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Página 106 3. NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE Agora estudaremos a contabilidade internacional, a fim de conhecer as normas e principais premissas que devemos de ter em conta quando realizarmos atividades contábeis fora da Espanha. 3.1 O SISTEMA CONTÁBIL 3.1.1 O sistema contábil Estrutura organizada através da qual se recolhem informações de uma empresa como resultado das suas operações, utilizando recursos como formulários, livros contábeis, etc., e que, apresentados à gerência, permitirá a tomada de decisões financeiras de maneira coerente. É um conjunto de normas, diretrizes e procedimentos que servem para controlar as operações e fornecer informações financeiras de uma empresa por meio da sua organização, classificação e quantificação. Ainda que seja difícil definir com precisão o sistema de contabilidade internacional, visto que por ser a nível global, existem muitas divergências entre países e regiões, mostraremos práticas unificadoras da contabilidade internacional. Em algumas ocasiões, a definição do sistema contábil tem sido considerada através dos objetivos, normas e práticas de uma determinada área, fortemente influenciados pelas necessidades dos usuários. Em outras ocasiões, se utilizam definições mais precisas do sistema de contabilidade, considerando que o sistema é delimitado pelas funções que deve cobrir e que, basicamente, se concretizam na produção de capital humano e intelectual capaz de satisfazer as necessidades existentes em relação ao campo contábil, assim como as possíveis mudanças que possam ocorrer. Em todo caso, no sistema contábil subjazem os conceitos, princípios gerais e práticas específicas de um país ou de uma determinada área geográfica. Assim, num contexto Página 107 internacional a sua definição deve ser válida por meio de uma orientação comparativa, para poder delimitar as diferenças existentes no âmbito contábil a nível internacional. Ao falar sobre o sistema de contabilidade, é importante que reflitamos sobre os elementos que estão incluídos dentro desse termo, assim como a sua finalidade. Podemos considerar duas posições: - Restrito: as práticas de medição são em si objetos de análise e os seus atributos são os fatores discriminantes dos diferentes sistemas de contabilidade. - Amplo: as práticas de avaliação são atributos que pertencem a outro tipo de identidade mais complexa, nomeadamente os sistemas contábeis que, em conjunto com outros componentes, formam a sua estrutura. Consideraremos o sistema contábil de uma perspectiva ampla, o que implica a necessidade de definir a estrutura deste sistema. Os aspectos que esta definição abrange devem poder, através da interações entre eles, responder aos objetivos atribuídos pelo sistema, principalmente relacionados com o processo de identificação, registro e interpretação de eventos econômicos, gerando informação que seja útil e ajude na tomada de decisões. Na configuração de cada sistema de contabilidade intervém uma série de elementos de caráter interno e externo. Vamos conhecer esses elementos e os componentes que os compõem. 3.1.2 Os agentes externos Os agentes externos são aqueles que fazem parte do ambiente de um país ou área geográfica e que podem influenciar consideravelmente na construção do sistema contábil. Assim, dedicaremos essa parte aos agentes externos que temos que levar em conta no que se refere à contabilidade internacional. Página 108 - Sistema jurídico A influência do sistema jurídico sobre o comportamento contábil está caraterizada pela diferenciação que tem sido tradicionalmente feita entre dois modelos de sistema jurídico: aquele com base na leis comum (Common Laws) e aquele desenvolvido a partir do direito romano (Roman Laws). Portanto, a forma de ditar e estabelecer os regulamentos legais de um país influencia a forma de estabelecer as regras contábeis. Desta forma, a lei comum concentra-se em encontrar respostas pontuais para casos particulares, em vez de se centrar em emitir uma norma de caráter geral. Pelo contrário, os sistemas baseados na lei romana estabelecem um quadro normativo em que se descende a um importante nível de detalhe e os conceitos de dirigismo e lei codificada podem ser associados com esse modelo. Isto fará com que, considerando a tradição jurídica existente, em países cujo sistema jurídico se baseie na lei comum, normalmente pertencentes a área anglo-saxônica, o regulamento contábil não estabeleça critérios muito específicos e não indique, de forma precisa, como devem publicar-se as demonstrações financeiras. Nesses países, as regras básicas emanam da profissão contábil e não da lei. Os países em que sistema legal se baseia no direito romano, terão uma contabilidade normativa com um nível mais alto de detalhe com relação as regras contábeis e a maneira de apresentar a informação de caráter financeiro. Este regulamento será desenvolvido basicamente através de leis comerciais e planos contábeis. - Principal fornecedor de financiamento empresarial A existência de um modelo de financiamento empresarial concentrado num determinado núcleo causará, em grande medida, que a informação financeira esteja endereçada a atender as necessidades desse fornecedor de financiamento. Página 109 No caso em que os fornecedores de financiamento sejam numerosos ou a sua ligação com a empresa seja escassa, será exigida a informação financeira com maior nível de detalhe e conteúdo. No entanto, quando a fonte de financiamento provenha de um pequeno número de agentes ou exista um elevado grau de ligação com a empresa, não será necessário que as informações produzidas e publicadas tenham um elevado nível de pormenor, já que as informações serão fornecidas às fontes financeiras por meios alternativos, por exemplo, através de relatórios adicionais ou aproveitando o conhecimento direto da situação da empresa. - Nacionalismo Em alguns países, especialmente nos menos desenvolvidos, é habitual encontrar uma tendência nacionalista em que aparece a identidade dos valores próprios de cada país ou determinada área. Com base nesta premissa, a contabilidade é uma ciência que não permite aos profissionais observar o seu ambiente para determinar as leis e princípios que o guiam. Pelo contrário, deve criar-se o sistema de contabilidade. Assim, cada país tem o direito de estabelecer as suas próprias regras. Esta tendência é conhecida como nacionalismo contábil. - Organização empresarial A forma como está estruturada a organização empresarial e, em particular, a forma de propriedade, também exerce influência significativa no desenvolvimento do modelo contábil. A separação entre a propriedade e a gestão empresarial gerou a necessidade de transferir mais informações contábeis ao exterior. A existência de um grande número de empresas cuja propriedade é compartilhada por um grande número de acionistas, que não têm acesso à informação interna da empresa, causará uma forte pressão para a geração de um sistema contábil orientado a publicação de informação correta e oportuna, tanto em qualidade como em quantidade. Página 110 Pelo contrário, encontramos a empresa com propriedade familiar ou com investimentos dos bancos, onde a necessidade de informação será menor. Nos casos em que a propriedade da estrutura empresarial seja do Estado, a natureza dos sistemas contábeis tenderá a uma abordagem de caráter macroeconômica. As necessidades a serem cobertas pelo sistema contábil serão diferentes dependendo do tamanho da empresa, já que o foco de interesse não coincidirá no caso de grandes empresas e multinacionais com as necessidades de uma empresa de menor tamanho. - Nível de desenvolvimento do mercado acionário O grau de desenvolvimento do mercado acionário provocará nos investidores a necessidade de obter informaçãocontábil orientada a tomada de decisões. Quando existe um mercado acionário tradicional com uma importância significativa, a geração dos critérios que orientam o fornecimento dessas informações fica nas mãos da própria profissão e regulação contábil, em vez de órgãos específicos das bolsas de valor. É o caso de países como Reino Unido, Austrália e Estados Unidos. Nos países onde a importância do investidor individual é inferior, como são os países continentais europeus, os responsáveis de assegurar os interesses de informação dos investidores são os órgãos governamentais específicos dos mercados de ações. - Fatores culturais A existência de uma subcultura contábil é percebida como um fator que gera as diferenças entre os sistemas contábil a nível internacional. Esta subcultura contábil é refletida na existência de quatro valores contábeis que se desenvolvem entre polos