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NASTY # 2 CALLIE HART NASTY # 2 CALLIE HART Tradução: Line Revisão Inicial: Aline Revisão Final: Raziel Leitura Final: Barratthiel Formatação: Ariella NASTY # 2 CALLIE HART AVISO A tradução foi efetuada pelo grupo Doll Books Traduções (DB) & Wings Traduções, de modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando- os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto. Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, os grupos DB & WT poderão, sem aviso prévio e quando entender necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras brasileiras. Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo, sem que exista uma prévia autorização expressa do mesmo. O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo os grupos DB & WT de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual delito cometido por aquele que, por ato ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998. NASTY # 2 CALLIE HART “Enquanto você estiver comigo, não estará vulnerável. Enquanto você estiver comigo, estará segura. Enquanto estiver comigo, nunca estará sozinha. E quanto ao seu coração, Sera Lafferty... vou fazê-lo bater tão rápido que você nunca sentirá dor.” Sera Lafferty nÃo é louca. Ela sempre tomou decisÕes inteligentes. Ela tem uma carreira. Uma irmã amorosa. A vida pacífica e cuidadosamente mapeada em Seattle que ela anseia desde a infância. Então, por que, de repente, ela se encontra em uma caçada, viajando pelo país com um estranho? E não apenas qualquer estranho. Um assassino sexy e irritantemente pago para acabar com a vida dela. Seu passado está envolto em segredos e seus olhos estão cheios de fantasmas. Sera sabe que deveria voltar para Seattle, para cortar todos os laços com seu belo homem de preto. Mas deixá-lo pode não apenas machucar Sera no final. Pode acabar matando-a. Fix Marcosa sabe muito bem. Ele está focado em seus objetivos desde o dia fatídico em que jurou vingar o ataque brutal de sua amiga. Bebidas. Drogas. Violência. Sexo. Nada o distraiu de sua missão. Mas Sera é mais potente que o álcool, mais viciante do que qualquer ópio. Ela faz a fúria em seu sangue cantar. E o corpo dela? O corpo dela é a perfeição absoluta, e ele simplesmente não consegue tirar as mãos dela. Ou a boca dele nesse caso. Fix É determinado. Dane-se o dinheiro. Dane-se as consequências e dane-se qualquer estúpido o suficiente para ficar no seu caminho. Ele não vai acabar com a vida de Sera Lafferty. Ele a estÁ salvando. NASTY # 2 CALLIE HART PROLOGO SERA ─ Não estou interessado em desculpas. Não estou interessado em jogar. Eu só estou interessado em sua boceta. Agora abaixe sua calcinha para mim, Anjo. Eu vou fazer você gozar, porra. Eu engasguei quando Fix deslizou a mão pela minha saia e segurou minha calcinha, puxando-a insistentemente. Ele não me deu a oportunidade de obedecê- lo. O som da renda se rasgando encheu o carro, junto com a respiração irregular e cheia de luxúria de Fix. Suas mãos estavam sobre mim. Parado ao lado da estrada, a caminhonete estava sozinha na escuridão. Estávamos viajando há horas, a jornada era muito mais longa pelo fato de estarmos parando a cada cento e sessenta quilômetros para reivindicar um ao outro, nossas bocas quentes e exigentes na pele um do outro, nossas unhas cravando na pele um do outro, nossos corpos permanentemente embebidos em uma fina camada de suor e sexo. ─ Vou enfiar meu pau dentro dessa pequena boceta apertada, Sera. ─ Fix gemeu na minha boca e vi estrelas. Porra. Não era para ser assim. O sexo foi projetado para o prazer, o prazer final mais íntimo que poderia ser compartilhado entre duas pessoas. Mas isso era mais que sexo. Era uma necessidade insondável que rompeu fronteiras e quebrou paredes, e eu era incapaz de me afastar dela. Continuei bebendo Fix, bebendo muito e bebendo profundamente, mas nunca conseguia diminuir a sede constante do meu corpo por ele. E do jeito que ele não suportava tirar as mãos da minha pele, sempre alisando e acariciando, tocando e provocando, ficou claro que ele sentia o mesmo por mim. A cabine da caminhonete era espaçosa - espaço suficiente para eu inclinar meu corpo em direção a Fix. Ele me agarrou pelos quadris, mãos trabalhando rapidamente, e ele me levantou do assento, então ele estava empurrando minha saia sobre os meus quadris e tirando o tecido arruinado da minha calcinha. Ele levou o pedaço de renda até o nariz e respirou fundo. ─ Porra, você cheira tão bem, ─ ele gemeu. ─ Quero comer sua boceta. Quero lamber você a cada maldita hora do dia. Quero viver do seu gozo e do seu suor, Sera. Me dê isto. Eu quero cobrir minha língua com você. Foi um milagre que eu até conseguia suar a essa altura. Paramos para comer e bebemos enormes garrafas de água, tentando nos alimentar e reidratar, NASTY # 2 CALLIE HART mas uma hora depois, ofegantes e sem fôlego, estávamos ambos exaustos, famintos e sedentos de novo. Mordi meu lábio inferior, minhas mãos trabalhando nos botões da minha camisa. ─ Você está demorando muito. ─ Fix segurou a minha camisa e a rasgou, enviando botões voando. ─ Ei! ─ Você realmente dá a mínima para sua camisa agora? ─ ele rosnou. ─ Eu não vou esperar. Eu vou ter você. Agora, porra. E se eu destruir todas as peças de roupa que você possui antes de chegarmos à Virgínia, não lamentarei. Eu ficarei muito feliz. Vou mantê-la nua pelo resto do tempo ─ ele disse, sua voz cheia com impaciência. Ele tirou a camisa de mim e depois puxou as taças do meu sutiã, expondo meus seios. ─ Meu pau passou de madeira para aço, Sera. Seus mamilos são alucinantes. Ele se abaixou, colocando a mão no assento ao meu lado para se sustentar. Com a outra mão, ele segurou e amassou meu peito nu, enfiando os dedos na minha carne. ─ Você quer que eu os chupe? ─ ele sussurrou. Não era uma pergunta real. Ele sabia que eu queria sua boca nos meus seios. Ele sabia como o calor úmido e ardente de sua língua circulando e sacudindo com o broto apertado e inchado dos meus mamilos me deixava insana. Ele queria que eu ofegasse por ele, no entanto. Ele queria minha boceta molhada. Ele queria que eu arranhasse o estofamento dentro da caminhonete, implorando para que ele me satisfizesse. ─ Sim. ─ Minha voz falhou quando fiz minha confissão. ─ Quero isso. Eu quero que você os morda. Por favor. ─ Ofeguei, gritando quando ele caiu sobre mim, seus dentes roçando a plenitude macia e sensível dos meus seios. Ele era tão bom nisso - um mestre manipulador com a língua. Ele me fez tremer instantaneamente, meu corpo inteiro se desfazendo sob sua boca altamente talentosa. Ele era muito para lidar. Tanta coisa para absorver. Puro sexo. Seus cabelos escuros estavam despenteados, levantando-se em todos os ângulos enquanto eu o agarrava, enrolando meus dedos através dele, e eu o segurei contra mim, sussurrando no alto de sua cabeça. ─ Mais forte. Morda com mais força. Ele me deu o que eu queria. Ele me deu o quemeu corpo estava clamando, e eu não aguentava. A dor quando ele mordeu meu mamilo era inebriante e ofuscante. O calor floresceu entre as minhas pernas, queimando lentamente e profundo, e eu podia sentir a mancha ali, acumulando-se entre as minhas coxas. NASTY # 2 CALLIE HART Eu não estava apenas molhada; eu estava encharcada. Fix mudou-se para o outro seio, esbanjando a mesma atenção no meu outro mamilo, e eu quase gritei quando outro frisson de dor aguda disparou em um revezamento ao redor do meu corpo. ─ Por favor! Por favor! Fix. Oh meu Deus. ─ Por favor, o que, Anjo? ─ ele perguntou. ─ Por favor, esfregue seu clitóris com meus dedos? Por favor, faça você gozar? Fazer você esguichar? Você sente que está prestes a explodir? ─ Sim! Sim! Porra. A boca de Fix se inclinou para um lado - uma marca registrada de arrogância com a qual eu estava me acostumando cada vez mais. Toda vez que seus lábios se curvavam assim, a covinha profunda se formava em sua bochecha, meu corpo respondia da mesma forma, como se eu estivesse condicionada a desmoronar e me render a ele sempre que via a expressão. Meus olhos reviraram na minha cabeça quando ele se abaixou e beijou meu pescoço. Sua barba escura e áspera, raspou levemente a minha pele, e eu não pude reprimir o gemido ofegante que escapou dos meus lábios. ─ Ou por favor, tire a roupa, Fix? ─ ele ronronou. ─ Por favor me deixe ver você? Por favor, deixe-me levá-lo na minha boca? Por favor, faça minha boceta doer de necessidade, quando você me encher com seu pau? Com cada palavra suja e desagradável que saía de sua boca, eu me sentia sucumbindo a ele. Eu tentei resistir. Eu fiz tudo o que pude para me segurar, para ser a mais cautelosa possível. Mas levaria apenas muito tempo para que eu fosse irrevogavelmente, inegavelmente dele. Eu não conseguia se quer formar as palavras na minha boca. ─ Não segure, ─ Fix rosnou, enquanto ele empurrava os dedos dentro de mim. ─ Eu quero ouvir você, Anjo. Quero ouvir cada último gemido e lamento enquanto você se aperta em volta de mim. Ele apertou os dedos, acariciando-os dentro de mim, atingindo meu centro de prazer com facilidade. Nenhum cara tinha atingido meu ponto G antes. Gareth argumentou firmemente que o ponto G feminino nem existia. Mas Fix sabia exatamente onde estava o meu e estava determinado a usá-lo. ─ É isso aí. É isso, menina linda. ─ Ele me segurou firmemente no lugar com o braço livre, enquanto usava a outra mão para me levar à loucura. ─ Goza para mim. É isso aí. Boa menina. Boa menina. NASTY # 2 CALLIE HART Quando gozei, um êxtase indescritível me invadindo por todos os lados, reivindicando a atenção de todos os nervos que terminam no meu