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0 Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 1 Organizadores Leonice Seolin Dias Paulo Nuno Maia de Sousa Nossa Regina Célia de Castro Pereira Marcelo Tenório Crepaldi Colaboradores Raul Borges Guimarães Paulo Cesar Rocha Biogeografia diversidade ecológica e saúde 1ª Edição ANAP Tupã/SP 2020 2 EDITORA ANAP Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003. Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã, São Paulo. CEP 17.605-310. Contato: (14) 99808-5947 www.editoraanap.org.br www.amigosdanatureza.org.br editora@amigosdanatureza.org.br Editoração e Diagramação da Obra: Leonice Seolin Dias; Sandra Medina Benini Revisão de Português: Smirna Cavalheiro Índice para catálogo sistemático Brasil: Geografia Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 3 Comissão Científica Prof. Dr. Adriano Amaro de Sousa – FATEC/Barueri Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa – UFVJM Profa. Dra. Ana Paula B. do Nascimento – USJT Profa. Dra. Andréa Aparecida Zacharias – FCT/UNESP Prof. Dr. Antonio Carlos Pries Devide – APTA/SAA Prof. Dr. Antonio Marcos dos Santos – UPE Prof. Dr. Carlos Eduardo Fortes Gonzalez – UTFPR Prof. Dr. Cesar Augusto Della Piazza – UFABC Prof. Dr. César Gustavo da Rocha Lima – UNESP Profa Dra. Cristina Veloso de Castro – UFMG Profa. Dra. Dayana Ap. M. de O. Cruz – IFSP/Registro Prof. Dr. Eduardo Salinas Chávez – UFMS/Un. de Havana Prof. Dr. Eduardo Vignoto Fernandes – UFG/Jataí Prof. Dr. Fábio Luciano Violin – UNESP Profa. Dra Fatima Ap. da Silva Iocca/UFSCAR Prof. Dr. Fernando Sérgio Okimoto – FCT/UNESP Prof. Dr. Frederico Braida Rodrigues de Paula – UFJF Profa. Dra. Geise Brizotti Pasquotto – UNESP Profa. Dra. Iracimara de Anchieta Messias – FCT/UNESP Profa. Dra. Janete Facco – Funcionário Público Prof. Dr. João Adalberto Campato Jr. – Univ. Brasil Prof. Dr. João Carlos Nucci – UFPR Prof. Dr. Jorge Sales dos Santos – UFPA Profa. Dra. Josinês Barbosa Rabelo – Asces/Unita Profa. Dra. Juliana H. P. Américo-Pinheiro – Univ. Brasil Profa. Dra. Kelly Cristina Tonello/UFSCAR Prof. Dr. Leandro Gaffo – UFSB Profa. Dra. Luciana Ferreira Leal – UNESPAR Profa. Dra. Marcia Ap. da Silva Pimentel – UFPA Profa. Dra. Marcia Eliane Silva Carvalho – UFS Prof. Dr. Márcio R. Pontes – SEQUOIA Profa. Dra. Maria Cristina Rizk – FCT/UNESP Profa. Dra. Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA Profa. Dra. Natalia Cristina Alves – Funcionário Público Profa. Dra. Nyadja Menezes R. Ramos – COMPESA Profa. Dra. Renata Morandi Lóra – IFES Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UFRGS Prof. Dr. Rodrigo Barchi – UNIB e UNISO Prof. Dr. Ronaldo Natalino Ciciliato – UNIP/Assis Profa. Dra. Sandra M. Alves da Silva Neves – UNEMAT Profa. Dra. Sílvia Carla da S. A. Uehara – UFSCar Profa. Dra. Thatiane Maria Souza de Araújo – UECE Prof. Dr. Vagner Zamboni Berto – IFPR/Curitiba Prof. Dr. Wagner Rezende – UFG 4 Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 5 Organizadores Leonice Seolin Dias Graduada em Ciências pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Tupã/SP (FAFIT). Habilitação em Biologia pelas Faculdades Adamantinenses Integradas de Adamantina/SP (FAI). Mestrados em Ciências Biológicas e em Ciência Animal e Especialização em Ciências Biológicas pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) e doutorado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP) de Presidente Prudente/São Paulo. Paulo Nuno Maia de Sousa Nossa Geógrafo, Doutorado em Geografia Humana pela Universidade do Minho (2005). É Prof. Auxiliar do Departamento de Geografia e Turismo da Universidade de Coimbra, Portugal. É Investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT). Diretor de Departamento e Diretor do Curso de Geografia da Universidade do Minho (2005 -2011), sendo Diretor do Curso de graduação em Geografia (2016…). Responsável por diferentes disciplinas na área da Geografia Humana (licenciatura, mestrado e doutoramento). Colabora regularmente com a Universidade Pedagógica de Maputo; Moçambique e com a Universidade Federal de Uberlândia, Brasil. Autor/coautor de 4 livros e de 21 capítulos de livros, 17 artigos em revistas nacionais/internacionais com arbitragem científica bem como 17 artigos em atas de reuniões científicas. Orientou 22 dissertações de Mestrado/Relatórios Estágio e coorientou 3 teses de doutoramento, 2 das quais em regime de cotutela com universidades Brasileiras. Regina Célia de Castro Pereira Possui graduação em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA (1996). Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas pela Universidade Federal do Maranhão (2006) e doutorado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – FTC/UNESP (2012). Atualmente é professora adjunto IV do Departamento de História e Geografia e Coordenadora Geral do Programa Ensinar de Formação de professores da Universidade Estadual do Maranhão. Marcelo Tenório Crepaldi Possui graduação em Geografia (bacharelado) pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestre em Geografia na área de concentração de Análise Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá (PGE/UEM) (2014). Atualmente é doutorando em Geografia pelo programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP) e membro do Laboratório de Biogeografia e Geografia da Saúde da FCT/UNESP, câmpus de Presidente Prudente/São Paulo. 6 Colaboradores Raul Borges Guimarães Licenciado e Bacharel em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1985), mestre e doutor em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP (1994 e 2000), Pós-doutorado na University of West of England (2001), Pós-doutorado na Faculdade de Saúde Pública da USP (2008), Livre Docente pela Faculdade de Saúde Pública da USP (2008). Professor Titular do Departamento de Geografia da UNESP de Presidente Prudente (FCT), onde coordena o Laboratório de Biogeografia e Geografia da Saúde. Membro do Centro de Estudos e Educação “Trabalho, Ambiente e Saúde” da FCT/UNESP. Bolsista Produtividade do CNPq. Paulo Cesar Rocha Possui graduação em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (1991), mestrado e doutorado em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) (1995/2002). Pós-Doutorado no PEA/UEM/School of Environmental Sciences/University of Liverpool (2015). Atualmente é professor Assistente Doutor da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Presidente Prudente/SP). Pesquisador 2 do CNPq. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 7 Sumário Prefácio 09 Apresentação 11 Capítulo 1 Distribuição geográfica do caracol gigante africano na América do Sul Renan Valério Eduvirgem; Maria Eugênia Moreira Costa Ferreira 15 Capítulo 2 Características morfométricas do caramujo africano (achatina fulica) em Manaus/AM – Brasil Michael Guimarães de Souza; Ana Mara Cruz Lachi; Adoréa Rebello da Cunha Albuquerque 27 Capítulo 3 Monitoramento de mamíferos como suporte para análise de Serviços Ecossistêmicos de Unidades de Conservação no Corredor Sudeste da Mata Atlântica do Estado de São Paulo Danilo Santos da Silva; Ana Cristyna Reis Lacerda 31 Capítulo 4 Aplicação do índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) no estudo do (Achatina fulica) em Manaus/AM – Brasil Michael Guimarães de Souza;Ana Mara Cruz Lach; Adoréa Rebello da Cunha Albuquerque 41 Capítulo 5 Dinâmica da vegetação na superfície de cimeira de Pinhão/Guarapuava no Quaternário Superior – Sul do Brasil Vitor Hugo Rosa Biffi; Karina de Cássia Gazola; Julio Cesar Paisani 45 Capítulo 6 Análise do padrão espacial do caramujo africano (Achatina fulica) na bacia hidrográfica de Educandos, Manaus/AM – Brasil Michael Guimarães de Souza; Adoréa Rebello da Cunha Albuquerque 59 Capítulo 7 Conservação e reabilitação de pinguins migratórios (Spheniscus magellanicus) nos litorais brasileiros Giorgio da Silva Grigio; Rute Britto do Nascimento; Vitor Florido Aragon; Armando Luís Serra 67 Capítulo 8 A biocenose de pombas e moscas domésticas: uma abordagem ecológica do ambiente antrópico Marcelo Tenório Crepaldi; Lucas de Castro Faria; Raul Borges Guimarães 79 Capítulo 9 A Epidemia de Dengue no Estado do Rio de Janeiro nos Anos de 2018 e 2019 Gabriel de Lima Germano; Denecir de Almeida Dutra; Ramon de Oliveira Bieco Braga 93 Capítulo 10 Biogeografia e Educação ambiental Marcio Moreira do Nascimento; Eva Teixeira dos Santos 101 8 Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 9 Prefácio Esta obra é dedicada a um tema que é cada vez mais importante no contexto das ciências sociais, mas também naturais, como é a relação entre a biogeografia e a saúde. Claro que quando se fala em saúde se pensa de imediato no estado de bem-estar humano, mas esta também pode ser atribuída ao “bem-estar” dos ecossistemas, ao seu equilíbrio. A história está cheia de fenómenos de difusão