opostos. Estes são: profissionalismo – controle regulatório, uniformidade – flexibilidade, conservadorismo – otimismo e segredo – transparência. - O profissionalismo e a uniformidade têm a ver com o exercício da autoridade no sistema contábil, assim como com o nível de exigência na aplicação normativa. Página 111 - O conservadorismo exerce a sua influência com a adoção de práticas de avaliação mais ou menos prudentes. - O segredo é apreciado no nível de informação fornecida pela empresa no exterior. Ao mesmo tempo, estes valores contábeis caracterizam o sistema contábil. Valores sociais Valores contábeis Sistemas contábeis /práticas -Individualismo / coletivismo - Distância com o poder - Eliminação do risco - Masculinidade / feminilidade - Profissionalismo - Conservadorismo - Segredo / transparência - Auditoria e aplicação - Avaliação de ativos e lucros - Publicação de informação Reforço Reforço Desta forma, se estabelece a ligação entre as caraterísticas culturais e contábeis. Além disso, é possível explicar as diferenças entre os sistemas de contabilidade anglo- americanos e os sistemas continentais-europeus, em termos da sua cultura. - Sistema político A vontade dos governos de controlar a atividade econômica dos seus países provoca com que os sistemas contábeis se adaptem às necessidades expressas. Aqui temos que diferenciar entre os Estados totalitários e os democráticos. 3.1.3 Os agentes internos Juntamente com os agentes externos que podem influenciar o sistema contábil de cada país, temos que contemplar outros agentes, considerados como constituintes do próprio sistema contábil no seu processo de estruturação. São os agentes internos. Página 112 - Influência fiscal na contabilidade A influência fiscal na contabilidade, em vez de ser parte integrante do ambiente, baseia- se em uma dupla consideração: - Como um fator explicativo das diferenças entre os sistemas contábeis, ou seja, um agente externo. - Como um fator integrado no sistema contábil, na medida em que os critérios de avaliação contábil estão diretamente afetados pelos regulamentos fiscais. O mais relevante na relação entre os aspectos fiscais e sua influência nos aspectos contábeis é o grau em que o regulamento fiscal determina as práticas contábeis de avaliação, basicamente em termos de determinação dos rendimentos e das despesas. Na sequência desta premissa, existem duas correntes fundamentais: - Os sistemas contábeis em que os critérios fiscais prevalecem sobre os próprios critérios contábeis e em que a contabilidade se adapta à tributação, adotando os seus critérios. - A separação entre os critérios fiscais e contábeis, para que os dois sistemas sejam considerados independentes, de modo que apenas prevaleçam os critérios fiscais nos casos em que ambas as posições sejam irreconciliáveis. - Principais usuários da informação contábil Esta segunda variável interna está ligada a algumas das que apresentamos como externas, como os fornecedores de financiamento e o nível de desenvolvimento dos mercados de ações, visto que se comportam como utilizadores da informação contábil. Que existam diferentes tipos de usuários de informação fará com que eles exerçam pressão, a fim de satisfazer suas demandas informativas. Assim, os objetivos e as práticas do sistema contábil são ou devem estar fortemente influenciados pelas necessidades dos usuários. Página 113 Nem todos os utilizadores dos diferentes países terão as mesmas necessidades, por isso existirão diferenças nos múltiplos sistemas contábeis. De acordo com o objetivo, os acontecimentos econômicos podem ser definidos diferentemente, com a utilização de métodos contábeis e de informação alternativas. - Nível de desenvolvimento da profissão contábil A existência da profissão contábil com um alto nível de desenvolvimento provoca que os profissionais, geralmente através de suas organizações, exerçam uma influência significativa sobre a normalização contábil do país. Desta forma, o nível de sofisticação da profissão contábil será mais importante do que o seu desempenho. Por sua vez, as caraterísticas da profissão contábil estarão determinadas pelo modelo de contabilidade existente. No entanto, também provocará um efeito de feedback, já que os profissionais de contabilidade também influenciarão no tipo de contabilidade praticada. Podemos estruturar em três vias as caraterísticas específicas da profissão contábil que plasmam sua influência no sistema: - A natureza e amplitude da profissão contábil. - A existência de associações profissionais. - A função de auditoria. - Estado da educação contábil Este segundo agente está intimamente relacionado com o anterior. A realização de uma profissão tem o seu início na existência de um sistema de educação e de pesquisa contábil firme e sólido. - Objetivos da contabilidade A natureza e os objetivos da contabilidade serão diferentes em cada país devido aos fatores acima mencionados. Não terão os mesmos objetivos um país comunista e um Página 114 país capitalista, que outro em processo de desenvolvimento, um democrata ou um com um regime totalitário. 3.1.4 Componentes do sistema contábil Existem dois componentes fundamentais no sistema contábil: - Subsistemas contábeis. - Estrutura do sistema contábil. As etapas que todos os sistemas contábeis devem abranger para alcançar os objetivos marcados são: - Configuração de um modelo regulatório: em primeiro lugar, cada sistema de contabilidade precisa da elaboração de uma estrutura regulatória que deve ser capaz de gerar um quadro de referência em que a empresa desenvolva sua atividade. Assim, a configuração de um modelo regulatório responsável pela definição das regras do jogo é uma etapa transcendente para o bom funcionamento do sistema. - Atuação de macro princípios: o desenvolvimento das caraterísticas de qualquer sistema de contabilidade se orienta pela definição das diretrizes básicas pelas quais, do ponto de vista operacional, discorre a sua atividade. Isso será possível graças a atuação de alguns macro princípios, dos quais derivam as regras contábeis operacionais e que contém a filosofia do sistema em si como materialização do pensamento contábil que o rege. - Atuação dos profissionais da contabilidade: esta atuação é observada nas diferentes áreas do sistema, tanto na elaboração quanto na aplicação do próprio regulamento normativo ou na verificação da informação contábil. Assim, o trabalho realizado por estes profissionais condiciona o funcionamento total do sistema contábil. Página 115 - Formação dos profissionais: intimamente ligada a anterior. Esta formação orientará, em grande medida, sua forma de agir, exercendo influência no desempenho do sistema de contabilidade como precursor do capital humano envolvido nele.- Aplicação das práticas contábeis: a mecânica de atuação dos elementos que acabamos de apresentar emerge no exterior por meio da representação de fatos econômicos em termos contábeis. Este trabalho reflete-se na própria informação contábil, gerada pela aplicação das práticas contábeis de cada sistema em um sentido duplo: a transformação dos fatos econômicos a linguagem contábil, isso é, o processo de elaboração da informação e a maneira de estruturar a informação contábil para transmiti-las aos utilizadores. ▪ Subsistemas contábeis Para poder conhecer um sistema de contabilidade e seu funcionamento é muito importante conhecer as partes que o delimitam, bem como as relações existentes entre estes componentes. Após o trabalho de Archer e McLeay (1992), se estabelecem três componentes que compõem a estrutura do sistema de contabilidade. Estes componentes são: - Regulador ou normativo: este primeiro componente ou subsistema está formado pelas instituições responsáveis pela elaboração e emissão dos regulamentos contábeis. As suas tarefas e funções centram-se na definição de normas e requisitos contábeis, assim como no controle da sua observância. - Contabilidade financeira e prática de auditoria: este elemento inclui as organizações profissionais e estruturas de trabalho em que se desenvolve a contabilidade e a auditoria. Relaciona-se com a tarefa de implementar as normas contábeis e os requerimentos de auditoria. - Capital humano: este último elemento está composto pelas instituições que oferecem treinamento contábil. O trabalho atribuído refere-se à provisão do Página 116 capital humano necessário para o funcionamento do subsistema prático e prestação de apoio intelectual ao regulador. Com este contexto e considerando o que estudamos até agora em relação aos sistemas contábeis, os agentes que anteriormente chamamos de agentes internos, serão chamados de subsistemas contábeis. Desta forma, definiremos os subsistemas contábeis como: Cada uma das partes que reiteradamente são encontradas no sistema contábil, configurando-o, e que coletando a informação surgida da contabilidade, sua atuação conjunta e organizada seja condição necessária e suficiente para realizar corretamente a atividade do sistema com relação a consecução dos seus objetivos. Sobre esta definição, podemos extrair as seguintes caraterísticas: - Recorrência: a conceituação como subsistema não se realiza para os componentes que se manifestam espontaneamente em um sistema contábil, senão que são atribuídos àqueles cuja existência se considera sistematicamente observada, embora com propriedades heterogêneas e em diferentes níveis de desenvolvimento. - Configuração: a definição do sistema contábil se realiza por meio das caraterísticas específicas de cada um dos subsistemas. - Informação do ambiente: a influência exercida pelos agentes externos no sistema revela-se, em seus diferentes aspectos, sobre cada uma das suas partes. Os subsistemas são moldados de acordo com as peculiaridades do ambiente contábil. - Conjunção e organização: devemos entender o sistema contábil como um todo em que cada subsistema realiza sua atividade dentro da rede configurada pelas interrelações dos subsistemas. - Condição necessária e suficiente: aqui devemos considerar dois aspectos: Página 117 o A existência dos subsistemas deve ser vista como uma condição necessária para o bom funcionamento do sistema, porque cada um deles realiza um trabalho indispensável no modelo contábil, mantendo relações contínuas com o resto dos subsistemas e assimilando a influência do ambiente. o Deve ser condição suficiente porque os subsistemas configuram o próprio sistema e sua ação conjunta é que define a satisfação ou não das necessidades que lhe são atribuídas. - Consecução de objetivos: todo o conjunto do sistema contábil destina-se a satisfazer um vasto leque de necessidades divergentes a nível internacional, fato que causa que o processo de construção e subsequente desenvolvimento do sistema e, por conseguinte, de cada subsistema, esteja significativamente mediado pelos resultados desejados. ▪ Estrutura do sistema contábil Tendo em conta as fases identificadas como necessárias para cobrir os objetivos de um sistema contábil, podemos considerar que este é composto pelos seguintes subsistemas de contabilidade: - Subsistema regulador: é a parte do sistema contábil responsável pela elaboração, emissão e implementação dos regulamentos contábeis que, conjugando com o processo de gestação da norma, as preocupações e necessidades dos diferentes agentes afetados por ela, irá reger a geração e publicação da informação contábil empresarial. - Subsistema de princípios contábeis: refere-se à parte do sistema contábil que, através da definição de conceitos contábeis fundamentais, traça a linha a seguir para obter demonstrações financeiras que reflitam a imagem fiel do patrimônio, a situação e os resultados da empresa. Página 118 - Subsistema profissional: é a parte do sistema contábil que compreende a atividade exercida pelos profissionais da contabilidade e auditoria, combinando a proteção do interesse público e a satisfação das necessidades dos seus clientes, assim como a atuação da organização de profissionais contábeis e de empresas multinacionais de auditoria. - Subsistema de formação: responsável pelo desenvolvimento dos conhecimentos básicos e técnicas para a aplicação dos princípios e normas contábeis, assim como para transmiti-los a um grupo de agentes capazes de implementá-los posteriormente. Também é a parte responsável pela estruturação da rota lógica para obter, por parte dos profissionais, a qualificação profissional. - Subsistemas de práticas contábeis: devemos diferenciar entre dois subsistemas: o Subsistema de práticas de avaliação: encarregada de refletir os critérios objetivos seguidos no processo de reconhecimento, mensuração e avaliação contábil, incluindo nas demonstrações e relatórios financeiros, em termos monetários, os fluxos econômicos, direitos, obrigações e outras modificações na estrutura patrimonial da empresa, decorrentes das transformações realizadas. o Subsistema de práticas de informação: refere-se à parte que é responsável pela determinação da quantidade e formato da informação contábil previamente processada, que deve ser fornecida ao exterior, assim como a periodicidade e o mecanismo dessa comunicação. Para que o sistema contábil funcione eficazmente é muito importante que os subsistemas que compõem a sua estrutura atuem de forma coordenada entre eles. Estas interrelações entre os diferentes subsistemas são levantadas em relação aos seguintes termos: Página 119 - O subsistema regulador exerce a sua influência sobre os outros subsistemas devido ao âmbito jurídico que gera e delimita as diretrizes que regulam a atividade do resto do sistema. - O subsistema de princípios contábeis é considerado como o guia operacional básico na atividade do resto dos subsistemas. - O subsistema de tipo profissional exerce a sua influência por meio da realização das diferentes tarefas habituais, tendo vários meios para isso: individualmente, através de organizações profissionais ou empresas de auditoria. - A atividade do subsistema de formação é estabelecida através da geração do capital humano necessário para o desempenho do resto dos subsistemas. - Os subsistemas de práticas atuam como receptores das eventuais deficiências dos outros subsistemas. O processo de feedback do sistema funciona através da inadequação entre as expetativas e os resultados obtidos. 3.2 REGULAMENTO CONTÁBIL INTERNACIONAL Agora estudaremos as regulamentações contábeis internacionais, pelo que é essencial falar do IASB, que é o Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade, um organismoprivado a nível mundial, criado para formular e publicar normas contábeis, buscando o interesse público, para a apresentação das demonstrações financeiras, que sejam aceitas em todo o mundo. A origem deste Comitê encontra-se em um congresso internacional de contabilidade ocorrido em Sydney em 1972. Após o encerramento, concluiu-se que era necessário elaborar uma série de regras contábeis de âmbito internacional. Na sequência deste congresso nasceu o ICCAP, O Comitê Internacional para a Coordenação da Profissão Contábil. Em 1977, a comissão de normas contábeis se transformou no IASC, atualmente IASB, e constituiu-se a IFAC, a Federação Internacional de Contadores, uma organização Página 120 formada por organizações internacionais de profissionais contábeis que trabalham em empresas, no setor público e na educação. É importante notar que desde 1983, os membros de IFAC e IASC eram comuns. No entanto, em 24 de maio de 2000, a fim de promover a independência do organismo emissor das normas contábeis em relação ao organismo que regula a profissão de auditoria, deixaram de ser os mesmos. No final do ano de 1999, o Conselho de IASC implantou uma nova estrutura interna e em Janeiro do ano 2000 foi criado um Comitê de nomeação presidido pelo Presidente da SEC (Sistema Europeu de Contas), cuja missão principal era a nomeação dos administradores iniciais do IASC. Estas mudanças foram, basicamente, devida: - As novas exigências dos mercados de capitais. - As necessidades de uma maior independência destes organismos. - Os acordos adotados com a IOSCO (Organização Internacional de Reguladores de Valores). - Tentar que a SEC aceite como normas de qualidade as normas IAS, que são as normas contábeis emitidas pelo IASB. No mês de março de 2001 constitui-se a Fundação IASC com domicílio nos Estados Unidos e como organismo independente emissor de normas contábeis, sediada em Londres. Destacamos os seguintes objetivos da IASC: - Desenvolver normas contábeis únicas de elevada qualidade que ajudem na tomada de decisões e que exijam às empresas e organizações informação financeira de qualidade. - Promover o uso e a aplicação dessas normas. Página 121 - Fomentar a convergência entre as normas contábeis locais dos diferentes países e os IAS adotando soluções de qualidade. O IASC é um organismo independente com dois órgãos principais: os administradores trustees e o IASB; órgãos reguladores que podem nomear outros órgãos de governo, de acordo com os artigos da sua constituição. É função do IASB: I. Ter a completa responsabilidade de todas as questões técnicas do IASC, incluindo a preparação e emissão das Normas Internacionais de Contabilidade, as Normas Internacionais de Relatório Financeiro e os esboços dessas normas. Serão incluídas as opiniões dissidentes, assim como a aprovação final das interpretações feitas pelo Comitê de Interpretações de Normas Internacionais de Relatório Financeiro. II. Publicar