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Produção Textual Produção Textual Originariamente, o organizador do presente livro era o professor Ân-gelo Renan Caputo, razão pela qual os cinco autores dedicam este trabalho a esse caro colega, infelizmente, falecido em fevereiro de 2012. Esperamos que a tarefa esteja à altura do que o professor Ângelo idealizou. Dedicatória Autores ALMIR MENTZ é formado em Letras pelas Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (FISC), especialista em Literatura pela mesma Fa- culdade. Mestre em Letras, na área de Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atualmente é profes- sor na Universidade Luterana do Brasil – Campus São Jerônimo e Canoas – nas modalidades presencial e Educação a Distância (EaD). Também de- sempenha suas funções docentes na Rede Pública Estadual nas disciplinas de Língua Portuguesa e de Literatura. Castilho Francisco Schneider é graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em Língua Inglesa pela UFRGS. É professor do curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil desde 1988 e atualmente trabalha na Educação a Distância nos cursos de Letras e Pedagogia. Fez parte da comissão de elaboração do processo seletivo da ULBRA. Também é integrante da banca de correção de redações do processo da ULBRA. É autor do romance “Depois da Praça” (Editora da Ulbra – 2004). Prof. Dr. Ítalo Ogliari Doutor em Teoria da Literatura pela PUCRS e professor titular do Curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Gravataí, onde man- tém uma Oficina de Criação Literária. Também professor de disciplinas li- gadas à filosofia e à sociologia, é autor, dentre outros trabalhos, dos livros: “A mulher que comia dedos” (Contos, WS – 2004), “Ana Maria não tinha um braço” (Contos, IEL – 2006), “Um sete um” (Romance, 7Letras – 2007), “A volta” (Romance, 7Letras – 2010) e “A poética do conto pós-moderno” (Teoria Literária, 7Letras – 2012). Site oficial: www.italoogliari.com Autores v Maria Lizete da Silva Schneider é graduada em Letras pelo Centro Edu- cacional La Salle de Ensino Superior e especialista em Língua Portuguesa e Linguística do Texto pela Universidade do Vale do Sinos (UNISINOS). Tam- bém é doutoranda em Filologia Espanhola, Moderna y Latina pela Univer- sidad de les Illes Balears. É professora dos Cursos de Letras e de Pedagogia na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Túria Sibéli Dieckov Ruiz, graduada em Letras Português e Literaturas da Língua Portuguesa pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e pós-gra- duada em Educação a Distância pelo SENAC/RS. Atualmente, é aluna com ingresso especial do Mestrado em Educação na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e atua como tutora do Curso de Letras na mesma instituição. Apresentação O presente livro de Produção Textual destina-se a estudantes universi-tários de diversos cursos, precipuamente, porém, aos acadêmicos de Pedagogia. O objetivo principal da obra consiste em fornecer alguns subsídios básicos que possam nortear a produção textual acadêmica ou profissional, o que, evidentemente, não há como ser levado à exaustão em trabalho tão breve como o que ora nos propomos a elaborar. O livro está estruturado em dez capítulos, todos relacionados, de algu- ma forma, à textualidade. No primeiro capítulo são examinadas as diferentes possibilidades de leitura que o elaborador de um texto pode e deve realizar antes de dar forma ao seu trabalho escrito. Os capítulos dois, três e quatro contemplam uma abordagem dos as- pectos essenciais que conferem qualidade a uma produção textual. Por essa razão, tratam da coesão e da coerência. A primeira analisa tanto a articulação e o emprego adequado de conetivos quanto o uso correto da referência intratextual por meio de anáforas e catáforas. A coerência, por seu turno, aborda as informações implícitas, o conhecimento de mundo e as qualidade de estilo inerentes à boa textualidade. O Capítulo cinco dedica-se a expor as características e a estrutura do parágrafo dissertativo desdobrando-se na caracterização da dissertação no sentido mais amplo. O sexto capítulo propõe-se a traçar um breve estudo sobre o trabalho escrito de natureza argumentativa, além de estabelecer a diferença entre este e os textos de natureza dissertativa. Já o capítulo sete envolve a es- Apresentação vii trutura do texto narrativo. No oitavo, procede-se à análise da descrição, exemplificando os diversos tipos de abordagens descritivas. No Capítulo nove, são apresentados três tipos de Correspondência Oficial mais frequentemente empregados com exemplificações de suas es- truturas. Além disso, também é feita uma sucinta abordagem do e-mail. O capítulo que encerra o presente livro apresenta uma relação de de- zesseis palavras e expressões, cujo emprego correto, em texto acadêmicos ou não, frequentemente, apresenta incertezas, principalmente no que con- cerne à grafia. Esperamos que este trabalho de grupo tenha êxito, no sentido de servir de apoio norteador para acadêmicos e para outros potenciais usuários. Não tivemos o intento de sermos exaustivos, até porque a extensão da pro- posta não o permitiria. A bibliografia consultada e apresentada possibilita estudos posteriores mais aprofundados. 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto .....................1 2 Coesão Textual por Encadeamento de Segmentos do Texto ..19 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação de Termos ....39 4 Coerência Textual ...............................................................58 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa ....................71 6 Texto Argumentativo ...........................................................93 7 A Estrutura do Texto Narrativo ...........................................113 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo ...................130 9 Correspondência Oficial – Ata, Ofício, Requerimento, E-mail ...........................................................146 10 Sutilezas da Língua Portuguesa .........................................169 Sumário Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto Dr. Ítalo Ogliari 2 Produção Textual Um pouco de história Para iniciarmos este capítulo, tomemos como ponto de partida um breve artigo intitulado “Diferentes formas de ler”, de Márcia Abreu, professora do Departamento de Teoria Literária do Insti- tuto de Estudos da Linguagem, da Unicamp. O texto – apresen- tado em Mesa-redonda chamada Práticas de Leituras: história e modalidades, no XXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em Campo Grande, 2001 – nos conta que, até alguns anos atrás, ninguém imaginava que nossa maneira de ler pudesse ter sido diferente da forma como a realizamos hoje. O ato da leitura, por mais surpreendente que possa pa- recer, foi se modificando desde que o homem inventou suas maneiras de registrar conteúdos por escrito. A leitura solitária e silenciosa, por exemplo, favorecendo a concentração e o entendimento, nem sempre foi exercitada por aqueles que liam um determinado texto. Supunha-se que, em todas as épocas, ler implicava pen- sar sobre textos e interpretá-los, exigindo habilidades superiores à capacidade para decifrar os sinais gráficos da escrita. Acreditava-se que o contato com os livros foi sempre valorizado por favorecer o espírito crítico, tor- nando o leitor uma pessoa melhor por meio do contato com experiências e ideias registradas por escrito (ABREU, 2001, p. 01). Para termos uma ideia mais clara, basta lembrarmos que ler em voz alta era a norma no século IV d.C., situação que se prolongou até o século XIV, quando muitos ainda dependiam Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto 3 da oralidade (ouvir as palavras) para a compreensãode um texto. E mesmo depois dessa época, quando a leitura silencio- sa começou a ganhar espaço como prática, ler em voz alta ainda era uma forma de integração e bom convívio social. “Lia-se em voz alta nos salões, nas sociedades literárias, em casa, nos serões, nos cafés. Esse tipo de leitura, além de per- mitir o contato com ideias codificadas em um texto, era uma forma de entretenimento e de encontro social” (Idem, p. 1). É bem recente também a ideia de que um bom leitor é aque- le que lê textos variados e em significativa quantidade, como jornais, revistas, livros etc. Nem sempre a quantidade de ma- terial impresso, disponível para a população, foi grande, como temos hoje, e sem falar no preço, que também, pela dificuldade de produção, era alto, muito mais do que hoje. O livro, muitas vezes, era um objeto sacralizado. Por isso, o bom leitor era me- dido não pela quantidade de livros que lia, mas pela frequência com que relia e com que meditava sobre os mesmos escritos. Houve um tempo, inclusive, em que a leitura foi rotulada como maléfica à saúde, e médicos defendiam que o esforço contínuo de interação com um texto poderia ser prejudicial aos olhos, ao cérebro, aos nervos e ao estômago. Obviamente, esse quadro, com o passar do tempo, foi mudando. Atual- mente, sabemos que a leitura é parte fundamental para o de- senvolvimento da intelectualidade humana. A concepção que hoje temos sobre leitura é ampla e rica, e sabemos que o ato de ler é um dos exercícios mais enriquecedores para o homem, que deve, sim, para seu crescimento, ler diferentes tipos de tex- tos, informar-se, pois só assim ele poderá ser um sujeito crítico e reflexivo, atuante em seu meio. 4 Produção Textual Sobre o ato de ler Não só a forma de nos relacionarmos com o texto mudou com o passar do tempo. O conceito de leitura também ga- nhou, com os anos, um novo significado. O ato de ler, por um longo período da história da relação do homem com a escrita, foi pensado unicamente como um exercício de deci- fração do código linguístico, ou seja, uma decodificação de palavras. Decifrar o código linguístico não significa, necessa- riamente, ler. Isso, claro, se o ato da leitura for compreendido como prática social, como forma de interação com o mundo, o que vai desde a mais simples informação adquirida através da leitura de uma placa, de um cartaz informativo ou mesmo do destino de uma linha de ônibus, à leitura de periódicos, livros técnicos, literários, filosóficos, entre tantas outras possi- bilidades, que nos exigem, muitas vezes, um posicionamento crítico, conhecimentos prévios e um bom poder interpretativo e de concentração. Ler não é um ato de passividade. A leitura é uma prática em que o leitor é, também, um agente ativo, preenchendo, com seus conhecimentos e suas experiências, os espaços vazios do objeto que está diante de seus olhos, completan- do-o, compreendendo-o, interpretando-o e se apropriando, através de sua capacidade intelectual, ao máximo de suas ideias, dialogando com o que é lido. Ler é dialogar com o texto. Tudo porque, de acordo com Maria da Graça Costa Val, em Redação e textualidade: “O texto não significa ex- clusivamente por si mesmo. Seu sentido é construído não só pelo produtor como também pelo recebedor, que preci- Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto 5 sa deter os conhecimentos necessários à sua interpretação” (2004, p. 6). A leitura e suas possibilidades De acordo com Lucília Garcez, “os procedimentos de leitura podem variar de indivíduo para indivíduo e de objetivo para objetivo” (2002, p. 24). Uma leitura por simples diversão, por exemplo, é um ato espontâneo, não nos exigindo grande es- forço de memorização de determinados elementos conceitu- ais. Porém, é inevitável, para qualquer leitura, o conhecimento prévio da língua, dos gêneros (ou seja, saber que tipo de texto estamos lendo), assim como do assunto. Ao nos depararmos com uma crônica ou com um texto dissertativo/argumentativo em um jornal ou revista, que trata de um determinado problema relacionado à educação ou à política brasileira, é interessante, para melhor aproveitamento da leitura, que tenhamos conhecimento das questões que es- tão sendo abordadas, assim como os termos que a envolvem. Indispensável, da mesma forma, é conhecermos um pouco sobre o autor e sua maneira de escrita, o que nos ajuda a perceber determinados elementos ligados à ironia e a constru- ções alegóricas e metafóricas utilizadas por ele. Até mesmo o posicionamento político do veículo de comunicação em que o texto está publicado é elemento que colabora, sem dúvida alguma, para a leitura. Como exemplo, podemos nos lembrar de um dos tantos textos escritos por Lya Luft, na revista Veja, como o que segue. 6 Produção Textual Lya Luft Crime e Castigo “Estamos levando na brincadeira a questão do erro e do castigo, ou do crime e da punição. Sem limites em casa e sem punição de crimes fora dela, nada vai melhorar” Tomo emprestado o título do romance do russo Dostoiévski, para comentar a multiplicação dos crimes nesta cultura torta, desde os pequenos “crimes” cotidianos – falta de respeito entre pais e filhos, maus- -tratos a empregados, comportamento impensável de políticos e líderes, descuido com nossa saúde, segurança, educação – até os verdadeiros crimes: roubos, assaltos, assassinatos, tão incrivelmente banalizados nesta sociedade enferma. A crise de autoridade começa em casa, quando temos medo de dar ordens e limites ou mesmo castigos aos filhos, iludidos por uma série de psicologismos falsos que pululam como receitas de revista ou programa matinal de televisão e que também invadiram parte das escolas. Crianças e adolescentes saudáveis são tratados a mamadeira e cachorro-quente por pais desorientados e receosos de exercer qualquer comando. Jovens infratores são tratados como imbecis, embora espertos, e como inocentes, mesmo que perversos estupradores, frios assassinos, traficantes e ladrões comuns. São encaminhados para os chamados centros de ressocialização, onde nada aprendem de bom, mas muito de ruim, e logo voltam às ruas para continuar seus crimes. Estamos levando na brincadeira a questão do erro e do castigo, ou do crime e da punição. A banali- zação da má-educação em casa e na escola, e do crime fora delas, é espantosa e tem consequências dramáticas que hoje não conseguimos mais avaliar. Sem limites em casa e sem punição de crimes fora dela, nada vai melhorar. Antes de mais nada, é dever mudar as leis – e não é possível que não se possa mudar uma lei, duas leis, muitas leis. Hoje, logo, agora! O ensino nas últimas décadas foi piorando, em parte pelo desinteresse dos governos e pelo péssimo incentivo aos professores, que ganham menos do que uma emprega- da doméstica, em parte como resultado de “diretrizes de ensino” que tornaram tudo confuso, experimental, com alunos servindo de cobaias, professores lota- dos de teorias (que também não funcionam). Além disso, aqui e ali grupos de ditos mestres passaram a se interessar mais por politicagem e ideologia do que pelo bem dos alunos e da própria classe. Não admira que em alguns lugares o respeito tenha sumido, os alunos considerem com desdém ou indignação a figura do antigo mestre e ainda por cima vivam, em muitas famílias, a dor da falta de pais: em lugar deles, como disse um jovem psicólogo, eles têm em casa um gatão e uma ga- tinha. Dispensam-se comentários. Autoridade, onde existe, é considerada atrasada, antiquada e chata. Se nas famílias e escolas isso é um problema, na sociedade, com nossas leis falhas, sem rigor nem coerência, isso se torna uma tragédia. Não me falem em policiais corruptos, pois a maioria imensa deles é honrada, ganha vergonhosamente pouco, arrisca e perde a vida, e pouco ligamos para isso. Eu penso em leis ruins e emprisões lotadas de gente em condições animalescas. Nesta nossa cultura do absurdo, crimes pequenos levam seus autores a passar anos em um desses lixões de gente chamados cadeias (muitas vezes sem sequer ter havido ainda julgamento e condenação), enquanto bandidos perigosos entram por uma porta de cadeia e saem pela outra, para voltar a cometer seus crimes, ou gozam na cadeia de um conforto que nem avaliamos. Precisamos de punições justas, autoridade vigilante, uma reforma geral das leis para impedir perver- sidade ou leniência, jovens criminosos julgados como criminosos, não como crianças malcriadas. Ensino, educação e justiça tornaram-se tão ruins, tudo isso agravado pelo delírio das drogas fo- mentado por traficantes ou por irresponsáveis que as usam como diversão ou alívio momentâneo, que passamos a aceitar tudo como normal: “É assim mesmo”. Muito crime, pouco castigo, castigo excessivo ou brando demais, leis antiquadas ou insuficientes, e chegamos aonde chegamos: os cida- dãos reféns dentro de casa ou ratos assustados nas ruas, a bandidagem no controle; pais com medo dos filhos, professores insultados pela meninada sem educação. Seria de rir, se não fosse de chorar. Texto e imagem publicados originalmente na revista Veja – Edição 2123/29 de julho de 2009. Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto 7 Os pontos que discutimos até agora são apenas uma pequena mostra de como o ato de ler envolve muito mais habilidades do que às vezes imaginamos. Há todo um contexto que deve ser leva- do em conta e que, muitas vezes, nem percebemos, mas que está atuando, de forma silenciosa, em nossa leitura e na compreensão que estamos tendo do texto, assim como nossa posição diante dele. O exercício que nosso cérebro faz, enquanto lemos, envolve todos esses conhecimentos. O texto de Lya Luft, por exemplo, já inicia com uma relação de intertextualidade, citando o nome de uma obra clássica da literatura universal. A história do romance dialoga diretamente com o conteúdo de sua coluna, já que se trata (o livro citado por Luft) de uma narrativa em que um jovem comete um assassinato, passando, desde então, por uma grande crise moral. E assim, o processo de leitura transcorre, sempre em um jogo de trocas entre o leitor o aquilo que está sendo lido. * Em outra possibilidade e por outro objetivo, podemos nos deparar com a necessidade de lermos um determinado texto teórico, como um livro técnico ou mesmo um artigo científico para nossos estudos acadêmicos. E o processo de leitura não é muito diferente. Exige-nos, também, um prévio conhecimento sobre o assunto, para compreendermos o que estamos lendo, e um conhecimento sobre o autor e sobre o local/editora de publicação. Nesse caso, esses dois últimos elementos (autor e local de circulação do texto) são importantes para podermos confiar na notoriedade científica do que temos diante de nós. Por isso, em um texto de caráter teórico, é muito importante sabermos quem está falando e qual é a relevância desse autor para o universo acadêmico, como também sua linha de pensa- mento, sua época, a validade e permanência de suas ideias etc. 8 Produção Textual Ler um texto acadêmico é, igualmente, um exercício de re- lações de saber, em que uma determinada palavra, que possui um conceito, busca outras ideias que a completem, para que tudo seja perfeitamente compreendido. É justamente por isso que pode acontecer nos depararmos com um livro teórico e não entendermos quase nada, pois esse texto, provavelmente, estabelece relações com muitas outras ideias e conceitos que não temos ainda em nós, devido à falta de leituras anteriores, ou seja, conhecimentos prévios que deveríamos possuir. Ideologia e cultura No sentido mais amplo, ideologia é uma visão de mundo. É, assim, uma concepção do mundo, um sistema de valores, opiniões, crenças que representam uma leitura social da realidade, uma visão do real. Mesmo sendo identificada em um indivíduo, a ideologia é uma representação ou uma combinação de representações sociais, menos ou mais coerentes. Assim, a ideologia traduz, até certo ponto, o que é um grupo social – naquilo que são suas representações sociais da realidade – e do que pode orientar suas ações. A ideologia dominante é a ideologia da classe economicamente dominante, já disse Marx (s.d.). Mas isto não ocorre como um reflexo automático da economia para as mentes. Ocorre porque: a produção econômica (desde a divisão social do trabalho até os meios de produção mais específicos e constantemente atualizados) tende a organizar não somente a maneira como o trabalhador produz, mas o conjunto de suas práticas sociais e culturais (um exemplo histórico, foi o papel ideológico, além do técnico, que o fordismo cumpriu (Gramsci, 2000); esta divisão, também hierarquiza funções na produ- ção e na sociedade, naturalizando-as, especialmente a divisão entre trabalho manual e intelectual, entre patrão e empregado e entre chefe e tarefeiro; toda sociedade baseada na propriedade privada dos meios de produção é uma sociedade da divisão de classes, a qual é naturalizada como tendo existido desde sempre e projetada até a eternidade; por outro lado, a posição de quem é proprietário, patrão e tem poder econômico e riqueza, dá status e prestígio social que o valoriza também na disputa de ideias; a classe que detém os meios de produção material, também detém os meios de produção, de reprodução e de distribuição/circulação intelectual, científica, filosófica e simbólica em geral (aí incluídos, mas não só, os mais avançados meios de comunicação de massa). Trecho do artigo CULTURA POLÍTICA E HEGEMONIA, de Jorge Almeida, professor do Departamento de Ciência Política e do PPG de Ciências – FFCH-UFBA, e Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Publicado originalmente nos Anais do IV Compolítica – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www. compolitica.org/home/wp-content/uploads/2011/03/Jorge-Almeida.pdf Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto 9 Observe que o texto acima, ao buscar definir o conceito de ideologia, exige do leitor outros conhecimentos, como um pouco sobre a teoria marxista, assim como o que foi o deno- minado fordismo, ou mesmo o conceito de cultura que está debatendo, já no título, e que deve ser entendido por um viés sociológico e antropológico. * Há também a leitura meramente informativa, que nada mais é do que as informações adquiridas através das notí- cias de jornais, como a situação atual de um time de futebol, a eleição de um novo governante em um determinado país ou mesmo um acordo político realizado na semana. Porém, é sempre muito perigoso afirmarmos que essa é sempre uma leitura não interpretativa, ou melhor: que não exige um exer- cício interpretativo e crítico do leitor. Óbvio que ela pode, por seu caráter e por seu objetivo, exigir, em certos momentos, nenhum exercício intelectual, limitando-se apenas a um movi- mento de absorção. No entanto, não podemos esquecer que todo o discurso é ideológico, que um veículo de comunicação, assim como debatemos no primeiro exemplo, é, da mesma forma, ideológico, fazendo com que, muitas vezes, a necessi- dade de interpretação (de um olhar mais crítico) venha através de questionamentos ligados à forma como aquela notícia foi abordada, ligados à ênfase dada a ela, às opiniões emitidas ou omitidas, ao silêncio perante outras notícias etc. Com isso, podemos perceber que a leitura não é um proce- dimento muito simples. Pelo contrário, é uma atividade, assim como escrever, extremamente complexa, já que não podemos considerar apenas o que está escrito, mas todo um movimento 10 Produção Textual que envolve também o leitor como parte fundamental no ato da leitura, como construtor do texto e de seu sentido. Ele será um grande responsávelpelo bom ou mau aproveitamento da leitura, das informações nela contidas, e por sua apropriação. Dicas para um bom aproveitamento da leitura Como a leitura, para Lucília Garcez, faz inúmeras solicitações simultâneas ao cérebro, é importante desenvolvermos algumas habilidades que são comuns àqueles que leem com mais fre- quência e com mais naturalidade. Em uma leitura, precisamos, para sua compreensão (e isso ocorre de forma praticamente imperceptível), não só decodificar o código da linguagem ver- bal, como já debatemos, mas interpretar itens lexicais e gra- maticais, identificar palavras-chave, perceber a hierarquia de ideias, associar aquilo que estamos lendo com informações anteriores, focalizar nossa atenção e reorientar os próprios procedimentos mentais, já que novas ideias estão sendo rece- bidas, dialogando com nosso conhecimento. Por isso, alguns recursos podem tornar a leitura mais produtiva, como:  observar títulos e subtítulos;  analisar ilustrações;  reconhecer elementos paratextuais importantes, como: parágrafos, negritos, enumerações, legendas, quadros etc.; Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto 11  reconhecer e sublinhar palavras e conceitos que são chaves para as ideias do texto;  consultar dicionários (inclusive técnicos);  construir paráfrases mentalmente de fragmentos do texto (ou seja, reelaborar mentalmente o que o autor disse, mas com suas palavras);  e até mesmo resumir a ideia geral do texto em rascunho após a leitura. E lembre-se: a leitura não se esgota no momento em que se lê. Ex- pande-se por todo um processo de compreensão que antecede o texto, explora-lhe as possibilidades, e pro- longa-lhe o funcionamento além do contato com o texto propriamente dito, produzindo efeitos na vida e no con- vívio com outras pessoas. (Idem, p. 27) Dessa forma, podemos perceber que o ato de ler é um processo que exige uma série de habilidades cognitivas e, em inúmeros casos, uma única leitura não é suficiente, o que de- pende da complexidade do texto, de nosso conhecimento an- terior a ele e de nosso objetivo. O objetivo, também, define as ferramentas utilizadas para uma melhor compreensão de um texto (notas, trechos sublinhados, consulta por palavras etc.). É imprescindível desenvolvermos adequadamente essas estratégias de apoio para melhor aproveitamento daquilo que estamos lendo. 12 Produção Textual A leitura foi e segue sendo, na história da humanidade, uma das principais formas de adquirirmos conhecimento, de construirmos opiniões próprias e de possuirmos embasamento teórico necessário para atividades de diversas áreas e setores, desde a educação até a medicina. Por isso, ler não é apenas necessário, mas fundamental. Recapitulando Neste capítulo, então, vimos que a leitura, ou melhor, o ato de ler também possui sua história. Ficamos sabendo que a leitura em voz baixa, sem a pronúncia das palavras, constitui uma modalidade muito mais recente do que imaginávamos e que também a ideia de que um bom leitor é aquele que lê textos variados, como jornais, revistas e livros, nem sempre foi assim. Antigamente, pela dificuldade de acesso ao livro e devido ao seu alto preço, o bom leitor era medido não pela quantidade de livros que lia, mas pela frequência com que relia e com que meditava sobre um mesmo texto. Lembramos outro ponto importante deste capítulo, que ler não é um ato de passividade, e sim uma prática em que o lei- tor é também um agente ativo, preenchendo os espaços vazios do texto com seus conhecimentos e suas experiências, comple- tando-o, compreendendo-o, interpretando-o e se apropriando ao máximo de suas ideias, dialogando com o que é lido. Não esqueça: ler é dialogar com o texto. Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto 13 Por fim, verificamos que existem várias formas e possibili- dades de leitura e boas dicas para um melhor aproveitamento de um texto, cada uma delas com um objetivo específico, as- sim como verificamos que ler vai muito além de simplesmente decifrar o código linguístico, levando-nos ao conceito atual de leitura, que já expressamos anteriormente e que envolve o leitor como peça fundamental. Atividades 1 Leia o parágrafo que segue. O trabalho na Internet exige rapidez na leitura e muita seletivi- dade, porque não se pode ler tudo o que está na tela. E a ca- pacidade de selecionar não é algo que, há alguns anos, fosse uma exigência importante na formação do leitor. No contexto escolar, não tinha lugar preponderante mesmo. Na rede mun- dial de computadores, as páginas estão cheias de coisas que não têm relação com o que procuro e existe a possibilidade de um texto me conduzir a outros por meio de um click. Além disso, quando tenho um livro em mãos e o abro em qualquer página, sei claramente se é o começo, o meio ou o fim. Quan- do abro uma página na Internet nem sempre tenho noção de onde estou.  