Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lesão Isquêmica e Hipóxica A isquemia é o tipo mais comum de agressão celular em medicina clínica e que resulta da hipóxia provocada pela diminuição do fluxo sanguíneo, por causa de uma obstrução mecânica arterial. Além disso, pode ser causada por redução da drenagem venosa. Ao contrário da hipóxia, durante a qual a produção de energia através da glicólise anaeróbica continua, a isquemia também compromete o fornecimento de substratos para a glicólise. Assim, nos tecidos isquêmicos, não apenas o metabolismo aeróbico é comprometido, mas a geração de energia anaeróbica também cessa depois que os substratos glicolíticos são exauridos ou quando a glicólise é inibida pelo acúmulo de metabólitos que normalmente seriam removidos pelo fluxo sanguíneo. Por essa razão, a isquemia tende a causar lesão celular e tecidual mais rápida e intensa que a hipóxia na ausência de isquemia. Correlações Clinicopatológicas: Exemplos Selecionados de Lesão e Necrose Celulares Mecanismos da Lesão Celular Isquêmica Se a hipoxia continua, a depleção ainda maior de ATP causará deteriorações adicionais. O citoesqueleto se dispersa, levando à perda de características ultraestruturais como as microvilosidades e formação de “bolhas” na superfície celular. “Figuras de mielina”, derivadas das membranas celulares em degeneração, são vistas dentro do citoplasma (em vacúolos autofágicos) ou no meio extracelular. Nesse momento, as mitocôndrias estão geralmente tumefeitas, como consequência da perda do controle do volume nessas organelas; o retículo endoplasmático permanece dilatado e a célula inteira está intensamente tumefeita, com altas concentrações de água, sódio e cloreto e uma concentração reduzida de potássio. Se o oxigênio for restaurado, todas essas alterações são reversíveis. Quando a pressão de oxigênio dentro da célula diminui, ocorre perda da fosforilação oxidativa e diminuição da geração de ATP. A depleção de ATP resulta em falha da bomba de sódio, com perda de potássio, influxo de sódio e água e tumefação celular. Ocorre também influxo de cálcio, com seus muitos efeitos deletérios. Há uma perda progressiva de glicogênio e redução da síntese de proteínas. Nesse estágio, as consequências funcionais se tornam graves. Por exemplo, o músculo cardíaco cessa sua contratilidade dentro de 60 segundos após a oclusão da artéria coronária. Entretanto, a perda de contratilidade não significa morte celular. Mecanismos da Lesão Celular Isquêmica A restauração do fluxo sanguíneo para os tecidos isquêmicos pode promover a recuperação de células, se elas foram reversivelmente lesadas, mas também pode exacerbar a lesão e causar morte celular. Por conseguinte, os tecidos reperfundidos continuam perdendo células além daquelas já irreversivelmente lesadas no final da isquemia. Esse processo, denominado lesão de isquemia- reperfusão. Estresse oxidativo. pode levar novos danos durante a reoxigenação por aumento da geração de espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio. Esses radicais livres são produzidos no tecido reperfundido como resultado da diminuição incompleta do oxigênio pelas mitocôndrias danificadas, ou pela ação de oxidases de leucócitos, células endoteliais ou células do parênquima. Os mecanismos de defesa antioxidante celulares são comprometidos pela isquemia, favorecendo o acúmulo de radicais livres. Sobrecarga de cálcio intracelular. Como mencionado, a sobrecarga de cálcio intracelular e mitocondrial começa durante a isquemia aguda; ela é exacerbada durante a reperfusão devido ao influxo de cálcio resultante dos danos à membrana plasmática e da lesão mediada por ERO ao retículo sarcoplasmático. A sobrecarga de cálcio favorece a abertura do poro de transição de permeabilidade mitocondrial com consequente depleção de ATP. Isto, por sua vez, provoca mais lesão celular. Inflamação. A lesão isquêmica está associada com a inflamação através da liberação de “sinais de alerta” provenientes de células mortas, citocinas secretadas pelas células imunes locais, tais como os macrófagos residentes, e expressão aumentada de moléculas de adesão por células endoteliais e parenquimatosas hipóxicas, tudo isso atuando para recrutar neutrófilos circulantes para o tecido reperfundido. A ativação do sistema complemento contribui para a lesão de isquemia-reperfusão. Por razões desconhecidas, alguns anticorpos IgM possuem uma tendência a se depositarem em tecidos isquêmicos, e, quando o fluxo sanguíneo é restaurado, as proteínas do complemento ligam-se aos anticorpos depositados e são ativadas, provocando mais lesão celular e inflamação Lesão Química (Tóxica) A lesão química permanece como um problema frequente na medicina clínica, e é a principal limitação à terapia com fármacos. Como muitos fármacos são metabolizados no fígado, este órgão é alvo frequente da toxicidade dos medicamentos. De fato, a lesão hepática tóxica é talvez a razão mais frequente para a interrupção do uso terapêutico ou do desenvolvimento de um fármaco. Toxicidade direta. Algumas substâncias químicas lesam células diretamente pela sua combinação com componentes moleculares críticos. Por exemplo, no envenenamento por cloreto de mercúrio, o mercúrio se liga aos grupamentos sulfidrila das proteínas da membrana celular, causando aumento da permeabilidade da membrana e inibição do transporte de íons. Nesses casos, a maior lesão ocorre nas células que usam, absorvem, excretam ou concentram as substancias químicas — no caso do cloreto mercúrico, as células do trato gastrointestinal e do rim. O cianeto envenena a citocromo-oxidase mitocondrial, inibindo, assim, a fosforilação oxidativa. Muitos agentes quimioterápicos antineoplásicos e antibióticos também provocam lesão celular por efeitos citotóxicos diretos. Conversão em metabólitos tóxicos. A maioria das substâncias químicas não é biologicamente ativa na sua forma nativa, mas precisa ser convertida em metabólitos tóxicos reativos, que então agem sobre as moléculas-alvo. Essa modificação é normalmente realizada pelas oxidases de função mista do citocromo P-450, no retículo endoplasmático liso, no fígado e em outros órgãos. Os metabólitos tóxicos causam lesão da membrana e lesão celular principalmente pela formação de radicais livres e subsequente peroxidação lipídica; a ligação covalente direta a proteínas e lipídios da membrana também pode contribuir. As principais vias de lesão quimicamente induzida, com exemplos selecionados. As substâncias químicas induzem lesão celular por um dos dois seguintes mecanismos gerais.
Compartilhar