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Língua Brasileira de Sinais - Libras Aula 9 Língua Brasileira de Sinais - Libras Aula 9 Sumário 1 Surgimento das línguas no mundo e origem dos tradutores intérpretes 4 1.1 O surgimento das línguas no mundo e origem dos tradutores intérpretes 4 1.2 Tradução e interpretação: encontros e desencontros 9 1.3 Tradução e interpretação do romantismo alemão 12 1.4 Surgimento de novas modalidades de prática 14 1.5 Considerações históricas 17 1.6 Estudos dos sinais 24 1.6.1 Verbos 24 4 1 Surgimento das línguas no mundo e origem dos tradutores intérpretes 1.1 O surgimento das línguas no mundo e origem dos tradutores intérpretes Desde os tempos remotos do mundo antigo, a ciência e a religião buscam respostas explicativas e conclusivas de algumas questões básicas e essenciais: a origem e o destino de tudo o que existe. O primeiro livro da Bíblia ressalta que o planeta onde ha- bitamos é o centro da criação divina que deu origem ao universo e que o homem é a “coroa” do ato criador de Deus. Pelo texto bíblico, no princípio dos tempos, só se falava uma língua em todo o mundo. E a grande diversidade de línguas é resultado de um erro do homem e castigo de Deus. Gênesis ca- pítulo 11:1-9 relata que no momento em que o homem não con- seguiu mais entender a língua do outro, eles cessaram de cons- truir a cidade, denominada “Babel”, pois o Senhor confundiu a linguagem de toda a Terra e dali eles se dispersaram por toda a superfície dela, formando a partir daí, as sociedades existentes. |_____1_____|_____2_____|_____3_____| _____4_____|_____5_____|_____6_____| 1- Sociedade Primitiva. 2- Sociedade Antiga. 3- Sociedade Medieval. 4- Sociedade Moderna 5 5- Sociedade Contemporânea 6- Dias Atuais No século XIX, estudos comparativos levaram à hipótese de realmente haver uma origem comum entre as línguas euro- peias e as asiáticas. Elas pertenceriam a uma mesma família lin- guística, denominada indo-europeu. Para os cientistas da linguagem, no entanto, a proto-Língua dessa família, não é a língua que deu origem a todas as outras. Chegou-se ao indo-europeu através da comparação de ma- nuscritos antigos em línguas orientais, como o Sânscrito, com o que já se conhecia das línguas germânicas e latinas. Quando surgiram as primeiras formas de escrita, na antiguidade, já havia uma grande diversidade linguística no mundo e não há registro da forma em que se falava naquele período. E somente a partir da comparação de línguas de famílias diferentes espalhadas pelos cinco continentes do globo terrestre, com a contribuição científica; reagrupando os esforços de lin- guistas, antropólogos, arqueólogos e geneticistas, é que se pode esperar reconstruir a história da humanidade desde o surgimento da nossa espécie. Um linguista norte-americano de grande prestígio, Noam Chomsky, havia lançado a ideia de que havia princípios univer- sais comuns a todas as línguas, herdados geneticamente. Sua teoria se desenvolveu ao longo da década de 60, propondo que além dos princípios universais, existiriam parâmetros específi- cos de cada língua, assimilados no contato do falante com sua 6 Língua materna. Um dos princípios universais é que toda língua possui su- jeito, verbo e objeto, sendo variável a ordem desses constituintes na frase. Os tópicos de estudo da ciência linguística, ocupa o pensa- mento filosófico desde a antiguidade. Platão falava em uma língua fundada na natureza; Descartes, em uma língua universal bastante fácil de aprender; Rousseau, na degeneração da linguagem dos primeiros homens. No começo do século XX, a primeira guerra mundial, mar- ca o fim das utopias universalistas. Após a segunda guerra, no entanto, a universalidade ressurge, desta vez, não como um ideal. O desenvolvimento da cibercultura impõe o inglês como língua internacional da comunicação. Além das razões históricas e econômicas, alguns fatores culturais facilitaram essa internacionalização: O inglês é bem menos submisso a uma norma acadêmica que o francês; suas numerosas variedades são reconhecidas e aceitas. David Crystal, em The Cambrige Encyclopaedia of Language, de 1987, relaciona as línguas mais faladas no mundo, que são consideradas oficiais em seus países, e o número de fa- lantes que elas possuem. O inglês aparece em primeiro lugar na lista, com 1,4 