Trecho de entrevista com Emilia Ferreiro para Nova Es- cola, publicada em junho de 2001, com o título O ato de ler evolui. 14 Produção Textual Com base no que você leu, podemos afirmar que ............ corresponde à ideia central texto. Assinale a al- ternativa correta. a) a Internet e o novo mercado de trabalho; b) o uso da Internet no contexto escolar; c) a Internet como fim para o livro; d) a Internet e um novo tipo de leitor; e) a Internet e a educação em perigo. 2 Ainda sobre as palavras de Emilia Ferreiro e de acordo com o que estudamos neste capítulo, é possível afirmar que se a) trata de um texto meramente informativo. b) trata de um texto argumentativo, não exigindo posicio- namento reflexivo por parte do leitor. c) trata de um texto argumentativo, exigindo posiciona- mento reflexivo por parte do leitor. d) trata de um texto extremamente técnico, exigindo posi- cionamento reflexivo por parte do leitor. e) trata de um texto extremamente técnico, não exigindo posicionamento reflexivo por parte do leitor. Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto 15 3 Leia as assertivas abaixo relativas ao ato de ler e marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Toda leitura funciona da mesma forma, independen- te de seu objetivo. ( ) Ler não é um ato de passividade, já que através da leitura recebemos conhecimento e informação. ( ) Ler nada mais é do que saber decifrar o código lin- guístico. ( ) Ler é um ato de interação com o texto, sendo o leitor também responsável por sua construção. ( ) Ler é um processo simples, mas que nos exige tempo. Assinale a alternativa correta. a) V, F, V, F, F. b) F, V, F, F, F. c) V, V, F, V, F. d) F, V, F, V, F. e) F, F, V, V, V. 4 Leias as afirmações abaixo. I A leitura não se esgota após seu término, prolongando-se para além do contato com o texto propriamente dito. II Ler um texto é um exercício de relações de saber. III Ler um texto é, também, ler seu contexto. 16 Produção Textual Agora marque a alternativa certa, apontando que a) somente a alternativa I está correta. b) somente as alternativa I e II estão corretas. c) somente a alternativa III está correta. d) somente as alternativa II e III estão corretas. e) todas as alternativas estão corretas. 5 A partir da leitura do trecho que segue, escolha a alterna- tiva que representa duas palavras-chave (conceitos) ade- quadas para o texto. Diferentemente da sociedade moderna anterior, que chamo de “modernidade sólida”, que também tratava sempre de des- montar a realidade herdada, a de agora não o faz com uma perspectiva de longa duração, com a intenção de torná-la me- lhor e novamente sólida. Tudo está agora sendo permanente- mente desmontado mas sem perspectiva de alguma perma- nência. Tudo é temporário. É por isso que sugeri a metáforada “liquidez” para caracterizar o estado da sociedade moder- na: como os líquidos, ela caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. Nossas instituições, quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades “auto- evidentes”. Sem dúvida a vida moderna foi desde o início “de- senraizadora”, “derretia os sólidos e profanava os sagrados”, como os jovens Marx e Engels notaram. Mas enquanto no pas- sado isso era feito para ser novamente “reenraizado”, agora todas as coisas – empregos, relacionamentos, know-hows etc. Capítulo 1 As Várias Possibilidades de Leitura de um Texto 17 – tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas, flexí- veis. A nossa é uma era, portanto, que se caracteriza não tanto por quebrar as rotinas e subverter as tradições, mas por evitar que padrões de conduta se congelem em rotinas e tradições. * Fragmento retirado de entrevista cedida pelo sociólogo Zygmunt Bauman à Maria Lúcia Garcia Pallares, In.: Tempo social, vol.16 no.1 São Paulo June 2004. a) “Sociedade moderna” e “Liquidez”; b) “Modernidade sólida” e “Instituição”; c) “Rotinas” e “Tradições”; d) “Marx” e “Engels”; e) “Estado” e “Modernidade”. Referências bibliográficas ABREU, Márcia. Diferentes formas de ler. Disponível em: http:// www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Marcia/marcia. htm. Acessado em: 14/03/2012. GARCEZ, Lucília H. do Carmo. Técnicas de redação: o que é preciso saber para escrever bem. São Paulo: Martins Fon- tes, 2002. VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. São Pau- lo: Martins Fontes, 2004. 18 Produção Textual Gabarito 1 d 2 c 3 d 4 e 5 a Túria Sibéli Dieckov Ruiz Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento de Segmentos do Texto ÂÂNo capítulo anterior, verificamos a importância da lei-tura para a aquisição do conhecimento, sendo o lei- tor um dos principais atores na construção do texto e de seu sentido. Da mesma forma que a leitura pode se tornar um processo mais produtivo através de alguns recursos, existem meios para tornar o ato de escrever mais efetivo. Escrever bem é necessário em qualquer profissão ou tare- fa. Nas palavras de Gabriel Perissé, 20 Produção Textual “Você, quando vai redigir uma carta, um e-mail, quan- do vai relatar sua experiência amorosa, suas memórias, quando vai explicar por escrito suas concepções políti- cas, filosóficas, religiosas e, claro, quando vai escrever um romance, contos, poemas, letras musicais, ensaios etc. – você precisa escrever bem.” (PERISSÉ, 2003, p. 16) Quem nunca teve dificuldades de colocar as ideias no pa- pel ou sentiu aquele pavor ao pegar uma folha em branco para iniciar um trabalho, uma monografia, uma reportagem sem saber como começar? Certamente, essa situação é mais corriqueira do que imaginamos. A escrita está presente em nosso dia a dia, desde um bilhete deixado na geladeira até a defesa de uma tese na conclusão de um curso. Escrever envolve inúmeros fatores. Não é apenas talento, mas o resultado de uma boa alfabetização, do incentivo re- cebido da escola e da família, da formação intelectual e, fun- damentalmente, do hábito da leitura e da própria prática da escrita. Manejar a língua escrita não é uma tarefa fácil, mas uma qualidade exigida e necessária a todos os profissionais e estudantes que dela usufruem ou tem-na como própria fer- ramenta de trabalho. A coesão e a coerência são recursos fundamentais que contribuem para uma escrita harmoniosa. Dando continuidade ao nosso estudo, abordaremos, nas pró- ximas páginas, esses dois recursos. Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 21 Coesão textual Você, com certeza, já deve ter lido algum texto e, ao final, ter feito a seguinte pergunta: “Mas o que o autor quis dizer com isso?”. Na verdade, é muito comum encontrarmos textos que não dizem “nada com nada”, confusos e desorganizados. Aqueles que aspiram ter uma escrita eficaz, clara e objetiva, não podem deixar de lado o estudo da coesão textual, um dos quesitos fundamentais para garantir a articulação e as rela- ções de sentido no interior do texto. Mas, o que é Coesão Textual? Segundo o dicionário Pri- beram¹, coesão é a qualidade de uma coisa em que todas as partes estão ligadas umas às outras, de forma harmoniosa. Nas palavras de Azeredo, A informação contida em um texto é distribuída e organi- zada em seu interior graças ao emprego de certos recur- sos léxicos e gramaticais. À articulação desses recursos, em benefício da expressão do sentido e de sua compre- ensão, dá-se o nome de coesão textual. (AZEREDO, 2010, p. 100) Devemos associar o conceito de Coesão Textual à ideia de união, conexão, encadeamento entre as partes de um texto. É essa contextura entre palavras, expressões, orações, períodos e parágrafos que garantirá a apresentação de um texto har- monioso, promovendo a qualidade textual. 22 Produção Textual Veja o trecho abaixo: Dicionário é “a listagem, geralmente em ordem alfabética das palavras e expressões de uma língua seus respectivos significa- dos”, o minidicionário Houaiss. A definição pode dar a impres- são tratar de algo com pouca utilidade em tempos de respostas instantâneas via Internet, o dicionário continua sendo de funda- mental importância pelo rigor de suas informações. O dicioná- rio deve ser apresentado já na alfabetização inicial às crianças – as crianças precisam entender o dicionário vai acompanhá-las durante toda a vida. Confuso não é mesmo? Isso porque as partes do texto não estão “ligadas” de forma coesa, além disso, a repetição de termos prejudica a clareza das informações. Vamos, agora, verificar o texto original. Dicionário é “a listagem geralmente em ordem alfabética das palavras e expressões de uma língua com seus respectivos sig- nificados”, segundo o minidicionário Houaiss. A definição pode dar a impressão de que trata de algo com pouca utilidade em tempos de respostas instantâneas via Internet, mas esse tipo de livro continua sendo de fundamental importância pelo rigor de suas informações. Diante disso, ele deve ser apresentado já na alfabetização inicial às crianças – elas precisam entender que dicionário vai acompanhá-las durante toda a vida. Revista Nova Escola, disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/funda- mental-1/contatos-iniciais-amigo-dicionario-678509.shtml Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 23 Observe que os elementos em destaque permitiram esta- belecer a coesão dentro do texto. As informações que estavam distribuídas de forma caótica, agora estão organizadas, inter- ligadas entre si. Portanto, o texto é muito mais do que uma sequência de frases isoladas. Pelo contrário, é necessário que as frases que o compõem estejam unidas de forma a contribuir para a clareza e a progressão do texto. Neste quesito, é a co- esão textual que garantirá que a mensagem transmitida pelo emissor seja compreendida pelo receptor. É através do emprego adequado de artigos, de pronomes, de certos advérbios e de expressões adverbiais, de conjunções e de numerais que garantiremos e estabeleceremos a coesão dentro dos textos. Essas classes de palavras estão distribuídas em pelo menos dois tipos de mecanismos de coesão que podem se estabelecer em um texto: o encadeamento de segmentos do texto pelo uso de articuladores e a retomada ou antecipação de termos ou frases através do uso de anáforas, catáforas e repetições (sinônimos, hipônimos e hiperônimos). Neste capítulo, aprofundaremos o estudo da coesão atra- vés das relações estabelecidas pelos articuladores em suas mais variadas circunstâncias. No Capítulo 3, aprofundaremos as questões referentes ao estudo da coesão através do uso de anáforas, catáforas e repetições. O uso de articuladoresNomeiam-se articuladores as palavras que ligam ideias den- tro do texto, que garantem a coesão textual. São também co- nhecidos como conjunções, nexos ou conetivos. 24 Produção Textual Vejamos o texto abaixo: Está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): as escolas têm a obrigação de se articular com as famílias e os pais têm direito a ter ciência do processo pedagógico, bem como de participar da definição das propostas educacionais. Porém nem sempre esse princípio é considerado quando se forma o vínculo entre diretores, professores e coordenadores pedagógicos e a família dos alunos. O relacionamento chega a ser ambíguo. Muitos gestores e docentes, embora no discurso reclamem da falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos – com alguns até atribuindo a isso o baixo desempenho deles – não se mos- tram nada confortáveis quando algum membro da comunidade mais crítico cobra qualidade no ensino ou questiona alguma rotina da escola. Alguns diretores percebem essa atitude inclu- sive como uma intromissão e uma tentativa de comprometer a autoridade deles. Já a maioria dos pais, por sua vez, não participa mesmo. Alguns por não conhecer seus direitos. Outros porque não sabem como. E ainda há os que até tentaram, mas se isolaram, pois nas poucas experiências de aproximação não foram bem acolhidos e se retraíram. Revista Nova Escola, disponível em http://revistaescola.abril.com.br/gestao- -escolar/diretor/escola-familia-493363.shtml Cada um dos elementos destacados no texto estabelece relações de significado entre as orações e os períodos. Por- tanto, as palavras e, bem como, porém, quando, embora, ou, porque, mas e pois são exemplos de articuladores. É importante destacar que cada um desses articuladores, além de encadear as partes do texto, estabelece entre elas Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 25 uma relação semântica, ou seja, através do articulador utili- zado determinamos qual o sentido construído entre as partes do texto. Vejamos o exemplo: a) Estudei muito para a prova. b) Não obtive um resultado satisfatório. Para ligar as orações a) e b) é necessário utilizarmos um articulador. Ao selecioná-lo, devemos observar que relação semântica queremos estabelecer entre essas duas partes, ve- jamos: Estudei muito para a prova, mas não obtive um resultado satisfatório. O articulador selecionado aqui foi o mas que estabele- ce um sentido de oposição entre as ideias apresentadas nas orações. Ou seja, o esperado por estudar muito seria que se obtivesse um bom resultado, no entanto, a segunda oração, introduzida pelo articulador de oposição mas, opõe-se a essa afirmação. Poderíamos, ainda, usar as expressões todavia, no entanto, contudo etc., pois possuem o mesmo valor semânti- co que o conetivo mas. Caso fosse selecionado o articulador inapropriado, a coe- são seria prejudicada. Veja: Estudei muito para a prova, assim não obtive um resultado satisfatório. 26 Produção Textual Nesse exemplo, o uso do articulador não condiz com o valor semântico que se deseja dar ao período, isso porque o termo assim estabelece uma relação de conclusão e não de oposição. O encadeamento das ideias no texto é construído pela se- leção consciente e adequada dos articuladores. O uso desses conetivos textuais não é realizado de forma aleatória, mas, sim, criteriosamente. Ao escrever um texto, devemos ter defi- nido o sentido que desejamos transmitir e, assim, selecionar os articuladores que estabelecerão a correta conexão entre as palavras, orações, períodos e parágrafos. A quantidade de articuladores à disposição para uso na Língua Portuguesa é extensa. A partir de agora, listaremos al- gumas das possibilidades de aplicação desses conetivos e as relações de sentido que eles podem estabelecer: a) Articuladores que estabelecem uma relação de ADI- ÇÃO. Definição: indicam a progressão do texto, acrescentando um dado novo ao discurso. Articuladores: e, também, ainda, nem, não só, mas também, além de, além disso etc. Exemplo: Além de cuidar da soneca das crianças durante o período escolar, é também função da equipe compartilhar o que sabe com os pais e responsáveis. b) Articuladores que estabelecem uma relação de DISJUNÇÃO ou ALTERNÂNCIA. Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 27 Definição: é a relação que articula conteúdos alternativos. Articuladores: ou, ou...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja etc. Exemplo: Ou você muda de atitude, ou não haverá solução para seu caso. c) Articuladores que estabelecem uma relação de OPO- SIÇÃO. Definição: é expressa através de proposições cujos conteúdos se opõem. Articuladores: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, en- tretanto, embora, ainda que, apesar de, mesmo que, se bem que, conquanto, não obstante etc. Exemplo: Estava cansado, mas não dormia de jeito nenhum. d) Articuladores que estabelecem uma relação de CAU- SALIDADE. Definição: é a relação entre dois enunciados, um dos quais é a causa que acarreta uma determinada consequência. Articuladores: porque, pois, já que, visto que, uma vez que, devido a, como, por etc. Exemplo: A música contribui para um desenvolvimento pleno e harmônico, já que incide diretamente na sensibilidade. e) Articuladores que estabelecem uma relação de COM- PARAÇÃO. 28 Produção Textual Definição: estabelece-se uma comparação em termos de igualdade, superioridade ou inferioridade. Articuladores: como, assim como, tal qual, tanto quanto, mais que, menos que etc. Exemplo: Ele é inteligente, tanto quanto seu irmão. f) Articuladores que estabelecem uma relação de CON- DIÇÃO. Definição: é expressa pela combinação de duas proposições, uma das quais é a condição para que a outra seja verdadeira. Articuladores: se, caso, desde que, contanto que, quando etc. Exemplo: Se chover hoje à noite, você não terá minha presen- ça no evento. g) Articuladores que estabelecem uma relação de FINA- LIDADE. Definição: uma das orações explicita o meio para atingir de- terminado fim expresso na outra. Articuladores: para, para que, a fim de, com o objetivo, com o intuito etc. Exemplo: O sono é importante para que a aprendizagem seja eficiente. h) Articuladores que estabelecem uma relação de CON- FORMIDADE. Definição: expressa a conformidade do conteúdo de uma das proposições em relação ao que é afirmado na outra. Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 29 Articuladores: conforme, segundo, de acordo com, consoan- te, como etc. Exemplo: De acordo com o Censo Demográfico 2010, 96,7% das crianças e dos adolescentes entre 6 e 14 anos estão ma- triculados em escolas, mas somente 50% deles concluem a Educação Básica. i) Articuladores que estabelecem uma relação de TEM- PORALIDADE. Definição: é a relação por meio da qual se localizam no tem- po as ações. Articuladores: quando, logo, enquanto, no momento que, as- sim que etc. Exemplo: Quando uma criança adormece, é porque está re- almente precisando de repouso. j) Articuladores que estabelecem uma relação de CON- CLUSÃO. Definição: quando um enunciado (B) estabelece uma conclu- são em relação a algo dito em um enunciado anterior (A). Articuladores: portanto, logo, então, assim, pois, por conse- guinte, dessa forma, por isso etc. Exemplo: O pensamento é simultâneo ao movimento, por- tanto, quanto mais o professor incentivar o movimento da criança, maior será o aprendizado de cada uma. 30 Produção Textual Importante! Alguns articuladores podem estabelecer mais de um tipo de relação semântica, dependendo do contexto no qual estão in- seridos. Vejamos, por exemplo, o caso dos conetivos e e como  Uso do conetivo E: Exemplo 1: O candidato preenchia todos osrequisitos exigi- dos, e não foi aprovado. Nesse caso, o conetivo está estabelecendo uma relação de oposição (O candidato preenchia todos os requisitos exigidos, mas não foi aprovado). Exemplo 2: Estava cansado, tomou o seu café e dormiu. Nesse caso, o conetivo está estabelecendo uma relação de adição.  Uso do conetivo COMO: Exemplo 1: Era tão linda como a mãe. Nesse caso, o conetivo está estabelecendo uma relação de comparação. Exemplo 2: Como havíamos combinado, não sairemos ama- nhã. Nesse caso, o conetivo está estabelecendo uma relação de conformidade (Conforme havíamos combinado, não saire- mos amanhã). Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 31 Exemplo 3: Como ele se atrasou, perdeu a vaga para o con- curso. Nesse caso, o conetivo está estabelecendo uma relação de causalidade (Porque ele se atrasou, perdeu a vaga para o trabalho). Como se pôde observar, a relação de sentido estabelecida pelos articuladores depende do contexto no qual estão inseri- dos. Assim, ao analisá-los, devemos sempre observar sua apli- cação no texto. Vamos examinar, agora, mais um texto, observando como os articuladores são apresentados e quais as relações de sen- tido que eles determinam. O que ler As histórias de ficção (como os contos de fadas) são as que mais encantam as crianças, mas é importante oferecer a elas diversas obras para que criem um repertório amplo. Como explica Re- nata, “os livros são um ótimo caminho para ampliar o universo cultural dos pequenos porque permitem entrar em contato com situações desconhecidas”. Virgínia, em seu texto sobre a leitu- ra na Educação Infantil, dá outra dica preciosa: “Preocupe-se com a qualidade literária, e não com o conteúdo moral”. Isso não quer dizer que você pode escolher histórias amorais, mas que uma história bem escrita tem mais chances de prender a atenção de todos. Por isso, fique sempre com os textos que têm descrições ricas, misturem mistério e comédia e estimulem a imaginação, criando uma aventura interessante. Revista Nova Escola, disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/edu- cacao-infantil/4-a-6-anos/literatura-educacao-infantil-comecar-muitos-li- vros-584120.shtml?page=1 32 Produção Textual Análise dos articuladores em destaque no texto:  mas: articulador que expressa OPOSIÇÃO;  como: articulador que estabelece CONFORMIDADE;  para: articulador de finalidade;  porque: articulador que estabelece CAUSALIDADE;  e: articulador que estabelece ADIÇÃO;  mas: articulador que expressa OPOSIÇÃO;  por isso: articulador que expressa CONCLUSÃO. Ao final deste capítulo, esperamos que você, prezado alu- no, mais do que fazer classificações mecânicas do uso dos articuladores, consiga usá-los de forma consciente em suas produções textuais. São os articuladores bem empregados que o auxiliarão no processo argumentativo do texto, na clareza da exposição das ideias e na continuidade temática. Gabriel Pe- rissé (PERISSÉ, 2003, p. 3) afirma que é o próprio escritor que vê o nascimento do texto, é ele quem aprecia os seus primeiros passos e quem pode avaliar a sua força e beleza. Convidamos você, caro aluno, a realizar este exercício: ser o primeiro leitor do seu próprio texto! Um leitor crítico, que identifique as fa- lhas, utilize corretamente os recursos linguísticos e aprecie as frases bem escritas! Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 33 Recapitulando Neste capítulo, vimos que a coesão textual é o que garantirá a disposição harmoniosa entre palavras, expressões, orações, períodos e parágrafos dentro do texto. Essa harmonia é esta- belecida por mecanismos de coesão textual, entre eles, o en- cadeamento de segmentos do texto pelo uso de articuladores. Esses articuladores garantem a organização e a progressão do texto, estabelecendo relações de sentido entre suas partes. Atividades 1. Observe as tirinhas abaixo e depois responda à questão. A) B) : Fonte tirinha A: http://2.bp.blogspot.com/KlVJ0xRVcqo/TbVti- sU1AFI/AAAAAAAAAEs/IjWpRHtg8dU/s1600/shapeimage_1. png 34 Produção Textual Fonte tirinha B: http://4.bp.blogspot.com/_ukWiWpvFUIU/ TMogWoEEEDI/AAAAAAAAAAk/Am_oV5ecqeo/s1600/ mafaldamaquina+clube+da+mafalda.jpg Indique V para Verdadeiro e F para Falso, depois, marque a alternativa que indica a sequência correta das respotas. ( ) Tanto na tirinha A quanto na tirinha B há um articulador que expressa temporalidade. ( ) O articulador “se” expressa conformidade na tirinha A. ( ) Na tirinha B o articulador “como” estabelece o sentido de comparação. ( ) O articulador “portanto” na tirinha B estabelece o sentido de conclusão. ( ) Em uma das tirinhas há um articulador que estabelece sen- tido de alternância. a) V – V – V – F – F b) V – F- V – V – V c) V- F – V – V – F d) F- F – V – V – F e) F- V – V – V – F 2. Marque a alternativa que possui um articulador de finali- dade. a) A divulgação dos resultados de testes internacionais de aprendizagem no Brasil costuma provocar tristeza, pois ocupamos as últimas posições do ranking. Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 35 b) Para apontar saídas para a crise na educação, foram contratados 17 especialistas de diversas áreas da Edu- cação. c) Quando o planejamento é definido sem unir teoria e prática, os resultados não aparecem na aprendizagem dos estudantes. d) Em grande parte das escolas brasileiras há um coorde- nador pedagógico para cada instituição, mas isso não garante que os problemas da educação sejam resolvi- dos. e) Como em qualquer atividade profissional, muitos são os motivos que levam um professor a se ausentar do trabalho. 3. Qual das alternativas preenche adequadamente as lacu- nas das orações abaixo? Observe as relações de sentido destacados nos parênteses. a) Gabriela saiu de casa, ___________ esqueceu de le- var o material. (articulador que expressa sentido de oposição). b) _____________ a qualidade do ensino não melhorar, precisamos continuar na batalha. (articulador que ex- pressa sentido de tempo). c) __________ se certificar do sucesso da empreitada, inúmeras estratégias são válidas. (articulador que ex- pressa sentido de finalidade). 36 Produção Textual d) Ela sabe disso ______________ a professora. (articula- dor que expressa sentido de comparação). a) a – entretanto; b – porém; c – quando; d – mais que. b) a – no entanto; b – assim que; c – afim de; d – mas. c) a – enquanto; b – caso; c – para; d – tanto quanto. d) a – todavia; b – enquanto; c – quando; d – para. e) a – mas; b – enquanto; c – para; d – tanto quanto. 4. Leia atentamente o trecho abaixo e depois responda à questão. Embora tenha sido preso diversas vezes antes, Mandela já cumpria pena desde 1963 quando recebeu a sentença de prisão perpétua. Porém, com o passar dos anos, o mundo passou a se importar mais com a inad- missível situação da África do Sul, que começou a receber sanções eco- nômicas como forma de pressão para acabar com o apartheid. Em 1990, com o regime já enfraquecido, Mandela foi solto, depois de 27 anos no cárcere (...) O filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood (...) tem como foco a história de Mandela (interpretado por Morgan Freeman) logo que ele as- sume a presidência. (...) (Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/historia/ pratica-pedagogica/foi-apartheid-africa-sul-533369.shtml) É correto afirmar que o trecho acima apresenta a) dois articuladores de oposição; dois articuladores de tempo; um articulador de finalidade. b) quatro articuladores de oposição; um articulador de tempo; um articulador de finalidade; nenhum articula- dores de adição. Capítulo 2 Coesão Textual por Encadeamento... 37 c) um articuladorde oposição; dois articuladores de tem- po; um articulador de finalidade; um articulador de adição. d) dois articuladores de oposição; dois articuladores de tempo; nenhum articulador de finalidade; um articula- dor de adição. e) dois articuladores de oposição; nenhum articulador de tempo; um articulador de finalidade; um articulador de adição. 5. Em qual das alternativas o articulador mas tem sentido de adição e não de oposição? a) No Brasil, a escravidão foi abolida, mas mantivemos o estigma da cor. b) Muitos negam já ter presenciado situações de discrimi- nação no ambiente escolar, mas todos são unânimes em afirmar que existe racismo no Brasil. c) Nem sempre o Brasil teve as diferentes etnias represen- tadas nos currículos escolares do País, mas a situação mudou através da criação de leis especificas a esse respeito. d) Lutar contra o preconceito não é uma responsabilida- de só de quem é discriminado, mas sim uma decisão que precisa ser abraçada por todos. e) Leis que incentivem o combate ao preconceito racial são importantes, mas é fundamental que as mudanças 38 Produção Textual da forma de ensinar partam do engajamento e com- prometimento pessoal dos professores. Referências bibliográficas Dicionário Priberam, disponível em http://www.priberam.pt/ dlpo/default.aspx?pal=coes%C3%A3o, consulta realizada em 21/02/2012 AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Por- tuguesa. 3ª ed. – São Paulo: Publifolha, 2010. PERISSÉ, Gabriel. A arte da Palavra: como criar um estilo pes- soal na comunicação escrita. São Paulo: Manole, 2003. Gabarito 1) c 2) b 3) e 4) a dois articuladores de oposição: embora e porém; dois arti- culadores de tempo: quando e logo que; um articulador de finalidade: para 5) d Túria Sibéli Dieckov Ruiz Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação de Termos ÂÂNo capítulo anterior, estudamos a relação de senti-do que podemos estabelecer no texto ao fazermos uso dos articuladores. Além desse recurso, há também a possibilidade de retomarmos termos dentro do texto sem repeti-los. É o que veremos neste capítulo, analisando a coesão através do uso de anáforas, catáforas, sinôni- mos, hipônimos e hiperônimos. 