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CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS ESCOLA DE FORMAÇÃO JURÍDICA CURSO DE SERVIÇOS REGISTRAIS E NOTARIAIS Victória Romero da Conceição PROJETO INTEGRADOR – TEMAS TRANSVERSAIS JURÍDICO Alimentação Adequada e Cidadania PORTO ALEGRE 2021 VICTÓRIA ROMERO DA CONCEIÇÃO Projeto Integrador – Alimentação Adequada Linha de pesquisa – Sob a ótica da Cidadania Trabalho apresentado no Curso de Serviços Registrais e Notariais instituição de ensino superior Centro Universitário Ritter dos Reis de Porto Alegre, como requisito para a realização da disciplina de prática profissional: Diagnóstico organizacional. PORTO ALEGRE 2021 RESUMO O presente trabalho tem por objetivo apresentar o direito básico de todos os cidadãos: a alimentação adequada, que está ligada diretamente com uma das maiores mazelas que assombram nossa sociedade: a fome. Iremos observar ao longo do desenvolvimento deste projeto, os conceitos de direito à vida, à alimentação adequada, à alimentação por si só, e como o Direito Internacional se colocam frente a estes temas. Por fim, teremos uma breve demonstração de números da sociedade que ainda estão em situação precária o suficiente para não ter acesso a comida, a diferença entre fome e desnutrição e quais os dados atuais do nosso país. Para concluir, pensaremos de forma crítica possíveis políticas públicas que poderiam minimizar essa mazela tão grande e impactante em nossa sociedade. Palavras-chave: alimentação, fome, cidadania, alimentação adequada, dhaa, direito internacional, direito à vida. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 8 1.1 Cronograma ................................................................................................................. 8 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 9 3 DIREITOS FUNDAMENTAIS, SOCIAIS E A SOCIEDADE........................................ 10 3.1 Funções dos Direitos Fundamentais .......................................................................... 10 3.2 Direito à vida ............................................................................................................. 10 3.3 Direito à alimentação ................................................................................................. 11 4 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA (DHAA) ............................... 13 5 CIDADANIA E A ALIMENTAÇÃO .............................................................................. 14 5.1 Conceito de fome ....................................................................................................... 15 5.2 Alimentação do Povo Brasileiro ................................................................................ 15 6 PRINCIPAIS POLÍTICAS DE COMBATE À FOME NO BRASIL ............................... 17 7 PROPOSTAS PARA O COMBATE À FOME ................................................................ 19 8 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 20 9 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 21 8 1 INTRODUÇÃO Seria apenas a desigualdade econômica, o único motivo da fome no Brasil ou existem outros fatores que cooperam para que o índice de fome, desnutrição e alimentação precária ainda sejam tão significativos? Esta pesquisa tem por objetivo, mostrar e demonstrar a desigualdade social que acontece em nosso país, gerando à muitos cidadãos falta de comida em suas casas, e qual o impacto desses fenômenos em nossa sociedade. Com uma abordagem qualitativa e um propósito exploratório, conseguiremos estudar os conceitos alimentação num geral, alimentação como direito fundamental, o que de fato é o direito a alimentação adequada na ótica dos Direitos Humanos. Visualizando de forma suscinta, iremos avaliar que a melhor forma de reduzir a fome em nosso país, seria uma melhor e efetiva ação pública e privada. Fazendo esta referência chamo atenção ao fato de que existe sim, grande responsabilidade pública, mas há também responsabilidade do particular enquanto cidadão, para que contribua com uma vida mais justa a todos. 