um esboço da norma sobre cada projeto e, por regra geral, publicar um esboço de exposição de todos os projetos, assim como um documento a discussão para comentário público dos grandes projetos. III. Ter total discrição em relação ao desenvolvimento da ordem da agenda técnica do IASB e das atribuições sobre as questões técnicas dos projetos: na organização do seu trabalho, o IASB pode terceirizar a investigação detalhada ou outros trabalhos a emissores nacionais de padrões. IV. Devemos considerar: a. Estabelecer procedimentos para examinar, dentro de um prazo razoável, os comentários sobre os documentos publicados. b. Formar grupos de trabalho ou outros tipos de grupos especializados de aconselhamento sobre os grandes projetos. c. Consultar o Conselho Assessor de Normas sobre os principais projetos, agenda das decisões e prioridades de trabalho. Página 122 d. Publicar as bases para as conclusões com as Normas Internacionais de Contabilidade, as Normas Internacionais de Relatório Financeiro e os esboços de exposição. V. Considerar a possibilidade de celebrar audiências públicas para discutir as regras propostas. É importante saber que não há obrigação de realizar audiências públicas para cada projeto. VI. Considerar a realização de provas de campo (tanto em países desenvolvidos como em países com mercados emergentes), a fim de garantir que as normas propostas sejam práticas e viáveis em todos os contextos, embora não haja nenhuma obrigação de efetuar provas de campo para cada projeto. VII. Indicar os motivos, em caso de não seguir nenhum dos procedimentos não- obrigatórios estabelecidos. 3.2.1 Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) Conjunto de padrões que estabelecem como as demonstrações financeiras devem ser apresentadas, o que deve incluir e a sua forma de apresentação. Como levantado, estas regras foram emitidas pelo IASC, agora o IASB, a fim de homogeneizar a atividade contábil a nível global. A seguir estudaremos as Normas Internacionais de Contabilidade (IAS, acrônimo em inglês de International Accounting Standard) vigentes, para conhecer as questões e elementos que abrange. No entanto, encontramos nos anexos alguns exercícios para compreender melhor a sua aplicação e as normas de maior importância. - IAS 1 Apresentação das Demonstrações Financeiras: esta primeira regra estabelece os requisitos gerais para prosseguir com a apresentação das demonstrações financeiras, bem como guias para determinar sua estrutura e requisitos mínimos no seu conteúdo. Página 123 - IAS 2 Estoques: oferece um guia prático para determinar o custo e o posterior reconhecimento como um gasto do período, incluindo qualquer deterioração que reduza a quantia escriturada de valor realizável líquido. Também fornece orientações sobre as fórmulas do custo usadas para atribuir custos aos inventários. - IAS 7 Demonstração dos fluxos de caixa: sua finalidade principal é exigir a prestação de informação sobre alterações no histórico de caixa e equivalentes de caixa de uma entidade através de uma demonstração de fluxos de caixa em que os fluxos de fundos do período sejam classificados dependendo se vêm de atividades operacionais, de investimento ou de financiamento. - IAS 8 Políticas contábeis, mudanças nas estimativas contábeis e erros: esta norma prescreve o critério para a escolha da política contábil e evidencia as alterações em políticas contábeis, nas estimativas contábeis e na correção de erros. - IAS 10 Eventos após o Período de Relatório: estabelece quando uma entidade deve ajustar suas demonstrações financeiras para eventos ocorridos após o período do relatório e a informação a revelar em relação a data do relatório e aos eventos ocorridos após o período informado. - IAS 12 Imposto de Renda: prescreve o tratamento contábil do imposto de renda. - IAS 16 Imobilizado: prescreve a contabilização de propriedades, instalações e equipamentos, para transmitir, através das demonstrações financeiras, informações sobre o investimento que a entidade tem em suas propriedades, instalações e equipamentos, assim como as alterações produzidas em tais investimentos. - IAS 17 Arrendamentos: se estabelecem, para locatários e locadores, as políticas contábeis adequadas para contabilizar e divulgar informações relativas aos arrendamentos. Página 124 - IAS 18 Receita: aplica-se no momento de contabilizar as receitas das atividades ordinárias de venda de mercadorias, prestação de serviços e utilização por terceiros de ativos da entidade que produzam benefícios, royalties e dividendos. - IAS 19 Benefícios aos empregados: prescreve o tratamento contábil e a informação a revelar sobre os benefícios aos empregados. - IAS 20 Contabilização de subvenções governamentais e divulgação de assistência governamental: refere-se à contabilizaçãoda informação a revelar sobre as subvenções governamentais e outras formas de assistência governamental. - IAS 21 Efeitos das mudanças nas Taxas de Câmbio: prescreve a maneira de incorporar, nas demonstrações financeiras, as transações em moeda estrangeira e os negócios no estrangeiro, assim como a forma de alterar e adaptar as demonstrações financeiras à moeda escolhida. - IAS 23 Custos de Empréstimos: se estabelece que os custos por empréstimos que sejam diretamente atribuíveis à aquisição, construção ou produção de um ativo adequado, formem parte do custo desses ativos. O resto dos custos por empréstimos são considerados despesas. - IAS 24 Divulgações sobre partes vinculadas: esta norma tenta assegurar que as demonstrações financeiras de uma entidade contenham a divulgação da informação necessária sobre a possibilidade de que a existência de partes vinculadas, transações e saldos pendentes possam afetar sua situação financeira e resultados. - IAS 26 Contabilização e Relatórios Financeiros de Planos de Benefícios de Aposentadoria: se aplica nas demonstrações financeiras de planos de benefícios por aposentadoria. - IAS 27 Demonstrações Financeiras Consolidadas e Separadas: se estabelecem os requisitos de contabilização e divulgação de informação sobre investimentos Página 125 em subsidiárias, negócios conjuntos e empresas associadas quando uma entidade prepara demonstrações financeiras separadas. - IAS 28 Investimentos em Entidades Associadas: sua finalidade é prescrever a contagem de investimentos em entidades associadas e estabelecer os requisitos para a aplicação do método da participação no registro de investimentos e negócios conjuntos. - IAS 29 Relatórios Financeiros em Economias Hiperinflacionárias: aplicada nas demonstrações financeiras, incluindo as demonstrações financeiras consolidadas de uma entidade em que a moeda funcional corresponda a uma economia hiperinflacionária. - IAS 32 Instrumentos financeiros – Apresentação: se estabelecem os princípios para apresentar os instrumentos financeiros como passivos ou patrimônio e para compensar ativos e passivos financeiros. - IAS 33 Lucros por Ação: esta norma estabelece os princípios para determinar e apresentar os lucros por ação das entidades, cujo efeito será melhorar a comparação dos rendimentos entre diferentes entidades no mesmo período, assim como entre diferentes períodos para a mesma entidade. - IAS 34 Relatório Financeiro intermédio: se estabelece o conteúdo mínimo da informação financeira intermédia, assim como os critérios para o reconhecimento e mensuração a ser adotado nas demonstrações financeiras intermédias, independentemente de serem apresentadas de maneira completa ou condensada, para um período intermédio. - IAS 36 Redução ao Valor Recuperável de Ativos: se estabelecem os procedimentos que uma entidade aplicará com o objetivo de assegurar que seus ativos estejam contabilizados por um montante não superior a seu montante recuperável. Página 126 - IAS 37 Provisões, Ativos e Passivos Contingentes: esta norma visa garantir que as bases adequadas para o reconhecimento e mensuração das provisões, os ativos e os passivos contingentes, assim como a divulgação de informação complementar suficiente através de notas para permitir aos usuários compreender a natureza, o calendário de vencimento e as quantidades das rubricas anteriores. - IAS 38 Ativos Intangíveis: se estabelece o tratamento contábil que devem receber os ativos intangíveis não referidos especificamente em outra norma. - IAS 39 Instrumentos Financeiros – Reconhecimento e Avaliação: esta norma aplica-se aos instrumentos financeiros que sejam parte de uma relação de coberturas que cumpram os requisitos da contabilidade de coberturas no âmbito do IFRS 9 (Norma Internacional Relatório Financeiro). - IAS 40 Propriedades para investimento: tem como objetivo estabelecer o tratamento contábil das propriedades de investimento e as exigências de divulgação de informação correspondentes. - IAS 41 Agricultura: prescreve o tratamento contábil, a apresentação das demonstrações financeiras e a divulgação de informação em relação à atividade agrícola. 