40 Produção Textual Coesão textual por retomada de termos Quando dizemos que podemos manter a coesão de um texto através da retomada de termos, estamos nos referindo à pos- sibilidade de retomarmos termos dentro do mesmo texto sem precisar repeti-los. Vejamos o exemplo: Exemplo: O dentista Francisco Borges pediu que João Araújo entrasse em seu consultório. O dentista examinou João Araújo. O dentista alertou João Araújo que precisava cuidar mais dos dentes. Quantas vezes o termo dentista se repetiu? Quantas vezes o nome de João Araújo apareceu? Qual a impressão que você teve ao ler o exemplo? A coesão textual por retomada de termos tem como obje- tivo fazer com que o texto não se torne prolixo, eliminando as repetições exaustivas de termos. Vejamos a reformulação do exemplo dado acima. Exemplo: O dentista Francisco Borges pediu que João Araújo entrasse em seu consultório. O doutor examinou o paciente e o alertou que precisava cuidar mais dos seus dentes. Observou a diferença? Não há mais a repetição exaustiva de palavras. Através da substituição dos termos, proporciona- Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 41 mos maior clareza e harmonia ao texto. Observe que o termo doutor refere-se ao dentista Francisco Borges e os termos o, paciente, e seu referem-se a João Araújo. Esse tipo de coesão é também conhecido como Coesão Referencial. Nas palavras de Ingedore (KOCH, Ingedore Villa- ça. A coesão Textual. Editora Contexto, São Paulo, SP, 2010, pg. 31), Coesão Referencial é “aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo textual.” Ou seja, a coesão referencial é estabelecida quando uma palavra ou expressão é retomada por outro elemento dentro do próprio texto. Vamos ver como isso acontece em outro exemplo. Que instrumentos podem ser utilizados na iniciação musical de crianças a partir dos 6 anos? 1 O primeiro e fundamental instrumento a ser usado na iniciação musical com 2 crianças é a própria voz. A experiência de cantar permite que elas desenvolvam 3 a percepção dos sons e de rit- mo, ampliem o repertório e fiquem mais afinadas. 4 O professor deve fazer uma seleção interessante, com cantigas de roda e 5 canções do repertório infantil e da música popular. O importante é oferecer o 6 que os pequenos ainda não conheçam para que a atividade seja estimulante. 7 Nessa fase, o uso de instrumentos de percussão também é importante, como o 8 triângulo, o pandeiro, o reco-reco, o chocalho e o coquinho. Com eles, ela fixa 9 no- ções de ritmo e aprende sobre intensidade e timbre, entre outros parâmetros 10 sonoros. O professor também pode levar a turma para apresentações musicais 11 variadas, uma iniciativa capaz de motivar o aluno a escolher um instrumento 12 para estudá-lo. Revista Escola, disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica- -pedagogica/instrumentos-podem-ser-utilizados-iniciacao-musical-criancas- -partir-6-anos-558689.shtml 42 Produção Textual Cada elemento destacado no texto retoma/refere-se à ou- tra palavra ou expressão que já foi ou que será apresentada no texto. Vamos à análise: Linha 2: elas= refere-se à palavra “crianças” (linha 2); Linha 6: os pequenos = refere-se à palavra “elas” (linha 2); Linha 6: a atividade = refere-se à expressão “iniciação mu- sical” (linha 1); Linha 8: eles = refere-se à palavra “instrumentos de per- cussão” (linha 7); Linha 8: ela = refere-se à palavra “turma” (linha 10); Linha 11: iniciativa = refere-se à expressão “levar a turma para apresentações musicais variadas” (linhas 10 e 11); Linha 12: -lo = refere-se à palavra “instrumento” (linha 11). Essa referência pode ser feita tanto para “frente” quanto para “trás”, construindo uma anáfora ou uma catáfora. Ou seja, nomeiam-se anáforas as palavras que, dentro do texto, retomam elementos textuais já mencionados, sem repeti-los. Já quando as palavras se referem a um elemento que ainda será mencionado no texto, nomeiam-se catáforas. Vamos ver como isso se articula nos exemplos. a) A solução é esta, que todos sejam dispensados. A palavra esta se refere a algo que será dito no texto posteriormente: “que todos sejam dispensados”. Por- tanto, é uma catáfora. Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 43 b) O médico atendeu a paciente, ele disse que o seu estado é grave. Nesse exemplo, tanto o termo ele quanto a palavra seu referem-se a termos já mencionados anteriormente, ou seja, configuram-se como anáforas. Ele refere-se à palavra médico e seu refere-se à palavra paciente. c) Dilma sanciona lei que cria nova aposentadoria para servidores. A presidente falou sobre o novo modelo com a imprensa. Nesse exemplo, a expressão “A presidente” refere-se a outro termo já mencionado anteriormente, sendo, portanto, uma anáfora da palavra Dilma. As anáforas e as catáforas podem pertencer a classes gra- maticais como pronomes, verbos, numerais e advérbios ou ser apenas um sinônimo do referente. Podemos, portanto, dividir esses mecanismos de coesão em, pelo menos, duas classes: 1ª coesão por retomada através de uma palavra gramatical (uso de pronome, verbo, numeral, advérbio), ou 2ª coesão por retomada através do uso de palavras lexicais (retomada de um termo por meio da sua substituição por um sinônimo ou expressão correspondente e uso de Hipe- rônimos e Hipônimos). 44 Produção Textual Voltemos aos exemplos anteriores. a) Em “A solução é esta,que todos sejam dispensa- dos”, a coesão acontece por retomada através de uma palavra gramatical. O pronome demonstrativo “esta” está retomando a expressão sublinhada. b) Em “O médico atendeu a paciente, ele disse que o seu estado é grave”, a coesão acontece por re- tomada através de palavras gramaticais. O pronome pessoal do caso reto “ele” retoma a palavra “médico” e o pronome possessivo “seu” retoma a palavra “pa- ciente”. c) Em “Dilma sanciona lei que cria nova aposenta- doria para servidores. A presidente falou sobre o novo modelo com a imprensa”, a coesão acontece por retomada através de palavras lexicais. A expres- são “A presidente” tem sentido correspondente ao termo que se refere e é utilizada para substituir a pa- lavra Dilma. Vamos analisar com mais detalhes como a coesão por re- tomada através de uma palavra lexical pode acontecer. 1º Uso de sinônimo ou expressão correspondente. Conforme vimos no exemplo anterior, a retomada através de palavras sinônimas ou expressões correspondentes auxilia na garantia da coesão textual. Afinal, ao substituir uma palavra Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 45 por outra sinônima, podemos nos referir ao mesmo termo di- versas vezes dentro do mesmo texto sem repeti-lo. Vejamos o exemplo. Exemplo: Juliana Roberts atendeu Pedro às 14h. A doutora teve, primeira- mente, uma longa conversa com a mãe do garoto. Contou que a participação da família seria essencial no processo de recupe- ração do trauma que o paciente sofreu. A psicóloga alertou que a presença dos pais nas consultas ajudaria no desenvolvimento físico e cognitivo do paciente. Observe que há duas personagens que seguidamente são retomadas no texto. A primeira é Juliana Roberts e a segunda personagem é Pedro. Todos os termos que a eles se referem são palavras sinônimas ou expressões correspondentes. Veja- mos: O uso de palavras sinônimas garante a não repetição dos mesmos termos dentro do texto, evitando que ele se torne can- sativo. 46 Produção Textual 2º Uso de Hipônimos e Hiperônimos Vejamos primeiramente a definição de Hipônimos e Hiperônimos. Definições segundo o Dicionário Priberam: Hipônimo: [Linguística] Diz-se de ou palavra que, em relação à outra com significado mais geral ou abrangente, tem um signi- ficado mais específico (ex.: rosa e gladíolo são hipônimos.hipôni- mos de flor) Hiperônimo: Diz-se de ou palavra que, em relação à outra ou outras com significado mais específico, tem um significado mais geral ou abrangente (ex.: flor é hiperônimo.hiperônimo de rosa e gladíolo). Ou seja, palavras Hipônimas são aquelas que se rela- cionam pelo sentido dentro de um conjunto, ligando-se por afinidades, características de certo grupo. Já as palavras Hi- perônimas são aquelas que nomeiam, incluem os hipônimos. Vejamos alguns exemplos. Hipônimos Hiperônimos batata, cenoura, chuchu, beterraba etc. legumes abacaxi, mamão, melancia, ameixa, banana etc. frutas catapora, meningite, conjuntivite etc. doenças azul, amarelo, verde, vermelho, roxo etc. cores cachorro, gato, tubarão, macaco, borboleta etc. animais cachorro, gato, baleia, macaco etc. mamíferos Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 47 E como podemos fazer uso desse recurso para garantir a coesão dentro do texto? É o que vamos ver agora, observe. A importância do lúdico no desenvolvimento da criança. O brinquedo é oportunidade de desenvolvimento. Brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere ha- bilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção. (...) Um bichinho de pelúcia pode ser um bom companheiro. Uma bola é um convite ao exercício motor, um quebra – cabeças desafia a in- teligência e um colar faz a menina sentir-se bonita e importante como a mamãe. Enfim, todos são como amigos, servindo de intermediários para que a criança consiga integrar-se melhor. Maria do Rosário Silva Souza, disponível em: http://www.saudevidaonline. com.br/artigo68.htm Nesse texto, há a presença de um hiperônimo (brinquedo) que determina uma classe de objetos e de quatro hipônimos (bichinho de pelúcia, bola, quebra-cabeças e colar) que estão inseridos na categoria “brinquedo” e partilham de determina- das características que os inclui, mesmo sendo objetos diferen- tes, na mesma classe. Na prática Para encerrarmos este capítulo, faremos uma análise parcial de um texto para você ter como modelo. Nessa análise, des- tacaremos os principais elementos coesivos, indicando tanto 48 Produção Textual os articuladores, vistos no Capítulo 1, quanto as anáforas e catáforas estudadas no Capítulo 2. Além dos elementos indi- cados, procure outros que estão presentes e dê continuidade à análise. Autoridade autoritária Ao entrar em sala após o intervalo, para dar aula no 8º ano, o professor depara-se com brincadeiras comuns entre os adolescentes. Alguns imitam os outros e remedam gestos e falas. Borrachinhas e papéis voam na busca de alvos móveis que tentam se defender com cadernos e livros. Outros três jogam uma bolsa para lá e para cá, entre eles, enquanto uma garota tenta pegá- -la, pedindo em vão para que a devolvam e parem com aquela “brincadeira idiota”. Assim, entre risadas e protestos, o professor dá um grito exigindo que parem, manda devolver a bolsa para a aluna, ameaça colocar um ou dois para fora da sala e rapidamente os estudantes se sentam e fazem silêncio. Pouco depois, no decorrer da explicação, um celular toca e o professor ordena que o aparelho seja entregue. O dono diz que tinha se esquecido de acionar o modo silencioso, que “foi mal” e que não iria entregá-lo. O professor insiste, dizendo que eram as regras da escola, ameaçando enviar um bilhete aos pais e encaminhar o garoto à direção. O aluno responde que ele não tem esse di- reito e, exaltado, insulta-o. Diante disso o professor expulsa o garoto da sala, que se retira dizendo um palavrão entre os dentes. Disfarçadamente, alguns colegas conferem se os celulares estão devidamente silenciados. Estudos indicam que os professores empregam quase 1/3 do tempo de aula administrando conflitos interpessoais. Em uma pesquisa, acompanhamos inú- meras escolas visando compreender quais eram as concepções sobre essas situações e, em decorrência delas, quais intervenções eram feitas. A maioria dos educadores consultados concebe os conflitos como negativos e danosos ao bom andamento das relações, sentindo-se inseguro, angustiado ou irritado quando se depara com casos de furto, dano ao patrimônio, agressão... E os esforços são empregados em três direções. A primeira é evitar os conflitos. Para isso, elaboram-se regras e mais regras. (...). Dessa maneira, a escola promove a regulação exterior e esquiva-se da responsabilidade educativa, de formar os futuros cidadãos de nossa socieda- de... Por certo, onde precisamos de controle, de vigilância, significa que não há Educação. Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 49 Análise dos principais elementos coesivos do texto “autoridade autoritária” a) Articuladores e as relações de sentido que estabele- cem no texto  Para: articulador que estabelece uma relação de condi- ção.  Enquanto: articulador que estabelece uma relação de temporalidade.  Diante disso: articulador que estabelece uma relação de conclusão. A segunda direção é a contenção. Desse modo, os educadores “terceirizam” o problema transferindo-o para o diretor ou o orientador, para a família, para os especialistas; procuram soluções prontas; utilizam punições e censuras vexató- rias; incentivam a delação; culpabilizam; admoestam; associam a obediência à regra ao temor da autoridade, aomedo da punição, da censura e da perda do afeto. Esses mecanismos de controle – utilizados cotidianamente na es- cola – funcionam temporariamente. Mas, além de reforçar a heteronomia, agravam o problema. Uma terceira direção é ignorar os conflitos quando eles ocorrem entre os alunos, como aquelas presenciadas pelo professor, na descrição do início des- te artigo. Várias pesquisas têm mostrado que a escola considera mais grave o embate com a autoridade, ou seja, quando se trata de indisciplina. Se a transgressão não atinge o professor, é vista como brincadeira da idade ou desavença de menor importância. Não nos surpreende quando encontramos essa mesma crença entre jovens de diferentes idades, que consideram pior desrespeitar um professor do que um colega. Como se vê, o problema não é o desrespeito a uma pessoa (qualquer que seja) e sim à determinada pessoa. Longe de pensar nos princípios das suas ações morais, tais alunos e educado- res parecem acreditar que a regra existe em função de uma autoridade. Trecho extraído do texto “Autoridade Autoritária” de Telma Pileggi Vinha, disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/autoridade-autorita- ria-504466.shtml 50 Produção Textual  Por certo: articulador que estabelece uma relação de conclusão.  Mas: articulador que estabelece uma relação de oposi- ção.  Além de: articulador que estabelece uma relação de adição.  Quando: articulador que estabelece uma relação de temporalidade.  Se (linha 35): articulador que estabelece uma relação de condição. b) Anáforas e Catáforas e os mecanismos de coesão pe- los quais são utilizados  Alguns e os outros: anáforas que retomam “os adoles- centes” (linha 2). Coesão por retomada através do uso de palavras gramaticais: alguns e outros são pronomes indefinidos.  Eles: anafórico que retoma “três” (linha 4). Coesão por retomada através do uso de palavra gramatical: eles é pronome pessoal.  -la: anafórico que retoma a palavra “bolsa” (linha 4). Coesão por retomada através do uso de palavra grama- tical: -la é pronome pessoal.  Aluna: anafórico que retoma a palavra “garota” (linha 4). Coesão por retomada através do uso de palavra le- Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 51 xical (substituição lexical), aluna é uma substituição de garota.  Aparelho: anafórico que retoma a palavra “celular” (li- nha 9). Coesão por retomada através do uso de palavra lexical (relação de hiponímia e hiperonímia), celular é hipônimo de aparelho.  Ele: anafórico que retoma a palavra “aluno” (linha 12). Coesão por retomada através do uso de palavra grama- tical: ele é pronome pessoal.  Educadores: anafórico que retoma a palavra “professo- res” (linha 12). Coesão por retomada através do uso de palavra lexical (substituição por sinônimo), educadores é sinônimo de professores.  Esses mecanismos de controle: expressão anafórica que retoma “ utilizam punições e censuras vexatórias; incen- tivam a delação; culpabilizam; admoestam; associam a obediência à regra ao temor da autoridade, ao medo da punição, da censura e da perda do afeto”. Coesão por retomada através do uso de palavra lexical (substituição por expressão correspondente), “esses mecanismo de controle” é uma expressão de sentido equivalente para a lista apresentada de atitudes de controle exercidas pelos professores.  Que: anafórico que retoma a palavra “jovens” (linha 37). Coesão por retomada através do uso de palavra gramatical: que é pronome relativo. 52 Produção Textual Ao final deste capítulo, é importante que você, caro alu- no, observe de que forma o uso dos elementos coesivos pode ajudá-lo na construção de uma redação. Como mencionado no Capítulo 2, a escrita nos rodeia dia a dia, e, certamente, você faz uso dela com frequência. Como acadêmico, você deverá se preocupar em desenvolver essa habilidade. Nesses dois capítulos inicias, analisamos uma série de fatores que o auxiliarão na construção de textos, por isso, ao escrever, procure colocar em prática o uso desses elementos e seja o primeiro leitor do seu próprio texto, analisando de que forma você distribuiu os articuladores e como os referentes estão ou não presentes em sua produção. Recapitulando Neste capítulo estudamos a Coesão Referencial, um segundo mecanismo que pode garantir a coesão textual entre palavras, expressões, orações, períodos e parágrafos dentro do texto. O uso de anáforas, catáforas e repetições através da presen- ça de sinônimos, hipônimos e hiperônimos também garante a organização e a progressão do texto, evitando que o texto se torne prolixo pela repetição exaustiva dos termos. Encerramos o capítulo fazendo uma análise parcial de um texto, unindo os conteúdos estudados neste capítulo e no anterior. Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 53 Atividades 1. Observe a tirinha abaixo e depois responda: http://clientes.interconect.com.br/pontes/photo/CharlesBrown_AD1C/ minduim_thumb.jpg Indique V para Verdadeiro e F para Falso e depois marque a alternativa que indique a sequência correta das respostas. ( ) “Elas”, no segundo quadrinho, retoma “pessoas” do pri- meiro quadrinho. ( ) “Isso”, no quarto quadrinho, retoma “pessoas nos carros” do primeiro quadrinho. ( ) “Isso”, no quarto quadrinho, é uma anáfora do trecho “tem de ir trabalhar até o fim da vida delas”. a) V, F, V. b) V, F, F. c) V, V, V. d) F, V, V. e) V, V, F. 54 Produção Textual Observe o texto abaixo e, em seguida, responda às ques- tões 2 e 3. Viagens supersônicas a planetas distantes. Lutas com gorilas. Bebês que sobem sozinhos no lustre. Cenas como essas só acontecem em filmes, livros e desenhos animados – ou na fala de uma criança pequena que conta sobre sua vida. Ficção e re- lato de experiências vividas são gêneros diferentes, mas, nos pri- meiros anos de vida, é comum que se combinem nas narrativas infantis, como apontou a linguista Maria Cecília Perroni no livro Desenvolvimento do Discurso Narrativo. Segundo ela, no entan- to, esse recurso não deve ser entendido como um problema de falta de clareza entre o real e o imaginado. Ao contrário: é pre- ciso encará-lo como um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos pequenos. O que se testemunha nesse tipo de construção é justamente o nascimento do discurso narrativo – uma das principais estruturas de expres- são de qualquer pessoa e uma essencial troca comunicativa. Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/0- -a-3-anos/tem-monstro-meio-historia-489258.shtml 2. No trecho “Ao contrário: é preciso encará-lo como um dos elementos mais importantes...” (linha 8), o ele- mento sublinhado retoma que termo do texto? a) “Bebês que sobem sozinhos no lustre” (linhas 1 e 2). b) “...filmes, livros e desenhos animados” (linha 2). c) “...esse recurso...” (linha 7). d) “...o imaginado...” (linha 8). e) “... um problema”(linha 7). Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 55 3. Os termos “essas” (linha 2), “sua” (linha 3) e “ela” (linha 6) retomam, respectivamente, a) Cenas (linha 2); criança pequena (linha 3) e linguista Maria Cecília Perroni (linha 6). b) Viagens supersônicas a planetas distantes. Lutas com gorilas. Bebês que sobem sozinhos no lustre (linha 1 e 2); criança pequena (linha 3) e linguista Maria Cecília Perroni (linha 6). c) Cenas (linha 2); criança pequena (linha 3) e narrativas infantis (linha 5). d) Bebês que sobem sozinhos no lustre (linha 1); criança pequena (linha 3) e linguista Maria Cecília Perroni (li- nha 6). e) Viagens supersônicas a planetas distantes. Lutas com gorilas. Bebês que sobem sozinhosno lustre (linha 1 e 2); fala (linha 3) e linguista Maria Cecília Perroni (linha 6). 4. Em qual dos elementos destacados há coesão por re- tomada através do uso de sinônimo? a) O que os professores querem realmente dizer aos pais é que eles não devem repassar à escola suas respon- sabilidades na educação dos filhos. b) Há relatos de professores contestados por pais porque atribuíram uma nota baixa a um aluno, ou por tê-lo repreendido por comportamento não adequado. 56 Produção Textual c) Os professores sabem que sempre haverá a interferên- cia da família na escola, a harmonia entre as partes é valiosa para a educação, nesse processo, os educa- dores têm um papel fundamental. d) É importante que os pais sejam informados sobre a linha pedagógica em que seu filho estuda. e) O contato entre escola e pais deve ser constante, se necessário, a instituição deve convidá-los para uma conversa. 5. Em qual das alternativas abaixo ocorrem hipônimos de profissão? a) Carro, barco, automóvel. b) Maçã, laranja, pêssego. c) Ciclismo, tênis, basquetebol. d) Pescador, médico, piloto. e) Sabiá, corruíra, pintassilgo. Referências bibliográficas KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. Editora Contexto, São Paulo, SP, 2010. Dicionário Priberam. Disponível em: http://www.priberam.pt/ dlpo/ Capítulo 3 Coesão Textual por Retomada ou Antecipação... 57 FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. Editora Atica, SP, 2004. Gabarito 1. a 2. c 3. b 4. c 5. d Dr. Ítalo Ogliari Capítulo 4 Coerência Textual ÂÂNeste capítulo, após conhecermos e compreendermos aquilo que chamamos de coesão textual, discutire- mos outro ponto fundamental para a boa escrita: a co- erência. Não é novidade, sempre que temos o intuito de aprimorar nossa escrita, deparamo-nos com esses termos. Basta que nos lembremos de nosso tempo de escola ou de qualquer manual de redação que logo vem à lembrança as famosas coesão e coerência textual. Capítulo 4 Coerência Textual 59 Prévio debate Sendo a coesão, como estudamos, o próprio cuidado que de- vemos ter ao escrever, utilizando um vocabulário amplo, rico em anafóricos, com uma linguagem econômica, com períodos bem elaborados, entre tantos outros pré-requisitos que tam- bém fazem parte do jogo da escrita, a coerência é a própria lógica interna do texto (a construção de sentido no que se está tratando, com ideias bem colocadas e organizadas). A coesão e a coerência andam sempre juntas, por isso sempre são assim abordadas. Se por um lado temos de ter um texto bem cuidado formal- mente (ser coeso, objetivo, conciso, enxuto, preciso, dizendo o máximo com o mínimo), por outro lado devemos ter bons ar- gumentos, conhecimento prévio sobre o tema, o que garante o sentido do que estamos debatendo. Muitos acreditam que aquela pessoa que possui um bom texto, que redige bem, com clareza e desenvoltura, com bons argumentos, faz isso sem esforço, como se brotasse natural- mente dela. Mas não é bem assim. Quem escreve bem tem, por trás, anos de prática, como quem toca um instrumento musical com maestria. De acordo com Lucília Garcez, autora do livro Técnicas de redação – o que é preciso saber para es- crever bem: Escrever é uma das atividades mais complexas que o ser humano pode realizar. Faz rigorosa exigência à memória e ao raciocínio. A agilidade mental é imprescindível para que todos os aspectos envolvidos na escrita sejam articu- 60 Produção Textual lados, coordenados, harmonizados de forma que o texto seja bem sucedido. (2002, p. 3) Isso tudo porque há, no ato da escrita, duas principais tare- fas a serem cumpridas; ou melhor, um bom texto está dividido pelo sucesso de dois elementos, de dois grandes componentes: o tema (aquilo que está sendo escrito) e a forma (como aquilo está sendo expresso, organizado), o que fica sob responsabili- dade da coerência, aliada sempre, claro, à coesão. Mas como podemos compreender melhor o que é ser coerente? Definindo melhor a ideia de coerência Não só o dia a dia em nosso ambiente de trabalho, o que é bem comum acontecer, mas a própria vida em geral nos exige, constantemente, que tenhamos a capacidade de expor ideias e de dar opiniões seguras; e pede que façamos isso, tanto na forma escrita quanto oral, com propriedade. É assim que nos- sas ideias são aceitas e que nos tornamos convincentes. Não é através de um e-mail ou projeto longo e mal redigido que você conseguirá fazer com que sua proposta seja bem vista dentro de sua empresa, por seu chefe, ou mesmo dentro de sua escola. Como a escrita é feita para ser lida e compreendida a dis- tância, sem que o autor esteja junto no ato da leitura, expli- cando determinadas coisas, sua elaboração exige uma orga- nização precisa, clara, para que o leitor consiga compreender perfeitamente o que desejamos passar. Para isso (por não haver intervenções orais, gestos, tom de vozetc.), as relações entre as Capítulo 4 Coerência Textual 61 ideias colocadas “no papel” devem ser muito bem articuladas entre si. E é esta articulação entre as ideias, encaixando umas nas outras e dando um desenvolvimento lógico para o texto, podendo ser compreendido com lucidez ao longo da leitura, sem que o foco seja perdido, que chamamos de coerência: nada mais do que o poder de ser perfeitamente compreendido através da escrita, o que exige também, por consequência, conhecimento por parte do autor. Por isso, produzir um texto de qualidade é requisito indis- pensável para um bom profissional, independente de sua área de atuação. É sinal de que ele está seguro sobre o que dis- serta. Quanto mais sabemos sobre um assunto, mais temos objetividade e vamos direto ao ponto, sem enrolar ou fugir do tema proposto: o que acontece frequentemente nas inúmeras dissertações problemáticas de concursos e vestibulares. De acordo com Othon Garcia, em seu conhecido livro Co- municação em prosa moderna (1988, p. 274), as falhas mais graves das redações estão na falta de ideias e em sua má concatenação. Aquele que não tem o que dizer escreve real- mente mal, isso porque não consegue, da mesma forma, pôr em ordem seu pensamento. A coerência do texto deriva de sua lógica interna, resul- tante dos significados que sua rede de conceitos e re- lações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede conceitual – o mundo textual – e o conhe- cimento de mundo de quem processa o discurso. (VAL, 2004, p. 6) 62 Produção Textual Vejamos, agora, para elucidar o que estamos afirmando, dois pequenos exemplos. Texto coerente O primeiro passo do caminho para uma melhoria da quali- dade da Educação Básica brasileira é conhecer e entender o seu atual contexto. Para isso, devemos avaliar cada lugar a partir de suas peculiaridades, em um processo que passa pela região, pelo estado e município, chegando, por fim, à escola. Texto com problemas de coerência O primeiro passo do caminho para uma melhoria da qualida- de da Educação Básica brasileira é conhecer e entender o seu atual contexto. Mas para isso, é preciso que os governantes também olhem para o contexto de seus governos. Não temos nem saúde nem saneamento básico em nossas cidades, sem falar na mídia, que nada nos ensina. Observe como, no primeiro caso, o texto mantém-se em um mesmo foco, falando da importância de se conhecer e en- tender o atual contexto do ensino brasileiro para que se possa melhorá-lo. E, para isso, o autor afirma que se deve chegar a cada lugar de forma individualizada, desde a região até a escola em si. Capítulo 4 Coerência Textual 63 No segundo texto, veja como ele inicia com a mesma pro- posta (falando da importância de se conhecer e entender o atual contexto do ensino brasileiro, para que se possa me- lhorá-lo), mas logoparte para outro ponto, direcionando o debate para questões ligadas ao governo, que até caberiam se fosse um texto dissertativo completo, talvez em um parágrafo específico para isso. No entanto, depois, no período seguinte, o foco é novamente trocado, e questões como qualidade de vida, ligadas à saúde e saneamento básico, são colocadas em pauta, fugindo completamente da ideia primeira, finalizando, ainda, com uma crítica à mídia, que até então nada tinha a ver com o debate. O maior problema de um texto sem uma coerência em suas ideias, é que se aborda de tudo um pouco e, ao mesmo tempo, não se trata de nada de forma mais concreta, com o mínimo de fôlego para que houvesse tempo de uma verdadei- ra abordagem do assunto. Isso sem falar que um texto com ideias problemáticas torna-se, às vezes, não só desconexo, mas repetitivo, já que o autor, não tendo o que dizer, aborda um mesmo ponto com palavras diferentes, em voltas que não saem do mesmo lugar. Outro ponto a ser notado, falando em repetições, são aquelas de palavras, o que denota um vocabulário pobre, em que o embaraço sobre o que se está debatendo acarreta ques- tões não só de coerência, mas também de coesão, como no trecho: “... entender o seu atual contexto. Mas para isso, é preciso que os governantes também olhem para o contexto de seus governos. 