos sobre a história da África Negra, preci-
samos nos lembrar de que o continente africano não é povoado 
apenas por povos negros. No norte do continente, na costa do Mar 
Mediterrâneo e na região do deserto do Saara (em países como o 
Egito, o Sudão, a Líbia, a Tunísia, a Argélia, o Marrocos e o Saara 
Ocidental) a predominância é de povos não negros. Por essa razão, 
esta região é popularmente conhecida como África Branca (veja 
Figura 1).
38 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Figura 1 Norte da África.
Os povos do norte da África são, em sua maioria, muçulma-
nos de etnias aparentadas aos árabes, surgidas com a miscigena-
ção de povos originários da região com os árabes que conquista-
ram todo o norte da África após a Expansão Muçulmana. 
Segue uma informação sobre a chegada do Islamismo ao 
norte da África:
Expansão Muçulmana –––––––––––––––––––––––––––––––––
Após a morte do Profeta Maomé, no século 7° d.C., os muçulmanos iniciaram uma 
expansão territorial da sua regiãode origem, a Península Arábica, para grande 
parte do Oriente próximo e para o norte da África, chegando na Europa, a ocupar 
regiões do sul da Itália e, durante muito tempo, a Península Ibérica (Portugal e 
Espanha). Tal expansão gerou uma “islamização” de todo o norte da África.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
39
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
Pode-se afirmar que há uma barreira natural separando a 
África Branca da África Negra: o deserto do Saara, o qual, de certa 
forma (não completamente), isolou essas duas partes do continen-
te (Figura 2).
 
Figura 2 Deserto do Saara. 
Já no início da Era Cristã, aproximadamente no século 3° d.C., 
foi introduzida a utilização do camelo como meio de transporte no 
Saara, o que permitiu a formação de caravanas de comerciantes 
que faziam o intercâmbio entre a África Negra e a África Branca, 
levando e trazendo mercadorias entre essas duas regiões.
Surgimento do homem na África e primeiras civilizações
É difícil encontrar tema mais controverso do que o surgimen-
to do homem! Contudo, a maioria das teorias e estudos concorda 
que o homem teria surgido na África (os ancestrais da nossa espé-
cie, denominada homo sapiens).
Inúmeras teorias recentes apontam para o surgimento dos 
hominídeos (primeiras espécies de primatas com características 
humanas) há, aproximadamente, cinco milhões de anos. 
40 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Quanto ao homo sapiens, nossa espécie, teria surgido (tam-
bém na África) há cerca de 200 mil anos. Da África, o homo sapiens 
teria (por volta de 100 mil anos atrás) se espalhado para o Oriente 
Médio, depois para a Ásia e Oceania, para a Europa e, por último, 
para a América, conforme podemos observar na Figura 3.
Figura 3 Estimativa da expansão do homo sapiens partindo da África para o resto do mundo.
Há cerca de 10 mil anos, teria começado o processo de se-
dentarização do homem, ou seja, a fixação de grupos em deter-
minados locais. Até então, todos os grupos humanos eram nôma-
des, sobrevivendo da caça, da pesca e da coleta de vegetais. Isso 
ocorreu até a descoberta das propriedades da agricultura, as quais 
permitiram que os homens cultivassem seus alimentos.
As primeiras experiências agrícolas e, consequentemente, 
os primeiros grupos sedentários, teriam aparecido em regiões 
próximas aos rios que, em decorrência de períodos regulares de 
enchentes, passavam por uma fertilização periódica do solo, per-
mitindo um bom desenvolvimento da agricultura. 
Essa é a razão pela qual a região do chamado Crescente fértil 
(Figura 4), que engloba zonas como a Mesopotâmia e o Rio Nilo, 
é apontada como "o berço das civilizações", as quais, como já es-
41
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
tudamos, teriam começado a se desenvolver há cerca de 10 mil 
anos.
Figura 4 Região do Crescente fértil. 
Vejamos, a seguir, curiosidades sobre alguns dos conceitos 
vistos anteriormente: 
A região do Crescente fértil, berço das primeiras civilizações, tem 
esse nome devido ao seu formato próximo ao de uma lua cres-
cente. O “fértil” refere-se à região irrigada por rios, o que gera a 
fertilização do solo. 
A Mesopotâmia (em grego, “entre rios”) é a região situada entre 
42 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
os rios Tigre e Eufrates, onde hoje se encontra o Iraque. Ali surgi-
ram as primeiras civilizações, as primeiras cidades, as primeiras 
experiências com a escrita e diversas outras conquistas.
Já o rio Nilo, maior rio do mundo em extensão, foi o grande res-
ponsável pelo surgimento da civilização egípcia. Realizando a 
fertilização periódica do solo, permitiu o crescimento de um dos 
grandes povos da Antiguidade nas suas margens, especialmente 
na região próxima ao delta do Nilo (sua foz), no norte.
O cultivo de alimentos é o marco inicial da civilização, porque 
demanda uma utilização racional do solo; isso acaba favorecendo 
o desenvolvimento da matemática, da escrita e dos primeiros indí-
cios de estratificação social, como o estabelecimento da proprie-
dade privada, por exemplo. Esse é o motivo pelo qual se verifica 
facilidade maior de acesso à história dos povos do norte da África 
e do Oriente Médio (egípcios e mesopotâmicos, por exemplo, que 
desenvolveram a escrita desde cedo), do que à história dos povos 
da África Negra, em geral ágrafos, que, em geral, não se utilizavam 
da escrita até a chegada dos primeiros europeus no século 15.
Mas por que os povos da África Negra teriam deixado de de-
senvolver a escrita? 
Uma das hipóteses mais aceitas diz respeito à abundância 
de recursos naturais da parte da África a sul do Saara: devido à 
grande quantidade de alimentos pré-existentes na natureza, que 
não demandavam agricultura, os povos da África Negra teriam se 
mantido mais tempo como nômades e sem a necessidade de de-
senvolvimento da escrita (com exceções). Estima-se, por essa ra-
zão, que o sedentarismo tenha começado na África Negra apenas 
no início do primeiro milênio antes da Era Cristã.
7. PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES DA ÁFRICA NEGRA
Como já vimos, uma das grandes dificuldades para o apro-
fundamento na história da África Negra é a não utilização da escri-
ta pela maior parte de seus povos antigos. Há, entretanto, outros 
43
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
meios que permitiram o desenvolvimento de hipóteses históricas 
que, aos poucos, vão se firmando (ou, às vezes, sendo desmenti-
das) pelas descobertas arqueológicas.
Algumas das fontes históricas mais preciosas são consegui-
das exatamente por meio da arqueologia; outras, de documentos 
escritos por povos de outras regiões que não a África Negra, mas 
que tiveram contato com esta por intermédio de seus explorado-
res ou comerciantes. Uma das fontes mais preciosas deste último 
caso são os documentos escritos por comerciantes, em especial, 
árabes, que tiveram contato com a África Negra bem antes da che-
gada dos europeus.
Outras fontes riquíssimas, tanto para a História quanto para 
a Antropologia, são as tradições orais de cada um dos povos da 
África Negra. Essas, se confrontadas com os poucos documentos 
escritos existentes e com os achados arqueológicos, muitas vezes 
permitem a construção de hipóteses históricas bastante plausí-
veis. Outra possibilidade interessante concernente às tradições 
orais (às histórias e aos mitos de cada povo, passados de pai para 
filho) é a possibilidade de confrontá-las e de encontrar, entre elas 
e outras fontes, pontos de discordância e, especialmente, pontos 
em comum.
Alguns desses pontos em comum são a presença, na mito-
logia da maioria dos povos negros, de fundadores ancestrais que, 
para criar sua civilização, teriam chegado de outras regiões da Áfri-
ca, em especial, trazendo uma conquista técnica que foi uma espé-
cie de divisor de águas na história africana: a utilização do ferro.
Vamos entender melhor:
A grosso modo, faz-se uma divisão da Pré-história em Idade da 
Pedra Lascada (Paleolítico – de aproximadamente dois milhões a 
dez mil a.C.) e Idade da Pedra Polida (Neolítico, de aproximada-
mente dez mil a.C. a 2500 a.C.). No final do Neolítico, teria surgido 
a Idade do Cobre (com a feitura de utensílios com este metal), 
depois a Idade do Bronze (a partir de, aproximadamente, três mil 
44 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
a.C.) e, finalmente, a Idade do Ferro (a partir de, aproximadamen-
te, 1200 a.C.). Esta é, entretanto, uma enorme generalização que 
leva em conta apenas alguns povos. Devemos lembrar que tais 
épocas – ou “etapas” da evolução das civilizações – evidentemen-
te, não ocorreram nos mesmos períodos para todos os povos, sen-
do que alguns não atingiram essas etapas, outros passaram por 
todas elas e outros, ainda, “pularam” etapas, como estudaremos 
ainda nesta unidade.
Assim, vários mitos dos povos negros fazem referência aos 
ancestrais heroicos que teriam chegado de outras regiões e que 
detinham enormes poderes,entre outras razões, devido aos seus 
conhecimentos de fabricação do ferro. 
A fabricação do ferro foi, em todas as civilizações em que 
ocorreu, uma das grandes conquistas da humanidade. Isso por-
que, alterando a cultura material de um povo (por meio da fabri-
cação de utensílios, ferramentas, armas e outros itens), alterava, 
também, sua cultura, sua arte etc. 