1.1 Cronograma Fev Março abril maio Estruturação do projeto 08/02 a 19/02 Referencial teórico 19/02 a 16/03 Proposta de trabalho 16/03 a 16/04 Execução 16/04 a 14/05 Resultados e conclusão 14/05 a 28/05 9 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este trabalho será fundamentado primeiramente nos conceitos básicos dos conceitos de direito à vida, à alimentação adequada, em seguida, observaremos de que forma os órgãos internacionais se posicionam diante deste tema. Ainda, analisaremos dados que nos mostram o impacto da pobreza na nossa sociedade, criando espaço e margem para a ocorrência destes delitos. A pesquisa baseada em artigos, jurisprudência e entendimento doutrinário, trará de forma clara e suscinta os principais pontos que atingem a nossa sociedade, e de que forma a falta de alimentação impacta a nossa sociedade. 10 3 DIREITOS FUNDAMENTAIS, SOCIAIS E A SOCIEDADE 3.1 Funções dos Direitos Fundamentais Podemos afirmar que os direitos fundamentais desempenham inúmeras funções na sociedade e no âmbito jurídico. Por conseguinte, foi necessário um esforço de sistematização, que se tornou clássico e ainda mantém atualidade, servindo de ponto de partida, é a teoria dos quatro status de Jellinek. Jellinek desenvolveu a doutrina dos quatro status em que o indivíduo pode encontrar-se em face do Estado no final do século XIX. Bem como, destas situações, extraem-se deveres ou direitos diferenciados por particularidades de natureza. Em um primeiro momento, pode o indivíduo caracterizar-se como detentor de deveres para com o Estado. Este, vincula o indivíduo, por meio de mandamentos e proibições. Portanto, aqui, trata-se de status subjectionis, ou em status passivo. A vida em um todo, exige que o homem, por ter personalidade, desfrute de um espaço de liberdade, sem interferência do Poder Público. Afinal, como o próprio Jellinek assinala, a autoridade do Estado “é exercida sobre homens livres”1. Nesse caso, trata-se do status negativo. Haverá situações em que o homem, terá direito de exigir do Estado que atue positivamente, o indivíduo neste momento pretende que o Estado aja em seu favor. O seu status é, assim, positivo, ou status civitatis. Jellinek cogita, ainda, um quarto status, que caracteriza como ativo, em que o homem tem competência para influir sobre a formação da vontade do Estado, como por exemplo, o direito de voto, onde o homem exerce seus direitos políticos. 3.2 Direito à vida Garantido no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, o direito à vida é o primeiro direito fundamental positivado em nossa Carta Magna. Logo, podemos afirmar, que o direito à vida é o pressuposto elementar de todos os demais direitos e liberdades dispostos na Constituição. Assim, é de extrema importância o direito à vida, bem como o dever-poder do Estado de agir para preservá-la em si mesma e com determinado caráter de qualidade, sobretudo nos casos em que o seu titular se encontrar em grau de maior vulnerabilidade. 1 Apud Jorge Miranda, Manual, cit., p. 84 11 O direito à vida também é ressaltado e convencionado em tratados internacionais nos quais o Brasil é parta. A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969- ratificado pelo Brasil em 25 de setembro de 2002 – declara em seu artigo 4º, que “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida”, acrescentando que “esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção” e que “ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”. Neste mesmo sentido, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas, de 1968, – ratificado pelo Brasil em 2 de janeiro de 2002 – explicita que “o direito à vida é inerente à pessoa humana” e que “este direito deverá ser protegido pela lei”. Por fim, a Convenção sobre os Direitos das Crianças, de 1989, - ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990 – entende “por criança todo ser humano menor de 18 anos de idade” em seu primeiro artigo, assevera que “os Estados-partes reconhecem que toda criança tem o direito inerente à vida” em seu artigo 6-1 e estabelece que “os Estados-partes assegurarão o máximo a sobrevivência e o desenvolvimento da criança” em seu artigo 6-2. Em síntese podemos afirmar que o direito à vida está de certo modo vinculado aos direitos a integridade física, a alimentação adequada, a se vestir com dignidade, a moradia, a serviços médicos, ao descanso e aos serviços sociais indispensáveis. De modo que, o titular do direito à vida há de ser toda a vida humana. 