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Run_This_Town_03_Watch_Me_Unmask

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Equipe Traduções R&L 
(Watch Me) Unmask You #3 
TM: Drika 
Revisão: Alanna M. 
Leitura/Formatação: Fanny 
 
 
 
http://rosase-book2.blogspot.com.br/ 
 
 
 
 
Run This Town 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com um puxão, o fio se desenrola, e um mundo 
construído sobre mentiras virá a ruir. 
 
Muitos corpos. Rios de sangue. Elias Kote vê todos em 
seu sono. Somente o amor de seu marido e filha o 
mantém vivo e lutando. Este assassino de aluguel está 
exausto e pesado com todas as mentiras que ele conta 
todos os dias. Quem é ele. O que ele faz. Como ele veio 
a ter tudo o que ele tem. Elias pode atestar que nada 
permanece escondido para sempre, mas seus segredos, 
quando eles caem, destroem tudo. Todos. E o deixa se 
remexendo para tornar a família inteira novamente. 
Dez anos juntos. Três legalmente casados. Um com 
sua filha. E em uma noite, o mundo de Lucky Mousasi... 
para. O que ele achou ser uma invasão de casa aleatória 
se transforma em algo mais. Os homens mascarados não 
apenas o brutalizam, mas eles estão armados com 
conhecimento sobre Lucky, seu marido e a vida que ele 
achava que ele conhecia. Parece que nada é 
coincidência, certamente não encontrar e se apaixonar 
por Elias. Ferido, maltratado, com o coração aberto, 
Lucky se afasta. 
Um rival íntimo não vai parar em nada para 
neutralizar a ameaça que Elias coloca, e a vida que ele 
construiu por culpa e desespero torna-se um dano 
colateral. Quando Lucky leva a sua filha e desaparece, 
Elias enlouquece. Ele vai recuperar sua família, mas 
primeiro ele está em uma missão de eliminação. Uma 
bala de cada vez. 
Agradecimentos 
 
Eu sou uma criatura solitária, mas é preciso uma aldeia para 
levar meus meninos à vida. Para esse fim, eu devo a Emmy Ellis 
por ter deixado foda essas lindas capas. Robin Badillo, Guia 
(Marie) Fabros, Amanda Atchley e Crissy Morris pelo polonês. 
Av's Gang, por segurar minha mão sem saber. Vocês são o 
melhor grupo. Sempre. Antecipando ansiosamente nossa festa 
do pijama Unmask You. 
E o Sr. A. Pelos cupcakes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 1 
Antes... 
 