corpo, não segurei o grito que se formou no fundo da minha garganta. Eu o soltei, e meu clímax subiu, me levantando, me tirando do meu corpo, mais alto, mais alto, mais alto... Fix soltou o cinto com uma mão e depois desabotoou o jeans. Sua mandíbula estava firme, seus olhos brilhando como aço fundido enquanto ele continuava a trabalhar os dedos devagar, deliciosamente dentro de mim. ─ Eu vou te comer. Você é minha. Você é minha, está me ouvindo? ─ Sim. Sou sua. Eu sou. Eu... Meus olhos se abriram, e o movimento repentino e inesperado da caminhonete me fez agarrar o assento embaixo de mim. Meu coração estava disparado. Minha testa estava úmida. A camisa que Fix acabara de arrancar de mim estava de volta ao meu corpo, junto com minha saia e minha calcinha. E Fix não estava ajoelhado sobre mim, massageando-me enquanto aproveitava as ondas finais do meu orgasmo. Ele estava no banco do motorista, com as mãos firmemente agarradas no volante. Ele não tinha me notado acordada. Ou, se ele tivesse, ele estava fingindo que não. Porra. Porra. Fechei os olhos, diminuindo a velocidade da respiração, meus dedos cavando no assento de couro debaixo de mim. Que porra foi essa? O sonho mais quente que eu já tive? O sonho mais confuso e doloroso? Os últimos dias correram de volta para mim com a urgência mais assustadora, e um núcleo de medo brotou na boca do meu estômago. Acabei de ter um sonho sexual. Sobre o homem sentado ao meu lado. O homem que foi pago para me matar e que pode estar me levando à morte bem agora. Eu não deveria ter ficado surpresa. Eu sabia que estava meio fodida. Não foi a primeira vez que me deparei com problemas. Houve muitas outras situações terríveis e perigosas - situações que a maioria das pessoas normais nunca entenderiam, porque nunca tiveram que passar por isso. Fui espancada e abusada e roubaram tudo que havia de bom em mim. E aqui estava eu, mais uma vez, até o pescoço na merda, mas desta vez não parecia que haveria uma saída. NASTY # 2 CALLIE HART Eu me odiava pelas imagens que haviam acabado de entrar no meu subconsciente. Mas uma parte de mim - a maior e mais inteligente parte - sabia a verdade. Essas imagens não forçaram sua entrada no meu subconsciente. Elas forçaram a sua saída. Fix estava arraigado dentro de mim, até as raízes, e não importava que ele tivesse recebido dinheiro para tirar minha vida de mim. Não importava que ele era um assassino e tinha o sangue de inúmeras pessoas em suas mãos. Eu o queria. Eu ainda o queria. Eu era a garota mais tola do mundo. NASTY # 2 CALLIE HART UM BUTCHER’S MOUNTAIN FIX Havia estrelas atravessando o para-brisa, brilhantes e ofuscantes. O vidro estava sujo, manchado de lama e uma espessa camada de pólen amarelo queimado que se acumulara durante a noite enquanto a caminhonete estava estacionada sob um banco de árvores. Os limpadores de para-brisa gemeram quando começaram a trabalhar, balançando loucamente para frente e para trás, mas tiveram pouco ou nenhum efeito. De qualquer forma, eles borraram o vidro ainda mais, tornando quase impossível ver a estrada esburacada que se estendia à frente da caminhonete, serpenteando pela encosta da montanha como as serpentinas enroladas de uma cobra. Butcher's Mountain: esse era o nome da sombra vertical gigante que aparecia na escuridão à frente. Era de propriedade dos índios Pamunkey, mas nem eles vinham aqui. O lugar era considerado sagrado ou assombrado, eu não conseguia lembrar qual dos dois. Tudo que eu sabia era que a montanha solitária, subindo além de uma curva no amplo rio Pamunkey, estava deserta e não havia chance de ser perturbada. A noite havia caído há três horas e Sera não tinha dito uma palavra. Seu rosto estava pálido, as mãos reunidas no colo, embaixo do qual estava um envelope marrom contendo as informações do caso que Monica havia enviado para mim - informações sobre Sera. Eu deveria ter jogado fora o envelope. Era apenas uma questão de tempo até que Sera o encontrasse e surtasse, e foi exatamente isso que aconteceu. Ela me atacou naquele estacionamento no Alabama, exigiu saber quem havia me contratado para matá-la e, quando eu me recusei a responder, dizendo que precisávamos sentar e discutir como adultos, ela fechou a boca e não disse uma palavra para mim desde então. Isso foi há dez horas. Mais como uma vida atrás. Minha mente corria uma maratona desde então, e eu ainda não conseguia impedi-la de correr. Sera nem tentou escapar da caminhonete. Ela estava tão quieta e por tanto tempo agora, que fiquei pensando se ela ainda estava respirando. Ela mal piscava. Já tinha usado a cabana no cume da Butcher’s Mountain algumas vezes, quando dirigi pelo país. Foi deixado para a igreja quando meu pai ainda era NASTY # 2 CALLIE HART padre em St. Luke's, por um membro da congregação que faleceu. A mulher (cujo avô havia sido presenteado pelos índios Pamunkey em 1897 com a cabana e a floresta ao lado da montanha pelos índios Pamunkey) não tinha família para reclamar e, portanto, deixou seus pertences a St. Luke’s. A igreja tentou vender a terra. No entanto, como era cercadapor terras de Pamunkey, era impossível obter licenças de planejamento e novas estruturas não podiam ser construídas, e os Pamunkey não estavam muito felizes com a ideia de que a montanha estava sendo perturbada. Sempre que um agente imobiliário vinha à propriedade colocar uma placa de "vende-se", a placa desaparecia quando chegavam ao fundo da montanha. Não que alguém já tivesse visto. Era muito longe de Nova York para ser usada como base de retiro para campos de jovens, e muito pequena além disso, por isso havia sido esquecida. Eu não tinha esquecido o lugar, no entanto. Quando saí da igreja, peguei a papelada da cabana, assim como a chave, e foi isso. Para qualquer outra pessoa, este lugar não existia. Era uma base útil sempre que eu estava na estrada. Eu vinha aqui para clarear minha cabeça de vez em quando, principalmente depois de um trabalho bagunçado, deixando minha mente cambaleando. Gostava da solidão. Trinta minutos se passaram e eu dirigi pela escuridão, mastigando a parte interna da minha bochecha. Estava fodido. Isso estava tão, tão fodido. Quando finalmente cheguei à pista de terra estreita que sinalizava a virada para a cabana, eu estava pronto para começar a meter meu punho nas coisas. Sera não reagiu de maneira alguma quando eu parei em frente à pequena cabana de madeira e desliguei a caminhonete. Eu sabia o que ela estava pensando. O que ela estava pensando desde que tranquei as portas do carro e fugimos daquele hotel em Fairhope. Ela pensou que eu iria concluir o trabalho que aceitei e que a mataria. Eu poderia ter dito a ela que suas preocupações eram infundadas, mas ela não teria me ouvido. Não agora. Havia muitas preocupações em espiral dentro de sua cabeça, e ela não podia ser responsabilizada por isso. Foi egoísmo da minha parte recusar-me a conversar com ela sobre isso até que paramos para passar a noite. Eu sabia. Mas se eu tivesse que ser egoísta, que droga, eu seria. Eu precisava que ela estivesse calma, e que ela me olhasse nos olhos, e que ela me ouvisse. ─ Eu terei que carregá-la para dentro? ─ Eu finalmente rosnei. ─ Porque eu vou. NASTY # 2 CALLIE HART Um olhar agudo se formou no rosto de Sera, seus olhos se estreitando - a primeira emoção que ela demonstrou em horas. Fiquei contente com a exibição, mesmo que fosse raiva. ─ Você não vai. Você não vai me tocar. Você não vai chegar perto de mim, Felix Marcosa. Você não tem minha permissão. ─ OK. Vejo você lá dentro quando estiver pronta. ─ Tirei as chaves da ignição e saí do carro, batendo a porta atrás de mim. A porta de Sera se abriu quando eu peguei a chave da cabana do metal enferrujado pálido que estava no degrau superior da varanda. ─ Você não está preocupado que eu corra? Se você me deixar aqui, eu poderia voltar para a estrada e esperar alguém me buscar, você sabe. Não tenho medo do escuro. Suspirei, esfregando a chave de aço com a ponta do polegar. ─ Você poderia faze isso, sim. Mas você é inteligente demais para isso. Você sabe exatamente a que distância está de volta à estrada e sabe exatamente quantos carros passam aqui. Sendo esse, nenhum. Se você conseguir encontrar o caminho de volta para a estrada, teria que caminhar todo o caminho de volta pela montanha. São quase sete quilômetros longos e sinuosos. E depois de descer, você terá que caminhar mais 24 quilômetros para chegar a uma estrada onde possa encontrar outro carro. Você está usando Chuck Taylors nos pés e não tem jaqueta. Caso isso não pareça desagradável, você deve saber que é uma terra indígena. A caçada dos Pamunkey aqui ─ eu menti. ─ E o mesmo acontece com muitos leões da montanha e pumas. ─ Essa parte não era mentira. Lancei- lhe um sorriso incorrigível. ─ Então... se você está determinada a sair em busca de um resgate, seja minha convidada. Por outro lado, se você preferir entrar e ter uma conversa adequada comigo, por mais difícil e de merda que ela seja, terei um fogo feito na lareira em um minuto. Também tenho certeza de que há uma garrafa de uísque escondida embaixo das tábuas do chão do quarto. A carranca de Sera era digna de medalha de ouro olímpica. ─ Vá se foder, Fix. Levou cada grama de força que eu tive para conter a resposta que estava dançando na ponta da minha língua. ─ Você escolhe. Dormir na caminhonete não é tão confortável, mas já fiz isso antes. Não seria o fim do mundo. ─ Eu entrei na cabana, tirando a sujeira das minhas botas enquanto pisava no limiar. Lá dentro, o ar estava velho e abafado, o cheiro de madeira úmida permeava o espaço pequeno e dividido. Havia uma caixa de disjuntores