3.3 Direito à alimentação Positivado na Carta Magna brasileira, o direito à alimentação foi incluso pela Emenda Constitucional n. 64/2021, alterando o artigo sexto da Constituição que passou a vigorar com o texto de que “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados...” após grande e forte campanha liderada pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Com o intuito de fortalecer o conjunto de políticas de segurança alimentar, possibilitou a efetiva fruição do direito social à alimentação. O direito à alimentação integra o mínimo existencial, algo que está incluso no núcleo da dignidade da pessoa humana. Outrossim, o direito à alimentação já estava previsto no art. 7º, IV, acompanhado da educação, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social como elemento das “necessidades vitais” básicas do salário-mínimo. 12 Neste sentido, é importante diferenciar direito à alimentação e direito a ser alimentado. Ferreira Mendes (2018) define da seguinte forma: O primeiro, previsto em nosso texto constitucional, consiste no “direito a alimentar-se de forma digna, id est, espera-se que os cidadãos satisfaçam suas próprias necessidades com seu próprio esforço, bem assim utilizando seus meios disponíveis”. Trata-se, portanto, de conceito distinto do direito a ser alimentado, segundo o qual compete ao Estado entregar alimentos de forma gratuita aos que deles necessitam. (MENDES, Gilmar, 2018, p. 713) 13 4 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA (DHAA) O Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) está previsto desde a aprovação da Emenda Constitucional n. 64/2010, junto a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) – Lei n. 11.346/2006 e regulamentada pelo Decreto n. 7.272/2010 – representa um importante marco na luta contra a fome, pois através dela houve a criação do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN). O DHAA se realiza, conforme o relatório emitido pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) em 2010, quando todas as pessoas têm acesso garantido e ininterrupto à alimentação adequada e saudável por meios próprio e sustentáveis. Portanto podemos afirmar que cabe aos Estados as obrigações de respeitar, proteger, promover e prover os direitos humanos, pois o Estado é o sujeito detentor do poder e exercício sobre os poderes integrantes do Estado. A realização do DHAA consiste em destinar finanças públicas e implementar políticas públicas que incluam a população vulnerável à fome e à pobreza. Ainda expor pelo relatório do CONSEA (2010) “DHAA é violado toda vez que pessoas, grupos ou comunidades vivenciam situações de fome por não terem acesso a alimentos em quantidades e qualidade adequadas, de forma regular, para satisfazer suas necessidades alimentares e nutricionais, como também pessoas malnutridas de qualquer idade por deficiências de nutrientes (anemias, hipovitaminoses e outras carências específicas)”. 14 5 CIDADANIA E A ALIMENTAÇÃO A alimentação por si só e a fome não podem ser direcionadas exclusivamente a questão econômica (quando falamos em acesso à renda ou programas de auxílio governamental) ou alimentar (quando falamos em acesso à uma alimentação adequada e disponibilidade de alimentos). A alimentação é algo que cultural e histórico das relações sociais, visto que, cada grupo social tem seus costumes e se alimenta de acordo com a sua identidade cultural. Dessa forma, Flávio Luiz Schieck Valente diz que “a alimentação humana se dá na interface dinâmica entre o aimento (natureza) e o corpo (natureza humana), mas somente se realiza integralmente quando os alimentos são transformados em gente, em cidadãos e cidadãs saudáveis”. É de certa forma inviável não relacionar a alimentação e cidadania com os direitos humanos. Confirmando esta teoria, o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU diz que a alimentação do ser humano não pode ser reduzida a fornecimento de uma ração básica com nutrição necessária para um ser humano. Então aqui, podemos observar os direitos da dignidade da pessoa humana e o direito humano à alimentação adequada, citados nos tópicos anteriores. Portanto podemos observar que tanto a