Alguém estava na casa. Alguém diferente dele. 
Lucky apertou os ombros contra a parede áspera e fria, agarrando o 
bastão de beisebol nas mãos. Sem luz. Ele amaldiçoou isso quando o recebeu 
antes. Sem luz, ninguém poderia vê-lo entrar na casa vazia, mas também 
significava que ele não podia ver quem era aquele que acabara de abrir a 
porta do quarto com um clique mal audível. 
O sinal vermelho e azul de “vendido” no gramado bem-equipado não 
manteve Lucky fora e, aparentemente, não impediu o recém-chegado. Seu 
coração chutou e de repente ele estava suando quando ele estava tremendo 
cinco minutos antes. Talvez alguém o tenha visto depois de tudo. Talvez eles 
chamaram os policiais que vieram levá-lo de volta ao lugar da sua tia e tio. 
Ele odiava aquele lugar. 
Passos, cuidadosamente medidos, fizeram os pisos rangerem. Um som 
tão familiar, um gemido subiu na garganta seca de Lucky. Seus batimentos 
cardíacos eram altos, seu pulso corria, seu estômago grunhia - fazia isso o 
tempo todo desde que sua tia continuava resmungando que ele estava 
expulsando-os de casa. O que quer que isso significasse. O ruído de sua 
barriga faminta parecia muito alto, convencendo-o de que a pessoa na sala 
com ele poderia ouvi-lo, identificaria sua localização e o arrastaria para longe. 
Ele cavou os calcanhares no chão do closet, apertando os dedos em 
torno da base do bastão. Era a única coisa que ele levou quando ele 
atravessou a janela de sua tia e tio em Jersey City. Não era a primeira vez 
que ele fez isso, fugiu enquanto eles dormiam. Ele não se sentia bem lá. 
Apenas o faziam se sentir como uma criança, o que ele definitivamente não 
era mais. Mas ele sempre sentiu que os Henderson não o queriam por aí. 
Hoje em dia eles o deixavam saber de forma direta. Eles não o queriam por 
aí. 
Sua tia se ressentia do fato de que sua irmã, a mãe de Lucky, havia se 
matado junto com seu marido, deixando Tia Diana para cuidar de Lucky de 
dez anos. Mas como a culpa era de Lucky? 
Não era. 
 — Eu sei que você está aqui. 
Falta de ar bateu em Lucky. Ele sacudiu. A voz masculina estava 
próxima. Muito perto. Seu peito arfou, e ele virou a cabeça, enterrando seu 
rosto em seu ombro para abafar a dura respiração que ele dava. Ele 
inspirava, mas isso não podia ser ajudado. Agora não. 
 — Eu não vou machucá-lo, e eu prometo não chamar a polícia. — as 
palavras eram profundas, roucas e tingidas com algum tipo de sotaque 
estranho. Definitivamente, não americano. — Você deveria sair — continuou 
a voz. 
Não. Esta era a casa de Lucky. Este era o quarto dele, o closet dele. A 
vida dele. Ele mordeu o lábio para conter as palavras. Sempre que falava 
sobre sua infância e a vida que lhe foi arrebatada, sua tia ficaria zangada 
com ele. Gritaria para ele superar isso. Ele parou de mencionar seus pais, 
aprendendo, finalmente, a manter suas coisas para si mesmo. 
Ele já não tinha mais dez anos. Ele não gritava mais por sua mãe. E se 
às vezes a lembrança de seu pai sorrindo para ele fazia seu olho queimar, ele 
sabia como esconder, esconder isso antes que alguém o visse e o chamasse 
de fraco ou um garoto. Na escola, ele foi provocado quando ele congelou na 
prática de natação, recusando-se a entrar na piscina. Eles morreram na 
água. Seu barco bateu em alguma coisa e explodiu, e a visão da água fez com 
que Lucky ficasse ansioso. Então ele escondia melhor agora. Os primeiros 
dias, porém, ele entrou em tantas lutas, mas teve que parar e aguentar. Ele 
assistia TV, ele sabia como dar um soco. Ele poderia lutar, era só... Seu pai 
nunca gostou de violência e Lucky não queria fazer nada para desonrar sua 
memória. 
 — Olá? — a voz o surpreendeu novamente. — Posso te ajudar. Apenas 
saia. — uma luz brilhou sob a porta do closet, e Lucky tentou fazer um check-
up, mas não havia nenhum lugar para ir. 
Uma lanterna. 
O tremor em seus membros piorou. Ele não queria ser aquele cara, a 
criança assustada se escondendo. Ele podia ouvir as outras crianças, vê-las 
apontando para ele e rindo enquanto tentava não fazer xixi em seu jeans 
rasgado e sujo, com medo. Mas ele não era mais um garoto. 
A maçaneta na porta do closet chacoalhou e antes que ele pudesse 
levantar o bastão, uma luz brilhante estava em seus olhos, cegando-o. Lucky 
atacou. 
 — Jesus, porra! 
Lucky não atingiu seu alvo e o bastão caiu no chão enquanto jogava o 
braço direito para cobrir seus olhos. Algo clicou. 
Alto. Ecoando. Ele queria gritar ou implorar ou algo assim, mas todas 
as palavras ficaram presas na garganta. 
A luz se afastou, ou pelo menos se afastou de seus olhos, então Lucky 
olhou por cima do braço e congelou. Uma arma estava apontada para ele, 
para sua testa. Uma grande arma negra. Ele não conseguiu distinguir o outro 
homem, tudo o que ele conseguiu ver foi uma barba espessa e uma figura 
grande vestida de preto. 
 — Maldito seja, garoto — um aperto forte se instalou em torno do pulso 
esquerdo de Lucky e puxou, puxando-o para seus pés. 
Ele estava sendo roubado, mas Lucky se irritou com aquelas palavras 
duras. Por que todos continuaram insistindo que ele era uma criança? Ele 
deixou cair a mão sobre o rosto e olhou para o espaço onde ele achou que a 
cabeça do cara seria uma vez que a luz estava de volta aos olhos dele. 
 — Eu não sou um garoto — isso não deveria ter sido o que se fixou, 
não quando ele tinha a arma de um estranho na cabeça, mas era o tópico 
mais seguro e Lucky se apegava a isso. 
 — Como você entrou aqui? — o homem ignorou os protestos de Lucky. 
Lucky não respondeu, mas ele olhou para a arma. 
— Você tem uma arma — ele quase recebeu um tiro. 
Em sua própria casa, a casa que ele passara os primeiros dez anos de 
sua vida. Em seu próprio closet. Ele quase tinha sido baleado. A realização 
encurtou suarespiração, tornando-a agitada. 
— Eu... — seus joelhos cederam e ele caiu no chão como o garoto da 
mamãe que todos os idiotas da escola sempre diziam que ele era. 
 — Ei. Whoa — o cara avançou, agarrando o ombro de Lucky. — Relaxe. 
Tire isso com facilidade — ele deixou cair a lanterna no chão e segurou a mão 
livre. — Estou colocando isso longe. Vê? — ele tirou a arma e a trouxe atrás 
de suas costas, provavelmente colocou-a em algum lugar como sua cintura, 
mas Lucky não podia ter certeza. 
Dedos estalaram na frente de seus olhos. Ele piscou. 
 — Você está bem — o sujeito agachou-se e agarrou o queixo de Lucky, 
mantendo-o firme quando ele se afastou. — Olhe para mim — ele disse 
suavemente. — Deixe-me vê-lo. 
Lucky olhou para o rosto, dividido entre querer ficar e ouvir sua voz 
hipnótica e levantar e correr para longe da casa. Ele podia ver o rosto do 
outro homem um pouco melhor, podia distinguir o nariz afiado e os olhos 
azuis. 
 — Por que você está aqui, criança? 
Lucky abriu a boca para discutir a coisa da criança, mas seu estômago 
escolheu esse momento para protestar contra o vazio. A vergonha calorosa 
passou por seu corpo e baixou o olhar. 
 — Não — disse o cara. — Olhe para mim. Diga-me por que você está 
aqui. 
 — Esta é a minha casa — ele queria usar o mesmo tom irritado, mas 
suas palavras saíram como um choramingar vacilante. Ele lambeu os lábios 
rachados. — Como você sabia que eu estava aqui de qualquer jeito, hein? 
 — Você tem os seus segredos, eu tenho os meus — o homem agarrou 
a parte superior do braço de Lucky, apertado, seguro e inquebrável. — Venha 
— ele puxou Lucky, que tentou se afastar. 
 — Não — ele não podia sair. — Eu não posso sair — seus olhos 
queimaram. Lágrimas estúpidas. Ele inclinou a cabeça e estendeu a mão, 
segurando a frente do suéter preto do cara. — Por favor. Eu... não me faça 
sair — apesar do frio e da fome, apesar do escuro e do medo, ele se sentiu... 
em casa. Ele sentiu como se ele pertencesse, pela primeira vez em anos. 
O sujeito amaldiçoou e arrancou as mãos. 
— Não se mova — ele emitiu o pedido com uma voz apertada e saiu do 
armário, puxando algo do bolso. 
 — Por favor, não ligue para a polícia — suplicou Lucky. Ele se levantou 
e correu para fora depois do cara. — Por favor? — as lágrimas estavam lá, 
mas ele as engoliu. — Eu só queria voltar para casa. Eu só queria voltar 
para casa. 
O cara congelou com as costas para ele. Ele permaneceu parado por 
mais tempo, nenhum deles dizendo nada, então ele caminhou na direção da 
sala. Lucky cobriu a boca com uma mão e olhou ao redor. A lua filtrou através 
das cortinas da janela, lançando uma parte de sua luz na pequena sala. Ele 
ficou no meio dela e tentou engolir a tristeza. 
As lascas de tinta azul profundo estavam espalhadas por todo o chão, 
descascando das paredes. Seu quarto, esse quarto. Ele costumava dormir 
aqui. Se ele fechasse os olhos, ele ainda podia ouvir sua mãe lendo para ele 
uma história para dormir, ainda ouvia seu pai dizendo que monstros não 
existiam. 
Eles já tinham ido agora, deixando Lucky com um buraco dentro. 
Logo os Henderson saberiam onde ele estava e viriam por ele. Ou ele 
poderia ser enviado para um orfanato, como sua tia continuava ameaçando 
fazer. Isso seria pior, porque se tivesse uma escolha, ele preferia os demônios 
que ele já conhecia. Ele não podia esperar pelo décimo oitavo aniversário. Ele 
pegaria a primeira metade de sua herança então. Aquele dia não poderia 
chegar em breve. 
Passos pesados atingiram seus ouvidos e ele girou em direção ao som. 
O cara voltou para o quarto, segurando duas velas acesas, uma em cada 
mão. Lucky olhou para ele. Com a luz das velas cintilando sobre suas 
características, o homem parecia duro, assustador, seus olhos como lascas 
de gelo com a intenção de apagar as pequenas chamas. 
Lucky engoliu. 
 — Qual o seu nome? — ele segurou o olhar de Lucky, fixando-o até 
onde ele estava. 
Lucky engoliu. — Qual é o seu? 
Uma careta torceu sua sobrancelha. 
— Elias, esse é o meu nome. E se você não me disser quem você é nos 
próximos cinco segundos, eu esquecerei de chamar os policiais e lidarei com 
você eu mesmo — seu olhar ficou mais frio, ártico. — Confie em mim quando 
eu lhe digo, você não quer que eu brigue com você, garoto. 
Lucky acreditou nele. Ele acreditava que se ele irritasse o homem à sua 
frente, ele se arrependeria. 
— Lucky — ele disse suavemente. — Meu nome é Lucky. 
As características do homem ficaram em branco. — Lucky o quê? 
 — Mousasi. 
 — Por que você está aqui, Lucky Mousasi? De onde você veio? 
Lucky franziu os lábios. Ele queria mentir ou pelo menos se proteger, 
mas o medo do homem diante dele o fez falar a verdade. — Jersey, eu fugi 
da minha tia e tio. 
Elias apenas olhou para ele, sem piscar, penetrando. E Lucky sentiu a 
necessidade de explicar, então ele começou a falar. 
 — Eu queria voltar aqui, onde eu cresci. Esta é a minha casa, e todos 
ficam loucos quando falo sobre isso. Como se eles achassem que eu deveria 
esquecê-la. Esquecer meus pais apenas porque eles morreram — ele olhou 
para Elias. — Como posso? 
Elias ainda não falou, então Lucky continuou falando, pelo menos para 
sufocar o silêncio. 
 — É horrível viver lá. Tia Diana me odeia e o tio Jeff me ignora. Nunca 
há comida suficiente e eles me espancam quando eu peço mais — ele fez uma 
pausa e retrocedeu. — Bem, eles costumavam, mas estou ficando maior. O 
treinador diz que estou começando a ter músculos. Ele está sempre me 
olhando, sabe? — ele estremeceu. — Eu queria poder mudar de escola, no 
entanto. Não gosto da maneira como ele me faz sentir — ele estava 
balbuciando, mas ele não podia ajudar. 
 — Como seu treinador faz você se sentir? — Elias aproximou-se dele e 
depois parou. 
 — Sei lá. — Lucky encolheu os ombros. — Como se eu precisasse me 
esconder. 
Elias inalou alto. — Quantos anos você tem, criança? 
 — O que importa? — Lucky ficou na defensiva. — Você não me vê 
perguntando quantos anos você tem — ele olhou para Elias para cima e para 
baixo. — Você deve ser muito velho, hein? 
Um músculo pulsou no maxilar de Elias. — Tenho vinte e oito anos. 
Pare de evitar a pergunta, Lucky. 
A maneira como ele disse o nome de Lucky era... inquietante. Seu 
estômago ficou enjoado, um pouco como ficava quando ele olhava por muito 
tempo nas costas nuas de Daniel Roche no ginásio na escola. Ele sabia o que 
se seguiria, então ele se virou rapidamente, limpando suas palmas suadas 
nas coxas enquanto seu corpo reagia, sua virilha apertando. 
 — Só porque eu sou jovem, não significa que eu sou criança — ele nem 
sabia o que ele estava dizendo. Ele só queria dar tempo ao seu corpo para 
acalmar o inferno. Esta era mais uma coisa que ele odiava sobre si mesmo. 
Ele não era normal. 
 — Então pare de agir como um e me diga sua idade, Lucky. 
Lucky suspirou e seus ombros caíram. — Que horas são? 
Elias fez uma pausa e disse: — 1:31 da manhã. 
Corpo sob controle, Lucky enfrentou Elias novamente. — Dezesseis. 
Hoje é o meu aniversário. 
 — Então feliz aniversário — o outro homem falou suavemente, como 
se estivesse preocupado. 
Lucky não podia olhar para ele, então ele grunhiu com o olhar fixo em 
um ponto sobre o ombro de Elias. No ano passado, ele fez o mesmo, fugiu 
para Boston para visitar sua avó na casa onde Diana a tinha deixado morrer. 
Ele passou seu aniversário amontoado na parte traseira de um ônibus, a 
primeira vez que ele estava sozinho e por conta própria há bastante tempo. 
Ele estava tão orgulhoso de si mesmo, mas ele entrou naquele ônibus com 
apenas dez dólares nos bolsos e a realidade atingiu. Ele estava sozinho, em 
um lugar estranho. 
Ele obteve a proposta no trem. Algum cara o tinha encarado, e quando 
Lucky tinha atirado um “o quê?”, ele apontou para sua virilha, o contorno 
duro de seu pênis visível e acenou um punhado de dinheiro. 
Lucky tinha contempladoisso. Ele tinha, e não era como se ele não 
soubesse agora que gostava de meninos mais que de meninas. Ele nunca 
tinha feito isso antes, mas ele tinha que aprender em algum momento, certo? 
E ele ganharia dinheiro no processo. Mas ele estava congelado e, quando o 
trem puxou para uma parada momentos depois, ele obrigou-se a se levantar 
e correr sem olhar para trás. 
Claro, voltar para casa de Boston foi o pior. E ele teve que fazer uma 
merda... Lucky trocou de pé a pé. Ele ainda não tinha se livrado dessa 
vergonha. 
 — Lucky? 
Ele piscou para Elias, cujo olhar tinha aquecido alguns graus. — Sim? 
 — Se eu correr para o mercado, você estará aqui quando eu voltar? 
 — O que? Por que você... — ele engoliu o restante da pergunta e tentou 
por um encolher de ombros indiferente. — Não sei. Talvez. Talvez não. 
 — Vou pegar um pouco de comida. Não pense que não ouvi o barulho 
da sua barriga. — Lucky abaixou a cabeça com mortificação. — Mais alguns 
cobertores e outras coisas. 
 — Por que você está sendo gentil comigo? — Lucky deu um gigante 
passo para trás e olhou para ele com o que ele esperava ser desdém. — Não 
pense que vou deixar você fazer qualquer coisa para mim. Você pode esquecer 
isso, velho. 
Elias revirou os olhos. 
 — Eu vou, esteja aqui ou não. Não importa para mim — e ele saiu. 
Lucky permaneceu enraizado até que ele ouviu a porta da frente se 
fechar suavemente e ele caiu de joelhos no chão. Ele cobriu o rosto com as 
mãos. Isso foi um erro, vir aqui. Pelo menos nos Henderson, ele tinha algum 
alimento, ele tinha uma cama, desconfortável como era, e ele tinha 
cobertores para mantê-lo aquecido. Ele tinha sido um idiota por pensar que 
poderia fazer isso, pensar que ele tinha idade suficiente. Ele não tinha, como 
evidenciado pela situação atual. 
Ele sentou-se contra a parede onde estava a cabeceira da cama e puxou 
os joelhos para o peito. 
Descansando a cabeça nos joelhos, ele pensou em sair. Elias poderia 
estar mentindo para ele, enganando-o para ficar enquanto ele chamava a 
polícia. Lucky entrou na casa, afinal. 
Como Elias sabia que Lucky estava aqui? Ele era o novo dono da casa? 
Ele parecia conhecer o lugar. Vinte e oito, ele disse. Provavelmente ele era 
casado, e comprou esse lugar para sua esposa e filhos. 
Engraçado, como esse pensamento fez com que Lucky se encolhesse. 
Com raiva de que outro moleque estivesse dormindo em seu quarto. Os 
arrepios voltaram agora que Elias se foi e ele estremeceu, com os dentes 
batendo. As pálpebras ficaram pesados e ele inclinou a cabeça para trás. 
 — Lucky. 
Alguém estava tremendo, chamando seu nome. — Lucky, vamos. 
Acorde para mim. 
Essa voz, por que era tão familiar? E por que afugentou o frio? — 
Lucky. 
 — Hm? — ele abriu um olho. Uma barba vermelha e espessa entrou 
em vista, e ele estendeu a mão para tocar isto. 
 — Acorde para mim, Lucky. 
 — Huh? — ele piscou e deixou cair a mão dele. — Ah Merda. Desculpe 
— ele olhou para Elias. — Você voltou. 
 — Eu fiz — ele deu um breve aceno de cabeça. 
Lucky queria abraçá-lo, mas, em vez disso, olhou para o relógio que 
roubou de um quiosque nas ruas do Lower Manhattan e franziu o cenho. — 
Levou tempo suficiente. 
 
