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0 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) ‘ Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 1 Organizadores João Cândido André da Silva Neto Natacha Cíntia Regina Aleixo Leonice Seolin Dias Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira 1a Edição TUPÃ-SP ANAP 2017 2 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Editora ANAP - Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos Fundada em 14 de setembro de 2003 Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã, Estado de São Paulo. CEP 17.605-310 Contato: (14) 3441-4945 www.editoraanap.org.br www.amigosdanatureza.org.br editora@amigosdanatureza.org.br Revisora ortográfica: Érika Yurie Fujiwara Capa: Área portuária da cidade de Tefé, capturada no por do sol nas margens do rio Tefé. Silva Neto, 2013. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 3 Organizadores João Cândido André da Silva Neto Possui graduação em Geografia (bacharelado) pela UFMS/CPAQ (2005), Mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul CPAQ (2008) e Doutorado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Presidente Prudente (2013). Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal do Amazonas. Atuou como Professor Adjunto do curso de Geografia da Universidade do Estado do Amazonas - Centro de Estudos Superiores de Tefé de 2013 a 2016. Tem experiência na área de Geografia Física, com ênfase em Geomorfologia, Cartografia, Sistemas de Informações Geográficas, Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento. Natacha Cíntia Regina Aleixo Possui graduação em Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista- Ourinhos (2008) e doutorado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista campus Presidente Prudente (2012) com período sanduíche na Universidade de Coimbra/Portugal. Atua como pesquisadora do Grupo de Pesquisa Gaia-interações superfície, água e atmosfera e do Grupo de Pesquisa Geotecnologias e Análise da Paisagem. Atualmente é professora Adjunta do curso de Geografia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Tem experiência na área de Geografia, atuando principalmente nos seguintes temas: climatologia geográfica, bioclimatologia humana, geografia da saúde e saúde ambiental. Leonice Seolin Dias Possui graduação em Ciências pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Tupã-SP; graduação em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Araraquara-SP; Habilitação em Biologia pelas Faculdades Adamantinenses Integradas de Adamantina-S; Especialização em Ciências Biológicas e Mestrados em Ciências Biológicas e em Ciência Animal pela Universidade do Oeste Paulista de Presidente Prudente-SP; Doutorado em Geografia pela Faculdade de Ciencias e Tecnologia/Universidade Estadual Paulista – Campus de Presidente Prudente-SP (2016). 4 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Conselho Editorial Interdisciplinar Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE Profª Drª Angélica Góis Morales – UNESP – Campus de Tupã Prof. Dr. Antônio Cezar Leal – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM Prof. Dr. Antonio Fluminhan Jr. – UNOESTE Prof. Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto – UFMS Prof. Dr. Daniel Dantas Moreira Gomes – UPE – Campus de Garanhuns Profª Drª Daniela de Souza Onça – UDESC Prof. Dr. Edson Luís Piroli – UNESP – Campus de Ourinhos Prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto – UEFS Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCAR Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UFMS Prof. Dr. Frederico dos Santos Gradella - UFMS - Campus de Três Lagoas Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia– FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente Prof. Dr. Isaque dos Santos Sousa – UEA/Manaus Prof. Dr. Joao Osvaldo Rodrigues Nunes– FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente Prof. Dr. Jorge Amancio Pickenhayn – Universidade de San Juan – Argentina Prof. Dr. José Carlos Ugeda Júnior – UFMS Prof. Dr. José Manuel Mateo Rodriguez – Universidade de Havana – Cuba Prof. Dr. José Mariano Caccia Gouveia – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia – UFPR Profª Drª Jureth Couto Lemos – UFU Profª Drª Kênia Rezende – UFU Prof. Dr. Luciano da Fonseca Lins – UPE – Campus de Garanhuns Profª Drª Maira Celeiro Caple – Universidade de Havana – Cuba Profª Drª Marcia Eliane Silva Carvalho – UFS Prof. Dr. Marcos Reigota – Universidade de Sorocaba Profª Drª Maria Betânia Moreira Amador – UPE – Campus de Garanhuns Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG Prof. Dr. Oscar Buitrago Bermúdez- Universidad del Valle, Cali – Colombia Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente Prof. Dr. Pedro Fernando Cataneo – UNESP – Campus de Tupã Prof. Dr. Rafael Montanhini Soares de Oliveira – UTFPR Profª Drª Regina Célia de Castro Pereira – UEMA Prof. Dr. Reginaldo José de Souza - UFFS - Campus de Erechim Profª Drª Renata Ribeiro de Araújo – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente Prof. Dr. Ricardo Augusto Felício – USP Profª Drª Roberta Medeiros de Souza – UFRPE – Campus Garanhuns Prof. Dr. Roberto Rodrigues de Souza – UFS Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – Unifal Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araújo – UFMA Profª Drª Rosa Maria Barilli Nogueira – UNOESTE Profª Drª Simone Valaski – Universidade Federal do Paraná Profª Drª Silvia Cantoia – UFMT – Campus Cuiabá Profª Drª Sônia Maria Marchiorato Carneiro – UFPR Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 5 Índice para catálogo sistemático Brasil: Geografia N469d Dinâmicas Socioambientais na Amazona Brasileira / João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias – Tupã: ANAP, 2017. 134 p ; il. Color. 21,0 cm ISBN 978-85-68242-38-4 1. Amazônia. 2. Socioambiental. 3. Geografia. 4. Climatologia. 5. Geomorfologia. I. Título. CDD: 900 CDU: 911/49 6 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Sumário Prefácio 08 Apresentação 12 Dedicatória 14 Capítulo 1 ANÁLISE TEMPORO-ESPACIAL DO USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL NO BAIXO RIO TEFÉ – AMAZONAS João Cândido André da Silva Neto Natacha Cíntia Regina Aleixo 16 Capítulo 2 O CAMPO TÉRMICO E HIGROMÉTRICO NA ÁREA URBANA DE TEFÉ-AMAZONAS: UMA ANÁLISE PRELIMINAR Elklândia Gomes da Silveira Natacha Cíntia Regina Aleixo João Cândido André da Silva Neto 30 Capítulo 3 CARACTERIZAÇÃO DA TEMPERATURA, pH E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS NA COMUNIDADE FLUTUANTE DO CATALÃO, IRANDUBA – AMAZONAS Marcos Fabricio Leal Flávio Wachholz 45 Capítulo 4 MORFODINÂMICA NO RIO SOLIMÕES E SUAS IMPLICAÇÕES PARA TABATINGA-AM Francisco Gleison de Souza 59 Capítulo 5 VULNERABILIDADE DO RELEVO À PERDA DE SOLOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAIAMBÉ, MÉDIO SOLIMÕES-AM João Cândido André da Silva Neto Geisa Ribeiro Gonçalves Natacha Cíntia Regina Aleixo 72 Capítulo 6 AS VILAS DO ALTO SOLIMÕES: PRODUÇÃO E ABASTECIMENTO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS NO AMAZONAS, BRASIL Tatiana Schor 88 Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 7 Capítulo 7 AGROECOLOGIA E SOBERANIA ALIMENTAR: NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A AGRICULTURA CAMPONESA NO ALTO SOLIMÕES,AMAZONAS, BRASIL José Aparecido Lima Dourado 104 Capítulo 8 TÃO LONGE, TÃO PERTO! DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE DOIS MUNICÍPIOS AMAZÔNICOS LIMÍTROFES: ALTAMIRA E SÃO FÉLIX DO XINGU, PARÁ Ricardo de Sampaio Dagnino 116 8 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Prefácio UM LIVRO PARA ALÉM DA GEOGRAFIA José Aldemir de Oliveira1 Sou surpreendido com a solicitação do Prof. João Cândido André da Silva Neto, meu mais novo colega do Departamento de Geografia da UFAM, para escrever um breve texto sobre o livro “Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira”, organizado juntamente com Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias. Levado pelo sentimento de valorização do conhecimento científico que se produz sobre e na Amazônia, aceitei de pronto o convite, sem me dar conta da extrema complexidade e profundidade do livro no qual se misturam temas relacionados à natureza e aos aspectos sociais, numa perfeita imbricação daquilo que se poderia denominar de dimensões sócio-espaciais, termo no sentido dado por Marcelo Lopes de Souza. Eu, que no máximo entendo daquilo que na caixinha da ciência moderna foi denominada por Jean Brunhes como Geografia Humana, mais especificamente no caso das cidades na Amazônia, desde muito entendo que não se compreenderá a Amazônia especialmente do ponto de vista geográfico, sem a articulação da natureza e da sociedade, e é disso que este livro trata. Organizado em oito capítulos, resultados de pesquisas realizadas por professores de instituições públicas, a maioria localizada na Amazônia, o livro compreende textos ricos em detalhes, objetivos e executados com equilíbrio e técnicas, não apenas as mais atuais, como o uso do geoprocessamento e de imagem de satélite, mas ancorado nos mais caros métodos da Geografia Clássica e com rigorosa pesquisa de campo, algo que, em certo momento, a Geografia Brasileira perdeu e que, felizmente, os novos geógrafos buscam resgatar. Boa parte dos textos tem como área de estudo o que se denomina de Amazônia Ocidental, mais especificamente, o Estado do Amazonas, e tratam de temas como a 1 Professor Titular de Geografia da Universidade Federal do Amazonas. