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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP SÃO PAULO, 28 DE MAIO DE 2020. DIREITO CONSTITUICIONAL SEMINÁRIO 28.05.2020 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS INTRODUÇÃO Os direitos e garantias fundamentais são direitos previstos na Constituição Federal e inerentes à pessoa humana. Além disso, cada vez mais ganham relevância, sobretudo no contexto de defesa da dignidade humana. No entanto, eles podem colidir entre si. Consequentemente, levanta-se um importante debate doutrinário e jurisprudencial acerca do sopesamento de direitos fundamentais e da sua força no ordenamento jurídico. A Constituição é o documento jurídico que, fundamentalmente, rege as relações de poder em uma sociedade, fixando a maneira de seu exercício, a forma e o sistema de governo, a estrutura dos órgãos do Estado, bem como os limites de sua atuação, especialmente por meio da previsão dos direitos fundamentais. . Essa noção surge com o advento das Constituições escritas, resultantes do constitucionalismo, no fim do século XVIII, visando à contenção do poder absoluto. Assim é que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, previu, em seu art. 16, o seguinte: “Toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separação dos poderes, não tem Constituição”. O QUE SE ENTENDE POR DIREITOS FUNDAMENTAIS? Os direitos e garantias fundamentais, como o próprio nome já revela, são direitos garantidos, hoje, a todos os seres humanos, enquanto indivíduos de direito. Tratam-se, assim, de garantias formalizadas ao longo do tempo, inerentes aos indivíduos. E, em razão disso, costumam andar atrelados às concepções de direitos humanos. Historicamente, a Revolução Francesa foi o primeiro grande marco na conquista de direitos e garantias fundamentais, mas também da elaboração de um plano de direitos humanos. Isto porque dela decorreu a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. Embora não se tratasse, ainda, de uma compilação de direitos, de fato, universal, já revelava uma tendência à universalização dos direitos. Com base nisso, em 1948, publicou-se, então, a Declaração dos Direitos Humanos. Completando 70 ano em 2018, esta ainda continua a ser uma definição a impactar o Direito de um modo geral. Isto porque estabelece direitos independentemente de diferenciações quanto a raça, gênero ou condição econômica. E apesar de a prática jurídica, ainda hoje, evidenciar que tais diferenciações exercem influência na consolidação e na aplicação dos direitos, era uma medida para, ao menos formalmente, garantir uma igualdade entre os indivíduos. Os direitos e garantias fundamentais, portanto, são entendidos como este conjunto de preceitos conquistados com o avanço das sociedades jurídicas e hoje positivados. A Constituição Federal de 1988, desse modo, refletiu o que fora estabelecido na Carta de Direitos Humanos de 1948. E trouxe um rol de direitos e garantias considerados fundamentais para a manutenção do ordenamento jurídico. https://blog.sajadv.com.br/ordenamento-juridico/ https://blog.sajadv.com.br/ordenamento-juridico/ https://blog.sajadv.com.br/direitos-humanos-saude/ QUAL A DIFERENÇA ENTRE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS? Em face dessa estrita relação, é preciso discutir se os direitos e garantias fundamentais são sinônimos de direitos humanos. De fato, pode ser difícil vislumbrar a diferença exata entre eles. E, do mesmo modo, é difícil separá-los enquanto proteções inerentes aos seres humanos. Talvez a grande diferenciação esteja na amplitude deles. Os direitos humanos, em geral, fazem referência ao conjunto de direitos e garantias inerentes aos seres humanos, mas estabelecidos em nível internacional. São aqueles direitos, então, previstos na Declaração de Direitos Humanos da ONU. E assimilados, portanto, por todas as nações que assinaram e reconhecem a Declaração. Tratam-se, enfim, de valores essenciais à persecução da dignidade humana. Já os direitos e garantias fundamentais, inspirados nos pactos e acordos de direitos humanos, são aqueles consolidados dentro do ordenamento jurídico brasileiro, com base, sobretudo, no princípio da dignidade humana. São, além de garantias materiais, garantias formais. E, como se verá, previstos na Constituição Federal de 1988. DIREITOS FUNDAMENTAIS X GARANTIAS FUNDAMENTAIS Uma vez que os direitos e garantias fundamentais, que dão a possibilidade do indivíduo viver com dignidade sua vida em sociedade, estão sempre juntos, algumas pessoas tendem a assumir que ambos trabalham como sinônimos. Entretanto, há diferença entre os direitos fundamentais e as garantias fundamentais previstas na Constituição Cidadã brasileira. Os direitos fundamentais são disposições declaratórias, o que significa que são prerrogativas reconhecidas pelo Estado como válidas. Isso quer dizer que o direito fundamental é uma norma, com vantagens previstas no texto constitucional. As garantias fundamentais, no entanto, são instrumentos que existem com o objetivo de assegurar que o texto constitucional (suas normas e direitos previstos) seja universalmente aplicado dentro do território do Estado. Os remédios constitucionais, por exemplo, podem ser utilizados como exemplos de garantias fundamentais, pois são ferramentas, criadas pela própria Constituição Federal, que têm por objetivo garantir a aplicação dos direitos previstos na mesma. AS GERAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Tanto os direitos humanos quanto os direitos fundamentais foram conquistas históricas. A doutrina costuma falar, então, de gerações. Ou seja, marcos históricos que destacaram a sucessiva progressão de direitos até a definição hoje entendida por direitos e garantias fundamentais e positivada na Constituição. São, portanto, exemplos de gerações de direitos e garantias fundamentais: o Direitos civis e políticos: foram os primeiros direitos conquistados e incluem o direito ao voto e as liberdades civis, como a liberdade religiosa; o Direitos sociais e coletivos: conquistados pelos movimentos sociais, incluem, sobretudo, o direito à igualdade e a positivação de outros direitos humanos; o Direitos transindividuais: referem-se a direitos mais amplos e recentes, como o direito ao meio ambiente e a preocupação crescente com a infância e a juventude. Essa classificação, contudo, varia de acordo com a doutrina. Alguns chegam a incluir uma quarta ou quinta geração, embora as três mencionadas sejam