bi- lhões de falantes; o mandarim, falado na China, aparece em 7 segundo, com 1,0 bilhão de falantes, seguido do hindi, falado na Índia, com 700 milhões, e do espanhol, com 280 milhões. Em abril do ano passado, a revista Veja publicou uma entrevista com o linguista Steven Fischer, diretor do Instituto de Línguas e Literatura Polinésias da Nova Zelândia, na qual ele fazia a previsão do fim da maior parte das línguas faladas hoje no mundo. “Falam-se entre 4.000 e 6.800 idiomas na Terra. Haverá menos de 1.000 em 100 anos. Em 300 anos, não mais do que 24. Inglês, mandarim e espanhol serão as mais faladas”, diz Fischer. “Inglês certamente será a língua franca”, completa. Ele também afirma que o português falado no Brasil sofrerá gran- des transformações pelo contato com os parceiros comerciais do MERCOSUL. “Devido à enorme influência do espanhol, é bastante provável que surja uma espécie de portunhol”, declara. O linguista Carlos Vogt, diretor de redação da Com Ciência, fez uma análise das declarações de Fisher, em artigo publicado no Observatório da Imprensa, em 20 de abril do ano passado. “Não sei se o futurologismo de Fischer terá os futuros que ele desenha, na cronologia que estabelece, na velocidade que preconiza”, co- menta Vogt. “Sei, contudo, que a sua visão segue a lógica ine- xorável do processo de globalização da economia mundial e de suas consequências culturais”, completa. O que é Traduzir? - transmitir? - transferir? - tra + ducere Traduzir é transferir os jogos de linguagem de uma língua para os jogos “equivalentes” de outra língua. 8 Existe equivalência? - não há equivalência entre línguas; - tendências pós-estruturalistas – desconstrução; - desconstruindo a desconstrução. Conceitos Desconstrutivos - Originalidade; - Fidelidade da tradução; - Sentido do próprio texto; - Tradução Literal; - Tradução Técnica/tradução literária. Uma visão pragmatista da tradução Segundo HUMBOLDT (1936) - Os sistemas linguísticos são parte intrínseca de uma dada cultura, e a necessidade que há de se expressar conceitos em uma dada língua é determinada pela própria cultura. Humboldt dizia que não há qualquer relação intrínseca entre as culturas do mundo, as formalidades “univer- sais”, como: agradecer, saudar, pedir desculpas etc. são meras convenções. No entanto, o que estabelece a visão que um sujeito tem do mundo é sua cultura - socialmente compartilhada, mas única, singular - comum à seu grupo social, e ao mesmo tempo diossincrática. A rigor, não existem relações entre conceitos cul- turalmente determinados de uma cultura X e outra Y. Se X não tem qualquer contato físico com Y, os conceitos de Y pouca ou nenhuma importância têm para X. A isso equivale dizer que X, sendo uma cultura independente e autosubsistente, assim como Y, são mundos fechados, feudos culturais sem nenhuma sinapse com outros feudos. Se tal teoria for levada a fim e a cabo, fica-se 9 estabelecido que não há qualquer relação entre a língua de X e a de Y. As palavras destas línguas representam mundos diferentes, mesmo se consideradas equivalentes pelos dicionários. A desconstrução tem por objetivo desfazer as crenças na relação um a um entre palavra e sentido, entre palavras de uma língua e de outra, entre equivalências diretas e claras. Se levarmos esta teoria a rigor e ao radicalismo podemos chegar à conclusão de que toda a tradução é impossível. Não se trata de uma percepção simplista do acordo social explicitado. Não se trata de uma reunião de cúpula da ONU, com representantes de entidades linguísticas de diversas nações, para decidirem que palavras de suas línguas serão consideradas equivalentesa que palavras em outra língua. 1.2 Tradução e interpretação: encontros e desencontros “Tradução” e “interpretação” são palavras que se confun- dem na história, na prática e na academia. Enfatizando o papel do intérprete como mediador linguís- tico e social e a importância da neutralidade dessa pessoa em situações de negociação entre indivíduos e órgãos do Estado. Temos, então, uma definição ao mesmo tempo explícita e im- plícita de “interpretação” como um ramo ou forma de tradução, caracterizada pela oralidade. Existem várias semelhanças entre a tradução e a interpre- tação, que levam as duas atividades a serem contempladas como 10 uma mesma unidade, principalmente pelo leigo. No