na parte externa do prédio, mas seria mais rápido acender as lanternas de tempestade que eu sabia NASTY # 2 CALLIE HART que estavam espalhadas pelo local. Quanto tempo exatamente se passou desde que eu subi aqui? Um ano? Dezoito meses? As baterias nas lanternas ainda seriam boas. Encontrei a primeira lanterna sentada na mesinha de centro em frente ao fogo, e levou apenas um momento para acendê-la. Um círculo de luz branca fraca brilhou, iluminando um raio de um metro e meio ao meu redor; a partir daí, era simples localizar as outras lanternas e acendê-las uma a uma. A cabana era composta por duas salas principais - um quarto na parte de trás e uma sala de estar com cozinha ao longo da parede direita -, além de um banheiro do outro lado do quarto. Cabeças de animais empalhados pendiam das paredes, junto com peles e peles secas, e várias armadilhas de urso enferrujadas que eram tão velhas que provavelmente nem fechariam mais. Seus dentes irregulares se projetavam de ganchos na madeira como as bocas abertas de tubarões mortos há muito tempo. Tudo estava coberto por uma espessa camada de poeira. O tapete que repousava sobre as costas do sofá de três lugares estava tão comido por mariposas que seus inúmeros buracos estavam começando a formar uma espécie de padrão de crochê. Sob os pés, as tábuas do assoalho estavam lascadas e gastas, mas limpas. Enfiei a chave da caminhonete e as da cabana no bolso da calça jeans e fui colocar um pouco da madeira cortada e seca na lareira, contando dentro da minha cabeça. Quinze. Dezesseis. Dezessete. Dezoito. Dezenove. Vinte. Vinte e um… Eu já tinha vinte oito e estava quase terminando de construir a base do fogo quando a porta da cabana se abriu e Sera entrou. Não olhei por cima do ombro. Usei meu isqueiro para acender um jornal enrolado e deslizei-o entre as toras, soprando levemente até que as chamas pegassem e se fortalecessem. ─ Bem, isso é caseiro, ─ murmurou Sera. ─ Nada grita: 'Não estou planejando matá-la', como uma variedade de armadilhas com espinhos e animais assassinados pendurados nas paredes. ─ Este lugar costumava ser um alojamento de caçadores. As pessoas que caçam tendem a colecionar armadilhas pontiagudas e criaturas mortas. Esse é o motivo. ─ Eu me endireitei, limpando minhas mãos no meu jeans, então peguei uma lanterna de uma das gavetas sob o balcão da cozinha, voltando para a porta. ─ Por que você está agindo assim? ─ Sera sibilou. Eu parei, virei e olhei para ela corretamente. ─ Agindo como o quê? NASTY # 2 CALLIE HART ─ Como... ─ Ela jogou as mãos para o alto, bufando alto. ─ Como se tudo estivesse normal. Como se estivéssemos apenas parando aqui durante a noite, e está tudo bem. ─ Como devo agir? Devo fazer você sentar no frio? Prender você em uma cadeira? ─ Eu andei em direção a ela, estralando meus dedos. ─ Devo levar você de volta, colocar uma pá na mão e pedir para começar a cavar, Sera? É isso que você quer? ─ Não seja idiota, ─ ela rosnou. Sua fúria estava cheia de medo quando ela se afastou. ─ Claro que não é isso que eu quero. ─ Então sente-se. Vou ligar a energia e, quando voltar, começaremos isso desde o início. O exterior da cabana era uma treliça de trepadeiras e kudzu; Eu tive que rasgá-la com minhas próprias mãospara chegar à caixa do disjuntor. Depois de ligar, peguei nossas malas no carro no caminho de volta para dentro da cabana, jogando-as no chão perto de uma estante velha e precária que estava sobrecarregada com cópias antigas e podres de revistas agrícolas e da National Geographic. Sera estava de costas para mim enquanto olhava diretamente para o fogo que se apoderara adequadamente enquanto eu estava do lado de fora. Ela estava de perfil, bonita e fechada, com as costas retas. Qualquer outra mulher estaria encolhida em um canto agora, mas não Sera. Ela ficou lá, aguardando corajosamente seu destino, pronta para enfrentar o que estava por vir, e ela estava fazendo isso com um nível de desafio que me fez querer arrancar as roupas de seu corpo perfeito e devorá-la. Eu não poderia fazer isso, no entanto. Ela nunca me deixaria fazer isso de novo. Não depois do que ela encontrou naquele maldito envelope no meu porta-luvas. Deus, momentos como esse seriam poucos. Ela ia escorregar pelos meus dedos como fumaça, e eu deixaria isso acontecer, porque ela merecia uma vida descomplicada. Ela merecia muito mais do que eu poderia dar a ela e isso era um fato. Fiquei o mais imóvel que pude, observando-a, bebendo-a - a maneira como o brilho âmbar e dourado do fogo iluminava seus cabelos, como se ela também estivesse em chamas, uma criatura nascida do fogo. Eu era uma criatura de gelo. Isso nem sempre foi o caso. Já fui uma pessoa calorosa e despreocupada, de sorriso fácil. Meu pai logo cuidou disso, e meu tempo estudando no seminário acabou comigo. Ao contrário de meu pai, que já era casado e tinha um filho antes de ingressar no sacerdócio, eu era jovem e solteiro, como a maioria dos homens que usavam o colar. Realmente nunca quis me NASTY # 2 CALLIE HART dedicar à igreja, mas parecia que meu caminho já estava definido diante de mim, e nada que eu pudesse fazer ou dizer mudaria esse fato. Então aceitei que ficaria sozinho para sempre e fiz qualquer paz que pudesse com esse conhecimento. Eu deixei meu coração congelar, deixei meu sangue esfriar, formar fragmentos de gelo dentro dele, e depois de um tempo nem percebi o frio enquanto ele corria por minhas veias. Quando me afastei da igreja, nem me ocorreu que eu poderia querer me descongelar. Parti por um motivo, e esse motivo foi o de punir a cabeça dos ímpios e dos cruéis. Esse tipo de missão não deixava espaço para suavidade, bondade ou emoção de qualquer tipo. Claro, houve mulheres ao longo do caminho. Muitas mulheres. Mas eu nunca parei assim e olhei para qualquer uma delas, meu peito doendo como se alguém tivesse me acertado com uma picareta, porque eu suspeitava que nunca mais as veria. Isso era totalmente novo e diferente, e eu não gostei. Nem um pouco. Ainda assim, eu me conhecia. Eu não seria capaz de mudar a dor surda que batia em mim toda vez que amaldiçoava, o punho danificado do músculo apertado sob minha caixa torácica. Melhor aceitar a realidade da situação, morder a dor, prender a respiração e esperar até que ela espere passar. Eu provavelmente estaria no maldito México, com o pulso profundamente na cavidade do peito de um chefe de cartel, quando conseguisse sacudir esse sentimento. ─ Fala, ─ Sera sussurrou. Ela sabia que eu estava atrás dela, mas ela não se afastou do fogo. Seu comando com arestas de aço me arrancou dos meus pensamentos e me arrastou de volta para a cabana, e de volta para as coisas que eu precisava dizer a ela. Porra, isso seria complicado. Sentei-me no sofá, limpei a garganta e comecei. ─ Monica lida com os clientes e o dinheiro. Ela me ligou há um mês e me disse que havia aceitado um trabalho incomum. Um trabalho que normalmente não aceitávamos. Eu já matei uma mulher antes, ela propositalmente incendiou a casa da irmã com seus três filhos pequenos lá dentro, enquanto eles estavam gritando, tentando sair... ─ Fiz uma pausa, respirando. Esse tinha sido um trabalho de merda. Lembrar, lembrar das fotos... me levou a um lugar severamente escuro e fodido. ─ Quando Monica enviou seu arquivo, não pude ver o motivo por trás dela aceitando seu caso. Não parecia haver nada de ruim. Você não era uma assassina. Você não cometeu nenhuma atrocidade, pelo que pude perceber. Liguei para Monica e ela disse que não havia se encontrado com NASTY # 2 CALLIE HART o cliente pessoalmente. Eles a contataram por e-mail e contaram uma história sobre você matando sua mãe. Disseram que você estava lentamente envenenando sua irmã, tentando matá-la também. ─ Pedi a Monica as evidências e ela me enviou um relatório de toxinas, mostrando altos níveis de arsênico e mercúrio na corrente sanguínea de sua mãe. O teste foi realizado durante a autópsia... Sera girou lentamente, os braços abraçando o próprio corpo, o rosto uma imagem de puro choque e raiva. Minha primeira resposta foi ir até ela, buscá-la e segurá-la para mim. Eu não poderia, no entanto. Eu simplesmente... não consegui. ─ Eu disse que minha mãe teve um aneurisma. Ela estava bem, e então, um dia, ela simplesmente caiu morta. Como diabos você pode dizer que ela foi envenenada, Fix? Como diabos você pode dizer que eu a envenenei? Eu era apenas uma criança! Eu nunca... eu nunca a machucaria. Ela era toda a porra do meu mundo. E Amy? Eu pretendia estar tentando matar Amy agora também? O que você está dizendo não faz sentido. ─ O relatório parecia legítimo. Eu mesmo verifiquei a papelada. A autópsia foi registrada no jornal do condado. Carimbado. Não parecia que tinha sido fabricado. Monica não aceitaria apenas um trabalho com base em reivindicações infundadas, então eu confiei que ela havia feito sua diligência. Eu fui para Seattle. Para te encontrar. Para matar você. Mas quando cheguei lá, vi você, vi como você era jovem e como era normal, e comecei a duvidar. Fiquei para observá-la, para ver como diabos seria possível que você estivesse planejando matar sua irmã, e tudo o que testemunhei foi uma mulher vivendo sua vida cotidiana, trabalhando, encontrando sua amiga para um café. Também não fazia sentido para mim. Então fiquei mais tempo. Fiquei duas semanas inteiras, para tentar forçá-la a fazer sentido na minha cabeça. Mas… ─ Mas você percebeu que era muita merda de cavalo. E você ainda me seguiu até Liberty Fields. Você ainda ia me matar, Fix. ─ Sua voz estava cheia de acusação e mágoa. Ela estava bem dentro do seu direito de se sentir magoada. Cada quilometro