as mais clássicas. Não obstante, não são estáticas. Foram conquistas progressivas que culminaram, na realidade brasileira, na positivação pela Constituição Federal de 1988. Comumente, a doutrina identifica os direitos fundamentais em três gerações, conforme seu surgimento histórico. A primeira geração é formada pelos tradicionais direitos individuais ligados à liberdade, criando uma oposição entre o indivíduo e o Estado. Os direitos de primeira geração têm caráter negativo, visto que suas previsões caminham no sentido de exigir uma abstenção, um não fazer, uma omissão do Estado, ou seja, os direitos de primeira geração são respeitados na medida em que o Estado não ingressa na esfera de direitos conferidos aos indivíduos. Nessa primeira fase, que se inicia no fim do século XVIII, são disseminados, entre outros, os direitos relacionados à liberdade de locomoção, de religião, de opinião e de imprensa, bem como à inviolabilidade de domicílio e ao sigilo de correspondência. A segunda geração contempla os direitos coletivos, buscando assegurar a igualdade entre as pessoas por meio da exigência de prestações do Estado. Portanto, diferentemente dos direitos de primeira geração, agora não se pretende mais uma abstenção do Estado, mas são reclamadas ações efetivas deste com vistas a conferir os direitos às pessoas. Os direitos de segunda geração têmcaráter positivo, uma vez que suas previsões exigem uma ação do Estado, ou seja, os direitos de segunda geração são respeitados na medida em que o Estado age, atua, pratica ações voltadas a proporcionar a igualdade entre indivíduos. Na segunda geração, que tem início no século XIX, mas se firma nos primeiros anos do século XX, são difundidos, por exemplo, os direitos sociais, econômicos, previdenciários, bem como os relacionados à saúde, educação e cultura. Os arts. 6º a 11 da Constituição Federal contemplam os direitos sociais de forma sistematizada. O art. 6o prevê que são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, bem como a assistência aos desamparados. O art. 7º enumera os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais enquanto o art. 8o trata da livre associação profissional ou sindical. O art. 9o disciplina o direito de greve. Já o art. 10 dispõe que é “assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação”. Por fim, o art. 11 estabelece que, nas empresas com mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; III - fundo de garantia do tempo de serviço; IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; (Vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943) XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º) XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXIV - aposentadoria; XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; XXIX - ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de: o a) cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato o b) até dois anos após a extinção do contrato, para o trabalhador rural; XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 2000) XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013) Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm#art478%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm#art478%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm#art59%C2%A71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc28.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc28.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc72.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc72.htm I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei; V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais; VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer. Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação. Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores. A terceira geração, identificada nas últimas décadas, consagra direitos universais voltados à fraternidade, procurando assegurar a todos, por exemplo, um meio ambiente ecologicamente equilibrado, a solidariedade entre os povos e a paz. Essas três gerações de direitos fundamentais foram reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar, em 30 de outubro de 1995, o Mandado de Segurança n. 22.164/SP, relatado pelo ministro Celso de Mello: A questão do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Direito de terceira geração. Princípio da solidariedade. O direito à integridade do meio ambiente — típico direito de terceira geração — constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) — que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais — realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) — que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas — acentuam o principio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. Ainda não há um consenso sobre quais seriam os direitos de quarta geração. Aliás, nem sequer há consenso sobre a existência dessa outra geração de direitos. Norberto Bobbio, no início da década de 1990, já falava no surgimento de direitos de quarta geração “referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”.5 Mas, na mesma década, partindo de um a análise sobre a globalização econômica e política, Paulo Bonavides defendia que seriam: (...) direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência. Tais gerações de direitos, obviamente, não se excluem, mas vão se somando e completando com o passar do tempo. GERAÇÕES (DIMENSÕES) DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Trata-se de uma classificação que leva em conta a cronologia em que os direitos foram paulatinamente conquistados pela humanidade e a natureza de que se revestem. Importante ressaltar que uma geração não substitui a outra, antes se acrescenta a ela, por isso a doutrina prefere a denominação “dimensões”. DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO (INDIVIDUAIS OU NEGATIVOS) Foram os primeiros a ser conquistados pela humanidade e se relacionam à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Por isso, caracterizam-se por conterem uma proibição ao Estado de abuso do poder: o Estado NÃO PODE desrespeitar a liberdade de religião, nem a vida etc. Trata-se de impor ao Estado obrigações de não fazer. São direitos relacionados às pessoas, individualmente. Ex: propriedade, igualdade formal (perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de pensamento, direito à vida etc. DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO (SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS OU DIREITOS POSITIVOS) São direitos sociais os de segunda geração, assim entendidos os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de fazer, de prestar (direitos positivos, como saúde, educação, moradia, segurança pública e, agora, com a EC 64/10, também a alimentação). Baseiam-se na noção de igualdade material (=redução de desigualdades), no pressuposto de que não adianta possuir liberdade sem as condições mínimas (educação, saúde) para exercê-la. Começaram a ser conquistados após a Revolução Industrial, quando grupos de trabalhadores passaram a lutar pela categoria. Nesse caso, em vez de se negar ao Estado uma atuação, exige-se dele que preste saúde, educação etc. Trata-se, portanto, de direitos positivos (impõem ao Estado uma obrigação de fazer). Ex: saúde, educação, previdência social, lazer, segurança pública, moradia, direitos dos trabalhadores. DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO (DIFUSOS E COLETIVOS) São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente considerado. São também conhecidos como direitos metaindividuais (estão além do indivíduo) ou supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado). Os chamados direitos de terceira geração têm origem na revolução tecnocientífica (terceira revolução industrial), a revolução dos meios de comunicação e de transportes, que tornaram a humanidade conectada em valores compartilhados, A humanidade passou a perceber que, na sociedade de massa, há determinados direitos que pertencem a grupos de pessoas, grupos esses, às vezes, absolutamente indeterminados. Por exemplo: a poluição de um riacho numa pequena chácara em Brazlândia-DF atinge as pessoas que lá vivem. Mas não só a elas. Esse dano ambiental atinge também a todos os quevivem em Brasília, pois esse riacho deságua na barragem que abastece de água todo o Distrito Federal. E mais: atinge todas as pessoas do mundo, pois é interesse mundial manter o meio-ambiente ecologicamente equilibrado. Exemplos de direitos de terceira geração: direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito à paz, ao desenvolvimento, direitos dos consumidores. No Direito Processual Civil, faz-se a distinção entre direitos coletivos em sentido estrito, direitos individuais homogêneos e direitos difusos. A definição desses direitos está no art. 81, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor: “I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum”. Embora se trate, repitamos de um assunto mais afeto ao Direito Processual Civil, podemos citar, ainda que de passagem, a distinção entre esses três grupos de direitos. Os direitos difusos são direitos de todos, mas que não pertencem a ninguém isoladamente. São de grupos cuja titularidade é absolutamente indeterminada. Ex: direitos dos consumidores contra a propaganda abusiva (atinge a todos, mesmo que não tenham uma ligação jurídica uns com os outros). Já os direitos coletivos em sentido estrito são direitos de grupos determinados, mas que não pertencem a nenhum membro isoladamente, mas ao grupo como todo. Ex: direito da classe dos advogados de participar dos tribunais por meio do “quinto constitucional” (art. 94 da CF): trata-se de um direito de uma classe determinada (advogados), mas que não pertence a nenhum advogado específico, mas ao grupo. Por fim, citam-se também os chamados direitos individuais homogêneos. Apesar do nome (“individuais”) e da discordância de parte da doutrina33 , a maior parte dos estudiosos considera que esses direitos são uma subespécie dos direitos coletivos. Ou seja: de individuais, só têm o nome. São direitos de cada pessoa isoladamente, mas que podem ser protegidos em conjunto (de forma “homogênea”). Ex: direito dos consumidores lesados com um brinquedo defeituoso. Trata-se de um direito de cada consumidor, mas que podem ser tutelados (=protegidos) em conjunto. Pode-se fazer um quadro comparativo entre essas três espécies de direitos de terceira geração Quadro comparativo entre as três principais gerações de direitos CLASSIFICAÇÕES As classificações feitas no âmbito doutrinário partem da teoria dos status do Georg Jellinek que podem ser: o Status Passivo (subjections): O indivíduo é visto como um detentor de deveres perante o estado, uma espécie de situação de subordinação e sujeição em relação ao Estado. Um Exemplo seria o alistamento eleitoral e o voto sendo obrigatório, muito embora seja um direito, também é um dever. o Status Ativo: Neste caso, o indivíduo possui competências para influenciar a formação da vontade política do estado. Um exemplo seria os direitos políticos: Voto é um direito, uma ação para exercer a vontade política social englobando o direito de participar de plebiscito, referendo e inciativa popular. Percebe-se que desta forma o voto, se enquadra nos dois status, primeiramente como aspecto de dever e obrigação, mas também como direito. o Status Negativo: O indivíduo goza de um espaço de Liberdade contra as ingerências dos poderes públicos, não devendo sofrer uma intromissão estatal. Dessa forma, o estado não pode censurar, não pode interceptar. Protege assim contra a intervenção por parte do estado, são os Direitos e garantias individuais e os Direitos de liberdade. o Status Positivo: O indivíduo tem o direito de exigir uma atuação positiva por parte do estado, enquanto no negativo tem direito de exigir uma abstenção, o positivo, significa que o indivíduo tem o direito de exigir do estado, prestação. Como exemplo: merenda escolar, construção de hospital, prestações materiais, assistência jurídica, segurança pública entre outros. O QUE SÃO OS DIREITOS FUNDAMENTAIS? O conceito de direitos fundamentais pode ser definido como direitos inerentes à pessoa humana e essenciais à vida digna. Ainda, deve-se ressalta que é dever do Estado protegê-los. No entanto, eles também possuem algumas características próprias. São, portanto, as características dos direitos fundamentais: o Inalienabilidade; o Imprescritibilidade; o Irrenunciabilidade; o Universalidade; o Limitabilidade. o Historicidade; o Inviolabilidade; o Concorrência; o Complementaridade. Os direitos fundamentais, dessa forma, decorrem de uma construção histórica. Além de irrenunciáveis – ou seja, ninguém pode recusá-los, na medida em que são inerentes – também são inalienáveis e invioláveis. Isto é, não podem ser vendidos, trocados, disponibilizados ou violados, sob o risco de punição do Estado. Além disso, são imprescritíveis. Ou