 
 
Capítulo 2 
 
Os lábios de Elias se contraíram, como se estivesse tentando não sorrir. 
 — Eu trouxe comida — ele acenou com um recipiente branco sob o 
nariz de Lucky. — Hambúrguer e batata frita e outras coisas — ele se afastou 
apenas quando Lucky estava prestes a mexer na comida. — Eu tive que 
procurar os cobertores e o aquecedor de espaço, de modo que demorou mais, 
desculpe. 
Cobertores? Lucky olhou em volta. Um aquecedor de espaço estava 
conectado à parede a poucos metros de distância. Uma sacola estava ao lado 
dele, feita de plástico transparente para que ele pudesse ver o cobertor 
espesso e cor-de-rosa no interior. Ele ficou boquiaberto. 
 — Você... você comprou tudo isso? Por quê? — a suspeita ergueu a 
cabeça feia novamente, mas ele não podia se sentir mal por isso. Ninguém 
fazia nada por ninguém sem querer algo em troca. — O que eu tenho que 
fazer em pagamento? 
Elias caiu de joelho e ficou em seu rosto, olhos ferozes e cativantes. 
— Vamos fazer algo claro. Você é uma criança. Eu não sei com quem 
você esteve por aí, mas não sou esse tipo. Eu não preciso de nada além de 
você estar quente e sua barriga cheia — ele parou e soprou uma respiração 
que soprou o cabelo de Lucky. — Lucky. Você está a salvo, comigo. 
 — Deus. Tudo bem — ele revirou os olhos e ergueu o queixo. — 
Entregue a comida então, caramba. 
Elias fez, e a boca de Lucky regou quando viu o hambúrguer quente e 
as batatas fritas. Ele foi para o recipiente, enfiando-as na boca, gemendo com 
o gosto. Ele não olhou para cima, exceto quando Elias empurrou um 
refrigerante engarrafado em seu rosto. 
 — Beba antes de você sufocar — ele parecia divertido, mas Lucky não 
se importava. Seu estômago apertou, mas ele não conseguia parar de comer. 
Os Henderson não acreditavam em fast food, então Deus sabia quando ele 
teria essa chance novamente. 
 — Tome seu tempo, Lucky. 
Ele grunhiu e lançou para Elias o de peru sem tirar o olhar da comida. 
Um riso explodiu de Elias, e Lucky empurrou a cabeça para cima, olhando 
fixamente. O som era... hipnótico, e isso fazia seu peito doer. Ele baixou a 
cabeça para esconder sua confusão e desconforto, terminando o hambúrguer 
e voltando a atenção para as batatas fritas salgadas. Elas não estavam mais 
quentes, mas maldição se eles não tivessem o gosto da perfeição. Com os 
ombros curvados para proteger a comida, ele manteve a atenção ali mesmo, 
até as batatas fritas e o refrigerante terem desaparecido, e seu estômago se 
sentir como se estivesse prestes a explodir. 
 — Melhor? 
Ele assentiu sem olhar para Elias. 
 — Sim — ele mordeu o lábio e depois lambeu, saboreando o sal das 
batatas fritas. — Obrigado — ele encontrou o olhar de Elias. — Obrigado — 
ele tinha maneiras, quando ele se lembrava de usá-las. 
Elias assentiu, então ele voltou para o chão, sentado ao lado de Lucky, 
de costas para a parede, como ele. 
 — Você é bem-vindo — ele estendeu os guardanapos de papel branco 
e Lucky os pegou, enxugando a boca e o queixo, e seus dedos. 
Ele deixou cair os guardanapos sujos na sacola de plástico que a 
comida veio e depois limpou a garganta. — Por que você está sendo tão gentil 
comigo? Eu invadi sua casa. 
 — Esta não é a minha casa — disse Elias com facilidade. — Além 
disso, você precisava de ajuda. 
Essa era uma maneira estranha de dizer, e de quem era a casa? Mas 
Lucky mudou-se para outro tópico. 
 — Sua esposa sabe onde você está? Você tem filhos? — talvez seja por 
isso que ele estava sendo tão simpático com Lucky. 
Elias sacudiu a cabeça, o olhar no teto. — Eu não tenho esposa. Sem 
filhos também. 
 — Namorada? 
Elias virou-se para ele, com os olhos profundos e tão azuis. — Por que 
você quer saber sobre minha vida social, Lucky Mousasi? 
 — Nada... apenas estou puxando conversa — ele encolheu os ombros. 
— Você não precisa me dizer nada, não é como se nós nos veremos 
novamente depois disso. Certo? 
A boca de Elias apertou. — Certo. 
Lucky desviou o olhar. 
 — Eu só... você parece bem — ele não podia acreditar que ele havia 
murmurado as palavras. Elias provavelmente também não podia acreditar, 
porque ele se enrijeceu. 
 — Certo? O que você quer dizer com eu pareço bem? 
Merda. Ele olhou para o chão. 
— Sei lá — sua voz era brusca de repente. — Familiar, ok? Como se 
eu conhecesse você ou algo assim. Como... como se eu estivesse seguro com 
você — suas bochechas estavam em chamas. Ele parecia uma garota maluca. 
 — Você está seguro, Lucky. Eu te falei isso. 
 — Eu sei — mas não era realmente o que Lucky queria dizer. A verdade 
era que ele não sabia o que ele queria dizer. — Estou cansado, eu vou... — 
ele acenou com a mão. 
Elias levantou-se e pegou o cobertor e desligoua luz antes de voltar a 
sentar ao lado de Lucky. — Coloque sua cabeça no meu ombro. 
Lucky olhou para ele. 
 — Faça isso, Lucky, e eu vou nos cobrir. 
Lucky não conseguiu se mover. Elias fez isso. Ele se aproximou até que 
suas coxas estivessem escovando, seus ombros esfregando e segurando a 
nuca de Lucky, trazendo a cabeça para o ombro de Elias. 
Lucky foi com ele, apesar de seu corpo estar agindo de novo e ele podia 
sentir o cheiro da pele de Elias. 
Como o ar nítido de novembro e outro aroma, colônia ou algo assim. 
Ele cheirava certo. Familiar. Lucky suspirou e derreteu-se em seu lado, 
cotovelos caindo. Mais uma vez, ele queria questionar o porquê. Por que Elias 
estava fazendo tudo isso? Ele abriu a boca para perguntar, mas tudo o que 
saiu foi: 
 — Eu estou fedendo. 
 — Shh. Descanse, Lucky — lá estava ele, hipnotizando Lucky, 
atraindo-o para o calor e segurança com sua voz. — Eu tenho você — ele 
sussurrou. — Eu tenho você. 
Os arrepios correram pela coluna de Lucky naquele canto. Familiar, 
tão familiar. 
 — Tão certo — ele murmurou enquanto o sono o levava. 
 
**** 
 
O som de um carro o despertou. Lucky piscou os olhos azuis e então 
pôs-se de pé, batendo um braço na parede para manter suas pernas bambas 
na posição vertical. Ele olhou em volta. 
Ele estava em casa. Seu coração quebrou o ambiente familiar, então 
ele espiou o cobertor, o aquecedor de espaço, e a noite anterior voltou para 
ele. 
Elias. Lucky ficou ali, com a cabeça inclinada. Então, Elias partiu. Ele 
não era um bebê. Ele tinha que criar coragem. Não importava que algum 
estranho o tivesse abandonado enquanto dormia. Ele estava sozinho e sabia 
o que tinha que fazer, sabia que tinha que voltar para sua tia e tio com o 
rabo entre as pernas. 
Um som atrás dele o fez girar, escondendo o suspiro assustado com 
tosse. 
Elias ficou ali, olhos cansados, longos cabelos vermelhos e uma 
bagunça, a barba espessa o faz parecer incivilizado. 
Tenebroso. Isso não importava em tudo. 
 — Você não foi embora — Lucky sacudiu a cabeça e olhou em volta. 
— Por quê? 
Elias encolheu os ombros. 
 — Imaginei que você precisaria de uma carona — seu olhar percorreu 
a janela e voltou para Lucky. — E que você gostaria de voltar antes que 
alguém percebesse que você está sumido. 
O que? 
— Mas... — ele não conseguia entender esse cara. — Estamos em 
Oyster Bay, e eu preciso estar em Jersey. 
Elias sorriu. 
 — Lucky, eu tenho um carro, certo? — ele acenou com uma mão. — 
Venha, vamos. 
Mas Lucky não se moveu. Todos os tipos de cenários do pior caso 
estavam jogados em sua cabeça. E se esse cara estivesse esperando que 
Lucky confiasse nele e, uma vez que ele tivesse Lucky em seu veículo, ele 
nunca o deixasse ir? 
 — Lucky — Elias o observou, seus olhos suavizando como se ele 
entendesse por que Lucky hesitava. — Eu não vou te machucar, garoto. Tive 
essa chance quando você estava babando no meu ombro. 
Ugh. O embaraço teve o corpo de Lucky ardendo. 
 — Eu quero levá-lo de volta para onde você deveria estar então eu irei 
cuidar do meu negócio. — Elias recolheu o cabelo do rosto com uma mão 
grande e formou-o em uma trança grossa que pendia pelas costas. — Eu 
tenho um empregador muito exigente esperando por mim, então... — ele 
levantou uma sobrancelha e esperou. 
 — Bom — Lucky o olhou nos olhos, mesmo que isso fosse difícil porque 
os olhos de Elias eram... bonitos. Realmente bonitos. — Mas se você fizer 
alguma coisa... 
 — Eu vou deixar você me machucar de volta se eu machucar você de 
alguma forma. 
O que isso queria dizer? Lucky não teve a chance de perguntar porque 
Elias estava saindo pela porta, levando o aquecedor de espaço e cobertor com 
ele. 
 — Onde você está levando isso? — ele perguntou, apressando-se atrás 
de Elias enquanto o homem mais velho avançava rapidamente pela casa. 
Elias não parou de andar. — Imaginei que você gostaria disso. Se não, 
eu vou jogar fora. 
 — Não — disse Lucky rapidamente. — Eu vou aceitar — embora como 
ele explicaria isso para a tia Diana, ele não tinha ideia. 
Elias abriu a porta e saiu da varanda. Ainda escuro, mas teria a luz do 
dia em breve. E com o sol nascendo, Lucky tinha que colocar a noite atrás 
dele. Elias caminhou pela escada e Lucky virou a porta, olhando para a casa. 
Ele viu-se percorrendo a sala de estar, parando na repreensão de sua 
mãe. Rindo quando seu pai o fazia cócegas. Ele se lembrava de tudo isso. Às 
vezes ele desejava que ele não o fizesse. Outras vezes, ele estava feliz pelas 
lembranças. Ele não sabia se ele iria voltar. Não sabia quem tinha comprado 
a casa, mas esperava que fosse uma família. Uma linda família com crianças 
que sairiam com memórias tão felizes quanto as dele. 
 — Lucky. 
Ele endureceu na voz gentil de Elias e depois fungou, abaixando a 
cabeça e limpando discretamente a bochecha com a manga. Ele enfrentou 
Elias. — Vamos. 
O olhar de Elias estava firme no rosto de Lucky. — Você está bem? 
Lucky se eriçou. — Eu não estou chorando. 
 — Nunca disse que você estava. 
Lucky passou por ele e entrou no carro preto parado no final da 
entrada. Ele se curvou e bufou, cruzando os braços sobre o peito quando 
Elias entrou e ligou o motor. 
 — Diga-me o seu endereço. 
Lucky fez com a voz mais sombria que ele conseguiu, mantendo seu 
olhar para frente enquanto Elias se afastava. Seu peito estava apertado, 
como se ele estivesse chorando para deixar toda a emoção, mas ele não era 
mais um garoto. Tudo o que ele fez foi fungar e olhar o homem ao lado dele. 
 — Esta é a primeira vez que você fugiu? — Elias perguntou. 
— Porque isso importa para você? 
 — Não faça novamente — disse Elias com firmeza. — Há pessoas lá 
fora, Lucky, pessoas que não pensam duas vezes em machucá-lo. Não faça 
isso novamente. 
 — Você pensa apenas porque você não me matou enquanto eu dormia 
que você pode me dizer o que fazer? — ele falou. — Eu não sou a porra de 
uma criança, então mantenha seus pensamentos para si mesmo e me leve 
para onde eu preciso ir. 
Elias não agiu como se a raiva de Lucky o perturbasse. — Por que você 
fugiu, Lucky? 
Ele estava tão calmo. Por que ele estava tão calmo? Lucky não 
conseguiu segurar sua raiva. — Porque... eu ouvi minha tia falar sobre a 
casa. Ela disse que estava à venda e que isso aconteceria logo. 
 — Então você veio ver uma última vez. 
 — Sim, mas você sabe... — Lucky acenou uma mão. — Não é grande 
coisa — exceto que esta não era a primeira vez que ele vinha para a casa. E, 
ao contrário desta vez, ele havia conseguido um pouco de dinheiro para pagar 
a tarifa de ônibus e trem, da última vez ele estava com as mãos vazias. Ele 
não pensou e acabou se ferrando. 
 — Sinto muito por sua perda — disse Elias, soando sincero. — Seus 
pais. 
O peito de Lucky apertou. — Tudo bem. 
Elias não o chamou de mentiroso. Eles dirigiram em silêncio e 
finalmente Lucky falou novamente. — De onde você é? 
 — Eu nasci na Escócia — disse Elias. — Mas eu não voltei desde que 
saí aos dezessete anos. 
Intrigado, Lucky manteve o questionamento para si. — Onde você 
mora agora? 
Elias riu. — Por que, você planeja fazer uma visita? 
Lucky corou e apertou as mãos, olhando pela janela do carro. — Bem. 
Você não precisa me dizer. 
Elias suspirou. — Eu não vivo em nenhum lugar, Lucky. Eu viajo 
muito. 
 — Então, é verdade? — a voz de Lucky caiu. — Você não é quem 
comprou minha casa? 
 — Não. Eu sinto muito. 
Lucky não entendia as desculpas. Como Elias sabia que ele estava na 
casa? Ele estava em uma das casas próximas? 
Elias olhou para ele antes de voltar para a estrada. — Você vai ficar 
bem, criança. 
— Não sou uma criança. 
Elias sorriu. — Uh-huh. 
Eles seguiram o resto do caminho em silêncio. Assim que Lucky 
começou a balançar a cabeça novamente, Elias parou na frente da casa dos 
Henderson. Lucky engoliu. Ele realmente não gostava de estar nesse lugar. 
 — Lucky. 
 — Sim. Sim.Eu vou. — ele agarrou a maçaneta da porta, mas Elias o 
deteve com uma mão no ombro de Lucky. 
Isso se sentiu... Droga. 
 — Você vai ficar bem, Lucky — ele disse suavemente. — Eu tenho fé 
em você. Você é muito mais forte do que você pensa. 
Lucky franziu a testa. — Eu nem sei o que isso significa. 
A boca de Elias se contraiu. — Eu sei, mas você vai. 
— Sim. Tanto faz — ele abriu a porta do carro. 
— Não esqueça as coisas no banco traseiro. 
Lucky abriu a porta lateral traseira e agarrou o cobertor. Suas mãos já 
estavam cheias, então, de nenhuma maneira ele poderia apanhar o 
aquecedor de espaço também. Elias saiu e ajudou com isso, e juntos 
andaram pela casa de dois andares, pintada de azul. No quintal, Lucky 
entregou a Elias o cobertor, subiu a escada que estava contra a casa, levando 
ao quarto dele. A meio caminho, ele estendeu a mão para o cobertor, e Elias 
o entregou. 
Lucky jogou-o através de sua janela aberta e fez um gesto para o 
aquecedor de espaço. Só que dessa vez ele subiu todo o caminho até a escada 
e Elias o seguiu, afastando o aquecedor. Lucky colocou-o suavemente no 
chão, apenas dentro da janela do quarto, depois desceu a escada. 
Ele ficou ali, olhando para Elias. — Qual seu sobrenome? 
— Por quê? 
 — Sei lá. — Lucky encolheu os ombros. — Então eu posso agradecer-
lhe corretamente? 
 — Meu sobrenome não é um requisito para o seu agradecimento, 
Lucky Mousasi. — Elias olhou para a casa. — Cuide-se. Mantenha o foco. 
Evite a porra de problemas. Isso é o suficiente. 
Soou como pessoas antigas falavam. Exceto que ele falou porra, Elias 
não era tão velho. — Obrigado de qualquer maneira — disse Lucky. — Pela 
comida e o calor e a carona. 
Emoldurados pela barba vermelha, os lábios de Elias se curvaram. — 
Seja bem-vindo. 
Lucky olhou para baixo, sapatos sujos raspando o chão. 
— Vou ver você de novo? Não é que eu me importo — ele correu para 
adicionar. — Apenas pensei em perguntar. 
O sorriso de Elias era largo, com os dentes brilhantes. 
— Tchau, Lucky Mousasi — ele se virou e saiu do pátio e Lucky ficou 
ali, até que ele não conseguiu vê-lo mais. 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 3 
 