que me aproximou dela em Wyoming parecia um laço ficando cada vez mais apertado em volta do meu pescoço. Eu não a vigiei, simplesmente, em Seattle. Eu a segui, todos os seus movimentos. Ela se tornou mais do que um trabalho. Durante esses catorze dias, ela consumiu todos os meus momentos de vigília. Ela era tão malditamente bonita, e tão malditamente complicada, e, na maioria das vezes, tão malditamente sozinha. Comecei a me NASTY # 2 CALLIE HART encontrar sonhando com ela, pelo amor de Deus, e não conseguia tirá-la da minha cabeça. ─ O trabalho em Liberty Fields foi um acaso, ─ eu disse suavemente. ─ Perguntei a Monica se havia algum trabalho em Wyoming para me dar algum tempo. Eu sabia que você estava indo nessa direção. Pensei que, mais alguns dias, poderia ver algo em você que justificasse um curso de ação tão extremo. Você nem deveria parar em Liberty Fields. Se a tempestade não tivesse sido tão ruim, você continuaria dirigindo e eu a alcançaria em um estado completamente diferente. Eu ia vigiar você no casamento da Amy. Eu ia ver se você tentaria machucá-la. Quando entrei no saguão do motel e vi você no telefone, quase morri, Sera. Eu tive que dar as costas para você, para que eu pudesse esconder meu espanto antes de encará-la. Quando falei com você na primeira vez, quando vi como você estava preocupada em chegar ao Alabama e estar lá para Amy no dia do casamento, sabia que nunca a machucaria.Meu coração estava batendo bêbado no meu peito. Não parecia encontrar o caminho e, a cada batida, eu tinha certeza de que iria falhar. A expressão de Sera era dura para dizer o mínimo. Ela estava tendo dificuldade para entender tudo isso. Eu sabia que ela iria, e era por isso que eu queria falar com ela assim, em particular, em silêncio e sozinha. Eu precisava que ela acreditasse em mim, e ainda havia muito a dizer. Sua mente deve ter corrido também. Mordi o interior do meu lábio e esperei que ela derramasse as palavras queimando no fundo de sua garganta. ─ Você me fodeu, ─ ela resmungou. ─ Você veio à minha cidade. Você ficou lá por duas semanas. Alguém te pagou para me matar, e você entrou no quarto de motel como se não se importasse com o mundo. Você... você me fodeu, Fix. Você estava dentro de mim, e o tempo todo, você deve ter planejado como iria acabar com a minha vida. ─ Sua voz se elevou, ricocheteando nas paredes, ficando cada vez mais irritada com cada palavra. Ela deu um passo à frente e depois outro. Logo ela estava em pé na minha frente, com a ponta do seu Chucks a pouco mais de um centímetro da ponta das minhas botas. ─ Você planejava atirar em mim assim que me preenchesse, Fix? É isso? ─ Eu vi a mão dela chegando. Não fiz nada para bloquear o tapa. A palma da mão dela se conectou com a minha bochecha, e a picada era brilhante o suficiente para fazer meus olhos lacrimejarem. Eu segurei minhas palavras dentro de mim, no entanto. Mantive minhas mãos descansando em cima dos meus joelhos. Ela me deu um tapa novamente, desta vez ainda mais forte, e um NASTY # 2 CALLIE HART soluço esfarrapado escorregou de seus lábios. ─ Engraçado, não é? Ficar bêbado comigo. Me seduzir. Me foder. Me usar para o seu prazer, depois me expulsar quando não estiver mais lhe divertindo. Ela fechou a mão em um punho, e eu levantei minha mandíbula para encontrar seu golpe. Eu merecia. Ela tinha todo o direito. Minha cabeça balançou para trás com o impacto - ela tinha um inferno de um gancho de direita. O gosto de cobre encheu minha boca e meu queixo picou de dor. Lentamente, abri minha boca e deslizei minha língua entre meus lábios, sentindo o gosto do sangue que ela havia tirado. Ela abriu meu lábio inferior. Sugando uma respiração irregular, Sera cambaleou para trás. Ela soluçou mais uma vez, olhou para a mão e afundou no chão. As lágrimas dela vieram rápidas, e ainda não me mexi. Se eu estremecesse agora, não haveria volta. Ela se lançaria em mim ou correria e nenhuma dessas opções levava a lugar algum. Eu acabaria machucando-a se tivesse que contê-la, e ela acabaria quebrando a porra do pescoço atravessando a floresta no escuro. Então fiquei sentado no sofá, minhas mãos coladas nas rótulas e me permiti sangrar. ─ Eu já disse a você, ─ eu disse suavemente, ─ eu sabia no momento em que ouvi você no telefone, que você não tinha feito nada errado. Sera... Ela cobriu o rosto com as mãos, sufocando com as próprias lágrimas. ─ Sera. Olhe para mim. ─ Não! ─ Sera. Eu preciso que você respire fundo e preciso que você olhe para mim. Agora mesmo. Ela afastou as mãos, os olhos brilhando de fúria. ─ Eu não dou a mínima para o que você precisa, ─ ela retrucou. Sua raiva era pura e profunda, mas pelo menos ela estava olhando para mim. Encarando, para ser mais preciso. ─ Eu nunca deveria ter tocado em você. Eu sei disso. Eu estraguei tudo, e eu não tinha o direito. Não culpo você por me odiar. Não vou te culpar se você não puder me perdoar por isso. Mas eu nunca te usei, Sera. Não te fodi porque te considerei um esporte. Você precisa acreditar nisso. ─ Então por que? Por que você se incomodaria? Você poderia ter qualquer mulher que quisesse ─ ela ofegou por sua respiração ofegante. ─ Você não tinha motivos para me foder, a menos que quisesse me humilhar antes de me derrubar. ─ Eu transei com você porque me importo com você! ─ Eu rugi. ─ Passei duas semanas observando você, a cada hora de cada dia. Quando você dormiu, NASTY # 2 CALLIE HART eu dormi. Mais ou menos. Quando você comeu, eu comi. Mais ou menos. Enquanto você trabalhava, sentei-me lá e memorizei o formato do seu rosto. O jeito que você se estica na sua mesa. A maneira como você batia constantemente com uma caneta na perna sempre que estava ao telefone. Do jeito que você forçaria um sorriso para aquela mulher gorda que lhe trazia um café todas as manhãs às onze. A maneira como seus olhos estavam sempre tão distantes e sem foco enquanto você ouvia seus amigos conversarem. O jeito que você parecia tão retraída e removida de quase todos os aspectos da sua vida. Eu vi como você estava assombrada. E vi como você era de tirar o fôlego. Como seu sorriso, por mais raro que seja, transformava completamente seu rosto. Aquele sorriso... ─ Engoli em seco, tentando me controlar. Era uma tarefa tola, no entanto. Não havia como me organizar agora. Eu abri minha boca estúpida e as palavras continuaram sendo vomitadas. ─ A primeira vez que te vi sorrir, esqueci como respirar. Você estava conversando com alguém na rua, um cara com a cabeça raspada, e ele lhe deu uma coisa. Você olhou para o que ele colocou na sua mão e sorriu. E eu... eu não conseguia me mexer. Era como se eu tivesse saído do meu corpo e perdido o controle total sobre mim. Fiquei sentado à mesa em uma cafeteria do outro lado da rua e fiquei cheio dessa raiva incompreensível. Fiquei furioso com aquele cara de cabeça raspada. Eu o odiava, porque ele estava recebendo aquele sorriso, e não eu. ─ Eu sou o cara que se apaixonou por você de longe, Sera. Eu deveria ter feito a coisa certa e me afastado. Nunca tive problema em me afastar de nada em toda a minha vida, mas estava fraco. Eu não poderia me afastar de você. Não sei como achei que tudo ia dar certo. Era uma loucura da minha parte acreditar, que qualquer coisa real pudesse resultar disso. Mas houve um momento naquele quarto de motel, um momento em que você olhou para mim e eu pude ver que você estava atraída por mim. Poderia dizer pela maneira como você estava me vendo beber daquela garrafa, como suas pupilas estavam dilatadas, como você estava inquieta, e eu cedi, porra. Eu ia me controlar. Ia me levantar de manhã e deixaria você longe, muito para trás. Mas a chance de ser o cara que te fazia sorrir? Que te fazia ronronar e tremer? Que fazia você se desfazer? Só uma vez? Eu não consegui me conter. E então, seus pneus foram cortados, e você implorou por minha ajuda, e... ─ Eu finalmente tirei minhas mãos dos joelhos, virando-as e estendendo os dedos. ─ Aqui estamos. NASTY # 2 CALLIE HART Sera parou de chorar. Ela era a estátua de uma mulher, sentada no chão em frente ao fogo, os olhos arregalados e redondos. Sua garganta trabalhava, como se ela estivesse tentando engolir sem sucesso. ─ Você não me conhecia. Você não sabia nada sobre mim. Você mal me conhece agora. Como você pode dizer que se importa comigo? ─ Porque sim, ─ eu disse, suspirando. ─ Eu me conheço. Eu sei que nunca fiquei tão destruído por uma mulher antes. Eu sei que você e eu somos uma coisa, Sera. Não sei o que, nem por quê, mas sei até a medula dos meus malditos ossos. Se isso não for bom o suficiente para você, posso aceitar isso. Eu posso desaparecer e você nunca mais me veria, mesmo que viesse procurar. Mas é a verdade, e estou disposto a lutar para provar isso. Ela parecia atordoada. Porra, eu estava atordoado. Eu não tinha como lhe dizer isso, mas no momento parecia certo. Parecia honesto, e era isso que eu queria, estar com ela daqui em diante. Eu não tinha ideia de como tentar buscar um relacionamento com uma mulher, especialmente alguém que pensava que eu estava tentando matá-la, mas era o que eu queria. Não importa o quão difícil seja. Sera enxugou as lágrimas com as costas da mão. ─ Eu não... ─ Não diga nada. Eu não quero que você diga. Porenquanto, vamos dormir. Eu vou ficar no sofá. De manhã, você pode me dizer para onde quer ir e eu farei isso acontecer. Tenho certeza de que você precisa de tempo para processar tudo isso. O rosto dela era uma máscara de incredulidade. Sim, provavelmente não havia tempo suficiente no mundo para processar essa bagunça. ─ Eu vou ficar aqui esta noite. Vou tentar dormir um pouco ─ ela disse. ─ E eu vou pensar sobre isso tudo, Fix. Mas quero duas coisas de você antes de entrar naquele quarto. ─ Diga-me. Ela estreitou os olhos para mim, inclinando a cabeça para o lado. ─ Quero saber quem o contratou para me matar. Agora. E eu quero uma porra de uma arma. NASTY # 2 CALLIE HART DOIS A VERDADE SERA Eu esperei para ver o que ele faria. Se ele me daria as duas armas - a verdade e a arma - eu saberia que a história dele, ou pelo menos parte dela, era genuína. Se ele recusasse, eu saberia que ele estava me enganando, e eu teria que tentar encontrar uma saída daqui assim que amanhecesse. Fix nem sequer vacilou. Ele estendeu a mão, levantando a camisa e puxou uma pistola preta fosca da cintura da calça jeans. Ele estendeu para mim com uma mão firme. ─ Você sabe como tirar a trava de segurança? ─ ele perguntou, sua voz rica, profunda e penetrante. Minha mão não era tão firme quanto a dele quando peguei a arma, olhando para ela. ─ Sim, ─ eu respondi. ─ Faça. Mostre-me ─ Fix ordenou. Eu segurei a arma no alto, liberando a pequena trava de segurança pelo gatilho para que ele pudesse ver o que eu estava fazendo. ─ Boa. Agora aponte para mim. ─ O que? Por quê? O grunhido que saiu de sua garganta foi frustrado. ─ Você quer a arma para se proteger. De mim. Então me mostre como você apontaria, se você fosse me matar. ─ Não seja idiota... Ele me agarrou pelo pulso, puxando meu braço e puxando a arma para frente, de modo que o cano ficasse contra o seu peito, diretamente sobre o coração. ─ Assim, Será, ─ ele rosnou. ─ Mantenha seu braço travado no cotovelo. Esta é uma arma grande. Ela tem um rebote forte. Você precisa de uma base estável para atingir seu alvo. ─ Felix, me solte. ─ Quando você puxa o gatilho, não brinque com ele. Você tem que expirar. Você tem que expirar e apertar... Eu não conseguia respirar. Eu não conseguia apertar. Eu não pude fazer nada enquanto ele segurava a mão sobre a minha, pressionando a arma contra o peito. ─ Está carregada? NASTY # 2 CALLIE HART Lentamente, com cuidado, ele assentiu. ─ Ajuda manter sua arma carregada, se você planeja usá-la em algum momento. Deus. Ele estava me mostrando como matá-lo. E ele estava fazendo isso com uma arma carregada, me forçando a segurar a maldita coisa sobre seu coração. As armas disparavam acidentalmente o tempo todo. Eu estava tremendo tanto, que parecia que eu ia escorregar e atirar nele. Uma parte de mim sentiu que não seria uma coisa tão ruim. Fix era perigoso. Perigoso pra caralho. Não apenas porque ele era um assassino, o que era claramente um grande problema, mas porquê... seus olhos eram capazes de me despir. A elevação casual de sua boca sensual e cheia, era capaz de fazer meu coração disparar. Seu corpo musculoso e poderoso me fazia querer me jogar a seus pés. Quando ele passou os braços em volta de mim e me segurou em suas mãos calejadas e fortes, parecia que o mundo estava parado. E as palavras que acabaram de sair de sua boca, palavras que contavam uma história assustadora e difícil de ouvir, também atingiram algo profundo dentro de mim que me fez sentir quente, segura e me emocionou mais do que eu estava disposta a admitir. Deus, como eu ia entender isso? Eu nunca me encontrei em perigo. Eu nunca me vi na corda bamba andando sobre uma queda tão precária e mortal, sabendo que iria perder o equilíbrio a qualquer segundo e estar estranhamente bem com as consequências. Fix removeu calmamente a arma da minha mão, colocando-a no chão ao meu lado. Seus olhos estavam prateados de novo, brilhando com tanta energia e... outra coisa. Algo como ansiedade, misturado com determinação. ─ Quanto ao seu segundo pedido, tem certeza de que quer saber, Sera? Ele estava falando do meu assassino. A pessoa que me queria morta. Ele queria saber se eu estava pronta e disposta a aceitar a verdade em toda a sua terrível glória. Eu respondi, endireitando minhas costas e olhando diretamente nos olhos. ─ Você não precisa enrolar. Nós dois sabemos quem o contratou. A única pessoa que faria uma coisa dessas. Apenas cuspa o nome dele e poderei respirar novamente. Os olhos de Felix brilhavam um pouco mais brilhantes, como se estivessem iluminados por dentro. Eles realmente eram outra coisa, aqueles olhos dele. Eu podia senti-los na minha pele o tempo todo, mesmo quando ele parecia estar procurando outro lugar - uma sensação igualmente reconfortante NASTY # 2 CALLIE HART e perturbadora. ─ E se suas suposições estiverem incorretas? E se você estiver errada? ─ ele perguntou ─ Como eu poderia estar? ─ Um nó de pavor apertou na boca do meu estômago, no entanto. Ele falou suavemente e lentamente, adotando uma gentileza que não combinava com o timbre áspero e grave de sua voz, e sua cautela me deixou em pânico. ─ Sera. ─ Ele olhou para as mãos. ─ Sixsmith é um pedaço de merda. Ele é incapaz de amar outro ser humano vivo. Eu não colocaria algo assim além dele, mas... pagar para matar alguém custa dinheiro. Um monte de dinheiro. Onde você acha que seu pai teria conseguido quarenta mil? Eu quase mordi minha própria língua. Quarenta mil? Jesus Cristo! ─ Eu tinha assumido que Sixsmith, qualquer que fosse seu raciocínio pervertido, era responsável por esse pesadelo completamente fodido. Mas Fix estava certo: eu não tinha pensado onde meu pai teria conseguido o dinheiro para colocar uma bola desse tamanho em movimento. Ele não chegaria no ponto de implorar por dinheiro, mas não havia como ele economizar quarenta mil dólares. E nenhum dos seus amigos inúteis e agiotas comedores de merda, seriam burros o suficiente para lhe emprestarem uma quantia tão exorbitante de dinheiro. Eles já haviam lhe emprestado bastante antes, e fui eu quem pagou de volta, de uma forma ou de outra. ─ Se não é o Sixsmith, quem é, Fix? Estou tão cansada de todos esses jogos. Fale, porra! Fix soltou um longo suspiro pelo nariz, balançando a cabeça para o lado até o pescoço estalar alto. Ele gostava de fazer isso – estralar seus ossos. Eu queria quebrar o pescoço dele neste momento. ─ Como eu disse, Monica nunca conheceu o cliente que nos contratou para cuidar de você, ─ disse ele. ─ Mas a pessoa que enviou e-mail se referiu a si mesma como homem. ‘Eu não sou um homem paciente’, foram suas palavras exatas. E o e-mail veio de uma conta comercial. Mpc@gerrityholdings.com. Você conhece? MPC? Gerrity Holdings? Eu permiti que meu olhar se desviasse enquanto considerava o endereço de e-mail. MPC era a abreviação de alguma coisa? Uma posição dentro de uma empresa? Eu não conseguia pensar em um cargo que abreviasse para esse acrônimo. As iniciais de alguém, então. Tinha que ser o nome de alguém. Eu não conhecia ninguém com essas iniciais. Não que eu pudesse me lembrar rapidamente. E nunca tinha ouvido falar da Gerrity Holdings antes. Uma holding era tipicamente uma manipuladora, puxando as cordas de outra empresa maior. Nos negócios, eles eram uma ótima maneira de NASTY # 2 CALLIE HART esconder sua verdadeira identidade, se você não queria que seus concorrentes soubessem que estava tentando fechar um acordo, reforçando sua posição no mercado. Na maioria das vezes, as holdings tinham que estar legalmente registradas no estado, os detalhes do proprietário da empresa, documentados como uma questão de registro público, mas algo me dizia que eu não encontraria nada se procurasse essa organização em particular. ─ Eu entendo pelo olhar perplexoem seu rosto que você não tem ideia de quem pode ser? ─ Fix continua. ─ Não. Nenhuma. Você está me dizendo que não sabe quem o contratou, Fix? Porque eu literalmente... ─ Eu tenho um nome. Eu tenho um endereço físico. Pesquisamos o IP do usuário. ─ Ele enfiou a mão no bolso e tirou a carteira, recuperando um pedaço de papel dobrado de dentro e depois estendendo para mim. Peguei e minha boca ficou subitamente mais seca que o Saara. Tudo ia mudar, no momento em que desdobrei o papel e vi o que estava escrito nele. Minha vida nunca mais seria a mesma. Eu pressionei minha língua contra o céu da minha boca para impedir que meus dentes batessem nervosamente enquanto eu desdobrava o papel. Em letra manuscrita em bloco, rabiscada e inegavelmente masculina: CARVER 62634 Wood Street, Centralia, PA 00000. Eu fiz uma careta para o papel. ─ Pensilvânia? Eu nunca estive na Pensilvânia. E não conheço ninguém chamado Carver. ─ Provavelmente não é um nome real. O endereço provavelmente também é falso. ─ Ótimo. Porra, perfeito. Então alguém me quer morta, e pode ser malditamente, qualquer um. Você realmente não sabe quem o contratou. ─ Eu amassei o papel e joguei no sofá, rosnando no fundo da minha garganta. Eu não estava preparada para isso. Tinha tanta certeza de que Sixsmith era o responsável, mas não havia como. Além da improbabilidade financeira, meu pai não tinha jeito com computadores. Não era capaz de acessar o Google para pesquisar algo, muito menos operar uma conta de e-mail. Simplesmente não havia como ele ter estabelecido uma parceria de responsabilidade limitada para se esconder atrás, e o homem com certeza não tinha o bom senso de inventar um pseudônimo. Quem quer que fosse esse Carver, não era meu pai. NASTY # 2 CALLIE HART ─ Precisamos ir para lá. Para a Pensilvânia ─ anunciei, empurrando meu queixo em direção ao papel enrolado agora aninhado nas almofadas planas em forma de panqueca no sofá. ─ Precisamos ir para esse endereço. Mesmo que seja falso, precisamos ir verificar. Fix recostou-se em seu assento. Seu corpo parecia rígido, o que era incomum; ele estava sempre tão fluido e confortável dentro de sua própria pele, mas havia algo de errado com a maneira como ele estava se movendo agora. ─ Então... você não