3.2.2 A contabilidade nos Estados Unidos. US GAAP Os US GAAP são os princípios de contabilidade geralmente aceitos e usados por empresas e organizações dos Estados Unidos. É uma combinação de padrões e das maneiras de contabilidade aprovados pelas organizações reguladoras. Estes padrões são o equivalente americano das Normas Internacionais de Contabilidade e de Relatório Financeiro. No entanto, estes princípios americanos são muito mais detalhados, refletindo o ambiente de contenciosos que prevalece nos Estados Unidos. Em termos de objetivos é importante que a informação financeira fornecida por empresas e organizações nos Estados Unidos seja útil para: Página 127 - Apresentar os potenciais investidores e credores e outros usuários na tomada racional de investimento, crédito e outras decisões financeiras. - Apresentar os potenciais investidores e credores e outros usuários na avaliação dos montantes, prazos e da incerteza dos rendimentos futuros. - Oferecer informação sobre os recursos econômicos, as demandas de recursos e mudanças. - A tomada de decisões de caráter financeiro. - A tomada de decisões a longo prazo. - A melhoria no desempenho do negócio. - A manutenção dos registros. Para alcançar estes objetivos, temos que falar de quatro pressupostos básicos, quatro princípios básicos e quatro restrições. Estes são: Pressupostos - Contabilidade da entidade: a empresa deve ser independente dos seus proprietários ou de outras empresas, de modo que os rendimentos e as despesas da organização devem separar-se das despesas de caráter pessoal. - Empresa em andamento: a contabilidade baseia-se na ideia de que as empresas operarão, em regra geral, por um período de tempo indeterminado. Isso valida os métodos de capitalização de ativos, depreciação e amortização. Este pressuposto deixa de ser aplicável quando se inicia a fase da liquidação da entidade. - Pressuposto monetário da unidade: se deve estabelecer uma moeda estável, neste caso o dólar dos Estados Unidos. Página 128 - Pressuposto de período de tempo: refere-se às atividades econômicas de uma empresa que podem dividir-se em períodos de tempo artificial. Princípios básicos - Custo histórico: este primeiro princípio estabelece como obrigação das empresas prestar contas e apresentar o relatório com base nos custos de aquisição superiores ao valor justo de mercado para a maioria dos ativos e passivos. A informação, portanto, é de confiança mas pouco relevante, existindo uma tendência para usar os valores razoáveis. A maioria das dívidas e títulos são relatados em valores de mercado. - Reconhecimento de rendimentos: estabelece a obrigação das empresas de registrar os rendimentos quando sejam realizáveis ou lucros mas não quando sejam recebidos em numerário. - Princípio de coincidência: sempre que razoável, as despesas devem ser acompanhadas dos rendimentos. Ou seja, deve haver uma coincidência entre despesas e rendimentos, de modo que seja possível conhecer em todos os momentos o que foi gasto juntamente com os rendimentos obtidos por tal despesa. No entanto, também devemos considerar as despesas que não têm uma ligação direta com o rendimento, como o pagamento dos salários dos nossos trabalhadores e as despesas administrativas. - Princípio de revelação completa: a informação comunicada deve ser suficiente para poder avaliá-la. Portanto, se apresentará a quantidade e tipo de informação que seja unicamente necessária, sem revelar informação sem sentido ou pouco relevante. Limitações - Princípio de objetividade: as demonstrações financeiras devem ter como base asprovas objetivas e refletir a realidade. Página 129 - Princípio de importância: os elementos têm importância ou são significativos quando afetam as decisões de uma pessoa razoável. - Princípio de coerência: refere-se ao fato da empresa utilizar os mesmos critérios contábeis e métodos de ano para ano. - Princípio de conservadorismo: no momento da escolha entre duas soluções possíveis, a empresa vai escolher aquela que menos exagere os ativos e os rendimentos que devem ser recolhidos. Ou seja, deve ser prudente na tomada de decisões. Embora tenhamos salientado que as US GAPP são o equivalente às Normas Internacionais de Contabilidade, existem algumas diferenças entre elas, pelo que é necessário chegar a uma convergência entre as duas, identificando o terreno comum entre as GAPP e as IAS. Para alcançar essa compreensão ou estado de convergência, no outono de 2002, o Conselho Contábil de Normas Financeiras (FASB) dos Estados Unidos e o Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB), sediado em Londres, emitiram um Memorando de Entendimento datado de 7 de março de 2003, onde os dois conselhos concordaram nos seguintes pontos: - Realizar um projeto a curto prazo com o nome de Convergência Internacional a Curto Prazo, para remover uma série de diferenças entre as US GAAP e as IRFS. - Eliminar outras diferenças existentes entre as US GAAP e as IRFS que permaneçam além de 1 de janeiro de 2005 por meio da coordenação de programas, isto é, através do esforço mutuamente discreto e de projetos substanciais dos dois Conselhos. Este projeto levará o nome de Projeto de Investigação Contínua sobre Convergência Internacional. - Continuar os progressos com os projetos conjuntos em curso. - Incentivar os respectivos órgãos interpretativos a coordenarem suas atividades. Página 130 No processo de alcançar a convergência entre as normas contábeis europeias e americanas, temos que considerar duas ações: - Projeto de Convergência Internacional a Curto Prazo - Projeto de Investigação Contínua sobre Convergência Internacional Vamos conhecer mais concretamente estes dois projetos. Projeto de Convergência Internacional a Curto Prazo Neste primeiro projeto a curto prazo, podemos diferenciar três partes ou fases: - Redução das diferenças que surgem do projeto de melhoria das IAS As propostas apresentadas no projeto de melhoria das IAS possibilitam eliminar muitas das diferenças entre este padrão e as US GAAP. No entanto, como podem surgir novas, nesta primeira parte do projeto, o objetivo é eliminar as seguintes diferenças, a fim de chegar a um ponto de convergência: - Classificação das obrigações de refinanciamento. - Classificação das operações a pagar pelo depósito devido a violações do contrato de dívida. - Troca de ativos. - Mudança voluntária na Política Contábil. - Instrumentos Financeiros. - Redução das diferenças resultantes de Declarações de FASB recentemente emitidas Algumas das diferenças entre os dois regulamentos surgem como resultado das mudanças nas normas americanas feitas pela FASB. Assim, a segunda parte do projeto tenta reduzir ou eliminar algumas dessas diferenças, entre as quais destacamos: Página 131 - Operações descontinuadas. - Custos contábeis associados às atividades de saída ou alienação. - Doações de natureza governamental. - Redução de outras diferenças Finalmente, a última parte do projeto destina-se a reduzir ou eliminar as diferenças que não foram trabalhadas nas duas etapas anteriores. Algumas são: - Inventários – capacidade ociosa e defeituosa. - Política contábil e mudanças nas estimativas contábeis. - Depreciação sobre os ativos a ser vendidos. - Imposto de renda. - Contratos de construção. - Relatórios financeiros com economias com hiperinflação. - Projetos conjuntos e consolidação proporcionada. - Relatórios financeiros intermédios. - Investigação e desenvolvimento. - Outros eventos recentes. Projeto de Investigação Contínua sobre Convergência Internacional Este segundo projeto de caráter contínuo, que visa alcançar a convergência entre as IAS e as US GAAP, lidará com as questões de maior magnitude e com as diferenças que requeiram uma ampla reconsideração. De acordo com o memorando IFAC, este projeto prossegue os seguintes três objetivos: Página 132 - Identificação de todas as diferenças entre as US GAAP e as IAS. É muito importante que a lista dessas diferenças seja monitorada e atualizada continuamente à medida que surjam novas diferenças devido as possíveis atualizações ou que as diferenças existentes sejam resolvidas. - Categorização das diferenças com base na estratégia de resolução mais eficaz. Foram estabelecidas três estratégias possíveis: o A diferença deve resolver-se dentro do projeto de convergência a curto prazo. o A diferença deve resolver-se dentro de outro projeto importante já agendado por um ou pelos dois conselhos. o A diferença a resolver requer uma consideração ampla e profunda por um ou pelos dois conselhos. - Fornecer informação ao processo de preparação da agenda do conselho conforme seja necessário com o objetivo de atingir o alvo da convergência. Nos anexos, disponibilizamos links com informação mais aprofundada sobre o regulamento contábil nos Estados Unidos. 