Na tradição e na mitologia de vários povos africanos, a fa-
bricação do ferro é tida como um processo quase (ou totalmente) 
sagrado, que, devido à sua tamanha importância, é ofício de pou-
cos "iniciados". 
Além disso, em inúmeros povos da África Negra, os ferreiros 
eram vistos como pessoas que detinham um poder considerado 
divino, sendo criaturas respeitadíssimas, acumulando, às vezes, 
funções de chefia, de prestígio ou mesmo papéis religiosos. Já em 
outros casos, os ferreiros eram pessoas temidas e colocadas "à 
parte" da sociedade, exatamente devido ao poder que detinham 
(de grande carga simbólica, mítica ou mesmo religiosa) e ao medo 
que inspiravam. Deduz-se, inclusive, que alguns dos povos negros 
descendem de clãs de ferreiros. 
A importância do ferro, inclusive na mitologia Iorubá, trazida 
por escravos africanos para o Brasil, encontra-se absolutamente 
viva e pulsante na cultura e nas religiões afro-brasileiras de hoje. 
Por exemplo, Ogum, divindade cultuada tanto em regiões da Áfri-
45
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
ca quanto pelos adeptos do Candomblé no Brasil, é um Orixá de-
tentor dos poderes do ferro, aparecendo em diversos mitos como 
ferreiro e, também, como poderoso guerreiro dono de poderosas 
armas e instrumentos de ferro: "lança, espada, enxada, torquês, 
facão, ponta de flecha e enxó, símbolos de suas atividades" (VER-
GER, 1997, p. 101).
Note que não se trata apenas de religião, mas também de 
história. Segundo os historiadores, muitos Orixás são divindades 
que passaram por uma vida "terrena" e tiveram importante pa-
pel como patriarcas do povo Iorubá. Desse modo, continuando no 
exemplo citado, como personagem histórico, Ogum teria sido filho 
de Odùduà (fundador e Rei de Ifé, cidade-estado Iorubá), sendo 
ele mesmo, Ogum, Rei de Ire e regente de Ifé por um período.
Na religião dos iorubás, cultua-se os ancestrais. Por essa ra-
zão e pelo papel heroico e mítico de personagens como Ogum (e 
também Exu, Xangô, Oxóssi, Orunmilá, Oranian entre outros), es-
ses são divindades vivas e bem próximas de nós, seres humanos 
mortais, por apresentarem em suas mitologias características ex-
tremamente humanas, como paixões e raivas causadoras tanto de 
uniões quanto de conflitos. 
Segundo Verger (1997, p. 101):
[...] as relações tempestuosas entre as divindades podem ser consi-
deradas como transposição ao domínio religioso de fatos históricos 
antigos. A rivalidade entre os deuses dessas lendas seria a fabu-
lação de fatos mais ou menos reais, concernentes à fundação da 
cidade de Ifé, tida como o berço da civilização iorubá e do resto do 
mundo. 
Isso não significa que o personagem histórico tenha, sim-
plesmente, "se tornado" a divindade devido ao culto realizado 
por seus descendentes, mas que as divindades, ligadas também a 
aspectos culturais e às forças da natureza, guardam forte ligação 
com esses personagens.
46 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Outra conclusão que se tira da tradição oral e de outras fon-
tes históricas relativas aos povos negros diz respeito ao seu noma-
dismo. Vários historiadores concluem que a maioria dos povos da 
África Negra só teria se "sedentarizado" entre os séculos 8° e 15 
da Era Cristã. Foi isso exatamente o que aconteceu com os Iorubás, 
cuja história, religiosidade e arte veremos mais detalhadamente 
na Unidade 2, quando estudaremos a arte afro-brasileira. 
De modo geral, pode-se afirmar que vários povos da África 
Negra passaram, em determinado momento de sua História, por 
migrações. Assim, há indícios tanto de grandes migrações de leste 
para oeste quando de oeste para leste e de norte para sul, sendo 
esses dois últimos casos os da "Expansão Banto", que, durante três 
milênios de história, teria espalhado as línguas banto por várias 
partes da África Negra.
Vamos saber mais sobre os bantos:
Bantos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
São chamados de bantos vários povos negros africanos, especialmente aqueles 
da África Equatorial e Meridional. Banto também é um tronco linguístico que ori-
ginou mais de 300 línguas africanas. No Brasil, o conceito de “banto”, às vezes, 
é utilizado para designar os escravos provenientes de regiões africanas centrais 
e meridionais, como Congo e Angola, em oposição aos “nagôs” (provenientes 
do Golfo da Guiné, especialmente das terras Iorubás, que, hoje, fazem parte da 
Nigéria, mais a noroeste).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Haveria, porém, indícios a respeito das primeiras civilizações 
da África Negra? 
É o que estudaremos a seguir.
Reino de Cuxe
O Egito Antigo, que se situava na área do Crescente Fértil, 
começou a surgir enquanto civilização por volta do ano 4500 a.C., 
nas margens do Nilo Inferior (ou seja, perto do delta). Aos poucos, 
ocorreu o desenvolvimento da região e, cerca de 1500 anos de-
pois, ou seja, em, aproximadamente, 3000 a.C. o Egito já era um 
poderoso império.
47
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
No entanto, o Egito, não era a única região da África habita-
da por povos sedentários. Mais a sul, já havia também povos ins-
talados e dando seus primeiros passos em termos de civilização. 
Povos de traços negroides, habitantes da Baixa Núbia, região que, 
hoje, corresponderia ao Sudão. 
Nessa região, muitas hipóteses apontam para a existência de 
um certo País de Punt; há também, porém, não apenas documen-
tação, como ruínas do chamado país de Cuxe (confira Figura 5).
Fonte: (LAMBERT, 2001, p. 123).
Figura 5 Mapa com a localização aproximada dos países de Punt e de Cuxe.
48 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
O país ou reino de Cuxe manteve estreita comunicação e in-
tercâmbio comercial com o Egito, até que a riqueza da região des-
pertou a ganância do país dos faraós, que conquistaram Cuxe em, 
aproximadamente, 1500 a.C.
No início do primeiro milênio antes de Cristo, Cuxe retomou 
sua independência e, por volta do ano 800 a.C., devido ao enfra-
quecimento do império egípcio, acabou ganhando força e levan-
do ao poder uma dinastia de faraós cuxitas com traços negroides, 
a XXVª Dinastia, denominada Dinastia etíope. O poder de todo o 
Império Egípcio passava, então, aos cuxitas, cujas duas principais 
cidades eram Napata e Meroé (veja Figura 6). 
Figura 6 Ruínas de influência egípcia em Napata.
É importante observar que até o século 7° a.C., nem os egíp-
cios nem os cuxitas utilizavam o ferro. Suas armas e utensílios de 
metal eram feitos de bronze. Isso fez que, no século 7° a.C., os 
assírios, já produtores de ferro, conquistassem o império egípcio.
Algo importante (de especial interesse para nós, uma vez 
que diz respeito a toda a história e cultura material da África Ne-
gra), entretanto, aconteceu por meio do contato com os assírios, 
pois provavelmente pela primeira vez a África teve a oportunida-
de de tomar conhecimento da tecnologia para produção do ferro. 
Isso fez que, cerca de um século após a invasão assíria, a cidade de 
Meroé, em Cuxe, já fosse uma verdadeira cidade industrial, grande 
produtora de ferro.
49
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
Depois, a história de Cuxe continuou, até, aproximadamen-
te, o século 7° da Era Cristã. 
Para nós, porém, o mais importante dessa história é a parte 
relacionada ao ferro. Você sabe por quê?
Porque muitas das hipóteses históricas acerca da cultura 
material da África Negra tratam, como já vimos, das migrações. 
Além disso, há indícios de que tenha havido a migração de povos 
da região de Cuxe para oeste e para sul, ou pelo menos o contato 
estreito entre povos negros de outras regiões daÁfrica e de Cuxe. 
Isto entraria em total consonância tanto com algumas descober-
tas arqueológicas quanto com alguns dos pontos da história oral 
de inúmeros povos africanos (como já vimos, os ancestrais míticos 
teriam chegado de outras regiões da África e trazido a tecnologia 
da produção do ferro).
Lembremo-nos, de qualquer 
forma, que há muitas hipóteses histó-
ricas, e que, na África Negra, as migra-
ções ocorreram nas mais diversas re-
giões e direções. Porém, há hipóteses 
que apontam para um contato leste-
-oeste que teria proporcionado (ou 
pelo menos auxiliado) a chegada da 
tecnologia do ferro a regiões como a 
do Golfo da Guiné ou um pouco mais a 
norte. Essa região era habitada, entre 
outros povos, por uma das mais anti-
gas civilizações de que se tem conheci-
mento na África Ocidental: a chamada 
Civilização de Nok (veja Figura 7).
Civilização de Nok
Na primeira metade do século 20, especialmente a partir da dé-
cada de 1930, o mundo "ocidental" tomou conhecimento da Civiliza-
ção de Nok, o qual veio por intermédio de descobertas arqueológicas.
Fonte: Acervo pessoal do autor. 
Figura 7 Algumas das hipóteses 
plausíveis para a expansão da 
utilização do ferro e também para 
migrações dentro da África Negra.
50 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Ao que tudo indica, a Civilização de Nok durou, aproximada-
mente, de 1000 a.C. a 300 d.C. Trata-se, portanto, de uma civiliza-
ção muito antiga localizada onde, hoje, é o centro da Nigéria. 