quer que eu te leve de volta para Seattle? ─ ele perguntou devagar. Claro. Ele supôs que eu nunca mais o veria, e ele estava certo. Ou ele estava certo, até que ele derramou suas entranhas para mim e colocou uma arma na minha mão. Eu acreditava nele agora - que ele não queria me matar. Eu ainda estava pensando no fato de que Fix já havia desenvolvido uma atração estranha por mim antes mesmo de abrir a boca para falar comigo pessoalmente, mas... ─ Não. Eu não quero que você me leve para casa. Ainda não. Quero encontrar esse idiota e perguntar por que ele está fazendo isso comigo. Quero saber o que fiz para merecer isso. E quando eu o confrontar e conseguir as respostas de que preciso... quero que você o mate. Eu estava ciente de quão louca eu parecia. Hipócrita. Eu dei a Fix uma merda infinita sobre o que ele fazia da vida. Eu disse a ele que ele era uma pessoa má. Fiquei assustada e intimidada com ele, entre outras coisas, e agora aqui estava dizendo a ele que queria que ele fizesse exatamente o que detestava. Incrível como tudo mudou no momento em que descobri que era seu alvo principal e o sangue em minhas veias se transformou em lava derretida. Minha vida certamente não começou muito bem. Para alguém de fora, a existência pequena, segura e confortável que eu construí para mim em Seattle pode não ter sido tão impressionante, mas eu batalhei duro pelo que tinha e estaria condenada se deixasse alguém tirar isso de mim. Foda-se isso. E fodam-se por tentar. Fix pressionou os dedos na testa, fechando os olhos por um segundo. ─ Deixe-me ver se entendi. Você quer que eu descubra quem é esse cara, o Carver, leve você até ele e então você quer que eu o mate. ─ Sim. ─ Estou tendo dificuldade para descobrir como isso é uma boa ideia, Sera. NASTY # 2 CALLIE HART ─ Nada disso é uma boa ideia. Eu sei que é um péssimo plano. Mas é o que quero, Fix, e você fará isso por mim porque me deve muito. E quando acabar... ─ A frase morreu nos meus lábios. Quando isso acabar, não sei o que virá a seguir. Eu literalmente não conseguia imaginar o que aconteceria depois de mergulhar neste mundo de caos e crime com Felix Marcosa, mas estava disposta a apostar que seria uma bagunça e fora do comum. Eu teria que voltar para Seattle. Meu negócio estava me esperando, assim como meus clientes. Meu cachorro estava lá. Meu apartamento, com sua decoração chique e as pilhas montanhosas de livros que ainda estava para ler. Meu café favorito, Sadie, e o melhor ensopado de mariscos que o dinheiro poderia comprar. Não havia dúvida de que voltaria a Seattle, mas... Havia outros pensamentos dentro da minha cabeça. Pensamentos que me deixaram desconfortável, até as raízes da minha alma. Eu não podia nem permitir que eles se formassem corretamente, mas eles permaneciam como uma fumaça permeando, tecendo-se através das minhas sinapses, cavando fundo. Há menos de uma hora, eu estava convencida de que Fix ainda estava em uma missão para me matar. Sua confissão, embora preocupante, mudou as coisas. Não sabia como e até que ponto permitiria que isso me afetasse, mas era inegável: havia me afetado. Prossiga com cuidado. Não faça nada estúpido, Sera. A voz na parte de trás da minha cabeça, que sempre me levou a ter cuidado e me manteve fora de perigo, agora estava gritando para eu ser inteligente. E eu estava ouvindo. ─ Eu vou dormir agora. E essa arma estará colada na minha mão até que eu sinta que estou segura. Você entendeu? Um sorriso maléfico se espalhou pelo rosto de Fix. Ele realmente era magnífico, maldito seja. ─ Por mim tudo bem. Não há nada mais sexy do que uma mulher com uma arma na mão. Apenas tome cuidado para não se matar, Anjo. Anjo. O apelido colocou meus dentes no limite e fez meu corpo ficar em atenção ao mesmo tempo. Eu lutei contra o arrepio que pressionava minha espinha. ─ Não me chame assim. E não se preocupe. A única pessoa em risco de levar um tiro é você, Marcosa. Você deveria dormir um pouco também. Temos uma longa viagem de manhã. Centralia, Pensilvânia, está muito longe. NASTY # 2 CALLIE HART TRÊS CENTRALIA SERA Suponho que teria conhecido a bagunça em que estava entrando se tivesse me incomodado em pesquisar no Google ‘Centralia’. Nunca tendo estado na Pensilvânia, eu supus que a pequena cidade seria exatamente isso: uma cidade pequena e normal, povoada por pessoas comuns que trabalham duro, fazem coisas normais e cotidianas. Haveria mercearias, lojas de ferragens e pessoas cortando a grama. Crianças brincando nas ruas. No entanto, quando nos aproximamos do nosso destino, ficou cada vez mais evidente que nem tudo estava bem em Centralia. Não havia nada normal no local, e havia muitos sinais para provar isso. Sinais não metafóricos. Reais, físicos, que começaram a aparecer na beira da estrada, a cerca de oito quilômetros dos limites da cidade. AVISO - PERIGO! FOGO DE MINAS SUBTERRÂNEO! ANDAR OU CONDUZIR NESTA ÁREA PODE RESULTAR EM LESÕES GRAVES OU MORTE. GASES PERIGOSOS PRESENTES. TERRA PROPENSA A COLAPSO SÚBITO. ALERTA PÚBLICO Zona sujeita a abatimento de minas e a emissões de gases tóxicos. SILENT HILL, PA. NASTY # 2 CALLIE HART O rosto de Fix disse tudo: ele também não sabia sobre o incêndio na mina de Centralia. Quando atravessamos a cidade propriamente dita, as rachaduras no asfalto da rodovia evoluíram de consideráveis para catastróficas. Eventualmente, uma fenda larga o suficiente para engolir a caminhonete interrompeu nossa jornada, e tivemos que sair e seguir em direção aos prédiosdegradados e em ruínas a distância, a pé. ─ O lugar está deserto, porra ─ murmurou Fix. Ele estava certo. Quanto mais nos aproximamos, mais óbvias se tornam a negligência e a deterioração. Os únicos carros à vista eram aqueles abandonados na beira da estrada, enferrujando, com pelo menos vinte anos de idade, e brotando longas ervas e mudas através das fendas em suas conchas de metal deformadas. A fumaça subia em grandes plumas da encosta que sustentava a cidade, presumivelmente escapando do chão. ─ Esses sinais tem décadas de idade, ─ eu disse. ─ Não há como ainda haver fumaça, certo? Fix considerou as colunas sujas e cinzas listadas na brisa, arranhando a parte de trás do pescoço dele. ─ Quem sabe? A cidade está bem em cima de uma mina de carvão. Se um incêndio se formou lá, não há como dizer quanto tempo ele queimaria. Isso explica o cheiro. O ar estava ácido e contaminado pela picada de produtos químicos. Não é o suficiente para dificultar a respiração, ou o suficiente para parecer que seus pulmões estão sangrando, mas o suficiente para saber que cada inalação retira um minuto de sua vida. Andamos mais adiante na estrada até os prédios se aproximarem e o asfalto dobrar completamente, dividido em dois na linha que divide as pistas, e soltando fumaça como uma boca que leva diretamente ao inferno. O asfalto não era mais um cinza industrial sem graça. Era toda cor desbotada do arco-íris, um tapete de grafite de giz estendendo-se diante de nós, cada centímetro quadrado disponível do chão coberto de letras manuscritas bagunçadas e imagens pintadas com spray. Tartarugas. Gatos de Cheshire. Homens, se enforcando. Corações de amor. Pessoas fodendo. E, naturalmente, cerca de mil paus grosseiramente desenhados. ─ Por que os caras sempre desenham paus em tudo? ─ Suspirei, passando por cima de um grande pedaço de entulho na estrada. Pelo canto do meu olho, Fix sorriu, seus olhos brilhando com travessura. NASTY # 2 CALLIE HART ─ Como você sabe que foram caras? Tenho certeza que uma garota desenhou um ou dois. Veja. Aquele. ─ Ele apontou. ─ Esse tem prepúcio e veias. E as bolas não são muito grandes. Uma garota definitivamente desenhou esse. Muito realista para ter sido um cara. ─ Acho que você está certo. Os caras sempre gostam de pensar que suas bolas são muito maiores do que são. Quando passamos por um posto de gasolina em ruínas, coberto de tinta spray vermelha, meus nervos estremeceram como um conjunto de chaves. A cidade estava em ruínas. Era altamente improvável que a pessoa que contratou Fix para me matar realmente morasse aqui, mas havia uma chance. Talvez alguns dos prédios abandonados e em ruínas que ladeavam a rua principal da cidade - os que ainda estavam de pé - estivessem ocupados, e o pedaço de porcaria que entrou em contato com Mônica tivesse se escondido aqui. Carver. Até o nome enviou arrepios na minha espinha. Colocou imagens dentro da minha cabeça. Imagens muito perturbadoras de carne sendo cortada e arrancada. De ossos sendo talhados e de tendões sendo cortados. Um silêncio sufocante pairava densamente no ar como um cobertor, cobrindo Centralia. As pessoas obviamente vieram para cá - alguém tinha que desenhar todo o grafite -, mas até onde eu pude ver os garimpeiros e turistas que chegavam armados com latas de tinta e pedaços de giz apareciam com pouca frequência. Nada mudou aqui. Nada realmente vivia. Até a grama e as árvores que cobriam a encosta e subiam pelo concreto pareciam amareladas, azedas e doentes. ─ Você está muito quieta, ─ disse Fix. ─ Tem certeza de que não quer voltar e esperar na caminhonete? Enfiei as mãos nos bolsos, levantando o queixo. ─ Não. Eu já te disse. Eu quero olhar esse filho da puta nos olhos. Quero que ele me diga por que fez isso. E então quero ver você fazê-lo sangrar. ─ Você não vai me ver matá-lo. ─ O tom de Fix não deixava espaço para nenhuma argumentação. ─ Vou, Fix. Você não pode me parar. ─ Não estava planejando, ─ ele respondeu. ─ Mas a última vez que você me viu machucar alguém, você desmaiou. Você não tem estômago para esse nível de violência. NASTY # 2 CALLIE HART ─ Se você acha que por um segundo, eu não vou assistir