Brasil, é comum ouvir a interpretação ser chamada de “tradução simul- tânea”, nomenclatura que pressupõe o mesmo processo básico. Também no Brasil, não há distinção entre tradutor e intérpre- te para a finalidade de serviços juramentados; presume-se que quem passa na prova escrita de tradutor juramentado pode, tam- bém, exercer a função de intérprete juramentado. Na prática, o que ocorre é que intérpretes autônomos são contratados para trabalhar nas poucas instâncias de interpretação no tribunal que ocorrem. Tradicionalmente, a tradução se inseriu nos departamentos de literatura comparada, letras e linguística, onde seus aspectos filosóficos, linguísticos, sócioculturais e históricos tenderam a ser o foco principal. A pesquisa sobre interpretação, por sua vez, carece de uma tradição estabelecida, e o foco vem se estabele- cendo de acordo com a modalidade sob análise. Estudos sobre a interpretação simultânea, por exemplo, tendem a privilegiar o processo, com a consequente importância das áreas de psi- cologia cognitiva, psicolinguística, neurofisiologia e neurolin- guística. Por sua vez, as pesquisas envolvendo a interpretação na comunidade e no tribunal buscam compreender as questões éticas, sociológicas e psicológicas. (Gile 2004a: 29). Enquanto pressupõe-se que a atividade de interpretação existe desde que houve comunicação entre povos de línguas diferentes, a tradução escrita tem uma história mais curta. Entretanto, as reflexões acerca da tradução remetem a tempos muito mais remotos que as desenvolvidas sobre a interpreta- ção. Possivelmente isso se deve, em parte, à crença existente no 11 Ocidente há milênios acerca da “proximidade... entre a voz e o ser, a voz e o sentido do ser” (Arrojo 1992:413) em uma rela- ção direta, não mediada; já a palavra escrita teria perdido essa relação essencial, sendo apenas um “derivado”. Não obstante a origem dos diferentes tratamentos históricos da tradução escrita versus falada é a evidência destes que formará a base da pequena investigação histórica. É lógico pressupor que a interpretação existe há mais tem- po que a tradução escrita, e há evidências da atividade que datam de tempos antigos. A atividade sempre se fez necessária na resolução de ques- tões militares e comerciais entre povos de línguas diferentes, e normalmente não era considerada merecedora de grande remu- neração ou prestígio. No Egito, vários tipos de negociações comerciais envol- viam a participação de intérpretes. Na região de mineração de cobre na península do Sinai, aparecem em listas de trabalha- dores ao lado de mineiros e marinheiros (Hermann 1956/2001: 16). Embora a prática tenha tido uma imagem pouco ilustre, e os primeiros intérpretes tenham sido contratados dentre povos bilíngues, aparentemente sem treinamento, posteriormente os egípcios passaram a recrutar e treinar jovens para exercer essa função (ibid:17). Os romanos, por sua vez, embora não dependessem tan- to de intérpretes nas negociações com os gregos, cuja língua eles dominavam, precisavam deles para as negociações com outros povos do império: egípcios, sírios, germânicos, celtas, 12 etc. Mesmo em 400 d.C., o Ministério do Interior (Magister Officiorum) ainda registrava a existência de intérpretes de lín- guas bárbaras, que às vezes acumulavam funções diplomáticas (ibid:19). Cícero menciona um “amigo e intérprete” seu em uma carta em que, também, oferece ajuda ao filho dessa pessoa (ibid:19), demonstrando que pelo menos alguns intérpretes al- cançavam posições sociais mais elevadas. Foi durante a era romana que os primeiros ensaios sobre a tradução foram produzidos no mundo ocidental (Bassnett 2002:48-51; Furlan 2001). Os comentários de Cícero e Horácio se produziram num contexto em que se traduziam obras gregas para o latim em grande número. Como o estrato letrado da po- pulação conhecia o grego, essas traduções não tinham como ob- jetivo permitir que obras escritas nessa língua fossem compreen- didas pela população. Tinham, sim, duas finalidades: a primeira, pedagógica e a segunda, cultural. 