de organismos e de seres parasíticos que não respondem ao modo natural de se irem distribuindo pela superfície terrestre, ganhando ou perdendo território. Cada contacto de comunidades humanas com outras até então isoladas, corresponde a um carrear de espécies animais e vegetais, mas também de micro- organismos, capazes de perturbar quer os humanos quer os ecossistemas aí tocados. No caso dos humanos essa perturbação corresponde amiúde a doenças que tantas vezes foram dizimadoras de grande percentagem das pessoas afetadas. O crescimento e desenvolvimento das civilizações humanas processaram-se principalmente através das trocas comerciais entre os povos, mas também através das guerras entre si. Em todas elas havia contactos quer por terra quer por mar e com eles a difusão de organismos patogénicos que deram origem, episodicamente, a grandes epidemias, com origem, em regra, no próximo ou no extremo oriente do chamado Velho Mundo. Desde o início do século XVI os contactos passaram a incluir os povos de todo o globo com a descoberta, por parte dos europeus, das Américas. Foi a globalização moderna. No entanto, com eles foram a varíola, o sarampo, a gripe, e de lá trouxeram a sífilis. Já no século XX e desde África chegam o dengue e o HIV. A tentativa de replicação em determinada área de algo que é potencialmente rentável noutra é uma tentação que tem levado à distribuição antrópica de muitas espécies animais ou vegetais, as quais, por vezes, são portadoras de agentes patogénicos causadores de doenças nas pessoas. Um dos exemplos apresentados neste capítulo, os caracóis gigantes africanos, é ilustrativo desta realidade. Não obstante, a distribuição de espécies que fazem parte agora da dieta normal das pessoas em todo o mundo tem contribuído para a diminuição da fome e para o equilíbrio alimentar em muitas regiões que tradicionalmente se alimentavam de um número restrito de fontes nutritivas. 10 Com o acumular de nutrientes pelos humanos, há espécies animais oportunistas que aproveitam essa circunstância, como é aqui mostrado com as pombas e as moscas domésticas, mas também se podia falar dos ratos, todos potenciais transmissores de doenças aos humanos. A milenar atividade humana na superfície da terra, com acentuação depois da Revolução Industrial, tem degradado a saúde dos ecossistemas de tal modo que se pode manifestar, por exemplos aqui discutidos, através da diminuição dos pinguins de Magalhães, migrantes nas costas do Brasil, como da fragmentação da Mata Atlântica, criando dificuldades à manutenção de mamíferos de grande porte e dos serviços dos ecossistemas. Estes casos, como tantos outros ao longo da história, por razões económicas ou estéticas, são exemplos perfeitos para mostrar como a biogeografia é um dos ramos da ciência que melhor permite fazer uma educação ambiental. A difusão dos cereais, da batata, do tomate e de árvores de fruto variadas tem sido feita para as áreas onde as condições ecológicas o permitem. De igual modo, espécies industriais viram a sua área de distribuição altamente aumentada, como é o caso dos eucaliptos. As razões estéticas muitas das vezes não passam de uma demonstração de poder ou de sucesso na vida conseguido em outras paragens e isso pode ser mostrado pela introdução de espécies vegetais exóticas. Assim se proliferaram as palmeiras e as acácias pela Europa do Sul. Um dos artigos mostra como a composição dos ecossistemas numa determinada região não é estática ao longo do tempo geológico, mesmo que seja recente como o período Quaternário. A superfície da Terra e a sua roupagem, seja em que ponto for, muda com as mudanças exteriores aos seres vivos, mas também com as mudanças interiores destes. A biogeografia é dinâmica, mesmo que neste momento possa estar quase a paralisar o mundo como acontece com a proliferação rápida, à medida da rapidez da deslocação das pessoas, de um ser que nem autonomia tem, precisando de células para se multiplicar, já que fica inerte sem elas, que é o novo coronavírus. Enfim, malhas que a Natureza tece… Coimbra, 16 de novembro de 2020 Dr. António Campar de Almeida Professor no Departamento de Geografia e Turismo, Universidade de Coimbra/Portugal. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 11 Apresentação A presente publicação resulta de uma importante parceria realizada pela Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista (ANAP) e pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia – Mestrado Profissional – Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia/Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), Presidente Prudente/São Paulo, que, em situações sanitárias adversas, organizou e concretizou o I Simpósio Brasileiro de Biogeografia (online), cujos principais trabalhos são agora divulgados. A partilha e discussão de informação científica online é uma consecução técnica notável, que se tornou imperativa num contexto de pandemia global causada pelo SARS-CoV2, através da eclosão e difusão, sem precedentes, de mais um vírus zoonótico emergente, que a viagem e a globalização tornaram pandémico num intervalo de tempo extremamente curto. Esta tipologia de riscos, que nos impõe severas restrições de acessibilidade e sociabilidade, para além da suspensão de direitos, acrescenta maior gravidade e ameaça ao denominado contexto do Antropoceno, designação consolidada por P. Crtuzen e F. Stoermer, em reconhecimento do elevado impacte gerado pelas atividades humanas sobre os sistemas naturais de regulação da terra, que têm como principal característica o aumento de concentrações crescentes de dióxido carbono e metano na atmosfera global (Crtuzen, 2002), com implicações diretas e/ou indiretas no que vulgarmente se designam por alterações climáticas. O uso quase irrestrito dos recursos naturais, muito para além da sua capacidade de regeneração, a globalização das trocas e dos padrões de consumo, as fragilidades nas políticas dos 3r´s (reduzir, reutilizar e reciclar), cumulativamente, parecem empurrar o Planeta para um perigoso ponto de não retorno, impondo elevadas perdas de biodiversidade, através da destruição de habitats, poluição e proliferação de espécies invasoras. A subida do nível médio dos oceanos poderá fazer desaparecer importantes elementosde fauna e flora característicos de zonas húmidas, reduzindo o número e a diversidade de seres vivos capazes de se adaptar, nomeadamente repteis e anfíbios. A destruição massiva de floresta(s) evidencia impactos inegáveis sobre o clima, modificando a alternância das estações do ano, associadas a contextos de seca prolongada, aos quais 12 se juntam violentos incêndios florestais, como os recentemente observados na Austrália e nos EUA, a crescente escassez de água e um preocupante cenário de crescente incidência e prevalência de doenças emergentes e (re)emergentes relacionadas com as mudanças climáticas e invasão de ecossistemas. Tal como sublinhou no início do século XXI (2007) o Secretário Geral das Nações Unidas no Dia internacional para a Biodiversidade (22 de maio), a diversidade biológica é a base da vida na terra e um dos pilares imprescindíveis para um desenvolvimento sustentável. Sabe-se que os ambientes com maior riqueza biológica são mais resilientes à pressão e regeneram-se de uma forma mais rápida após um evento catastrófico. Isto adquire maior significado para as populações mais pobres, quase sempre atingidas de modo mais severo por fenómenos extremos, cuja frequência ameaça a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). De acordo com o World Disaster Report (Cruz Vermelha Internacional, 2020), os fenómenos climáticos extremos, sejam ondas de frio, calor ou inundações, geraram 410 mil mortos na última década, colocando as alterações climáticas como o maior desafio global do planeta, representando 83% do todos os desastres ocorridos entre 2010 e o presente. Tendo consciência da urgência e relevância de um debate científico sério e informado, a Organização do evento providenciou a apresentação e discussão de trabalhos inscritos em 9 eixos temáticos: • Biogeografia e a Paisagem • Biogeografia e as Mudanças Climáticas • Biogeografia e a Educação Ambiental • Biogeografia e Saúde • Biogeografia Histórica • Biogeografia e Conservação • Biogeografia e Agronegócio • Biogeografia e Agroecologia • Biogeografia e SAFs. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 13 Os trabalhos com melhor pontuação são agora apresentados nesta obra que cumpre a dupla tarefa de difundir e problematizar informação cientificamente relevante, contribuindo para um reforço de educação científica e de cidadania, aprendizagens que são imprescindíveis no atual contexto de fragilidade informativa. Assim, os leitores desta obra poderão encontrar capítulos associados à variação da distribuição e monitorização de espécies de fauna e flora, conservação e reabilitação de habitats litorâneos, pressionados antropicamente pelo agronegócio, pela exploração de inertes e hidrocarbonetos, pelo truísmo entre outros. Por último, uma palavra de esperança, destacando o importante papel que a Biogeografia detém na educação ambiental. Como sublinha António Coutinho, um dos mais influentes imunologistas, com mais de 30 000 citações no domínio da biomedicina: «O alargamento da Ciência e Educação a todos será sempre a melhor estratégia para encontrar a diversidade dos talentos necessários à resolução dos problemas de todos nós.” (Professor António Coutinho). A publicação desta obra testemunha o contributo da ANAP para melhorar o conhecimento e educação no Brasil e no contexto dos falantes de língua portuguesa. Coimbra, 25 de novembro de 2020 Dr. Paulo Nuno Maia de Sousa Nossa Professor na Universidade de Coimbra/Portugual. 14 Terra e Vida evoluem juntos Leon C. M. Croizat Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 15 Distribuição geográfica do caracol gigante africano na América do Sul Renan Valério Eduvirgem1; Maria Eugênia Moreira Costa Ferreira2 INTRODUÇÃO O Filo Mollusca compreende animais que compõem o grupo dos invertebrados, ao qual se enquadram os caracóis e lesmas. Os caracóis são gastrópodes caracterizados por corpo macio, cabeça e pé achatado. A espécie Achatina fulica Bowdich (1822) faz parte deste filo (Figura 1). Figura 1 – Achatina fulica Bowdich (1822) Fonte: Autores (2019). A espécie de caracol Achatina fulica é popularmente conhecida como caramujo gigante africano e originária das bordas do leste das florestas africanas (PILSBRY, 1904; BEQUAERT, 1950). Esse molusco não ficou restrito ao continente africano, de modo que foi disseminado para diversos continentes da Terra, principalmente na América do Sul, pelos fatores físicos que favoreceram a sua rápida reprodução e adaptação. A temperatura, precipitação, entre outros fatores do clima e relevo, também favorecem a adaptação de Achatina fulica (BARKER, 2002; EDUVIRGEM, 2018; EDUVIRGEM; FERREIRA, 2018, 2019; FERREIRA, 2019; GHOSE, 1984; RAUT; RAUT; SARMA; MUNSI; ANANTHRAM, 2015;) 1Doutorando em Geografia na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá/PR, Brasil. Professor colaborador na Universidade Estadual do Centro-Oeste/Campus de Guarapuava/PR. E-mail: georenanvalerio@gmail.com 2Doutora, professora associada nível A na UEM, Maringá/PR, Brasil. E-mail: eugeniaguart@gmail.com 16 Mas a grande questão é: Como o caracol gigante africano se desloca por meio de um oceano e chega à América do Sul? Será que foi sozinho? Com certeza, não. Assim, pode-se atribuir este feito do transporte aos atores que promovem as ações antrópicas, o ser humano, e principalmente as navegações. No século XXI o caracol gigante africano não é opção de alto consumo do cardápio da população da América Latina, pela falta de hábito da população em massa. Entretanto, nem sempre foi assim, principalmente nos períodos de guerra. Segundo com os estudos de Lever (1994), Johnson e Johnson (1956 apud PATERSON, 2000, p. 1) no que tange a Achatina fulica: Outras introduções da espécie foram deliberadas e estão documentadas, por exemplo, o Exército Imperial do Japão foi responsável por difundir o caramujo gigante africano (Achatina fulica) em toda a área do Pacífico durante a II Guerra Mundial como um alimento para as tropas. (LEVER, 1994; JOHNSON; JOHNSON, 1956 apud PATERSON, 2000, p. 1, tradução nossa). Assim, nota-se que o caracol gigante africano foi fundamental para a sobrevivência dos guerrilheiros durante a Segunda Guerra Mundial. O molusco possivelmente foi a única e, talvez, a melhor opção alimentar encontrada no crítico cenário da guerra, em que a escassez de alimentos foi iminente, ocorrendo a distribuição e disseminação da espécie para fora do continente de origem. Com o passar das décadas a dispersão do caracol gigante africano ocorreu de forma rápida em diversas partes da Terra, sendo impulsionada com a globalização de modo que os meios de transporte também evoluíram, fomentando a disseminação desta espécie nativa do continente africano, embora no restante do mundo essa espécie de caracol é uma espécie exótica invasora. No que tange às Américas, a “introdução e distribuição desse molusco em países do continente americano ocorreram, provavelmente, na década de 30” (VASCONCELLOS; PILE, 2001, p. 583). Este trabalho tem como objetivo promover a espacialização do caracol gigante africano na América do Sul. METODOLOGIA Desenvolveu-se primeiramente a revisão bibliográfica abordando os temas referentes ao caracol gigante africano na América do Sul, em sites governamentais, livros, periódicos, dissertações e teses. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 17 A segunda etapa foi pautada na organização das fontes por países da América do Sul, que constavam a ocorrência e identificação da espécie de caracol gigante africano. Esta organização pode ser visualizada no Quadro 1. Quadro 1 – Fontes que descreveram as ocorrências do caracol gigante africano na América do Sul País Fonte Ano da publicaçãoArgentina Correoso; Coello 2009 Gutiérrez Gregoric et al. 2011 Bolívia Gutiérrez Gregoric et al. 2013 Teles et al. 1997 Vasconcellos; Pile 2001 Raut; Barker 2002 Smith 2005 Thiengo et al. 2007 Oliveira et al. 2012 Oliveira; Corrêa; Vasconcelos 2013 Eduvirgem; Ferreira 2018 Lima; Guilherme 2018 Eduvirgem; Ferreira 2019 Colômbia Borrero et al. 2009 Pereira et al. 2016 Equador Correoso Rodríguez 2005 Correoso Rodríguez 2006 Borrero et al. 2009 Correoso; Coello 2009 Guiana The Environmental Protection Agency 2011 Guiana Francesa Correoso; Coello 2009 Paraguai Paraguay Biodiversidad 2010 Peru Borrero et al. 2009 Correoso; Coello 2009 Suriname Correoso; Coello 2009 Venezuela Martínez-Escarbassiere; Martínez Moreno 1997 Martínez-Escarbassiere; Martinez e Castillo 2008 Elaboração: Autores (2018). Essa organização é fundamental para organização sequenciada, pois deste modo é possível correlacionar a existência do caracol gigante africano em cada país, Estado, província e cidades. Assim, relacionam-se os espaços geográficos de cada território em que foi identificada a existência de A. fulica na América do Sul e as áreas com maior e menor infestação da espécie exótica. 18 A última etapa foi a elaboração do mapa da distribuição geográfica, cujas informações levantadas por meio das fontes científicas foram convertidas na identificação dos territórios nos quais foram encontrados A. fulica, no espaço geográfico da América do Sul. Desse modo, foram identificados somente os países em que consta a presença do caracol gigante africano, e não o ponto específico onde o mesmo foi encontrado, pois nas informações de alguns países constavam as informações exatas com as coordenadas dos locais nos quais foram encontrados os caracóis, entretanto, outras fontes constavam apenas o nome do país, com a ausência de mais informações. O caracol gigante africano na América do Sul Na América do Sul, o caracol gigante africano foi inserido e disseminado por quase todo o continente, com exceção do Chile, Uruguai e Ilhas Falklands (Malvinas). Desse modo tem-se a ocupação do molusco nos países: Venezuela, Suriname, Peru, Paraguai, Guiana Francesa, Guiana, Equador, Colômbia, Brasil, Bolívia e Argentina (Figura 2). Figura 2 – Províncias e Estados com ocorrência de Achatina fulica na América do Sul Elaboração: Eduvirgem (2018). Caracol gigante africano na Argentina O molusco está presente no território argentino no extremo noroeste da Província de Missiones, na cidade de Puerto Iguazú, nas coordenadas 25° 36’ 00.0”S e 54° 35’ 00.0”W (GUTIÉRREZ GREGORIC et al., 2011; GUTIÉRREZ GREGORIC et al., 2013). Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 19 A cidade de Puerto Iguazú faz fronteira com o Paraguai e Brasil, formando a tríplice fronteira, cercada por áreas protegidas como o Puerto Península Provincial Park, o Urugua-í Províncial Park em território argentino e o Parque Nacional Iguaçu. Essas áreas possuem características biogeográficas e climáticas que proporcionam ao caracol gigante africano condições ideais para seu estabelecimento e desenvolvimento, tais como temperatura e umidade. Todavia, com a tríplice fronteira não é fácil identificar qual o meio de seu surgimento no território argentino, se foi introduzido ou disseminado de territórios vizinhos. Não obstante, Gutiérrez Gregoric et al. (2011, p. 2) salientam que: Embora não seja possível determinar o agente da introdução desta espécie na Argentina é nítida a ligação com a pesca. O uso de caracóis como isca de pesca é uma prática frequente e A. fulica pode ter sido liberado do Brasil acidentalmente por pescadores no rio Paraná e rio Iguazú (próximo à cidade de Puerto Iguazú). A densidade de A. fulica sugere população estável. Os moradores relataram que a espécie surgiu há cerca de três anos. (GUTIÉRREZ GREGORIC et al., 2011, p. 2, tradução nossa). Assim, fica evidente que as atividades antrópicas foram imprescindíveis para a inserção e estabelecimento do molusco no território argentino, de modo que o caracol é utilizado como isca para pesca, no entanto, disseminou-se no ambiente urbano. Gutiérrez Gregoric et al. (2013) afirmaram em seus estudos que A. fulica foi encontrado em atividade diurna e localizado em paredes, postes, telhados de residências, árvores e troncos, embora a atividade desta espécie seja frequente nos finais de tarde e à noite. Os autores ainda denotaram que A. fulica é encontrado na cidade de Puerto Iguazú em elevadas densidades, principalmente no âmbito doméstico. Caracol gigante africano na Bolívia Na Bolívia, a inserção do caracol gigante africano também se deu de maneira antrópica, como foi evidenciado nos estudos de Correoso e Coello (2009, p. 4): Todas as fontes indicam que em nível regional continua a expansão do caracol exótico rapidamente. Encontraram-se vendedores de Achatina fulica em La Paz, Bolívia, no ano de 2009. É primordial investigar no futuro a localização, número e as características de criação das espécies de caracóis tanto dentro como fora do país. Se houver colonização em áreas naturais deve-se implementar estratégias, medidas sanitárias e educação ambiental. (CORREOSO; COELLO, 2009, p. 4, tradução nossa). Com isso fica evidente que o ser humano novamente foi o responsável pela inserção desta espécie exótica. Entretanto, diferente da Argentina, em que o principal uso foi a utilização do molusco como isca para a pesca, no território boliviano o fator foi a mercantilização do caracol gigante africano. 20 Caracol gigante africano no Brasil A introdução de A. fulica no Brasil ocorreu com o propósito da mercantilização, ou seja, o cultivo e comercialização de “escargots”, na década de 1980 (VASCONCELLOS; PILE, 2001). Thiengo et al. (2007, p. 693) complementam afirmando: No Brasil, essa espécie provavelmente foi trazida da Indonésia e introduzida pelo Estado do Paraná na década de oitenta para fins comerciais (''Escargot"), todavia, a estratégia não foi bem-sucedida. Achatina fulica está presente em pelo menos 23 dos 26 Estados e no Distrito Federal, incluindo a região amazônica e reservas naturais. Com a falta de sucesso da comercialização da espécie, os caracóis foram soltos no ambiente, causando danos não somente para a economia, mas também para a saúde humana. Achatina fulica ocorre em densas populações em áreas urbanas onde é uma praga em jardins e na agricultura de pequena escala. (THIENGO et al., 2007, p. 693, tradução nossa). Com o desenvolvimento de novas pesquisas sobre A. fulica, atualmente confirmou-se ocorrência da espécie no Amapá e Acre (LIMA; GUILHERME, 2018; OLIVEIRA et al., 2012; OLIVEIRA; CORRÊA; VASCONCELOS, 2013). Por tal fato, a espécie exótica está presente em todo o território nacional. As preferências de ocupação do ambiente pelo molusco são idênticas às que ocorrem nos demais países da América do Sul, ambientes urbanos, jardins vegetais, ornamentais e agricultura. Com relação à distribuição e espacialização do caracol gigante africano no território brasileiro, Thiengo et al. (2007, p. 695-696) realizaram síntese com amostras de oito Estados, representando as cinco regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro- Oeste, Sudeste e Sul) com base do Museu Nacional da Universidade do Rio de Janeiro (MNJR) e também os estados com maior infestação: Amostras de oito Estados representando as cinco grandes regiões do Brasil (Sul, Sudeste, Norte, Nordeste, Centro-Oeste) tenham sido depositadas como vales no levantamento malacologia da coleção do Museu Nacional da Universidade do Rio de Janeiro (MNRJ), como segue (MNRJ números de catálogo): Angra dos Reis, 10340; Belford Roxo, 10361; Bragança Paulista, 10365; Carpina, 10587; Chapada dos Guimarães, 10366; Duque de Caxias, 10359; Itaperuna, 10350; Guaraqueçaba, 10588; Lagarto, 10589;Magé, 10388; Manaus 10590; Maranguape, 10346; Marica, 10352; Niterói, 10362; Nobres, 10339; Nova Friburgo, 10347; Nova Iguaçu, 10371; Paracambi, 10356; Rio das Ostras, 10349; Rio de Janeiro, 10345, 10348, 10353, 10354, 10355, 10358, 10363; Saquarema; Silva Jardim, 10357; Várzea Grande, 10343; Vitória, 10344. [...] Os Estados com maior número de municípios infestados estão localizados no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil, nos Estados de Goiás (75 municípios), São Paulo (69), Paraná (66), Rio de Janeiro (57), Mato Grosso (38), Espírito Santo (23) e Minas Gerais (20). O menor número de municípios infestados de outros Estados pode refletir em parte a falta de prospecções orientadas bem como um verdadeiro nível inferior de infestação. (THIENGO et al., 2007, p. 695-696, tradução nossa). Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 21 Neste contexto faz-se necessário investigar os motivos com todas as variáveis possíveis no tange ao questionamento que fica a refletir: Quais os motivos para que parte dos Estados brasileiros possua alto índice de infestação e outros um índice muito inferior? Deste modo os estudos com relação à distribuição e disseminação geográfica do molusco devem ser averiguados e mapeados detalhadamente. Em estudo realizado em Maringá, Paraná, Eduvirgem e Ferreira (2018) realizaram o mapeamento do caracol gigante africano na zona urbana e promoveram correlações para identificar os fatores ambientais que favorecem a permanência e reprodução da espécie exótica. Os autores identificaram que o solo, temperatura, umidade, insolação, sombreamento e facilidade alimentícia condicionam a sobrevivência do molusco. Eduvirgem e Ferreira (2019) realizaram estudo da espécie exótica relacionada com a temperatura média do ar e concluíram que os meses mais propensos à atividade de A. fulica em Maringá são novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março. Caracol gigante africano na Colômbia De acordo com os estudos de Borrero et al. (2009), o molusco foi visto no território colombiano. A afirmação foi feita por meio de uma comunicação pessoal na qual foi relatado que a espécie invasora foi vista em Fusagasugá, uma área rural nas proximidades de Bogotá. A provável suspeita é que o molusco tenha escapado de uma fazenda de criações de caracóis, uma vez que na região é comum a criação de gastrópodes. O caracol gigante africano também está presente no território colombiano no município de Bucaramanga, no Parque Ecológico la Flora. O molusco não está restrito neste território somente em ambientes rurais e florestais, pois foi encontrado em ambientes urbanos, no município de Florida Blanca, Santander, Colômbia (PEREIRA et al., 2016). Caracol gigante africano no Equador Há cerca de vinte anos foram introduzidos caracóis em fazendas localizadas em vales e, principalmente, em planaltos equatorianos, onde apresentam temperatura ideal para a reprodução de caracóis, estando entre 17 e 25 °C, com longos períodos de luz solar e pH adequado para o crescimento dos mesmos. Essas considerações foram realizadas nos estudos de Borrero et al. (2009), nos quais os autores citam a organização CORPEI, privada e sem fins lucrativos, reconhecida pelo governo equatoriano. 22 Borrero e Coello (2009), em estudo de campo, conseguiram fotografar, em março de 2008, o caracol gigante africano. Neste período não havia certeza de que o caracol gigante africano estava presente no Equador, pois havia espécies de caracóis com características semelhantes. O caracol foi localizado nas proximidades de Mindo, Província de Pichincha, no Equador. Entretanto, esses os autores afirmam que a primeira vez o caracol gigante africano foi confirmado neste território foi no ano de 2005. Os moluscos foram encontrados com uma senhora, que cuidava dos caracóis como animais de estimação. Com as fotografias mais fontes tornou-se possível identificar a espécie como sendo realmente o caracol gigante africano. Não obstante: Na realidade, a presença do caramujo gigante africano no Equador foi mencionada em duas ocasiões anteriores e uma estratégia de controle preliminar tinha sido formulada (CORREOSO, 2006). No entanto, uma vez que o âmbito destes relatórios não foi biológico, permaneceram despercebidos. (BORRERO et al., 2009, p. 1, tradução nossa). Deste modo fica evidente que os órgãos governamentais são fundamentais nos planos de ações, no que tange não somente às ações preventivas, mas também às soluções e erradicações. Todavia, quando alguns dos agentes governamentais ou a população não coopera, o êxito pode não ser atingido. Frequentemente, o caracol gigante africano é “demonizado” por alguns órgãos governamentais e também pela população e, em muitas ocasiões, são tratados com todo o cuidado possível, podendo até mesmo ser de estimação, como foi identificado. Diante do exposto é possível perceber que o caracol gigante africano foi inserido no Equador com o propósito de mercantilização, segundo Borrero et al. (2009), que afirmaram ser este foi o motivo da inserção do molusco neste território. Rodriguez (2006) afirma que inserção do molusco ocorreu também pelo incentivo televisivo, pois a utilização da espécie serviria para remover manchas de pele. Todavia, não seria somente o gigante africano, mas também de outras espécies, uma vez que em 2001 havia no Equador mais de 1.300 fazendas de criação de caracóis. Ter o controle de todos esses criadouros de caracóis é uma tarefa complexa, caso haja fuga ou uma evasão dos caracóis para o ambiente, o que se torna prejudicial à malacofauna nativa e para a saúde humana na condição de os caracóis estarem contaminados; para a agricultura, perdas constantes de parte da produção, pois A. fulica se alimenta vorazmente. Segundo os estudos de Correoso Rodríguez (2005; 2006), algumas províncias da costa equatoriana, principalmente na Província de Esmeraldas, A. fulica é encontrado em grande escala. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 23 Correoso e Coello complementam as localidades em que o caracol gigante africano está presente no Equador: [...] Esmeraldas, Guayas, El Oro e Manabí e Los Ríos, na Sierra e Santo Domingo de los Tsachilas de Bolívar e relatos isolados em Pichincha. Locais: Quinindé, Puerto Quito la Independencia Echeandía, El Empalme, Tenguel, Santo Domingo, Barrio Echanique, Cooperativa 2 de Mayo, Cooperativa 9 de Diciembre, Barrio Magisterio, Parroquia Espíritu Santo, Parroquia Patricia del Pilar-Sector6, Parroquia Luz América-Colegio Técnico Agropecuario, Balsas, Babahoyo, Tarifa, Vía Quevedo (Hacienda WKM), Recinto “El Cristal” , Hacienda Martha Cecilia, Quinsaloma, Zapotal (Ventanas), Buena Fe, Ricaurte. (CORREOSO; COELLO, 2009, p. 7, tradução nossa). Diante do exposto é notório que o caracol gigante africano está amplamente disseminado no Equador, estando presente nos ambientes urbano, suburbano, rural e florestal. Caracol gigante africano na Guiana, Guiana Francesa, Paraguai e Suriname A espécie A. fulica está presente na Guiana, onde o molusco foi reportado pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) no Projeto de Atividade de Habitação de Biodiversidade (BEAP), onde o produto resultante foi intitulado Avaliação das Necessidades de Construção de Capacidades: Espécies Estrangeiras Invasoras na Guiana, desenvolvido em 2011. Nessa avaliação foi denotada a existência do caracol gigante africano no território da Guiana, entretanto, são poucas as evidências e localidades. Na Guiana Francesa e Suriname o caracol gigante africano foi mencionado por Correoso e Coello (2009), em uma citação de Borrero et al. (2009). No Paraguai, A. fulica foi descrito pelo Paraguai Biodiversidade (2010), um site governamental, que evidencia a existência do molusco no Sul do país, nas proximidades da divisa com o território argentino, salientando que o primeiro registro do caracol giganteafricano foi em março de 2010. O caracol gigante africano também está presente no Peru, onde foi identificado nos estudos de Borrero et al.: […] Por último, a ocorrência da espécie em outro país da Comunidade Andina foi confirmada pelo achado de espécimes vivos em Ayabaca, departamento de Piura, norte do Peru (VM, voucher do museu de Leiden). Os animais foram adquiridos a partir de um revendedor, que afirmou que a origem era de Pucallpa, Departamento de Ucayali, no leste do Peru. (BORRERO et al., 2009, p. 7, tradução nossa). Percebe-se então que nem mesmo os países andinos estão livres do caracol gigante africano, independente das diversas variações físicas que compõem o ambiente. 24 Caracol gigante africano na Venezuela No território venezuelano A. fulica foi visto pela primeira vez em um jardim residencial na cidade de Caracas. Nas proximidades havia um local de comercialização de caracóis (MARTÍNEZ-ESCARBASSIERE; MARTÍNEZ MORENO, 1997). Desse modo, há possibilidade de o caracol ter se locomovido até a residência, uma vez que caracóis jovens locomovem-se um quilômetro ao ano (TOMIYAMA; NAKANE, 1993). O caracol gigante africano aparece novamente no século XXI, nos anos de 2002 e 2003 conforme relatam os estudos de Martínez-Escarbassiere, Martinez e Castillo (2008): Essa espécie foi observada novamente em 2002, na cidade de Guanare, Estado Português. Em 2003, ampliou sua área de distribuição no sul do Estado de Delta Amacuro, na região do Cano Basama perto da Reserva Florestal de Imataca; em uma cultura de feijão (Phaseolus vulgaris), em Bobare (Estado de Lara); em uma plantação de cacau (Theobroma cacao) ao sul da cidade de Carúpano (Estado de Sucre), e nas proximidades de Caripito (Estado de Monagas). Também foi confirmada presença em outros locais como a Ilha de Margarita Nueva Esparta (Estado); o limão (Estado de Aragua); bem como nos Jardins Botânicos e Paraíso, ambos localizados na cidade de Caracas. (MARTÍNEZ-ESCARBASSIERE; MARTINEZ; CASTILLO, 2008, p. 2, tradução nossa). Percebe-se que A. fulica disseminou-se por diversas cidades, mas preferencialmente se instalando em propriedades rurais, com culturas de feijão e cacau, no entanto, o caracol gigante africano também foi encontrado em Jardim Botânico, ambientes urbanos, áreas de montanhas e florestas. Estabelecer de qual maneira ocorreu a entrada de A. fulica na Venezuela é um desafio não somente para esse país, mas também para a maior parte dos países da América do Sul. Conseguir identificar o meio de entrada e os pontos de maior concentração pode auxiliar no controle da espécie exótica em todo o continente sul-americano. CONCLUSÃO O caracol gigante africano está distribuído por quase todo o território da América do Sul. Neste estudo não foi identificado essa espécie de molusco nos territórios do Chile, Uruguai e Ilhas Falklands (Malvinas). O estudo também permitiu identificar que há variação na intensidade de infestação, de modo que há países com maior e outros com menor grau de infestação do molusco. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 25 Identificaram-se cidades, Estados, províncias e países com ocorrência do molusco, tais como Suriname, Paraguai, Guiana Francesa, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Brasil, Bolívia e Argentina. Alguns desses países possuem influência da corrente fria de Humboldt e elevadas altitudes, que são características não favoráveis para A. fulica. Assim, constata-se a adaptabilidade e evolução biológica do caracol no espaço geográfico da América do Sul. AGRADECIMENTOS Agradecimentos à Fundação CAPES pela concessão da bolsa que permitiu realizar este estudo; agradecemos também ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá por todo apoio e incentivo. REFERÊNCIAS BEQUAERT, J. C. Studies on the Achatinidae, a group of African landsnails. Bulletin of the Museum of comparative Zoology, v. 105, n. 1, p. 1-216, 1950. BORRERO, F. J.; BREURE, A. S.; CHRISTENSEN, C. et al. Into the Andes: three new introductions of Lissachatina fulica (Gastropoda, Achatinidae) and its potential distribution in South America. Tentacle, v. 17, p. 6-8, 2009. CORREOSO RODRÍGUEZ, M. 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Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 27 Características morfométricas do caramujo africano (Achatina fulica), Manaus/AM – Brasil Michael Guimarães de Souza3; Ana Mara Cruz Lachi4; Adoréa Rebello da Cunha Albuquerque5 INTRODUÇÃO O processo de introdução de uma nova espécie em um ambiente externo ao de sua origem geográfica pode desencadear a disseminação desta espécie, por fatores como a inexistência de predadores naturais ou o favorecimento de um ambiente propício à sua sobrevivência. Essa introdução pode ocorrer por meios econômicos, quando a espécie nativa é substituída por outra na busca por maior produtividade comercial, ou, ainda, acidentalmente, pelo transporte de mercadorias ou deslocamento de pessoas. Dessa forma, pode-se levar à extinção as espécies nativas, intensificarem-se os prejuízos econômicos e os problemas de saúde pública. Para Colley (2012, p. 2), “o Achatina fulica, popularmente conhecido por “caramujo africano”, é considerado uma das cem piores espécies invasoras do planeta, pois representa uma ameaça à saúde pública, à agricultura e aos ecossistemas”. Considerado uma praga agrícola por promover grandes prejuízos aos cultivos e às lavouras, além de ser considerado um grave risco à saúde pública por ser hospedeiro intermediário de nematódeos como Angiostrongylus cantonensis, que pode levar à morte por meningite eosinofílica ou angiostrongilíase cerebral. Em áreas urbanas, seu hábitat são terrenos baldios, próximos a depósitos de lixo com vegetação expressiva em áreas periúmidas. OBJETIVOS Compreender o ciclo biogeográfico do caramujo africano na cidade de Manaus/AM, suas características morfométricas e a sua distribuição espacial, no contexto de análise espaço e saúde em Manaus. 