você punir o filho da puta que pretendia me causar dano, com prazer enquanto você estiver fazendo isso, então você não me conhece. Uma carranca pensativa cintilou em sua testa. ─ Talvez você não se conheça. Assassinato nunca é fácil. Não importa quem seja, mereça ou não, testemunhar alguém perdendo a única coisa que realmente possui, sempre ficará na sua garganta. Se uma pessoa pode assistir a outro morrer e não sentir nada além de satisfação auto justificada, então essa pessoa provavelmente é um sociopata do caralho. Não havia julgamento na voz dele, mas eu pude ouvir a repreensão ali: você não sabe do que está falando. Você não tem ideia do que significa matar um homem. Você está maluca, Lafferty. Cada uma dessas declarações estava correta. Eu não tinha experiência nessa área, e com certeza não sabia o que diabos estava fazendo, mas, sociopata ou não, para o bem ou para o mal, eu sabia do que era capaz. E, nesse caso, eu iria abafar a bílis no fundo da minha garganta e deixar de lado o pânico que estava me paralisando ultimamente, e garantiria que a justiça fosse feita. Continuamos andando. Parecia que Fix sabia para onde estava indo, apesar da completa falta de sinalização para identificar o que restava de Centralia. Os turistas provavelmente haviam roubado todos eles. Fix grunhiu ao meu lado, depois apontou para a nossa direita. Um prédio atarracado, de um andar, com uma cara sombria e desarrumada, encolhido do outro lado do que antes era um estacionamento, mas agora era um cemitério de carrinhos de compras. A placa acima do prédio dizia: Suítes de luxo Centralia. Quartos disponíveis! ─ Parece nosso tipo de motel. Quer checar e ver se eles estão mentindo sobre esses quartos? Examinei seu rosto e imediatamente me arrependi. Toda vez que eu olhava para ele, meu estômago conseguia se enrolar em outro nó; nesse ritmo, eu nunca iria desembaraçar meu interior. Ele era tão incrivelmente bonito. Robusto, mas com uma suavidade sutil que me pegava de surpresa todas as vezes. O sorriso pecaminoso que parecia ter residido permanentemente em seu rosto, independentemente de toda a porcaria que aconteceu na semana passada, me fez sentir tão conflituosa que não sabia mais o que era certo ou errado. ─ NASTY # 2 CALLIE HART Prefiro arrancar meu próprio braço direito do que passar outra noite em um motel de merda com você. ─ Brava. Você quase pareceu convincente. ─ É a verdade. ─ Não. Você acabou de contar uma mentira grande e gorda. ─ Realmente. E como você supõe saber quando estou mentindo, Fix? Seus olhos brilharam com diversão. ─ Eu costumava a aceitar confissões. Eu já tive mais de mil experiências em que as pessoas me contaram meias verdades ou falsidades flagrantes. Era incrível como as pessoas ainda tentavam me convencer, e a elas mesmas, de que não haviam feito nada errado, quando o único objetivo de se sentar naquele confessionário era se absolver e limpar a consciência. Além disso, meu pau é um excelente detector de mentiras. Minhas bochechas explodiram de calor. ─ Vamos manter seu pau fora disso, Marcosa. Ele riu. ─ Esse é o problema. Você não quer manter meu pau fora disso. Você quer meu pau nisso. Em você, especificamente. Ele pode ouvir a necessidade em sua voz, e meu pau quer que você saiba que está mais do que feliz em obedecer. ─ Se você disser mais uma palavra sobre seu pênis, padre Marcosa, vou rasgar a maldita coisa. O sorriso no rosto de Fix vacilou, depois desapareceu lentamente, junto com a alegria que vinha dançando em seus olhos. Também houve um salto despreocupado em seus passos, provavelmente porque ele sabia tão bem quanto eu, que essa viagemhavia sido uma completa perda de tempo e que nada de ruim iria acontecer, mas agora parecia que ele estava subitamente com dificuldade em levantar os pés do chão. Eu disse a coisa errada. E não foi a ameaça à sua masculinidade que azedou seu humor. Era o fato de eu o chamar de padre Marcosa. ─ Por aqui, ─ disse ele, virando à direita em uma rua lateral não marcada. Assim que dobramos a esquina, nós dois travamos, no entanto. Não havia nada. Nenhuma casa permaneceu na rua. Nem mesmo as fundações eram visíveis entre o concreto fraturado, os pneus descartados entre a grama ou os montes de terra. Se alguma vez houve algum edifício aqui, eles se foram há muito tempo. Fix fez uma careta para a cena diante de nós, seus olhos avaliando tudo com um profissionalismo analítico que provavelmente vinha a calhar quando ele estava trabalhando. ─ Pronto, ─ disse ele, indo para o outro lado da estrada. NASTY # 2 CALLIE HART Eu o segui, olhando ao redor para ver o que ele havia descoberto. Usando a ponta da bota, Fix afastou um tufo de grama, revelando uma calçada de concreto atrás dela, pintada com números. Seis-dois-seis-dois-zero. Era isso o que parecia; o terceiro número da sequência estava quase ausente, o concreto desmoronando. Poderia ter sido um oito, talvez. Ou mesmo um zero. ─ Número da casa, ─ anunciou Fix. ─ Foi uma rua residencial em algum momento. Acho que isso confirma, então. O endereço IP de onde veio o e-mail de Carver pode ter sido roteado para cá de alguma forma, mas o próprio Carver com certeza não está aqui. Eu não deveria estar desapontada ou brava, mas eu estava os dois. Queria tomar uma atitude e fazer esse cara pagar pelo que havia posto em ação. Sabia o quão reativa estava sendo. Mais alguns dias na estrada provavelmente me dariam mais tempo para refletir sobre isso razoavelmente, e me sentiria aliviada por não encontrar Carver. De pé aqui, examinando a rua vazia, no entanto, senti-me amargamente enganada. ─ E agora? ─ Perguntei. ─ Ele não está aqui. Então, como encontramos esse cara? Fix continuou andando pela rua, procurando de cima a baixo o meio-fio escondido, sulcos profundos vincando sua testa. ─ Voltamos a Seattle. Você volta ao trabalho e esquece que isso já aconteceu. Vou encontrar esse cara sozinho e garantir que ele nunca mais a incomode, Sera. ─ Não! ─ Meu grito soou, cortando o ar parado da tarde. Um gato atravessou a rua à frente, disparando na grama, nada mais que um lampejo de branco e laranja. Fix parou o que estava fazendo, endireitando-se e depois se virou para mim. Ele estava vestindo uma camiseta preta sob uma jaqueta de couro preta. Seus jeans poderiam ter sido pretos antes, mas agora eram mais desbotados. Havia uma escuridão nele que não tinha nada a ver com suas roupas, no entanto. A escuridão que irradiava dele de vez em quando, afundando na minha pele e nos meus ossos, me virando do avesso, residia em seus olhos, e era uma coisa assustadora e terrível de se ver, quando aquela escuridão estava sobre você sem aviso prévio. ─ Chega, ─ Fix rosnou. ─ Acabamos com essa bobagem. Eu sei que te devo. Sei que você tem o direito de se sentir zangada, magoada e assustada, Sera. Sei que você quer vingança... ─ Não quero vingança. Eu quero... NASTY # 2 CALLIE HART ─ Eu sei que você quer vingança pelo que esse cara estava planejando fazer com você, mas se envolver além desse ponto, é pura imprudência e estupidez. Não é assim que isso é feito. Você não pode acusar cegamente esse cara sem pensar em nada. Você vai se machucar. E não participarei de nada que arrisque sua segurança. Isso simplesmente não vai acontecer. Então, se acostume com isso. Minha boca ficou aberta. Eu estive tão brava com ele nos últimos dias, enquanto nós dirigíamos até aqui, e ele agiu tão bem - o menino arrependido com o rabo entre as pernas - que eu quase esqueci que não era quem ele era. Ele estava arrependido e paciente, considerando cuidadosamente suas palavras (na maior parte do tempo) sempre que falava comigo; ele dormiu no sofá ou no chão sem reclamar e, além de alguns comentários explícitos como o que ele fez agora sobre aquele motel, ele não fez um único movimento em minha direção. Mas nada disso era ele. Não de verdade. Essa era o verdadeiro Fix, e ele era uma força a ser reconhecida. ─ Você não pode simplesmente explodir na minha vida como uma maldita tempestade, virar tudo de cabeça para baixo e esperar que eu me afaste de algo assim, ─ resmunguei. Ele estreitou seus lindos olhos pálidos. ─ Se você fosse inteligente, é exatamente isso que você faria. ─ Estive no negócio de proteger a mim e aos que me importam a vida toda. E não vou desistir agora. Se isso me torna estúpida, aceitarei com prazer o título. Com orgulho. Fix apertou sua mandíbula. Ele cruzou os braços sobre o peito, balançando para trás, me avaliando. Os lábios dele se separaram. Eu sabia que não iria gostar das próximas palavras que sairiam da boca dele. Já estava me preparando para a luta que estava se formando, mas quando ele inalou, prestes a falar, o que ele ia dizer nunca saiu. Suas sobrancelhas escuras se arquearam, seu olhar flutuando sobre o meu ombro. ─ Que porra é essa? Eu me virei. Eu também fiz uma careta, procurando a fonte de sua confusão. E lá estava, do outro lado da estrada, quase invisível entre a grama alta e seca. Uma escotilha de aço, de aparência industrial e pesada, com dois pés de largura e afundada no chão. ─ Qual o número que está na frente disso? ─ Fix perguntou, já caminhando para investigar. Ele chegou lá antes de mim, respondendo sua própria pergunta enquanto se abaixava e descobria os números seis-dois-seis- NASTY # 2 CALLIE HART três-quatro em tinta branca fosca no pedaço de calçada quebrado que ele derrubou. ─ É isso aí, ─ ele disse. ─ Este é o endereço no qual o IP foi registrado. ─ Ele já estava olhando a escotilha com intenção. Eu fui direto para ele, notando imediatamente o quão brilhante e novo o metal parecia. Não havia fechadura visível. Nada para impedir que alguém