seja, não são atingidos pela prescrição e podem ser exigidos a qualquer tempo. Do mesmo modo são universais, uma vez que aplicados indistintamente a todos os indivíduos. Não obstante, diz que são concorrentes, pois podem incidir em concomitância a outros direitos fundamentais, e complementares, pois devem ser interpretados em consonância e em conjunto ao sistema jurídico. Por fim, são limitados, na medida em que se dividem em direitos relativos e direitos absolutos. O QUE SÃO OS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO CIDADÃO BRASILEIRO? Os direitos e garantias fundamentais do cidadão brasileiro são instrumentos de proteção do indivíduo frente à atuação do Estado. Eles estão previstos no título II da Constituição Federal de 1988. Os direitos fundamentais, então, são direitos protetivos, que garantem o mínimo necessário para que um indivíduo exista de forma digna dentro de uma sociedade administrada pelo Poder Estatal. Os direitos fundamentais são baseados no princípio da dignidade da pessoa humana, buscando estabelecer formas de fazer com que cada indivíduo tenha seus direitos assegurados pelo Estado que administra a sociedade onde esse mesmo vive, dando ao mesmo autonomia e proteção. Assim, os direitos fundamentais são inalienáveis do contrato social feito entre o indivíduo e o Estado, uma vez que a aplicação dos direitos fundamentais do cidadão brasileiro não pode ser ignorada pelo Poder Estatal. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Como tudo dentro do ordenamento jurídico, os direitos fundamentais possuem princípios e características próprias que explicam o modus operandi dos mesmos. Destacamos sete características e princípios que sustentam os direitos fundamentais abaixo: UNIVERSALIDADE Os direitos e garantias fundamentais da Constituição Federal de 1988 devem, por sua natureza protetiva, alcançar toda a população administrada pelo Estado, sem nenhum tipo de distinção. IMPRESCRITIBILIDADE A imprescritibilidade é o princípio que determina que os direitos fundamentais não prescrevem com o tempo. Eles podem ser exercidos a qualquer momento e não possuem prazo de validade. O não aproveitamento de um direito fundamental específico não faz com que o indivíduo perca, com o tempo, a possibilidade de exercer aquele direito. INALIENABILIDADE Os direitos fundamentais são, por natureza, inalienáveis. Isso quer dizer que não podem ser transferidos, ignorados, desfeitos e negociados, pois a existência dos mesmos confere a ordenação da ordem jurídica e da manutenção do Estado em si. RELATIVIDADEhttps://blog.sajadv.com.br/prescricao-e-decadencia/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Outra característica dos direitos fundamentais é a sua relatividade. Isso quer dizer que, embora universais, os direitos fundamentais não são absolutos e podem ser relativizados conforme a situação e o conflito de interesses que dessa surgir. A relativização, no entanto, não é irrestrita: não se pode relativizar o direito ao ponto em que o mesmo não faça mais sentido ou não possa ser mais aplicado. Um exemplo: as pessoas são livres e têm direito à liberdade, mas têm a sua liberdade privada quando cometem crimes que resultem em condenações ao cárcere. COMPLEMENTARIEDADE O princípio da complementariedade define que os direitos fundamentais e as garantias fundamentais são complementares. Isso quer dizer que devem ser analisados sempre em conjunto, com um complementando a extensão do outro. Para que os direitos coletivos possam ser exercidos de acordo com o que a Constituição Federal demonstra, por exemplo, os direitos fundamentais individuais devem também estar funcionando e podendo ser completamente exercíveis. IRRENUNCIABILIDADE Os direitos fundamentais não podem ser renunciados por nenhum indivíduo da nação. Nenhuma pessoa pode, por vontade própria, negar os direitos e deveres dados como fundamentais. HISTORICIDADE O último princípio dos direitos e garantias fundamentais afirma que os mesmos são frutos de um processo histórico. Isso significa que os direitos fundamentais e garantias fundamentais não estão alheios aos processos históricos e as mudanças dentro da sociedade, podendo se adaptar às novas realidades e mudanças de paradigmas que a sociedade enfrenta enquanto caminha no tempo. ONDE ESTÃO OS DIREITOS FUNDAMENTAIS? Os direitos e garantias fundamentais estão dispostos na Constituição Federal de 1988, em seu Título II. Enquanto os direitos fundamentais se referem aos direitos propriamente ditos constantes na Constituição, as garantias fundamentais se referem a medidas previstas e visam a proteção desses direitos. Assim, são exemplos de direitos fundamentais o direito à vida e à liberdade. E são exemplos de garantias fundamentais o Habeas Corpus e o Habeas Data, além de outros remédios jurídicos. Os direitos e garantias fundamentais estabelecidos na Constituição, assim, estão dispostos, de modo geral, nos seguintes artigos: o Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º, CF); o Direitos sociais (art. 6º ao art. 11, CF); o Direitos da nacionalidade (art. 12 e art. 13, CF); o Direitos políticos (art. 14 ao art. 16, CF). OS PRINCIPAIS DIREITOS FUNDAMENTAIS Na Constituição Federal brasileira de 1988, o artigo que abre o título II da Carta, denominado “dos direitos e garantias fundamentais”, é o artigo 5º. O artigo 5º aponta, em sua frase, cinco direitos fundamentais que são basilares para a criação dos demais e para todo o ordenamento jurídico brasileiro. A frase determina: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”. A partir dessa frase, vemos que os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade são a base dos direitos fundamentais da Constituição Federal. A inviolabilidade dos mesmos é a garantia de que a relação entre o indivíduo e o Estado se mantém intacta, juntamente com o Estado Democrático de Direito. Exploramos de forma mais específica cada um dos cinco principais direitos fundamentais abaixo. DIREITO À VIDA Provavelmente o direito fundamental mais importante para a existência do indivíduo em sociedade, o direito à vida não leva em consideração apenas a garantia de que a pessoa tem direito sobre a própria vida e a sua existência. O direito à vida também leva em consideração da condição de viver de forma digna, preservando a integridade física e moral de cada indivíduo que vive na nação. Além do direito à vida, práticas que possam humilhar física e psicologicamente o indivíduo são vedadas. A coação