O ruído dentro do auditório da escola era ensurdecedor. 
Elias sentou-se na parte de trás e manteve seu olhar treinado no pódio 
quando o orador começou a chamar os nomes. 
Um a um, os alunos subiram ao palco para obter seus diplomas. Ele 
não deveria ter vindo. 
Mas aqui estava ele. Ele não deveria ficar. Mas ele faria. 
Se seu empregador descobrisse para onde ele havia desaparecido, Elias 
teria o inferno a pagar. — Lucky Mousasi. 
Elias com prazer pagaria o preço. Ouvindo o boom do nome de Lucky 
sobre os alto-falantes, a espinha de Elias se endureceu. O fez sentar-se 
direito, inclinar-se para a frente. Lucky caminhou rapidamente pelo palco, 
vestindo uma beca azul que não alcançava seus tornozelos. Seus colegas 
diplomados deram gargalhadas e gritaram por ele, e Elias o viu sorrir, 
observou-o corar quando o orador entregou o diploma. Lucky acenou com a 
cabeça para algo que o homem falou, a borla do chapéu azul na sua cabeça 
balançando em sua bochecha. 
Por que estou aqui? 
O jovem que ele achou escondido naquele closet não estava a vista em 
nenhum lado. Este Lucky era confiante e seguro e... mais alto? 
Era o auge de fodido e perverso estar aqui, mas Elias tinha que ficar. 
Só por um tempo mais longo, tempo suficiente para falar com Lucky, para 
garantir que ele estava verdadeiramente bem. Então, Elias partiria e nunca 
mais voltaria. Nunca deveria ter vindo. 
Mas ele não pensava em mais nada. Preocupado por Lucky como ele 
nunca tinha se preocupado com ninguém. Nem mesmo Stavros e eles 
compartilhavam uma cama. Compartilharam mais do que isso, mas Elias 
nem sequer poupar Stavros um pensamento quando não estavam na mesma 
sala. 
Ele não parou de se preocupar com Lucky desde o dia em que ele 
afastou-se daquela casa de Nova Jersey, todas aquelas noites atrás. 
Ele permaneceu sentado até o último diploma ter sido entregue, até 
que todos os discursos foram dados, e depois afundaram na parte de trás do 
corredor. Lá fora, ele se debruçou contra o canto do edifício, escondeu-se, 
mantendo seus olhos na entrada. 
Este foi o último lugar onde ele deveria estar, mas, pela primeira vez, 
realmente não havia lugar que Elias preferisse estar. Ele balançou a cabeça 
para si mesmo, então se endireitou quando percebeu que a tia e o tio de 
Lucky saíam da escola. Os Henderson eram um casal mais velho sem filhos. 
Eles não pareciam equipados para lidar com Lucky, com dez anos de idade e 
nem agora em sua adolescência. Ele deu um passo em direção a eles e depois 
parou quando Lucky saiu. 
Ele estava rindo, conversando com um amigo do sexo masculino. A 
beca de Lucky saiu. Ele usava um terno escuro mal ajustado, olhos 
brilhantes e dançando enquanto ele usava o ombro para golpear seu amigo 
loiro que retornava do mesmo jeito. Sua tia gritou para ele e Lucky foi até 
eles, tirando fotos e falando sem parar. 
Elias apenas o observou. Ele definitivamente parecia diferente. Parecia 
mais leve, em um lugar melhor. Quase na Faculdade. Sua vida mudaria 
quando ele tivesse 18 anos no outono. Então, novamente quando aos vinte e 
um. 
Elias fez grandes esforços para garantir isso. Ele se certificaria de que 
Lucky tinha tudo o que precisava. 
Então sim, ele se nomeou o guardião de Lucky Mousasi. Ele nem se 
sentiu mal por isso. Havia muitas coisas para se sentir mal. Aquela não era 
uma delas. Ele nunca mais queria ver Lucky do jeito que ele tinha estado 
naquele closet, naquela casa, naquela noite. Perdido e assustado e 
precisando ser protegido. 
Ele olhou para onde Lucky estava com um monte de amigos. Sua tia e 
tio haviam entrado em seu carro e depois de um aceno de Lucky e um aperto 
na buzina, eles saíram, deixando-o para trás. 
Elias saiu das sombras e ficou ali esperando que Lucky o notasse. 
Não demoraria muito. Ele era o único que estava fora do lugar, fora de 
seu elemento. 
Lucky não o viu. Suas costas estavam para Elias enquanto ele 
começava a voltar para a escola com o grupo. 
 — Lucky. — Elias chamou para ele. 
Lucky congelou. Ele não olhou por cima do ombro, mas os outros 
fizeram. 
— Lucky — ele voltou a chamar. 
Lucky falou com seus amigos e depois de lançarem a Elias outro olhar 
curioso, o deixaram para trás, entrando de volta na escola. Lucky virou-se, 
enfrentou Elias, os olhos arregalados e cheios de perguntas. Elias caminhou 
até a esquina do prédio, esperando que Lucky o seguisse. Ele não queria 
fazer isso ao ar livre, onde todos podiam vê-lo. 
Atrás do prédio, ele se encostou na parede, as mãos nos bolsos e 
esperou. 
Lucky apareceu, andando lentamente, com cautela, até que ele ficou a 
um pé de distância. 
 — Você — seu olhar percorreu o rosto de Elias. 
 — Eu. — Elias assentiu. — Parabéns, Lucky Mousasi. 
 — Por que você está aqui? — a surpresa em seu olhar cedeu à cautela. 
Boa autopreservação lá. — Você está me perseguindo ou algo assim? 
Elias riu. — Você gostaria que eu estivesse te perseguindo, garoto. 
Lucky cruzou os braços sobre o peito. — Então, o que, você acaba de 
aparecer na minha formatura e eu não posso questioná-lo? 
 — Você pode perguntar. — Elias não conseguiu parar de sorrir. — 
Você parece... — Ele ia dizer bem, mas talvez essa não tenha sido a melhor 
palavra. — Feliz. Você parece feliz, Lucky. 
Lucky corou e desviou o olhar. — Sim, bem. Estou me formando assim, 
você sabe — ele acenou com uma mão. — Liberdade. 
 — Como você tem estado? 
 — OK. Eu acho. — Lucky olhou para os sapatos e uma porção de 
cabelo preto caiu em seus olhos. Elias abriu as mãos. 
 — Então... Faculdade, hein? 
Lucky deu de ombros. 
 — Não sei se eu vou — ele lambeu os lábios, olhos examinando o rosto 
de Elias. — Não acho que seja para mim. 
 — Realmente. — Elias o observou. 
 — Por que você está me olhando assim? — perguntouLucky. 
Elias piscou. — Assim como, o quê? 
 — Sei lá. Como... — Lucky franziu os lábios. — Como se você estivesse 
tentando me descobrir. 
 — Talvez eu esteja. 
Lucky bufou. Seus lábios se separaram, mas tudo o que ele estava se 
preparando para dizer foi cortado por seu amigo loiro que chamava seu 
nome. Então ele apareceu ao virar da esquina, olhou rápido quando viu 
Lucky. 
 — Me espera ali — Lucky disse. O garoto acenou com a cabeça e olhou 
para Elias antes de desaparecer novamente. 
 — Então... — Elias acenou com a cabeça no espaço onde o garoto 
estava de pé. 
Lucky corou e assentiu. 
— Esse é Michael. Nós... eu... — ele suspirou, em seguida, endireitou 
os ombros, levantando o queixo enquanto ele dizia: — Nós meio que estamos 
juntos. 
 — Meio ou estão juntos? — ele segurou o olhar de Lucky. 
 — Estamos juntos. 
 — Agradável. 
Lucky revirou os olhos, mas sorriu. Ele tinha uma covinha na bochecha 
esquerda. Elias não tinha notado isso antes. 
 — Eu tenho que ir — ele desviou o olhar e voltou para Elias. — 
Obrigado por ter vindo, velho. 
 — Foda-se, criança — mas não houve calor. Apenas carinho, mais 
carinho do que Elias queria compartilhar. 
Mais do que ele deveria sentir. 
Lucky riu e começou a se afastar e parou de repente. — Meu treinador, 
lembra-se de eu ter falado sobre ele? 
Elias endureceu, mas obrigou-se a relaxar. Assentir. — Sim. 
 — Ele, uh. Ele se matou. Cerca de uma semana depois que nos 
conhecemos — ele olhou Elias bem de perto. — Deixou uma nota sobre ter 
relações sexuais com meninos menores de idade. 
 — Uh. 
Lucky mastigou o lábio inferior. — Ok. Isso vai parecer estranho, mas... 
Você não teve nada a ver com isso, não é? 
 — O que você acha? 
 — Eu... — ele ergueu os ombros. — Foi tão fora do comum. 
 — Se o seu treinador se matou, como eu deveria estar envolvido? 
Lucky olhou para ele por três batidas do coração e depois sorriu. — 
Sim. Foi o que eu também disse. Desculpe, se perguntei. 
 — Não. Não se desculpe comigo — as palavras eram mais duras do 
que Elias pretendia que fossem e os olhos de Lucky se arregalaram. — Vá. 
Divirta-se, Lucky. 
Lucky mordeu o lábio e olhou para os pés. — Posso te perguntar algo? 
Não era como se Elias não esperasse as perguntas. — Vá em frente. 
A cabeça de Lucky empurrou. — Quem é você? Por que você está aqui 
e por que você me ajudou naquela noite? 
Três perguntas. Elias poderia ter feito uma piada estúpida sobre isso, 
mas ele escolheu ignorar isso. 
— Eu não sou especial, Lucky. Eu estava no bairro naquela noite. Eu 
vi você entrar e não sair. Achei que você era um garoto sem residência que 
precisava de ajuda. Estava frio. Você tinha que estar congelando. Eu ajudei 
— o mínimo que ele poderia fazer. O mínimo absoluto. — Nada demais. 
 — Exceto que você está aqui. Agora. 
 — Eu queria ter certeza de que você estava bem — bem, isso não 
parecia vazio e fraco. 
A expressão de Lucky disse que ele também não acreditava na 
explicação. — Existe uma razão pela qual eu não posso conhecer seu 
sobrenome? 
Elias apenas olhou para ele de forma constante. 
Lucky suspirou. — Será que eu... eu vou ver você de novo? 
— Você quer? 
 — Eu acho que sim — seus olhos castanhos eram diretos e sombrios. 
— Sim. Sim, eu quero. 
Elias assentiu. — Então você vai. 
 — Ok. — Lucky ainda não se moveu. Seu olhar ficou mais intenso, 
fazendo com que os cabelos na nuca de Elias se levantassem e tomassem 
nota. 
 — O quê? — ele perguntou suavemente. 
 — Um. Ok, sinta-se livre para dizer não... — seus lábios se contraíram. 
— Mas posso te abraçar? 
Elias cruzou as mãos nos lados. — Sim. 
E assim Lucky Mousasi estava em seus braços. Elias grunhiu com o 
impacto do corpo de Lucky contra o dele, então desdobrou o punho para 
poder abraçar Lucky. Então ele poderia segurá-lo. 
Lucky agarrou-o com força demais, como se ele temesse que Elias se 
afastaria de seu aperto. 
 — Eu não sei por que — Lucky murmurou. — Mas eu sonho com isso 
e sua voz, me dizendo que tudo está bem. 
Elias fechou os olhos. Quando você foder, você faça isso completamente. 
Lucky cheirou seu pescoço. — E você cheira... 
Elias apertou a camisa de Lucky e puxou-o para longe, não muito 
longe, mas o suficiente para poder ver o rosto de Lucky. 
Porra. 
Isso foi um erro. 
Os olhos de Lucky estavam fechados, seus lábios separados. — Lucky. 
Seus olhos se abriram, aqueles belos olhos matando Elias. — Seu 
namorado está esperando. 
Lucky piscou e piscou um pouco mais. Seu olhar caiu e seu corpo ficou 
rígido. 
— Sim. Eu... — ele estremeceu e afastou-se de Elias. — Tenho que ir 
— ele limpou a garganta, olhou para baixo em toda parte, exceto em Elias. 
 — Vá. 
 — Obrigado. — Lucky engoliu em seco. — Por vir hoje. Pelo... abraço. 
 — Adeus, Lucky Mousasi. 
Ele lambeu os lábios. — Sim. Tchau. 
Então, ele se foi. 
Elias caiu contra a parede. O que diabos? Ele não deveria ter vindo. 
Não deveria ter feito contato com Lucky. Não deveria deixá-lo... lhe tocar. Não 
deveria ter feito nada disso. 
Ele olhou ao virar da esquina e viu Lucky e seu amigo, Michael. Eles 
estavam de mãos dadas. 
 — Quem era esse cara? 
Ele não ouviu a resposta de Lucky à pergunta de seu namorado. 
Quando algo quente torceu em seu intestino, ele percebeu exatamente o que 
era, quando ele pensou que não poderia ser mais fodido, outra camada foi 
adicionada à sua lista de pecados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 4 
 