1.3 Tradução e interpretação do romantismo alemão Schleiermacher começa por definir a prática tradutória em contraponto à interpretação: “o intérprete exerce sua profissão no campo dos negócios; verdadeiro tradutor, primordialmente no campo da ciência e da arte” (ibid p.29). Uma exceção entre os teóricos por fazer menção da interpretação, ele não divide as ati- vidades em meio oral (interpretação) e meio escrito (tradução) e, sim, as separa segundo a natureza do discurso. Assim, “o tra- dutor de artigos de jornal e de simples relatos de viagem se asso- cia primeiramente ao intérprete”. Em outras palavras, qualquer 13 tradução técnica cairia dentro da categoria de “interpretação”. Schleiermacher elaborando duas estratégias possíveis para a tradução: “ou o tradutor deixa o autor em paz e leva o leitor até ele; ou deixa o leitor em paz e leva o autor até ele. Resta ao tradutor um trabalho estrangeirizador, que consiste em relem- brar ao leitor da tradução, ao longo do texto, que aquilo que ele lê é uma tradução, em vez de lhe dar a ilusão de estar lendo algo que foi produzido diretamente pelo autor estrangeiro. O tradutor deve tentar: Transmitir aos leitores a mesma imagem, a mesma impressão que ele próprio teve através do conhecimento da língua de origem da obra, de como ela é, e tenta, pois, levá-los à posição dela, na verdade estranha para eles. (ibid: 45) O tradutor deve ler a obra que traduz com um olhar estran- geiro, e transmitir, no seu texto, essa impressão. Portanto, ele não pode ser um verdadeiro bilíngue, senão ele não conseguirá ler o texto como o leria um estrangeiro, e não terá como trans- mitir, em seu texto, seu sabor estrangeiro. O método estrangeirizador consiste, então, em aproveitar a flexibilidade morfológica, sintática e gramática que a língua já oferece e moldá-la, esticando-a, para que acomode modos de expressão que, inicialmente, lhe sejam estranhos. Com essa manipulação, a língua é desafiada, e passa a ter uma amplitu- de de expressão maior, ficando mais desenvolvida graças a esse 14 contato com o estrangeiro. 1.4 Surgimento de novas modalidades de prática O século XX foi um período de mudança inédita, tanto na prática da tradução e da interpretação como nos estudos, pesqui- sas e ideias que as acompanham. Em termos práticos, a globalização e a revolução dos meios de comunicação e da informação aceleraram todo o processo tra- dutório. Quem é tradutor recebe e entrega textos via internet de e para pessoas que supõem que se trate de um processo quase mecânico. A quantidade de textos não-literários traduzidos su- pera inimaginavelmente a quantidade de traduções literárias, e cada vez mais os textos traduzidos têm uma vida útil extrema- mente curta, como é o caso de muitos que são publicados na internet. Surgem, também, novas formas de tradução, como a legendagem, dublagem e a localização de softwares. Todas essas novidades aproximam a tradução da interpretação, no sentido em que as duas atividades passam a ter certas características em comum, em determinadas modalidades, sendo o imediatismo e a mescla de linguagem oral e escrita as mais notáveis. Os prazos de entrega de traduções “urgentes” (que tendem a sera regra e não a exceção) forçam os tradutores a produzir seus textos com uma velocidade que se aproxima da simultaneidade requerida do intérprete. A tecnologia foi responsável por uma revolução na inter- pretação, também. O início da era da interpretação simultânea 15 – que emprega microfones, fones de ouvido e cabines – veio com os julgamentos de Nuremberg e de Tóquio, depois da 2ª Guerra Mundial. Os equipamentos usados em Nuremberg ha- viam sido desenvolvidos pela IBM na década de 20 e usados pela primeira vez em 1927, na Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra. Com a nova aparelhagem, foi possível para o intérprete formular sua tradução simultaneamente – ao mesmo tempo em que o orador falava. Os intérpretes, todos acostumados com a modalidade consecutiva, estavam, na maioria, usando a tecnolo- gia pela primeira vez, uns com mais sucesso que outros. O trei- namento e as condições de trabalho eram precários, e a modali- dade em si, embora muito aplaudida pelo público e a imprensa, recebeu críticas. Durante o último meio século, a interpretação simultânea substituiu a consecutiva na maioria das situações formais de grande porte. Os primeiros cursos de formação de intérpretes em nível universitário nasceram na Europa, nas cidades de Heidelberg, Paris, Trieste e Viena. Desde então, cursos de graduação, pós- -graduação e especialização surgiram no mundo todo, atendendo às