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Reitor da Universidade de Estado do Amazonas entre 2010 a 2013. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 9 cobertura vegetal, o campo térmico e higrométrico, caracterização da temperatura, pH e conectividade elétricas de águas superficiais, da morfodinâmica do rio Solimões, vulnerabilidade do relevo em bacia hidrográfica, temas relacionados ao domínio da natureza. Todavia, a característica importante que permeia todos estes textos, é que os mesmos não tratam da natureza pela natureza, mas como esta interfere na dinâmica social, ou seja, como estes fatores são importantes para a compreensão dos processos antrópicos numa região que é importante pela sua biodiversidade. Entretanto, como asseverou o geógrafo Milton Santos, é importante compreender o que lhes acresce a sociedade, para entender como as dimensões espaciais são produzidas e reproduzidas pela sociedade em cada tempo e lugar. Os três textos finais tratam de temas ligados à Geografia Humana, a qual vai da dinâmica urbana de como surgem e se estruturam as vilas na imensidão da floresta e dos rios, das práticas agrícolas como estratégias de soberania alimentar pelo uso milenar de técnicas agrícolas, ao mesmo tempo em que é vulnerável pelo uso crescente de agrotóxicos e sementes híbridas, o que torna relevante a discussão do tema. O último texto trata dos processos de produção do território numa complexa relação natureza-sociedade, como surgem os municípios e como eles são, ao mesmo tempo, iguais e diferentes, e como se diferem de territorialidades congêneres de outras regiões do Brasil. Para além da produção de conhecimento, os textos focalizam a preocupação com a formação de futuros pesquisadores. Quatro textos têm a participação de estudantes de graduação, possibilitando a formação de futuros geógrafos na e para Amazônia e para o mundo. O trabalho do geógrafo sempre foi complexo, por lidar concomitantemente com as dimensões da natureza e da sociedade, contudo, na Amazônia, essa complexidade torna-se superlativa pelas escalas das pesquisas, pelas grandes distâncias e pela necessidade de, sem perder a dimensão da universalidade da ciência, ser capaz de adaptar práticas e procedimentos que sejam compatíveis com a realidade do lugar. Isso exige dos geógrafos profunda reflexão, em especial quando os procedimentos estão articulados à capacitação de futuros profissionais, tornando-os portadores de uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Isso significa formar profissionais que se orientem em princípios éticos no processo de acompanhamento das transformações da natureza e da sociedade. 10 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Outro desafio que o livro coloca é a necessidade de produção e de difusão de conhecimento geográfico sobre a Amazônia sem perder a dimensão da produção da ciência como universal. Existe uma Geografia na Amazônia calcada nas técnicas e nos métodos da ciência que são universais. Os temas que o livro aborda são específicos sobre lugares da Amazônia, mas não são e não podem ser únicos, ou seja, eles estão articulados às dimensões mais gerais da dinâmica da natureza e da sociedade. Isso aponta para outra questão: quando tratamos do trabalho do geógrafo na Amazônia, seja ele qual for, é necessário capacitá-lo bem do ponto de vista das técnicas, do uso das tecnologias disponíveis, todavia, só isso não basta, é preciso prover o geógrafo de uma formação integral e não da mera soma de conteúdos dispersos em várias disciplinas e especialidades. Este aspecto é relevante, pois, no caso da produção da Geografia, o pensamento incide sobre determinada área e não pode ser abstrato, pois tem características práticas, sociais e históricas e, embora se constitua a partir de um lugar específico, corresponde ao todo indissociável traduzido em ideia que existe na natureza, como nos ensina Henri Lefebvre. O lugar é específico, a Amazônia, porém, não significa singularidade, mas totalidade, o que, ao mesmo tempo, aponta para lugares diversos e heterogêneos e, por isso, também universais. No livro “Seis propostas para o próximo milênio”, estruturado a partir de seis conferências que Ítalo Calvino iria proferir na Universidade de Harvard, em Cambridge, no Estado de Massachussets, nas Charles Eliot Norton Poetry Lectures, entre 1985 e 1986, o autor enumera, nos títulos das conferências, os valores imprescindíveis ao texto, seja acadêmico ou literário: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. O livro “Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira”, nos oito capítulos em que se estrutura, reflete sobre os conceitos, métodos e fontes de estudo sobre a Amazônia e a sua Geografia. Apresenta estrutura inteligível, linguagem clara e precisa, revelando-se de grande utilidade para o geógrafo e os que pretendem sê-lo, mas, sobretudo, é um livro para a sociedade e para as várias áreas de conhecimentos interessadas em desvendar os mistérios e complexidades da Amazônia, para que se torne cada vez mais conhecida e que se superem os estereótipos de relacioná-la apenas à natureza ou como vazio demográfico. A Amazônia nunca foi vazia, ou seja, sempre esteve prenhe de gente e cultura. Mais do que pela a biodiversidade, ela é importante pela sociodiversidade. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 11 Por fim, mas não menos importante, como já me referi em outras oportunidades, é destacar que uma pesquisa existe quandoé realizada, apresentada, julgada e aprovada pelos pares. Todavia, ela ganha concretude e passa a ser útil quando divulgada à sociedade. Diz-se amiúde que as pesquisas são finalizadas e depositadas em estantes empoeiradas nas instituições de ensino e pesquisa. Esta realidade está mudando entre nós graças à concepção dos novos pesquisadores que buscam meios de publicar suas pesquisas. Até pouco tempo, o papel de financiamento das publicações era desempenhado pelas agências de fomento à pesquisa, que criaram meios de se autodivulgarem. Infelizmente, isso não existe mais, e até mesmo o financiamento das pesquisas está rareando. O que os autores do livro “Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira” nos seus vários capítulos fazem é recolher e sistematizar dados e informações da vegetação, do clima, do relevo, dos rios, da estrutura dos municípios e ainda das falas de gente que faz agricultura, pesca e extração nos beiradões, no meio da floresta e nas vilas. Os textos são relatos de pesquisas de quem conhece por estudar e viver na Amazônia, sua gente e suas coisas. Como as águas turvas do rio Solimões, local da maioria das pesquisas, que nos dificulta a visão ampla. A Amazônia é um labirinto, nem sempre possível de ser desvendada, dificultando a compreensão dos caminhos, mas a natureza e a vida ultrapassam o entendimento e a interpretação do possível. O que este livro faz é avivar rastros para construir novas trilhas, novos caminhos de preservação da natureza e da vida na Amazônia. 12 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Apresentação Grande parte da Amazônia Brasileira, principalmente seu interior, ainda é desconhecida pelos brasileiros, cujas visões equivocadas tendem a dois aspectos principais: uma enorme região coberta por rios e floresta de ampla diversidade faunística e florística, e/ou uma enorme região de vazio demográfico que vem sendo desmatada e queimada. Os problemas relacionados à questão ambiental da Amazônia brasileira de maneira indevida estão associados apenas à região do arco do desmatamento, que compreende os estados de Rondônia, Mato Grosso e Pará. Nesse sentido, foi criado em 2013, o Grupo de Pesquisa Geotecnologias e Análise da Paisagem, na Universidade do Estado do Amazonas, cujo objetivo era agregar um grupo de profissionais da ciência Geográfica que trabalhavam com as diferentes perspectivas Geográficas tendo como ferramenta as Geotecnologias, e, inicialmente, partir da experiência de pesquisadores, professores e orientandos no interior e capital do estado do Amazonas. No decorrer desse processo, surgiu a possibilidade de organizarmos uma coletânea de textos, no formato de e-book, cujo objetivo era divulgar o que estava sendo produzido pelo Grupo de Pesquisa Geotecnologias e Análise da Paisagem, cujos integrantes estavam distribuídos desde o Alto Solimões, no município de Tabatinga, até o Médio Solimões, em Tefé, além da calha do rio Amazonas em Manaus e Parintins. Essa distribuição geográfica dos integrantes do grupo possibilitava uma análise integrada de diferentes dinâmicas socioambientais do espaço geográfico em municípios importantes do estado do Amazonas. Quando começou a organizar os trabalhos, houve a necessidade de ampliar a discussão no contexto geográfico, no sentido de minimizar a visão fragmentada da Geografia, assim, se estendo o convite para compor a coletânea a outros professores e pesquisadores que trabalham com a Amazônia Brasileira na perspectiva das questões contempladas na discussão socioambiental. Assim sendo, a organização da coletânea incluiu textos que abarcavam leituras geográficas, cada qual, abrangendo um capítulo. No primeiro, “Análise temporo-espacial do uso da terra e cobertura vegetal no Baixo Rio Tefé – Amazonas”, sendo discutidas as transformações da paisagem, analisando o uso da terra numa perspectiva temporal, e buscando compreender suas inter-relações e influências na organização social. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 13 O capítulo seguinte “O campo térmico e higrométrico na área urbana de Tefé- Amazonas: uma análise preliminar” teve como foco o diagnóstico do clima urbano na perspectiva da climatologia geográfica, em que se objetivou a análise das variações térmicas e higrométricas em diferentes áreas da cidade de Tefé, as quais apresentam características distintas em relação ao uso do solo. O texto “Caracterização da temperatura, Ph e condutividade elétrica das águas superficiais na Comunidade Flutuante do Catalão, Iranduba – Amazonas”, enfatizou a discussão da problemática questão dos recursos hídricos na atualidade, corroborando para o diagnóstico e análise de diferentes parâmetros da qualidade das águas de superfície na comunidade Flutuante do Catalão em Iranduba-AM. O capítulo “Morfodinâmica no rio Solimões e suas implicações para Tabatinga-AM” discutiu a caracterização da morfodinâmica do Rio Solimões, no trecho em que está assentada a sede do município de Tabatinga, na região da tríplice fronteira: Brasil, Colômbia e Peru, destacando as implicações para a população que habita as áreas atingidas. A vulnerabilidade do relevo e sua importância no desencadeamento nos processos erosivos foram abordadas no capítulo “Vulnerabilidade do relevo à perda de solos na bacia hidrográfica do rio Caiambé, Médio Solimões-AM”, em foi discutido como a ação social do homem sobre o meio físico-natural intensificou processos naturais como a erosão. Foram contempladas ainda questões da produção e abastecimento de gêneros alimentícios no capítulo intitulado: “As Vilas do Alto Solimões: produção e abastecimento de gêneros alimentícios no Amazonas, Brasil”, cujo objetivo foi compreender a estrutura da rede urbana e o papel que as Vilas têm no abastecimento da região. O Capítulo “Agroecologia e soberania alimentar: notas introdutórias sobre a agricultura camponesa no Alto Solimões, Amazonas, Brasil” tratou das possibilidades da agroecologia como um artifício para soberania alimentar, numa discussão sob o prisma da agricultura camponesa na região do Alto Solimões. O livro foi finalizado com o capítulo “Tão longe, tão perto! diferenças e semelhanças entre dois municípios amazônicos limítrofes: Altamira e São Félix do Xingu, Pará”, em que foram analisados, comparativamente na perspectiva socioambiental, os anos 2000-2010 de dois municípios paraenses que apresentam características marcadas pelas semelhanças e contrastes socioeconômicos. 14 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Nesse contexto, o presente livro buscou revelar os olhares das dinâmicas socioambientais na Amazônia brasileira, do ponto de vista de quem vivencia essa realidade, discutindo como as estruturas, relações e diferentes processos da perspectiva da sociedade- natureza se efetivam e quais os impactos de um sobre o outro. Os organizadores Tupã-SP, 2017. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 15 Dedicatória Esse livro é dedicado à memória do Professor Doutor José Aparecido Lima Dourado, pelo exemplo de ser humano e profissional que sempre foi, por acreditar que a educação poderia mudar a sociedade e o lugar em que vivemos, tornando-o melhor, por não aceitar que a distância dos grandes centros, infraestrutura precária e nenhuma outra dificuldade o fizessem desistir de realizar um trabalho notável no interior do Estado do Amazonas, e por possibilitar novas perspectivas de vida aos seus alunos. Esse é nosso singelo agradecimento. Os organizadores. 16 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Capítulo 1 ANÁLISE TEMPORO-ESPACIAL DO USO DA TERRA E COBERTURA VEGETALNO BAIXO RIO TEFÉ – AMAZONAS João Cândido André da Silva Neto2 Natacha Cíntia Regina Aleixo3 INTRODUÇÃO As formas de atuação das sociedades na natureza manifestam-se nos diversos tipos de uso do solo, influenciando significativamente a qualidade de ambientes naturais e a dinâmica de seu funcionamento. Para García et al. (1988a, apud LEFF, 2002), os processos de destruição ecológicos mais devastadores, bem como a degradação socioambiental, são tidos como resultados das práticas inadequadas do uso do solo, no qual revertem-se os custos sobre os sistemas naturais e sociais. Segundo Silva Neto (2012), o ciclo de apropriação da natureza tem efeitos diretos na economia, consequências estas do processo de superexploração da natureza, que exigirá, na melhor das hipóteses, custos elevados por anos até que as áreas degradadas sejam recuperadas. Evidentemente, determina-se repouso dessas áreas no período de recuperação, o que ocasionará o problema de abandono das áreas, neste caso, a natureza por si só não conseguiria recuperar o que foi degradado pelo homem, pois sua capacidade de resiliência estaria comprometida. Segundo Leff (2002), todo modo de produção e toda formação econômica e social estabelecem conexões com a natureza por meio dos objetos e meios “naturais” de trabalho dos processos produtivos que deles se desenvolvem. 2 Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas. E-mail: joaokandido@yahoo.com.br 3 Professor Adjunto do Curso de Geografia, Grupo de Pesquisa Geotecnologias e Análise da Paisagem. E-mail: natachaaleixo@yahoo.com.br Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 17 Gonçalves (2005) considerou que, na Amazônia, as tentativas de derrubar as áreas de florestas, para que fossem substituídas por áreas agrícolas, teriam um impacto negativo e catastrófico do ponto de vista da biodiversidade regional. As alterações causadas pela atuação antrópica na paisagem, devem ser vistas como principal transformadora das condições ambientais, podendo modificar o modo como atuam as dinâmicas naturais ou intensificar os processos nocivos à mesma, podendo levar a uma situação de impacto ambiental. Nesse sentido, a compreensão e entendimento dos fenômenos e processos estabelecidos na interface sociedade-natureza podem subsidiar medidas e diretrizes, que visam tornar essa relação menos conflituosa e degradante. O desmatamento da Amazônia brasileira tem chamado atenção nas últimas décadas, principalmente o da região denominada arco do desmatamento, no qual, segundo Mello- Thery (2011), observa-se uma forte pressão nas “bordas” da Amazônia Legal, devido à frente de avanço das monoculturas de grãos, pecuária extensiva e exploração ilegal de madeira. Enfatiza-se, no presente trabalho, que há um processo gradativo de desmatamento em proporções menores no interior da Amazônia brasileira, observado em pontos específicos, adentrando os limites das “bordas” da floresta, na qual se verifica o aumento das áreas de desmatamento nas últimas três décadas. As ações de desmatamento e erosão dos solos originam o esgotamento gradativo dos recursos bióticos, a destruição das estruturas dos solos e a desestabilização dos mecanismos ecossistêmicos, que dão suporte à produção e regeneração sustentável dos recursos naturais (LEFF, 2002). Dessa maneira, o objetivo deste trabalho é analisar as transformações da paisagem na região do Médio Solimões, localizada na Amazônia brasileira, e compreender suas inter- relações e influências na organização social. Assim, por meio de análise espacial dos dados geográficos verificou-se as transformações no uso da terra e cobertura vegetal, em 28 anos na região do Médio Solimões, no qual se enfatizou a abordagem na área denominada Baixo Rio Tefé. 18 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO De acordo com Ross (2006), a área estudada apresenta duas unidades geomorfológicas - litologias: Planície do rio Amazonas caracterizada por aluviões, areias e argilas (CPRM, 2006) sob Gleissolos e Neossolos Flúvicos (Projeto RADAMBRASIL, 1978) e Depressão da Amazônia Central, litologias caracterizadas por arenitos finos da Formação Içá sob Argissolos vermelho-amarelados e Plintossolos. Segundo Aleixo e Silva Neto (2014), a área analisada apresentou totais anuais de chuvas elevados e bem distribuídos ao longo dos meses do ano, com média anual total de chuva de 2.363 mm. Nesse sentido, enfatizou-se a abordagem na área denominada Baixo Rio Tefé, caracterizada pelo alargamento do canal principal do rio, denominado Lago Tefé, e seus afluentes, os quais se localizam próximos à foz do rio Solimões, cuja área é destacada por abarcar os sítios urbanos das cidades de Tefé e Alvarães (SILVA NETO; ALEIXO, 2014) (Mapa 1). Mapa 1 - Localização da área de estudo. Elaboração: Autores, 2016. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 19 Mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal As técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento são definidas como ferramentas que auxiliam nos estudos ambientais, devido a sua praticidade e operacionalidade, e possibilitam o processamento de uma gama representativa de dados, permitindo uma rápida atualização das bases de dados, análise espacial de dados geográficos e monitoramento dos impactos no ambiente. No desenvolvimento da presente proposta, foi utilizado o Sistema de Informações Geográficas (SIG), direcionado a garantir a aquisição, o processamento, as inter-relações e a visualização de informações, quesitos necessários para a elaboração do mapa de uso da terra e cobertura vegetal. Foram utilizadas bandas 3 (R), 4 (G) e 5 (B) das imagens de satélite Landsat 5, de 18/10/1986 e Landsat 8, de 22/06/2014, da área abordada, as quais foram tratadas no software de geoprocessamento SPRING. A elaboração dos mapas de uso da terra e cobertura vegetal iniciou-se com a conversão das imagens de formato “TIFF” em “GRIB”, seguida da inserção das imagens de satélite no Banco de Dados corrente, por meio de registro de imagens, criando, no banco de dados, um Plano de Informação com modelo de “Imagem”. Ressalta-se que o software SPRING utiliza internamente o formato “GRIB” para o armazenamento de imagens, deste modo, como as imagens dos satélites Landsat são disponibilizadas no formato “TIFF”, torna-se necessária sua conversão para o formato “GRIB”. O procedimento seguinte é o registro da imagem, que pode ser definido como uma operação necessária para se integrar uma imagem à base de dados existente num SIG. O registro também é importante para se combinar imagens de sensores diferentes sobre uma mesma área ou para se realizar estudos multitemporais, ou seja, quando se usam imagens tomadas em épocas distintas (SAMPAIO LOPES, 2012). Finalizou-se o mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal com o processo de classificação das imagens de satélite, definido como processo de extração de informação em imagens para reconhecer padrões e objetos homogêneos. Anterior à classificação da imagem é necessário adotar o procedimento de segmentação, dividindo a imagem em regiões que devem corresponder às áreas de interesse da aplicação. As regiões são entendidas como um conjunto de "pixels" contíguos, que apresentam uniformidade (SAMPAIO LOPES, 2012). 20 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) O método de segmentação utilizado foi “crescimento por região”, que é definido como: “(...) uma técnica de agrupamento de dados, na qual somente as regiões adjacentes, espacialmente, podem ser agrupadas. Inicialmente, este processo de segmentação rotula cada "pixel" como uma região distinta. Calcula-seum critério de similaridade para cada par de regiões adjacentes espacialmente. O critério de similaridade baseia-se em um teste de hipótese estatístico que testa a média entre as regiões. A seguir, divide-se a imagem em um conjunto de sub-imagens e então se realiza a união entre elas, segundo um limiar de agregação definido” (SAMPAIO LOPES, 2012 p.04). Após a segmentação, gerou-se uma imagem, separada em regiões, com base na análise dos níveis de cinza. O próximo passo foi a realização do processo de treinamento, que corresponde à aquisição de amostras na imagem dividida por regiões, onde é atribuída uma determinada classe para a amostra coletada (Organograma 1). Organograma 1 - Etapas para classificação de imagens no Spring. Fonte: Silva Neto, 2013. A classificação da imagem foi gerada utilizando o classificador com supervisão Bhattacharya. Neste classificador, mede-se a distância média entre as distribuições de probabilidades de classes espectrais. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 21 O classificador Bhattacharya não é automático e requer interação do usuário por meio do treinamento. Suas amostras serão as regiões formadas na segmentação de imagens (SAMPAIO LOPES, 2012). Após o processo de classificação, ocorre o procedimento “pós-classificação”, que se caracteriza pela extração de “pixels” isolados. A etapa de classificação, finalizada com o “mapeamento”, permite transformar a imagem classificada (categoria “Imagem”) em Mapa temático raster (categoria “Temática”) (Organograma 2). A Figura 3 corresponde ao organograma dos procedimentos para mapeamento das classes de uso da terra, áreas de floresta e desmatamento, no qual “A” corresponde à composição das bandas do satélite Landsat 5, “B” é a imagem segmentada, “C” corresponde à imagem classificada em cinco classes temáticas e D corresponde à quantificação das classes temáticas. Organograma 2 - Procedimentos para mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal. Elaboração: Autores, 2016. 22 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Posteriormente à confecção dos mapas de classificação do uso do solo, foram realizados trabalhos de campo nas proximidades do município de Tefé-AM, no intuito de caracterizar também, por meio do registro fotográfico, as transformações da paisagem. Análise espacial e temporal Quanto à análise temporal, a implementação ocorreu a partir do módulo de análise espacial do SIG utilizado. Nessa perspectiva, salienta-se ainda que, o termo “espacial” em SIG, adota uma conotação de estrutura topológica, relacionada à localidade e dimensionamento dos elementos, fenômenos e atributos estudados. Assim, a estruturação topológica constitui-se como relações espaciais entre elementos gráficos vetoriais, em termos de conectividade (se os elementos estão ligados ou não), contiguidade (identificação do contato de elementos) e proximidade (distância entre dois elementos) (CÂMARA; MONTEIRO, 2001). Desse modo, a análise espacial tem por objetivo primordial responder questões levantadas a partir de uma problemática, cujos resultados alcançados por meio da análise espacial como mapas, gráficos, tabelas e textos, permitirão observar, na medida do possível, uma análise de determinada realidade (Quadro 1). Quadro 1 - Exemplos de Análise Espacial. Quadro 1: Exemplos de Análise Espacial. Adaptado de Câmara, 1996. Lang e Blaschke (2009) fizeram as seguintes considerações sobre a análise espacial: Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 23 Métodos de análise espacial servem para a pesquisa de relações espaciais entre entidades dentro de uma ou mais camadas de dados. (...) A análise espacial apoiada em SIG objetiva fundamentalmente gerar novas informações, o que se dá por meio da manipulação e integração com camadas de dados já existentes. Essa nova geração de informações serve para apoiar decisões referentes a áreas. (LANG; BLASCHKE, 2009, p. 63). Lang e Blaschke (2009), consideraram que a análise espacial é a relação de camadas (layers), que pode diferenciar-se em análise horizontal ou vertical. Na análise espacial “horizontal” verifica-se os diferentes padrões e formas das áreas analisadas, observam-se também as relações de distâncias entre uma área e outra. Esse tipo de análise permite constatar os atributos separadamente de áreas circunvizinhas distintas. Para Lang e Blaschke (2009), a análise espacial “vertical” é definida como uma antítese à análise “horizontal”, porque designa todos os métodos de análise, nos quais várias camadas/layers de dados são analisadas de forma integrada, ou seja, são sobrepostas, combinadas e entrecortadas. O Organograma 3 mostra um exemplo de uma área na qual são analisadas variáveis diferentes, e por meio da análise espacial “vertical” as variáveis são correlacionadas, resultando em uma nova informação contendo os atributos dos layers base. Observa-se que são correlacionados quatro Planos de Informações com diferentes atributos (conteúdo). Os atributos aqui caracterizam-se pelas cores e pelas hachuras, assim, a inter-relação dessas variáveis resultaram em um Plano de Informação síntese (A-B-C-D) contendo os atributos de todas as variáveis correlacionadas. Organograma 3 - Exemplo de análise espacial “vertical”. Fonte: Silva Neto, 2013. 24 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Esse tipo de abordagem normalmente é utilizado na análise integrada da paisagem, que é caracterizada pela correlação dos elementos da paisagem, inclusive considerando o fator antrópico que se caracteriza pelos tipos de usos da terra, resultando na definição das unidades da paisagem. As correlações dos Planos de Informações correspondem a um dos principais artifícios da análise espacial de dados geográficos, podendo ser executadas de duas maneiras distintas: Sobreposição Lógica e Aritmética/Matemática (SILVA NETO, 2012). A Sobreposição Lógica caracteriza-se por utilizar operadores lógicos, ou seja, por utilizar a Lógica Booleana. Esse tipo de sobreposição trabalha com arquivos normalmente matriciais, a partir da sobreposição de diferentes camadas de dados (FITZ, 2008). Para a elaboração do Plano de Informação síntese de uso da terra e cobertura vegetal numa perspectiva temporal dos anos 1986 e 2014, utilizou-se o módulo de análise espacial do software Spring, no qual foram executadas sobreposições lógicas de operações descritas por sentenças construídas segundo regras gramaticais envolvendo operadores de lógica booleana. A Sobreposição Lógica caracteriza-se por utilizar operadores lógicos, como “e”, operador que significa intersecção, expresso nos programas em LEGAL por “&&”; “ou” operador que significa união ou similaridade, expresso nos programas em LEGAL por “| |”; o operador “xor”, que significa exclusão e denota desunião ou diferença, representada em programação por “|” e “não”, operador que significa negação, representado em LEGAL por “!