aparecesse e levantasse a laje de aço para ver o que havia dentro. Soltando um suspiro duro pelo nariz, balancei a cabeça, me afastando. ─ Se realmente houver um incêndio queimando sob toda essa cidade, a última coisa que deveríamos fazer é entrarmos em um buraco no chão. ─ Parece um bunker ou algo assim. Provavelmente tem paredes de concreto com um metro e meio de espessura. Onde está o mal em abrir e olhar para dentro? ─ Se você quiser queimar sua cara, fique à vontade. Eu estarei pronta para ligar para o 911. Fix não vacilou, mas algo nele endureceu. ─ Vai ficar tudo bem. Mas... nunca ligue para o 911, Sera. Não importa o que. Nunca. Em qualquer circunstância. O que você acha que aconteceria se eu fosse levado a um hospital? Dei de ombros. ─ Eu não sei. Eles o consertam e você pegará o seu caminho. Você tem seguro, não é? ─ Papelada é ruim, Sera, ─ foi tudo o que ele disse. Ele voltou sua atenção para a escotilha a seus pés, considerando-a intensamente, como se fosse uma cobra enrolada que se erguia para trás, preparando-se para atacar. ─ Se eu queimar meu rosto, basta atirar em minha nuca e me deixar ser levado pelos corvos. ─ Nojento. ─ O que? Os pássaros adoram churrasco. ─ Ele segurou a alça grossa na escotilha, puxando-a para cima. Não houve chiado de metal em metal, nem chuva de ferrugem saindo das dobradiças. Quem quer que tivesse colocado a escotilha aqui havia feito isso recentemente, ao que parece. Ela se abriu, revelando uma escuridão sob ela. ─ Sem chamas, ─ observei. ─ Não. Não parece muito infernal. ─ Você sabe, dada a sua história com o diabo. ─ Prefiro pensar que minha história foi com o outro cara. Ele, sem dúvida, não está mais falando comigo, então você provavelmente está certa. NASTY # 2 CALLIE HART Pela primeira vez, me pergunteise Fix ainda falava com seu Deus. Parecia irracional pensar que uma pessoa dedicaria sua vida à sua religião por anos e depois viraria as costas para ela de uma maneira tão irrevogável. Eu não planejava perguntar a ele sobre sua fé; era uma linha de questionamento muito pessoal, mas eu estava muito curiosa. Fix balançou as pernas para o lado da escotilha, olhando para a escuridão, e um choque de pânico tomou conta de mim. Ele não sabia a que distância estava a queda e não se preocupou em verificar. Ele estava apenas deslizando e... Ele desapareceu antes que eu pudesse terminar o pensamento, e meu coração pulou na minha garganta. Oh Deus. Oh Deus. Oh Deus… Um som suave de batida atingiu meus ouvidos, junto com um umphphh - o ar saindo dos pulmões de Fix. Corri para a escotilha, ajoelhando-me, inclinando-me para olhar para o lado. O dia estava claro, o que dificultou a identificação de qualquer coisa no buraco. E então, gradualmente, meus olhos se ajustaram, e eu pude ver sombras sombrias abaixo, uma das quais estava se movendo. ─ Não quebrou as duas pernas, então? ─ Eu perguntei. ─ Aparentemente não, ─ veio uma resposta. ─ Foram apenas dois ou três metros. Jogue o telefone. Ele tinha seu próprio telefone, mas eu não me incomodei em perguntar por que ele não usava o dele. Em todos os momentos, o homem parecia estar fazendo o possível para deixá-lo em qualquer lugar, menos com ele. Resmungando, tirei meu celular do bolso de trás, segurando-o no escuro, e prendi a respiração quando os dedos de Fix roçaram os meus. Foi o primeiro contato físico que tivemos desde que encontrei o envelope na caminhonete dele e não esperava a reação instantânea que o toque suave dos dedos dele teve sobre mim. No campo, de volta ao hotel, Fix me segurou com tanta força. Suas mãos haviam explorado cada centímetro do meu corpo. Sua boca me possuía da maneira mais íntima. Foi vertiginoso e inebriante, a cada segundo, mas o segundo curto que nossos dedos roçavam agora estava cheio de tanta eletricidade que o oxigênio saiu dos meus pulmões e me deixou girando. Como ainda podia me sentir assim por ele? Como ainda podia me perder, toda vez que me via olhando pelo canto do olho? Não havia motivo para eu ainda estar tão impressionada com sua presença, seu toque, mas não havia como escapar. NASTY # 2 CALLIE HART Fix era uma má notícia, o tipo que estaria estampado nas primeiras páginas dos jornais em todo o mundo, se as pessoas soubessem que um homem como ele existia, mas eu não conseguia me livrar dos pensamentos sobre ele, que constantemente atormentavam minha mente, ou a energia viva, selvagem e crua que explodia em chamas sempre que ele me capturava em seus olhos azul prateados. Uma luz iluminou o buraco. Fix ativou o recurso de lanterna do meu telefone e ele a estava usando, mudando de posição. Sua investigação parou com a mesma rapidez com que começou. ─ Porra. ─ Sua declaração de uma palavra espelhou meus próprios pensamentos quando vi o que ele havia encontrado lá. O espaço era apertado e pequeno, as paredes com pouco mais de três metros de distância. Uma pequena escrivaninha estava encostada em uma das paredes, completamente vazia de quaisquer papéis, lixo ou equipamento de informática. Contra a parede oposta havia uma pequena cama, e nela estava um corpo. Um homem. Sua camisa xadrez esticada contra sua barriga inchada, e os dedos em suas mãos carnudas, estavam torcidos e contorcidos, como se estivessem estendendo a mão e tentando agarrar algo que não estava lá. Olhos castanhos nublados olharam diretamente para mim do que, de fato, parecia ser um bunker. Sua boca estava esticada e aberta, e algo gordo e roxo projetava-se entre seus dentes. Levei meio segundo para perceber que o pedaço mutilado de carne era sua língua. Merda! Merda, merda, merda! Eu tombei para trás, chutando e tateando na grama, lutando para me afastar da escotilha. Deus... ele estava morto. Ele estava morto, e ele estava olhando diretamente para mim. Puta merda. Meu estômago se contraiu e depois se abriu. Um som alto e agudo perfurou minha mente, me ensurdecendo, tornando impossível ouvir qualquer coisa além disso. Que porra é essa? Eu não conseguia me levantar. Meus braços e pernas falharam em responder, enquanto eu implorava a eles que me afastassem da cena de merda que eu acabei de testemunhar. Um milhão de pensamentos correram pela minha cabeça, rodopiando, girando, surtando, caindo. Eu estava de volta à oficina, vendo Franz sangrar no chão. Eu estava olhando para o sangue em minhas mãos e meu estômago estava embrulhado. Exceto que desta vez não havia sangue. Pelo breve momento que presenciei do homem morto deitado de costas naquela cama, não tinha visto nenhum sinal NASTY # 2 CALLIE HART visível de ferimento ou trauma. O véu da morte que pairava sobre ele era óbvio, entretanto, como um golpe direto no rosto. Fix estava ao meu lado, então, suas mãos agarrando meus braços, tentando me puxar para ele. Lutei contra ele, tentando fugir, mas ele era muito forte. Seus braços se fecharam em volta de mim como um torno, e o cheiro dele inundou meus sentidos. ─ Sera. Sera! Porra! Está tudo bem. Está tudo bem. Eu estou com você. ─ Sua boca estava pressionada contra minha orelha. Eu podia ouvir o que ele estava dizendo, mas suas palavras só pareciam piorar meu pânico. ─ Como? Como está tudo bem? Aquele cara! Esse cara estava morto, porra. ─ Eu sei. Eu sei. Eu estou com você. Shhhh. Respire. Respire fundo por mim, Anjo. Vamos. Eu inalei, não porque ele me disse, mas porque parecia que ia desmaiar. ─ Que porra é essa, Fix? Por que... por que existem pessoas mortas em todos os lugares que você vai? Ele soltou um rosnado baixo e tenso que vibrou no meu ouvido e pressionou minha cabeça contra seu peito. Eu ainda estava me debatendo e tremendo, mas ele não me soltou. Ele não me deixou ir. ─ Sinto muito, ─ ele respirou. ─ Eu sinto muito. Eu sinto muito. ─ Repetidamente, ele gritava desculpas, a batida das palavras como um metrônomo. Eu gritei contra ele, agarrei sua jaqueta de couro e sua camisa, tentando me livrar dele, mas foi inútil. Eventualmente, a adrenalina que havia me inundado se dissipou e uma onda de exaustão me atingiu como uma parede. Eu caí frouxa em seus braços, músculo por músculo relaxando até que me senti mole contra ele. Fix pressionou seus lábios contra minha têmpora, segurando-os lá em um beijo prolongado que foi projetado para confortar. Sua respiração, puxando para dentro e para fora de seu nariz, correu sobre minha testa e minhas bochechas. ─ Você está certa, ─ ele murmurou. ─ Sempre há cadáveres onde quer que eu vá. Isso é o que acontece, no entanto. É o que acontece quando você procura a morte, em vez de correr na direção oposta. Você encontra. Ou, inevitavelmente, ela encontra você. NASTY # 2 CALLIE HART QUATRO 911 FIX Deixei Sera encolhida, empoleirada no meio-fio, os braços em volta das pernas, os joelhos dobrados sob o queixo. Ela estava tremendo loucamente. Eu não queria deixá-la sozinha, mas precisava dar uma olhada no cara no bunker. Eu usei a escada que encontrei apoiada contra a parede, quase diretamente abaixo da escotilha, para escalar para fora e fui até ela no segundo que a ouvi pular, então não tive chance de investigar. Agora, eu precisava saber quem era o cara que estava deitado lá, e como diabos ele morreu. Eu não conseguia contar quantos cadáveres eu tinha visto em minha vida. Sempre havia vigílias pelos falecidos no St. Luke's quando eu era criança. E eu era uma criança curiosa e intrometida, então bisbilhotava quase todas as vezes que sabia que haveria um funeral. Então, dando-lhes a extrema-unção no hospício ou em casa, em suas camas, estive presente inúmeras vezes quando homens, mulheres e, infelizmente, crianças fizeram a passagem desta vida. Ironicamente,
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