necessidades do mercado. As primeiras tentativas de fazer tradução automática (por computador) nos 50 se basearam em modelos estruturais de lín- guas individuais. Os estudiosos da tradução ampliavam seu campo de 16 atuação, lançando mão das novas teorias e perspectivas e as desenvolvendo dentro da sua área. Assim, a sociolinguística, linguística computacional, aspectos cognitivos da aquisição de línguas, semântica, pragmática, psicolinguística, linguística et- nográfica, linguística aplicada, neurolinguística, e muitas outras passaram a complementar os campos de conhecimento consa- grados que informam reflexões sobre a tradução, como a filoso- fia, filologia, história, antropologia, pedagogia, etc. Além disso, a velha dicotomia de fidelidade versus liberdade e a mal-resol- vida questão da equivalência ganharam novos tratamentos com abordagens pós-modernas. A interpretação careceu de um tratamento sério por mui- tos séculos. Em parte, isso foi devido às suas especificidades: a intangibilidade da palavra falada, além da co-dependência entre fala, contexto, local, outras partes envolvidas, etc.; ou seja, o evento mediado por interpretação e suas características. A interpretação em si não deixa rastros. Para se obter um texto para a finalidade de estudo posterior, é necessário gravar a fala tanto do orador como do intérprete. Até relativamente pouco tempo, isso era tecnologicamente impossível, e ainda hoje representa um impedimento. Mesmo quando existe a possibilidade de gravar, muitos pesquisadores encontram resistência por parte dos praticantes da profissão. 17 1.5 Considerações históricas Friedrich (1992) afirma que a história da teoria da tradução começa com o Império Romano, quando a tradução significava incorporar o assunto da cultura estrangeira em uma cultura pró- pria de uma língua sem prestar atenção às características lexicais ou estilísticas dos textos originais da língua-fonte (origem). Se no Império Romano a apropriação de conteúdo parecia despertar maior interesse nos tradutores, durante o período da Renascença, estes exploravam como as estruturas linguísticas de uma ou de outra língua poderiam enriquecer a sua própria. Dessa forma, nesses dois períodos, a tradução era vista como uma exploração rigorosa da original para acentuar as dimensões estéticas e linguísticas de sua própria língua. Então, tradutores e escritores, através de mudanças, no século XVIII, começaram a ver outras línguas como iguais e não como formas inferiores de expressão, em comparação com suas próprias línguas. Segundo alguns estudiosos, a profissão de tradutor e in- térprete é bastante antiga na América. Chegou com Cristóvão Colombo, há 500 anos, e surgiu da necessidade de comunicação com os nativos das terras recém descobertas. Como só havia in- térpretes dos idiomas árabes e hebreus, Colombo trouxe alguns nativos para serem guias e futuros intérpretes. Assim, descobri- dores e conquistadores tiveram facilitada sua tarefa com o auxí- lio desses intérpretes, que eram chamados “línguas”. Esses línguas podiam atuar como intérpretes nos julga- mentos, junto aos nativos e até nas “audiências reais”. Para exer- cer esta função, tinham que jurar que usariam sua profissão para 18 o bem e com lealdade. Campos (1986, p. 07), diz que, segundo os dicionários, “tradução é o ‘ato ou efeito de traduzir’” e “traduzir vem do verbo latino traducere, que significa ‘conduzir ou fazer passar de um lado para outro’” e define, então, que “traduzir nada mais é que isto: fazer passar de uma língua para outra, um texto escrito na primeira delas. Quando o texto é oral, falado, diz-se que há ‘interpretação’, e quem a realiza então é um intérprete”. Portanto percebe-se que na visão do autor, a tradução falada não seria uma tradução e sim uma interpretação. Cabe ressaltar, ainda, que este autor defende que nenhuma tradução pode ter a pretensão de substituir o texto original, pois é apenas uma tentativa de recriação dele. E sempre poderão ser feitas outras tentativas. Não se traduz afinal de uma língua para outra, e sim de uma cultura para outra; a tradução requer assim, do tradutor qualificado, um repositório de conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos poucos ampliando e aperfei- çoando de acordo com os interesses do setor a que se destine o seu trabalho. (CAMPOS, 1986, p.27,28). A tradução se orienta através de dois fatores que são cha- mados de equivalência textual e correspondência formal. Isto quer dizer que “uma boa tradução deve atender tanto ao conteú- do quanto à forma do original, pois a equivalência textual é uma questão de conteúdo, e a correspondência formal, como o nome está dizendo, é uma questão de forma” (p.49). 