e a tortura (incisos II e III da Constituição Federal), por exemplo, são exemplos de práticas que violam diretamente o direito à vida, e, por isso, são vedadas no artigo 5º: “II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. DIREITO À LIBERDADE O direito à liberdade, da mesma forma que o direito à vida, não está limitado à liberdade física, de não ser preso ou detido sem motivo ou sem ter infringido a lei. O direito à liberdade engloba o direito de ir e vir, o direito de livre expressão e pensamento, de liberdade religiosa, de liberdade intelectual, filosófica e política, da liberdade à manifestação, entre outras. DIREITO À IGUALDADE O direito à igualdade, dentro do rol de direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, trata mais das questões envolvendo o direito de ser tratado como igual perante os demais membros da sociedade. Questões relacionadas ao gênero, à classe, à etnia e raça, à crença religiosa e a demais questões são abordadas na Constituição com o objetivo de dar respaldo protetivo legal à possibilidade das pessoas serem tratadas como iguais, tendo em mente as suas diferenças entre si. Outra questão relacionada à igualdade tratada na Constituição Federal tange à questão material, onde as pessoas devem ter incentivo à acesso a certos bens e condições materiais a partir da classe social, com o objetivo de combater a desigualdade social e econômica. Além da preservação dos direitos à igualdade, os direitos fundamentais e garantias fundamentais criam mecanismos de punição àqueles que infringirem o direito à igualdade alheio. DIREITO À SEGURANÇA Dos direitos fundamentais, o direito à segurança é o que mais tem a ver com a ação do Estado na vida individual das pessoas que compõem a nação. Dentro do direito à segurança está a capacidade do Estado em punir aqueles que não respeitam as leis, além de oferecer segurança para que o indivíduo se defenda do Estado quando o mesmo age em desacordo com a Constituição Cidadã. O inciso XXXIX do artigo 5º da Constituição Federal, por exemplo, determina que ninguém pode ser responsável por crimes que não estejam tipificados em lei, nem podem ser penalmente responsáveis sem um julgamento justo e legal. DIREITO À PROPRIEDADE Dentro do ordenamento jurídico e dos direitos fundamentais, o direito à propriedade é um dos direitos mais importantes para garantir que todos tenham a possibilidade morar e subsistir de forma digna. O direito à propriedade assegura que todos possam desfrutar de propriedades privadas, criando normas protetivas (registros para que a propriedade seja regularizada de forma legal), além de instituir modos de distribuir propriedade a pessoas que não possuem as condições de ter um lugar para moradia e subsistência. A usucapião, por exemplo, se baseia no inciso XXIII do artigo 5º da Constituição Federal, que determina que toda a propriedade tenha uma função social. Trata-se de um mecanismo criado para garantir o direito à propriedade a todos, além de determinar que a propriedade precisa possuir um uso que tenha uma finalidade social (moradia, trabalho, alimentação...). O DIREITO À LIBERDADE DE REUNIÃO A Liberdade de Reunião é um direito fundamental garantido ao cidadão pela Constituição de 1988, mais precisamente no inciso XVI do artigo 5º. Porém, essa reunião não é aquela entre você e seus amigos no bar. Na legislação, esse conceito se refere às manifestações, ou seja, conjunto de pessoas que se reúnem em lugarpúblico com o objetivo de defender ou tornar conhecidas suas opiniões. O artigo 5º é uma das partes mais importantes de nossa Constituição Federal (CF). Nele, estão previstos os direitos e liberdades fundamentais da população brasileira, que têm como objetivo assegurar uma vida digna, livre e igualitária a todos do País. Neste conteúdo, falaremos sobre o inciso XVI, que trata da liberdade de reunião no Brasil. Para conhecer outros direitos, confira a página do Artigo 5º, um projeto desenvolvido pelo Politize! em parceria com o Instituto Mattos Filho. O artigo 5º, em seu inciso XVI, afirma que: “XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;” Ao afirmar que todos podem reunir-se pacificamente sem qualquer tipo de autorização prévia do Estado, a Constituição protege o direito fundamental de livre manifestação do pensamento e a participação ativa das pessoas nos debates públicos que forem de seu interesse. Porém, ela estipula alguns limites à liberdade de reunião em prol da segurança do restante da sociedade. A primeira dessas limitações é o porte de armas nessas manifestações. Ao proibir a circulação do armamento nesses espaços, impede-se que haja alguma imposição física e psicológica no ambiente e que a população, em algum momento mais acalorado do debate, cause acidentes e interfira na vida de pessoas que não estão envolvidas no https://www.politize.com.br/direitos-e-deveres-cidadao/ https://www.politize.com.br/constituicao-de-1988/ https://www.politize.com.br/artigo-5/ https://www.politize.com.br/constituicao-de-1988/ https://www.politize.com.br/direito-a-informacao/ https://www.politize.com.br/liberdade-politica-temos-autonomia-para-agir/ https://www.politize.com.br/igualdade-de-genero-raio-x/ https://www.politize.com.br/artigo-5/ https://www.politize.com.br/ https://www.institutomattosfilho.org/ https://www.politize.com.br/estado-o-que-e/ https://www.politize.com.br/constituicao-de-1988/ https://www.politize.com.br/artigo-5/liberdade-de-pensamento/ https://www.politize.com.br/artigo-5/liberdade-de-pensamento/ evento. Assim, garante-se não só a liberdade de reunião e o direito de ir e vir do cidadão, mas principalmente a paz. Outra exigência para se ter a liberdade de reunião é que ela deve ser realizada em locais públicos de acesso livre, facilitando a circulação não apenas de autoridades, mas também de pessoas interessadas e opositores. Caso haja outra reunião marcada para a mesma data, horário e local, a que se organizou primeiro tem o direito de realizar o evento, enquanto a seguinte deverá alterar o dia, a hora ou o espaço em que a manifestação será feita. Há uma barreira legal à liberdade de reunião que gera bastante polêmica, que é a obrigatoriedade de notificação às autoridades competentes antes de se fazer uma manifestação. É importante frisar que, ao contrário do que a maioria pensa, não se trata de um pedido, mas sim de um aviso. Ou seja, você poderá realizar o movimento, mas a Polícia Militar e os Bombeiros, órgãos de segurança pública, devem