Dois anos. Elias preparou-se, mas, enquanto olhava para a figura 
imóvel vestida com um suéter cinza, boné de lã e calça jeans preta, ele 
percebeu que nunca estaria pronto para isso. Ele ficou de costas contra o 
lado do jipe de aluguel, os braços cruzados, os tornozelos também, e 
observou. 
Era no início da noite e o ar de novembro estava frio, mas ele não sentiu 
isso. Tudo o que ele tinha nele estava focado em Lucky Mousasi, onde ele 
estava sentado na grama amarela, movendo os lábios enquanto conversava 
com duas pedras no cemitério de Oyster Bay. Esta foi a situação mais fodida 
que ele alguma vez entrou de bom grado. Ele tinha ficado afastado, por vários 
motivos, mas quando Lucky se levantou, tirando a grama do assento de suas 
calças, Elias teve que se esforçar para lembrar por que ele se proibira de 
voltar aqui. 
Lucky quereria respostas. Ele merecia respostas, mas essas eram as 
coisas que Elias nunca poderia dar a ele. Essa... essa foi uma das razões 
pelas quais ele foi embora e ficou longe. O status quo não poderia permanecer 
no local por muito mais tempo, mas Elias faria qualquer coisa para mantê-
lo de mudar. 
Ele poderia ter ido e vindo sem visitar Lucky, sem que o homem mais 
jovem estivesse olhando para ele. Elias ainda não conseguiu lutar contra o 
desejo, de ver Lucky, apenas uma vez. Ele o machucaria novamente, porque 
no dia seguinte, Elias teria que viajar para Londres, depois para o Japão, e 
onde o seu empregador se dirigiria em seguida. Definitivamente seria um 
longo tempo antes que ele visse Lucky novamente depois disso. Ele não podia 
aproveitar o tempo para... estar perto dele. 
Naquela noite na casa de Mousasi quando se conheceram, Elias olhou 
para os olhos castanhos assustados de Lucky e sabia que ele seria o maior 
erro dele. Esse conhecimento era aquele que o mantivera correndo, 
arriscando sua vida, mas era o mesmo conhecimento que o trouxe aqui, 
observando Lucky falar com os pais que ele havia perdido. 
 — Ei. 
Ele empurrou a cabeça ao ouvir o grito. Lucky estava olhando para ele, 
o rosto contorcido, caminhando em direção a ele. Elias endureceu a espinha 
e se preparou. Quando Lucky se aproximou, seus olhos trancaram. Os olhos 
do jovem estavam largos, descrentes. Ele era... uma visão. Sua herança 
Africana, Francesa e Holandesa mostrava-se em sua pele levemente 
bronzeada e em seu cabelo quando uma mecha escura escapou do gorro e 
caiu nosolhos. Havia uma pitada de um restolho na mandíbula. Seu nariz 
era reto, seus lábios cheios, mas sempre foram seus olhos. 
Sempre foram seus olhos que cativaram Elias. 
Quanto mais Lucky chegava perto, mais raiva substituía o choque em 
seus olhos e uma vez que ele estava dentro da respiração de Elias, sua 
expressão era tormentosa. 
Elias desdobrou os braços e deixou cair as mãos nos lados. — Lucky. 
O nariz de Lucky inflou. Sua boca se moveu, mas as palavras foram 
lentas em chegar. 
— Você está... você está aqui. — ele levantou uma mão, tocou o maxilar 
de Elias. — Você está aqui. 
 — Eu estou aqui. — Elias assentiu, engolindo o nó na garganta que se 
formou ao tremor na voz de Lucky. 
Lucky o socou. — Seu filho da puta! 
Elias piscou e agarrou seu maxilar dolorido. 
— Por que diabos foi isso? — como se ele não soubesse. 
— Faz anos — Lucky latiu. — Anos, Elias — a dor em seus olhos o 
cortava. — Eu estive esperando por respostas — ele recuou, olhar furioso 
vagando pelo rosto de Elias. — Você não acha que me fez esperar o 
suficiente? 
Ele esperaria ainda mais por todas as respostas que ele procurava, mas 
Elias sabia melhor do que dizer a Lucky isso. 
 — Eu comprei a casa — Elias raspou, flexionando o maxilar. — Por 
que você não se mudou? 
Ele desistiu de Lucky naquela noite e imediatamente estava 
implorando, comprando a casa da família que tinha estado a poucos dias de 
se mudar para o que tinham considerado a casa dos sonhos. Ele pagou 
cinquenta mil mais do que o que eles estavam preparados para entregar. 
Tudo por isso. 
Para dar a Lucky o que perdeu. 
 — Não me faça perguntas. — Lucky ficou em seu rosto. — Eu faço as 
perguntas — o adolescente assustado já havia desaparecido. Em seu lugar 
havia um homem lindo com fogo em seus olhos e uma vontade de ferro. Elias 
esperava isso. O que ele não esperava era o quanto ele gostava. Quanto fez 
seu sangue... esquentar. 
Jesus, cara. Que modo de agitar sua merda. 
Ele limpou a garganta e afastou o olhar. 
— O que você quer saber, Lucky? — Lucky não falou, então Elias voltou 
para encontrar Lucky olhando para ele, seus olhos brilhantes e cintilando. 
— Lucky. 
Lucky inalou e fechou os olhos. 
— Por quê? — ele sussurrou. — Por que você me ajudou naquela noite, 
por que você fez o que fez? — seus olhos se abriram, segurando o de Elias 
refém. — Estou falando de tudo, desde antes, até agora. E por que você me 
deixou? 
Essa última pergunta foi a que mais apertou o peito de Elias e mais 
magoou. E também doeu, então ele disse: 
— Não importa o motivo. 
Os lábios de Lucky apertaram, mas ele não desviou o olhar. 
 — Você precisava de ajuda, então eu ajudei. Eu lhe disse isso. — 
Jesus, essa merda era impossível de navegar sem que ele se sentisse tão... 
fora. — Não foi grande coisa. Eu também lembro de lhe dizer isso. 
A cabeça de Lucky se empurrou, seu olhar afiando. — Mesmo. 
 — Eu teria feito isso para qualquer um. 
 — Por que fazer isso por mim? — quando Elias não respondeu, Lucky 
aproximou-se dele e colocou uma mão sobre seu peito. 
Elias murmurou um gemido enquanto o calor de Lucky se afundava 
em seu sangue. 
 — Você precisava disso — essa era uma maneira rotineira de dizer que 
Elias precisava disso. 
Lucky inclinou a cabeça. — Quem sou eu para você? 
 — Ninguém. — Lucky se encolheu, e Elias reformulou as mentiras. — 
Eu só queria que você estivesse seguro, Lucky. Para não ter medo. 
A boca de Lucky se torceu. — Você encontra um fugitivo em uma casa 
abandonada e você se nomeia o que, guardião? Você compra a casa e assina-
a para mim, não há problemas... 
 — A que você se recusa a tomar posse. 
Lucky deu de ombros. 
— Talvez eu não queira a casa. Já pensou nisso? Mas você não se 
aproxima tempo suficiente para saber — seu olhar e tom eram acusatórios. 
— Você faz tudo isso e quer que acredite que não sou nada para você? 
Elias escolheu manter o silêncio com aquele comentário. 
 — Se eu fosse outra criança, agachada naquele lugar, teria recebido o 
mesmo tratamento? Algo me diz que não, eu sou apenas o especial — mas 
seu tom era amargo, triste. 
Ele estava certo, é claro. 
 — Quem é você? — Lucky perguntou suavemente. — Eu nem sei o 
seu sobrenome. Não sei nada sobre você, exceto pelo seu primeiro nome, se 
isso é mesmo real. 
 — É real. 
 — Mas é o único, certo, Elias? — houve uma mordida extra na forma 
como Lucky disse seu nome. — É o único que é verdade. Bem, isso e seus 
olhos. Eles me perseguem. 
 — Eu sinto muito. 
Os cantos da boca de Lucky caíram, mas seus olhos estavam pesados, 
cheios de tristeza sombreada. — Você pensa em mim como eu penso em 
você? 
Jesus. Como ele deveria responder e ainda manter a distância 
necessária entre eles? 
— Como... — sua voz rachou. — Como você pensa em mim? 
Afortunadamente abriu a mão direita e olhou para ele por um longo 
tempo antes de levantar o olhar para Elias. 
— Segurança. Calor — ele apertou os lábios. — Familiar e certo. Isso 
é o que eu penso quando penso em você. 
Elias engoliu em seco. — Isso é... isso é bom. Eu ajudei você, então 
você está grato e... 
 — E eu vou dar um soco no rosto de novo se você continuar a cagar 
essa merda — um Lucky furioso agarrou a frente do casaco de Elias e puxou-
o para frente até que eles estavam nariz a nariz. — Agradecido, sua bunda, 
é a última coisa que sinto. Eu não estou grato. Eu poderia ter conseguido 
sem toda a merda ao longo dos anos — ele fez uma pausa, os olhos se 
suavizaram e Elias olhou para eles, perdendo-se com todo esse sentimento. 
— Eu não queria nada disso. Eu queria você. Quero saber se eu te assombro 
do jeito que você me assombra. 
Elias segurou seu olhar, mas não falou. 
 — Quem é você? O que você faz? Por que você nunca se mantém o 
suficiente para eu descobrir isso? 
Ele não responderia a nada disso. De jeito nenhum ele poderia. Elias 
estendeu a mão e tocou o punho de Lucky. — Lucky. 
Lucky precisou ter ouvido as desculpas em sua voz porque ele recuou 
rapidamente. — É por causa da minha idade, não é? 
 — Eu não posso... — Elias esfregou uma mão sobre o rosto dele. A 
idade de Lucky era uma em uma lista muito longa de por que não. — Não 
vamos fazer isso, por favor. 
Lucky se afastou e deu a Elias de costas. — Eu esperei, você sabia 
disso? Eu acho que não — ele começou a se afastar e Elias agarrou sua mão, 
estancando-o. 
 — O que você quer dizer, esperou o quê? 
Lucky não respondeu. 
Elias suspirou e puxou o braço. 
— Venha comigo — implorou suavemente. — Vamos dar uma volta. — 
Lucky não falou nem se virou para ele. 
 — Por favor, Lucky. 
Ele se afastou de Elias e voltou para o Jeep, entrando no banco do 
passageiro da frente. 
Elias entrou no lado do motorista e sentou-se lá, agarrando o volante 
com as duas mãos. — Como você chegou ao cemitério? 
Lucky levantou um ombro, olhe para a frente. — Um amigo me deu 
uma carona. 
— Eles estão voltando para você? Por que você não comprou um carro? 
 — Peguei um táxi, e não quero discutir isso — ele cruzou os braços e 
recostou-se. — Não devemos estar indo para uma unidade? Está ficando 
escuro. 
 — Você tem um toque de recolher? — as palavras voaram da boca de 
Elias antes que ele pudesse detê-las. Ele ligou o veículo e poupou a Lucky 
um olhar. 
Seu rosto era uma máscara sombria. 
 — Lucky, desculpe. 
 — Sim. — Lucky assentiu. — Você faz isso muito. Pedir desculpas. 
Eu queria saber pelo que você está arrependido ou por quê. 
Elias caiu na armadilha e fez o resto da condução em silêncio tenso. 
Tentando como ele fez, ele não podia ignorar a presença de Lucky, o calor de 
seu corpo que fluía para Elias. Ele era muito jovem. Ele não poderia estar 
envolvido nisso mais do que ele já estava. Elias não podia pagar a fraqueza 
que Lucky inspirava nele. Tudo isso girava em um loop na mente de Elias e 
ele se agarrou a isso, lembrando a si mesmo, também, das consequências 
que viriam se ele permitisseque Lucky mergulhasse muito mais 
profundamente sob sua pele. 
Ele parou na frente da casa Mousasi, e Lucky se virou para ele. — 
Porque estamos aqui? 
 — Pensei que pudéssemos falar em algum lugar privado. 
Lucky desviou o olhar, olhando para a casa. — Sobre o que há para 
falar? Eu sou o moleque que você salvou uma noite fria. E você é... Você é o 
homem que eu nunca vejo. Com exceção de quando eu vejo você. 
 — Porra. — Elias esfregou a testa. — Apenas entre na maldita casa, 
Lucky — ele não esperou, subindo e caminhando até a casa. O código de 
segurança permanecia o mesmo desde que o programou, então ele deu um 
soco e abriu a porta. 
O lugar estava escuro, embora ele soubesse que as utilidades estavam 
ligadas. O ar era almiscarado, o que era esperado, uma vez que a casa 
permanecia trancada. Estava limpa, no entanto. E vazia. Bem, exceto o 
grande colchão de ar no meio da sala de estar, e os cobertores de Borgonha. 
Passos seguiram-no enquanto ele caminhava de um quarto para outro, 
acendendo as luzes enquanto ele ia. — Você dorme aqui? 
 — Às vezes, quando eu preciso... estar sozinho. 
Ele se mudou para um apartamento com dois outros companheiros de 
quarto em Jersey, Elias sabia. Ele ainda não conseguia descobrir o porquê, 
quando Lucky tinha esta enorme casa aqui em Long Island, vazia. 
Na cozinha ele se inclinou contra a bancada e enfrentou Lucky. — 
Você está com fome? — ele perguntou. — Nós podemos obter algo. 
Lucky ficou na entrada e balançou a cabeça. — Estou bem. Quero 
saber por que estamos aqui. 
Porque Lucky ficava feliz quando ele estava nesta casa, e Elias queria 
vê-lo feliz. 
 — Eu vou embora amanhã — ele disse com voz rouca. — E eu queria... 
quero passar esta noite com você. 
Lucky afastou-se da porta e caminhou até ele. Ele ficou na frente de 
Elias. — Você sai de amanhã. 
 — Sim. 
 — Onde você vai? 
 — Fora. — Elias acenou uma mão. — Apenas sairei. 
Lucky bufou, balançando a cabeça. 
— Claro — ele latiu uma risada. — Por que eu esperava que isso fosse 