19 A tradução entre línguas diferentes como um processo de comunicação, inevitavelmente, tem alguma perda de informa- ção como qualquer situação de comunicação e pode ser conside- rada como um fator implícito nesse processo. Para Frota (1999, p.55), (...) a tradução passa a ser consi- derada uma reescritura, um texto que inevitavelmente transfor- ma o texto estrangeiro, não só devido às diferenças estritamente linguísticas, mas, sobretudo, devido às diferentes funções que o texto traduzido pode ter na cultura de chegada. Portanto, a tradução, segundo a autora desse ensaio, passa por uma situação de reescrita, devido às diferenças linguísticas, mas, principalmente, devido às diferenças culturais da outra língua. Já, Wyler (1999, p.97), parte do pressuposto de que a tra- dução é uma interação verbal, cuja forma e tema se encontram ligados às condições sociais e reagem de forma muito sensível às flutuações dessas condições. Na visão de Ladmiral (1979, p.15): A tradução é um caso particular de convergência linguística: no sentido mais amplo, ela designa qualquer forma de ‘mediação interlinguística’ que permita transmi- tir informação entre locutores de línguas diferentes. A tra- dução faz passar uma mensagem de uma língua de partida (LP), ou língua-fonte, para uma língua de chegada (LC), ou língua-alvo. 20 Widdowson (1997) considera que a tradução naturalmente nos leva a associar a língua a ser aprendida com a que já co- nhecemos e usá-la para explorar e aumentar o conhecimento. Ela proporciona a apresentação da língua estrangeira como uma atividade relevante e significativa comparada à língua materna do aprendiz. Permite, também, a invenção de exercícios que en- volvem a resolução de problemas de comunicação que exigem conhecimento além do simplesmente linguístico. Este princípio naturalmentenos leva a associar a língua a ser aprendida ao que ele já sabe e a usar a língua para a explo- ração e extensão do seu conhecimento. Para usar a língua, em resumo, da forma que ela é, normalmente usada. (...) Ela propi- cia a apresentação da língua estrangeira como uma atividade co- municativa relevante e significativa comparada a apropria língua do aprendiz. Ela permite a invenção de exercícios que envolvem a solução de problemas comunicativos, problemas que exigem referência além da simplesmente linguística, que demanda ha- bilidades linguísticas somente a tal ponto que eles sejam uma característica de habilidades comunicativas. (Widdowson, 1997, p.158,159) Muitos escritores como Humboldt (1992, p. 03,04), desta- cam que: “Nem toda palavra de uma língua tem um equivalente exato na outra. Dessa forma, nem todos os conceitos que são expressos através de palavras de uma língua, são exatamente os mesmos que são expressos através de palavras de outra”. O que significa que não existe uma palavra equivalente a cada uma das outras na língua estrangeira, portanto, nem todas as palavras que expressam um conceito em uma língua o farão em outra. Será 21 preciso entender o significado e então transpor para a língua a ser traduzida com a estrutura e as palavras que forem necessárias e que não serão, necessariamente, as do texto original. Schulte E Biguenet (1992, p. 09) dizem, de forma resu- mida, que ler também é traduzir e que o processo de tradução se constitui pelo entendimento humano secreto do mundo e da comunicação social. A língua, por si só, é uma tradução e o ato de recriá-la, através do processo de leitura, constitui outra tra- dução. Dessa forma, a tradução funciona como uma forma de revitalização da língua, que pode estimular a criação de novas palavras na língua traduzida e influenciar as estruturas gramati- cais e semânticas da mesma, portanto, pode ser vista como enri- quecimento da língua. Dryden (1961, p. 17) destaca que toda tradução pode ser reduzida a três partes: a metafrase, a paráfrase e a imitação. A metafrase é a tradução feita palavra por palavra; a paráfrase acontece