saber da existência da reunião para se prepararem para eventuais ocorrências e para garantirem a segurança no local do evento. Em situações extremas, o direito à liberdade de reunião pode ser restrito. É o caso do chamado Estado de Sítio (Art. 137, CF), decretado em guerras, por exemplo. Durante esse período, o Artigo 139 (CF) diz que o Presidente pode “obrigar a permanência (das pessoas) em localidades determinadas” (inciso I) e também “suspender a liberdade de reunião” (inciso IV), que são formas de impedir a livre mobilidade dos civis em momentos de emergência nacional. A liberdade de reunião se mostra fundamental para a organização de uma sociedade democrática, mas será que ela sempre foi garantida no Brasil? Veja como nossas antigas Constituições tratavam do assunto logo abaixo! DIREITOS E GARANTIAS A diferença que se faz entre os direitos e as garantias é a seguinte: enquanto aqueles se traduzem como bens da vida, as garantias buscam assegurá-los. Os direitos são declaratórios, enquanto as garantias são assecuratórias. Um exemplo típico de um direito e sua respectiva garantia se encontra no art. 5º, XV e LXVIII, da Constituição Federal. Enquanto aquele inciso declara o direito à livre locomoção em território nacional em tempo de paz, este garante o exercício desse direito na medida em que estabelece a concessão de habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. APLICABILIDADE O art. 5º, § 1º, da Constituição Federal, prevê que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Assim, todas as disposições que definirem os direitos e garantias fundamentais — segundo a classificação de José Afonso da Silva sobre a eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais — devem ser consideradas normas de eficácia plena ou contida, produzindo imediatamente todos efeitos possíveis, em razão de disciplinar diretamente as matérias, as situações e os comportamentos que cogitam. Apesar de ser um parágrafo do art. 5º da Constituição, a disposição constitucional que impõe a aplicação imediata aos direitos e garantias fundamentais não se refere somente aos direitos e garantias previstos no art. 5º, mas a todos aqueles espalhados pela Constituição. Embora tal disposição constitucional não resolva todos os problemas relacionados à aplicabilidade dos direitos fundamentais, a importância dela é inegável https://www.politize.com.br/artigo-5/liberdade-de-locomocao/ https://www.politize.com.br/policia-militar/ https://www.politize.com.br/estado-de-defesa-estado-de-sitio-intervencao-federal/ http://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_12.07.2016/art_139_.asp https://www.politize.com.br/trilhas/constituicoes-do-brasil/ https://www.politize.com.br/trilhas/constituicoes-do-brasil/ Com o afirma José Joaquim Gomes Canotilho, a aplicação imediata dos direitos e garantias impede que as entidades legiferantes criem atos legislativos contrários às normas e aos princípios constitucionais, ou seja, proíbe a edição de leis violadoras dos direitos e garantias. Além disso, o legislador está vinculado positivamente aos direitos e garantias, devendo realizá-los, otimizando sua normatividade e atualidade Quanto aos órgãos da administração pública, Canotilho afirma que eles, quando do exercício de sua competência de execução da lei, devem executá-la em conformidade com os dispositivos constitucionais que consagram os direitos e as garantias. Ademais, a administração deve executar as regras constitucionais interpretando-as de um modo conforme aos direitos e garantias." Esse autor assevera, ainda, que os órgãos do Poder Judiciário estão vinculados aos direitos e garantias fundamentais na medida em que suas decisões, nos casos concretos, têm de ser dirigidas por tais direitos e garantias. EXTENSÃO O art. 5º, § 2º, da Constituição Federal, estabelece que os direitos e garantias nela expressos não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Assim, os direitos e garantias fundamentais não são somente aqueles expressamente previstos na Constituição, mas os decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados. Com base nisso, pode-se afirmar, com acerto, que, por exemplo, a Constituição Federal acolhe como um direito fundamental a desobediência civil, definida por Maria Garcia como uma “forma particular de resistência ou contraposição, ativa ou passiva do cidadão, à lei ou ao ato de autoridade”,que tem por objetivo a proteção das prerrogativas inerentes à cidadania. Também por força do disposto no art. 5o, § 2o, da Constituição, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o princípio tributário da anterioridade, previsto no art. 150, III, b,u é um a garantia individual Além disso, os direitos e garantias fundamentais podem decorrer de tratados internacionais em que o Brasil seja parte. A Emenda Constitucional n. 45/2004 acrescentou o § 3o ao art. 5o, prevendo que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. É possível identificar quatro tendências principais acerca da hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos: a) uma que reconhece a hierarquia supraconstitucional de tais tratados; b) no extremo oposto, outra corrente pretende atribuir hierarquia de lei ordinária aos referidos documentos internacionais; c) uma terceira vertente admite a natureza constitucional dos tratados que versam sobre direitos fundamentais; d) e a última, que confere caráter supralegal, mas infraconstitucional aos tratados que se ocupam dos direitos humanos. Celso de Albuquerque Mello, um dos defensores da vertente que prega a hierarquia supraconstitucional dos tratados, afirma que o Brasil ratificou, em 1929, a convenção sobre tratados de Havana, de 1928, que prevê o seguinte: “Art. 11. Os tratados continuarão a produzir os seus efeitos, ainda quando se modifique a constituição interna dos Estados contratantes” Ademais, a convenção de Viena de 1969, sobre o direito dos tratados, não inclui entre suas causas extintivas a alteração do direito interno. Por força desses argumentos e da previsão do art. 5o, § 2o, da Constituição brasileira, Celso de Albuquerque de Mello acentua que “a norma internacional prevalece sobre a norma constitucional, mesmo naquele caso em que uma norma constitucional posterior tente revogar uma norma internacional constitucionalizada” O principal e correto questionamento em relação a essa posição se dá com base na impossibilidade de controle da constitucionalidade dos tratados internacionais sobre direitos