fome, quando a má alimentação, assim como a desnutrição que é decorrente destes, são claras manifestações de violações ao direito do cidadão, à sua cidadania que não pode ser perfectibilizada. Podemos, para finalizar este tópico, nos questionarmos em como a cidadania é exercida pelos cidadãos. O cidadão é um indivíduo, que tem consciência, mesmo que não ciente e conhecedor de dispositivos legais específico, de seus direitos e deveres e deste cidadão é esperada ou projetada de certa maneira uma participação ativa em tudo aquilo que envolve questões da comunidade onde pertence. A cidadania é de fato exercida quando um detentor do direito, cobra a sua real efetivação e eficiência, pois um Estado se desenvolve também por provocação de seus cidadãos. Porém não podemos e nem devemos utilizar este conceito como único e imutável, visto que a cidadania, encontra-se em permanente construção, conforme as mudanças e evoluções da sociedade. Em síntese, o cidadão nada mais é aquele indivíduo, membro de uma comunidade que fiscaliza a efetividade e eficiência dos seus direitos mais básicos, como a vida, liberdade, 15 segurança e alimentação, e, em contrapartida, cumpre com tudo aquilo que a lei proíbe, como o cometimento de crimes e infrações penais. 5.1 Conceito de fome A fome é vista por cada área profissional de forma diversa e consequentemente, cada área propõe uma ação, decorrente desta visão. Um profissional da saúde, de forma alguma enxergará a fome da mesma forma que um profissional agrícola ou um educador. E o mais preocupante é que seja qual das óticas escolhidas para as ações serem colocadas em prática, dificilmente acarretará uma política pública ou programa social que efetivamente reduza a fome no nosso país. Da mesma forma, traz Flávio Luiz Schieck Valente em seu artigo publicado em 2003 que: Um escravo bem nutrido não tem seu direito humano à alimentação garantido, porque ele ou ela continua escravo, e portanto, violado/a em sua humanidade. Um adulto ou uma criança que se alimenta do lixo, mesmo que “bem nutrida”, continua a ter seu direito humano violentado, pois ela ainda tem fome e, mais do que tudo, tem sua cidadania violentada. Por outrolado, uma pessoa que tenha acesso a alimentos em quantidade e qualidade suficiente, mas que está enferma ou não tem condições para preparar este alimento, também tem seu direito humano à alimentação violentado, porque não consegue realizar a transformação do alimento em vida, em saúde, em humanidade. 5.2 Alimentação do Povo Brasileiro A primeira problemática quando olhamos para a situação alimentar do povo brasileiro e a divergência de abordagens e entendimentos à cerca do tema, de forma suscita, exploraremos os principais pontos. Há uma clara disputa no âmbito político a respeito do tema, e essa grande disputa, faz com que “polos” de entendimentos opostos, não possibilitem que de fato políticas e propostas de ações públicas eficientes possam vigorar. 16 A outra, encontra-se na simples dificuldade de identificar e indicar qual solução melhor seria aplicada para cada situação, de cada região ou grupo social. Dentro de cada realidade e grupo social, há diferentes realidades que as dimensões ou conceitos de fome e alimentação, são interpretadas de maneiras diversas. O difícil acesso à uma alimentação de qualidade por grande parte da população brasileira ocorre devido a concentração excessiva de renda, baixos salários, níveis disparados de desemprego e baixo desempenho de setores que poderiam ajudar a solucionar o problema do desemprego. É como se pôr fim houvesse ciclo infinito que causa a fome no país, seja com o desemprego, seja a pobreza, seja a redução de oferta de alimentos. Ainda que anteriormente existisse uma concepção que defendesse que a fome era um fenômeno natural, atualmente não podemos mais observar a situação da disparidade entre a alimentação de diversas classes sociais de maneira tão rasa. Em pleno século XXI é notável que a situação na qual nos encontramos está única e principalmente vinculada ao conflito entre capital e trabalho. 