64 Produção Textual Por fim, podemos definir, dessa forma, coerência como foco, como a trajetória segura que as ideias fazem dentro de um texto e que dá, ao leitor, a perfeita possibilidade de com- preendê-lo. Como faço para ser coerente? Como viemos discutindo ao longo deste capítulo, para que es- crevamos de maneira coerente, é importante ter em mente que uma construção textual deve ser formada de um todo compre- ensível e que, para isso, o autor deve saber encaixar as peças do texto e dar um sentido completo a ele. Assim, a primeira dica é lembrar que as palavras, apesar de possuírem seu senti- do individual, criam novos sentidos, quando são relacionadas entre si. E a mesma lógica vale para as frases e para os pará- grafos. Estando essas relações feitas da maneira adequada, a mensagem é compreendida com sucesso, senão, haverá falha na comunicação. As ideias devem dialogar, sendo uma a con- tinuação da outra. A coerência, dessa forma, é o resultado da não contradição entre as palavras, as frases e os parágrafos de um texto. Pelo contrário: coerência é harmonia de sentidos. Devido a isso, outra boa dica, para sermos coerentes na- quilo que estamos dizendo, é mantermos os devidos cuidados com os conceitos das palavras. As palavras possuem significa- dos que, se forem pensadas de forma equivocada pelo autor de um determinado texto, poderão ser aplicadas de maneira errônea, gerando um desacordo na comunicação. Para Maria da Graça Costa Val, autora do livro Redação e textualidade, Capítulo 4 Coerência Textual 65 “um discurso é aceito como coerente quando apresenta uma configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo do recebedor” (2004, p. 6). Além do mais, é fundamental, para uma boa textualidade, que se leve em conta importantes características de estilo, tais como concisão, clareza, harmonia. São esses elementos que norteiam a compreensão imediata durante o ato da leitura de um texto, fazendo-o fluir com naturalidade diante dos olhos do leitor. Podemos dizer que um texto conciso caracteriza-se por ex- pressar apenas o essencial, evitando explicações óbvias e que não tenham pertinência com o assunto. Isso vem ao encon- tro da praticidade moderna. Já um texto com clareza evita a imprecisão de vocabulário, o excesso intercalações, as ambi- guidades no emprego de possessivos e relativos. Também se preocupa com a pontuação correta entre outros aspectos. Por outro lado, um texto harmonioso é aquele que se apresenta com elegância e soa bem aos ouvidos, evitando rimas, caco- fonias, repetição de palavras etc. Embora possa parecer uma obviedade, cabe ainda ressal- tar que a correção gramatical também constitui um elemento de importância básica, tanto para a boa escrita quanto para a compreensão eficaz de um texto. Erros de natureza gramatical podem, inclusive, induzir um receptor de um texto a compre- ender erroneamente seu sentido. Por fim, a dica mais importante é lembrar que nunca sere- mos bons escritores, independente do estilo do texto, sem que sejamos, antes, excelentes leitores. Um texto só é bem escrito 66 Produção Textual se seu autor domina, no mínimo, o tema que está debatendo, isso tudo sem contar que o hábito da leitura faz com que você escreva bem até mesmo sem perceber, pois lhe dá um amplo vocabulário e inúmeras possibilidades de articulação textual. Recapitulando Neste capítulo, o qual teve como principal objetivo ser um complemento do anterior, estudamos e conhecemos melhor aquilo que chamamos de coerência textual. Isso por termos visto que não existe um texto coerente sem haver coesão ou vi- ce-versa. Ficou claro: ser coerente é estar atento à construção de sentido no que se está falando, com ideias bem colocadas e organizadas, e produzir um texto de qualidade é requisito indispensável para um bom profissional, independente de sua área de atuação. E lembre-se: para sermos coerentes, precisa- mos saber do que estamos falando. Quanto mais conhecemos o assunto sobre o qual dissertamos, mais objetividade temos, sem enrolar ou fugir do tema proposto. Atividades Sem voltar ao texto, mas apenas relembrando o que foi lido neste capítulo, realize esta atividade, composta de 5 questões objetivas. Lembre-se de que, nas quatro primeiras questões, existe apenas uma única alternativa correta para cada questão. 1. Leia –as seguintes afirmações. Capítulo 4 Coerência Textual 67 I – Podemos dizer que a coerência textual está ligada à cons- trução de sentido no que se está tratando dentro de um texto, com ideias bem colocadas e organizadas. II –Não podemos afirmar que um texto coerente é automatica- mente um texto que tenha coesão. III – Podemos dizer que um texto coeso é automaticamente um texto coerente. Agora, com base no que foi lido, assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa I está correta. b) Somente a afirmativa II está correta. c) Somente as afirmativas I e II estão corretas. d) Somente as afirmativas II e III estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 2. Assinale a alternativa correta. a) Um texto só é coerente quando necessita de interven- ções orais e gestos por parte do autor para que possa ser perfeitamente compreendido. b) A pessoa que possui um bom texto, com clareza, de- senvoltura e com bons argumentos, faz isso sem esfor- ço, o texto brota naturalmente dela. c) Quanto mais sabemos sobre um assunto, mais longo e complexo é nosso texto. 68 Produção Textual d) Podemos definir a coerência textual como a trajetória segura que as ideias fazem dentro de um texto e que dá ao leitor a possibilidade de compreendê-lo. e) Uma palavra, dentro de um texto, quando unida a ou- tras, mantém seu significado, que é único sempre, in- dependente do contexto. 3. Com base no parágrafo que segue, assinale a alternativa correta. O homem contemporâneo, através das redes sociais, desenvolve uma nova maneira de avaliar sua felicidade, comparando sua vida e suas conquistas com as alheias. Da mesma forma que busca o outro como espelho para si, expõe-se ingenuamente. E assim, o cotejo segue, fa- zendo de tal prática algo rotineiro em nosso tempo. a) O parágrafo mostra-se coerente, mas sem coesão. b) O parágrafo mostra-se coeso, mas com problemas em sua coerência. c) O parágrafo mostra-se sem coesão e coerência. d) O parágrafo mostra-se coeso e coerente. e) O parágrafo mostra-se incompleto, mas coerente. 4. Maria da Graça CostaVal, ao afirmar que “um dis- curso é aceito como coerente quando apresenta uma Capítulo 4 Coerência Textual 69 configuração conceitual compatível com o conheci- mento de mundo do recebedor”, diz que a) a perfeita compreensão do texto pelo autor, ao escre- ver, implica que o leitor também o entenderá. b) o responsável pela coerência de um texto é o recebe- dor, que deve ter conhecimento de mundo. c) um texto só é coerente quando um leitor, mesmo total- mente despreparado para aquele tema, compreende exatamente tudo o que o autor disse. d) um autor deve escrever um texto que não contenha seu conhecimento de mundo, pois ele pode ser diferente do conhecimento de mundo do leitor. e) a leitura de um texto nada mais é do que um diálogo, por isso não só a gramática deve ser respeitada, mas os conceitos e os significados das palavras. 5. Para um texto ser coerente, de acordo com nossos estudos, é preciso que ele seja composto por a) ideias concatenadas. b) ideias em sequência lógica. c) ideias fragmentadas. d) ideias óbvias. e) ideias limitadas. 70 Produção Textual Referências bibliográficas GARCEZ, Lucília H. do Carmo. Técnicas de redação: o que é preciso saber para escrever bem. São Paulo: Martins Fon- tes, 2002. GARCIA, Othon. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1988. VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. São Pau- lo: Martins Fontes, 2004. Gabarito 1. c 2. d 3. d 4. e 5. a, b Almir Mentz Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa ÂÂNos capítulos anteriores, caro leitor, foram abordados três aspectos fundamentais, para que a redação de textos seja bem-sucedida e para que a qualidade lhe seja garantida. O primeiro capítulo diz respeito à leitura. O segundo, por sua vez, refere-se aos elementos de coesão textual, como referentes e anafóricos, além, é claro, do emprego dos articuladores das ideias abordadas no texto. Por fim, o terceiro desenvolve a articulação dos sentidos e o poder de persuasão, a fim de dar lógica ao texto e manter-se preso ao eixo temático. 72 Produção Textual Neste capítulo, serão abordados os pontos referentes à pro- dução de texto dissertativo. A dissertação será tratada como uma macroestrutura, isto é, como uma estrutura globalizada, que apresenta um fio condutor sobre o mesmo tema. Nele serão feitas algumas considerações que devem ser observadas no momento em que o enunciador se expressar, efetivamente, através de um texto escrito. Escrever é refletir. Quando o futuro escritor decide produzir um texto dissertativo, cabe-lhe, inicialmente, determinar o tema sobre o qual dissertará. Para tanto, é preciso ter consciência de que o tema escolhido tem de ser de domínio, de conhecimento de quem o escreve. Esse conhecimento é adquirido através de leituras escolares e de experiências concretas. Através do texto, portanto, o seu autor expressa seus pensamentos em torno de determinado tema e faz a relação entre quem comunica por escrito e aquilo que está sendo comunicado. Dissertar é discorrer sobre determinado assunto que está relacionado à questão cultural, como Ciência, Técnica, Arte, Filosofia..., é posicionar-se diante de uma dada ideia com ca- ráter universal, abstrato, científico. A exposição dessas ideias deve ser feita impessoalmente. Supõe-se, através da disserta- ção, o exame crítico de uma questão. Nessa tipologia textu- al, o autor do texto pode defendê-la ou questioná-la através da apresentação de argumentos, que podem ser organizados com base em dados precisos, em observações e pesquisas fun- damentadas. Tais argumentos devem ser adequados à inten- ção que o autor tem ao redigir o texto dissertativo. Ao escolher essa tipologia, o autor deve ter consciência de que trata de um texto que traz, em sua essência, o intuito de transmitir infor- Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 73 mações e de convencer o leitor das ideias apresentadas pela linguagem escrita. A linguagem deve obedecer à norma culta. Isso significa que, nesse tipo de texto, podemos empregar períodos com- postos. É evidente, entretanto, que o uso de períodos simples e, por conseguinte, mais curtos são mais impactantes em mo- mentos relevantes da tecelagem do texto. Frases pouco ex- tensas são tão importantes, que podem, por vezes, exercer o papel de articulador. Além disso, as palavras são utilizadas com o seu real sentido, isto é, exploram o sentido denotativo dos vocábulos. Figuras de linguagem são impróprias ao texto de cunho dissertativo. Contudo, quando empregadas, devem auxiliar na defesa de determinada ideia. Estrutura do parágrafo-padrão Em relação à estrutura do parágrafo e do texto dissertativo, essa compreende três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Nesse tipo de texto, o parágrafo deve ser organiza- do e ordenado em torno de uma ideia central. O texto é bem construído quando as ideias secundárias obedecem a uma se- quência lógica e à coerência entre elas. A primeira deve conter a delimitação do assunto e o objetivo que o autor tem, ao escrever o texto sobre o tema escolhido. Delimitar o assunto é apresentar a ideia-núcleo, que deve ser elaborada sintética e objetivamente, enfim, sem floreios. A introdução deve ser bem elaborada, a fim de despertar interesse, vontade de o suposto leitor realizar efetivamente a sua leitura. 74 Produção Textual Um dos maiores prazeres que o ser humano pode pro- porcionar a si próprio está caracterizado no ato de viajar. Por mais radicada que uma pessoa possa ser no lugar onde nasceu, ela sempre alimenta curiosidades sobre outras paragens. Uma criança, de cinco a seis anos, que nasce à margem de um rio, já pergunta sobre o que existe do outro lado, o que há por detrás daquela coli- na além da outra margem. É neste desejo inato de ver, ouvir, conhecer e experimentar, associado à primitiva ne- cessidade de buscar novas fontes de sobrevivência, que se pode identificar a causa da disseminação da espé- cie humana pelo planeta. Mesmo com o surgimento da agricultura e das consequentes sociedades e civilizações sedentárias, aquele desejo remoto de ver o que há “lá longe”, continua a atrair cada vez mais pessoas. Eis aí as causas primárias do turismo moderno, fortalecidas pelo progresso, pela tecnologia e pelo contínuo crescimento das diversas economias globalizadas, alavancando cada vez mais indivíduos à classe média e consumista. (Casti- lho Schneider) Uma composição textual de ideias deve manter uma uni- dade entre elas, mesmo que essas sejam secundárias. Na ver- dade, o que é vital para a constituição de um texto extenso, como o formado por mais de um parágrafo, ou mais breve (de 5 a 8 períodos), como aquele organizado por apenas um pa- rágrafo, é a relação entre as ideias através do sentido expresso por elas. É, pois, o caso do parágrafo acima que apresenta unidade entre suas ideias. A essa estrutura, mais breve, deno- minamos parágrafo-padrão. Da mesma forma, como deve ocorrer, quando temos a intenção de nos comunicarmos por Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 75 escrito, pelo uso de textos mais longos, é preciso seguir alguns passos antes mesmo de proceder efetivamente à redação. Em primeiro lugar, devemos escolher o assunto. Posteriormente, faz-se necessário delimitá-lo, isto é, devemos nos ater a um ou dois aspectos sobre o assunto escolhido. Por fim, o autor do parágrafo deve definir o seu objetivo, de acordo com o texto que produzirá. No que se relaciona à estrutura do parágrafo, é necessário ter em mente a mesma estrutura de um texto com vários pa- rágrafos. A primeira frase do parágrafo apresenta o assunto, acompanhado de sua delimitação, bem como o objetivo que o autor tem ao redigi-lo. Temos, então, o tópico-frasal,que é a introdução do parágrafo. Após ter definido o tópico-frasal, selecionam-se as ideias que devem estar ligadas intimamente à delimitação do assunto. A última parte que compõe o pará- grafo-padrão é a conclusão. Concluir não é repetir o que já foi dito. É, no entanto, acrescentar uma ideia ou uma opinião de forma coesa e coerente. Disso tudo, o mais relevante é re- conhecer que, embora pequeno estruturalmente, o parágrafo- -padrão tem o mesmo valor que um texto com mais de um parágrafo e cumpre sua função na sociedade. Estrutura dissertativa Qualquer texto dissertativo compreende, pois, três partes: in- trodução, desenvolvimento e conclusão. Assim como no pará- grafo-padrão, a primeira deve delimitar o assunto e estabele- cer o objetivo que o autor tem ao escrever. A delimitação do 76 Produção Textual assunto consiste em apresentar a ideia-núcleo, que deve ser elaborada com clareza e objetividade, ou seja, sem rodeios. A introdução deve ser bem elaborada, a fim de assegurar o interesse do leitor até o final do texto. Nos últimos tempos, o acesso à Educação cresceu, mas, a despeito dessa boa notícia, a qualidade do ensino não melhorou. Há uma década, a porcentagem de cidadãos considerados plenamente alfabetizados permanece inal- terada: 26%, segundo o Indicador de Alfabetismo Fun- cional (Inaf), realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, em São Paulo. O levan- tamento avalia, por meio de uma prova, as habilidades de leitura, escrita e Matemática da população entre 15 e 64 anos. A classificação prevê quatro níveis: analfabetis- mo, alfabetismo rudimentar, básico e pleno. Os resulta- dos divulgados em 2012 também revelam boas (embora discretas) notícias, como a queda de 39% para 27% do número de analfabetos funcionais – categoria que reúne os níveis analfabeto e alfabetismo rudimentar. (FONTE: Revista Nova Escola, nº 254, Agosto 2012, p. 92). Como você já deve ter estudado no capítulo anterior, o texto deve ser coerente e coeso. A segunda parte, o desen- volvimento, tem de seguir, rigorosamente, a direção escolhida e apresentada na introdução. Assim, as ideias devem ser se- lecionadas e organizadas lógica e adequadamente, a partir das mais gerais para as mais particulares, isto é, segue um método dedutivo (como no silogismo). Nesse momento, o nú- mero de parágrafos construídos não obedece à norma rígida. É possível desenvolver tantos parágrafos quantos forem neces- Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 77 sários, para que a ideia-núcleo (tese) seja bem fundamentada. Aconselha-se, porém, que se utilize apenas um parágrafo para cada argumento. Ao analisar a fundo esses dois cenários – a estagnação de uma categoria e o decréscimo de outra -, é possível afirmar que estamos fazendo a lição de casa pela me- tade. “Com a ampliação do acesso à escola, damos às pessoas a possibilidade de sair da condição de analfa- betismo e chegar ao nível básico, mas não garantimos os meios para que elas atinjam o patamar pleno de al- fabetização. Só a qualidade do ensino pode impulsio- nar esse salto”, diz Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro. A previsão para o futuro não é animadora. Os resultados do Inaf indicam que, se continuarmos com as atuais políticas públicas de Educa- ção, não vamos avançar: não poderemos contar com o boom nas matrículas de anos atrás, que ajudou a mudar os dados. (FONTE: Revista Nova Escola, nº 254, Agosto 2012, p. 92). A terceira e última parte, a conclusão, retoma a ideia-nú- cleo apresentada na introdução e desenvolvida a partir do se- gundo parágrafo do texto. Nessa etapa, as ideias do desenvol- vimento são recapituladas, e os argumentos expostos de forma concisa durante o texto são fechados. A dissertação pode ter como conclusão uma síntese, além de poder trazer uma solu- ção para aquilo que o texto traz durante o desenvolvimento. Para erradicar o analfabetismo absoluto nos próximos dez anos, reduzir pela metade o número de analfabetos 78 Produção Textual funcionais (como prevê o Plano Nacional de Educação – PNE, ainda em tramitação no Congresso Nacional) e garantir que mais gente alcance o nível pleno, é preciso melhorar a qualidade do ensino regular e dar atenção à Educação de Jovens e Adultos (EJA). Essa modalidade é a chance para quem não pode estudar e segue puxando o Inaf para baixo. (FONTE: Revista Nova Escola, nº 254, Agosto 2012, p. 92). Ainda em relação à produção de texto dissertativo, é pre- ciso que façamos algumas considerações a partir do que Luiz Carlos Travaglia nos apresenta em relação a essa tipologia textual e o ensino de língua. Em relação à perspectiva do produtor do texto, o conhe- cimento é imprescindível, para que o texto possa realmente cumprir com o seu papel fundamental: a comunicação. O enunciador, sob essa ótica, deve demonstrar competência comunicativa através do domínio do tema que desenvolverá, além de saber utilizar recursos linguísticos, a fim de produzir efeitos de sentido adequados para a situação de interação co- municativa. O enunciador não faz parte do texto, ao contrário do que pode acontecer na descrição no que diz respeito ao espaço; tampouco age, faz acontecer, já que não está inseri- do, em especial, no tempo de uma narração. Na dissertação, o autor do texto abstrai-se, pois, do tempo e do espaço. É importante lembrar que o interlocutor é alguém que tem um pensamento, uma visão acerca do assunto que está sen- do analisado. Por isso, quando o produtor textual decide se expressar por escrito, deve, antes de mais nada, escolher a tipologia própria para o objetivo que deseja alcançar. Quando Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 79 disserta, ele reflete sobre o assunto traçado no tópico-frasal. Não apenas isso. Também explica, avalia e conceitua o tema sobre o qual pretende comunicar algo, bem como expõe suas ideias, para demonstrar conhecimento daquilo que escreve. O enunciador faz associações sobre o que analisa durante a tessitura do texto. No texto, o tempo é relevante. Podemos verificar o tempo referencial ou o tempo da enunciação. O primeiro é o tempo da ocorrência no mundo real em sua sucessão cronológica. O segundo, por outro lado, trata do momento da produção ou da recepção do texto que pode ou não coincidir com o refe- rencial. É possível, portanto, que o tempo da enunciação seja posterior, simultâneo ou anterior. Enfim, observamos que textos dissertativos são presentes e, raramente, passados. Os aspectos teóricos acima apontados podem ser observa- dos a partir do texto abaixo, extraído da Zero Hora. Observe- mos, então: Ficha mais limpa A Justiça se revela mais rigorosa em relação às exigências de moralidade na política do que o próprio Congresso através da ficha limpa. Na última semana, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a chamada Lei da Ficha Limpa valerá para todos os candidatos condenados por crimes graves em órgãos colegiados, incluindo casos nos quais a condenação seja an- terior à sanção da lei, em 4 de junho. Prevaleceu, portanto, a 80 Produção Textual tese de que o Direito Eleitoral deve proteger a moralidade, e evitou-se assim o risco de o novo instrumento se tornar inócuo. Mesmo levado a agir de alguma forma por um projeto de iniciativa popular apresentado em setembro do ano passado com o respaldo de 1,3 milhão de assinaturas, o Congresso vinha desde então hesitando em atender ao clamor popular. A aprovação só ocorreu depois do abrandamento do texto, que limitou o impedimento do registro de candidatura apenas para condenados em última instância. Mesmo assim, o Senado ain- da tentou um recurso semântico para abrandar as exigências, mudando o tempo verbal “os que tenham sido”, como saiu da Câmara, para “os que forem”condenados. Felizmente, na interpretação do TSE, prevaleceu a tese do relator da con- sulta sobre o projeto Ficha Limpa, ministro Cláudio Versiani, de que a causa da inelegibilidade incide sobre a situação do candidato no momento do registro, com prazo até 5 de julho. Como argumentou o relator, não se trata de perda de direito político, de punição, pois inelegibilidade não constitui pena. A condenação é que, por si só, sob esse ponto de vista, impede alguém de sair em busca de voto. As razões ainda não foram suficientes. Foi preciso avançar. Somente o corporativismo dos políticos é capaz de justificar a necessidade de a Justiça Eleitoral se pronunciar, impedindo o registro de candidaturas que os próprios partidos deveriam vetar, em respeito aos eleitores. Confrontada com a exposição de sucessivos descalabros na política e na administração pú- blica de maneira geral, a sociedade brasileira tem razões de sobra para se mostrar cada vez menos tolerante com práticas do gênero. Com essa manifestação da Justiça, perdem alguns Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 81 políticos que, a partir da ampliação do alcance da Lei, ficarão impedidos de concorrer em outubro e deverão, por isso, ten- tar derrubar a norma. Em compensação, ganham os eleitores, pois assim correrão menos riscos de eleger quem tem contas a acertar com a Justiça. Esse é o tipo de deformação que só se mantinha pelo fato de ter sido associada a políticos a ideia de impunidade e pela insistência de muitos deles em buscar votos para garantir imunidade ou tratamento privilegiado. O projeto que o TSE se encarregou de tornar um pouco mais rigoroso pode não ser abrangente o suficiente para as necessidades do país e não confere 100% de garantia ao elei- tor de estar optando por um candidato ético. Diante da falta de disposição dos parlamentares em se mostrarem mais rigo- rosos, entretanto, constitui um alento na luta pela moralização. Predominou, pois, a vontade do povo, a fim de corrigir mais uma das deformações da política brasileira. FONTE: ZERO HORA (Adaptado para este estudo). Caro leitor, podemos perceber, no tópico-frasal, o assunto sobre o qual o autor do texto “Ficha mais limpa” fará uma reflexão sobre o assunto “Ficha Limpa” cuja abordagem dada trata do aspecto da moralidade na política brasileira. Essa é função primordial do tópico-frasal, que, nesse exemplo, está expresso claramente. Após a leitura do período inicial, é possí- vel que saibamos como o texto será desenvolvido. Para escrever bem, pressupõe-se conhecimento do autor sobre o tema cultural, ou seja, um tema a respeito da Política. No exemplo que estamos analisando, verificamos que quem produziu o texto tem domínio em torno do assunto escolhido. 