Especificamente, a Cultura Nok teve ensejo na região próxi-
ma ao encontro dos rios Níger e Benué, uma área rica em recursos 
naturais que chega a ser chamada por determinados historiadores 
de "Mesopotâmia Africana" (Figura 8).
Fonte: (LAMBERT, 2001, p. 128). 
Figura 8 Mapa com a localização da Civilização de Nok.
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Há inúmeros pontos relevantes para a História e a História 
da Arte oriundos do estudo da Civilização de Nok. Para o nosso 
estudo, destaquemos: a arte; a cultura material como um todo e a 
utilização do ferro.
Alguns dos achados arqueológicos de Nok que mais "cho-
caram" o mundo ocidental foram suas peças de arte. Entre elas, 
destacam-se as cabeças de terracota e outras peças no mesmo 
material, peças estas que surpreenderam os pesquisadores pela 
destreza com que foram executadas e pelo seu senso estilístico 
(veja Figuras 9 e 10).
Figura 9 Cabeça Nok de terracota. Figura 10 Escultura Nok de terracota.
Pouco se sabe a respeito da função das peças de terracota, 
mas a maioria das hipóteses aponta para funções não apenas es-
téticas, mas também religiosas, como ocorre em tantas culturas 
africanas. Alguns pesquisadores defendem, ainda, que as peças 
buscavam a representação de ancestrais, podendo ser, também, 
utilizadas em túmulos.
Outro ponto importantíssimo a respeito da Civilização Nok 
é que as descobertas arqueológicas apontam para a utilização do 
52 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
ferro de, aproximadamente, 100 a.C. a 300 d.C., ou seja, já nos 
últimos séculos da Cultura Nok.
Vale salientar que tais dados reforçam bastante a hipótese 
de migrações leste-oeste, nas quais a tecnologia do ferro, séculos 
antes, no contato entre cuxitas e assírios, teria chegado à África 
Ocidental.
Deve-se destacar, também, a semelhança estilística nas pe-
ças de arte que apontam para possíveis ligações entre o povo Nok 
e outros povos da mesma região ou de regiões próximas, como, 
por exemplo, os Iorubá, cuja civilização data, porém, de séculos 
depois. 
Finalmente, não são descartadas as hipóteses de certa influ-
ência ou, inclusive, ascendência, misturada a outras culturas que 
também povoaram as mesmas regiões durante os processos mi-
gratórios da África Negra.
8. GRANDES IMPÉRIOS
Nos anos que, na Europa, corresponderiam à Idade Média, 
ou seja, aproximadamente dos séculos 5° a 15 d.C., continuaram 
na África Negra não apenas as grandes migrações mas também 
tiveram ensejo estados fortes e centralizados.
Pouco se sabe a respeito dos grandes estados surgidos na 
África Negra até o século 9° da Era Cristã. Em primeiro lugar, por 
tratar-se, ainda, de um momento de grande nomadismo na África 
Negra. Em segundo lugar, porque escasso (ou praticamente ne-
nhum) era o acesso da Europa ao contato com a África Negra.
Lembremo-nos do seguinte: após a Expansão Muçulmana, 
todo o norte da África e grande parte do Oriente Próximo foram 
tomados pelos mouros. Com isso, o comércio mediterrâneo ficou, 
também, nas mãos destes. 
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Como já vimos, a África Negra e a África Branca eram "sepa-
radas" por uma barreira natural, o deserto do Saara. Tal barreira 
só era rompida pelos próprios mouros que, com suas caravanas de 
camelos, atravessavam o deserto, levavam produtos à África Ne-
gra, bem como traziam mercadorias da África Negra para o norte, 
produtos estes que, às vezes, eram comercializados com a Europa 
(confira Figuras 11 e 12).
Fonte: Acervo pessoal do autor. 
Figura 11 Comércio exterior da África Negra, monopolizado pelos mouros.
54 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Figura 12 Ilustração árabe do século 13 mostrando mouros fazendo comércio de escravos 
negros africanos.
A maioria dos produtos oriundos da África Negra eram va-
liosos: escravos, marfim (oriundo dos elefantes africanos) e ouro, 
proveniente, em especial, da Costa do Ouro, região que correspon-
deria ao atual país de Gana (veja Figura 13).
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Fonte: acervo pessoal do autor. 
Figura 13 Costa do Ouro.
É importante observar que os mouros, como bons comer-
ciantes, sabiam com maestria manter afastados os polos do seu 
comércio. Assim, compravam ouro na África Negra e vendiam na 
Europa, algo que faziam também com outros produtos. Mas es-
forçavam-se para que os europeus pouco soubessem dos negros 
africanos e vice-versa, para que eles, os mouros, pudessem mono-
polizar o tão rico comércio.
56 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Esse é um dos motivos pelos quais poucas informações nos 
chegaram a respeito dos estados surgidos na África Negra até o sé-
culo 8º. No entanto, os próprios mouros, produziram documenta-
ção escrita que nos permite o acesso a alguns dos grandes estados 
africanos surgidos a partir desse período. 
Veremos três dos mais importantes deles, a começar pelo 
famoso Império do Gana.
Império do Gana
Já sabemos que a utilização do ferro começou na África Oci-
dental no início da Era Cristã (confira Figura 14). Desde então, tal 
elemento tornou-se um dos fatores determinantes para a expan-
são territorial de vários povos, a vitória nas guerras contra povos 
vizinhos, o estabelecimento de sociedades bem organizadas etc.
Figura 14 Ilustração representando guerreiros do Império do Gana.
Foi o caso do Império do Gana, estado altamente militari-
zado que existiu, aproximadamente, dos séculos 8° a 13 d.C (veja 
Figura 15). 
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Fonte: MELO E SILVA; FELIX CALAÇA (2006, p. 14). 
Figura 15 Império do Gana.
Além disso, verifica-se no Gana outro elemento fortemente 
atuante na estruturação de um estado forte: a economia.
Ghana fora o nome dado pelos árabes, desde o século 8°, 
para designar país do ouro. Entretanto, praticamente nenhum 
ouro era produzido pelo Império do Gana. O que ocorria é que o 
estado, aproveitando-se de uma estrutura comercial organizada, 
comprava o ouro mais a sul, na região que, depois, foi denominada 
de Costa do Ouro (conforme mapa já verificado) e revendia aos 
mouros no norte, perto do Saara, em troca de sal, altamente ne-
cessário para a conservação de alimentos em clima tropical e que 
não era produzido pelo Gana.
58 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
O que o Império do Gana fez, portanto, foi algo semelhante 
ao que os mouros fizeram com relação à Europa e à ÁfricaNegra 
como um todo: isolaram os dois polos comerciais e enriqueceram 
monopolizando o comércio.
A respeito da cultura material (o que inclui a arte) do Império 
do Gana, pouco sobrou além de relatos escritos, produzidos, em 
especial, pelos mouros. 
Cabe, porém, reproduzir um trecho que pode nos dar uma 
boa ideia sobre Gana, redigido por um historiador mouro, Ab-
dallah bem Abdelaziz, também conhecido como Al Bekri. Escreveu 
Al Bekri sobre o rei do Gana: 
Quando dá audiência pública para escutar as queixas do povo e fa-
zer justiça, o rei senta num pavilhão em torno do qual são dispostos 
cavalos cobertos por panos dourados; atrás dele estão dez pagens 
com escudos e espadas de cabo de ouro. À sua direita sentam os fi-
lhos dos príncipes do seu império, esplendidamente vestidos e com 
fios de ouro trançados nos cabelos. O governador da cidade está 
sentado no chão, em frente ao rei, e em sua volta estão os vizires, 
na mesma posição. A porta do seu quarto é guardada por cães de 
excelente raça que nunca o deixam. Usam coleira de ouro e prata. 
O início da audiência é anunciado por uma batida de tambor que 
chamam de deba e que é feita de longas peças de madeira (LAM-
BERT, 2001, P. 137-136).
Império do Mali
Na esteira da decadência do Gana, surgiu aquele que seria 
um dos maiores impérios (em extensão) de toda a África Negra: o 
Mali.
O império surgiu ao mesmo tempo em que, no século 13, 
o povo mandingo, originário das regiões de savana a sul do Saara 
e que, por essa razão, sofreu grande influência dos muçulmanos 
do norte da África, conquistou regiões próximas às do Império 
do Gana. Isso fez que não apenas as terras do Gana fossem, aos 
poucos, incorporadas ao Mali, mas também outras terras, corres-
pondentes a uma grande extensão de terras na parte noroeste da 
África sub-saariana (confira Figura 16).
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Fonte: MELO E SILVA; FELIX CALAÇA (2006, p. 15). 
Figura 16 Império do Mali.
Você pode pensar: quem foi o povo mandingo? Vejamos.
Mandingo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O povo mandingo, cujos membros são também conhecidos como “mandingas”, 
são, até hoje, um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental. Durante a es-
cravatura nas Américas, inúmeros mandingas foram trazidos para o Brasil como 
escravos, especialmente para a América do Norte. Por serem, em geral, muçul-
manos, traziam no pescoço cordões em que eram presos junto ao peito um peda-
ço de couro com inscrições do Alcorão, livro sagrado dos islamitas. Tais “patuás” 
eram associados por negros de outras etnias a funções mágicas, sendo este um 
dos motivos pelos quais, no Brasil, “mandinga” acabou se tornando, também, 
sinônimo de algum procedimento com fins mágicos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
60 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Por influência do norte da África, a maioria dos mandingos 
aderiram ao Islã. Desse modo, o estabelecimento do Império do 
Mali representou um grande avanço do Islamismo na África Negra 
Ocidental. 