humanos, caso eles sejam entendidos como normas supraconstitucionais. E isso não se poderia admitir num Estado como o brasileiro, que adota uma Constituição rígida e, portanto, hierarquicamente superior, do ponto de vista formal e material, em relação ao restante do ordenamento jurídico. Diametralmente oposta é a posição defendida, por exemplo, por Alexandre de Moraes e, majoritariamente, pelo Supremo Tribunal Federal, que atribuem hierarquia de lei ordinária federal aos tratados internacionais de direitos humanos, aplicando-se, no caso de eventual antinomia, o critério da revogação da lei anterior pela lei posterior que com ela seja incompatível. Para sustentar essa tese, seus defensores argumentam que o art. 49, I, da Constituição estabelece a competência do Congresso Nacional resolver, por meio de decreto legislativo, sobre tratados internacionais. E essa espécie normativa tem natureza infraconstitucional. Ademais, o art. 102, III, b, da Constituição, confere ao Supremo Tribunal Federal a competência de julgar, mediante recurso extraordinário, quando a decisão recorrida declarar a inconstitucionalidade de tratado internacional ou lei federal. Essa tendência, apesar da interpretação literal que faz dos arts. 49 e 102 da Constituição parece deixar de lado o disposto no art. 5o, § 2o, do mesmo texto constitucional, o que não se pode admitir. Como se não bastasse, compromete a boa-fé e viola a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. A terceira corrente, que tem Flávia Piovesan2'1 como uma das expoentes, defende que os tratados de direitos humanos ingressam na ordem jurídica brasileira no patamar hierárquico da Constituição, por força do art. 5o, § 2o, da Lei Fundamental. Essa vertente afirma que o Brasil adota um sistema misto para disciplinar os tratados, ou seja, o ordenamento jurídico brasileiro estabelece um regime diferenciado entre os tratados internacionais de direitos humanos e os tratados internacionais comuns. Estes seriam equiparados a leis federais enquanto aqueles, em razão de seu caráter especial, teriam natureza de norma constitucional. Ainda em razão do art. 5o, § 2o, da Constituição de 1988, “todos os tratados de direitos humanos, independentemente do quorum de sua aprovação, são materialmente constitucionais, compondo o bloco de constitucionalidade”. O § 3o do art. 5o, ao estabelecer um quorum qualificado, apenas reforça a natureza constitucional dos tratados de direitos humanos, permitindo que se dê a eles, além de sua configuração materialmente constitucional, um lastro formalmente constitucional. Assim, para essa corrente, ao se admitir a natureza constitucional de todos os tratados de direitos humanos, eles se tornam cláusula pétrea e não podem ser abolidos por meio de emenda (art. 60, § 4o). Mas os tratados apenas materialmente constitucionais são passíveis de denúncia, ao passo que os material e formalmente constitucionais não são suscetíveis de denúncia. Todavia, com a inclusão do § 3o ao art. 5o da Constituição, a tese da hierarquia constitucional dos tratados de direitos humanos restou, em certa medida, fragilizada. Tal dispositivo constitucional, além conferir aos referidos tratados um lugar privilegiado no ordenamento jurídico brasileiro, ressaltando o seu caráter especial em relação aos demais tratados, deixou claro, por outro lado, que aqueles documentos internacionais que não forem “submetidos ao processo legislativo especial de aprovação no Congresso Nacional, não podem ser comparados às normas constitucionais”. Assim, resta como mais adequada à disciplina constitucional brasileira da atualidade o entendimento dos tratados internacionais de direitos humanos como normas supralegais, mas infraconstitucionais, colocando-se, dessa forma, com base no art. 5o, § 2o, “acima da insegurança e volatilidade do direito ordinário, mas devendo submeter-se à vontade constitucional”.28 Adotam essa posição, por exemplo, Sepúlveda Pertence29, Gilmar Mendes30 e Oscar Vilhena Vieira31. Mas se a pretensão for a de inserir no patamar constitucional os direitos previstos nos tratados internacionais de direitos humanos — com todas as consequências daí advindas, como a petrificação de tais normas —, deve- se adotar o procedimento previsto no art. 5o, § 3o, da Constituição, que estabelece a aprovação dos aludidos tratados pelo quórum das emendas constitucionais. DESTINATÁRIOS Apesar de o caput do art. 5o da Constituição Federal estabelecer que se garante “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, deve-se entender que os destinatários dos direitos e das garantias fundamentais são os brasileiros natos ou naturalizados, bem como os estrangeiros, residentes ou não no Brasil, desde que estejam sob o comando do ordenamento jurídico brasileiro. Além das pessoas físicas, também são destinatárias dos direitos e garantias fundamentais as pessoas jurídicas e as entidades como as massas falidas e os condomínios, desde que a natureza do direito ou da garantia se coadune com tais pessoas ou entidades. SUSPENSÃO O art. 60, § 4o, IV, da Constituição Federal diz que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais. Portanto, os direitos e garantias individuais constituem cláusulas pétreas, não admitindo alteração que tenda a extingui-los, que busque suprimi-los. Contudo, são constitucionalmente previstas as hipóteses de diminuição da abrangência dos direitos e garantias fundamentais nas situaçõesexcepcionais de decretação de estado de defesa ou estado de sítio (arts. 136, 138 e 139 da Constituição Federal). O QUE É COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS? Nem sempre o Direito poderá ser aplicado de forma simples. E o mesmo acontece no que é relativo aos direitos e garantias fundamentais. Em muitos casos, será impossível separar se o caso se refere a uma violação de um ou outro direito. E em muitas hipóteses, pode ser que haja um conflito entre os direitos fundamentais de cada uma das partes. A colisão de direitos fundamentais, portanto, se refere aos casos em que mais de um direito fundamental será discutido. O exemplo mais conhecido diz respeito à liberdade de expressão versus a dignidade humana. Se um indivíduo ofende outro, incidindo na humilhação vedada constitucionalmente, qual direito prevaleceria sobre o outro? Por essa razão, retoma-se o caráter limitador dos direitos e garantias fundamentais. Na medida em que alguns direitos podem ser relativizados, pode-se operar no sopesamento de direitos e na adequação