82 Produção Textual Ainda estamos em período de eleições municipais. O tema é atual e, por essa razão, provavelmente desperte interesse do potencial leitor. Tem sido muito discutido em meios de comuni- cação, como televisão, rádio e jornais. Observa-se que o au- tor do texto apropriou-se do tema, através do que é veiculado nesses meios. Nele, há um posicionamento sobre o tema. Com o objetivo de dar sustentação às suas ideias, o autor busca dados con- cretos e exatos, que são divulgados pela mídia. Como detentor do conhecimento necessário para o seu objetivo, ele transmite ao leitor informações que garantem ao texto veracidade. As- sim, o autor demonstra consciência sobre o seu real papel na sociedade. No que tange à linguagem, no texto predomina o emprego da linguagem padrão. Através da linguagem direta, o texto parte de aspectos gerais, como a questão da moralidade po- lítica a partir da aprovação e implantação da Lei da Ficha Limpa, e, posteriormente, o texto progride pela análise de pon- tos particulares, como o fato que limitou o impedimento do registro de candidatura apenas para condenados em última instância e a causa da inelegibilidade que incide sobre a situa- ção do candidato no momento do registro. Com exceção dos dois períodos iniciais do terceiro parágrafo, em todos os de- mais, certificamo-nos de que os períodos são mais elaborados e mais complexos, por conseguinte. Isso não os torna menos importantes. Ao contrário, eles exercem a função articulatória das ideias apresentadas anteriormente às que serão desenvol- vidas durante o parágrafo por eles introduzido. Enfim, o valor Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 83 semântico das palavras utilizadas no texto é real, pois cada vocábulo nele empregado tem sentido denotativo. A estrutura textual obedece às normas. O primeiro pará- grafo apresenta, através do primeiro período, o tema e a abor- dagem sobre a qual o texto discorrerá, isto é, o autor escolheu “Ficha Limpa” como temática sob a ótica da moralização po- lítica no Brasil. O segundo parágrafo desenvolve a ideia-núcleo do primei- ro. Nele são apontados aspectos que fundamentam a apro- vação e aplicação da Lei da Ficha Limpa como fatores para a moralização da política nacional. Mostrou que houve uma queda de braço entre o Senado e o Tribunal Superior Eleitoral. Embora houvesse dois lados sobre a Lei, os que estavam a favor e os que estavam contra, “prevaleceu a da inelegibilida- de que incide sobre a situação do candidato no momento do registro”. Dessa forma, o texto apresenta coerência entre as ideias apresentadas na introdução e no primeiro parágrafo de desenvolvimento. O terceiro parágrafo ainda desenvolve a ideia expressa pelo tópico-frasal. O autor julga o argumento do parágra- fo anterior inconsistente. Por essa razão, apresenta novo ar- gumento: o corporativismo político. Isso ocorre pelo choque entre o valor moral e a prática na política e na administração pública. Os brasileiros ansiavam por uma solução para essa situação. Em vista disso, portanto, a Lei da Ficha Limpa foi aprovada. O último parágrafo expressa a conclusão das ideias ex- postas no texto. Nele, o autor retoma a ideia de que, embora 84 Produção Textual essa Lei não garanta ao eleitor a certeza de estar escolhendo um candidato sério, o primeiro passo foi dado, em busca da moralização política brasileira. O autor do texto demonstra conhecimento sobre o assunto “Ficha Limpa”, pois o apresenta clara e objetivamente e nos aponta a abordagem que pretende lhe dar. Dessa forma, a elaboração da ideia-núcleo contempla os aspectos relevantes para a informação ao leitor, além de despertar o seu interesse pela leitura do mesmo. A competência comunicativa do enun- ciador pode ser observada no decorrer do texto, haja vista o emprego linguístico adequado, bem como o uso dos recursos, como articuladores e anafóricos, a fim de lhe dar a exata rela- ção de sentido desejada. Além disso, o produtor não participa do texto, isto é, não faz parte das ações e das situações expres- sas no decorrer do contexto linguístico. Sob essa perspectiva, o texto desempenha, portanto, sua função comunicativa com primazia. Quanto à seleção da tipologia textual, pode-se dizer que a escolha foi apropriada para o objetivo traçado pelo enun- ciador. Esse texto faz uma reflexão sobre a situação atual da política nacional, sob o ponto de vista de garantir ao eleitor a possibilidade de eleger candidatos éticos e, consequente- mente, assume o compromisso com a moralidade na política brasileira. Para tanto, utiliza informações sobre o significado da expressão “Ficha Limpa” no contexto atual, além, é claro, de buscar a sua origem, o objetivo de sua criação e de lançar mão de dados estatísticos. Verifica-se, pois, que a dissertação é o tipo de texto próprio para o que pretendia o autor, já que o contexto linguístico que o autor produziu tem a função in- Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 85 formativa sobre determinado assunto (Ficha Limpa)e reflexiva sobre a sua criação em forma de Lei, para que proteja a so- ciedade brasileira de pessoas cuja índole e ética apresentem deturpações. O texto em estudo é presente. Tanto no que concerne à temática e à ótica, é possível relacionar o que o enunciador analisa no texto ao que, de fato, está acontecendo no mo- mento da produção e da recepção do texto. Nesse caso, o autor do texto faz parte do grupo social que exige mudanças para coibirem o abuso de pessoas que se candidatam a algum cargo político ou público com a finalidade de usufruírem dos benefícios que dele possam advir e, por essa razão, assume o papel de formador de opiniões através da tipologia escolhida. Através do texto FICHA MAIS LIMPA, extraído da Zero Hora, pudemos estudar questões refrentes ao texto dissertativo. Vi- mos, pois, que essa tipologia textual é adequada quando pre- tendemos analisar e interpretar dados da realidade por meio de conceitos abstratos. Isso acontece quando fazemos referên- cia ao mundo real por intermédio de conceitos mais amplos, de generalizações, que são abstraídos do tempo e do espaço (1995). O texto dissertativo tem, portanto, caráter abrangente. Recapitulando Este capítulo teve como objetivo o de orientar os acadêmicos e demais interessados pelo assunto no que tange à produção de texto dissertativo. 86 Produção Textual Dele fizeram parte algumas revisões teóricas gerais con- cernentes à linguagem e à estrutura, que deverão orientar os acadêmicos durante a redação dos textos analíticos, críticos informativos, isto é, textos dissertativos que poderão ser solici- tados pelo professor ou exigidos fora do contexto escolar. Na sequência, abordou o desenvolvimento do caráter dis- sertativo dos textos. Por considerar a linguagem parte do texto, este estudo apresentou os pontos que devem ser observados na tecedura do texto: objetividade, clareza e concisão das ideias. Além dessa ênfase, este capítulo teve como proposta a rea- lização, detalhada, da análise de um texto dissertativo. Atividades 1. As condições de bem-estar e de comodidade nos gran- des centros urbanos são reconhecidamente precárias por causa, sobretudo, da densa concentração de habitantes em um espaço que não foi planejado para alojá-los. Com isso, praticamente todos os polos da estrutura urbana fi- cam afetados: o trânsito é lento; os transportes coletivos, insuficientes; os estabelecimentos de prestação de serviço, ineficazes. I – O texto acima é dissertativo, pois interpreta e analisa dados da realidade. II – O texto é dissertativo, ainda que não haja nessa tipologia textual progressão temporal entre os enunciados, pois há rela- Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 87 ção lógica entre eles, fator que impede a alteração da sequ- ência deles. III – O texto é considerado dissertativo, pois é um texto temáti- co, cujo objetivo é o de analisar e o de interpretar as transfor- mações na estrutura das grandes cidades. IV – O texto é narrativo, pois é um texto ficcional e figurativo. V – O texto é descritivo, pois, através do emprego de adjetivos, transmite uma imagem negativa dos grandes centros urbanos. Sobre o texto acima é correto dizer que a) estão corretas as afirmações I e V. b) todas as afirmações estão corretas, exceto a III. c) está correta apenas a afirmação II. d) todas as afirmações estão incorretas. e) estão corretas as afirmações I, II e II. 2. Leia as afirmativas abaixo, para responder à questão cor- retamente. I – Tem personagens, cenário e enredo. II – Transmite conhecimentos e destina-se a instruir e a con- vencer. III – Analisa e discute um ponto de vista. IV – Apenas narra fatos cronologicamente organizados. 88 Produção Textual Sobre dissertação é correto afirmar que a) apenas a afirmação I está correta. b) apenas a afirmação IV está correta. c) todas as afirmações estão corretas. d) somente as afirmações II e III estão corretas. e) todas as afirmações estão incorretas. 3. Assinale a alternativa que apresenta um texto dissertativo. a) O brasileiro, nos últimos anos, tem revelado uma profunda descrença nas instituições políticas do país. Vários fatores têm concorrido para isso. Entre eles, pode ser citada a incapacidade do governo de con- trolar a impunidade dos que fazem mau uso do di- nheiro público. b) “Eis São Paulo às sete da noite. O trânsito caminha lento e nervoso. Nas ruas, pedestres apressados se atropelam. Nos bares, bocas cansadas conversam, mastigam e bebem em volta das mesas. Luzes de tons pálidos incidem sobre o cinza dos prédios.” c) “Eram sete horas da noite em São Paulo e a cidade toda se agitava naquele clima de quase tumulto típi- co dessa hora. De repente, uma escuridão total caiu sobre todos como uma espessa lona opaca de um grande circo. Os veículos acenderam os faróis altos, insuficientes para substituir a iluminação anterior.” Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 89 d) “Os lindos cabelos negros refluíam-lhe pelos ombros presos apenas com o aro de ouro que cingia-lhe a opulenta madeixa; o pé escondia-se em um pantufo de cetim que às vezes beliscava a orla da anágua, como um travesso beija-flor.” e) “Era um casarão clássico das antigas casas negreiras. Assobradado, erguia-se em alicerces o muramento, de pedra até meia altura e, dali em diante, pau-a-pique. Esteios de cabriúva entremostravam-se, picados a enxó, nos trechos donde se esboroara o reboco. Jane- las e portas em arco, de bandeiras em pandarecos. Pe- los interstícios da pedra, amoitavam-se samambaias, fases de noruega, avenquinhas raquíticas. Em um cunhal, crescia anosa figueira, enlaçando as pedras na terrível cordoalha tentacular. À porta da entrada ia ter uma escadaria dupla, com alpendre e parapeito esborcinado.” 4. Escreva V ou F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmações abaixo. ( ) O futuro autor de um texto dissertativo adquire o co- nhecimento necessário sobre o assunto que pretende discorrer através de leituras escolares e de experiências concretas. ( ) Dissertar é discorrer sobre determinado assunto, é po- sicionar-se diante de uma dada ideia com caráter uni- versal, abstrato e científico, cuja exposição das ideias deve ser feita impessoalmente. 90 Produção Textual ( ) Na dissertação, as palavras são utilizadas com o sen- tido figurativo, isto é, explora o sentido conotativo dos vocábulos. ( ) Na dissertação, a introdução deve conter a delimita- ção do assunto e o objetivo que o autor tem ao escre- ver o texto sobre o tema escolhido. ( ) No texto dissertativo, as ideias devem ser selecionadas e organizadas lógica e adequadamente, a partir das mais gerais para as mais particulares. A sequência obtida é a) F, F, F, V e V. b) V, V, F, V e V. c) V, V, V, F e F. d) V, F, F, F e V. e) F, V, V, V e F. 5. Escreva V ou F, conforme as afirmações sejam verdadeiras ou falsas. ( ) O texto dissertativo apresenta na sua elaboração a função referencial da linguagem, pois centraliza-se na intenção de transmitir ao leitor dados da realidade de forma direta e objetiva. ( ) Na função referencial, o texto é escrito predominan- te em primeira pessoa, a fim de que sua escritura se mantenha sempre impessoal. Capítulo 5 O Parágrafo-padrão e a Estrutura Dissertativa 91 ( ) As figuras de linguagem devem ser evitadas em textos dissertativos; no entanto, quando usadas moderada- mente constituem-se em valiosos recursos expressivos. ( ) A frase “O trabalhador brasileiro, em sua maioria, re- cebe salário mensal que tem como ponto referência a chamada Cesta Básica” tem cunho dissertativo, pois trata de assunto da realidade social e utiliza a lingua- gem direta. A sequência obtida é a) V, V, V e V. b) F, F, F e F. c) V, F,V e V. d) V, V, F e F. e) F, F, V e V. Referências bibliográficas ANDRÉ, Hildebrando A. de. Curso de Redação. São Paulo: Moderno, 1998. CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação. São Paulo: Atual, 2000. SOUZA, Luiz Marques de & CARVALHO, Sérgio Waldeck de. Compreensão e produção de textos. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. 92 Produção Textual Tipos, gêneros e subtipos textuais e o ensino de língua mater- na. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. In: BASTOS, Neusa Barbo- sa (Org.). Língua Portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: IP-PUC, 2002. VILELA, Mário & VILLAÇA KOCH, Ingedore. Gramática da Lín- gua Portuguesa: gramática da palavra, gramática da frase, gramática do texto/discurso. Coimbra: Almedina, 2001. FIORIN, José Luiz & SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1995. Gabarito 1. e 2. a 3. d 4. b 5. c Almir Mentz Capítulo 6 Texto Argumentativo ÂÂNo capítulo anterior, prezado aluno, você estudou os aspectos referentes à produção de textos dissertati- vos. Na sequência do estudo relativo à construção textual, veremos pontos importantes sobre o texto argumentativo. 94 Produção Textual Argumentar é procurar convencer e persuadir. É o direito que temos de exercer a cidadania através da linguagem, so- bretudo da linguagem escrita, a partir da demonstração da competência linguística. Em textos que podem ser encontrados em revistas e jornais, em discursos políticos e textos publicitá- rios, ou ainda em textos redigidos sob quaisquer outras situa- ções do quotidiano, tem-se como objetivo influenciar o leitor, a fim de que o mesmo aceite determinados pontos de vista. Em tal situação, busca-se que o leitor aceite determinada propos- ta, por exemplo, através da utilização de razões, evidências, justificativas, ou até mesmo, por apelos emocionais. Tradicionalmente, conhecemos como forma de argumenta- ção o que chamamos silogismo. Ele é composto de premis- sas, explícitas ou não, e de uma conclusão. Exemplo: Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. O raciocínio acima serve como exemplo para o que disse- mos anteriormente. O silogismo nele apresentado é formado por três proposições: a premissa maior, a premissa menor e a conclusão. As formas de argumentação são diversas. Podem ir de um simples questionamento a uma complicada hipótese. Não im- porta. O que vale aqui é ter consciência de que tudo pode ser- vir como argumento: desde um fato já de domínio público até uma situação do dia a dia poderão desencadear a base para a construção de um argumento. Aquilo que já é conhecido e que também pode ser suficientemente desencadeador, evidenciado Capítulo 6 Texto Argumentativo 95 por determinada situação do dia a dia, pode ser o ponto de partida para a construção de um argumento. À premissa cabe estar alicerçada em fatos de maneira que todo e qualquer lei- tor possa aceitá-los como verdade. Segundo Mário Vilela e Ingedore Villaça Koch (2001), temos alguns exemplos desses dados considerados como adquiridos:  determinadas constatações, como: Este novo escân- dalo é mais uma prova de que o poder corrompe;  determinadas verdades tidas como irrefutáveis, como: a democracia é um péssimo processo de exercício do poder, mas não há outro melhor;  determinados valores que são indiscutíveis, como as ideias de justiça, de liberdade e de igualdade perante a lei etc.;  determinados lugares comuns (= topoi), como: O es- forço deve ser recompensado riqueza não traz felici- dade etc. (página 546) Esses são alguns exemplos de verdades que podem ser consideradas universais, pois a essência delas é múltipla. Em grande parte das vezes, encontramos uma mescla de tipos de textos. Podemos ter narração ou descrições em dissertações, ou os três em apenas um texto. No entanto, haverá a predomi- nância de uma sobre as demais. Quando alguém escreve e pretende que o leitor tenha em suas palavras a verdade, que as tenha como corretas e que também acredite nelas, encontramos o texto argumentativo. Contudo, a estrutura argumentativa estará presente tão- -somente quando houver relação entre o tópico-frasal, os ar- 96 Produção Textual gumentos e a conclusão. Então, com isso, temos a certeza de que a condição sine qua non, para que tenhamos um texto argumentativo, é a relação entre os termos estruturais. Além disso, são imprescindíveis para o texto argumentativo marcadores gramaticais e marcadores de coesão e de co- erência. Tais marcas estão diretamente ligadas aos verbos e à construção sintática e, por conseguinte, à semântica da frase. Em relação às marcas gramaticais, isso significa dizer que a presença do verbo ser na construção de proposições é fun- damental. Ademais, também é importante o uso de verbos que possibilitem a construção da relação causa e efeito, como causar, originar, ocasionar, suscitar..., além, é claro, de cer- tos dicendi verba que designam ações de comunicação lin- guística (como dizer, responder, afirmar, declarar, considerar, implicar, alegar, assegurar...). Em alguns estudos linguísticos., são também conhecidos como verbos declarativos. Em textos argumentativos, prefere-se o tempo presente, pois seu valor é amplo, é universal. Acerca do emprego de frases, os mais comuns para textos argumentativos são asserção ou a inter- rogação (desde que no texto ela seja respondida pelo autor), e nunca frases imperativas. De sua parte, no entanto, os marcadores de coesão e de coerência textuais indicam a ordenação dos argumentos e a sua respectiva conexão. Tal ordenação é marcada pelo em- prego de conectores, como já que, assim, posto que, por con- seguinte... Capítulo 6 Texto Argumentativo 97 A partir do trecho abaixo do Sermão da Sexagésima, ve- rificaremos alguns dos aspectos já abordados neste capítulo em torno da construção do texto argumentativo. [...] O sermão há de ser de uma só cor, há de ter um só objecto, um só assunto, uma só matéria. Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distin- ga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de ampli- ficá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstân- cias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar; e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. (Sermão da Sexagésima. In: Pe. Antônio Vieira. Org. Alcir Pécora. Os Sermões. São Paulo: Hedra, 2000.) Primeiramente, notamos que o texto apresenta uma das qualidades primordiais: a unidade. Através dela, percebemos que a riqueza de argumentos deve estar centralizada em um tema apenas, isto é, não é possível empregar argumentos di- versos tematicamente, pois, nesse caso, o texto trataria de tudo e de nada ao mesmo tempo. 98 Produção Textual Outro ponto que o fragmento aborda é o fato de que o texto deve ser completo em sua estrutura, ou seja, deve con- ter introdução, desenvolvimento e conclusão. Isso ainda diz respeito, é claro, à questão da unidade. O texto tem de tratar sobre o mesmo assunto, o mesmo tema, sem que seja um emaranhado temático. Além disso, o texto de Pe. Antônio Viei- ra nos alerta para um recurso fundamental na argumentação: o uso de citações de outros autores, por exemplo, a fim de comprovara tese apresentada. A isso chamamos argumento de autoridade, que dá ao texto argumentativo mais sustenta- bilidade. Vieira, o produtor desse texto, estabelece correlações lógi- cas, a fim de relacionar causas e efeitos daquilo que está sen- do afirmado e de lhe dar coerência entre suas partes compo- nentes. Assim, a organização lógica das ideias apresentadas no texto torna-o persuasivo, isto é, realmente convincente. É, portanto, o emprego da coerência textual. A partir do pensamento de Vieira, ainda podemos apreender o aspecto de que argumentos contraditórios devem ser refutados. O fato de um texto abordar um tema polêmico, não nos obriga a ignorar as ideias opostas às que vêm sendo desenvolvidas. Ao contrário, temos de expô-las objetiva e claramente, porém com a utilização de recursos argumentativos consisten- tes para refutá-las. O texto de Vieira serve-nos como uma grande lição a respeito de al- guns recursos argumentativos para a construção dos textos que pretende- mos produzir. Vejam, caros alunos, que nada é novo, no entanto estamos retomando e atualizando o que já foi concebido como fatores importantes para a produção argumentativa. Capítulo 6 Texto Argumentativo 99 Um texto argumentativo é eficaz, quando apresenta argumentos que fundamentam a tese. É preciso dar ao texto poder de convencimento e de persuasão. Façamos isso de forma lógica e, consequentemente, racional com a utilização de fatos objetivos; ou ainda, pela emoção, isto é, para atingir o sentimento do interlocutor. Vejamos agora, prezado leitor, alguns tipos possíveis de argumentos. Tipos de argumentos 1 – Argumento com base em citação: Como vimos a partir do texto do Pe. Vieira, citar trecho de texto de um reconhecido autor ou pensamento de determinada autoridade no assunto dá amparo ao texto, pois lhe confere prestígio. Ex.: O cinema nacional conquistou nos últimos anos quali- dade e faturamento nunca vistos antes. “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” – a famosa frase-conceito do diretor Gláuber Rocha – virou uma fórmula eficiente para explicar os R$ 130 milhões que o cinema brasileiro faturou no ano passa- do. Adaptado de Época, 14/04/2004. 2 – Argumento com base no senso comum: Fundamenta- ção da tese através de argumentos que são compartilhados por parte considerável da sociedade. Em outras palavras, são argumentos aceitos universalmente, sem que haja necessidade de comprová-los. Nos exemplos dados por Cereja e Maga- lhães (2000), “o homem depende do ambiente para viver”, ou ainda “a mulher de hoje ocupa um papel social diferente da mulher do século XIX”, podemos verificar que tais informações 100 Produção Textual já foram comprovadas historicamente e, por essa razão, não precisam de justificativa. 3 – Argumento com base em evidências: Apresentação de dados estatísticos, pesquisas, informações científicas..., a fim de comprovar a tese. Ex.: São expedientes bem eficientes, pois, diante de fatos, não há o que questionar... No caso do Brasil, homicídios estão assumindo uma dimensão terrivelmente grave. De acordo com os mais recentes dados divulgados pelo IBGE, sua taxa mais que dobrou ao longo dos últimos 20 anos, tendo chegado à absurda cifra anual de 27 por mil habitantes. Entre homens jovens (de 15 a 24 anos), o índice sobe a incríveis 95,6 por mil habitantes. (Folha de S. Paulo. 14/04/2004) 4 – Argumento com base no raciocínio lógico: Instituição de uma relação de causa e efeito, cujo objetivo é o de manter a sequência dos parágrafos e, com isso, garantir o sentido do texto. Ex.: Ao se desesperar em um questionamento em São Pau- lo, daqueles em que o automóvel não se move nem quando o sinal está verde, o indivíduo deve saber que, por trás de sua irritação crônica e cotidiana, está uma monumental ignorância histórica. São Paulo só chegou a esse caos porque um seleto grupo de dirigentes decidiu, no início do século, que não deveríamos ter metrô. Como cresce dia a dia o número de veículos, a ten- dência é piorar ainda mais o congestionamento – o que leva Capítulo 6 Texto Argumentativo 101 técnicos a preverem como inevitável a implantação de perigos. (Adaptado de Folha de S. Paulo, 1º/10/2000) Como podemos nos cientificar, para elaboramos um texto argumentativo, é preciso que dominemos o assunto sobre o qual estamos escrevendo e os recursos linguísticos utilizados, pois, como temos intenção de atingir um determinado objetivo e um público mais específico, é preciso que usemos uma lin- guagem própria para o que pretendemos. Além dos muros dos presídios JARDEL DE CASTRO FLACH* Há menos de um mês, minha visão em relação às peni- tenciárias e aos apenados não fugia muito da tradicional: que se enquadra entre a indiferença à situação atual dos presí- dios e o sentimento de ódio, infelizmente, que suscita comen- tários do tipo “criminoso tem que sofrer, tem que morrer na cadeia, comer o pão que o diabo amassou etc.”. Entretanto, eu, administrador formado pela UFRGS com ênfase em Ma- rketing, através de um concurso para agente administrati- vo do Ministério Público do Rio Grande do Sul, tomei posse no cargo dia 3 de outubro e começando o seu exercício no dia seguinte. O lugar, no entanto, não me era muito familiar, pois entrei na Promotoria de Justiça de Controle e de Execu- ção Criminal de Porto Alegre _ Grupo de Execução Criminal. Nesse pouquíssimo tempo, já foi possível entender um pou- co da complexidade da situação. Os familiares, por mais que não tenham cometido crimes, “cumprem” a pena junto ao apenado, e aqueles são em número muito superior a es- 102 Produção Textual ses. Não faço atendimentos presenciais no Grupo de Execu- ção Criminal, porém parte do meu trabalho é receber as li- gações do principal telefone da promotoria: noto o nível de sofrimento e temor que uma mãe passa ao relatar como está a situação do seu filho que não recebe atendimento médico e está muito doente em algum dos presídios da Região Metro- politana. Percebo o desespero da esposa de um detento que supostamente estaria sendo ameaçado de morte por alguma facção. Sinto a frustração de um pai que afirma que o filho apenado já deveria ter progredido de regime (fechado para o semiaberto), contudo não consegue que isso seja posto em prática. Logo, o sofrimento exacerbado no estabelecimen- to prisional não se limita aos seus muros, pois os familiares estão em pensamentos e sentimentos junto aos presidiários. Essa é uma entre as várias consequências extremamente ne- gativas que transbordam dos presídios para a sociedade com uma força avassaladora. O argumento que tenta legitimar a situação atual, de que o apenado merece esse tipo de degra- dação, é cego por vingança: um veneno que a sociedade toma sem se dar conta. Por fim, o ódio e a indiferença devem ceder espaço à sabedoria, dessa forma, o tratamento do problema da criminalidade como um todo teria pelo menos condições mínimas de efetividade. (*Administrador e servidor do Minis- tério Público do Rio Grande do Sul) – Adaptado para esse estudo. Extraído da Zero Hora, de 27/10/2012, Artigos, p. 20. Acima, o texto argumentativo é a forma escrita mais ade- quada ao exercício da cidadania, pois o autor manifesta sua opinião sobre um fato do cotidiano. O autor do texto escreve com conhecimento sobre o que analisa. Nele, Jardel de Cas- tro Flach mantém a estrutura, isto é, há uma relação entre o Capítulo 6 Texto Argumentativo 103 tópico-frasal, o desenvolvimento e a conclusão. Nesse caso, a unidade está mantida através da coerência e articulações entre as partes que compõem o texto. Percebemos, ainda, que no segundo parágrafo do texto, responsável pelos argumentos, o autor demonstra competên- cia linguística, quando utiliza, predominantemente, verbos no presente. Isso conota,sobretudo, o caráter universal do tema. Embora não seja aconselhado o emprego da primeira pessoa em textos argumentativos, o enunciador, nesse caso, fê-lo com maestria, porque o tema tem relação direta com sua recente atividade profissional, o que demonstra domínio sobre aquilo que pretende discutir através da linguagem escrita. Assim, po- demos reconhecer a presença de subjetividade naquilo que diz, devido ao uso da primeira pessoa e, por conseguinte, a mani- festação de sentimento. Vale dizer que, com isso, não podemos considerar erro em sua elaboração e, por se tratar de um texto veiculado em jornal, há uma tendência nessa construção. Flach utiliza argumento com base em evidências. Para o autor, essa realidade deve mudar. A fim de comprovar a tese de que criminoso não tem que morrer atrás das grades e que não tem que sofrer, busca recursos argumentativos em sua ati- vidade profissional cotidiana. Apresenta a situação atual do apenado no Brasil e questiona o fato de que todo presidiário “come o pão que o diabo amassou” e com ele os familiares, em especial, sofrem com o tratamento que o apenado recebe. No segundo parágrafo, traz-nos dados, frutos de sua experiên- cia e de sua observação, de uma realidade dura e cruel. Além disso, argumenta através da correlação entre causa e efeito. Dessa forma, é possível verificarmos que o fato de o de- 104 Produção Textual tento sofrer com o tratamento a ele dispensado na prisão tem como consequência o sofrimento que pessoas ligadas ao ape- nado demonstram em ações e na revolta contra a sociedade. Isto posto ao longo do texto, aponta para a coerência textual diretamente ligada ao título do texto, ou seja, o sofrimento que é evidenciado no interior das casas de detenção se estende além dos muros delas e atinge diretamente a sociedade. Distinção entre texto dissertativo e argumentativo É hora, caro leitor, de traçar, em breves palavras, a diferença entre texto dissertativo e texto argumentativo. Acreditamos que isso já tenha ficado claro para você, pois no capítulo anterior, que trata do texto dissertativo, e neste que desenvolve aspectos do texto argumentativo já lhe foi possível elaborar do alicerce dessa diferença. Retomando o que foi dito no capítulo anterior, dissertar é desenvolver ou explicar um assunto, é apenas discorrer sobre o tema escolhido. Essa tipologia textual expõe o assunto de forma clara e objetiva. O texto dissertativo não está preocupa- do com a persuasão, pois ele tem como compromisso apenas a exposição sobre dado assunto e, por essa razão, inclui-se no grupo de que fazem parte, por exemplo, o artigo científico, o relatório, o resumo, a resenha, a monografia... O seu objetivo inicial é, portanto, o de transmitir conhecimentos. Capítulo 6 Texto Argumentativo 105 Ao contrário da dissertação, o texto argumentativo se ca- racteriza pela persuasão ou pelo convencimento do leitor so- bre o ponto de vista do autor do texto, através da exposição de argumentos. Assim, quando o texto, além de explicar, de informar algum aspecto sobre determinado assunto, também deseja persuadir quem o lê e, a partir da leitura, modifica o comportamento, temos, então, um texto argumentativo, ou ainda, conforme Souza e Carvalho (1995), um texto exposi- tivo-argumentativo. Recapitulando Este capítulo teve como objetivo orientar os acadêmicos e de- mais interessados pelo assunto no que tange à realização de textos argumentativos. Mostramos que, textos encontrados em revistas e jornais, em discursos