Entre outros fatores, pode-se afirmar, também, que, como 
veremos agora, em alguns aspectos, o Islamismo é uma religião 
próxima das religiões animistas originárias da África Negra, tendo, 
assim, facilidade de penetração entre os povos negros.
Vamos entender melhor:
As Religiões Animistas e o Islamismo –––––––––––––––––––
São chamadas de religiões animistas aquelas que creem na existência de “ani-
ma” (ou seja, “alma”) não apenas nos seres humanos, mas também nos elemen-
tos e forças da natureza. Assim, uma religião animista atribui à água, ao fogo, a 
uma planta ou a uma pedra, por exemplo, “anima”, que atua como uma espécie 
de “energia” inerente a cada coisa do mundo. Dessa maneira, para as religiões 
animistas, tudo no mundo tem a sua “energia”, tudo tem “anima” e “encanto” 
(noção tão estranha a nós, ocidentais): este é um dos motivos pelos quais as 
religiões animistas são consideradas tão próximas das forças da natureza.
Vejamos a seguir, de acordo com Mendonça (2008), as semelhanças entre o 
Islamismo e algumas das religiões animistas da África Negra:
As religiões tradicionais da África Negra estão organizadas, de 
maneira geral, de forma piramidal, isto é, haveria um deus supre-
mo acima de tudo e de todos e, abaixo dele, em consonância com 
os desígnios divinos, o mundo e as pessoas seriam guiados pelos 
espíritos de ancestrais. [...] Com efeito, uma vez que as crenças 
tradicionais concebem a existência de um deus supremo no topo 
da hierarquia de divindades, ela permite a aceitação da idéia de 
Alá como deus superior. Por outro lado, há uma evidente similitude 
entre as noções de fraternidade muçulmana e de descendência 
ancestral comum. [...] Porém, o ponto de contato mais importante 
entre as duas religiões está no fato de que ambas são totalizantes, 
isto é, abrangem todos os aspectos da vida humana, seja fami-
liar ou social, caracterizando-se mesmo por uma verdadeira con-
cepção política. Portanto, verifica-se que, ao contrário do que se 
imagina, o islamismo e as religiões tradicionais africanas jamais 
foram excludentes, havendo, entre elas, uma série de pontos co-
muns que permitiram a convivência entre essas crenças e levaram 
a uma ampla aceitação do Islã por grande parte das comunidades 
da África negra (2008, p. 75-76).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Você pode pensar: o que fez do Mali um Império tão pode-
roso?
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• A religião: uma crença unificada permitiu maior união 
entre as etnias que compunham o império, algo anterior-
mente dificultado pela existência de religiões diferentes 
(portanto, de diferenças culturais, às vezes, inconciliá-
veis). 
• A Economia.
É provável que o grande trunfo do Império do Mali tenha 
sido ampliar a zona de atuação econômica que já havia sido utili-
zada pelo Gana. 
Em vez de apenas manter isoladas duas pontas de uma rela-
ção comercial (mouros e produtores de ouro), o Mali foi além: in-
corporou ao império as regiões produtoras de bens valiosos como 
o ouro, passando a controlar não apenas o comércio, mas também 
a produção, o que gerou uma enorme riqueza material. 
Segundo Jean-Marie Lambert (2001, p. 142):
O Mali exportava ouro para o Mediterrâneo, importava espadas 
de Damasco [...]. Enfim, a atividade comercial de suas cidades não 
devia nada às contemporâneas Nuremberg ou Pisa, mas sua vida 
econômica não se limitava ao comércio: há fortes indícios de ativi-
dades industriais, notadamente de tecelagem e tinturaria.
O esplendor do Mali manteve-se até o século 17. Durante 
seu período de riqueza material, foi produzida muita arte malesa. 
Podemos destacar, em primeiro lugar, as esculturas de terracota, 
recorrentes em várias regiões da África Ocidental. 
São famosas as peças do Mali Imperial oriundas de cidades 
malesas como Djenné, no centro do Império (veja Figuras 17 e 
18). 
Vale salientar, ainda, que Djenné foi um importantíssimo 
ponto do comércio trans-saariano, situando-se nos limites entre 
o Saara e a savana. Por essa razão, conta com importantes realiza-
ções arquitetônicas, como a famosa Grande Mesquita de Djenné, 
construída, aproximadamente, em 1220 (confira Figura 19).
62 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Figura 17 Escultura Malesa de terracota 
representando Cavaleiro.
Figura 18 Escultura malesa de terracota 
representando arqueiro.
Figura 19 Grande Mesquita de Djenné. 
Contudo, não apenas Djenné foi uma cidade esplendorosa 
do Império do Mali. Outro grande centro foi Timbuktu, na qual 
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foram erguidas belas mesquitas e onde eram reunidos, e patroci-
nados pelo Estado, estudiosos da religião islâmica, artistas, pensa-
dores etc. Essa mesma cidade passaria a pertencer ao Songai, país 
que sucedeu o Mali em termos de poder em regiões próximas e, 
às vezes, coincidentes.
Devido à presença de intelectuais no Mali e aocontato desse 
país com outras nações, foi produzido material escrito dentro do 
próprio Mali e fora dali, sobre o país e seus governantes, dos quais 
podemos citar, por exemplo, o lendário Mansa Kankan Mussa, cuja 
riqueza fez fama até na Europa (veja Figuras 20 e 21).
Figura 20 Manuscritos sobre matemática e astronomia 
produzidos no Mali.
Figura 21 Atlas catalão de 1375 – detalhe representando Mansa 
Kankan Mussa.
64 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
No final do século 15, grande parte da glória do Império do 
Mali passou para um reino próximo, o do povo Songai. Estudare-
mos, agora, um país localizado mais a sul: o Congo.
Congo
Outro grande reino africano anterior à chegada dos euro-
peus no século 15 foi o Congo. Seu esplendor ocorreu, aproxima-
damente, entre os anos 1100 e 1500 da Era Cristã e seu território 
corresponderia às atuais áreas dos países (confira Figura 22): 
3) República Popular do Congo (ex-Zaire);
4) Congo;
5) Gabão;
6) Guiné Equatorial;
7) Angola.
Fonte: (MELO E SILVA; FELIX CALAÇA, 2006, p. 18). 
Figura 22 Reino do Congo. 
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O Congo foi um reino de grandes dimensões e compreendeu 
sob seus domínios não apenas uma cultura. Tratava-se, porém, de 
um reino ágrafo e que não fazia uso do ferro, apenas do cobre. 
De qualquer maneira, a cultura material e a arte do antigo Congo 
continham elementos marcantes. 
Em relação aos materiais, havia diversas peças, tanto de arte 
quanto utensílios, de bronze; e, em termos artísticos, uma das fa-
cetas da arte congolesa que mais se destacou foram as esculturas 
em madeira. Nestas, destaca-se um aspecto que, segundo estilos e 
estéticas diferentes, aparece na grande maioria das culturas africa-
nas: a arte com fins religiosos. 
São famosas as esculturas que 
representam reis e antepassados: 
mas também aquelas que são utili-
zadas em rituais cujos fins são diver-
sos, entre os quais há, por exemplo, 
o enfrentamento de inimigos. Este 
é um dos vários motivos pelos quais 
também são famosas as esculturas de 
madeira cravejadas, representando o 
corpo do inimigo atingido por flechas 
ou objetos que o feriram. A maioria 
das esculturas religiosas são chama-
das de fetiches (veja Figura 23).
Em relação ao estilo, as esculturas congolesas sempre apre-
sentaram, desde antes da chegada dos europeus à África, estilo 
bastante naturalista. Aproveitando o ensejo, é necessário que fa-
çamos uma pausa para estudar este fator que alterou definitiva-
mente não apenas a arte, mas toda a História da África Negra: o 
contato com os europeus e a escravidão.
Fonte: PALERMO; DUPEY (1977, p. 43).
Figura 23 Fetiche com cravos.
66 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
9. CHEGADA DOS EUROPEUS
O contato intenso entre a Europa e a África Negra começou 
de forma efetiva no final do século 15. Isso ocorreu na esteira das 
grandes navegações, movimento de desbravamento dos oceanos e 
de conquistas territoriais no qual os países europeus, em especial 
Portugal e Espanha, "descobriram" e se apossaram de continentes 
até então desconhecidos.
Para entenderemos melhor como se deu o contato entre eu-
ropeus e africanos, devemos ter em mente o aspecto econômico.
Lembremo-nos de que a Europa passava por uma das fases 
mais decisivas de sua história: o final da Idade Média e o início da 
Idade Moderna. Tal fase teve entre suas facetas o Renascimento 
comercial e urbano.
Em decorrência desse renascimento, voltaram a crescer as 
cidades e o comércio, após séculos de Feudalismo. Além disso, o 
Renascimento artístico, científico e filosófico foi marcado por um 
elemento inédito: o surgimento da burguesia na condição de clas-
se econômica importante que, aliada aos reis e, às vezes, também 
à nobreza, ajudou no surgimento dos Estados Nacionais e, espe-
cialmente, no seu desenvolvimento econômico.