3.3 A INFORMAÇÃO CONTÁBIL A informação contábil tem um papel fundamental em qualquer empresa ou organização já que permite identificar, registrar, medir, classificar, analisar e avaliar de forma sistemática e ordenada todas as operações e atividades desenvolvidas. Esta informação não é apenas útil para seu público interno, mas para todos que interagem, de alguma forma, com a empresa fora dela. No entanto, para que a informação contábil seja útil, deve cumprir duas caraterísticas qualitativas essenciais de tal forma que sirva para tomar as decisões mais apropriadas e convenientes a qualquer momento. Desta forma, a informação contábil deve ser tão relevante e fiável quanto possível. Página 133 Esta informação deve ter uma utilidade notável, potencial ou real para os fins perseguidos pelos diferentes destinatários. A informação contábil e financeira será relevante quando for susceptível de influenciar a tomada de decisões. A natureza relevante da informação implica a possibilidade de alterar uma decisão e ajudar os usuários a fazer previsões sobre as consequências de eventos passados, presentes ou futuros ou confirmar e corrigir expectativas prévias. A informação contábil e financeira deve ser também fiável, isto é, capaz de representar as caraterísticas e condições básicas dos fatos contábeis. Junto com a relevância, a fiabilidade implica uma informação imparcial, objetiva e verificável, que constrói uma representação fiel dos fatos que descreve e prossegue o princípio da prudência avaliativa que, em geral, se concentra na contabilização de todos as perdas no momento em que se conhecem e na contabilização de ganhos apenas quando são recebidos de forma eficaz. A relevância e a fiabilidade compõem um elemento essencial da informação contábil e financeira. A ausência de uma destas caraterísticas pode prejudicar a outra. Além destas duas caraterísticas principais é interessante apresentar outros critérios que caracterizam a informação contábil. Estes critérios são: - Utilidade: a informação contábil deve ser útil. Primeiro para conhecer realmente a situação econômica da empresa e, em segundo lugar, para ajudar a tomar as decisões corretas. - Pertinência: a informação contábil deverá sempre concordar com objetivos e necessidades dos usuários. - Clareza: a informação contábil será consultada tanto pelos usuários internos como externos. Por isso a importância da redação clara e organizada, sem muitos tecnicismos, para que seja compreensível aosnão especialistas no âmbito contábil e financeiro. Página 134 - Comparabilidade: a informação deve ser disposta de maneira que permita compará-la com a informação contábil e financeira de outras empresas ou com a informação da mesma empresa em diferentes períodos de tempo. - Oportunidade: é muito importante que a informação contábil seja fornecida no tempo, forma e lugar apropriado. - Objetividade: é imprescindível que a informação financeira seja objetiva, sem qualquer preconceito. Portanto, deverá referir-se aos fatos como são, sem disfarçar a situação nem criar algo diferente do que existe. Isso poderia prejudicar a tomada de decisões com relação a organização. - Integridade: a informação contábil deve representar um todo, sem omissões e incluindo tudo aquilo necessário para alcançar uma representação íntegra e fidedigna da situação contábil. - Certeza: é muito importante que exista segurança em relação aos dados e informações divulgados, por isso a importância da verificação. - Prudência: na elaboração da informação contábil e financeira é preciso ser prudente, de modo que todos os fatos serão registrados no momento certo, quando sejam efetivos, nem antes nem depois. 3.3.1 Normas Internacionais de Relatório Financeiro As Normas Internacionais de Relatório Financeiro são, igual que as Normas Internacionais de Contabilidade, padrões internacionais promulgados pelo IASB, que estabelecem os requisitos de reconhecimento, medição, apresentação e informação para divulgar sobre as transações e fatos econômicos que afetam uma empresa e refletem nas demonstrações financeiras. Estas normas foram desenvolvidas com o objetivo de criar um regulamento claro e uniforme relativo as regras de avaliação aplicáveis as contas anuais e consolidadas de determinadas formas sociais, bancos e outras instituições financeiras. Estas normas Página 135 foram concebidas pensando em grandes empresas, com relevância no ambiente econômico e com projeção internacional. Trata-se de uma série de regras obrigatórias na União Europeia. Da mesma forma como fizemos com as Normas Internacionais de Contabilidade, apresentaremos as Normas Internacionais de Relatório Financeiro juntamente com uma breve descrição e, para sua plena consulta, fornecemos uma seção exclusiva nos Anexos. As Normas Internacionais de Relatório Financeiro são: - IFRS 1 Adoção, pela primeira vez, das Normas Internacionais de Relatório Financeiro: esta primeira norma estabelece a maneira como as entidades devem realizar a transição para a adoção das Normas Internacionais de Relatório Financeiro para a apresentação das demonstrações financeiras. - IFRS 2 Pagamento baseado em ações: esta norma exige que uma entidade reconheça as transações de pagamento baseadas em ações nas suas demonstrações financeiras, incluindo as transações com os seus empregados ou terceiros a serem liquidadas em numerário, por outros ativos ou por instrumentos de patrimônio da entidade. - IFRS 3 Combinações de negócios: requer que todas as combinações de negócios sejam contabilizadas de acordo com o método de compra, assim como também a identificação do comprador como a pessoa que obtém o controle sobre a outra parte incluída na combinação ou no negócio. Define como deve ser medido o custo da combinação (ativos, passivos e patrimônio) e o critério de reconhecimento inicial na data da aquisição. - IFRS 4 Contratos de seguros: o principal objetivo desta norma é estabelecer melhorias limitadas para contabilizar e divulgar informações sobre os contratos de seguro. - IFRS 5 Ativos não circulantes mantidos para a venda e as operações descontinuadas: são os ativos que satisfazem os critérios para ser considerados Página 136 como mantidos para a venda e cujo valor é o mais baixo entre o seu valor líquido e o seu valor razoável menos os custos de venda e depreciação na cessação do ativo. Também são os ativos que satisfazem os critérios classificados como mantidos para a venda e que se apresentam separadamente no corpo do balanço patrimonial e nos resultados das operações descontinuadas que devem ser apresentados separadamente na demonstração de resultados do exercício. - IFRS 6 Exploração e avaliação de recursos minerais: define a exploração e avaliação dos recursos minerais, a participação no capital das cooperativas, o direito de emissão (poluição), a determinação de se um acordo é ou contém um contrato de locação, o direito por juros de desmantelamento, a restauração e a reabilitação ambiental. - IFRS 7 Instrumentos financeiros – divulgações: implica a exigência de que as entidades, nas suas demonstrações financeiras, divulguem a informação necessária para que os utilizadores possam avaliar a relevância dos instrumentos financeiros na situação financeira e no desempenho da entidade. - IFRS 8 Segmentos de operação: a entidade deve revelar informações que permita que os usuários, de seus estados financeiros possam avaliar a natureza e os efeitos financeiros das atividades empresariais que desenvolve, assim como dos entornos econômicos onde opera. - IFRS 9 Instrumentos Financeiros: se estabelecem os princípios para os relatórios financeiros sobre ativos e passivos financeiros, para que se apresente informação útil e pertinente aos utilizadores das demonstrações financeiras e possam avaliar os montantes, calendário e incerteza dos fluxos de caixa futuros da entidade. - IFRS 10 Demonstrações Contábeis Consolidadas: esta norma estabelece os princípios para a preparação e apresentação das demonstrações financeiras consolidadas nos casos em que uma organização controle uma ou mais entidades diferentes. Página 137 - IFRS 11 Acordos conjuntos: pretende estabelecer os princípios para a apresentação de informação financeira por entidades que tenham participação em acordos controlados de maneira conjunta. - IFRS 12 Divulgação de participação em outras entidades: esta norma exige que as entidades divulguem