=” (Organograma 4). Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 25 Organograma 4 - Operadores Booleanos utilizados na análise espacial para determinação de análise temporal de uso da terra e cobertura vegetal. Elaboração: Autores, 2016. Nesse tipo de sobreposição trabalhou-se com arquivos matriciais, a partir da sobreposição de diferentes camadas de dados, estabelecendo-se as classes temáticas das áreas que foram preservadas, desmatadas e reflorestadas ao longo dos anos analisados. RESULTADOS A análise temporo-espacial do uso da terra e da cobertura vegetal permitiu a observação das transformações provocadas pela atuação do homem em uma determinada porção da região do Médio Solimões na Amazônia brasileira, onde as dinâmicas sócio- espaciais caracterizam-se de maneira singularno tocante das logísticas de transporte e deslocamento de pessoas e mercadorias, visto que a principal via de transporte na região é a hidroviária, como também nos processos de usos da terra, nos quais se observam transformações significativas na paisagem da região do Médio Solimões nas últimas três décadas, sobretudo pelo aumento das áreas de desmatamento. 26 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Nessa perspectiva, optou-se por analisar, na região do Médio Solimões-AM, a área denominada Baixo Rio Tefé, localizada no baixo curso da bacia hidrográfica do Rio Tefé, próximo à foz com Rio Solimões, onde apresenta um alargamento no canal principal de drenagem, assemelhando-se com um lago, de onde se origina a denominação popular “Lago Tefé”. A análise do presente artigo engloba parte dos municípios de Alvarães e Tefé, nessa última, enfatizou-se a análise nas adjacências de sua área urbana. Tefé caracteriza-se ainda como um dos municípios mais populosos na Região do Médio Solimões. A partir da década de 1980, observou-se um crescimento de aproximadamente 19% da população total do município de Tefé. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1980, a população de Tefé era de 53.570 habitantes e no ano de 2007, de 62.920 habitantes (SILVA NETO; ALEIXO, 2014). O crescimento demográfico, o aumento do número de estabelecimentos comerciais e da oferta de mercadorias no município, bem como o crescimento da produção agropecuária na região do Médio Solimões-AM, pode ser associado ao aumento das áreas de desmatamento. Segundo Silva Neto e Aleixo (2014), as alterações na dinâmica da paisagem do Baixo Rio Tefé seguem a lógica da apropriação da natureza, vista como recurso a ser explorado, visando o lucro dos agentes sociais que detêm maior capital econômico-financeiro e os interesses dos agentes imobiliários. Quanto ao processo de uso da terra, observou-se o aumento da área de desmatamento no Médio Solimões-AM no período analisado, de 9% em 1986 para 19% em 2014, consequentemente, observou-se a diminuição das áreas classificadas como Floresta, de 72% em 1986 para 61% em 2014 (Gráfico 1). Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 27 Gráfico 1: Uso da terra e cobertura vegetal no Baixo Rio Tefé em 1986 e 2014. Organização: Autores, 2016. Notou-se também o aumento das áreas de solo exposto, de 2% em 1986 para 5% em 2014. Do mesmo modo, foi possível observar que, a partir da década de 1980, a maior parte da área de floresta desmatada associou-se ao crescimento econômico-demográfico do município nas últimas décadas. A tendência da expansão da malha urbana para as áreas rurais ocorre frequentemente de modo inadequado, produzindo espaços de segregação sem um devido plano de zoneamento para expansão urbana em áreas adequadas, conforme as diretrizes de planejamento. Segundo Silva Neto e Aleixo (2014), o aumento das áreas desmatadas é observado principalmente nas adjacências das duas principais estradas que ligam a cidade de Tefé ao assentamento rural denominado Agrovila e aos sítios ao longo da estrada da EMADE - Empresa Amazonense de Dendê. Para a implementação da análise espacial de dados geográficos, foram correlacionados os planos de informações de uso da terra e cobertura vegetal de 1986 e 2014, e por meio da elaboração de um programa no módulo de análise espacial do Spring, utilizando lógica booleana, gerou um novo plano de informação da análise temporal do uso da terra dos anos de 1986 e 2014 (Figura 6). 28 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Figura 6: Mapa de análise temporo-espacial de uso da terra e cobertura vegetal do Baixo Rio Tefé em 1986 e 2014. Elaboração: Autores, 2016. Desse modo, os resultados alcançados possibilitaram a análise temporal do processo de uso da terra no Baixo Rio Tefé, verificando-se que, no período analisado, 24% da área analisada foi desmatada, 72% se mantiveram preservadas e 4% reflorestadas (Gráfico 2). Gráfico 2: Análise temporal de uso da terra e cobertura vegetal no Baixo Rio Tefé, de 1986 e 2014. Elaboração: Autores, 2016. 72% 4% 24% Área Preservada Área Reflorestada Área Desmatada Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 29 Ressalta-se que, de acordo com os resultados alcançados, o processo de uso da terra no Baixo Rio Tefé pode ser diretamente associado ao crescimento demográfico na cidade de Tefé nas últimas décadas, consequentemente, o desenvolvimento de pequenas culturas de mandioca, além da extração madeireira. CONCLUSÕES Quanto à utilização de geotecnologias na análise da paisagem do Baixo Rio Tefé, destaca-se que a implementação do módulo de análise espacial do software Spring 5.2 possibilitou a análise das transformações na paisagem ao longo últimos 28 anos, observando- se as alterações nas formas de apropriação da natureza por meio do uso da terra. Essas tecnologias permitem um monitoramento e processamento de dados que aceitam que diretrizes sejam seguidas conforme as configurações observadas na paisagem, como as áreas de queimadas, desmatamento e intensificação de processos erosivos. Na região do Médio Solimões, na Amazônia brasileira, a apropriação da natureza tem acontecido como artifício para a produção e acumulação de capital, por meio da expansão das fronteiras agrícolas e da expansão territorial das malhas urbanas, segundo interesses dos agentes econômicos. Esse processo pode ser explicado pela lógica de apropriação da natureza, que ocorre na região do Médio Solimões, sendo definida como um imperativo da racionalidade econômica, cujo objetivo primordial é tornar qualquer área explorável para fins produtivos, independente das características ambientais destas paisagens. Os processos que transformam e alteram as paisagens do Médio Solimões demonstraram a insuficiência das políticas de planejamento e gestão territorial, que são visualizadas no aumento de áreas desmatadas e no aumento e intensificação dos processos erosivos, os quais são oriundos de usos inadequados do solo que potencializam os problemas de ordem socioambiental na região do Médio Solimões (SILVA NETO; ALEIXO, 2014). Nessa perspectiva, torna-se necessário que o poder público concretize a organização do território, auxiliado por estudos prévios das condições físico-naturais das paisagens, por meio de diagnoses, zoneamentos regionais e locais, e ordenamento do território, articulando a análise sócio-espacial das diferentes dinâmicas da natureza e sociedade conjunta com a participação da população tradicional. 30 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) REFERÊNCIAS ALEIXO, N. C. R., SILVA NETO, J. C. A. 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SILVA NETO, J. C. A. Indicação para o uso da terra na Bacia Hidrográfica do Rio Salobra Serra da Bodoquena, Mato Grosso do Sul. RA'EGA: o Espaço Geográfico em Análise, Curitiba, v. 25, p. 279-304, 2012. SILVA NETO, J. C. A. Zoneamento ambiental como subsídio para o ordenamento do território da bacia hidrográfica do rio Salobra, Serra da Bodoquena – MS. 2013. 291f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. SILVA NETO J. C. A. da; ALEIXO, N. C. R. Apropriação da natureza e processos erosivos na Região do Médio Solimões – AM. Revista GeoUECE - Programa de Pós-Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v. 3, nº 4, p. 151-176, 2014. Disponível em: http://seer.uece.br/geouece. Acesso em: 10 jul. 2014. SPRING – Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas. Versão 5.2 para Windows, 32 Bits. Divisão de Processamento de Imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE/DPI (Copyright © 1991- 2010). Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/spring/portugues/download.php>. Acesso em: 10 mar. 2014. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 31 Capítulo 2 O CAMPO TÉRMICO E HIGROMÉTRICO NA ÁREA URBANA DE TEFÉ-AMAZONAS: UMA ANÁLISE PRELIMINAR Elklândia Gomes Silveira4 Natacha Cíntia Regina Aleixo5 João Cândido André da Silva Neto6 INTRODUÇÃO O Brasil vivenciou um rápido processo de urbanização, derivado da expansão da industrialização e expropriação no campo, que ocorreu de meados da década de 60. Desta maneira, as populações começaram a migrar para as áreas urbanas em busca de novas perspectivas de vida, o que acarretou um processo de expansão territorial urbana desordenada na maioria das cidades, tendo como consequência diversos problemas de ordem ambiental, social e econômica. Dentre os problemas observados nas cidades brasileiras desde o processo da acelerada expansão territorial urbana, pode-se listar a retirada de vegetação arbórea, a excessiva pavimentação e impermeabilização do solo, o aumento da poluição do ar, a poluição do solo, rios, lagos, entre tantos outros. No contexto da problemática urbana está inserido o clima das cidades, que foi alterado a partir do balanço de energia superfície-atmosfera distinto das áreas rurais. As alterações das características naturais provocadas pela urbanização e acentuadas pelo planejamento inadequado, provocaram diversas modificações no ambiente urbano, sendo o clima um componente desse ambiente, sujeito às influências dessas modificações. Portanto, “o clima próprio gerado pela cidade provoca efeitos que são sentidos pela população através do desconforto térmico e da qualidade do ar [...]” (AMORIM, 2000, p. 25). Assim, entende-se que o citadino sofre os efeitos do clima urbano, em especial, a população de baixa renda, que não tem condições de obter climatizadores de ambiente, tendo sua qualidade de vida comprometida. 4 Graduada em Geografia na Universidade do Estado do Amazonas (CEST/UEA). E-mail: nsacj@hotmail.com 5 Professora Adjunto do curso de Geografia da Universidade do Estado do Amazonas (CEST/UEA).E-mail: natachaaleixo@yahoo.com.br 6 Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas. E-mail: joaokandido@yahoo.com.br 32 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Com a constante degradação do ambiente urbano e seus respectivos efeitos sobre a qualidade de vida citadina, o poder público tem se preocupado mais com o planejamento e com a gestão ambiental urbana. A apreciação deste contexto expõe uma área de grande interesse para os geógrafos nos estudos relacionados ao ambiente urbano, pois, além das diversas abordagens geográficas, a análise climatológica também possibilita o estudo de várias problemáticas socioambientais urbanas (MENDONÇA, 2002). Neste trabalho, pretendeu-se compreender as variações térmicas e higrométricas, em diferentes áreas da cidade de Tefé, as quais apresentam características distintas em relação ao uso do solo. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O município de Tefé está localizado na região do Médio Solimões, no estado do Amazonas, entre as coordenadas de 03º 15’ 39” a 05º 34’ 22” de latitude Sul e 64º 04’ 12” a 68º 58’ 32” de longitude, limitando-se com os municípios de Maraã, Coari, Alvarães, Carauari, Tapauá (Mapa 1). A distância de Tefé em relação à capital Manaus por via aérea é de 520 km e 633 km por via fluvial. A cidade possui uma população estimada em 61.453 habitantes, distribuídos em uma área de 23.704 Km² (IBGE, 2010). Mapa 1. Localização do município de Tefé-AM. Fonte: Silva Neto, 2014. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 33 De acordo com Rodrigues (2011), Tefé, desde o período da colonização, sempre teve fundamental importância na região onde está inserida, servindo de entreposto comercial para os expedicionários que por ali passavam. Devido a sua localização estratégica, a maioria das expedições realizadas sempre passava pela cidade para abastecimento de mantimentos. Esse serviço disponibilizado no município fortaleceu cada vez mais sua função na rede urbana do médio Solimões. Assim, atualmente, a cidade é classificada como de porte médio, com responsabilidade territorial, uma vez que o fluxo de pessoas e mercadorias é bastante intenso. (RODRIGUES, 2011). A distribuição das chuvas no município de Tefé ocorre em dois períodos bem marcados: de dezembro a maio, apresentam-se totais elevados de chuvas; em junho, inicia a diminuição do total mensal de chuva; e de julho a novembro, as chuvas apresentam os menores totais mensais. Por isso, popularmente são denominados na Amazônia brasileira o período de cheia e vazante, que contribuem para que o efeito da sazonalidade climática seja intrínseco ao modo de vida amazonense, em especial no cotidiano da população tefeense, a qual utiliza os rios como principais vias de transporte (ALEIXO; SILVA NETO, 2014). Segundo Aleixo e Silva Neto (2014), os valores anuais de temperatura média máxima e mínima mensais dos últimos vinte anos (1993-2012) apresentaram tendência de aumento desde o ano 2000. No período de 1993-2002, a temperatura média máxima anual foi de 32,6 °C e aumentou para 33 °C no período de 2003-2012. A temperatura mínima média também apresentou tendência de aumento, no período de 1993-2003, foi de 22,3 °C e aumentou para 23,1 °C no período de 2003-2012. O aumento de temperatura na cidade pode estar relacionado “às mudanças do uso e ocupação do solo ao redor da estação meteorológica que possui no entorno maior impermeabilização do solo com as construções de vilas de moradias militares, fato que altera o balanço de energia da superfície-atmosfera” (ALEIXO e SILVA NETO, 2014, p.8). Dessa maneira, é importante compreender ocampo térmico e higrométrico no espaço urbano de Tefé, para identificar como o uso e ocupação do solo altera o balanço de energia e condiciona a ocorrência do clima urbano na cidade. 34 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para o desenvolvimento do trabalho partiu-se da abordagem teórica e metodológica do Sistema Clima Urbano (S.C.U.), de Monteiro (1976). Monteiro (2003) considera o clima urbano como o clima que abrange um determinado espaço terrestre e sua urbanização, sendo que o espaço urbanizado constitui o núcleo do sistema. Considerando o S.C.U. como um sistema aberto, é necessário considerar, além dos fatores geradores de energia externos, os fatores internos, isto é, o homem e a dinâmica criada pelo mesmo no espaço citadino. No presente trabalho, antes da coleta de dados termo-higrométricos, fez-se necessária uma caracterização do uso e da ocupação do solo urbano. Assim, a partir da análise de imagens de satélite obtidas por meio do aplicativo Google Earth®, Plano Diretor do Município e registros fotográficos, verificamos o padrão de construção das casas, pavimentação das ruas, coberturas vegetais, densidade das construções, existência de praças públicas, entre outros aspectos que influenciam a alteração no balanço de energia na cidade. A coleta desses dados termo-higrométricos foi realizada em dois pontos específicos de Tefé (Figura 1): o primeiro na área central e o outro na área do entorno da estação meteorológica do INMET, conforme Figura 2. As medidas foram feitas em dois horários diários (8h e 14h), devido à disponibilidade desses horários na estação meteorológica do INMET. A coleta foi realizada em diferentes recortes temporais no ano de 2014: no mês de abril, entre os dias 07 e 11, no mês de junho, dos dias 23 a 27 e no mês de agosto, do dia 11 ao dia 15. Os meses foram selecionados conforme as condições climáticas habituais, buscando a avaliação de ambas as estações (cheia e vazante). Para a coleta dos dados de temperatura no centro da cidade foi utilizado o termo- higrômetro digital da marca HIKARI, que foi inserido em um miniabrigo, para evitar a incidência de radiação solar direta sobre o aparelho. Na estação meteorológica do INMET foram utilizados os dados de temperatura mensurados nos termômetros de bulbo seco e úmido da estação. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 35 Figura 2. Localização dos pontos de coleta dos dados climáticos Fonte: SILVEIRA, 2014. Os dados coletados foram tratados no Excel, gerando planilhas com valores de temperatura em graus Celsius e umidade relativa do ar em porcentagem. As planilhas foram utilizadas com o objetivo de gerar gráficos. A análise e interpretação dos sistemas atmosféricos atuantes no período da pesquisa de campo se deram através de imagens do satélite Goes, disponíveis no site do INMET e Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). Após a sistematização dos dados, foi possível elaborar uma análise acerca das características térmicas e higrométricas da atmosfera urbana em Tefé/AM. ANÁLISE TERMO-HIGROMÉTRICA NA CIDADE DE TEFÉ Foram escolhidos dois pontos na área intraurbana da cidade de Tefé, com características distintas em relação ao uso do solo, vegetação, entre outros aspectos que influenciam no aumento ou diminuição da temperatura. O centro da cidade, especificamente a Praça Santa Teresa e entorno (ponto 1), representa a área com maior densidade construtiva, fluxo de veículos e pouca vegetação, e a estação do INMET (ponto 2), localizada na estrada do aeroporto, representa a menos densamente construída, ou seja, com maior quantidade de vegetação, como mostram as figuras 3 e 4. 36 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Figura 3. Área Central de Tefé. Fonte: Silveira, 2014. Figura 4. Entorno do ponto 2 (Estação meteorológica do INMET). Fonte: Silveira, 2014. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 37 Observa-se que as duas áreas apresentam características diferentes em alguns aspectos, como a vegetação arbórea, que na área central quase não existe e que, na área próxima à estação do INMET, aparece em maior quantidade. A área central da cidade, onde foi feita a mensuração térmica e higrométrica, exibe um padrão de construção bastante denso, com materiais que facilitam o acúmulo de energia na superfície, ou seja, asfalto, concreto, alvenaria, circulação de veículos e as atividades humanas em geral. A substituição da vegetação por áreas construídas é, atualmente, um dos responsáveis pelo aumento da temperatura nas cidades, uma vez que, a “expansão das áreas urbanas provoca modificações significativas na paisagem natural” (SANT’ANNA NETO, 2011, p. 9). A elevação da temperatura nas áreas urbanas ocorre em função de vários fatores. A verticalização das construções, por exemplo, cria um verdadeiro “labirinto de refletores”, em que a energia proveniente do sol é refletida pelos edifícios, aquecendo o ar. A diminuição da evaporação, por outro lado, ocorre pela redução de áreas verdes e canalização dos córregos, além da captura das águas pluviais, acarretando na atmosfera uma pequena capacidade de resfriamento do ar. A energia antrópica, ou seja, aquela produzida pelo homem também provoca aumento do calor, pois ela ultrapassa o balanço médio de radiação. Assim, o calor produzido pelo transito, pelas indústrias e pelas habitações eleva consideravelmente a temperatura do ar na cidade e reduz a umidade, formando o que se convencionou denominar “ilhas de calor” (SANT´ANNA NETO, 2011, p.10). Segundo García (1995), a intensidade das ilhas de calor é classificada em: débil, quando as diferenças oscilam entre 0 °C e 2 °C; moderada, entre 2 °C e 4 °C; forte, entre 4 °C e 6 °C; muito forte, quando as diferenças são superiores a 6 °C. Dentre os meses nos quais foram feitas as coletas de dados em Tefé, seguindo os parâmetros da região e levando em conta o período seco e chuvoso (abril, junho, agosto e setembro), na maioria dos dias analisados, houve atuação dos seguintes sistemas atmosféricos: massa Equatorial continental (MEC) e Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCIT). Houve também pouca precipitação em dias com chuvas convectivas 1,5 mm e poucos dias apresentaram elevada precipitação com valor de até 28,6 mm. 38 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Episódio de 07 a 11 de abril de 2014 No período de 07 a 11 de abril de 2014, as temperaturas registradas apresentaram uma tendência de aquecimento maior na área do centro em contraposição à estação INMET. De acordo com o Gráfico 1, no horário das 8 horas do dia 7/04, a diferença de temperatura nos dois pontos foi de 1,45 °C, entretanto, nos dias seguintes, a amplitude da temperatura aumentou entre os pontos com valor máximo no dia 9/04, observando-se uma diferença de 3,6 °C a mais no Centro de Tefé em relação à área da estrada do aeroporto. Isso demonstra que a densidade de construções e maior impermeabilização do solo faz com que a absorção de radiação solar seja mais elevada e, consequentemente, aumente a temperatura neste ponto da cidade. A umidade relativa às 8h, de acordo com o Gráfico 2, mostra que, a estação do INMET possui, predominantemente, valores mais elevados de umidade do ar, em decorrência da arborização mais elevada no local, o que possibilita a ocorrência do processo de evapotranspiração mais acentuado. Por outro lado, na área Central, a umidade é mais reduzida pelo uso do solo densamente impermeabilizado e com escassez de vegetação arbórea nas ruas. Gráfico 1. Temperatura média às 8h – 07 a 11 de abril de 2014. Fonte: INMET e Silveira, 2014. 22 23 24 2526 27 28 29 30 07/abr 08/abr 09/abr 10/abr 11/abr te m p e ra tu ra m e d ia a s 8 h ( °C ) centro Estação INMET Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 39 Gráfico 2. Umidade relativa às 8h – 07 a 11 de abril de 2014. Fonte: INMET e Silveira, 2014. De acordo com o Gráfico 3, que representa a variação de temperatura às 14h, percebe-se que a amplitude não variou muito, apesar de, todos os dias, a temperatura na área Central se apresentar maior que na área da estrada do aeroporto. Apenas no dia 09/04, observou-se uma diferença de 2,25 °C a mais na área Central. Gráfico 3. Temperatura média às 14h – 07 a 11 de abril de 2014. Fonte: INMET e Silveira, 2014. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 07/abr 08/abr 09/abr 10/abr 11/abr u m id a d e r e la ti v a ( % ) Estação INMET Centro 0 5 10 15 20 25 30 35 40 07/abr 08/abr 09/abr 10/abr 11/abr te m p e ra tu ra m e d ia a s 1 4 h ( °C ) centro Estação INMET 40 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) A umidade relativa no horário das 14h00min apresentou valores mais elevados na Estação do INMET em relação ao Centro. Apenas no dia 10/04, devido à precipitação que ocorreu na cidade, ambos os valores foram homogeneizados pela situação atmosférica predominante no local (Gráfico 4). Grafico 4. Umidade relativa às 14h – 07 a 11 de abril de 2014. Fonte: INMET e Silveira, 2014. Episódio de 11 a 15/08/2014 Neste episódio, a maior diferença registrada nos dois pontos ocorreu no dia 12/08, com uma amplitude térmica de 3,25 °C. No dia 25/08, na parte da manhã, as temperaturas foram bem homogêneas devido à chuva que ocorreu na cidade (28,6 mm). A mesma contribuiu para amenizar a temperatura e elevar a taxa de umidade no Centro, conforme o Gráfico 5. A umidade relativa continuou seguindo o mesmo padrão dos outros episódios, com os maiores valores sendo registrados na área da estrada do aeroporto e com uma homogeneização nos dois pontos nos dias com chuvas (Gráfico 6). 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 07/abr 08/abr 09/abr 10/abr 11/abr U m id ad e R e la ti va ( % ) Estação INMET Centro Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 41 Gráfico 5. Temperatura média às 8h – 11 a 15 de agosto de 2014. Fonte: INMET e Silveira, 2014. Gráfico 6. Umidade relativa às 8h – 11 a 15 de agosoto de 2014. Fonte: INMET e Silveira, 2014. No horário das 14h, não houve uma variação acentuada comparando os dois pontos, houve uma amplitude de 0 a 2,5 °C. durante os todos os dias (Gráfico 7). Em relação à umidade, neste mesmo horário, houve uma variação no dia 12/08, pois o Centro apresentou um valor maior que a estrada do aeroporto, 64% e 60%, respectivamente, conforme se observa no Gráfico 8. 0 5 10 15 20 25 30 35 11/ago 12/ago 13/ago 14/ago 15/ago te m p e ra tu ra m e d ia 8 h ( °C ) centro estação INMET 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 11/ago 12/ago 13/ago 14/ago 15/ago u m id a d e r e la ti v a ( % ) estação INMET centro 42 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Gráfico 7. Temperatura média às 14h – 11 a 15 de agosto de 2014. Fonte; INMET e Silveira, 2014. Gráfico 8. Umidade relativa às 14h – 11 a 15 de agosto de 2014. Fonte: INMET e SILVEIRA, 2014. Assim, verificou-se, nas áreas de Tefé, com características de uso e ocupação dos solos diferentes, que além dos fatores naturais como sistemas atmosféricos atuantes e a precipitação, as modificações ocorridas na paisagem urbana da cidade, em decorrência da produção do espaço, influenciam diretamente no aumento da temperatura, causando assim, a ocorrência do fenômeno de ilhas de calor com intensidade moderada, o que acarreta desconforto térmico na população, principalmente a parte que habita ou trabalha na área central da cidade. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 11/ago 12/ago 13/ago 14/ago 15/ago te m p e ra tu ra m e d ia 1 4 h ( °C ) centro estação INMET 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 11/ago 12/ago 13/ago 14/ago 15/ago u m id a d e r e la ti v a ( % ) estação INMET centro Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 43 A diferença de temperatura nas duas áreas relaciona-se à densidade de construções na área central da cidade, falta de áreas verdes e arborização urbana nas ruas, além da concentração de atividades como circulação de veículos, comércio e impermeabilização do solo por material asfáltico na área central. O contrário foi observado na estrada do aeroporto, onde se localiza a estação do INMET, cujo entorno apresenta um padrão construtivo menos denso e com presença significativa de vegetação, propiciando, às pessoas que habitam ou trabalham nas proximidades, um ambiente térmico melhor. O aumento da temperatura pode potencializar o uso de climatizadores artificiais e deflagrar em muitas pessoas sintomas como fadiga, estresse, irritação, insônia, entre outros, podendo inclusive, influenciar a ocorrência de problemas de saúde como doenças cardiovasculares (ALEIXO, 2012). Dessa maneira, o clima urbano deve ser pensado como um produto social que precisa de maior atenção do poder público, para que políticas visando a qualidade ambiental, como a ampliação da arborização urbana, das praças, além de outras medidas de planejamento urbano, sejam efetivas e melhorem o conforto e o bem-estar da população no espaço urbano de Tefé. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados analisados neste trabalho demonstraram que as alterações na paisagem urbana da cidade de Tefé vêm causando alterações nas temperaturas em algumas áreas da cidade. Percebe-se que nas áreas, onde há uma menor densidade de construções e áreas verdes, as temperaturas são mais amenas, enquanto nas áreas com uma densidade construtiva significativa e com ausência e áreas verdes, as temperaturas são mais elevadas, com variações entre 2 °C a 4 °C entre as áreas analisadas. As variações nas temperaturas tiveram maior amplitude no horário das 14h na maioria dos dias dos meses analisados. Ressalta-se que foi utilizada a média das temperaturas de cada dia nos dois horários, pois os dados foram coletados por meio de dois aparelhos diferentes, no caso, a estação convencional do INMET, que mensura a temperatura em três horários (8h, 14h e 20h), e o termo-higrômetro digital, segunda forma de coleta dos dados. 