políticos e textos publicitários, ou ainda textos redigidos em quaisquer outras situações do quotidiano, o objetivo primeiro é o de influenciar o leitor, a fim de que o mesmo aceite determinados pontos de vista. Nesse capítulo, enfatizamos que o enunciador faça com que o leitor aceite determinada proposta, por exemplo, através da utiliza- ção de razões, evidências, justificativas, ou até mesmo, por apelos emocionais. Dele fizeram parte algumas revisões teóricas gerais, con- cernentes à linguagem e às características do texto argumen- tativo, além de abordar os aspectos referentes à estrutura, pois tratamos a respeito das partes que o compõem: tópico-frasal, desenvolvimento através de argumentos e conclusão. A coe- 106 Produção Textual rência entre essas três partes é um dos fatores que dá ao texto a unidade textual, aspecto primordial para a sua produção. A linguagem é parte do texto. Por essa razão, este estudo apresentou os pontos que devem ser observados na tecedura do texto: correção gramatical, clareza e concisão das ideias, coesão e coerência textuais. Apontamos, ainda, durante esse estudo a diferença existen- te entre texto dissertativo e texto argumentativo, bem como os tipos de argumentos que podem consolidar a argumentação de um texto, isto é, que podem ser empregados para o con- vencimento ou persuasão de leitor. Atividades 1. Leia o texto que segue para responder corretamente às questões de 01 a 03. O grande vencedor Se as pesquisas se confirmarem em São Paulo, o grande vencedor das eleições municipais será o ex-presidente Lula. Ele começou o ano enfrentando um câncer, passou incólume pelo julgamento do mensalão e ainda poderá emplacar um pro- tegido, o famoso “poste”, como gestor da maior cidade do país. Lula passou até pela saia justa de uma foto amigável ao lado de Paulo Maluf, símbolo da corrupção. Uma vitória de Fer- nando Haddad nas urnas apagará o mal-estar e a eficácia da aliança com o PP não será mais alvo de discussão. Fortalecido, apontará o candidato ao governo de São Paulo em 2014, a Capítulo 6 Texto Argumentativo 107 despeito das brigas internas. Tanta badalação chega a empol- gar petistas saudosistas, que gostariam de ver Lula concorrendo de novo à presidência da República. Mas ele tem experiência suficiente para não cair nesta armadilha. Tanto que já avisou aos mais afoitos que trabalhará pela reeleição de sua primeira afilhada, a presidente Dilma Rousseff. (Texto extraído da Zero Hora, Artigos – Carolina Bahia, de sábado, dia 27/10/2012) I – O texto acima é argumentativo, pois interpreta e analisa dados da realidade através de argumentos com base em evi- dências. II – O texto é argumentativo, ainda que não haja progressão temporal entre os enunciados, tampouco relação lógica entre eles, fator que impede a alteração da sequência deles. III – O texto é considerado narrativo, pois é um texto temático, cujo objetivo é o de narrar fatos das transformações no quadro político nacional. IV – O texto é narrativo, pois é um texto ficcional e figurativo. V – O texto é descritivo, pois, através do emprego de adjetivos, transmite uma imagem negativa dos grandes centros urbanos. Sobre o texto acima é correto dizer que: a) Estão corretas as afirmações I e V. b) Todas as afirmações estão corretas, exceto a III. c) Está correta apenas a afirmação II. d) Todas as afirmações estão incorretas. e) Estão corretas as afirmações I, II e III. 108 Produção Textual 2. Leia as assertivas e, após, assinale a alternativa correta. I – O texto de Carolina Bahia apresenta como tópico-frasal o primeiro período. II – O texto “O grande vencedor” tem como desenvolvimento argumentos com base em evidências, haja vista e enumeração de aspectos que, mesmo sem ser candidato, o vencedor será o ex-presidente Lula. III – O texto é coerente, pois durante sua construção há ideias relacionadas entre si. Sobre o texto é correto afirmar que: a) Todas as afirmações estão incorretas. b) Todas as afirmações estão corretas. c) Apenas a afirmação I está correta. d) Está incorreta apenas a afirmação II. e) Estão corretas apenas as afirmações I e III. 3. Leia as afirmações abaixo para responder à questão corre- tamente. I – Apresenta os elementos da narrativa.II – Apenas indica um ponto de vista. III – Transmite conhecimentos e destina-se a instruir e a con- vencer através de argumentos. IV – Apenas narra fatos cronologicamente organizados. Capítulo 6 Texto Argumentativo 109 Sobre texto argumentativo é correto afirmar que: a) Apenas a afirmação I está correta. b) Todas as afirmações estão corretas. c) Apenas a afirmação III está correta. d) Todas as afirmações estão corretas. e) Todas as afirmações estão incorretas. 4. Complete os espaços em branco, conforme os tipos de argumento. (A) A apresentação de dados estatísticos, pesquisas, in- formações científicas, a fim de comprovar a tese são argumentos com base em ____________________. (B) Argumento com base em _________________ garante ao texto a relação entre causa e efeito. (C) Argumento de ____________ é o recurso às ideias de alguém que, reconhecidamente, domina a matéria de que se fala – o chamado especialista; citação de uma obra, de uma instituição etc. (D) Argumentos com base no ____________ são aceitos universalmente, sem que haja necessidade de compro- vá-los. A sequência obtida após completar os espaços em branco é: a) autoridade, raciocínio lógico, senso comum, evidên- cias. b) evidências, senso comum, raciocínio lógico, autoridade. 110 Produção Textual c) senso comum, raciocínio lógico, autoridade, evidên- cias. d) autoridade, raciocínio lógico, evidências, no senso co- mum. e) autoridade, no senso comum, evidências, raciocínio lógico. 5. Escreva V ou F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmações abaixo. ( ) A estrutura argumentativa estará presente quando não houver relação entre o tópico-frasal, os argumen- tos e a conclusão. ( ) No texto argumentativo são fundamentais os marca- dores gramaticais e os marcadores de coesão e de coerência. ( ) Em textos argumentativo é importante o uso de verbos possibilitem a construção da relação causa e efeito, como causar, originar, ocasionar. ( ) O emprego de frases imperativa é adequado em texto argumentativo, haja vista poder esse texto expressar sentimentos. A sequência obtida é: a) F, F, F e F. b) V, V, F e F. c) V, V, V e F. Capítulo 6 Texto Argumentativo 111 d) V, F, F e V. e) F, V, V e F. Referências bibliográficas ANDRÉ, Hildebrando A. de. Curso de Redação. São Paulo: Moderno, 1998. CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação. São Paulo: Atual, 2000. CITELLI, Adílson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 2005. ______. Texto argumentativo. São Paulo: Scipione, 1994. SOUZA, Luiz Marques de & CARVALHO, Sérgio Waldeck de. Compreensão e produção de textos. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. Tipos, gêneros e subtipos textuais e o ensino de língua mater- na. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. In: BASTOS, Neusa Barbo- sa (Org.). Língua Portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: IP-PUC, 2002. VILELA, Mário & VILLAÇA KOCH, Ingedore. Gramática da Lín- gua Portuguesa: gramática da palavra, gramática da frase, gramática do texto/discurso. Coimbra: Almedina, 2001. FIORIN, José Luiz & SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1995. 112 Produção Textual http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/ portugues/redacao/dissertacao_e_narracao/argumentos. Acesso em 28/10/2012. Gabarito 1 a 2 b 3 c 4 d 5 e Dr. Ítalo Ogliari Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo ÂÂNo capítulo anterior, ainda claro em nossa memória, estudamos sobre o texto argumentativo. Vimos que argumentar é expor ideias sobre um determinado tema, defendendo nosso ponto de vista de forma lógica e coe- rente. No entanto, o texto argumentativo, mesmo sendo riquíssimo em sua estrutura, não carrega todos os elemen- tos existentes do ato de escrever. Um deles, por exemplo, e que veremos agora, é a narração, a qual sempre encanta a todos que gostam de ler e de contar boas histórias. 114 Produção Textual Do ato de narrar O ato de narrar é, sem dúvida, uma das mais antigas práticas desenvolvidas pelo ser humano. O conhecido escritor inglês E. M. Foster considera a narrativa uma atividade atávica, ou seja, transmitida desde a idade mais remota da humanidade, vin- culada a rituais pré-históricos do homem de Neanderthal e a manifestações registradas antes mesmo do uso da linguagem verbal como a conhecemos hoje. Por outro lado, se a narração é anterior à nossa forma atual de verbalizar, a narrativa verbal (que é nosso ponto de interesse neste capítulo), originada da fábula, da oralidade, do simples ato de se reunir pessoas e de se contar algo, acompa- nha, da mesma forma, o homem através dos tempos. E tudo isso muito antes, também, do nascimento da escrita. O ato de narrar tem sua gênese na simples necessidade de se contar histórias, relatar caçadas, grandes guerras, aventuras e faça- nhas. Os mitos, os temores e as lutas entre povos, orientais e oci- dentais, desde seus primórdios civilizatórios, fizeram da narra- ção através das palavras um elemento fundamental para que pudessem dar sentido à sua existência e situar-se no universo. Assim, nasceram as parábolas, que relacionam até hoje ho- mem e cosmo, e nasceram as histórias que rememoravam o passado, contadas pelos mais antigos aos mais novos. Segundo Mempo Giardinelli (1994, p. 18-19), em inúme- ras culturas, como na China, na Índia e na Pérsia, o ato de narrar, assim como as histórias do grego Esopo, prosperou em Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo 115 forma de ensinamentos, de lições de vida, perpassando tanto pela intenção satírica, pela discussão moral, religiosa quanto pela crítica social. É através da narrativa que o ser humano, independente de sua época, transmite sua cultura e seu conhe- cimento. Por isso, o homem é e sempre foi um ser narrativo, que sempre contou e ouviu histórias, sendo a idade do ato de narrar a mesma idade do homem. O que é narrar? Narrar, de acordo com Ulisses Infante (1998, p. 114), nada mais é do que encadear uma sequência de fatos em que per- sonagens se movimentam dentro de um determinado espaço e recorte temporal. Em outras palavras, é usar a linguagem verbal para construir um universo dinâmico, onde existe ação, descrição, diálogo, tempo e espaço. É preciso lembrar que a narração pode ser ficcional (ima- ginária) ou não, já que é possível que contemos a alguém alguma coisa que nos aconteceu, buscando os fatos em nossa memória e dando a eles uma ordem lógica e compreensível. Como exemplo, podemos lembrar-nos de uma matéria de al- gum jornal, em que algo importante ocorrido nos últimos dias é contado aos leitores. Vamos ver? 116 Produção Textual Pizzaria é assaltada pela segunda vez em três meses na Capital Por Letícia Costa Dois homens armados assaltaram pela segunda vez em três meses a pizzaria Oca de Savóia, no bairro Moinhos de Vento, na Capital. Os bandidos entraram no local, na esquina das ruas Luciana de Abreu e Padre Chagas, por volta das 23h54min de domingo e teriam levado cerca de R$ 7 mil. Na hora, sete funcionários estavam na loja que estava fechando. Eles entraram no local e ameaçaram a gerente. Um dos homens ficou em frente ao caixa e o outro entrou pela porta de acesso restrito aos funcionários. Um deles chegou e disse: "a casa caiu, não precisa ficar nervos a vagabunda, eu quero é dinheiro". Gosto de trabalhar aqui, mas estou com medo, acho que o fato de ser mulher facilita a ação deles — disse a gerente. Os proprietários da marca Oca de Savóia, Carlos Filho e Marcelo De Franceschi, argumentam que o local se tornou visado por não ter segurança da Brigada Militar (BM). Os bandidos não se intimidaram nem mesmo com a presença das câmeras de vigilância e da seguran- ça local realizada por umaempresa privada. Segundo o sargento Ricardo Ginez, do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), uma viatura realiza ronda nos bairros Moinhos de Vento e Rio Branco, e no momento do assalto na loja da pizzaria, o veículo esta- ria em outra ocorrência. Quando chegaram no local, os ladrões já tinham fugido. Em fevereiro, bandidos entraram na mesma loja do Moinhos de Vento quando já estava fechada, ao arrombarem, levaram dinheiro e equi- pamentos, como máquina de café. — As autoridades se orgulham da Padre Chagas, mas é essa a reali- dade, é isto que vamos ter para mostrar aos turistas que vierem para a Copa do Mundo — diz Carlos Filho. Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo 117 Note que, mesmo sendo o exemplo acima uma notícia de um jornal, construído sobre um acontecimento verdadeiro, o texto não deixa de ser, principalmente nos dois primeiros pa- rágrafos, uma narração como qualquer outra. Observe como existem personagens, espaço (o local onde ocorre o assalto), tempo (o horário e o dia), enredo (como tudo acontece) e até mesmo diálogo, representando a fala direta dos assaltan- tes: todos os elementos de uma narrativa bem elaborada. Po- rém, não se trata de uma ficção, e sim de algo que realmente aconteceu na cidade de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul. No entanto, quando falamos em narrativa, na maior parte das vezes, logo nos vem à cabeça a narrativa literária, a fic- cional. E isso não é nenhum problema, já que é na narrativa de ficção que o homem cria, desde as mais antigas épocas, suas mais fantásticas histórias. A única diferença é que na ficção os acontecimentos são criados. Tudo, na verdade, é criado: as tramas são criadas, os enredos, as personagens e os lugares. Mesmo uma história ficcional se passando em um local que exista, o autor possui a liberdade para fazer desse espaço um lugar único em seu texto, como descrever uma cidade de maneira mais sombria do que a verdadeira, por exemplo; ou mesmo recriá-la em um futuro distante. As possibilidades dentro da ficção são infinitas. Segundo Ulisses Infante (114-115), é comum que um texto narrativo apresen- te a seguinte estrutura: 118 Produção Textual  Apresentação: momento em que são apresentadas al- gumas personagens e expostas algumas circunstâncias da história, como o lugar onde a ação se desenvolverá, o local etc.  Complicação: é a parte do texto em que se inicia pro- priamente a ação, encadeando os episódios e conduzin- do a história ao clímax.  Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atin- ge seu momento mais crítico, complexo e emocionante, tornando o desfecho inevitável.  Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações dos personagens, dando ao leitor, inclusive, a possibilidade de refletir sobre o acontecido. É jogando de maneira criativa com essas quatro instân- cias que o autor torna seu texto interessante. Escrever uma boa história não implica simplesmente contar algo, mas fazer isso de forma que a narrativa se torne instigante e curiosa. Por isso, não basta uma boa ideia se não temos prática na hora de elaborarmos o enredo, se não temos habilidade, o que ganhamos apenas através da leitura e do exercício da própria escrita. Vamos a um exemplo? Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo 119 A noite em que os hotéis estavam cheios Moacyr Scliar O casal chegou à cidade tarde da noite. Estavam cansados da viagem; ela, grávida, não se sentia bem. Foram procurar um lugar onde passar a noite. Hotel, hospedaria, qualquer coisa serviria, desde que não fosse muito caro. Não seria fácil, como eles logo descobriram. No primeiro hotel o gerente, homem de maus modos, foi logo dizendo que não havia lugar. No segundo, o encarregado da portaria olhou com desconfiança o casal e resolveu pedir documentos. O homem disse que não tinha, na pressa da viagem esquecera os documentos. — E como pretende o senhor conseguir um lugar num hotel, se não tem documentos? — disse o encarregado. — Eu nem sei se o senhor vai pagar a conta ou não! O viajante não disse nada. Tomou a esposa pelo braço e seguiu adiante. No terceiro hotel também não havia vaga. No quarto — que era mais uma modesta hospedaria — havia, mas o dono desconfiou do casal e resolveu dizer que o estabelecimento estava lotado. Contudo, para não ficar mal, resolveu dar uma desculpa: — O senhor vê, se o governo nos desse incentivos, como dão para os grandes hotéis, eu já teria feito uma reforma aqui. Poderia até receber delegações estrangeiras. Mas até hoje não consegui nada. Se eu conhecesse alguém influente... O senhor não conhece ninguém nas altas esferas? O viajante hesitou, depois disse que sim, que talvez conhecesse alguém nas altas esferas. — Pois então — disse o dono da hospedaria — fale para esse seu conhecido da minha hospedaria. Assim, da próxima vez que o senhor vier, talvez já possa lhe dar um quarto de primeira classe, com banho e tudo. O viajante agradeceu, lamentando apenas que seu problema fosse mais urgente: preci- sava de um quarto para aquela noite. Foi adiante. No hotel seguinte, quase tiveram êxito. O gerente estava esperando um casal de co- nhecidos artistas, que viajavam incógnitos. Quando os viajantes apareceram, pensou que fossem os hóspedes que aguardava e disse que sim, que o quarto já estava pronto. Ainda fez um elogio. — O disfarce está muito bom. — Que disfarce? — perguntou o viajante. — Essas roupas velhas que vocês estão usando — disse o gerente. — Isso não é disfarce — disse o homem — são as roupas que nós temos. O gerente aí percebeu o engano: — Sinto muito — desculpou-se. — Eu pensei que tinha um quarto vago, mas parece que já foi ocupado. O casal foi adiante. No hotel seguinte, também não havia vaga, e o gerente era metido a engraçado. Ali perto havia uma manjedoura, disse, por que não se hospedavam lá? Não seria muito confortável, mas em compensação não pagariam diária. Para surpresa dele, o viajante achou a ideia boa, e até agradeceu. Saíram. Não demorou muito, apareceram os três Reis Magos, perguntando por um casal de fo- rasteiros. E foi aí que o gerente começou a achar que talvez tivesse perdido os hóspedes mais importantes já chegados a Belém de Nazaré. (Texto publicado no livro A Massagista Japonesa, Editora LPM: Porto Alegre, 1982) 120 Produção Textual Voltando ao assunto de que tratávamos, sobre a organi- zação do enredo, podemos ver, através da narrativa de Scliar, como o autor joga de forma inteligente com a curiosidade do leitor. O conto, em primeiro plano, narra a história de um casal sem identificá-lo precisamente. No entanto, para o final, o autor guarda um elemento surpresa, revelando-nos, através de três indicações, “Reis Magos”, “Belém” e “Nazaré”, que se tratava do casal José e Maria, dois dos mais importantes per- sonagens bíblicos: José e Maria. Outra grande vantagem que o autor da narrativa literária possui, como fez Scliar em seu texto, é poder mesclar livre- mente elementos e personagens da realidade com a ficção, ou seja: mesclar seres e lugares reais com elementos e outras per- sonagens criadas por ele, modificando ou recriado, inclusive, a ordem dos fatos, como foi a busca por hospedagem de José e Maria, reinventada por Moacyr Scliar. Nada diferente do que disse o filósofo grego Aristóteles ao discutir a criação literária em seus escritos sobre poética, afirmando que a arte não tem o compromisso de ser verdade, como tem a História, mas ape- nas de parecer verdade, ou melhor: “não é dizer aquilo que aconteceu, mas aquilo que poderia acontecer” (ARISTÓTELES, 2004, p. 23). É possível também encontrarmos essa prática de maneira muito interessante nos romances históricos, em que os auto- res fazem uso de acontecimentos marcantes de nossa história (como as grandes revoluções, os grandes momentos políticos) como pano de fundo de suas narrativas,até mesmo para dis- cutir ou rediscutir tais fatos, como já foi feito inúmeras vezes, com questões ligadas à Ditadura Militar em nosso país. Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo 121 O texto narrativo e o seu narrador Depois de refletirmos um pouco sobre enredo, não podemos deixar de nos lembrarmos de outro elemento fundamental do texto narrativo: seu narrador, que nada mais é do que a voz que nos conta a história. A escolha do foco narrativo é extre- mamente importante para o efeito que o autor deseja causar com seu texto. Muitos, por exemplo, são escritos na primeira pessoa (usando o “eu”), o que dá à narrativa um caráter mais intimista, aproximando o leitor daquele que está contando a história, quase como uma confissão (lembrando que, mesmo sendo em primeira pessoa, o narrador nunca pode ser confun- dido com o autor do texto). Outros textos são escritos na terceira pessoa (usando o “ele”), em que o narrador não é mais uma das personagens da história. E são esses (o narrador em 1ª pessoa e o narrador em 3ª pessoa) os dois principais focos que podemos dar à voz do narrador dentro de uma narrativa, que pode escolher nar- rar no presente ou no passado. A personagem de ficção A personagem, assim como narrador, é também um dos elementos essenciais de uma narrativa, se não o mais im- portante de todos. Ela pode ser classificada, primeiramente, como principal ou secundária, conforme o papel que de- sempenha no enredo, e pode ser apresentada de maneira direta ou indireta. 122 Produção Textual A apresentação direta de uma personagem ocorre quando ela aparece de forma clara no texto, tendo suas características físicas e/ou psicológicas descritas pelo narrador. Já a apresen- tação indireta se dá quando ela aparece aos poucos e o leitor vai construindo a sua imagem com o desenrolar dos fatos, a partir de suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai agindo. Podemos dizer, também, que, sendo o personagem prin- cipal o protagonista da história, é possível encontrarmos em várias narrativas um antagonista (uma personagem que atua contra o protagonista, impedindo-o de alcançar seus objeti- vos). Há, da mesma forma, as personagens adjuvantes e coad- juvantes, essas são personagens secundárias, mas que, muitas vezes, exercem papéis fundamentais na história. O discurso das personagens Sendo as personagens, como apontamos, essenciais ao tex- to narrativo, pois provêm delas as ações que movimentam as histórias. Representar suas falas (seus diálogos) também se tor- na um recurso, muitas vezes, indispensável para o sucesso de uma narrativa. É através dessa representação que “ouvimos” a voz das personagens, que podem ser classificadas, discursi- vamente, como:  Discurso direto: é aquele em que o narrador apresen- ta, através de um sinal gráfico, como o uso de traves- Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo 123 sões, a própria personagem falando diretamente, como vimos no texto de Scliar. — Isso não é disfarce – disse o homem – são as roupas que nós temos.  Discurso indireto: o narrador conta aos leitores o que a personagem disse, mas continua na 3ª pessoa. As pa- lavras da personagem não são reproduzidas, mas ditas pelo narrador. O homem entrou na sala, irritado. Queria quebrar tudo e disse que precisava falar com Ana urgente.  Discurso indireto livre: é uma combinação dos dois anteriores, confundindo as intervenções do narrador com a voz direta das personagens. Enlameado até a cintura, Tiãozinho cresce de ódio. Se pu- desse matar o carreiro... Deixa eu crescer!... Deixa eu ficar grande!... Hei de dar conta deste danisco... (Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.) Fechamento: curiosidades sobre o ato de narrar Por fim, para fecharmos este nosso capítulo sobre o texto narrativo, vale lembrar algumas curiosidades. A primeira diz 124 Produção Textual respeito à questão da forma como uma narrativa é escrita. Geralmente, pensamos que uma narrativa deve ser redigida, necessariamente, em prosa. Isso não é verdade. Podemos ter um texto narrativo elaborado em verso, basta que nos lem- bremos de muitas músicas que já ouvimos e que, apesar de serem escritas de maneira versificada, nos contam uma histó- ria, como, por exemplo, a famosa canção Eduardo e Mônica, do Legião Urbana, onde podemos inclusive encontrar, entre aspas, discurso direto das personagens: [...] Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar Ficou deitado e viu que horas eram Enquanto Mônica tomava um conhaque No outro canto da cidade, como eles disseram Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer E conversaram muito mesmo para tentar se conhecer Um carinha do cursinho do Eduardo que disse “Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir” Festa estranha, com gente esquisita “Eu não tô legal, não aguento mais birita” E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais Sobre o boyzinho que tentava impressionar E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir para casa “É quase duas, eu vou me ferrar” [...] A segunda curiosidade diz respeito ao tamanho de uma narrativa. Muitos acreditam que uma narrativa precisa ter a Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo 125 estrutura de um texto com relativa extensão, mas isso pode ser um equívoco também. Não há limites nem para o má- ximo nem para o mínimo de um texto narrativo. Basta co- nhecer os atuais minicontos, que, muitas vezes, são escritos com apenas uma ou duas frases, para entendermos que essa ideia é completamente abandonada. Assim, por exem- plo, é a minúscula narrativa de Cíntia Moscovich, publicada no livro Os cem menores contos do século, organizado pelo escritor Marcelino Freire e que nos conta apenas o seguinte história: Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás. Recapitulando Neste nosso sétimo capítulo, tratamos de um dos gêneros tex- tuais mais utilizados pelo ser humano. Nele observamos que o ato de narrar é uma das mais antigas práticas desenvolvidas pelo homem, mesmo muito antes da escrita. E lembramos que narrar é, basicamente, encadear uma sequência de fatos em que personagens se movimentam dentro de um determinado espaço e recorte temporal. Vimos, também, que existem tipos diferentes de narradores e que uma narrativa não precisa ser redigida, necessariamente, em prosa. Podemos ter, em um tex- to versificado, uma narração, como é comum em inúmeras poesias e em infinitas letras de músicas. 126 Produção Textual Atividades Sem voltar ao texto, mas apenas relembrando o que foi lido neste capítulo, realize esta atividade, composta de 5 questões objetivas. Lembre-se: existe apenas uma única alternativa cor- reta para cada questão. 1. Leia as seguintes afirmações. I – Uma narrativa deve sempre carregar elementos ou per- sonagens da realidade, não podendo ser nunca totalmente ficcional. II – Uma narrativa só é ficcional quando não carrega nenhum elemento ou nenhuma personagem que realmente existiu. III – Uma narrativa de ficção pode mesclar elementos do real com o ficcional, mas isso não a caracteriza mais como uma narrativa literária. Agora, com base no que foi lido, responda. a) Somente a afirmativa I está correta. b) Somente a afirmativa II está correta. c) Somente as afirmativas I e II estão corretas. d) Somente as afirmativas II e III estão corretas. e) nenhuma alternativa está correta. Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo 127 2. Assinale V ou F nas afirmativas abaixo e depois marque a alternativa que corresponde às suas escolhas. ( ) O ato de narrar nasce com a escrita. ( ) Para um bom texto narrativo de ficção, basta uma boa ideia. ( ) Mesmo uma história ficcional se passando em um lo- cal que exista, desse espaço pode se tornar um lugar ficcional. a) V, F, V. b) F, V, F.c) F, F, V. d) V, V, F. e) F, V, F. 3. Não é elemento do texto narrativo: a) Personagem. b) Espaço. c) Tempo. d) Embasamento teórico. e) Foco narrativo. 128 Produção Textual 4. Voltando ao texto de Moacyr Scliar, que lemos neste capí- tulo, podemos afirmar que a) é um texto narrado em 1ª pessoa, onde os protagonis- tas contam sua própria história. b) trata-se de um texto que não possui discurso direto, apenas discurso indireto e indireto livre. c) constitui um texto bíblico, por isso, não ficcional, mas histórico. d) caracteriza-se como um texto narrado em 3ª pessoa, onde um narrador conta a história das personagens. e) é um texto dissertativo, pois o autor disserta sobre os acontecimentos ocorridos com o casal. 