quando o tradutor se mantém na visão do autor, mas focalizado no sentido e não na tradução termo por termo e a imitação, na qual o tradutor, se é que ainda pode ser considerado assim, assume a liberdade de não somente variar as palavras e o sentido, mas também de abandoná-los e pegar só ideias gerais do original e fazer a tradução como quer. Mas esse autor afirma, também, que o tradutor tem que compreender perfeita e inteira- mente o sentido do autor, a natureza de seu assunto e os termos ou assunto tratado e então traduzir, ao invés de traduzir palavra por palavra, o que é bastante tedioso, confuso, além de correr-se o risco até mesmo de distorcer o sentido do texto, se não for interpretado corretamente. 22 Para Schopenhauer (1992), nem toda palavra tem uma equivalente exata em outra língua. Portanto, nem todas as pa- lavras que expressam um conceito em uma língua o fazem da mesma maneira na outra. Para certos conceitos, a palavra existe só em uma língua e, então, é adotada por outras línguas. Durante anos de prática em cursos de técnica de interpre- tação, na Língua Brasileira de Sinais, percebi que os cursistas apresentavam dúvidas em comum, tinham dificuldades em en- tender os contextos dos sinais, conclui: “Quando estamos aprendendo a língua viso-manu- al, utilizada pelas comunidades surdas brasileiras, nos deparamos com um problema, que é entender cada con- ceito sinalizado. Não podemos apenas aprender os sinais da LIBRAS, e sim adquirir conceitos. Caso contrário, nós nunca entenderemos o sentido do que é falado por meio das mãos, se primeiro traduzirmos palavra por palavra na língua portuguesa. Mais difícil que aprender o senti- do dos sinais, ou decorá-los, ou memorizá-los, é aprender como um surdo aprende, ou seja, entender a mente e o pensamento do sujeito é mais complicado que entender sua língua.” É preciso adquirir o “espírito” da língua estrangeira. “De tudo isso, se torna claro que novos conceitos são cria- dos durante o processo de aprendizagem da língua estrangei- ra para dar significados a novos signos” (SCHOPENHAUER, 23 1992, p.34). E que um número infinito de nuances, similarida- des e relações entre objetos aumentam o nível de consciência de uma nova língua, o que confirma que nosso pensamento é modificado e inovado através da aprendizagem de cada língua estrangeira, e que o poliglotismo representa, além de suas vanta- gens imediatas, um meio direto de educar a mente pela correção e perfeição de nossas percepções, através da diversidade e refi- namento dos conceitos. Schleiermacher (1992, p.108) diz que a tradução pode ser feita tanto na direção do autor quanto na do leitor. Ou o autor é trazido para a linguagem do leitor, ou o leitor é levado para a linguagem do autor. No primeiro caso, não se faz uma tradução, e sim, uma imitação ou uma paráfrase do texto original. No mundo de hoje, a tradução tem uma missão, que muitas vezes é considerada não produtiva, por estabelecer uma comuni- cação média e censurada, mas representa, na verdade, um meio de trocar ideias entre um indivíduo e outro, é como se fosse um tipo de estação de rádio subterrânea da qual a humanidade se utiliza para mandar notícias para o mundo, sem esperança de ser ouvida, porque a interferência dos sinais é muito forte. 24 1.6 Estudos dos sinais 1.6.1 Verbos Abandonar Abraçar Acabar Aconselhar Acordar Ajudar Ajudar/apoio Alugar Andar Anunciar Aprender Apresentar Assustar Atrasar Beber Beijar Brigar Brincar Cair Cantar Chamar Chorar Começar Comer Comprar Conhecer Construir Conversar Contar Copiar Correr Cortar Cozinhar Crer Crescer Cuidar/proteger emprestar Curar Dançar Dar Deitar Deixar Demorar Desenhar Desprezar Discordar Discutir Duvidar Encontrar Ensinar Entender Escolher Esconder Escrever Esperar Esquecer Estudar Falar Faltar Fazer Ficar Fingir Fugir Fumar Ganhar Gostar Gritar Guardar Guiar Imaginar Imprimir Ir Lavar Lembrar Ler Levantar/em pé 1 Surgimento das línguas no mundo e origem dos tradutores intérpretes 1.1 O surgimento das línguas no mundo e origem dos tradutores intérpretes 1.2 Tradução e interpretação: encontros e desencontros 1.3 Tradução e interpretação do romantismo alemão 1.4 Surgimento de novas modalidades de prática 1.5 Considerações históricas 1.6 Estudos dos sinais 1.6.1 Verbos
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