17 6 PRINCIPAIS POLÍTICAS DE COMBATE À FOME NO BRASIL Surgiram na década de 1940 as primeiras políticas de combate à fome no Brasil. A definição de um piso mínimo salarial2², que se tornou o direito de todo trabalhador, definido, principalmente, com base no critério da alimentação, que deveria corresponder entre 50% e 60% do salário-mínimo. No mesmo ano, foi criado o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), que tinha como principais funções atender os segurados da previdência social; selecionar produtos e baratear preços; educar em uma perspectiva de solucionar os problemas de ordem alimentar e nutricional; promover a instalação e funcionamento de restaurantes e fornecer alimentos básicos. No ano de 1943, foi criado o Serviço Técnico de Alimentação Social (STAS), que tinha por atribuição principal propor medidas para a melhoria alimentar, e logo após, em 1945, foi criada a Comissão Nacional de Alimentação (CNA), que tinha por objetivo propor uma política nacional de nutrição. A CNA, seguindo orientações da Organização para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde, criou, em 1953, o Plano Nacional de Alimentação (PNA). Além da criação do Plano Nacional de Alimentação, a CNA também criou, no ano de 1955, o Programa Nacional de Merenda Escolar (PNME), que neste mesmo ano acabou se transformando em Campanha Nacional de Merenda Escolar (CNME). Quase todas essas políticas implementadas nesse período de 1940 a 1971 foram extintas, com exceção da merenda escolar que está em vigor até os dias atuais. O SAPS foi extinto na época da ditadura militar. Em decorrência da ditadura militar, em 1972, foi criado o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), que é uma autarquia federal ligada ao Ministério da Saúde, cujas funções eram elaborar e coordenar uma política nacional de alimentação e nutrição. A primeira política pública criada pelo INAN foi o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (Pronan I), que não acabou sendo operacionalizada e, no ano de 1976, foi criado o 2 BRASIL. Decreto-Lei nº2.162, 01 de maior de 1940. Institui o salário mínimo e dá outras providências. Senado Federal: Legislação Republicana Brasileira. 18 II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (Pronan II), que teve efetiva operacionalização. O Pronan II era uma política articulada por outros programas vinculados de diferentes ministérios, com função precípua em alimentar os grupos materno-infantis, escolares e trabalhadores. Burlandy (2003), ao analisar esta política, constatou que o Inan não conseguiu promover a articulação intersetorial necessária, concentrando os programas do Pronan II em apenas três principais linhas de atuação, a suplemtnação alimentar/oferta de refeições para grupos específicos; a produção e comercialização de alimentos e; a educação alimentar, mesmo que não de forma efetiva. O Pronan II se manteve ativo até o ano de 1985. Em 1986, no governo do presidente José Sarney foi criado o Programa Nacional do Leite (PNL), era um programa destinado às famílias com crianças de até sete anos de idade com renda mensal de até dois salários-mínimos, tinha como principal função distribuir um litro de leite por família, através de tíquetes com os quais a família poderia comprar o produto no comércio. No ano de 1993, o governo do presidente Itamar Franco, criou o Consea3, que era nada mais do que um órgão de aconselhamento da Presidência da República composto por oito ministros e vinte e um representantes da sociedade civil, que em grande parte foram indicados pelo Movimento pela Ética na Política, com o objetivo de coordenação a elaboração e implantação do Plano Nacional de Combate à Fome e à Miséria. Em 1995, o Consea foi extinto e, no seu lugar, foi criado o Conselho Consultivo do Comunidade Solidária4, que era um órgão governamental de consulta à sociedade civil, composto por dez ministros de Estado, pela Secretaria Executiva do Comunidade Solidária e por vinte e um membros da sociedade civil. O Conselho do Comunidade Solidária tinha como objetivo melhorar as condições de vida da população mais pobre do país. Em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lançou o Programa de Segurança Alimentar Fome Zero (PFZ). Foi elaborado pelo Instituto Cidadania, que tinha como principal objetivo apresentar uma política nacional participativa de segurança alimentar e combate à fome para o país, que contemplasse 44,043 milhões de pessoas em situação alimentar precária. 