diferente? — ele puxou o boné de lã da cabeça e jogou-o no balcão. — Você 
deve sair agora. Por que você não sai agora? 
 — Eu não posso ficar com você. — Elias tocou seu ombro. — Eu não 
posso ser quem você quer, dar o que você quer. Não posso, Lucky. 
Ele franziu os lábios. — Você tem uma família? Uma esposa, namorada, 
crianças, em algum lugar lá fora? 
 — Não. — Elias agarrou o maxilar de Lucky, olhando-o nos olhos. — 
Eu não tenho nada e ninguém lá fora. É apenas trabalho. É um trabalho que 
eu tenho que fazer. 
 — Que tipo de trabalho? 
 — Não posso falar sobre isso. 
 — Porque é ilegal? Porque você está fazendo algo errado? 
 — Eu quero você feliz, Lucky — e vivo. E ele iria onde quer que ele 
precisasse ir, seria e faria qualquer coisa para fazer isso acontecer. Não era 
tão complicado quanto poderia parecer. 
 — Mas eu não estou feliz — Lucky atacou. — Eu não estou. Por favor 
— ele se aproximou, olhos procurando, implorando. — Não faça isso. Não 
me deixe de novo. 
 — Não posso — e desta vez a agonia que Elias sentiu não poderia estar 
contida. — Lucky, não posso. 
Derrota lavou as características de Lucky. Ele olhou de volta para Elias. 
— Quando você vai para onde você vai, e faz o que você faz, você está... você 
gasta tempo com outras pessoas? 
 — Sim. 
 — Mulheres? 
 — Sim, mas... 
 — Homens? — Lucky fechou os olhos. 
 — Sim. Lucky, olhe para mim — quando Lucky reabriu os olhos 
vermelhos, Elias o tocou, deslizando um dedo pela ponte do nariz. — Não 
significa nada. Eles não significam nada. 
 — Claro que isso significa alguma coisa — gritou Lucky. Ele se afastou 
de Elias. — Caso contrário, você não faria isso. 
 — Não — foda-se. Elias temperou seu grito. — Não estou discutindo 
isso. 
 — Eu sou sua responsabilidade, não sou? Um fardo que você não 
consegue livrar? — disse Lucky. — Eu simplesmente não sei por que 
estamos aqui neste lugar. Você e eu. 
 — Não. — Elias agarrou-o quando Lucky se afastou, puxando-o contra 
seu peito. — Lucky, a última coisa que você é um trabalho, ou fardo, ou um 
dever maldito. 
 — Mas quem sou eu para você, e como eu sei? — o sussurro de Lucky 
queimou a pele de Elias. — Você não vai explicar. Você não vai dizer merda 
nenhuma. Como eu sei quando eu não vi ou ouvi falar de você em dois anos? 
— seus dedos pressionaram o pulso de Elias. — Eu estive esperando por 
você, esperando que você me tocasse, me beijasse. 
O aperto de Elias sobre ele ficou fraco, assim como sua mandíbula. 
— O quê? — sua cabeça e seu coração guerreavam, querendo coisas 
diferentes, sabendo quais seriam os resultados. — Lucky, não. Você merece 
alguém como você, alguém da sua idade — alguém sem sangue nas mãos. 
Alguém que não era um assassino em uma coleira. 
 — Tenho vinte anos, é idade suficiente para conhecer minha própria 
mente. — Lucky virou-se, torcendo o corpo até que seu peito estivesse 
pressionado em Elias, até que suas coxas estivessem se escovando. — Eu 
sei o que quero. Quem eu quero — sua mão se arrastou pelo peito de Elias, 
devagar, torturante, disparando fogo. 
Elias pegou aquela maldita mão antes que seu corpo queimasse em 
chamas. 
— Você não sabe o que está fazendo — o problema que ele estava 
provocando, Lucky não sabia. 
As narinas de Lucky se incendiaram quando ele se abaixou para Elias. 
Sua ereção era difícil de perder, e Elias só sabia que Lucky podia senti-la. 
Sentir o calor, a dureza. 
 — Eu sei o que estou fazendo — Lucky murmurou contra a bochecha 
de Elias. — Eu sei que você está lutando contra uma batalha, mas não vou 
permitir que você vença — e ele pressionou seus lábios nos de Elias. 
Respiração parou nos pulmões de Elias. Ele ficou rígido. Em toda parte. 
Os lábios de Lucky eram firmes, e Elias apertou-o, afastou-o, mas Lucky 
empurrou um joelho entre as pernas de Elias, esfregando suas bolas e ele 
gemeu. Um convite que Lucky aceitou, língua mergulhando entre seus lábios 
separados, lambendo-o. 
Eles estremeceram como um. Moeram em sincronia. 
Maldito seja eu. Elias mergulhou os dedos nos cabelos de Lucky e 
puxou a cabeça para trás para que ele pudesse assumir o controle, para que 
ele pudesse afundar e entrar e perder a cabeça, sua mente. Ele se 
arrependeria disso mais tarde, se amaldiçoaria mais tarde, mas agora... 
Agora Lucky estava esfregando-se sobre ele, excitante e quente, e Elias não 
era tão forte como ele pensava que era. Definitivamente não era forte o 
suficiente para resistir a isso, não quando ele também queria. 
Lucky gemeu. Elias nunca negaria a onda de orgulho e possessividade 
que agarrou seu peito. A língua de Lucky se torceu em torno dele, e Elias a 
pegou, sugando com força. Lucky estremeceu nele, corpo vibrando entre suas 
pernas. 
Ele falou a verdade. Ele dormia com as pessoas quando o desejo era 
demais para ser ignorado. Se fosse a melhor maneira de se aproximar de um 
alvo, Elias nunca hesitava, mas eles não importavam. Até mesmo as suas 
tristes fodas ocasionais com Stavros eram puramente físicas e não 
significavam nada. Nada quando comparado a isso, Lucky em seus braços, 
seu gosto tão bom na língua de Elias. 
 — Mm. — Lucky rasgou sua boca, pálpebras pesadas, pupilas 
dilatadas. — Eu sabia que você iria provar assim. 
 — Como o que? — o tom de Elias era rouco, áspero, e ele não perdeu 
a satisfação que piscava nos olhos de avelã de Lucky. 
 — Selvagem — essa covinha apareceu na bochecha de Lucky e ele 
lambeu os lábios. — Perigoso. 
 — Eu sou. — Elias usou a mão na nuca de Lucky para levar sua 
cabeça para a frente e tocar suas frentes juntas. — Lucky, eu sou perigoso. 
 — Sim — a língua de Lucky pulou para fora, estendendo para lamber 
o queixo de Elias. — Mas não para mim. Nunca para mim — ele beijou Elias 
de novo, profundamente, boca quente e molhada e distraída o suficiente para 
que Elias esquecesse que sim, ele era muito perigoso para Lucky. 
Elesegurou a cabeça de Lucky firme e saqueou sua boca, imprimindo 
seu gosto, seu cheiro, seu tudo em sua memória, para desbloquear e retirar 
mais tarde, quando ele precisasse disso. Ele estava doente, ele sabia, 
querendo tanto isso. E talvez a culpa e a obrigação desempenhassem um 
papel, mas a maioria era simplesmente necessidade e fascínio pelo jovem em 
seus braços. 
Ele estava levando os dois para o pior tipo de destruição, mas Elias não 
conseguia parar. Ele segurou Lucky mais apertado, gemendo quando Lucky 
o agarrou tão apertado. Chegaria um momento em que Lucky o soltaria, mas 
ainda não havia chegado e Elias aproveitou, afundando-se mais 
profundamente, passando as unhas pelas costas de Lucky. 
O homem mais jovem ofegou em sua boca e Elias o abaixou, seu pau 
se endurecendo ainda mais. O pior tipo de tortura, e Elias saberia. Ele 
desejou poder ficar onde estavam, no silêncio, ainda envolvido em inocência. 
Esse desejo nunca seria concedido. 
Ele se afastou desta vez. 
 — Lucky — ele escovou um pedaço de cabelo da testa de Lucky. 
 — Hmm? — o olhar escuro de Lucky levantou. Os olhos dele. Jesus. 
 — Sim. 
Lucky piscou e lambeu o lábio inchado. — Uh? Sim para o quê? 
 — Sim, pensei em você. — Todo. O. Tempo. Do. Caralho. — Sim, você 
me assombrou — ele nunca saberia por quanto tempo. 
Os olhos de Lucky cresceram como pires e ele tocou duas pontas dos 
dedos na boca de Elias. 
— E o que vamos fazer sobre isso? — um brilho perverso apareceu em 
seus olhos e ele tocou Elias, a frente de seu jeans, sobre seu pênis duro. 
Elias sugou uma respiração, o estômago se contraiu à doçura. — Não. 
Lucky se curvou e acariciou seu pescoço, mordendo, lambendo 
enquanto seus dedos procuravam o zíper de Elias. 
Deus. Porra. Elias agarrou o maldito pulso de Lucky. 
— Não — ele mordeu a palavra rapidamente antes que sua mente 
mudasse para “porra, sim.” 
 — Eu quero seduzi-lo. — Lucky mordeu ele, os dentes afundando tão 
bem na sua pele, Elias quase gozou. — Deixe-me seduzi-lo. 
Droga. Elias inclinou a cabeça, dando a Lucky um melhor acesso 
enquanto esfregava os dedos. Ele perderia sua mente maldita se ele não 
impedisse isso. 
— Lucky — sua voz era uma bagunça rouca. Ele limpou a garganta e 
tentou novamente. — Lucky, não estamos fazendo isso hoje. 
Lucky ficou rígido e depois se afastou para olhar para ele. 
— Oh? — ele estreitou seu olhar. — Amanhã então? Sim, quando você 
estará fora onde quer que seja, fodendo quem quer que seja? 
Elias respirou calmamente. Então novamente. No total, ele fez isso 
cerca de cinco vezes. — Você merece melhor, Lucky. Encontre alguém que 
possa lhe dar algo melhor que essa merda. Você não quer isso. 
Lucky apagou seus traços, mas Elias não perdeu a falta de coração em 
seu rosto, em seus olhos. — Ok. 
Sim. Ele encolheu os ombros e se afastou. 
— Tudo bem, então eu irei e você... — ele acenou com a mão. — Faça 
o que você é tão bom. Desapareça. 
 — Fique. Passe a noite. 
Lucky sacudiu a cabeça. — Eu não posso... não posso. 
 — Por favor. — Elias foi até ele, tomou o rosto entre as mãos. — Fique 
comigo esta noite. 
Lucky mordeu o lábio. — Por quanto tempo você vai embora dessa vez? 
 — Eu não sei — ele não estava mentindo sobre isso. 
 — Prometa-me uma coisa. 
 — Qualquer coisa. 
 — Prometa-me que você vai voltar — sussurrou Lucky. — Prometa-
me que você manterá contato. Um cartão postal, uma carta de merda. 
 — Lucky. 
 — Não me deixe preocupado — ele passou os olhos por ele. — Eu 
preciso saber que você está bem. Não preciso saber onde você está ou 
qualquer detalhe, mas tenho que saber que você está vivo — ele agarrou a 
camisa de Elias e o encarou com esses olhos. — Prometa-me. 
Ele poderia fazer isso. Elias assentiu. — Eu prometo. 
Lucky suspirou. 
— Ok — ele saiu do aperto de Elias e caminhou até a entrada da 
cozinha. — Bem, vamos então. Mais uma vez estamos passando a noite 
juntos nesta casa. 
Elias foi até ele, pegando a mão de Lucky. Juntos, caminharam para o 
colchão de ar. Ele soltou suas botas, Lucky fez o mesmo e eles entraram na 
cama juntos. Lucky colocou a cabeça no ombro de Elias e puxou o cobertor 
de Borgonha sobre eles. 
 — Não posso acreditar que você tenha mantido isso — ele disse 
suavemente. 
 — É claro que eu mantive — murmurou Lucky. — Mas, eu lavo, então 
você não precisa se preocupar. 
Elias riu. — Eu não estava preocupado. 
 — Bom. 
Eles caíram em silêncio na escuridão. Confortável, semelhante àquela 
primeira noite anos atrás, mas diferente. Muito diferente. Aqui, Elias não 
tinha que dormir com um olho aberto, com uma arma sempre pronta. Aqui, 
ele tinha segurança e Lucky. 
 — Conte-me sobre a Escócia — murmurou Lucky. 
Elias teve que se forçar a não se endurecer. Ele conseguiu dar uma 
risada. 
— A única coisa que sei sobre a Escócia é que minha certidão de 
nascimento diz que eu nasci lá — ele olhou para longe. — Eu saí assim que 
pude. 
 — Mas você deve se lembrar de algo. E sua família? 
 — Eu cresci em um orfanato. — Elias encolheu os ombros. — Nunca 
soube quem eram. Vivi nas ruas até ter uma oferta melhor — ele pensou que 
a oferta tinha sido a melhor coisa que poderia acontecer com alguém como 
ele, mas logo percebeu que havia sempre um custo. 
Ele deveria ter ficado vendendo sua bunda para casa e comida. Pelo 
menos então ele não iria nadar em sangue. 
 — O que mais a sua certidão de nascimento diz? — Lucky perguntou. 
 — Nada vale a pena saber — ele não queria dizer a Lucky para parar 
com as perguntas, mas Elias definitivamente não estava preparado para 
responder a nada. 
Lucky tocou seu estômago, palma plana contra ele. — Nem mesmo o 
seu sobrenome? 
Elias grunhiu. — Nem mesmo isso. 
Lucky ficou em silêncio por tanto tempo que Elias achou que ele havia 
acenado com a cabeça. 
 — Da próxima vez que você vier a mim, eu estou seduzindo você — 
Lucky falou com uma voz pesada de sono. — Você também vai me deixar. 
Elias lambeu os lábios, fingindo que não ouviu, mas todo o seu ser 
gritou sim. Ele apertou os braços em torno de Lucky, segurando-o enquanto 
o outro adormecia. Elias dormiu levemente, e quando os primeiros raios de 
luz do dia atravessaram as persianas, ele tirou-se gentilmente dos braços de 
Lucky e rolou e afastou-se da cama. 
Ele puxou suas botas, depois se endireitou, endireitou suas roupas e, 
sem olhar para trás, ele saiu da casa, deixando sua casa e seu coração para 
trás. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 5 
 
