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FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Nadia Studzinski Estima de Castro Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Questionar a teoria subjacente à elaboração dos documentos: a pro- posta de ensino por competências e habilidades. Examinar as propostas de ensino de língua portuguesa nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nos referenciais curriculares. Analisar a construção dos descritores da Base Nacional Comum Cur- ricular e a sua regulamentação. Introdução Neste capítulo, você vai estudar os pressupostos para o ensino da língua portuguesa nos anos iniciais de formação dos sujeitos considerando o que está descrito nos documentos oficiais sobre essa temática. Para tanto, você deve refletir de forma crítica sobre as teorias subjacentes à elaboração desses documentos, a fim de entender a proposta apresentada por eles, a qual institui o ensino por competências e habilidades. Você também vai analisar a construção dos descritores da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a sua regulamentação. A ideia é que você possa embasar a sua atuação em sala de aula para pro- mover uma educação alinhada com as propostas defendidas pelos documentos oficiais. Os documentos oficiais e o ensino por competências e habilidades No Brasil, a década de 1990 é marcada por mudanças no entendimento sobre educação. É nesse período que ocorrem signifi cativas reformas educacionais. “Desde a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em 1990, em Jomtien, na Tailândia, a ideia de transformação das diretrizes educacio- nais passa a ser um compromisso público [...]” (RANGEL; MOCARZEL; PIMENTA, 2016, p. 30). Em 1993, então, é apresentado o Plano Decenal de Educação para Todos, “[...] em paralelo com a idealização, por parte do Governo Federal, de um Plano Nacional de Educação, com algumas perspec- tivas de mudanças sociais, o que leva quase uma década para acontecer [...]” (RANGEL; MOCARZEL; PIMENTA, 2016, p. 30). Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), importantes avanços começam a ser percebidos. Em 1998, é criado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), tendo como objetivo avaliar o desempenho do aluno na etapa de finalização da escolarização básica. O Enem busca “[...] aferir o desenvolvimento de com- petências fundamentais ao exercício pleno da cidadania [...]” (BRASIL, 1998, p. 5). Nesse contexto, a ênfase nas competências ganha força, uma vez que o exame passa a ser uma das formas de acesso ao ensino superior. Logo, a ideia do ensino por competências se reflete nas escolas brasileiras, cujo intuito passa a ser o de formar alunos com as capacidades adequadas desenvolvidas para que obtenham sucesso no Enem, ampliando suas chances de acesso ao ensino superior. Assim, no documento básico de orientações do Enem, encontra-se a Matriz de Competências, a qual “[...] foi elaborada a partir da Lei de Diretrizes e Bases, dos Parâmetros Curriculares Nacionais [PCN] e das Matrizes Curriculares de Referência para o Sistema de Avaliação da Educação Básica/SAEB, entre outros documentos [...]” (RANGEL; MOCARZEL; PIMENTA, 2016, p. 30). A LDB estabelece as diretrizes e as bases da educação nacional. Acesse o link a seguir para conferir o texto da lei. https://qrgo.page.link/8mFF2 Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais2 Nessa matriz, encontram-se listadas cinco competências e 21 habilidades relacionadas com conteúdos do ensino médio. Observe, a seguir, as cinco habilidades listadas pelo documento: I. Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica; II. Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas. III. Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações represen- tados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema. IV. Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhe- cimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente. V. Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural (BRASIL, 1998, p. 8). Dessa forma, “[...] as cinco competências traduziam-se em objetivos gerais que o aluno deveria alcançar/demonstrar durante a execução da prova [...]” (RANGEL; MOCARZEL; PIMENTA, 2016, p. 31). Os objetivos indicados estavam relacionados com as 21 habilidades. O domínio dessas habilidades levaria ao desenvolvimento, por conseguinte, das competências. Dentro desse panorama, as escolas passam a se mobilizar para desenvolver em sala de aula um trabalho centrado nessa lógica. Assim, os conteúdos começam a ser substituídos por competências. A seguir, veja quais são as concepções de competência e de habilidade consideradas por esses documentos oficiais. Habilidades e competências: conceitos Os conceitos de competências e habilidades são apresentados pelas bases do Enem da seguinte forma: Competências são as modalidades estruturais da inteligência, ou melhor, ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos, situ- ações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer. As habilidades decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do “saber fazer”. Por meio das ações e operações, as habilidades aperfeiçoam-se e articulam-se, possibilitando nova reorganização das competências (BRASIL, 1998, p. 7). Com esse detalhamento, o texto demonstra que o conceito de competência é diferente do de conteúdo e, inclusive, passa a ampliar o seu entendimento. 3Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais “A noção de conteúdo passa, então, a ocupar um status menor na escala de valorização do currículo e da construção do conhecimento [...]” (RANGEL; MOCARZEL; PIMENTA, 2016, p. 31). A competência está relacionada com aquilo que o aluno pode realizar a partir do domínio de determinado conteúdo. Nessa concepção, o aluno entende de que forma cada conteúdo pode operar no contexto em que está e também fora da sala de aula e do conteúdo estático; assim, o aluno pode relacionar os conteúdos e percebê-los na prática. Logo, o conteúdo é algo em transformação, e não algo estático nos livros, que precisa ser absorvido pelo aluno. Veja agora um exemplo da abordagem de desenvolvimento de competências e habi- lidades. De acordo com o teorema de Pitágoras, o quadrado da medida da hipotenusa é igual à soma dos quadrados das medidas dos catetos (Figura 1). Figura 1. Teorema de Pitágoras. Fonte: Adaptada de Elena100/Shutterstock.com. Esse é um conteúdo que apresenta a relação matemática entre os comprimentos dos lados de qualquer triângulo retângulo e que é trabalhado na disciplina de matemática. A partir da concepção mais ampla de conteúdo, com a inserção do desenvolvimento de competências e habilidades, como ampliar esse aprendizado? O teorema de Pitágoras apresenta inúmeras aplicações na vida do homem. Considere a área de transportes (logística, por exemplo); ela utiliza muito esse conhecimento de forma aplicada, pois o teorema auxilia no cálculo das distâncias e do tempo necessário para o deslocamento entre diferentes pontos. Esse conhecimento aplicado também possibilita, por exemplo, que um motorista estime a distância entre pontos pelos quais precisa passar, de forma a constatar quando precisa abastecer o veículo, evitando atraso na entrega de mercadorias ou mesmo falta de combustível. Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais4 Para os documentos oficiais, então, a competência é algo relacionado com: [...] as operações cognitivas, ou seja, não basta ‘conhecer’ determinada infor- mação, a ideia de competência pressupõe que se faça algo com ela, estando, portanto, interligada à capacidade de abstrair conhecimentos e transportá-los para outras esferas [...] (RANGEL; MOCARZEL; PIMENTA, 2016, p. 32). A habilidade, por sua vez, é algo complementar: para cada competência, o aluno deve ser desafiado a desenvolver certo número de habilidades. É por essa razão que a lista de habilidades a ser desenvolvida contempla 21 itens, os quais podem ser definidos como objetivos específicos, enquanto as competências podem ser definidas como objetivos gerais. Na prática, por exemplo, o desen- volvimento da competência “[...] para dirigir um automóvel requer habilidades como interpretar a sinalização de trânsito, operar o veículo, possuir noções de distância, etc. [...]” (RANGEL; MOCARZEL; PIMENTA, 2016, p. 32). PCN: ensino da língua portuguesa Nos PCN voltados para a educação fundamental, entre os objetivos listados, a capacitação dos alunos para a utilização das diferentes linguagens (verbal, matemática, gráfi ca, plástica e corporal) recebe destaque. Ou seja, o objetivo é capacitar o aluno para que ele utilize essas diferentes linguagens como meio para “[...] produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação [...]” (BRASIL, 1997, p. 5). Na proposta do documento, o domínio da língua, seja ela em sua forma oral ou escrita, é etapa fundamental para a participação social efetiva. Afinal, é por meio da língua “[...] que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento [...]” (BRASIL, 1997, p. 15). Dessa forma, o desafio da escola é garantir a todos os alunos acesso aos saberes linguísticos necessários para o pleno exercício da cidadania. O ensino da língua portuguesa deve estar voltado para o desenvolvimento das habilidades relacionadas às competências pressupostas. Ou seja, os conteúdos devem ser desenvolvidos de maneira que o aluno saiba ler e escrever a partir do conhecimento dos diferentes gêneros textuais. A ideia é que ele saiba utilizar tais gêneros no seu cotidiano de acordo com as exigências de cada contexto, em uma lógica de relação entre linguagem e participação social. 5Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais De acordo com o texto do documento, “[...] produzir linguagem significa produzir discursos [...]” (BRASIL, 1997, p. 22). Isso significa que, quando um sujeito diz “[...] algo para alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico [...]” (BRASIL, 1997, p. 22), ou seja, quando produz um discurso, ele faz escolhas. Essas escolhas, por sua vez, “[...] não são aleatórias — ainda que possam ser inconscientes —, mas decorrentes das condições em que esse discurso é realizado [...]” (BRASIL, 1997, p. 22). Nesse panorama, destaca-se o trabalho com os gêneros discursivos como possibilidade de efetivar o desenvolvimento de competências e habilidades na área de linguagens. Portanto, o texto dos PCN para o ensino fundamental destaca que “[...] todo texto se organiza dentro de um determinado gênero [...]” (BRASIL, 1997, p. 23). Dessa forma, os vários gêneros existentes em língua portuguesa constituem formas “[...] relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional [...]” (BRASIL, 1997, p. 23). Acesse o link a seguir e aprofunde seu conhecimento sobre o eixo de língua portuguesa nos PCN do ensino fundamental. https://qrgo.page.link/6k4Mr Nos PCN voltados para o ensino médio, na área de linguagens, códigos e suas tecnologias, a linguagem é considerada “[...] a capacidade humana de articular significados coletivos de forma a compartilhá-los de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade [...]” (BRASIL, 2000, p. 5). O objetivo da linguagem, portanto, é a interação, ou seja, a comunicação entre pessoas dentro de um espaço social. As competências e as habilidades a serem desenvolvidas em língua portuguesa devem possibilitar que, ao término do ensino médio, o aluno seja capaz de: Considerar a Língua Portuguesa como fonte de legitimação de acordos e condutas sociais e como representação simbólica de experiências humanas manifestas nas formas de sentir, pensar e agir na vida social. Analisar os Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais6 recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de ideias e escolhas). Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes manifestações da linguagem verbal. Compreender e utilizar a LP como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade (BRASIL, 2000, p. 20–23). Acesse o link a seguir para saber mais sobre o eixo de língua portuguesa nos PCN do ensino médio. https://qrgo.page.link/ckgKr Os referenciais curriculares e o ensino de língua portuguesa Nos referenciais curriculares voltados para a educação infantil, o trabalho com a língua portuguesa está relacionado com a aprendizagem da linguagem, em suas modalidades oral e escrita. Esse é um dos elementos importantes para que as crianças ampliem suas possibilidades de inserção e de participação nas diversas práticas sociais (BRASIL, 1998). Dessa forma, o trabalho com a linguagem é um dos eixos básicos, “[...] dada a sua importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento [...]” (BRASIL, 1998, p. 117). A aprendizagem de uma língua pressupõe um conhecimento que está além da palavra e que se relaciona com o entendimento dos significados culturais dos termos. Esse saber possibilita que o sujeito opere no meio sociocultu- ral de forma a entender, interpretar e representar as realidades que lhe são apresentadas. Na prática da sala de aula, isso implica promover experiências significativas de aprendizagem da língua, o que deve ser feito por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita. 7Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais Acesse os links a seguir para saber mais sobre os documentos tratados neste capítulo. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: https://qrgo.page.link/DoqR1 Orientações Curriculares para o Ensino Médio: https://qrgo.page.link/FUkva Na mesma linha de pensamento, as orientações curriculares para o ensino médio indicam delineamentos para o desenvolvimento da comunicação oral, da leitura e da prática escrita segundo as teorias do letramento. Dessa forma, “[...] o conceito de letramento se afasta de uma concepção de linguagem, cultura e conhecimento como totalidades abstratas e se baseia numa visão heterogênea, plural e complexa de linguagem, de cultura e de conhecimento [...]” (BRASIL, 1998, p. 109). Tal visão deve estar sempre inserida em con- textos socioculturais. A linguagem deve estar próxima e vinculada aos contextos socioculturais e às comunidades em que é praticada. Logo, a concepção de letramento está relacionada com práticas socioculturais que devem ser inseridas no contexto da sala de aula. As orientações indicam que a fase de formação objetiva desenvolver capacidades que possibilitem aos estudantes: [...] avançar em níveis mais complexos de estudos; integrar-se ao mundo do trabalho, com condições para prosseguir, com autonomia, no caminho de seu aprimoramento profissional e atuar, de forma ética e responsável, na sociedade, tendo em vista as diferentes dimensões da prática social [...] (BRASIL, 2006, p. 17). Nesse contexto, os processos de ensino e de aprendizagem devem conduzir o aluno à: [...] construção gradativa de saberes sobre os textos que circulam socialmente, recorrendo a diferentes universos semióticos, pode-se dizer que as ações realizadas na disciplina Língua Portuguesa, no contexto do ensino médio, devem propiciar ao aluno o refinamento de habilidades de leitura e de escrita, de fala e de escuta (BRASIL, 2006, p. 17). Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais8 Assim, essa prática implica “[...] tanto a ampliação contínua de saberes relativos à configuração, ao funcionamento e à circulação dos textos quanto o desenvol- vimento da capacidade de reflexão sistemática sobre a língua e a linguagem [...]” (BRASIL, 2006, p. 17). Como você pode notar, a forma de abordar o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais é reforçada no ensino médio. Logo, é importante conhecer esses detalhamentos para entender a importância de um trabalho inicial pautado nessa concepção. Enfatiza-se uma formação continuada que seja coerente e busque desenvolver competências e habilidades para que o aluno egresso possa agir de forma reflexiva e crítica nos seus contextos socioculturais. BNCC: descritores e regulamentação Os descritores, no campo da regulamentação e da avaliação em educação, estão relacionados com o detalhamento presente em uma matriz de referência e se traduzem em competências e habilidades a serem desenvolvidas em deter- minado campo do saber (linguagens, matemática, tecnologia, física, etc.). No contexto da BNCC, são apresentadas as competências gerais da educação básica (BRASIL, 2018), mas também são indicadas as competências específi cas de linguagens e as competências específi cas de língua portuguesa, ambas para o ensino fundamental; na sequência, têm-se as indicações para o ensino médio. O ensino fundamental conta, atualmente, com nove anos de duração e atende estudantes de 6 a 14 anos. De acordo com o texto da BNCC do ensino funda- mental voltado para as séries iniciais, o trabalho em sala de aula deve valorizar situações lúdicas de aprendizagem, inclusive “[...] a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil [...]” (BRASIL, 2018, p. 57). As séries iniciais devem estar pautadas “[...] na apresentação de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos [....]” (BRASIL, 2018, p. 57). Nessa etapa, deve-se valorizar práticas que incentivem maior desenvoltura e maior autonomia dos alunos. A ideia é ampliar as interações deles com os espaços a partir da relação com múltiplas linguagens, incluindo os usos sociais da escrita e da matemática. [Isso] permite a participação no mundo letrado e a construção de novas aprendizagens, na escola e para além dela; a afirmação de sua identidade em relação ao coletivo no qual se inserem resulta em formas mais ativas de se relacionarem com esse coletivo e com as normas que regem as relações entre as pessoas dentro e fora da escola, pelo reconhecimento de suas potencialidades e pelo acolhimento e pela valorização das diferenças (BRASIL, 2018, p. 28). 9Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais De acordo com a BNCC, ao longo dos anos iniciais do ensino fundamental, [...] a progressão do conhecimento ocorre pela consolidação das aprendiza- gens anteriores e pela ampliação das práticas de linguagem e da experiência estética e intercultural das crianças, considerando tanto seus interesses e suas expectativas quanto o que ainda precisam aprender [...] (BRASIL, 2018, p. 53). Conforme o documento, há competências específicas de linguagens, língua portuguesa, arte, educação física, língua inglesa, matemática, ciências, entre outras. Entretanto, existem 10 competências gerais que “[...] consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento [...]” (BRASIL, 2018, p. 8). Para a proposta da BNCC, a competência é definida como a mobilização do conhecimento, que está relacionado com conceitos e procedimentos, e de habilidades práticas, cognitivas e socioemocionais. Também são incluídos valores e atitudes para resolver demandas complexas da vida cotidiana, para o pleno exercício da cidadania e a possibilidade de inserção no mercado de trabalho. A seguir, veja as competências gerais da educação básica, conforme a BNCC (BRASIL, 2018, documento on-line). 