44 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Por meio desta pesquisa, pôde-se verificar a presença de ilhas de calor de intensidade moderada na área intraurbana de Tefé. Nessa perspectiva, vale destacar que a cidade merece atenção especial em relação ao planejamento ambiental urbano, para que os efeitos do clima urbano sejam amenizados, uma vez que, os elementos que o compõem comprometem a qualidade ambiental. Além disso, os resultados preliminares encontrados, nesta pesquisa pioneira, na área urbana de Tefé, podem subsidiar mais estudos de clima urbano em outros contextos espaciais da cidade, englobando áreas que não foram analisadas nessa abordagem de pesquisa e temas como conforto térmico, clima urbano e saúde, bem como impactos de eventos extremos, entre outros. Neste contexto, as pesquisas de clima urbano podem auxiliar no diagnóstico das áreas que mais necessitam de intervenção, para melhoria da qualidade ambiental e conforto térmico dos habitantes, subsidiando políticas públicas para produção do espaço, de maneira mais adequada e igualitária. AGRADECIMENTO Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro ao Projeto: “Variabilidade climática e dinâmica socioambientalno Médio Solimões-Am” – CNPq Universal 485971/2013-5. REFERÊNCIAS ALEIXO, N.C.R.; SILVA NETO, J.C.A. Variabilidade climática do município de Tefé/Amazonas/Brasil. Anais... VIII Simpósio Latino-Americano de Geografia Física Aplicada, Santiago, Chile, p.1635-1643, 2014. ALEIXO, N.C.R. Pelas lentes da Climatologia e da Saúde Publica: doenças hídricas e respiratórias em Ribeirão Preto/ SP. Tese de Doutorado em Geografia - UNESP. Presidente Prudente, 2012. 350p. AMORIM, M. C. C. T. O clima urbano de Presidente Prudente-SP. 2000. 378f. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciência Humanas – USP. São Paulo. CENTRO DE PREVISAO DO TEMPO E ESTUDOS CLIMATICOS – CPTEC. Banco de dados de imagens GOES. Disponível em:<www.cptec.inpe.br. GARCÍA, F. F. Manual de climatologia aplicada: clima, medio ambiente y planificación. Madrid: Editorial síntesis, S.A., 1995. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, Censo Demográfico 2010. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 de julho de 2014. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 45 INSTITUTO NACIONAL DE METEREOLOGIA – INMET. Disponível em:<www.inmet.gov.br. MENDONÇA, F. Geografia Socio-ambiental. In: Mendonça, F.; Kozel, S.. (Org.). Elementos de epistemologia da geografia contemporanea. Curitiba: Editora da UFPR, 2002, v. 1, p. 121-144. MONTEIRO C. A. de F. Teoria e Clima Urbano. São Paulo, IGEOG/USP, 1976. MONTEIRO, C. A. de F. e MENDONÇA, F de A. (org). Clima Urbano: São Paulo: Contexto, 2003. NASCIMENTO, T. S. Caracterização das condições atmosféricas no período de (1991-2007) em cidades que compõem a calha do rio Solimões-Amazonas / Manaus - AM: UFAM, 2009. RODRIGUES, E. A. Rede Urbana do Amazonas: Tefé como cidade média de responsabilidade territorial na calha do Médio Solimões. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Manaus - AM, 2011. SANT´ANNA NETO, J.L. O clima urbano como construção social: da vulnerabilidade polissêmica das cidades enfermas ao sofisma utópico das cidades saudáveis. Revista Brasileira de Climatologia, ano 7, v. 8, p. 45-60, 2011. SILVEIRA, E. G. Clima Urbano: Análise do campo térmico e hidrométrico na cidade de Tefé AM. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) Universidade do Estado do Amazonas.Tefé. 46 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) Capítulo 3 CARACTERIZAÇÃO DA TEMPERATURA, pH E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS NA COMUNIDADE FLUTUANTE DO CATALÃO, IRANDUBA – AMAZONAS Marcos Fabricio Leal Ramos7 Flávio Wachholz8 INTRODUÇÃO A água é indispensável para vida, ou seja, todos os seres vivos precisam desse elemento para viver e a possuem na sua estrutura física (BRUNI, 1994). A água possui significativa importância também pelos seus usos antrópicos: navegação, irrigação, pesca, consumo doméstico e industrial. Rebouças (2004) enfatiza que, desde o início da formação da sociedade, a água ocupa um papel fundamental no desenvolvimento de grandes civilizações. No entanto, os esforços e desafios da população são para armazenar e diminuir o consumo de água, visto que a mesma vem se tornando um bem escasso e sua qualidade se deteriora cada vez mais rápido (FREITAS et al., 2001). Cada uso da água apresenta seu próprio requisito de qualidade; como o abastecimento urbano que exige alto padrão de qualidade e a navegação não apresenta restrições (BORSOI; TORRES, 1997). As preocupações com a qualidade deste recurso têm induzido uma série de medidas, tanto governamentais, quanto sociais, com o objetivo de viabilizar a continuidade das diversas atividades públicas e privadas, as quais têm como foco as águas doces, principalmente as que atuam diretamente sobre a qualidade de vida da população (MACHADO, 2003). A disponibilidade hídrica no Brasil é distribuída de maneira desigual pelo território (TUNDISI, 2008). Segundo Machado (2003), cerca de 70% da água está localizada na região Norte, a qual abriga aproximadamente 7% da população brasileira. Nessa região, encontra- se a Bacia Amazônica, sendo o maior sistema fluvial do mundo, com 6.400.000 km² de extensão, abrangendo nove países da América do Sul, e o Rio Amazonas, que chega a 6.762 km de comprimento (YAHN FILHO, 2005). 7 Licenciado em Geografia, Escola Normal Superior, Universidade do Estado do Amazonas. 8 Professor adjunto do curso de Geografia, Escola Normal Superior, Universidade do Estado do Amazonas. Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Brasileira - 47 Nesse sentido, a região Norte, normalmente é vinculada à disponibilidade de recursos hídricos, devido ao enorme volume de águas doces concentradas (Rebouças, 2003). Entretanto, para que essa água, natural no meio ambiente, se torne potável, é necessário utilizar métodos de tratamento, como decantação, filtração e desinfecção. Logo, a abundância deste recurso não é sinônimo de água potável em fartura. A disponibilidade hídrica de água potável na Amazônia está diminuindo, e as principais razões para a diminuição deste potencial devem-se ao crescente aumento da deterioração dos recursos hídricos (NETA PINTO et al., 2009). Esse elevado crescimento na degradação dos recursos hídricos é causado por várias fontes, dentre as quais se destacam os efluentes domésticos e industriais (MELO et al., 2005). Outro fator está relacionado à ineficiência dos sistemas de tratamento e distribuição de água nesta região. Em média, entre 40% a 60% da água tratada é perdida no percurso entre a captação e os domicílios, em função de tubulações antigas, vazamentos, desvios clandestinos e tecnologias obsoletas utilizadas nesta distribuição (MACHADO, 2003). A degradação da qualidade da água refere-se a uma série de parâmetros físicos, químicos e biológicos que exercem influência de maneira direta na qualidade deste recurso, e está ligada a fatores naturais e antrópicos (RODRIGUES; PISSARRA, 2007). O principal propósito para a exigência de qualidade da água potável é a proteção à saúde pública, visto que o abastecimento deste recurso deve conter certos padrões de qualidade, pois os principais agentes biológicos contaminantes descobertos nas águas são as bactérias patogênicas, os vírus e os parasitas (D’AGUILA et al., 2000). Nesse sentido, o principal desafio consiste em viabilizar a implantação de sistemas de tratamento de efluentes urbanos e industriais, para e assegurar o pleno abastecimento de água potável à população (MOREIRA, 1996). A comunidade flutuante do Lago do Catalão, este localizado na planície de inundação de confluência dos Rios Negro e Solimões (BRITO, 2006), que se enquadra no quesito de zona rural, não possui rede de abastecimento de água, utilizando assim, as águas destes rios para satisfazer suas necessidades domésticas e de higiene pessoal. É notável perceber nesta região a contradição da escassez de água potável, visto que a mesma possui uma grande 48 - João Cândido André da Silva Neto, Natacha Cíntia Regina Aleixo e Leonice Seolin Dias (Orgs) disponibilidade deste bem natural, contudo, sem tratamento adequado para sanar as necessidades domésticas e de higiene pessoal dos moradores desta comunidade. Deste modo, avaliou-se a qualidade da água da Comunidade do Catalão por meio das variáveis: pH (potencial hidrogeniônico), índice que representa a acidez ou basicidade das águas; condutividade elétrica, parâmetro que analisa a capacidade de condução de corrente elétrica de sais dissolvidos e ionizados presentes na água; e temperatura, variável física que contribui no sabor e odor das águas, bem como influencia fatores biológicos e químicos. Buscou-se também relacionar a variável pH de acordo com os usos
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