ao caso concreto. A discussão, sobretudo da hermenêutica jurídica, é longa. E procedimentos, como uso da ponderação, podem auxiliar na toma de decisão. O QUE É DIREITO ABSOLUTO E RELATIVO? Como mencionado, os direitos e garantias fundamentais podem ser absolutos ou relativos. Os direitos fundamentais absolutos são aqueles imprescindíveis à vida digna e, portanto, não podem ser sobrepostos. Já os direitos fundamentais relativos não perdem seu caráter de essencialidade ou sua importância. Contudo, podem ser relativizados conforme as circunstâncias. A principal relevância dessa diferenciação estaria na colisão de direitos fundamentais. Uma vez que eles tenham pesos idênticos, é difícil avaliar qual deve ser privilegiado em detrimento de outro. Por essa razão, considerando as exigências para uma vida digna, pode-se atribuir valor absoluto a alguns e relativo a outros. No entanto, como se verá, existem discussões acerca da divisão. QUAIS SÃO OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ABSOLUTOS? A doutrina e a jurisprudência majoritária compreendem que não existem direitos fundamentais absolutos. Isto em razão da necessidade de relativização já abordada. Nesse sentido, o STF decidiu, em 2017, no Agravo Regimental 0011716- 04.2001.4.03.6100/SP, de relatoria do Ministro Edson Fachin. […] Como também ficou consignado nesse mesmo precedente da Suprema Corte, o direito à privacidade não é absoluto, devendo “ceder diante do interesse público, do interesse social e do interesse da Justiça”, o que se dá “na forma e com observância de procedimento estabelecido em lei e com respeito ao princípio da razoabilidade”. Tais conclusões deixam entrever uma característica que é própria de quaisquer direitos fundamentais, representada por aquela conhecida norma de hermenêutica constitucional segundo a qual não existem direitos fundamentais absolutos. […] No entanto, algumas análises defendem que a dignidade humana deve operar sobre os direitos e garantias fundamentais, sendo ela, então, fundamento absoluto, uma vez que prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal. Por esse viés, então, a vida, ou existência, digna teria peso maior em uma eventual colisão de direitos fundamentais. Cabe ressaltar, por fim, que o artigo 60, CF, estabelece as chamadas cláusulas pétreas. Entre elas, estão os direitos e garantias individuais, conforme o § 4º, inciso IV, do artigo 60, CF. Portanto, é dever do Estado a garantia desses direitos e lhe é vedado suprimi- los. LIMITES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Relatividade dos direitos Como já dissemos, os direitos fundamentais são relativos, quer dizer, nenhum direito fundamental é absoluto. É costumeiro dizer isso por dois motivos: o a) Os direitos fundamentais podem entrar em conflito uns com os outros, o que determina se imponham limitações recíprocas. Assim, por exemplo, o direito à liberdade de expressão não é absoluto, porque pode chocar-se com o direito à intimidade. o b) Nenhum direito fundamental pode ser usado como escudo para a prática de atos ilícitos. Com efeito, os direitos fundamentais só protegem o seu titular quando este se move na seara dos atos lícitos, pois seria uma contradição em termos definir uma mesma conduta como um direito e um ilícito. Logo, se o direito define uma conduta como ilícito (crime, por exemplo), não se pode considerar como justo o exercício de um direito fundamental que leve a essa conduta. Não é válido, por exemplo, alegar liberdade de manifestação do pensamento para propagar ideias racistas ou discriminatórias, conforme reiterada jurisprudência do STF. Nas palavras de André Ramos Tavares: “Não existe nenhum direito humano consagrado pelas Constituições que se possa considerar absoluto, no sentido de sempre valer como máxima a ser aplicada nos casos concretos, independentemente da consideração de outras circunstâncias ou valores constitucionais. Nesse sentido, é correto afirmar que os direitos fundamentais não são absolutos. Existe uma ampla gama de hipóteses que acabam por restringir o alcance absoluto dos direitos fundamentais. Assim, tem-se de considerar que os direitos humanos consagrados e assegurados: 1º) não podem servir de escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas; 2º) não servem para respaldar irresponsabilidade civil; 3º) não podem anular os demais direitos igualmente consagrados pela Constituição; 4º) não podem anular igual direito das demais pessoas, devendo ser aplicados harmonicamente no âmbito material. Aplica-se, aqui, a máxima da cedência recíproca ou da relatividade, também chamada ‘princípio da convivência das liberdades’, quando aplicada a máxima ao campo dos direitos fundamentais.” Ora, como nenhum direito fundamental é absoluto, faz-se necessário estudar os mecanismos de limitação desses direitos. Inicialmente, registre-se que há duas teorias sobre as limitações dos direitos fundamentais: a teoria externa e a interna. A primeira considera que as restrições a direitos fundamentais são externas ao conceito desses mesmos direitos. É dizer: existe um direito à liberdade, que pode sofrer restrições (externas) em casos concretos. Já para a teoria interna, o conteúdo de um direito só pode ser definido após ser confrontado com os demais: não existem restrições a um direito, mas definições de até onde vai esse direito. Achamos preferível a teoria externa, pois é difícil definir que o conteúdo de um direito só poderá ser conhecido quando se confrontar esse direito com todos os demais, ainda mais se lembrarmos de que a vida não pode ser prevista em seu devir. CONCLUSÃO Os direitos fundamentais, juntamente com as garantias, são um marco importante na Constituição Federal de 1988, pois são normas que existem com o objetivo exclusivo de promover a dignidade humana e de proteger o cidadão frente ao poder do Estado. Frutos de um processo histórico que remonta a Revolução Francesa, os direitos e garantias fundamentais são imprescindíveis para a vida em sociedade nos moldes democráticos atuais, uma vez que asseguram que todos os indivíduos sejam tratados de forma igual perante o ordenamento jurídico. Um dos motivos que fazem da Constituição Cidadã um dos modelos constitucionais mais bem vistos no mundo com certeza é a sua ampla cobertura de direitos fundamentais, que caracterizam a sua preocupação com a cidadania e com a participação plena dos indivíduos na construção da sociedade.
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