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, in- cluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mun- diais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens — verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital —, bem como conhecimentos das lingua- gens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimen- tos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais10 Com relação aos marcos legais que embasam a BNCC, tem-se, em pri- meiro lugar, a Constituição Federal (CF), que em seu art. 205 reconhece a educação como direito fundamental compartilhado entre Estado, família e sociedade: “[...] a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line). No art. 210, a CF reconhece a necessidade de fixação de conteúdos mínimos para o ensino fundamental “[...] de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line). Contudo, não é apenas a CF que apresenta embasamento legal para a condução do processo de escolarização no ensino fundamental. A LDB, no inciso IV de seu art. 9º, afirma que cabe à União: [...] estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum [...] (BRASIL, 1996, documento on-line). 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhe- cimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo- -se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhi- mento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. 11Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais Nesse artigo, evidenciam-se dois conceitos decisivos para o desenvolvimento da questão curricular no Brasil. Primeiro, a relação entre o que é básico comum e o que é diverso em matéria curricular; ou seja, competências e diretrizes são comuns, enquanto os currículos são diversos. Segundo, foco no currículo de forma que os conteúdos curriculares estejam a serviço do desenvolvimento de competências. Dessa forma, “[...] a LDB orienta a definição das aprendizagens essenciais, e não apenas dos conteúdos mínimos a ser ensinados. Essas são duas noções fundantes da BNCC [...]” (BRASIL, 2018, p. 11). Acesse a BNCC na íntegra e amplie o seu estudo sobre os marcos legais que a embasam. https://qrgo.page.link/ZfZEZ Por fim, a BNCC é um documento normativo que apresenta o conjunto das aprendizagens consideradas essenciais para serem desenvolvidas pelos alunos ao longo das diferentes etapas da educação básica. O documento teve a sua homologação em dois momentos, devido à aprovação da reforma do ensino médio. Na primeira etapa, foi homologada a BNCC para a educação infantil e o ensino fundamental; isso ocorreu em dezembro de 2017. A se- gunda parte, entretanto, teve sua homologação em dezembro de 2018, dessa vez para a etapa do ensino médio. Mesmo dividida nesses dois momentos, a BNCC representa um movimento único e aplicado a todas as etapas da educação básica. O objetivo desse movimento é atender às demandas da educação do presente e do futuro, com as suas exigências atualizadas. Ou seja, o contexto social, econômico, histórico e de mudanças tecnológicas está sendo trazido para a sala de aula de forma a preparar os estudantes para enfrentar as exigências impostas pela sociedade do século XXI. A ideia é que possam ser ativos socialmente e também que estejam habilitados para o mundo do trabalho, inclusive considerando as exigências do mercado de trabalho no futuro. Pense, por exemplo, na relação entre o trabalho e a comunicação; hoje, é emergente que as escolas tratem da comunicação em ambientes virtuais, incluindo a questão das linguagens de programação, por exemplo. Mas lembre-se de que a BNCC não é um currículo para ser implementado nas Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais12 escolas; na verdade, o documento apresenta um conjunto de orientações norteadoras voltado para as equipes pedagógicas como base para a elaboração dos currículos de acordo com as exigências de cada local. Evidentemente, essa questão faz emergirem algumas críticas, sobre- tudo com relação à formação dos docentes, às condições de trabalho dos professores, às condições estruturais das escolas e a tudo o que implica mudanças. Afinal, modificações pressupõem modernização dos processos de ensino e aprendizagem para o século XXI, mas, ao mesmo tempo, as condições básicas para a permanência de professores e alunos nas escolas são precárias. Pense nisso! BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 18 dez. 2019. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394. htm. Acesso em: 18 dez. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília: MEC, 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio: lin- guagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Brasília: MEC, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC, 1998. RANGEL, M.; MOCARZEL, M. S. M. V.; PIMENTA, M. F. B. A trajetória das competências e habilidades em educação no Brasil: das avaliações em larga escala para as salas de aula. Meta: Avaliação, Rio de Janeiro, v. 8, n. 22, p. 28–47, 2016. Leituras recomendadas LOPES, J. R.; ABREU, M. C. M.; MATTOS, M. C. E. Caderno do educador: alfabetização e letramento 1. Brasília: Ministério da Educação, 2010. (Programa Escola Ativa). SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 25, p. 5–17, 2004. 13Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Pressupostos para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais: o que dizem os documentos oficiais14
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