5. Assinale a alternativa correta. a) Textos narrativos são necessariamente escritos em pro- sa. b) Para um texto ser considerado narrativo, é necessário que apareçam, sempre, todos seus elementos (narra- dor, personagem, tempo, espaço e diálogo). c) Uma narrativa sempre deve ser no passado, pois um texto narrativo nunca pode ser narrado no presente. d) Todas as narrativas são ficcionais, mesmo as que nar- ram algo que aconteceu. Capítulo 7 A Estrutura do Texto Narrativo 129 e) Uma personagem antagonista é aquela que atua con- tra a protagonista, impedindo-a de alcançar seus ob- jetivos. Referências bibliográficas ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Nova Cultural, 2004. INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação. São Paulo: Scipione, 2000. GIARDINELLI, Mempo. Assim se escreve um conto. Tradução de Charles Kiefer. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994. MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo. São Paulo: Ática, 1997. Gabarito 1. e 2. c 3. d 4. d 5. e Castilho Francisco Schneider Maria Lizete da Silva Schneider Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo ÂÂNo capítulo anterior, você teve oportunidade de estudar a estrutura e as características de textos narrativos, uma das tipologias textuais. Mas dissertar e narrar não constituem as únicas modalidades textuais de aplicação acadêmica. Por essa razão, o presente capítulo abordará outro tipo de texto, qual seja, a descrição. Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo 131 No mundo acadêmico, a informatização torna-se cada vez mais presente, até mesmo na sala de aula, seja ela virtual ou presencial. Tal fato, porém, não nos autoriza pressupor que, nesse meio, a escrita possa, algum dia, ser abolida. Em vista disso, é e continuará sendo fundamental que o acadêmico de qualquer área tenha, no mínimo, algumas noções da tipologia textual, bem como das características de um texto coeso, claro e proficiente. No presente capítulo, você verá no que consiste o texto descritivo, suas características, sua tipologia e algumas dicas que possam nortear sua produção para fins acadêmicos. Como você sabe, hoje, temos muitos recursos imagéticos que podem iluminar um texto descritivo. Mesmo assim, há ca- sos em que a palavra escrita e o texto em si precisam dar conta da comunicação e revelar, o mais fielmente possível, os detalhes do objeto da descrição. Segundo Martins (2007), a descrição prescinde de ação (a qual é típica do texto narra- tivo), pois “é uma estrutura pictórica, onde os aspectos sen- soriais predominam”. Descrever, segundo ela, envolve “uma contemplação e uma apreensão de algo objetivo ou subjetivo” (Martins, 2007), sendo fundamental que o autor possua algum grau de sensibilidade. Martins (2007) estabelece uma comparação entre o pintor e o autor de um texto descritivo, o qual, assim como a pintura, “focaliza cenas ou imagens, conforme permita a sensibilidade (Martins, 2007) de quem o escreve.” 132 Produção Textual A mesma autora apresenta-nos um esquema para visualizar as subdivisões que o texto descritivo pode assumir. Aqui não iremos reproduzir literalmente esse esquema, todavia, convém mencionar que, para ela, o texto descritivo pode apresentar-se sob a forma literária ou não literária, sendo que ambas as mo- dalidades podem ser executadas de forma subjetiva, objetiva ou mista, conforme você poderá conferir nos exemplos que exporemos adiante. Seja uma descrição literária ou não literária, Martins (2007) ressalta que cabe considerar os seguintes aspectos: o objeto da descrição, o qual pode ser real ou imaginário e o modo da descrição, que será objetivo ou subjetivo. A descrição literária não se preocupa com a exatidão da imagem descrita, uma vez que visa expor as impressões sen- soriais que determinado objeto deixa no autor. Assim, evitam- -se os detalhes, pois o essencial é dar a noção de conjunto, ressaltando os traços principais. Por tal razão, é importante selecionar esses traços, para que o texto não dê a ideia de fotografia, mas seja apenas a imagem do objeto e exponha como o autor o vê e sente. Veja abaixo a descrição da apresentação de Cecília, perso- nagem central de O Guarani de José de Alencar: Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo 133 Caía a tarde. No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda moça se embalançava indolentemente em uma rede de palha presa aos ramos de uma acácia silvestre, que estremecendo deixava cair algumas de suas flores miúdas e perfumadas. Os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam lan- guidamente como para se embebedarem de luz, e abaixaram de novo as pálpebras rosadas. Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor de gardênia dos nossos campos, orvalhada pelo sereno da noite; o hálito doce e ligeiro exalava-se formando um sorriso. Sua tez alva e pura como um froco de algodão, tingia-se nas faces de uns longes cor-de-rosa, que iam, desmaiando, morrer no colo de linhas suaves e delicadas. O seu trajo era do gosto o mais mimoso e o mais original que é possível conceber; mistura de luxo e de simplicidade. Tinha sobre o vestido branco de cassa um ligeiro saiote de riço azul apanhado à cintura por um broche: uma espécie de arminho cor de pérola, feito com penugem macia de certas aves, orlava o talho e as mangas, fazendo realças a alvura de seus ombros e o harmonioso contorno de seu braço arqueado sobre o seio. Os longos cabelos louros, enrolados negligentemente em ricas tranças, descobriam a fronte alva, e caíam em volta do pescoço presos por uma rendinha finíssima de fios de palha cor de ouro, feita com uma arte e perfeição admirável. (...) (O Guarani – José de Alencar) 134 Produção Textual Em geral, personagens (tipos) podem ser descritos física ou psicologicamente. Nos aspectos físicos, é comum observar-se a predominância da objetividade, enquanto os aspectos psico- lógicos são descritos de maneira mais subjetiva. No texto literário são frequentes as descrições de pessoas (personagens), em seus aspectos físicos e psicológicos, de ob- jetos e de ambientes. Nada impede que uma descrição seja expressa em um tex- to poético, como o trecho em que João Cabral de Melo Neto apresenta um dos personagens de Morte e vida Severina. - De sua formosura já venho dizer: é um menino magro, de muito peso não é, mas tem o peso de homem, de obra de ventre de mulher. - De sua formosura deixai-me que diga: é uma criança pálida, é uma criança franzina, mas tem a marca de homem, marca de humana oficina. (...) Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo 135 “De repente, cinquenta metros à sua frente, viu mais um mendi- go abordando os transeuntes em um local movimentado. Tenta- va conseguir uns trocados para uma possível refeição noturna. Tinha barba longa e branca. Seus cabelos eram revoltos como os de Einstein zombando do mundo, mas parecia que ele zom- bava era do banho. A pele estava seca, sem brilho, desidratada,roçada pelo tempo. Vestia um casaco preto, remendado com tiras brancas. Cheirava a azedo cítrico.” (Augusto Cury – O futuro da Humanidade) Compare, nos três textos literários acima, a adjetivação, os advérbios, as minúcias, a subjetividade da escrita romântica de Alencar com a concisão, a secura, a objetividade do texto modernista de João Cabral de Melo Neto e com a simplicida- de direta e enxuta de Augusto Cury. Por outro lado, você poderá perceber que os textos descriti- vos não literários ocupam-se do objeto com uma maior preci- são, com uma exatidão de detalhes, o que envolve até mesmo o vocabulário escolhido. Empregando, predominantemente, a denotação, o autor expõe como o objeto se apresenta efetiva- mente. Temos, então, o texto objetivo. A descrição não literária igualmente pode ter como alvo pessoas, objetos e ambientes. Da mesma forma que no texto literário, aqui também podemos empregar um maior ou menor grau de objetividade ou subje- tividade. Seja qual for o texto descritivo, sempre é importante levar em conta o objetivo que se pretende atingir. Há casos em que a objetividade absoluta, principalmente em áreas tecnológi- 136 Produção Textual cas, torna-se indispensável. As instruções de operação de um Boeing ou de um batiscafo, por exemplo, precisam ser rigo- rosamente objetivas, técnicas, mas, ao mesmo tempo, claras, simples, diretas, sem margem para ambiguidades ou conota- ções, sob risco de pequenos ou grandes desastres. Na sequência, você poderá observar dois exemplos de des- crições não literárias mais objetivas ou menos objetivas. NA NOVA CAPITAL DO CAZAQUISTÃO não faltam edifícios exóticos, alguns bem descritos por irreverentes apelidos locais. Banana (um vistoso prédio comercial amarelo), Sete Barris (um conjunto de prédios de apartamento), Isqueiro (o Ministério dos Transportes e Comunicações). Mas uma dessas construções, um monumento nacional chamado Baiterek, não inspira apelidos, pela simples razão de que não se parece com nada. Pelo me- nos, nada deste planeta. O Baiterek, que significa “Álamo Alto”, é uma torre de 97 me- tros, reforçada por um exoesqueleto de aço pintado de branco. No topo há uma esfera de vidro dourada. Diz a epígrafe em sua base que o monumento representa o mito cazaque de Samruk, uma ave sagrada que todo ano pôs um ovo de ouro – o Sol – na copa de uma gigantesca árvore da vida. (...) Revista National Geographic – John Lancaster – fevereiro 2012 Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo 137 O trem, de cor azul, letreiros em amarelo, locomotiva e quatro vagões, já estava parado na estação Chilca. À primeira vista, parecia inimaginável que ele pudesse mergulhar dentro daquela cordilheira. À esquerda da ferrovia, corre o Urubamba, reple- to de enormes rochas arrastadas pela enchente de janeiro. À esquerda do rio, erguem-se gigantescos morros, escalavrados, áridos, quase nus. À direita da ferrovia, quase assustador, azul e branco, surreal, entre nuvens, imenso, ergue-se o Nevado Verô- nica, cinco mil e duzentos metros, rodeado por outros picos ne- vados. Adiante, o caminho para Macchu Picchu, sempre serpe- ando as espumantes águas do Urubamba, até Águas Calientes, charmosa cidadezinha aos pés de montanhas verde-escuras, neblinosas, úmidas. Coisa de guardar na retina para sempre. (Castilho F. Schneider) Veja, abaixo, duas descrições, a primeira de uma pessoa e a segunda de um ambiente. Marcos Caruso, excelente ator teatral, é homem de limitar-se a falar o essencial. Mesmo assim, está sempre de bom humor e sorridente. Quase totalmente calvo, magro, esbelto, de estatura relativamente alta, não é dado a formalidades, o que se verifica tanto no modo de trajar como no modo de agir, marcados pela sobriedade. É inteligente, espirituoso. Também aprecia atuar na telinha. (Castilho F. Schneider) 138 Produção Textual A moradia de Chiquinha, na periferia da cidade, possui poucos cômodos, os quais, aliás, nada têm de cômodo. O ambiente maior e mais usado é aquele que serve simultaneamente de cozinha e sala. A peça possui duas portas, a rigor, uma porta e um cortinado de palitos ocos de bambu, enfiados em fios de nylon. A tal porta é a única da casa e o cortinado conduz aos demais dois “aposentos”: um banheiro e um quarto. A cozinha é aproximadamente quadrada, com cerca de 16m2. A mobília, fogão, geladeira, balcão da pia, televisão, mesa, tudo é velho. Ao entrar, logo após a porta, está um estofado um tanto ense- bado, cuja cor original é apenas adivinhável. É assim o lar da pobre criança. (Castilho F. Schneider) No que concerne ao aspecto formal do texto descritivo, é importante empregarmos os verbos com moderação, prefe- rencialmente, nas formas nominais, no presente e no pretérito perfeito do indicativo. Predominam verbos que denotam fenô- meno ou estado. Você poderá observar em todos os exemplos acima (literários e não literários) o predomínio desse tipo de verbos, embora apareçam também alguns verbos de ação. O texto descritivo faz largo uso de adjetivos, advérbios e de estruturas comparativas, o que também fica bem evidente nos exemplos apresentados. Dicas Branca Granatic (2002), em seu livro Técnicas básicas de re- dação, mostra vários esquemas que podem ser bastante úteis na produção de seus textos descritivos. Ela apresenta diversos Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo 139 esquemas que podem nortear você na elaboração de diferen- tes tipos de descrição. Granatic apresenta dois esquemas diferentes para descre- vermos pessoas, dos quais o primeiro parece ser o mais práti- co. Esse esquema propõe a elaboração de uma descrição com quatro parágrafos: introdução, dois desenvolvimentos e con- clusão. Na introdução, segundo ela, você vai dar uma ideia de caráter geral, sem pormenores. Já no desenvolvimento, você pode produzir um parágrafo abordando os aspectos físicos (altura, peso, cor, rosto, vestu- ário etc.), com muitos ou poucos detalhes, dependendo da extensão que seu texto pretende ou precisa apresentar. No pa- rágrafo seguinte, conforme tal esquema, você terá que ater-se às características psicológicas da pessoa (caráter, gostos, tem- peramento, objetivos etc.). Na conclusão cabe, então, retomar algum outro aspecto geral que você considere relevante. Os esquemas que essa autora nos apresenta para descre- ver objetos, ambientes e paisagens são semelhantes. Todos partem de ideia básica de um texto acadêmico simples, em quatro parágrafos, do tipo que você elabora a título de exercí- cio para praticar sua textualidade. Assim, ao descrever um objeto, você traça seu aspecto geral, como origem, localização (introdução), os detalhes, formato, dimensões, peso, material, textura etc. (desenvolvimento) e uma observação de caráter geral sobre sua utilidade (conclusão). 140 Produção Textual Na descrição de um ambiente, você igualmente inicia dan- do uma noção geral do mesmo na introdução, apresentando os detalhes de sua estrutura e de seu conteúdo no desenvolvimen- to, concluindo com uma observação da atmosfera do ambiente. Veja abaixo a descrição de um ambiente, no caso, uma sala de aula. Nossa sala de aula, hoje, apresenta quase todas as características típicas de um ambiente convencionalmente destinado ao ensino para alunos que frequentam um curso superior. Seu tamanho é o suficiente para abrigar os quarenta e dois alunos que compõem a turma do curso de Administração. Estamos em uma sala com aproximadamente oito metros de largura por onze de comprimento. O acesso à mesma dá-se por uma porta em folha dupla, na parte da frente. Esta abre para fora. As paredes são pintadas em um tom verde-claro, agradável aos olhos, enquanto o teto é de cor branca. O assoalho está revestido com um laminado marrom-escuro. Em toda a largura da parededianteira, há um quadro branco com cerca de um metro e vinte de altura. À direita dos alunos sentados, observam-se três grandes janelas, cobertas por persianas de cor branca. A iluminação, fluorescente, é muito boa. A mobília da sala compõe-se de quarenta e cinco classes, feitas de um material semelhante a PVC. Todas são iguais, de cor bege. Há ainda uma mesa maior do mesmo material, destinada aos professores. A pro- fessora de Redação Acadêmica, hoje, está muito bem vestida e, a título de aquecimento, solicitou esta breve descrição de nossa sala de aula. O ambiente em nossa sala de aula é bastante amistoso e agradável. Os professores são bastante didáticos e eficientes. A maioria dos colegas são solícitos uns com os outros, o que, possivelmente, é favorecido pelo fato de a maioria dos professores organizarem os alunos em círculo. (Castilho Schneider) Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo 141 Independente da tipologia textual, escrever, sobretudo es- crever bem, requer muita leitura e, acima de tudo, muita práti- ca. Podemos comparar a boa textualidade com natação e com o ato de dirigir. Como na escrita, para bem nadar e bem diri- gir, você pode estudar e até decorar todas as teorias existentes sobre a melhor forma de desempenhar essas atividades. Mas, sem dirigir, não dirige nada e sem nadar, não nada nada. Eis aí um paralelo que nos dá uma ideia do quanto é importante praticar a escrita, para que um acadêmico se torne um produ- tor de textos coesos, coerentes e claros. Recapitulando Desejamos ter deixado claro que o ato de descrever, essen- cialmente, caracteriza-se como uma espécie de fotografia em forma de palavras e que os textos de natureza descritiva po- dem apresentar-se de forma objetiva ou subjetiva, sejam eles literários ou não literários. Da mesma forma, esperamos que as dicas e orientações aqui apresentadas sejam úteis para os acadêmicos da disciplina de Produção Textual dentro e fora da sala de aula. Atividades 1. Assinale as assertivas verdadeiras. a) A descrição literária ocupa-se do objeto com uma pre- cisão mais acurada do que a descrição não literária. 142 Produção Textual b) O trecho de O Guarani pode ser considerado um texto descritivo técnico-romântico. c) Para Branca Granatic, no desenvolvimento de uma redação descritiva, fazem-se apenas comentários dos aspectos psicológicos. d) Há aspectos comuns entre a atividade de descrever e a de pintar. e) Um texto descritivo, em geral, emprega adjetivos e ver- bos que não expressam movimento. 2. Analise as afirmações abaixo, para assinalar a alternativa correta. I) A presença de verbos de ligação é comum nos textos des- critivos. II) A linguagem conotativa costuma predominar nos textos des- critivos não literários. III) Em um texto descritivo técnico a objetividade absoluta pode ser fundamental. a) Apenas I está correta. b) I e II são falsas. c) I e III são verdadeiras. d) As três assertivas constituem verdades. e) Apenas a terceira afirmação contém uma verdade. Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo 143 3. Assinale a alternativa que pode ser considerada verdadei- ra, de acordo com o que você estudou no capítulo. a) Na introdução de um texto descritivo, é frequente ana- lisarmos um detalhe que posteriormente será retoma- do no desenvolvimento. b) Não constitui erro empregar uma maior objetividade na descrição dos aspectos físicos do que na dos psico- lógicos. c) Devido à quantidade de recursos de imagem, hoje, dificilmente, um texto descritivo precisa dar conta de como um objeto é na realidade. d) O texto descritivo, no geral, prescinde do emprego de formas nominais. e) A classe gramatical mais empregada no texto descriti- vo é o advérbio. 4) Indique a única assertiva correta, no que diz respeito à tipologia textual. a) Uma descrição literária tem como alvo exclusivamente pessoas, objetos e ambientes. b) Segundo Branca Granatic (2002), ao descrever um objeto, cabe traçar inicialmente seu aspecto geral, para, depois, expor seus detalhes. c) Ao descrever personagens (tipos) em seus aspectos fí- sicos, emprega-se, preferencialmente, a subjetividade. 144 Produção Textual d) Uma descrição literária preocupa-se sempre com a exatidão do objeto descrito. e) O texto descritivo não literário vê o objeto sem obser- var os detalhes físicos com precisão. 5) Considere as assertivas e, então, marque a alternativa cor- reta. I – Uma descrição pode estar presente até mesmo em um texto poético. II – Tanto em um texto literário como em um não literário po- dem verificar-se a objetividade e a subjetividade. III – É comum a presença de ambiguidades na descrição de um objeto mecânico, como um motor. a) Somente a I é verdadeira. b) Apenas a II está correta. c) I e II são afirmações verídicas. d) Somente a III está correta. e) II e III são verdadeiras. Referências bibliográficas ALENCAR, José de. O guarani. 11. ed. São Paulo: Ática, 1984. GRANATIC, Branca. Técnicas básicas de redação. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2002. Capítulo 8 Caracterização e Estrutura do Texto Descritivo 145 KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de produção textual. 2. ed. São Paulo: Contex- to, 2011. MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. 26. ed. Português instrumental: de acordo com as normas da ABNT. São Paulo: Atlas, 2007. NETO, João Cabral de Melo. Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Record, 1976. Revista National Geographic. Astana. Ano 12 – nº 142 – 31/01/2012 – Gabarito 1. d, e; 2. c; 3. b; 4. b; 5. c. Castilho Francisco Schneider Maria Lizete Schneider Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata, Ofício, Requerimento, E-mail ÂÂNo Capítulo 8, você teve oportunidade de estudar no que consiste o texto descritivo, cuja aplicabilidade acadêmica está, consideravelmente, presente ao longo de diversos cursos. Saber escrever bem é uma atividade que, além de exigir prática, requer capacidade de observação e uma considerável sensibilidade. Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 147 No presente capítulo, vamos analisar brevemente quatro tipos de textos técnicos, dos quais, ao longo de sua carreira, você certamente terá que lançar mão alguma vez. O ofício, o requerimento, a ata e o e-mail constituem alguns dos tipos de redação técnica mais empregados na correspondência oficial e entre empresas. Para ampliar seu domínio sobre o uso ade- quado desses documentos, o importante é praticar bastante. Antes de detalharmos esses textos, é necessário que você re- vise algumas qualidades de estilo já estudadas no Capítulo qua- tro: clareza, concisão e correção gramatical, para que eles atin- jam seu objetivo principal, a comunicação de forma eficiente. Outro aspecto relevante a ser considerado nesses textos oficiais é a impessoalidade, enfatizada no Manual de Redação da Presidência da República (2002). Isso evita a presença de impressões pessoais nessas correspondências, pois, embora assinadas por um indivíduo, representam um Serviço Público. Também trataremos aqui de algumas introduções e fechos mais modernos para esses tipos de textos, já que ainda há al- guns vícios no emprego dos mesmos. Hoje, temos necessidade de comunicação mais rápida e objetiva. Introduções e fechamentos mais eficientes É interessante observarmos que nesses tempos de Internetês, de pressa e concisão, soam quase barrocas algumas expressões que muitos insistem em manter em uso nas introduções e nos fechos de ofícios e cartas comerciais. A persistência de seu emprego ca- racteriza um estilo administrativo-burocrático e ultrapassado que 148 Produção Textual não condiz com a fluidez necessária na comunicação moderna.O importante, hoje, é ir direto ao “miolo” da mensagem. Deparamo-nos com muitas introduções e fechamentos de textos que empregam palavras e expressões desnecessárias, as quais nada acrescentam à essência da mensagem. Essas só tomam espaço e tempo do leitor. Introduções Em vez de Utilize... Vimos, por intermédio do presente, levar ao conhecimento de V.Sa. que... Informamos a V.Sa. que... Este tem por finalidade levar ao conhecimento de V.Sa. que Informamos a V.Sa. que.... Temos a satisfação (honra, prazer...) de comunicar a Vossa Senhoria que... Comunicamos a Vossa Senhoria que... Anexo à presente segue... Cumpre-nos informar.... Anexamos... Informamos ou outro que se adeque.... Fechos Nossos protestos de elevada estima e consideração (ou apreço)... *Respeitosamente, (para autoridades superiores, inclusive o Presidente da República) Sem mais para o momento... *Atenciosamente, (para autoridades de mesma hierarquia ou hierarquia inferior) Sendo o que se nos oferece para o momento... Nada diz ao leitor da mensagem esta frase. * Segundo o Manual de Redação da Presidência da República, os quinze fechos usados anteriormente foram padronizados em apenas esses dois. Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 149 Vejamos agora mais detalhadamente os quatro tipos de correspondência que este capítulo propõe analisar. Ofício Podemos definir ofício como comunicação escrita usada, prin- cipalmente, pelos órgãos do governo e autarquias. É empre- gado pelas autoridades entre si, entre subalternos e superiores, e entre a Administração e particulares, em caráter oficial, con- forme Kaspary (2007). Ainda, segundo Kaspary (2007), geralmente, o ofício trata de conteúdos administrativos, porém pode abordar também assuntos de caráter social, vinculados aos relacionamentos das autoridades, em virtude de seu cargo ou função. Partes do ofício 1) Timbre (cabeçalho) – identifica o órgão expedidor. 2) Índice e número – iniciais do órgão expedidor, seguidos pelo número do ofício. É colocado junto à margem es- querda. Ex.: Of. nº DP/156/2012 (Ofício nº 156, do ano de 2012, expedido pelo Departamento de Pessoal). 3) Local e data – na mesma altura do índice e do número, em direção à margem direita. Não se abrevia a localida- de. Ex.: Porto Alegre, 19 de abril de 2012. 150 Produção Textual 4) Assunto – resumo do assunto principal, utilizado apenas quando os ofícios são extensos. É colocado junto à mar- gem esquerda. 5) Vocativo – tratamento e cargo ou função do destinatário, seguidos, de preferência, por dois-pontos (:). O Manual de Correspondência da Presidência da República (2002) utiliza uma vírgula (,) e inicia o parágrafo, abaixo, com letra maiúscula. Ex.: Senhor Superintendente: Senhor Superintendente, 6) Texto – exposição do assunto. Vide introdução de ofício no quadro acima. Se o ofício for longo, recomenda-se nume- rar os parágrafos, com exceção do primeiro. 7) Fecho – fórmulas de cortesia. Ver fechos de ofício no qua- dro acima. 8) Assinatura – nome do remetente, seu cargo ou função. O designativo do cargo ou função deve vir separado por vírgula, pois trata-se de um aposto. Ex.: Aline Moraes, Presidente. 9) Endereço – (destino) caracterização do tratamento e de- signação do cargo ou função do destinatário, seguidos da localidade de destino. O endereço é colocado embaixo, junto à margem esquerda da folha, no ofício dito tradicio- nal. Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 151 IMPORTANTE: No ofício indicado no Manual de Correspon- dência da Presidência da República (2002), o endereçamento será colocado logo após o índice e o número do ofício. Veja o segundo exemplo de esquema abaixo. Ex.: Ao Senhor Domingos Oliveira, Delegado de Polícia de Gramado, Gramado – RS. Mesmo que o ofício tenha mais de uma folha, o endereça- mento irá somente na primeira. 10) Iniciais – siglas do redator e do digitador em maiúsculo. 11) Uma diagonal (/) logo abaixo do endereçamento, junto à margem esquerda, significa que o documento contém anexos, cuja quantidade é indicada logo após a diagonal. Ex.: /3 (contém 03 anexos). ESQUEMA DE DIGITAÇÃO, conforme Kaspary (2007), de um Ofício tradicional. Esta apresentação é utilizada na Câmara de Deputados, con- forme Manual de Redação Oficial da Câmara de Deputados (2004), que pode ser acessado pela Internet, site:bd.camara. gov.br/bd/bitstream/.../bdcamara/.../manual_redacao.pdf 152 Produção Textual TIMBRE Índice e número Local e data.................. 3 espaços duplos 2,5 cm) vocativo: ------------------ 3 espaços duplos início do texto de introdução. ---------------------------- 1,5 cm 3 cm --------------------------------------------------------------------- ---------------- ---------------------------------------------------------------------------- --------- início do texto de explanação --------------------------- ---------------------------------------------------------------------------- --------- ---------------------------------------------------------------------------- --------- 2 espaços duplos fecho ---------------------------------- 3 espaços duplos assinatura, cargo ou função. Endereçamento.................... ............................................ 2 espaços duplos iniciais....................... Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 153 Exemplo de ofício TIMBRE Of. n° 04/12 Canoas, 16 de março de 2012. Senhora Coordenadora: Informamos a Vossa Senhoria que os alunos, de quarta a oita- va séries, desta Unidade Escolar irão participar das Olimpíadas de Língua Portuguesa que ocorrerão durante o mês de outubro deste ano. Atenciosas Saudações, Hermes da Fonseca, Diretor. A Senhora fulana de tal Coordenadora do COMDEC – Canoas – RS MEG/MLS ESQUEMA DE DIGITAÇÃO, conforme o Manual de Redação Oficial da Presidência da República (2002). Esta nova apresentação é utilizada nos órgãos Federais que seguem o Manual de Redação Oficial da Presidência da República e pode ser acessado pela Internet, site: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/manual/ManualRedPR2aEd.PDF 154 Produção Textual TIMBRE Índice e número Local e data.................. 3 espaços duplos Endereçamento.................... ............................................ 