3 BRASIL. Decreto nº 807, 24 de abril de 1993. Institui o Conselho Nacional de Segurança Alimentar – CONSEA e dá outras providências. Senado Federal: Legislação Republicana Brasileira. 4 BRASIL. Decreto nº1366, 12 de janeiro de 1995. Dispõe sobre o Programa Comunidade Solidária e dá outras providências. Senado Federal: Legislação Republicana Brasileira. 19 7 PROPOSTAS PARA O COMBATE À FOME O problema da fome atualmente não está relacionado com insuficiência de produção de alimentos por parte da agricultura comercial ou até mesmo do País. Conforme visto anteriormente, o problema encontra-se na concentração excessiva da renda por determinadas classes sociais, com baixos salários, com a taxa de desemprego em constante crescente, agravado mais ainda agora neste momento de pandemia qual vivemos no nosso País. É clara a compreensão de que quanto maior o poder aquisitivo, maior a chance de obter alimentos de qualidade e assim ter uma nutrição adequada. Neste sentido, fica perfeitamente esclarecida a necessidade de criar mecanismos que, de forma imediata e urgente, traga melhores condições à população brasileira. Dentre esses mecanismos podemos citar: a diminuição dos custos do acesso à alimentação para a população em situação precária; o incentivo ao crescimento da oferta de alimentos com custo mais baixo; e de forma extremamente urgente e necessária, é preciso que algum mecanismo funcione no intuito de incluir as famíliascom o aumento da renda ao fornecimento de direitos de compra de alimentos. É de extrema importância e necessidade que haja neste campo uma intervenção estatal. Podemos usar de exemplo a eficiência do programa americano Food Stamp, que fornece às famílias pobres espécies de selos ou vales para compra de alimentos no comércio local. Esse sistema em nosso Estado, poderia funcionar de forma que todos estes selos ou vales, usado como poder de compra dessas famílias pobres, pudesse, posteriormente se transformar em selo ou vale de desconto tributário aos empresários e comerciantes. Seria uma forma de uma ação e intervenção não apenas estatal, mas também de uma iniciativa privada. O programa de cestas básicas deve ser mantido em nosso país, mas deve ser usado de maneira emergencial por aqueles que são acometidos por calamidade naturais, desvinculando dos estoques agrícolas e evitando o aumento da inflação. E é de suma importância, principalmente nas regiões mais populosas, como nas grandes cidades, que exista uma diminuição de desperdício de alimentos. A criação de uma espécie de Banco de Alimentos, seria uma forma de aproveitamento e de destinar alimentos em condições, para famílias e pessoas necessitadas. 20 8 CONCLUSÃO Demonstrei, neste suscinto trabalho, que o problema da alimentação inadequada em nosso país está fortemente relacionado com a falta de renda, em função do desemprego que aumenta mais a cada dia. Atualmente, vivendo essa pandemia terrível que nos assola, fica mais evidente a disparidade social e o quanto as pessoas de classe social mais elevada, pouco se preocupam em ajudar os menos favorecidos. Fica visível que as políticas públicas já implementadas, poderiam ter vigorado e ainda continuar a produzir efeitos positivos em nossa população, a maior dificuldade visivelmente é a troca de governos e a politicagem que acaba influenciando demais nesse assunto. 21 9 BIBLIOGRAFIA VALENTE, Flávio Luiz Schieck. Fome, desnutrição e cidadania: inclusão social e direitos humanos. Saúde e Sociedade, [S.L.], v. 12, n. 1, p. 51-60, jun. 2003. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902003000100008. BELIK, Walter; SILVA, José Graziano da; TAKAGI, Maya. Políticas de combate à fome no Brasil. São Paulo em Perspectiva, [S.L.], v. 15, n. 4, p. 119-129, dez. 2001. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0102-88392001000400013. SILVA, Robson Roberto da. Principais políticas de combate à fome implementadas no Brasil. Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 5, p. 1-19, 1 nov. 2006. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3215/321527158003.pdf. Acesso em: 20 maio 2021. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 1638 p. (IDP).
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