3Graduado em Geografia. Mestrando em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM)/AM. E-mail: radgeo_michael@yahoo.com.br 4Graduada em Geografia. Mestranda em Geografia pela UFAM/AM. E-mail: mara2lachi@gmail.com 5Doutora em Geografia Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)/RJ. Professora adjunta da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: adorea27@yahoo.com.br 28 METODOLOGIA O presente estudo foi realizado a partir de levantamentos e revisão do referencial teórico baseado em bancos de dissertações, teses e artigos científicos. Além do levantamento bibliográfico, a pesquisa de campo e a coleta de indivíduos foram realizadas. Os levantamentos e registros in loco tiveram como objetivo identificar e georreferenciar as áreas de ocorrências do Achatina fulica para posterior mapeamento desses geótopos na cidade de Manaus. As medições morfométricas foram obtidas com o auxílio de um paquímetro Analógico Universal 150 mm/6" – 0,02 mm/.001"pol com precisão de ± 0,05 mm, considerando o maior comprimento da concha (do ápice até a borda) da espécie. A determinação das classes de tamanho foi realizada de acordo com a classificação proposta por Tomiyama (2002). RESULTADOS No que se refere à ocorrência da espécie na área urbana de Manaus, tornou-se possível identificar cinco tipos de geótopos onde as características do ecossistema natural estão muito alteradas. Essas unidades de geótopos são apresentadas a seguir: a) lixeiras delimitadas por faixas de cobertura vegetal no entorno; b) bordas de fragmentos florestais urbanos; c) margens de rios urbanos não canalizados; d) terrenos baldios com acentuada vegetação; e) encostas com declive acentuado e diferentes graus de cobertura vegetal. Durante as pesquisas de campo verificou-se que a vegetação exerce importante papel no controle da temperatura e da umidade nas áreas associadas aos geótopos. Denota-se este tipo de influência por meio da sobrevivência do molusco, relacionada ao fornecimento de abrigo contra radiação solar e à fonte de alimento e nutrição. No caso de Manaus, o Achatina fulica só sobrevive se abrigado pela cobertura vegetal e mediante a ocorrência de precipitação. Esses elementos são condicionantes para esta espécie de molusco manter-se viva. Contudo, o caramujo africano hoje está presente em todas as zonas de Manaus, onde se faz necessário um estudo mais detalhado para encontrar possíveis pontos de disseminação da espécie por bairro. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 29 Características morfométricas dos indivíduos coletados Segundo Rocha (2013, p. 21), morfometria geométrica está sendo utilizada em estudos de diversos animais (vertebrados e invertebrados), consistindo em uma ferramenta de estudos não só de sistemática e filogenia, como também de variabilidade geográfica, variabilidade das relações inter e intraespecíficas, estudos ecomorfológicos e paleontológicos. As medições morfométricas foram adquiridas com auxílio de um paquímetro, com precisão de 0,05 mm, considerando o maior comprimento da concha (do ápice até a borda). A determinação das classes de tamanho foi realizada de acordo com a classificação proposta por Tomiyama (2002, p. 10), que considera juvenis os caramujos com conchas de 1,0 a 4,0 cm; jovens os indivíduos com conchas de 4,0 a 9,0 cm e adultos aqueles com conchas acima de 9,0 cm de comprimento (Figura 1). Figura 1 – Registros morfométricos Fonte: Michael G. S. Guimaraes (2020). O tratamento e a sistematização dos resultados permitiram-nos classificar e enquadrar o Achatina fulica existente na cidade Manaus como um grupo de indivíduos jovens, seguindo-se os critérios e parâmetros propostos por Tomiyama (2002, p. 10). Os cálculos apresentaram desvio-padrão de (5,3 cm) em uma população de 1.549 caramujos coletados e analisados. CONCLUSÃO O segmento populacional do Achatina fulica que ocorre em Manaus (AM), de acordo com osdados referentes à totalidade dos espécimes avaliados, é representado por indivíduos jovens. 30 Segundo Civeyrel e Simberlof (1996, p. 1231), o estabelecimento de Achatina fulica passa por três fases: exponencial, caracterizada por apresentar uma população de indivíduos grandes e vigorosos; a segunda trata de uma população com duração variável, aumento populacional, e a última a fase de declínio, onde há uma prevalência de indivíduos jovens portadores de conchas fracas. Mediante essas referências, foi possível determinar após a análise que o grupo encontrado está em fase de declínio. Além desses aspectos, os fatores peso e comprimento da espécie tornam-se ferramenta útil para o manejo, principalmente em regiões onde há carência de dados. Com base nos resultados morfométricos da espécie estudada durante o período de seis meses de coleta, pode-se inferir que mesmo com as características de uma população de menor abundância o Achatina fulica não se encontra em processo de extinção nesses geótopos. Com referência a este tema, autores como Oliveira e Correia (2013, p. 11) indicam que se trata de uma tendência de flutuação populacional natural, que pode ser rapidamente alterada para um novo aumento populacional da espécie. REFERÊNCIAS CIVEYREL, L.; SIMBERLOFF, D. A tale of two snails: is the cure worse than the disease? Biodiversity and Conservation, v. 5, p. 1231-1252, 1996. COLLEY, S. S. Uma viagem pela história da Malacologia. Estudo. Biologia. Ambiente Divers., v. 34, n. 83, p. 175-190, 2012. OLIVEIRA; CORRÊA; VASCONCELOS. Ocorrência de Achatina fulica (Mollusca: Pulmonata: Achatinidae) em três bairros da cidade de Santana, Amapá. Biota, Macapá, v. 3, n. 1, p. 9-12, 2013. 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Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 31 Monitoramento de mamíferos como suporte para análise de serviços Ecossistêmicos de Unidades de Conservação no Corredor Sudeste da Mata Atlântica do Estado de São Paulo Danilo Santos da Silva6; Ana Cristyna Reis Lacerda7 INTRODUÇÃO A Mata Atlântica abriga mais de 60% de todas as espécies terrestres e é um dos biomas mais ameaçados do planeta (BIRAL; LOMBARDI, 2012; GALINDO-LEAL; CÂMARA, 2005). Em sua formação original, a floresta recobria uma extensão entre o cabo de São Roque (RN) à região de Osório (RS), perfazendo uma extensão entre 1 a 1,5 milhão de km² (JOLY et al., 1991; GALINDO-LEAL; CÂMARA, 2005). Mesmo reduzida e fragmentada, a Mata Atlântica possui uma enorme importância, pois exerce influência direta na vida de mais de 80% da população brasileira que habita o bioma. Distribuída por todo território do Estado de São Paulo, a Mata Atlântica é a principal formação composta por fisionomias variadas como Floresta Ombrófila Densa, Floresta Estacional Semidecidual, Florestas Montanas e Campos de Altitude. Desta forma, ocorrem floras tipicamente tropicais e, em alguns casos, destacam-se aquelas com características mais associadas a regiões subtropicais (WANDERLEY et al., 2016). A floresta contribui para regular as condições climáticas regionais; além disso, oferece serviços ecossistêmicos (SEs) que ajudam a melhorar a qualidade e disponibilidade hídrica para diferentes regiões do país, bem como o provimento de alimentos e a redução de gases de efeito estufa (GEE) presentes na atmosfera. Conforme o recente Inventário Florestal do Estado de São Paulo (INSTITUTO FLORESTAL, 2020), a área remanescente do bioma é de 5.670.532 hectares em diferentes estágios e distintas fisionomias, isso corresponde a cerca de 22,9% do território estadual. Atualmente, esses remanescentes localizam-se no cinturão verde da região metropolitana da cidade de São Paulo, na região costeira, nas serras do Mar, da Bocaina e da Mantiqueira e nos vales do Ribeira e do Paraíba (Figura 1). 6Graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ecologia e doutorado em Biologia Animal pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em geoprocessamento pela UnB. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia Aplicada.Email: danilosilva.geo@gmail.com 7Graduação em Bacharel em Ciências Biológicas pela, mestrado em Ecologia e doutorado em Biologia Animal pela UnB. Especialista em geoprocessamento pela UnB. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia Aplicada. E-mail: acrl2@yahoo.com.br 32 Figura 1 – Vegetação natural do Estado de São Paulo e corredor sudeste da Mata Atlântica Fonte: Adaptado de Instituto Florestal (2020). Esses remanescentes formam o principal corredor de Mata Atlântica do Brasil, abrangendo toda a costa do Estado de São Paulo. A estratégia para garantir esse corredor foi a instituição de uma rede de Unidades de Conservação (UC), principalmente de proteção integral, cujos interstícios são compostos pelos principais remanescentes de vegetação de posse e domínio privado, que em grande parte compõem as diversas zonas de amortecimento destas UC. Apesar dos esforços de conservação do bioma, a pressão permanece forte, em particular nas áreas não protegidas por legislação especial e em razão do pequeno tamanho de florestas remanescentes e falta de políticas e programas que incentivem a conectividade desses fragmentos. Portanto, ações voltadas à conservação e uso sustentável desses remanescentes são de vital importância para a garantia das funções ecológicas do corredor deste bioma no Estado de São Paulo. O presente artigo visa a elucidar, a partir de pressupostos biogeográficos, o modelo de aplicação de estudos ecológicos que ocorrem no âmbito do projeto “Recuperação de Serviços de Clima e Biodiversidade no Corredor Sudeste da Mata Atlântica Brasileira” (Conexão Mata Atlântica), que tem como objetivo principal restaurar e proteger os serviços de carbono e biodiversidade no corredor sudeste da Mata Atlântica, com enfoque na bacia do rio Paraíba do Sul (BHRPS), entre os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 33 As ações desenvolvidas visam a complementar esforços dos governos estaduais para a proteção de Unidades de Conservação, bem como mobilizar esforços para integrar proprietários de terras privadas no manejo sustentável da paisagem florestal da bacia hidrográfica através da promoção de atividades de restauração ecológica de florestas nativas e regeneração natural de pastagens degradadas. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações é responsável pela coordenação técnica do projeto, assim como executor de atividades de pesquisa e monitoramento do aumento dos estoques de carbono e a conservação da biodiversidade mediante a reconexão de fragmentos florestais e resiliência dos ecossistemas. Nesse sentido, o monitoramento de mamíferos envolve as áreas específicas que serão atendidas pelas seguintes intervenções: Pagamentos por Serviços Ambientais (Proteção e Uso Múltiplo), Assistência Técnica e Extensão Rural, Práticas Conservacionistas de Solo e Cercamento de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). O sistema de amostragem para médios e grandes mamíferos por armadilhamentofotográfico tem buscado adequar a proposta de esforço amostral, à medida que os incentivos de PSA são aplicados no território, contemplando toda área de abrangência de forma a atender aos objetivos do Conexão Mata Atlântica. MATERIAIS E MÉTODOS Atualmente, foi estabelecido um sítio de pesquisa de médios e grandes mamíferos por armadilhas fotográficas em três das quatro UCs abrangidas pelo projeto (Figura 2). Na Estação Ecologica (EE) de Bananal foram instaladas 30 armadilhas fotográficas, distantes entre si de 200 a 7.000 metros, totalizando um esforço amostral de 480 armadilhas/dia. De acordo com o protocolo de amostragem, foram estabelecidas sete paisagens amostrais (uma dentro da UC e seis na ZA), que variaram de 30 a 100% de cobertura florestal. No PE Núcleo Itariru foram instaladas 20 armadilhas fotográficas, distribuídas em quatro paisagens amostrais (duas na UC e duas na ZA). Na APA São Francisco Xavier foram instaladas duas armadilhas fotográficas distribuídas em duas paisagens amostrais. Até o final do primeiro semestre de 2019, espera-se que sejam instaladas mais 58 armadilhas fotográficas (10 no Núcleo Itariru, 28 na APA SFX e 30 em St. Virginia), totalizando 120 sítios amostrais por armadilhas fotográficas. 34 Para tais experimentos, foi utilizado um protocolo de amostragem em nível de mosaico com pontos de amostragem restritos a fragmentos florestais para acessar a riqueza de espécies e composição de médios e grandes mamíferos. Optou-se por esse método pelo potencial de registro de espécies com um amplo alcance de características comportamentais e períodos de atividade (e.g. noturno, diurno, crepuscular). As armadilhas fotográficas começaram a ser instaladas em julho de 2018, usando cinco a oito armadilhas fotográficas não iscadas por paisagens, que foram colocadas em diferentes posições dentro de um mesmo fragmento ou em diferentes fragmentos, dependendo do tamanho da mancha do remanescente florestal dentro de um raio de 2 km do buffer (Figura 2). Conforme descreve a bibliografia, o desenho amostral ideal para analisar a efetividade das ações dos programas de Pagamento por Serviço Ambiental é o tradicional delineamento chamado BACI (Before After Control Impact design) (UNDERWOOD, 1994; FERRAZ, 2012). Nesse desenho são comparadas áreas de controle e manejadas, antes e depois de uma intervenção. Seguindo esse procedimento, é possível distinguir os efeitos do tratamento de mudanças que ocorreram de forma independente. Dessa forma, sugere-se que toda área que será submetida a um PSA deverá ser amostrada quanto aos indicadores biológicos e de estrutura da vegetação, antes e depois da implementação do PSA, e essas amostras deverão ser comparadas com “áreas controle”. O termo “abordagem contrafactual” vem sendo usado na literatura científica como um sinônimo para o delineamento BACI, como pode ser exemplificado no mais recente artigo publicado por Ruggiero et al. (2019). Para distinguir os resultados de conservação causados por intervenções, daqueles causados em decorrência de desacelerações econômicas, é necessário uma abordagem contrafactual capaz de inferir causalidade para intervenções, particularmente onde tratamentos randomizados não são possíveis” (RUGGIERO et al. 2019, p. 284)8. No protocolo de amostragem proposto, usa-se a abordagem contrafactual espacialmente explícita para avaliar a contribuição adicional dos programas de PSA, a biodiversidade e estoque de carbono. 8To distinguish conservation outcomes caused by conservation interventions from those that occur because of economic slow-downs, requires a counterfactual approach capable of inferring causality to interventions, particularly where randomized treatments are not possible (RUGGIERO et al. 2019, p. 284). Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 35 Assim foram selecionadas tanto paisagens abrangendo áreas com propriedades que irão receber intervenção das atividades do projeto (ferramentas de PSA, estímulo a cadeias de valor sustentáveis e certificação orgânica e florestal) quanto paisagens com propriedades que não irão receber intervenções. Para isso, as paisagens serão divididas em 2 grupos de 3 paisagens cada. Um grupo será implantado em áreas que possuem propriedades aderentes ao projeto, chamadas “paisagens factuais” e o outro grupo será implantado em áreas que não possuem propriedades aderentes ao projeto, chamadas “paisagens contrafactuais” que funcionarão como áreas controle. Figura 2 – Exemplo da seleção das paisagens contrafactuais Fonte:Elaborado pelos autores (2020). O delineamento BACI pressupõe a escolha das áreas controle que, no caso da abordagem tratada nesse estudo, foram estabelecidas a partir de um raio de 1-2 km da área manejada, e o tipo de controle varia em função do manejo abranger todo ou apenas parte de um fragmento, e se ação se dará em corredores ou não. 36 RESULTADOS E DISCUSSÕES No bioma Mata Atlântica, especificamente com relação à mastofauna, são listadas um total de 321 espécies de mamíferos distribuídas em 35 famílias e 10 ordens, incluindo 89 espécies endêmicas (GRAIPEL et al., 2018). No total, foram registradas nove ordens, 15 famílias, 15 gêneros e 23 espécies na área de abrangência do projeto, que representam 21% das espécies registradas por armadilhas fotográficas para a Mata Atlântica (LIMA et al., 2017). Duas espécies são classificadas pela IUCN como Vunerable (Tayassu pecari e Leopardus guttulus) e uma é classificada como Near Threatened (Leopardus wiedii). A espécie mais frequente foi o gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita), que ocorreu em 46% dos sítios amostrais (Gráfico 1). A curva estimada de riqueza de espécies por dias de pesquisa não atingiu a assíntota, indicando que o esforço amostral não foi suficiente para detectar a riqueza da área amostrada (Gráfico 2). Foram adicionados 1.521 registros independentes de ocorrência de espécies de médios e grandes mamíferos, incluindo três registros de Brachyteles arachnoides e 11 registros de Leopardus guttulus, espécies ameaçadas de extinção. A composição da comunidade de médios e grandes mamíferos não foi igual nas quatro Unidades de Conservação estudadas, ou seja, há uma baixa similaridade entre as áreas. A amostragem identificou a presença da espécie invasora javali na APA São Francisco Xavier. Gráfico 1 – Frequência de registros de espécies de mamíferos de médio e grande porte obtido por armadilhamento fotográfico, no período de julho a dezembro de 2018, na área de abrangência do Projeto Conexão Mata Atlântica Fonte: Elaborado pelos autores (2020). 