A chuva fez o chão sob os pés de Lucky macios, encharcados, e ele 
afundou até o tornozelo profundamente com cada passo que ele deu. Todos 
já foram embora, seu tio Jeff, também. Ele tinha ficado para trás. Não que 
ele soubesse o porquê. Sentiu como se passasse muito tempo nos cemitérios. 
Muito tempo dizendo adeus às pessoas em sua vida. 
Sua tia Diana estava lá, no chão, sujeira recém-aplicada protegendo 
seu caixão da chuva. 
Ela já havia ido embora, o câncer de ovário tinha feito seu trabalho e 
devastou sua mente e corpo. 
Mãos encostadas nos bolsos de seu casaco preto, Lucky inclinou a 
cabeça. Ele estava oficialmente sozinho agora. Era mais difícil do que ele 
pensava que seria. Mesmo sabendo que Diana provavelmente terminaria 
assim, Lucky ainda se sentia cego por sua morte, ainda se sentia privado de 
algo que ele nem sabia que ele possuía. 
A chuva o molhou, mergulhando nos cabelos. Ele ficou sob os ramos 
de uma árvore próxima, mas isso não forneceu nenhum abrigo. Ele não tinha 
se incomodado com um guarda-chuva. 
Muitas vezes, ao longo dos anos, ele morava com sua tia, ele queria 
estar sozinho, queria ser crescido, queria ser seu próprio homem. Agora? Ele 
queria-a de volta, gritando para ele por comer os restos na geladeira e não 
pensar em ninguém além de si mesmo. Ele mesmo perdeu os primeiros anos 
quando não tinham ideia do que fazer com ele, como lidar com sua dor e 
atitude. Ela se redimiu nos últimos anosou talvez Lucky parou de se 
importar que ela fosse tão dura e rígida com ele. 
Tio Jeff estava tão rasgado quanto Lucky. Devastado, na verdade. Ela 
era sua esposa. Eles estavam juntos desde sempre. Mas os dois nunca foram 
particularmente próximos, e Lucky não abriu ilusões que a situação mudaria 
agora. Ele voltaria ao aprendizado no estúdio de tatuagem, vivendo a vida 
que ele liderava, e seu tio faria... o que quer que fosse. 
Então, sim, Lucky estava sozinho. 
Ele levantou um ombro, escovou a água escorrendo pelo pescoço. 
Então, assim que a chuva o atingiu, ele parou. Ele tomou conhecimento de 
uma presença ao lado dele, um calor familiar. 
Lucky olhou para a direita dele. 
Elias estava ali vestido de preto, com os cabelos escorrendo da capa de 
lã negra que ele usava. Ele segurava um guarda-chuva. Também era da cor 
de luto, assim como as luvas de couro cobrindo as mãos. E ele ficou ali, ao 
lado de Lucky. O rosto dele, olhando para o túmulo de Diana. 
O coração de Lucky acelerou, seu estômago atormentado por uma 
razão completamente diferente. — Elias. 
— Sinto muito pela sua perda, Lucky — tão forte e seguro e... 
Lucky abriu a boca, para perguntar como e por quê. Ele queria saber? 
Ele se importava? Ele mordeu a língua e ficou ao lado do estranho que não 
era, não depois de todos esses anos. Claro, ele queria perguntar por que Elias 
estava lá, como ele já sabia sobre a morte de Diana. Ele também queria saber 
onde ele havia estado desde que ele deixou Lucky adormecido nesse colchão 
de ar um ano atrás, esse homem que aparecia do nada, sempre que Lucky 
mais precisava dele. 
As perguntas seriam expressadas mais tarde. 
Agora, Lucky permaneceu onde ele estava, aceitando o escudo desse 
guarda-chuva. Ele imaginou que Elias também era um escudo. Ele 
simplesmente não podia imaginar do que ele estaria protegendo Lucky. 
A chuva e o vento nas árvores eram o único som. Lucky ouviu isso, e 
com as palavras que Elias nunca pareceu falar, mas Lucky ouviu de qualquer 
jeito. Elas o ajudaram, ajudaram a aliviar o sofrimento apertando seu peito. 
O entardecer virou noite e um carro chegou até eles. Elias ficou tenso. 
As janelas baixaram e Michael puxou a cabeça para fora, olhando de 
Lucky para Elias. — Lucky, você está bem? 
Foda-se não, ele não estava. — Sim. 
— Você está pronto para sair daqui? 
Eles haviam rompido há muito tempo, ele e Michael. Seu ex foi para 
Boston para a faculdade, e Lucky ficou para trás. Às vezes, a dor pelo familiar 
o fazia levar o carro para Boston, às vezes Michael era aquele que faz a 
caminhada até Jersey. Lucky não sabia o que era mais. Mas Michael pegou 
o primeiro voo quando Lucky o chamou de Diana e nunca o deixou. 
Ele precisava disso. Mas aqui estava Elias. 
 — Eu... — ele balançou a cabeça. — Sim. Estou pronto. 
Ele não olhou para Elias. Mas ele sentiu aquele olhar. Lucky não 
achava que deixaria de sentir aquele olhar. 
 — Lucky. 
 — Obrigado por ter vindo. — Lucky voltou o olhar para o túmulo de 
Diana. — Você deve ir agora. 
— Olhe para mim, droga. 
Ele endureceu no comando afiado, inclinando o queixo, encontrando o 
olhar fútil de Elias com olhos estreitados. Havia tantas coisas que ele queria 
dizer, mas Lucky engoliu tudo. Apenas olhou para Elias enquanto o ruivo 
olhava de volta. Seu rosto estava bronzeado, as linhas mais nítidas. A barba 
era grossa e descuidada, fazendo com que ele parecesse sem-teto. Por que 
Lucky gostou desse olhar nele, ele não fazia ideia. O quadro de Elias era a 
mesma massa dura, tensa e imponente. 
Ele parecia impossível de tocar, segurar. Uma estátua em preto, 
coberta com uma pitada de escarlate. 
Eles fizeram essa coisa, olharam longamente, falando sem palavras, até 
que Elias suspirou e sacudiu a cabeça. Ele empurrou algo no bolso de Lucky, 
um cartão de visita, ao que parecia. 
— Se você precisar de mim, Lucky... — ele acenou com a cabeça para 
o bolso. — É onde eu vou estar — ele ergueu uma mão, tocou o queixo de 
Lucky com um dedo enluvado. Tão suave. 
Impessoal. 
Mas foi mais do que Lucky teve dele nos anos. Maldito ganancioso que 
ele era, ele ansiava por mais. Mas este era Elias, que já estava deixando cair 
a mão, virando as costas, indo embora. 
Lucky nunca teria mais. 
 