informação que permita aos utilizadores das suas demonstrações financeiras avaliar a natureza das suas ações em outras entidades e os riscos que isso possa supor, assim como os efeitos de tais ações na situação financeira, desempenho financeiro e fluxos de caixa. - IFRS 13 Mensuração do Valor Razoável: se estabelece um marco para a medição do valor razoável ou justo. Também requer a divulgação de informação sobre as medições desse valor. - IFRS 14 Contas de Diferimentos de atividades reguladas: são especificados os requisitos de informação financeira para os saldos das contas de atividades diferidas que surgem quando uma entidade fornece bens ou serviços a clientes a um preço ou taxa sujeitos a regulação de tarifas. - IFRS 15 Rendimentos de atividades ordinárias provenientes de contratos com clientes: se estabelecem os princípios a aplicar por uma entidade para apresentar informação útil aos utilizadores das demonstrações financeiras sobre a natureza, o montante, o calendário e a incerteza dos rendimentos de atividades ordinárias e fluxos de caixa decorrentes de um contrato com um cliente. - IFRS 16 Arrendamentos: se estabelecem os princípios para reconhecer, medir e apresentar a informação para divulgar sobre arrendamentos. Sua finalidade é assegurar que os inquilinos e proprietários forneçam informação relevante, representando fielmente estas transações. Esta informação fornece uma base para os usuários das demonstrações financeiras para poder avaliar o efeito que os arrendamentos têm sobre a situação financeira, desempenho financeiro e fluxos de caixa de uma entidade. Página 138 - IFRS 17 Contratos de Seguros: se estabelecem os princípios para reconhecer, medir e apresentar a informação para divulgar dos contratos de seguro incluídos dentro da norma. O objetivo principal é garantirque uma entidade forneça a informação relevante, representando fielmente estes contratos. Esta informação fornece uma base para os usuários das demonstrações financeiras para poder avaliar o efeito que os contratos de seguros têm sobre a situação financeira, desempenho financeiro e fluxos de caixa de uma entidade. Como já comentamos, estas regras podem ser consultadas integralmente nos anexos. 3.4 ANÁLISE INTERNACIONAL DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Como sabemos, um dos principais objetivos da contabilidade é fornecer informações úteis que contribuam para uma correta tomada de decisões pelos usuários de tais informações. Naturalmente, cada país tem as suas próprias regras em termos contábeis, embora, como já vimos, exista uma série de regulamentos internacionais de contabilidade que visam alcançar a convergência e a harmonização entre os diferentes países. No entanto, agora apresentaremos os critérios que podem dificultar a análise contábil a nível internacional. No seguinte tópico, abordaremos o processo de convergência ou harmonização contábil internacional. Existem dois aspectos que causam dificuldades ao analisar as demonstrações financeiras: - Os problemas que derivam das diferenças culturais. - Os problemas que derivam das diferenças no ambiente econômico. 3.4.1 Problemas derivados das diferenças culturais Evidentemente, a divulgação de mais ou menos informação fiscal e contábil por parte das empresas, a frequência e a oportunidade da sua publicação e a facilidade de acesso Página 139 pelos utilizadores, entre outros aspectos, dependem da cultura contábil de cada país. Além do aspecto cultural, devemos mencionar as diferenças linguísticas e as terminologias diferentes em cada país. Os aspectos relacionados com as diferenças culturais com as quais lidaremos são: - Diversidade de conteúdo da informação contábil. - Oportunidade e frequência da informação contábil. - Acesso e fiabilidade da informação contábil. - Diferenças no idioma e na terminologia contábil. - Diversidade de conteúdo da informação contábil A cultura do país ou área geográfica influencia na diversidade de conteúdos contemplados nas informações contábeis e financeiras de uma empresa. No entanto, o tipo de informação em causa não depende apenas da região em que a empresa está localizada, mas da própria empresa. Hoje, a questão da transparência é fundamental. Portanto, a maioria das empresas tenta ser transparente com a informação que emite e comunicar o máximo possível com os seus usuários. No entanto, há também empresas mais relutantes que se dedicam a emitir pouca informação ou informação focada apenas em um aspecto, como podem ser os ganhos. Atualmente, a nível internacional, as Normas Internacionais de Relatório Financeiro estabelecem um conjunto de domínios que as empresas devem abordar a nível informativo na elaboração das suas contas anuais. Isso significa que devem incluir os mesmos tópicos de informação em suas contas, facilitando a análise e a compreensão da informação contábil para todos os usuários. Página 140 - Oportunidade e frequência da informação contábil Além do tipo de conteúdo tratado nas informações contábeis, temos também que comentar a frequência com que esta informação é disponibilizada aos usuários. Em outras palavras, devemos considerar o tempo que se leva para publicar a informação uma vez fechado o exercício contábil. A dificuldade não se encontra no prazo, mas no fato que não todos os países publicam a informação ao mesmo tempo. As diferenças no período de publicação, uma vez que o exercício é fechado, assim como a frequência em que a informação é atualizada é de grande importância, especialmente hoje, onde o ambiente empresarial internacional é muito dinâmico e exige informações atualizadas no momento. O interesse e a necessidade de informação imediata estão associados ao fato de que, em muitos países, há mudanças súbitas na economia e nas políticas, causando consequências negativas para as empresas locais e nacionais em um curto período de tempo. É por isso que é interessante ter as demonstrações que recolhem esses efeitos. Apesar disso, a realidade é que a apresentação de informação contábil com frequência maior que uma vez ao ano é quase inexistente. Somente nos Estados Unidos e no Canadá se exige informação contábil de maneira trimestral. No caso da Europa, embora em alguns países esteja estabelecida a obrigação de apresentar informações intermédias as empresas presentes no mercado de valores, esta informação limita-se apenas a dados abreviados e um breve comentário sobre as operações. - Acesso e fiabilidade da informação contábil O acesso à informação contábil a nível internacional é fundamental para analisar a situação econômica global, que muitas vezes pode ser complicada devido ao escasso acesso que podemos encontrar em determinados países. Página 141 Os Estados Unidos são provavelmente o país com acesso mais fácil a informação contábil. Isto deve-se, por um lado, a obrigação das empresas de apresentarem um grande volume de informação de natureza contábil e, por outro lado, a variedade de serviços existente nesse país. No entanto, as dificuldades não são somente o acesso à informação, mas também o fato de saber se esta informação é ou não fiável. Como vimos ao abordar sobre as caraterísticas contábeis, é de extrema importância que reflita verdadeiramente a realidade, sem omitir nem transformar nada. - Diferenças no idioma e na terminologia contábil Finalmente, o último aspecto com relação a questão cultural é aquele que se refere à linguagem e terminologia contábil. Naturalmente, cada empresa apresenta a informação contábil em sua própria língua, fazendo com que a informação não possa ser consultada facilmente. Além disso, pode acontecer que alguma expressão ou conceito em uma língua não tenha uma definição concreta em outra, o que aumenta a dificuldade de compreensão. Mas não se trata apenas de diferentes línguas, já que a mesma língua, utilizada em diferentes países ou áreas geográficas, pode apresentar diferentes terminologias. Isto é o que acontece com o inglês do Reino Unido e dos Estados Unidos, com ou espanhol da Espanha e de qualquer outro país da América Latina, ou com o português do Brasil e de Portugal ou de qualquer outros dos países lusófonos. 