Seguem informações para entendermos melhor esses acon-
tecimentos:
Os historiadores estabeleceram como marco para o fim da Idade 
Média e início da Idade Moderna, 1453, ano da tomada de Cons-
tantinopla pelos turcos. Teve início, então, a Idade Moderna, indo 
até 1789, ano da Revolução Francesa.
Observe que o desenvolvimento econômico, desde então, se 
daria sob uma nova égide: a do Capitalismo. 
A primeira fase do Capitalismo é denominada pelos historia-
dores de Capitalismo Comercial, ou seja, aquela em que ocorreu a 
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© Arte Africana
acumulação de capital por meio do comércio. Tal acumulação, nos 
séculos 15 a 18, ocorreria para vários países segundo um conjunto 
de práticas que ficou conhecido como Mercantilismo.
Sabemos que tanto no Mercantilismo e como no Capitalismo o 
objetivo primeiro é o lucro, a acumulação de capital. Foi exatamente 
essa busca de aumentar ganhos que fez que os europeus chegas-
sem à África. A princípio, a África Negra pareceu para os europeus 
(especialmente portugueses) apenas um caminho para se chegar à 
"mina de ouro" do comércio internacional de então: as Índias.
Desde a Expansão Muçulmana (iniciada no século 7°), ficou 
dificultado o contato entre a Europa e o Oriente, em especial, com 
a Índia. Isso porque os muçulmanos se apossaram do Mar Medi-
terrâneo e passaram a monopolizar o comércio. 
Até que as Cruzadas viessem flexibilizar tal contexto. 
Entretanto, até o século 15, o comércio Europa-Oriente ficou 
nas mãos de determinadas cidades-estado italianas, como Gênova 
e Veneza. Tal comércio era fonte riquíssima de renda e foi para que-
brar tal monopólio que portugueses e espanhóis empenharam-se 
tanto para descobrir um novo "caminho das Índias". No meio do 
caminho havia a África e a América. 
Inicialmente, o contato entre europeus e africanos foi pací-
fico. Pouco depois, entretanto, outro fator passou a coexistir: as 
colônias americanas.
Portugueses e Espanhóis (depois: ingleses, franceses e ho-
landeses), também com a intenção de descobrir o "caminho das 
Índias", tomaram posse da América e logo perceberam que tais 
terras poderiam, também, render lucros. Para tanto, contavam 
com a extração de metais preciosos e com a agricultura.
Para a agricultura, não havia mão de obra mais barata e lucra-
tiva do que a escrava! Desse modo, os europeus apropriaram-se de 
um costume milenar africano que, na África, apresentava-se menos 
cruel, desumano e gigantesco, mas que, submetido à lógica do capi-
tal, tornou-se uma das grandes chagas do continente: a escravidão.
68 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
10. ESCRAVIDÃO
Sabemos que a escravidão é algo que existiu desde os pri-
mórdios da civilização. O que talvez não saibamos é que houve 
diferenças fundamentais entre as formas como a escravidão foi 
praticada em diferentes épocas e regiões.
Na África, a escravidão também era recorrente. Estudiosos 
apontam como a principal razão da recorrência de tal prática a 
vastidão do território e a falta de mão de obra: isso fazia com que 
os povos, ao entrar em guerra, escravizassem seus inimigos. Além 
disso, havia a prática da escravidão por dívidas, ou seja, aquela em 
que alguém tinha de realizar trabalhos forçados por dívidas não 
pagas para aquele que se tornava seu senhor.
Tais práticas escravistas apresentavam, entretanto, um as-
pecto mais flexível e doméstico do que aquele que adquiririam de-
pois. Em várias localidades, por exemplo, escravos e pessoas livres 
podiam até se casar. Havia casos em que o escravo podia comprar 
sua liberdade; em outros, a família do escravo ganhava a liberdade 
depois de algumas gerações; e assim por diante.
Desde que os muçulmanos começaram o contato comercial 
com a África Negra, começou o comércio de escravos negros para 
fora de lá. Entretanto, foi apenas com a chegada dos europeus que 
tal comércio se institucionalizou e acabou por se tornar um dos 
elementos mais prejudiciais à própria África.
Ao contrário do que se imagina, quase nunca Europeus se 
puseram África adentro para fazer guerras e capturar pessoas:o 
comércio escravista fez uso de uma tática mais segura e eficiente, 
a saber, alimentar o ódio entre os próprios povos africanos.
A equação era simples! 
Vejamos um exemplo: digamos que, em determinada região 
africana, houvesse dois povos que eram inimigos há séculos: o 
povo X e o povo Y. Os europeus, ao chegarem, automaticamente 
69
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ofereciam parceria a um desses dois povos. Digamos que o esco-
lhido tenha sido X. Então, os europeus forneciam à população X 
bens, como, por exemplo, fumo, aguardente, utensílios e armas de 
fogo, algo que, imediatamente, tornava o povo X mais poderoso 
do que seus inimigos de séculos, o povo Y. Em troca, os europeus 
pediam que X lutasse contra seu arqui-inimigo, Y, escravizasse as 
pessoas de Y e as entregasse aos europeus.
O povo X, munido de armas que seus inimigos não tinham, 
rapidamente começava a exercer seu domínio imperialista sobre 
seus inimigos. Porém, assim que o povo X ameaçasse se voltar 
contra o parceiro europeu, este simplesmente passava a se aliar a 
um antigo inimigo de X (por exemplo, o povo Y). Com isso, apenas 
alimentando o ódio entre os povos africanos, os europeus fomen-
taram a prática da escravidão negra durante cerca de 350 anos.
Pode-se, agora, argumentar: mas não seriam, então, os pró-
prios africanos os agentes de sua escravização? 
A resposta provável é não, pois uma argumentação afirmati-
va incorreria em um grave erro histórico. 
Vamos entender porque!
Em primeiro lugar, porque não havia a noção de africano. 
Não havia (em inúmeros casos, não há até hoje) a ideia de que 
povos negros eram povos "irmãos". Ao contrário, para um povo 
africano, era mais vantajoso aliar-se a um povo estrangeiro branco 
do que a um povo negro que fora seu inimigo por séculos a fio.
E, em segundo lugar, porque o que motivou essencialmente 
a transformação do comércio de escravos, durante séculos, naque-
la que, talvez, tenha sido a principal atividade econômica exporta-
dora da África, foi o Capitalismo europeu: alimentando o ódio, os 
europeus transformaram, definitivamente, a realidade da maioria 
dos povos africanos em conflitos que se alternavam entre peque-
nos períodos de dominação regional sobre outros povos, com pe-
ríodos de escravidão e sofrimento.
70 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Note que isso não transformou a escravidão em um cenário 
no qual atuavam "mocinhos" e "vilões", nem eximiu os africanos 
de sua própria responsabilidade. 
Além disso, é redutor pensarmos os europeus como maldo-
sos poderosos que maltrataram os pobres africanos, porque pen-
sar assim não apenas divide a história entre "bons" e "maus" como 
também contribui para imaginarmos haver a tal "superioridade" 
europeia, mesmo que exercida para fins espúrios. 
É preciso, porém, reconhecer que é incorreto procurarmos, 
segundo a nossa lógica ocidental cristã, julgar povos de acordo 
com estruturas sociais e morais estranhas a eles. Portanto, não 
podemos atribuir culpa aos povos africanos por algo tão horrível 
quanto o comércio escravista, já que, inúmeras vezes e segundo 
a lógica interna de cada um desses povos africanos, lutar contra 
inimigos milenares e os escravizar talvez tenha sido sua melhor 
(senão a única) opção de sobrevivência.
Na próxima unidade, ao abordarmos a arte afro-brasileira, 
veremos como o comércio escravista e a vinda para o Brasil de 
africanos, especialmente da África Ocidental, foi um dos mais im-
portantes pilares da nossa História.
11. ZONAS ESTILÍSTICAS DA ARTE AFRICANA
Já vimos que a chegada dos europeus e o subsequente esta-
belecimento do comércio ultramarino de escravos foi um verda-
deiro "divisor de águas" na História da África Negra. Isso porque 
não apenas povos foram dizimados como a grande maioria dos 
povos africanos foi afetada de uma maneira ou de outra pelo es-
cravismo.
A referida situação, como você pode supor, teve desdobra-
mentos artísticos. Além disso, depois do contato com os europeus, 
71
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© Arte Africana
determinadas características da arte africana mudaram. Pode-se 
verificar essa ocorrência nas esculturas congolesas, por exemplo, 
que, depois do início de um processo de "cristianização", passa-
ram a reproduzir imagens cristãs, entre outras (veja Figura 24). 
Outro elemento oriundo do es-
cravismo foram as manifestações artís-
ticas realizadas por africanos ou des-
cendentes de africanos nas Américas, 
os quais estudaremos na Unidade 2.
Para continuar a conhecer a arte 
africana, doravante aquela produzida 
após a chegada dos Europeus, é ne-
cessário adotar algum método que nos 
auxilie no mapeamento de realidade 
cultural tão rica, complexa e cheia de 
diversidades. 
Como método, optamos pela adoção de uma divisão da Áfri-
ca Negra em zonas estilísticas realizada pela pesquisadora Denise 
Paulme e revista pelos pesquisadores Miguel Angel Palermo e Ana 
María Dupey (1977). Tal divisão leva em conta determinadas gene-
ralizações necessárias, porque, em termos de escultura africana, 
por exemplo, há bem mais de 200 estilos regionais, o que tornaria 
nosso estudo inviável. A divisão pautava-se em nove principais zo-
nas estilísticas (Figura 25).