**** 
 
 — Fale comigo. 
Michael repetiu essa frase desde que Lucky entrou no carro. Ele não 
tinha nada a dizer. Pelo menos não para Michael. Ele limpou a garganta e 
pegou a cerveja que Michael lhe ofereceu. O seu ex se afundou ao lado dele 
no sofá, os ombros escovando. 
 — Estou bem — ele disse, mas foda-se se Lucky acreditasse. Michael 
também não o fez, não da maneira como ele segurou o olhar de Lucky e 
esticou para ele. 
Lucky não se afastou, mas viu no rosto de Michael que ele sabia o que 
Lucky queria. Queria escapar do leve aperto em seu queixo. 
 — Você nunca vai parar de mentir para mim? — perguntou Michael. 
A resposta para isso seria não. Ele era bonito, Michael. Pele lisa e 
pálida, os olhos arregalados de um marrom, lábios impressionantes para 
beijar. Eles fizeram mais do que isso. E enquanto Lucky tinha tido outros, 
Michael era o único que ele permitia perto o suficiente por mais de uma noite. 
Ainda assim, Michael não era... ele. 
 Elias. 
Foi assim que Lucky sabia que ele estava louco. Fora da sua mente. — 
Desculpe — disse ele a Michael. — Não posso fazer isso. 
 — Nós não precisamos fazer nada — disse Michael. — Apenas, deixe-
me estar aqui para você, Lucky. Você nem sempre precisa ser forte. Você nem 
sempre tem que ir sozinho. Estou aqui — ele respirou fundo. Lucky 
preparou-se. — Eu quero estar aqui. Sempre. 
Lucky levantou-se e começou a andar de um lado para o outro. 
— Eu não posso fazer isso — ele disse novamente. — Tudo isso. Me 
desculpe. 
Ele pegou o casaco da estante perto da porta. Ele tinha que se afastar 
daqui. Sentia como se estivesse sufocando, apagando lentamente devido a 
falta de oxigênio. 
 — Lucky, não vá embora. Jesus. — Michael estava vindo até ele, e 
Lucky estava fugindo dele, pela porta. 
Na rua, puxou a gola para cima, um obstáculo fútil contra a chuva. Ele 
não sabia para onde estava indo. Não sabia o que queria. Ele ficou na entrada 
de uma loja, um pequeno escudo da chuva. As mãos nos bolsos do casaco, 
ele arrastou pé a pé e depois parou. 
Um cartão de visita. No bolso dele. 
Ele puxou para fora. Manteve na luz da rua para ler. Um hotel. Elias 
estava hospedado em um hotel em Jersey City. Os pés de Lucky já estavam 
em movimento. 
Um passeio de táxi mais tarde, ele estava encharcado, os dentes 
tremendo, batendo na porta até que ela foi aberta e Elias estava lá. Em jeans 
e uma camiseta, cabelo solto, pés nus. 
 — Lucky. Porra — ele agarrou-o, uma grande mão em torno do braço 
de Lucky e puxou-o para o quarto antes de fechar a porta. — Que diabos? 
Você está bem? — ele estava se movendo, procurando por algo. Uma toalha 
que ele trouxe para Lucky e começou a secar seu cabelo. 
Os membros de Lucky tinham travado no lugar, então ele não podia 
fazer nada além de ficar parado enquanto Elias esfregava a toalha sobre o 
rosto e a garganta e depois rasgava o casaco. As mãos dele. Em Lucky. 
Juntas raspando o seu pescoço, os dedos lavando a sua garganta. 
Um fósforo aceso jogado descuidadamente sobre uma situação já 
embebida com álcool. 
Lucky agarrou-o, seu pulso, parando os movimentos de Elias. Quando 
o outro homem levantou os olhos preocupados com ele, Lucky o empurrou, 
ambas as mãos contra aquele amplo peito. Ele tropeçou e Lucky avançou 
sobre ele. 
 — Vai se foder — outro impulso. 
Um músculo começou um tremor rápido sob o olho esquerdo de Elias. 
— Lucky. 
 — Por sair. — Lucky o empurrou. Novamente Elias tropeçou. Ele não 
duvidava que Elias estava permitindo, mas maldição, Lucky não se 
importava. — Foda-se — ele grunhiu. — Por sair sempre fodidamente. 
 — Mijn schat1. — Elias agarrou sua bochecha. 
E Lucky não sabia o que

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