3.4.2 Dificuldades associadas às diferenças no ambiente econômico Outro elemento que pode dificultar a análise contábil a nível internacional se refere ao ambiente econômico do país ou área geográfica em que as empresas estão localizadas. Aqui devemos considerar fatores como o crescimento da economia do país, o nível de crescimento dos preços, as taxas de juros, o grau de intervenção governamental, etc. Página 142 Em suma, estes são fatores que podem ter um impacto sobre o desenvolvimento contábil. Um elemento importante a considerar é a moeda utilizada para expressar as demonstrações financeiras de uma empresa. Como regra geral, os países utilizam a sua própria moeda para a elaboração de demonstrações financeiras. Por isso, ao verificar esta informação de outro país é difícil analisá-la com uma moeda que não é a própria. É claro que, na Europa isso não representa um problema porque o euro é a moeda comum, mas ocorre quando ao analisar as demonstrações financeiras de alguns países dos Estados Unidos, América Latina ou Ásia. 3.5 HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL INTERNACIONAL Em termos de definição e no contexto contábil, a harmonização refere-se ao ato de conciliar as regras existentes dos diferentes países, visando alcançar a uniformidade na execução dos sistemas contábeis. Trata-se de um processo que envolve a combinação de critérios e normas contábeis, a fim de fornecer informações de qualidade e uniformes nos mercados de capitais, facilitandoa interpretação aos usuários, a comparabilidade e a análise dessas informações. A necessidade de realizar esta harmonização deve-se à crescente globalização dos negócios e dos mercados de capitais, assim como ao aumento da necessidade de financiamento internacional das empresas, o que precipitou a uniformidade da informação contábil para ajudar a tomar as decisões empresariais corretas. Como levantamos, os países apresentam uma série de diferenças nos seus critérios e práticas contábeis, sustentados por fatores de natureza econômica, política, jurídica, social e cultural. Assim, quando uma empresa ou entidade prepara as suas contas anuais baseadas nos princípios contábeis do seu próprio país, no momento em que procura financiamento exterior, os mercados de capitais não poderão avaliar essa informação e compará-la com a informação contábil de outra empresa de outro país, devido a variação na forma de realizar as contas anuais e apresentar a informação contábil. Página 143 Esta situação fez com que os mercados exigissem que as demonstrações financeiras de suas empresas fossem estabelecidas e formuladas de acordo com os Princípios Contábeis Aceitos do ambiente em que residem esses mercados, ou que, em última análise, as contas anuais sejam acompanhadas de uma conciliação dos resultados contábeis apresentados e dos obtidos com a aplicação dos Princípios Contábeis do estado em cujo mercado desejam operar. No entanto, esta segunda prática pode dificultar a interpretação da informação financeira e a sua adaptação pode causar elevados custos para as entidades, pela coexistência de diferentes regulamentos contábeis. É por isso que é preferível utilizar um regulamento contábil único entendido por ambos os países. A fim de saber como funciona o processo de harmonização, apresentaremos este processo a nível internacional e europeu. ▪ O processo de harmonização a nível internacional Em cada país, os responsáveis pela promulgação de normas contábeis são, em conjunto ou separadamente, órgãos reguladores e organismos profissionais. No entanto, esta situação pode causar diferenças substanciais entre os regulamentos contábeis, o que prejudica a comparabilidade da informação contábil publicada pelas empresas. A fim de lidar com esta situação, nasceram dois regulamentos de informação financeira que visam alcançar a harmonização contábil a nível internacional. Estes regulamentos são: - Normas Internacionais de Contabilidade e Normas Internacionais de Informação Financeira (IAS e IFRS), emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB). - Princípios Contábeis dos Estados Unidos (US GAAP) emitidos pelo Financial Accounting Standards Boards (FASB). Estas duas agências definiram um caminho de convergência, assumindo o compromisso de adotar as medidas legais necessárias para permitir o reconhecimento dos dois Página 144 regulamentos contábeis em ambas as jurisdições. Além disso, e como um sinal da vontade de contribuir de forma favorável ao processo de convergência e harmonização, o Securities and Exchange Comission (SEC), órgão de fiscalização dos mercados de valores mobiliários americanos, eliminou a exigência de conciliação com os US GAAP das demonstrações financeiras emitidas com normas IAS ou IFRS. Em relação aos regulamentos contábeis europeus e americanos, lembramos que nos anexos é possível consultar suas regras e princípios, e ver as diferenças existentes em ambos. ▪ O processo de harmonização a nível europeu Começa na década de 1970 quando ocorre uma grande dispersão normativa entre os mercados dos países membros, dando lugar à necessidade de estabelecer um regulamento contábil comum. Este processo de amortização está estruturado em três estágios principais. Primeira fase: 1970 – 1990 O processo de harmonização contábil foi implementado em uma série de diretivas contábeis que estabeleciam conteúdos mínimos para formular a informação contábil exigida por cada um dos países membros e cujo objetivo fundamental era a proteção dos sócios e de terceiros relacionados com a empresa. Destacamos as diretivas contábeis estabelecidas durante esse período: - IV Diretiva, de 25 de julho de 1978 sobre a regulação das contas anuais. - VII Diretiva, de 13 de junho de 1983 sobre as contas consolidadas. - VII Diretiva, de 10 de abril de 1984 sobre a habilitação das pessoas responsáveis da auditoria das contas anuais. Página 145 Segunda fase: 1990 – 2002 A criação das diretivas contábeis não foi muito bem sucedida. Dessa forma, nesses anos houve uma fase de estudo e análise das diferentes alternativas que permitiriam que a União Europeia alcançasse a harmonização da contabilidade. Assim, durante esta segunda fase, a União Europeia, através da Comissão Europeia, utilizou o caminho das comunicações, reafirmando a necessidade de usar um único órgão normativo em todos os Estados-membros. Terceira fase: a partir de 2002 Iniciada no ano de 2002 e ativa até hoje, destacou-se pela adoção da Regulamentação do Parlamento Europeu e do Conselho 1606/2002 sobre a aplicação das Normas Internacionais de Contabilidade, também conhecida como Regulamento de Aplicação para a IAS (DOCE nº 243 de 11 de setembro de 2002). O presente regulamento implica a concretização formal da decisão tomada pela União Europeia para alcançar um modelo de informação comum das contas anuais com um elevado grau de proximidade dos regulamentos do IASB. Entre outros, os principais objetivos da aplicação do presente regulamento são: - Contribuir de forma eficaz e rentável para o funcionamento do mercado de capitais. - Manter a confiança nos mercados financeiros. - Reforçar a livre circulação de capitais no mercado interno. - Contribuir para que as sociedades da União Europeia possam concorrer, em condições de igualdade, pelos recursos financeiros disponíveis nos mercados de capitais europeus e mundiais. Estes objetivos só podem ser alcançados através da aplicação de um único conjunto de normas internacionais de contabilidade, para que todas as empresas dos diferentes Página 146 países possam apresentar as suas informações contábeis da mesma forma e seguir as mesmas normas, regras e princípios. A aplicação do presente regulamento foi obrigatória para os exercícios financeiros iniciados a partir de 1 de janeiro de 2005 na formulação das contas anuais consolidadas das empresas cujos valores mobiliários, à data do encerramento do balanço, teriam sido admitidos a cotação em um mercado regulamentado de qualquer Estado-membro. Em qualquer caso, antecipou-se que a aplicação dessa legislação seria prolongada até a formulação das contas anuais individuais e/ou das contas consolidadas de sociedades não cotadas, à escolha do Estado-membro. Ao mesmo tempo regulou-se, através de duas disposições transitórias, um diferimento na aplicação desta regra até o início dos exercícios em 1 de janeiro de 2007 para as seguintes situações: - Aquelas sociedades cujos valores de renda fixa sejam os únicos admitidos a cotação em um mercado regulado de qualquer estado membro. - As empresas cujos valores sejam admitidos na cotação oficial de um país que não seja membro da Comunidade e que por este motivo tenham utilizado normas contábeis internacionalmente aceitas a partir de um exercício financeiro iniciado antes da publicação do regulamento em aplicação. Em conclusão, estes são os grupos que formularam contas anuais consolidadas de acordo com os princípios americanos. Após a publicação do presente regulamento, foram promulgados outros, adotando diferentes IAS/IFRS. Entre eles, salientamos o Regulamento (CE) nº 1725/2003 da Comissão, de 29 de setembro de 2003, que adota a grande maioria das Normas Internacionais de Contabilidade. Para consulta, disponibilizamos um link nos anexos.
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