2 espaços duplos Assunto: __________________ 2,5 cm vocativo: ------------------ 3 espaços duplos início do texto de introdução. ---------------------------- 1,5 cm 3 cm --------------------------------------------------------------------- ---------------- ---------------------------------------------------------------------------- --------- início do texto de explanação --------------------------- ---------------------------------------------------------------------------- --------- ---------------------------------------------------------------------------- --------- 2 espaços duplos fecho ---------------------------------- 3 espaços duplos assinatura, cargo ou função. 2 espaços duplos iniciais....................... Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 155 Requerimento Este é um tipo de correspondência ao qual um cidadão pode recorrer para solicitar a uma autoridade pública ou serviço público, a apreciação ou solução de um caso do peticionário (pessoa física ou jurídica). O requerimento caracteriza-se por ter amparo legal, sendo essa a razão pela qual só pode ser dirigido a autoridades públicas. Para solicitações de natureza semelhante, quando dirigi- das a instituições particulares empregamos a carta ou o ofício. Todavia, segundo Kaspary (2007), podemos dirigir um reque- rimento a um colégio particular, uma vez que exerce uma es- péciede delegação de atividade própria do poder público. Estrutura do requerimento 1) Vocativo ou Destinatário – título, nome do cargo ou fun- ção e, em muitos casos, o endereço da autoridade desti- natária. Evita-se empregar o nome civil da autoridade. 2) Identificação e qualificação do requerente – se pessoa física, nome (em maiúsculo) e outros dados pessoais (na- cionalidade, estado civil, idade, naturalidade, domicílio, identificação documental (CIC e CI), profissão etc.) do re- querente. Dependendo da natureza da solicitação, podem se fazer necessários dados mais ou menos específicos. Assim, se você se dirigir à Universidade, um dado funda- mental é seu número acadêmico, o qual, em uma solici- 156 Produção Textual tação dirigida à Prefeitura, não vem ao caso. Tratando-se de pessoa jurídica, é importante informar nome e outros dados (endereço, ramo de atividade etc.) da entidade re- querente, igualmente de acordo com a natureza do pedido e as exigências da repartição à qual o documento se des- tina. Quando se trata de requerimento individual de pessoa física, é dispensável, por ser desnecessária, a expressão “abaixo assinado” após o nome do requerente, já que este, de qualquer maneira, terá de assinar o documento. O requerente, seja uma pessoa física, ou pessoa jurídica, sempre deve expressar-se na terceira pessoa: FULANO DE TAL requer......(jamais: requeiro ou venho requerer). 3) Texto – explanação do pedido que pode buscar apoio em leis, decretos, portarias etc., bem como manifestar seu mo- tivo e finalidade, tudo expresso em uma linguagem clara e concisa. Nos tempos de hoje, estão completamente fora de uso expressões do tipo “vem mui respeitosamente...”, “vem à presença de...”, “para que se digne a...” e outras do mesmo estilo, as quais costumavam acompanhar o ver- bo requerer, que introduz a formulação propriamente dita do pedido. Basta empregar o verbo requerer, su- ficientemente claro e expressivo por si só. Não se está pedindo nenhum favor e, além do mais, não só a fala mas também a linguagem empregada em documentos evoluiu. Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 157 4) Fecho – fórmulas de cortesia, que, aliás, tendem a ser abolidas. – Nestes termos, Pede deferimento. ou abreviadamente: N.T. P.D. – Termos em que pede deferimento ou abreviadamente: T. E. Q. P.D (pouco usada) – Espera deferimento. ou abreviadamente: E.D. – Aguarda deferimento. ou abreviadamente: A.D. – Pede deferimento. ou abreviadamente: P. D. Deve-se evitar a fórmula “Pede e espera deferimento”. Para quem pediu, é óbvio, só resta esperar... 5) Local e data. 6) Assinatura. 158 Produção Textual Exemplo de requerimento Excelentíssimo Senhor Secretário da Educação do Município de Canoas: FULANO DE TAL, brasileiro, separado judicialmente, CI, CIC, empresário, residente na rua Cel. Genuíno, 130, em Porto Ale- gre, tendo estudado na Escola Municipal Josué Guimarães no ano de 1991, requer a Vossa Excelência que lhe seja fornecida uma cópia do seu Histórico Escolar desse período. Nestes Termos, Pede deferimento. Canoas, 16 de março de 2012. FULANO DE TAL Ata Ata é um documento que constitui o resumo escrito dos fatos e das decisões tomadas em uma assembleia, sessão ou reunião para um determinado fim. É necessário que ela seja um regis- tro metódico e exato. Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 159 Normas para elaboração Uma ata, geralmente, é transcrita a mão pelo secretário da reunião, em livro próprio. Este deve conter um termo de aber- tura e um termo de fechamento, ambos assinados pela auto- ridade máxima da entidade ou por quem receber daquela au- toridade delegação para tanto. A mesma autoridade também deve numerar e rubricar todas as folhas do livro. Uma vez que a ata constitui documento de valor jurídico, deve ser lavrada de tal forma, que nada lhe poderá ser acres- centado ou modificado. Em caso de ocorrer um engano de redação, o secretário deverá usar a expressão “digo”, com o fim de retificar o pensamento. Se esse engano for notado no final da ata, escreverá, então, a expressão – “em tempo: Onde se lê........, leia-se.......”. Os números devem ser escritos por extenso em atas, evitan- do-se, também, as abreviações. No intuito de se evitar acrés- cimos, as atas devem ser redigidas sem deixar espaços em branco e sem margem de parágrafos. Preferencialmente, emprega-se o pretérito perfeito do modo indicativo na redação desse documento. Em relação à assinatura, todas as pessoas presentes de- vem fazê-la ou, quando deliberado, apenas o presidente e o secretário. Também é permitida a transcrição da ata em folhas digita- das (ou datilografadas), desde que as mesmas sejam conve- nientemente arquivadas, o que impossibilita fraude. 160 Produção Textual A ata deve ser redigida por um secretário do órgão ou, na ausência desse, por um secretário “ad hoc”, isto é, eventual, designado na ocasião da reunião ou somente para ela. Esse documento deve ser um registro fiel dos fatos trans- corridos em uma determinada reunião e, por essa razão, sua linguagem deve ser simples e despretensiosa, clara, precisa e concisa. Há casos muito especiais em que são usados formulários já impressos, como os das seções eleitorais, por exemplo. Partes da ata As partes que compõem uma ata variam de acordo com a na- tureza das reuniões cujos eventos a mesma registra. Todavia, as mais indispensáveis e que com mais frequência aparecem, além do título e das assinaturas, são as que seguem: 1) dia, mês, ano e hora da reunião (por extenso); 2) local da reunião; 3) pessoas presentes, devidamente qualificadas (conselhei- ros, professores, delegados etc.); 4) presidente e secretário dos trabalhos; 5) ordem do dia (discussões, votações, deliberações etc.); 6) fecho. Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 161 Exemplo de ata TIMBRE Ata da reunião ordinária nº 02/2008 Aos vinte e sete dias do mês de março de dois mil e doze, às dezoito horas e trinta minutos, reuniram-se no auditório da Escola Estadual de Ensino Fundamental Josué Guimarães, a equipe diretiva, professores, funcionários, pais e alunos para uma reunião geral a fim de tratar do Calendário Escolar de dois mil e oito. A direção apresentou o calen- dário distribuído da seguinte forma: início do ano letivo em três de março de dois mil e oito, encerrando-se o primeiro semestre em vinte e três de julho do corrente ano; na sequência haverá um recesso de uma semana até dois de agosto para os alunos e trinta de julho para os professores; o segundo semestre iniciar-se-á em quatro de agosto de dois mil e oito, encerrando aos vinte e dois de dezembro do mesmo ano. Também ocorrerão atividades letivas nos sábados a saber: dez de maio (homenagem ao Dia das Mães, aniversário da Escola, dia da Solidariedade); dia cinco de julho (comemoração de Festa Junina); dia treze de setembro (homenagem à Semana Farroupilha). Os feriados previstos são Sexta Feira Santa, em vinte e um de março, Tiradentes, em vinte e um de abril, dia do Trabalho, nos dias um e dois de maio, Corpus Christi, nos dias vinte e dois e vinte e três de maio e dia do Professor em quinze de outubro. Os presentes aprovaram na íntegra esse calendário. Não havendo outros assuntos na pauta a diretora en- cerrou a reunião. Nada mais havendo a constar, lavro a presente ata, que será assinada por mim e pelos demais presentes. Canoas, vinte e sete de março de dois mil e oito. Maria Lizete Schneider – secretária. Juçara Rodrigues – diretora........................................................... ..................................................................................................... .............................................. ................................................................................................................................................... 162 Produção Textual E-mail (Correio eletrônico) Embora o e-mail não seja uma correspondência especifica- mente oficial, merece aqui uma breve análise, pois é um tipo de comunicação que está presente em quase todos os estilos de correspondência. A palavra e-mail tem sua origem em electronic mail (do inglês). Constitui um tipo de texto que se caracteriza pela ra- pidez, baixo custo, facilidade operacional e comunicação em tempo real, concorrendo com outros tradicionais meios de co- municação. Por ser um texto de veiculação praticamente instantânea, o e-mail requer uma série de cuidados, no que diz respeito à correção gramatical, pois um texto mal escrito revela pressa e falta de cuidado, além de sinalizar falta de respeito com o des- tinatário. Como em qualquer outra correspondência, o e-mail é portador da imagem do órgão público ou da empresa em nome do qual é emitido. É fundamental observar também o cuidado com a clareza, concisão, impessoalidade e linguagem gentil. Estrutura Estrutura: - vocativo; - texto; - forma de despedida; - nome do emitente; – (as outras informações, já estão no corpo do próprio e-mail). Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 163 Exemplo de e-mail Sr. Álvaro Silva Informamos que a diretoria não deverá aprovar o projeto da for- ma como ele se encontra, porque a quantia a ser desembolsada para a sua execução é vultosa. Atenciosamente, Laura Alves. De: Remetente da mensagem Para: Receptor da mensagem Cc: (Com cópia) Outros receptores da mensagem Assunto: Identificação do assunto a ser tratado na mensagem Neste capítulo, vimos que os documentos escritos são de grande importância, tanto para quem escreve quanto para quem lê. Por isso, reforçamos aqui a ideia de que a redação de documentos deve ser de forma clara, concisa e impessoal. Assim, observando esses itens, fica mais fácil o repasse de in- formações e o entendimento para o nosso leitor. Devido ao reduzido espaço disponível para cada capítulo, foram analisados aqui apenas quatro tipos de Correspondên- cia Oficial: Ata, Ofício, Requerimento e E-mail. Cremos que os mesmos sejam de ampla aplicação na carreira do pedagogo. Cientes da existência de diversos outros tipos, recomendamos que, em caso de necessidade, livros exclusivos sobre Corres- pondência Oficial podem e devem ser consultados. 164 Produção Textual Recapitulando Você viu, neste capítulo, algumas informações elementares so- bre a construção e o uso de alguns tipos de correspondência oficial. Certamente, ao longo da carreira profissional, você terá que escrever ofícios, enquanto comunicação de algum órgão público ou de uma autarquia, dirigir-se a uma autorida- de através de requerimentos, ou registrar os fatos de reuniões pedagógicas por meio de atas e, até mesmo, enviar e-mails, embora esse último tipo não seja uma correspondência oficial propriamente dita. Por essa razão, é necessário que estas mo- dalidades textuais sejam bem dominadas. Atividades 1. Marque V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações abaixo, considerando os aspectos gerais da correspondên- cia oficial. ( ) Opiniões e posicionamentos pessoais devem ser evita- dos em correspondências oficiais. ( ) Não há problema algum em empregar a primeira pes- soa em uma correspondência que representa um ser- viço público. ( ) O Manual de Redação da Presidência da República não se manifesta a respeito da impessoalidade em tex- tos oficiais. Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 165 ( ) Com a pressa dos dias atuais, não se veem mais textos que empregam expressões desnecessárias. ( ) Não fica bem o uso de expressões arcaicas nas intro- duções e nos fechos de ofícios. Escolha a alternativa que contempla a sequência cor- reta. a) V, F, F, F, V. b) F, V, F, F, V. c) V, F, V, F, F. d) V, V, V, F, F. e) F, F, V, V, V. 2. Assinale a alternativa que apresenta uma introdução mo- derna para uma correspondência oficial. a) Temos o prazer e a satisfação de comunicar a Vossa Senhoria que... b) Vimos, por intermédio da presente, levar ao conheci- mento de Vossa Senhoria que... c) Comunicamos a Vossa Senhoria que... d) Este tem por finalidade coloca Vossa Senhoria a par de... e) É com imenso prazer que vimos à presença de Vossa Senhoria comunicar que... 166 Produção Textual 3. Três dos fechos abaixo não dizem nada a um possível lei- tor, além de serem ultrapassados. Indique-os. a) Respeitosamente.... b) Sem mais para o momento... c) Nossos protestos de estima... d) Sendo o que se nos oferece para o momento... e) Atenciosamente... 4. Assinale a única afirmação verdadeira. a) O ofício caracteriza-se como uma comunicação inter- na empregada por órgãos públicos. b) Normalmente, um ofício trata de conteúdos adminis- trativos. c) Predominantemente, ofícios são usados para abordar assuntos sociais. d) O cabeçalho, ou timbre é dispensável em ofícios. e) Não é necessário que um ofício tenha um número e o nome do órgão expedidor. 5. Considere as três assertivas para, depois, indicar a alterna- tiva correta. I – Em um ofício longo, é recomendável enumerar os parágra- fos. II – O requerimento pode ser utilizado por cidadãos para solici- tar a uma autoridade ou serviço público a solução de um caso. Capítulo 9 Correspondência Oficial – Ata... 167 III – A ata constitui um documento escrito o qual registra as ocorrências e as decisões de assembleias e reuniões em geral. a) Apenas a I é afirmação verídica. b) I e II são verdadeiras. c) II e III são afirmações incorretas. d) Apenas a III é verdadeira. e) I, II e III são verdadeiras. Referências bibliográficas KASPARY, Adalberto J. Correspondência oficial: normas e mo- delos. 18.ed. Porto Alegre: Edita, 2007. Manual da Redação Oficial da Presidência da República, 2002. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/Ma- nualRedPR2aEd.PDF Manual de Redação Oficial da Câmara de Deputados – 2004. bd.camara.gov.br/bd/bitstream/.../bdcamara/.../manu- al_redacao.pdf Redação empresarial/ [Obra] org. pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). – Curitiba: Ibpex, 2008. MEDEIROS, João Bosco. Correspondência: técnicas de comu- nicação criativa. 19.ed. São Paulo: Atlas, 2008. 168 Produção Textual Gabarito 1) a; 2) c; 3) b, c, d; 4) b; 5) e. Castilho Francisco Schneider Maria Lizete da Silva Schneider Capítulo 10 Sutilezas da Língua Portuguesa ÂÂNo capítulo anterior, foram estudados alguns tipos de textos, cuja prática é relativamente frequente no dia a dia de diversas carreiras profissionais. Na construção deles, é comum surgirem dúvidas em relação ao emprego de certas palavras ou expressões. Eis a razão pela qual algumas delas serão analisadas no presente capítulo. 170 Produção Textual Tais expressões ou palavras precisam ser internalizadas pelo uso ou pela consulta frequente a gramáticas e dicioná- rios. Se você tem o hábito da leitura, certamente, domina boa parte delas. Algumas dessas estendem sua incerteza ao domí- nio oral, porém, a maioria limita-a ao campo da escrita. Veja, na sequência, as mais comuns. 1. A fim (de)/afim Você emprega a fim (de) para indicar meta, objetivo, fina- lidade. Estamos a fim de viajar nas férias. Afim deve ser usado para expressar semelhança, afinidade. Seu emprego não está afim com sua competência. Eles têm interesses afins. 2. Ao par/a par Empregamos ao par quando tencionamos dar ideia de va- lores cambiais. Dificilmente, o Guarani ficará ao par do Real neste século. Capítulo 10 Sutilezas da Língua Portuguesa 171 Por sua vez, escrevemos a par, quando queremos transmitir a noção de estar ciente. Ambos são normalmenteseguidos da preposição de. Fiquei a par do acidente quinze minutos após sua ocorrência. 3. A cerca de/acerca de/há cerca de A semelhança fonética dessas três expressões contribui para que o acadêmico confunda seu uso correto. A expressão a cerca de denota distância ou tempo até de- terminado local ou evento. Encontramo-nos agora a cerca de cem quilômetros da fronteira. Estamos a cerca de duas horas do início do espetáculo. Usamos acerca de para indicar o mesmo que a respeito de, sobre. Prefiro calar acerca desse assunto. Já há cerca de indica um tempo decorrido ou uma quanti- dade aproximada. 172 Produção Textual Já moro aqui há cerca de doze anos. Há cerca de dois mil desaparecidos após o temporal. 4. Ao encontro de/de encontro a A primeira dessas duas locuções você usa para dar a no- ção de favorável a, para junto de. Essa eleição vem ao encontro de interesses escusos. De encontro a, por sua vez, significa contra, em oposição a, movimento contrário. A derrota política veio de encontro aos interesses do ex-prefeito. 5. A/há Ambas as palavras podem indicar tempo. Eis aí a principal razão de eventuais dúvidas. A denota um tempo ainda por vir e não tem valor de faz, enquanto há indica tempo decorrido, sendo equivalente a faz. Eu nasci há cinquenta anos. Não existiremos daqui a um bilhão de anos. Capítulo 10 Sutilezas da Língua Portuguesa 173 6. Para eu/para mim Empregamos para eu (tu, nós...) quando temos o pronome pessoal na função de sujeito. No geral, segue infinitivo impes- soal ou pessoal (flexionado). Era para nós estarmos aqui às três horas. É para eu escrever este capítulo? Para mim (ti, você...) é usado quando a expressão não é seguida de verbo ou o pronome não for sujeito do verbo que ali estiver. (Mim não age.) Traga duas caixas de trufas para mim. 7. Em fim/enfim Na primeira expressão, fim é substantivo e ela significa no final, ao passo que enfim é advérbio com sentido de finalmente. Em fim de linha não separamos a palavra aí. Ufa! Até que enfim vocês chegaram. 174 Produção Textual 8. Em vez de/ao invés de Em vez de tem o sentido de em lugar de, em substituição a. Em vez de aula, tivemos uma palestra no auditório. Já ao invés de significa ao contrário de. Ao invés de suspender o ataque, resolveram intensificá-lo. 9. Aonde/donde/onde Aonde expressa movimento para algum lugar e é usado com verbos de movimento. Você vai aonde nas férias? Podemos dizer que donde é oposto de aonde, pois, igual- mente, é empregado com verbos que expressam movimento, mas de algum lugar, procedência, causa. Donde você tirou essa ideia? Já onde, a mais empregada dessas três palavras, deve ser usada com verbos em situações estáticas, que não expressem movimento. Capítulo 10 Sutilezas da Língua Portuguesa 175 Onde fica a lotérica mais próxima? Não sabia onde estava minha agenda. 10. O porquê dos porquês São quatro as variações que “essa palavra” pode sofrer, dependendo do seu sentido e da sua posição na frase. a) Porque (uma palavra) é a forma mais encontrada e tem o sentido de porquanto, por causa que, pois. É articulador de causalidade. Vamos sair daqui, porque isto vai explodir. Porque faltou chuva, diminuiu a produtividade da soja. b) Porquê (uma palavra) é um substantivo, aceita artigo e plural. Ignoro os porquês da ignorância do ditador. Entender o porquê de uma tese é essencial. c) A expressão por que (duas palavras) sempre é cons- tituída pela preposição por, seguida pelo pronome que, sendo equivalente às expressões por que motivo, pelo(a) qual, o motivo pelo qual (singulares ou plu- rais). 176 Produção Textual Você sabe as razões por que desisti da festa. Desconheço por que ele se atrasou tanto. d) Por quê (duas palavras) é empregado em fim de per- guntas diretas, ou em frases positivas que terminam com essa expressão. Você faltou à reunião, por quê? Ela se irrita facilmente, mas hei de descobrir por quê. 11. A princípio/em princípio A primeira dessas expressões emprega-se para indicar início, inicialmente. A princípio, a viagem transcorreu bem. Você emprega em princípio como sinônimo de em tese. Em princípio, não temos por que discordar da teoria da relati- vidade. 12. Se não/senão Você escreve esta expressão separado toda vez que a partí- cula se puder ser trocada por caso (condicionalidade). Capítulo 10 Sutilezas da Língua Portuguesa 177 O acordo será nulo, se não cumprires a tua parte. Senão pode ter a acepção de caso contrário, a não ser, mas, defeito (substantivo). Sua imagem não era nada, senão frivolidades. Nada podíamos fazer nada, senão rir da situação. 13. Demais/de mais Demais é um advérbio de intensidade, sendo sinônimo de muito ou é pronome indefinido (os outros), quando precedido de os. Com o calor, o trabalho físico cansa demais. Enquanto um fala, os demais ouvem. Já de mais significa em excesso, em demasia, é o contrário da expressão de menos. Não farei o concurso: há candidatos de mais. 14. Cujo Empregamos esse pronome relativo para indicar posse, como sinônimo das locuções de que, do qual, de quem. Cujo 178 Produção Textual estabelece uma relação de posse entre o termo anterior e o posterior. Jamais cujo(a), cujos(as) são seguidos de artigo. Concorda com a coisa possuída. A estória, cujo conteúdo parece falso, é escabrosa. O ouro, cujas características são, desde muito, apreciadas, já causou muitos infortúnios. 15. Ver/vir Estes dois verbos são motivo de frequentes dúvidas na re- dação de acadêmicos. Isso verifica-se, principalmente, nas formas (flexões) em que ver assume i e vir assume e. Certa- mente, o agravamento dessa dúvida está no fato de o futuro do subjuntivo do verbo ver flexionar-se exatamente igual ao infinitivo pessoal do verbo vir. Nesse caso, apenas o contexto pode nos revelar qual dos dois verbos está sendo empregado. No dia em que vocês virem a aurora boreal, jamais esquecerão a imagem. (ver) Prepararam-se por meses para virem ao show de Madonna. (vir) Há outros tempos desses dois verbos que, eventualmente, também são confundidos, como o pretérito perfeito de ambos ou o futuro do subjuntivo de vir. Capítulo 10 Sutilezas da Língua Portuguesa 179 Nós vimos o que aconteceu ao vivo. (ver) Viemos para a festa com trajes adequados? (vir) Quando viermos, queremos encontrar toda a família reunida. (vir) Você precisa ter um cuidado especial para não usar vie- mos ao invés de vimos, problema encontrado em vários tipos de correspondências. Na frase: “Viemos aqui para rir ou para chorar?”, o correto seria usar vimos, que é o presente do ver- bo vir. 16. A nível/em nível Conforme Sacconi, é preferível evitarmos o emprego de a nessa locução, por ser mais característica da língua francesa. Em português, portanto, é mais comum usarmos em nível (de). A conferência de paz transcorreu em nível amistoso. O acadêmico que possui o hábito de leitura, desde os anos iniciais de escolarização, adquire, naturalmente, uma flexibili- dade vocabular e, quando precisa escrever de improviso, sem acesso a dicionário ou gramática, não se vê em apuros. Se quer empregar uma palavra de cuja grafia não tem certeza, recorre a algum sinônimo. Caso queira usar a palavra disen- teria, mas está em dúvida sobra a grafia da sibilante /s/ ou sobre as duas vogais (i/e ou e/i), ele poderá empregar um si- 180 Produção Textual nônimo (diarreia, por exemplo), talvez menos elegante, porém eficiente. Esperamos que as informações apresentadas no presente livro sejam de proveito, não apenas ao longo da vida acadê- mica dos potenciais usuários, mas também possam ser fonte de consulta para egressos de universidades, já atuandoprofis- sionalmente no mercado de trabalho. Recapitulando O domínio do emprego adequado das palavras e expressões apresentadas no presente capítulo, bem como de muitas ou- tras, é adquirido pelo usuário com muita leitura, com a consul- ta frequente a dicionários e gramáticas. Distinguir entre “acer- ca de/a cerca de/há cerca de”, “afim/a fim”, “ao encontro de/ de encontro a” pode fazer grande diferença e evitar interpreta- ções confusas em textos acadêmicos ou em correspondências. Atividades 1. Assinale a alternativa em que o pronome cujo está incorretamente empregado. a) Os animais, cujas espécies estão definidas no catálo- go, em sua maioria, são desconhecidos. Capítulo 10 Sutilezas da Língua Portuguesa 181 b) As caixas, cujos os conteúdos eram suspeitos, estava lacradas. c) Os textos, cujos erros assinalei, precisam ser revistos. d) Estava muito preocupada com o noivo, cujo estudo de saúde não era muito otimista. e) O povo sério, cujas vidas estão em constante perigo, quer a paz. 2. Analise as frases que seguem, para responder à ques- tão em relação ao emprego da expressão cerca de. I – A cerca de quinze anos eu morava no centro. II – Não tenho leituras suficientes para opinar acerca de lite- ratura. III – Entrei na área porque a cerca do terreno estava caída. a) I, II e III são verdadeiras. b) I e II são verdadeiras. c) I e III são verdadeiras. d) Somente I é verdadeira. e) II e III são verdadeiras. 3. Leia as afirmações que seguem e assinale V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Para enviar a correspondência, precisamos saber aon- de o cliente mora. 182 Produção Textual ( ) Já estamos a par do que ocorreu ontem aqui no escri- tório. ( ) Porque você não quis ir à festa? ( ) Você não prestou atenção: em vez de trazer linguiça, trouxe salame. ( ) Para mim dar esta resposta, preciso pensar um pouco. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. a) V, F, V, V, V. b) V, F, F, V, F. c) V, V, F, F, F. d) F, V, F, V, F. e) V, F, V, F, V. 4. Escolha as alternativas em que a expressão ou palavra su- blinhada está corretamente empregada. a) Abaixo de sol escaldante, a atividade física dos traba- lhadores da carvoaria cansava de mais. b) A seca está rigorosa, porque este ano está ocorrendo o fenômeno conhecido como El Niño. c) Ao invés de participar da natação, o atleta decidiu fa- zer a prova dos cem metros. d) Gostaríamos de saber aonde você foi ontem à noite. Capítulo 10 Sutilezas da Língua Portuguesa 183 e) A tarefa era difícil, mas em fim conseguimos concluí-la a contento. 5. Analise as três frases e, depois, indique a alternativa correta. I – A expressão “a fim de” costuma ser empregada para signi- ficar afinidade. II – “De encontro a” é empregado para denotar oposição. III- Na locução “por que”, sempre está envolvido o emprego de uma preposição. a) II e III são verdadeiras. b) Somente a I está correta. c) I e II estão corretas. d) I, II e III estão certas. e) Apenas a III é verdadeira. Referências bibliográficas CAPUTO, Ângelo... (et al.). Linguagem e comunicação nas re- lações sociais. Canoas: Ulbra, 2010. MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. 26. Ed. Português instrumental: de acordo com as normas da ABNT. São Paulo: Atlas, 2007. NETO, Pasquale Cipro; INFANTE, Ulisses. Gramática da lín- gua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1999. 184 Produção Textual SACCONI, Luiz Antonio. Não erre mais. 24. Ed. São Paulo: Atual, 1998. .................................... Nossa gramática completa. 29. Ed. São Paulo: Nova Geração, 2009. Gabarito 1. b; 2. e; 3. d; 4. b; d 5. a