Os dois principais meios artísticos a serem destacados no 
nosso estudo são a escultura, especialmente a estatuária, e uma 
forma específica de escultura característica da maioria das regiões 
da África Negra: as máscaras. 
Contudo, antes de passarmos às áreas estilísticas, vejamos 
algumas das características que aparecem na maioria delas!
Figura 24 Crucifixo do século 16 
confeccionado no Congo, com 
características da arte congolesa.
72 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Fonte: PALERMO; DUPEY (1977, p. 34).
Figura 25 Mapa com a divisão das principais zonas estilísticas africanas.
Peças com fins religiosos
Conforme já estudamos, a função religiosa aparece na maio-
ria das realizações artísticas africanas. Sobre isso, escreveu Denise 
Paulme (1977, p. 33): “pretender julgar uma máscara ou uma está-
tua africana unicamente no plano estético, ignorando a intenção e 
o propósito do autor, é tão absurdo quanto querer estudar a escul-
tura medieval não levando em conta o Cristianismo”.
Assim, a maioria das peças escultóricas africanas são feti-
ches, ídolos ou representações de antepassados, estes todos com 
função religiosa. 
Em relação aos fetiches, por exemplo, é preciso entender 
que a peça só adquire valor espiritual quando submetida a rituais 
religiosos, os quais, em muitos casos, precisavam ser renovados 
para que se renovasse o poder da peça (veja Figura 26). 
Em outras palavras, sem os ritos, as peças eram simples está-
tuas sem valor espiritual, podendo ser vendidas para turistas (másca-
ras, por exemplo) como artesanato ou adquirindo quaisquer outros 
fins, decorativos ou, até mesmo, lúdicos (confira Figuras 27 e 28).
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© Arte Africana
Figura 26 Fetiche do Povo 
Teke, proveniente da 
República Democrática 
do Congo.
Figura 27 Máscara do 
Povo Baga (Região da 
Guiné).
Fonte: RUBIN (1985, p. 264).
Figura 28 Máscara Mbuya 
(República Democrática do 
Congo) com 26,6 cm. de altura.
Figurativismo não naturalista
A grande maioria das peças de arte africana é figurativa, ou seja, 
busca representar figuras (pessoas, animais etc.). Porém, faz isso de 
maneira não naturalista, ou seja, procedendo uma série de "distor-
ções" nas formas escultóricas, as quais tinham o objetivo de ressaltar 
certos aspectos culturais, simbólicos ou mesmo ritualísticos. 
Desse modo, uma cabeça grande em uma estátua, em vá-
rios casos, representava uma grande concentração de energia na 
cabeça da figura representada; um grande pênis pode representar 
a virilidade, a audácia, a autoridade; uma barriga ou seios proemi-
nentes nas representações femininas podem referir-se à fertilida-
de, e assim por diante. 
As estátuas africanas, portanto, não trazem a preocupação 
de representaçãonaturalista ou realista de pessoas, animais ou 
outras figuras; ao contrário, distorcem as figuras e as produzem 
74 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
de maneira estilizada com o objetivo de ressaltar certos aspectos. 
Esse foi um dos fatores que tanto encantou, no início do século 20, 
artistas modernistas como Picasso, por exemplo, que, entre ou-
tros, buscou grande inspiração na arte negra para a concepção de 
sua própria estética pictórica (veja Figura 29).
Fonte: RUBIN (1985, p. 264). 
Figura 29 Detalhe de Les Demoiselles d’Avignon, Picasso, 1906-07, 243,9 x 233,7 cm.
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Matérias-primas
As matérias-primas mais utilizadas na escultura africana são 
a madeira, o bronze, o ferro e as rochas.
12. SAVANA SUDANESA
Da região da Savana Sudanesa, podemos destacar três esti-
los artísticos principais: os ligados ao povo Bambara, ao povo Do-
gon e ao povo Senufo.
Bambara
O povo Bambara era formado por agricultores. 
A palavra "Bambara", aliás, remete à palavra "infiéis", nome 
atribuído pelos muçulmanos aos Bambara, já que estes não se 
converteram ao Islamismo. 
A escultura Bambara conta com representações de antepas-
sados e peças destinadas a atrair fertilidade para as moças. As es-
tátuas apresentam formas bastante angulosas. 
Já as máscaras Bambara apresentam, em geral, formas zoo-
morfas e antropomorfas, remetendo a diversos aspectos da vida 
política e religiosa de seu povo (Figura 30).
Dogon
Os Dogon, povo que vivia próximo ao Rio Níger, apresentam 
entre suas esculturas representando antepassados as figuras dos 
chamados "nommos civilizadores", patriarcas do povo Dogon (veja 
Figura 31). 
Já as suas máscaras apresentam função religiosa marcada e 
relacionada à mitologia Dogon.
76 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Senufo 
Os Senufo apresentam, em termos de escultura, a seguinte 
peculiaridade: peças totêmicas que aparecem sobre portas de ca-
sas e outros lugares, lembrando escudos de armas. 
Quanto às máscaras Senufo, são confeccionadas segundo 
a repetição de certos cânones passados de geração em geração, 
segundo uma ritualística bastante rigorosa, que atribui ao artista 
uma ligação direta com aspectos e forças do mundo sobrenatural 
(confira Figura 32).
Figura 30 Máscara 
Bambara.
Fonte: PALERMO; DUPEY 
(1977, p. 59).
Figura 31 Figura de um 
“Nommo” Dogon.
Fonte: PALERMO; DUPEY 
(1977, p. 70).
Figura 32 Máscara 
Senufo.
13. CAMARÕES
Na Região estilística de Camarões, a presença da religião mu-
çulmana impedia a produção de arte figurativa em determinadas 
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áreas. Naquelas em que é produzida, porém, destacam-se os esti-
los artísticos dos povos Bamum e Duala, contando, por exemplo, 
com peças decoradas com contas (veja Figura 33).
Figura 33 Peça Duala.
78 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
14. SELVA OCIDENTAL
Na região da selva ocidental destacam-se as artes dos povos 
Fang e Bakota. 
Os Fang, que habitam o Gabão, realizam grandes estátuas de 
argila e, em madeira, bustos e corpos colocados sobre recipientes 
chamados de "Byeri" (caixas que contêm crânios de antepassa-
dos). São famosos, também, pela sua grande variedade de másca-
ras (confira Figuras 34 e 35).
Figura 34 Máscara Fang. Figura 35 Máscara Fang.
Os Bakota também realizam esculturas colocadas sobre re-
cipientes que contém ossos de antepassados, e diversos tipos de 
máscaras.
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15. CONGO
A região estilística do Congo (correspondente aos atuais pa-
íses de Angola e República Democrática do Congo) está entre as 
áreas mais ricas em termos de produção artística. 
Há, nesta enorme região, inúmeros povos, muitas culturas e, 
portanto, também vários estilos. 
É difícil a tarefa de elencar os mais importantes. Corre-se, por-
tanto, o risco inevitável de deixar-se material importante de lado. 
Destacamos, desse, alguns dos principais grupos.
Bakongo
O estilo Bakongo desenvolveu-se na região do Baixo Congo, 
zona de intenso contato com os europeus desde sua chegada à 
África Negra no século 15. É mais naturalista que vários outros es-
tilos da arte africana. Apresenta, também, os fetiches cravejados e 
as máscaras (veja Figura 36).
Bakuba
O estilo Bakuba destaca-se pela suntuosidade, por exemplo, 
nas representações de reis e em vários objetos cotidianos decora-
dos com motivos geométricos (confira Figura 37).
Baluba
O estilo Baluba, do sudeste do Congo, conta com vários sub-
estilos, tais como o Basongé e com diversas combinações híbridas 
desses sub-estilos. Conta com fetiches, figuras representando an-
tepassados, máscaras e outras peças (veja Figura 38).
Bapende
Os Bapende são um grupo de agricultores e caçadores que se 
destacam por suas máscaras usadas em rituais, como, por exem-
plo, nos rituais de iniciação (veja Figura 39).
80 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Figura 36 Máscara Bakongo. Figura 37 Copo Bakuba decorado com 
motivos geométricos.
Figura 38 Máscara Baluba. Figura 39 Máscara Bapende.
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16. ÁFRICA DO SUL, LESTE DA ÁFRICA E MADAGAS-
CAR
No sul e no leste da África, são mais raras as máscaras. 
No leste africano, há povos que produzem escultura, porém 
a recorrência de tal manifestação artística é menor do que em ou-
tras regiões da África Negra. 
Já em Madagascar, verifica-se grande influência islâmica e de 
culturas orientais, devido ao intenso intercâmbio comercial com 
mercadores da Península Arábica e de outras regiões do oriente. 
É importante destacar o sul do continente africano, as ruínas do 
Zimbábue e a arte daquela que foi outra das grandes civilizações 
da África Negra. 
Vejamos mais sobre ela! 
Zimbábue
Há, no atual país do Zimbábue, uma área repleta de ruínas 
arquitetônicas que denotam a existência, no passado, de uma civi-
lização bastante avançada. 