27,0 23,2 7,2 7,0 5,9 5,4 5,3 4,4 3,6 3,4 1,1 1,1 1,1 0,7 0,7 0,7 0,5 0,4 0,4 0,3 0,3 0,1 0,1 0,1 0,1 0 5 10 15 20 25 30 D . a u ri ta T. p ec a ri C . p a ca P . t a ja cu T. t er re st ri s E. b a rb a ra D . n o ve m ci n ct u s N . n a su a S . a es tu a n s L. p a rd a lis D . l ep o ri n a P .c o n co lo r M . g o u a zo u b ir a L. g u tt u lu s C . t a to u a y L. w ie d ii T. t et ra d a ct yl a S. b ra si lie n si s C . t h o u s P . c a n cr iv o ru s H . y a g o u a ro u n d i G . c u ja P . y a g o u a ro u n d i C . v ill o su s P . y a g o u a ro u n d i Fr eq u ên ci a (% ) Espécies Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 37 Gráfico 2 – Curva de média de acumulação espécies para a área abrangida pelo Projeto Conexão Mata Atlântica, obtida para o período de julho a dezembro de 2018 Fonte: Elaborado pelos autores (2020). A Figura 3 indica que o registro e a distribuição dos mamíferos de médio e grande porte podem estar relacionados à estrutura da vegetação, tamanho e idade dos fragmentos, entre outros fatores. No entanto, apenas com um esforço amostral maior tanto dentro da UC quanto emsua zona de amortecimento será possível verificar qual a influência dessas variáveis na estrutura da comunidade de mamíferos terrestres. Figura 3 – Puma concolor fotografado na EE de Bananal/SP Fonte: Os autores (2020). 38 A distribuição de ocorrência das principais espécies registradas na Estação Ecológica do Bananal e sua zona de amortecimento Espécies indicadoras de qualidade ambiental como as queixadas, os catetos, e o predador topo de cadeia, a onça parda, foram registradas nos fragmentos florestais maiores e contínuos presentes na UC, indicando que efeitos de perda de habitat, tais como fragmentação e isolamento, podem estar influenciando a distribuição e frequência dessas espécies. Mesopredadores como a irara, que possuem maior plasticidade ambiental, ocorrem em fragmentos menores e mais isolados (Figura 4). Figura 4 – Vista da Serra da Bocaina no município de Bananal/SP Fonte: Danilo Santos da Silva (2019). Em Itariru, foram registradas seis ordens, 10 famílias, 13 gêneros e 13 espécies na Estação Ecológica de Bananal, que representa 15% das espécies registradas por armadilhas fotográficas para a Mata Atlântica (LIMA et al., 2017). A espécie mais frequente foi o caititu (Pecari tajacu), que ocorreu em 75% dos sítios amostrais. Na APA SFX foram registradas quatro espécies nativas Leopardus guttulus, que é classificado como vulnerável pela IUCN, Leopardus pardalis (Figura 5), Dasypus novemcinctus e Didelphis aurita e uma espécie invasora, o javali, Sus scrofa. Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 39 Figura 5 – Leopardus pardalis fotografado na APA São Francisco Xavier Fonte: Projeto Conexão Mata Atlântica (2019). CONSIDERAÇÕES FINAIS A continuidade da pesquisa com um aumento do esforço amostral permitirá responder às seguintes perguntas: 1) Como a diversidade biológica sustenta os serviços ecossistêmicos? e 2) Quais são os custos e benefícios associados à biodiversidade, considerando tanto os serviços ecossistêmicos quanto os conflitos decorrentes das interações humano-fauna? Especificamente, objetivamos responder: 1) Como está estruturada a cadeia trófica dos mamíferos na Bacia do Rio Paraíba do Sul?, 2) Quais são os padrões de diversidade de mamíferos?, 3) Quais funções ecológicas podem ter sido retidas ou perdidas na BHRPS e qual o impacto nos serviços ecossistêmicos (SEs) na região? Esperamos que o incentivo proporcionado pelo PSA aumente a tolerância aos grandes carnívoros e herbívoros e, assim, gere atitudes positivas em relação aos serviços prestados pela biodiversidade e a sua proteção através de serviços ambientais. 40 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e à Fundação para Conservação e Produção Florestal do Estado de São Paulo pelo apoio concedido no desenvolvimento das pesquisas, bem como às Unidades de Conservação envolvidas nos estudos de campo, sobretudo às equipes de gestão que forneceram todo o suporte para a realização dos trabalhos. REFERÊNCIAS BIRAL, L.; LOMBARDI, J. A. Celastraceae na Reserva Biológica Municipal da Serra do Japi, SP, Brasil. Revista do Instituto Florestal, v. 24, p. 75-84, 2012. FERRAZ, G. Twelve guidelines for biological sampling in environmental licensing studies. Natureza & Conservação. Disponível em: http://doi.editoracubo.com.br/10.4322/natcon.2012.004. Acesso em: 10 ago. 2020. GALINDO-LEAL, C.; CÂMARA, I. de G. Status do hotspot Mata Atlântica: uma síntese. In: GALINDO-LEAL, C.; CÂMARA, I. de G. (Eds.). Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e perspectivas. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica – Belo Horizonte/Conservação Internacional, 2005. GRAIPEL, M. E. et al. Mamíferos da Mata Atlântica. In: MONTEIRO-FILHO, E. L. A.; CONTE C. E. (Org.). Revisões em zoologia: Mata Atlântica. Curitiba: UFPR, 2018. p. 391-482. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/63950. Acesso em: 10 ago. 2020. INSTITUTO FLORESTAL (IF). Inventário florestal da vegetação natural do Estado de São Paulo 2020. Disponível em: https://smastr16.blob.core.windows.net/home/2020/07/inventarioflorestal2020.pdf. Acesso em: 10 ago. 2020. IUCN. The IUCN red list of threatened species. Version 2018-2. Disponível em: http://www.iucnredlist.org. Acesso em: 10 ago. 2020. JOLY, C. A. et al. O patrimônio florístico. In: CORTESÃO, J.; BIGARELLA, J. J.; JOLY, C. A. et al. Mata Atlântica. Rio de Janeiro: Index, 1991. LIMA, F. et al. ATLANTIC-CAMTRAPS: a dataset of medium and large terrestrial mammal communities in the Atlantic Forest of South America. Ecology, v. 98, n. 11, p. 2979-, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/179312. Acesso em: 10 ago. 2020. MELO-DIAS, M.; PASSAMANI, M. Mamíferos de médio e grande porte no campus da Universidade Federal de Lavras, sul do Estado de Minas Gerais, Brasil. Oecologia Australis, v. 22, p. 234-247, 2018. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/oa/article/view/15101. Acesso em: 10 ago. 2020. RUGGIERO, P. G. C. et al. Payment for ecosystem services programs in the Brazilian Atlantic Forest: effective but not enough. Land Use Policy, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.landusepol.2018.11.054. Acesso em: 10 ago. 2020. UNDERWOOD, A. J. On beyond BACI: sampling designs that might reliably detect environmental disturbances. Ecological Applications, v. 4, n. 1, p. 3-15. Disponível em: https://doi.org/10.2307/1942110. Acesso em: 10 ago. 2020. WANDERLEY, M. G. L. et al. Flora fanerogâmica do Estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Botânica/FAPESP, 2016. v. 8. Disponível em: https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/institutodebotanica/ffesp_online/. Acesso em: 10 ago. 2020. about:blank about:blank about:blank about:blank about:blank about:blank Biogeografia: diversidade ecológica e saúde – 41 Aplicação do índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) no estudo do caramujo africano (Achatina fulica), Manaus/AM – Brasil Michael Guimarães de Souza9; Ana Mara Cruz Lachi10; Adoréa Rebello da Cunha Albuquerque11 INTRODUÇÃO Os moluscos são o segundo maior grupo zoológico conhecido pela ciência, representado com aproximadamente cem mil espécies vivas e setenta mil fósseis (COLLEY, 2012, p. 176). No Brasil o Achatina fulica foi introduzido em 1988 no Estado do Paraná e em outubro de 1990 foram vendidos cem lotes da espécie em atividades comerciais da VI Feira Agropecuária de Curitiba. Este molusco foi comercializado sob o contexto de lucrativa fonte de renda, que prometia a criação e exportação da carne de escargot, muito apreciada na culinária internacional (ALMEIDA, 2013, p. 52). Com a falência comercial e o declínio da procura dessa iguaria exótica, o caramujo africano passou a ser considerado uma praga agrícola por promover grandes prejuízos aos cultivos e às lavouras. Ademais, tornou-se um grave risco à saúde pública, por ser hospedeiro intermediário dos nematódeos Angiostrongylus cantonensis, que podem levar à morte. Em áreas urbanas seu habitat são os terrenos baldios, situados próximos a depósitos de lixo, áreas periúmidas e entorno de bacias hidrográficas. OBJETIVOS O objetivo desta pesquisa foi mapear a presença do Achatina fulica em ambiente urbano, utilizando imagens do satélite Landsat 8 para observar a variabilidade do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) e avaliar a correlação espacial da vegetação na ocorrência da espécie no perímetro urbano do município. 9Graduado em Geografia. Mestrando em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: radgeo_michael@yahoo.com.br 10Graduada em Geografia. Mestranda em Geografia pelaederal do Amazonas (UFAM). E-mail: mara2lachi@gmail.com 11Doutora em Geografia Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora adjunta da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: adorea27@yahoo.com.br
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