Tal civilização teria, segundo a maioria dos estudiosos, sido 
fundada em meio à já citada Expansão Banto (série de migrações 
que espalhou povos por grande parte da África Negra). O estabe-
lecimento de povos de maneira sedentária na região do Zimbábue 
teria ocorrido entre os séculos 8° e 10°, e entre os séculos 11 e 18 
teria tido ensejo uma civilização.
Tratava-se de uma civilização cuja economia se baseava, em 
especial, na mineração. Havia relações comerciais com regiões da 
costa oriental da África e, por conseguinte, com comerciantes do 
oriente, especialmente árabes e hindus. 
Nos séculos 16 e 17, teve início o contato com os portu-
gueses, o que foi o "começo do fim" para a economia local. Isso 
porque os portugueses, como vinham fazendo em outras regiões 
82 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
da África, estimularam as disputas locais e atuaram no sentido da 
monopolização do comércio, o que acabou afundando a economia 
local. 
Posteriormente, no século 19 (após o fim da referida civili-
zação), a presença de grande riqueza mineral na área gerou uma 
verdadeira pilhagem que, até hoje, dificulta (e até impossibilita) o 
trabalho dos arqueólogos e historiadores. 
Vale salientar que há ruínas arquitetônicas e peças artísticas 
remanescentes, em especial as de pedra (veja Figuras 40 e 41).
Figura 40 Ruína do Zimbábue.
Figura 41 Ruínas do Zimbábue vistas de cima.
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17. GOLFO DA GUINÉ
Optamos por estudar a região do Golfo da Guiné por último 
por dois motivos: 
1) primeiro, por tratar-se da região com maior variedade 
de povos, países, histórias – e, portanto, culturas – da 
África Negra. 
2) segundo, por representar tal região especial interesse 
para nós brasileiros: do Golfo da Guiné saiu grande par-
te dos escravos trazidos para o Brasil (outra grande parte 
veio de regiões mais a sul, como Angola, e uma parte 
menor da África do Leste, especialmente de Moçambi-
que).De lá vieram, portanto, muitos dos nossos ancestrais.
Na Unidade 2, veremos detalhadamente a cultura, a religiosidade 
e a arte de alguns dos povos do Golfo da Guiné que chegaram ao 
Brasil, criando, assim, a denominada por inúmeros estudiosos de 
“cultura afro-brasileira”. 
É válido lembrar que até a chegada dos europeus à África 
Negra, via mar, no século 15, a região costeira do Golfo da Guiné 
era uma área periférica no que diz respeito aos grandes reinos afri-
canos (veja Figura 42). 
Já vimos, no caso dos reinos do Gana e do Mali, por exemplo, 
que o poder político se concentrava mais na região das savanas, 
atuando nas áreas de florestas e da costa, a sul, mais como gran-
des fornecedoras de matéria-prima.
Isso porque, até o século 15, o grande centro econômico e 
comercial da África estava no norte (na África Branca), na região 
dominada pelos mouros; com isso, as regiões do norte da África 
Negra, mais próximas do Saara, eram privilegiadas economica-
mente.
84 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Fonte: LAMBERT (2001, p. 78).
Figura 42 Costa da Guiné: região periférica até a chegada dos europeus.
Quando os europeus chegaram à África via mar, porém, a 
situação se inverteu. A grande "porta de entrada" para a África 
Negra (e, consequentemente, para o comércio e toda a ativida-
de econômica) passou a ser o Golfo da Guiné. Com isso, a região 
foi enriquecendo e, por consequência, atuando como aquela que 
mais exportou escravos negros para as Américas.
Uma das razões para a grande exportação de escravos da re-
gião foi a grande profusão de estados militarizados; muitos dos 
quais foram compostos por povos que já habitavam a região havia 
séculos, como, por exemplo os Iorubá. 
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© Arte Africana
A chegada dos europeus, porém, acelerou a formação de es-
tados militarizados por estes povos: visando a dominação de inimi-
gos e o crescimento econômico, eles se aliavam aos europeus em 
troca de armas de fogo e outros produtos; o que ofereciam eram 
produtos como óleo de palma (dendê) e escravos, conseguidos em 
guerras contra povos inimigos.
Assim, repetiu-se no Golfo da Guiné, de maneira ainda mais 
cruel e potencializada, a história relativa à venda de escravos ne-
gros para as Américas: os europeus não entravam "na selva" e os 
próprios africanos vendiam inimigos como escravos. 
Quando um "aliado" deixava de interessar aos europeus, es-
tes se aliavam ao povo inimigo de seus até então aliados, passando 
estes doravante a serem escravizados. 
Agora, voltemos à história e à arte dos grandes povos do Gol-
fo da Guiné.
Ibo
O povo Ibo (ou Igbo) é um dos mais antigos habitantes da 
região do Golfo da Guiné. Ocupou (e ainda ocupa, uma vez que há 
cerca de 10 milhões de membros desta etnia vivendo na região) 
uma área do sudoeste da Nigéria, em especial, perto do Rio Níger. 
O povo Ibo, tradicionalmente, foi formado por agricultores, 
caçadores, pescadores e comerciantes.
Tem-se registros bem antigos da arte Ibo, peças de bronze 
que remontam ao século 9°. Os Ibo realizaram (e realizam) escul-
turas de figuras humanas relativamente naturalistas em termos de 
proporção, com exceções. Muitas figuras, porém, costumam apre-
sentar pescoços alongados. Além disso, tanto as estátuas quanto 
as máscaras têm, muitas vezes, a representação de chifres, detalhe 
que remete à tradição altiva e guerreira do povo Ibo (observe a 
Figura 43). 
86 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Figura 43 Escultura Ibo.
Muitas vezes, as figuras da arte Ibo apresentam escarifica-
ções na face, ou seja, pequenas marcas tradicionalmente realiza-
das no rosto de membros de determinadas culturas da região. Tais 
marcas são sinais de distinção dentro do meio social, cultural, polí-
tico e religioso. Como veremos a seguir, elas também aparecem na 
cultura e na arte Iorubá.
87
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© Arte Africana
Iorubá 
Assim como a história de Portugal confunde-se com a histó-
ria do Brasil; a história de outros países de onde vieram imigrantes 
também se confunde com a nossa história. Por exemplo, a história 
de alguns dos povos do Golfo da Guiné é inseparável da nossa, em 
especial no que se refere aos Iorubás, povo cujos membros, escra-
vizados, vieram em grande número para o Brasil, em especial, na 
última fase da escravidão, no século 19. 
Os Iorubás são, portanto, um dos povos com tradição, cultu-
ra e história mais ricas de toda a África Negra.
O início da história dos Iorubás, para inúmeros estudiosos, 
apresenta suas raízes nas remanescências de culturas ainda mais 
antigas da região, como a Cultura Nok, como já estudamos. Tais 
hipóteses são baseadas em algumas semelhanças da arte e da cul-
tura material.
É preciso, porém, realizar a seguinte distinção teórica: o 
termo “Iorubá" parece ter designado não os membros de apenas 
um povo, mas os membros de determinados povos, habitantes de 
cidades-estado autônomas, que compartilhavam determinados 
aspectos linguísticos, culturais e religiosos. 
Segundo Pierre Fatumbi Verger (1997, p. 3): 
O termo “yorùbá”, escreve S. O. Biobaku, “aplica-se a um grupo lin-
güístico de vários milhões de indivíduos”. Ele acrescenta que, “além 
da linguagem comum, os yorùbá estão unidos por uma mesma cul-
tura e tradições de sua origem comum, na cidade de Ifé, mas não 
parece que tenham jamais constituído uma única unidade política 
e também é duvidoso que, antes do século XIX, eles se chamassem 
uns aos outros pelo mesmo nome”. 
Já vimos, entretanto, que há um marco, uma origem comum: 
a cidade-estado de Ifé, razão pela qual a história Iorubá se confun-
de com a história de Ifé. 
Tal história remonta, aproximadamente, ao século 10°, quando 
os grandes patriarcas Iorubá fundaram Ifé e deram início a uma bela 
história, na qual se misturam política, mitologia e religiosidade. 
88 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Na Unidade 2, estudaremos a história e a religiosidade de Ifé e dos 
Iorubás, o que representa uma das principais bases da arte afro-
brasileira. Agora, vamos nos limitar a lembrar que, para os Iorubás, 
não há a distinção racionalista e ocidental feita por nós entre os 
patriarcas de seu povo e as divindades, já que sua religiosidade é 
baseada no culto aos antepassados. Por essa razão, não há, por 
exemplo, distinção entre alguns fundadores de Ifé e Orixás. 
Depois de Ifé, outras cidades-estado também foram funda-
das por patriarcas Iorubá. De maneira geral, podemos afirmar que 
as cidades-estado foram formando uma confederação política que, 
a certa altura, aproximadamente entre os séculos 15 e 16, ficou 
sob o comando de Oyó, outra cidade-estado (veja Figura 44). 
Fonte: LAMBERT (2001, p. 92).
Figura 44 Localização do Reino Iorubá de Oyó.
Oyó, reino Iorubá, tinha como um de seus trunfos seu pode-
rio bélico, que contava, entre outros fatores, com uma poderosa 
cavalaria.
89
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© Arte Africana
Assim como outros povos da região, por influência das con-
dições criadas com a chegada dos europeus, os Iorubás aderiram à 
captura de inimigos para venda como escravos para as Américas. 
No entanto, como aconteceu com outros povos, em certos 
períodos, foram escravizados. Isso, apesar do horror da escravi-
dão, foi o que trouxe a cultura Iorubá para o Brasil, em especial, 
para algumas localidades, como a Bahia.
Um dos grandes destaques dos Iorubás é sua arte. Refinada, 
apresenta em inúmeras peças, principalmente nas mais antigas, 
um naturalismo incomum e raro na África Negra. Exemplo disso é 
a famosa cabeça de um Rei de Ifé datada do século 13, atualmente 
exposta no Museu Britânico, em Londres. Tal cabeça serviu de mo-
delo para o monumento a Zumbi dos Palmares realizado por João 
Filgueiras e Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro, em 1986 (veja Figuras 
45 e 46). Note que na Figura 45 é possível visualizar as escarifica-
ções, ou seja, os sinais de distinção. 
Fonte: PALERMO; DUPEY (1977, p.21).
Figura 45 Cabeça de um Rei, de 
Ifé, arte Iorubá, século 13.
Figura 46 Monumento a Zumbi 
dos Palmares, João Filgueiras 
e Darcy Ribeiro, 1986, Rio de 
Janeiro.
90 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
A arte mais antiga dos Iorubás era realizada em metal (latão) 
e cerâmica. De alguns séculos para cá, tem ensejo uma arte mais 
estilizada, com peças em madeira, contando com obras ligadas ao 
culto dos Orixás (confira Figura 47).
Figura 47 Oxé de Xangô, Nigéria, Século 20, Museu Afro-
Brasil.
Na próxima unidade aprofundaremos nossos conhecimentos so-
bre a arte religiosa ligada ao culto dos Orixás, já que arte afro-bra-
sileira e religiosidade afro-brasileira são elementos praticamente 
inseparáveis. Na Figura 47, temos um Oxé de Xangô, ou seja, uma 
peça sacra Iorubá que simboliza Xangô, utilizada por alguns dos 
iniciados e que representa um machado estilizado de duas lâmi-
nas. Esta peça é nigeriana, o que demonstra que vários aspectos 
religiosos são compartilhados por brasileiros e africanos. 
91
Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
Bini
Os Bini (ou Benin – não o confunda com a moderna Repú-
blica do Benin, que teve seu nome inspirado no antigo Benin) é 
um povo cujas origens são bastante próximas às dos Iorubás (às 
vezes até se confundindo com elas). Isso pode ser percebido tanto 
em semelhanças culturais quanto na religiosidade e nas tradições 
orais.
Politicamente, entretanto, por muito tempo, a cidade-esta-
do de Benin, uma das mais poderosas do Golfo da Guiné, entre os 
séculos 15 e 19, foi inimiga de Oyó, estado Iorubá que já estuda-
mos. Isso se traduziu em disputas que tinham como consequência 
a escravização dos inimigos (veja Figura 49).
Figura 48 Guerreiros segurando suas armas cerimoniais, Reino do Benin, séculos 16-18 
92 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
A arte do Benin, especialmente a dos séculos 15 a 17, é exuberante. 
Destacam-se as figuras de bronze, de marfim e de madeira. Há 
peças como máscaras e estátuas de guerreiros, entre outras 
variantes (confira Figura 48).
Figura 49 Gravura de 1668 retratando a Cidade do Benin, realizada por D. O. Dapper.
Apenas para que se tenha uma ideia do poder e grau de ur-
banização da cidade do Benin nos séculos 15 a 17, vejamos trechos 
escritos por um viajante holandês anônimo em 1602: 
A cidade é muito grande. Entra-se numa rua muito comprida e larga, 
não pavimentada, mas 7 ou 8 vezes mais larga que a rua Warmoes 
de Amsterdã [...]. Quem se encontra na referida avenida pode ver 
muitas ruas perpendiculares, também retas, de cada lado [...]. As 
casas são bem alinhadas [...]. O palácio real é muito grande. Com-
preende numerosos pátios cercados de varandas onde se monta 
guarda [...] (LAMBERT, 2001, p. 94-95). 
Achanti
Achanti é uma palavra que designa mais do que um povo: 
é usada tanto para designar uma região do Golfo da Guiné e os 
povos Achantis, Achans ou Akans, quanto para designar a confe-
deração de povos que formou, entre os séculos 17 e 19, a famosa 
Confederação Achanti.
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© Arte Africana
Após a chegada dos europeus ao Golfo da Guiné, os negócios 
do ouro e do tráfico de escravos tornaram-se as principais fontes 
de renda para os povos da região. 
Nas primeiras décadas de vigência deste cenário, os Akans 
da região florestal viam-se bastante desfavorecidos: eram domi-
nados e escravizados por povos inimigos, mais organizados politi-
camente.
Ocorreu, então, como reação a esta situação, a formação e 
consolidação, no século 17, de uma confederação que buscava unir 
sob uma mesma nação os povos Akans. Aproximando tais povos 
também cultural e religiosamente, a confederação angariou forças 
para derrotar seus inimigos e tornar-se uma das mais poderosas 
nações da África. 
Vale salientar que grande parte dos ganhos dos Achantis vie-
ram por meio do comércio de ouro, encontrado nas suas próprias 
terras. Depois, como ocorreu com outros povos africanos, o grosso 
do lucro passou a ser a captura e venda de escravos. Em termos 
artísticos, os Achanti destacam-se pela arte em metal (bronze e 
ouro) e pelas esculturas em madeira (observe as Figuras 50 e 51).
Fonte: PALERMO; DUPEY (1977, p. 23).
Figura 50 Máscara de ouro maciço 
que teria pertencido ao tesouro do 
Rei Achanti Kofi Kolkalli.
Figura 51 Arte Ashanti, peso para aferir ouro, 
bronze, Museu Nacional de Belas Artes, RJ.
94 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
Fon
Os Fon são outro povo estabelecido há séculos no Golfo da 
Guiné. 
Tendo uma organização política, cultural e religiosa bastante 
tradicional, os Fon destacam-se, artisticamente, pelas suas peças 
em madeira (estatuetas, relevos, bancos e esculturas em geral). 
Um dos destaques da escultura Fon, por exemplo, são as pe-
ças zoomorfas, ou aquelas que unem aspectos antropomorfos e 
zoomorfos, como, por exemplo, a estatueta comemorativa do rei 
Glele, O leão, disposta na Figura 52.
Fonte: PALERMO; DUPEY (1977, p. 52).
Figura 52 Estatueta Fon comemorativa alegórica 
do Rei Glele “O Leão", madeira policromada.
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18. REVISÃO DOS CONTEÚDOS E TEMAS IMPORTAN-
TES
1) A África vista pelos não africanos.
2) O continente africano: África Branca e África Negra.
3) O surgimento do homem na África: as primeiras civiliza-
ções.
4) As primeiras civilizações da África Negra: Cuxe, Nok, 
Gana, Mali e Congo.
5) A chegada dos europeus.
6) A Escravidão.
7) Zonas Estilísticas.
8) Preceitos gerais da arte da África Negra.
9) Savana Sudanesa.
10) Camarões.
11) Selva Ocidental.
12) Congo.
13) África do Leste, do Sul e Madagascar.
14) Golfo da Guiné: Ibo, Iorubá, Bini, Achanti e Fon.
19. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Para sedimentar seus conhecimentos sobre os conteúdos 
estudados nesta unidade, é importante que você reflita sobre os 
seguintes questionamentos:
1) Por que a arte e a história da África Negra são tão pouco 
conhecidas? Apenas por falta de registros e de acesso ou 
por uma visão histórica que privilegia a história contada 
"pelos brancos"?
2) Conhecer a riqueza histórica, cultural e artística dos po-
vos africanos contribui para uma mudança de perspec-
tiva em relação aos preconceitos e à visão geral que se 
tem sobre a África Negra? Como?
96 © História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena I
3) Há uma relação íntima, de séculos, entre Europa, África 
e Américas. Em termos culturais, o que esta relação re-
servou para nós, atualmente?
4) Há a ligação total entre arte e religiosidade na África? 
Façamos uma comparação entre tal ligação na África e 
na arte sacra ocidental, especialmente aquela surgida no 
seio do Cristianismo.
5) Até que ponto um conhecimento maior sobre a arte afri-
cana é capaz de derrubar barreiras, preconceitos e mes-
mo mal-entendidos em relação a algo tão próximo de 
nós como a arte e a religiosidade afro-brasileiras?
20. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da nossa primeira unidade. Nela, aborda-
mos a história, a cultura e a arte de uma das regiões mais fascinan-
tes e "misteriosas" do planeta: a África Negra. 
Com isso, pudemos descobrir mais a respeito da nossa histó-
ria, cultura e identidade: se até aqui tínhamos bastante informação 
a respeito das nossas raízes europeias, já era hora de saber mais 
a respeito de outros dos nossos pilares formadores de identidade 
cultural.
Já na Unidade 2, veremos como a cultura afro gerou, no Bra-
sil, o que hoje chamamos de Cultura e Arte Afro-brasileiras. 
Em outras palavras, poderemos, por meio do conhecimento, 
apropriar-nos ainda mais da nossa arte e cultura; além de esta-
belecer relações e diálogos com aspectos artístico-culturais que, 
mesmo quando alheios ao nosso cotidiano, podem nos encantar 
por sua beleza, riqueza e profundidade. 
Desse modo, ganhamos nós e ganha a diversidade. Até a pró-
xima unidade!
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Claretiano - Centro Universitário
© Arte Africana
21. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 – Norte

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