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Acesso ao serviço de saúde indígenas

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Acesso dos usuários indígenas aos serviços de 
saúde de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil
Indigenous peoples’ access to health services in 
Cuiabá, Mato Grosso State, Brazil
Acceso de los usuarios indígenas a los servicios 
de salud de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil 
Silvana Cardoso Gomes 1
Monique Azevedo Esperidião 2
Resumo
O presente estudo teve por objetivo avaliar o acesso dos usuários indígenas 
aos serviços de saúde de média e alta complexidades do Município de Cuiabá, 
Mato Grosso, Brasil, a partir da Casa de Saúde Indígena (CASAI) Cuiabá. 
Foi realizado um estudo de caso único na CASAI Cuiabá com abordagem 
qualitativa. Os dados foram obtidos por meio da observação das rotinas de 
trabalho da CASAI Cuiabá, entrevistas semiestruturadas com profissionais 
e gestores do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Cuiabá e CASAI 
Cuiabá, e análise documental. Para análise dos dados, foi elaborada uma ma-
triz derivada do modelo teórico-lógico de acessibilidade e validada por meio 
do método Delphi a um grupo de especialistas na temática de saúde indígena. 
Apesar de avanços trazidos pela CASAI na melhoria da acessibilidade indí-
gena, persistem barreiras sócio-organizacionais, culturais e geográficas no 
acesso à média e alta complexidades do município estudado. Recomenda-se a 
formulação de estratégias específicas para a melhoria do acesso aos serviços de 
saúde dos povos indígenas mato-grossenses. 
Saúde de Populações Indígenas; Acesso aos Serviços de Saúde; 
Avaliação em Saúde 
Correspondência
S. C. Gomes
Rua Julio Domingos de Campos, Centro Político Administrativo, 
Cuiabá, MT 78049-902, Brasil.
s_cgomes@hotmail.com
1 Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil.
2 Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia, 
Salvador, Brasil.
ARTIGO
ARTICLE
doi: 10.1590/0102-311X00132215
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença 
Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodu-
ção em qualquer meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja 
corretamente citado.
Gomes SC, Esperidião MA2
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Introdução
Diversas barreiras de acesso têm sido descritas como limitadoras da atenção à saúde dirigida aos 
povos indígenas em distintas regiões do mundo 1,2. Entre os principais obstáculos apontam-se barrei-
ras organizacionais, geográficas e culturais, incluindo limitações relativas à ausência ou incipiência de 
intérpretes culturais que permitam maior comunicação das etnias com os serviços de saúde. 
No México e na Guatemala foram identificadas barreiras geográficas (longas distâncias e elevado 
custo das passagens de transporte), organizacionais (limitações nos horários de funcionamento das 
unidades de saúde) e culturais (ausência de tradutores da língua indígena) como elementos limitadores 
do acesso dos povos indígenas aos serviços de saúde locais, além de discriminação e preconceito por 
parte dos profissionais de saúde no atendimento dessas populações 3,4. 
No Brasil, foi implementado no ano de 1999 o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, Sistema 
Único de Saúde (SASI/SUS), que está estruturado e organizado por meio dos Distritos Sanitários 
Especiais Indígenas (DSEIs), que são considerados ambientes étnicos e culturais dinâmicos e têm o 
dever de prestar atenção básica aos indígenas aldeados, sem guardar relação direta com os limites 
dos estados e municípios onde estão localizadas as terras indígenas 5. No ano de 2002, foi instituída a 
Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), propondo o respeito e reconhe-
cimento da eficácia da medicina tradicional como um dos componentes na superação dos aspectos 
que tornam a população indígena vulnerável aos agravos 6. 
No entanto, ainda há poucos estudos que analisam ou versam de forma direta sobre o acesso da 
população indígena aos serviços de saúde. Estudos epidemiológicos realizados com diferentes povos 
indígenas do país concluíram que, dentre outros fatores, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, 
tanto da atenção básica nas aldeias quanto as ações e serviços especializados de média e alta comple-
xidades ofertados pelos municípios e/ou estado, possibilita que essas minorias étnicas encontrem-se 
submetidas à maior risco de doenças 7,8,9,10. 
Em Minas Gerais, um estudo realizado junto à etnia Xakriabá concluiu que a distância entre o 
posto de saúde e os domicílios dos indígenas é responsável pela redução do acesso e utilização dos 
serviços de saúde, devido à dispersão geográfica da população e às dificuldades de se obter transporte 
para o deslocamento dentro e fora das áreas indígenas 11. No Estado de Mato Grosso, estudos reali-
zados junto ao povo Bororo no Município de Rondonópolis e ao povo Paresi em Tangará da Serra, 
constataram que os fluxos elaborados e formalizados por um plano distrital de saúde de um DSEI, 
para o acesso dos usuários aos serviços de saúde dos municípios de referência, não consideraram 
as articulações e pactuações realizadas pelos municípios na regional de saúde. Além disso, não se 
previram responsabilidades pela articulação do acesso à atenção básica fora da aldeia e aos níveis 
secundário e terciário 12,13.
Tendo em vista contribuir para a identificação de barreiras socioculturais, sócio-organizacionais 
e geográficas enfrentadas pelos usuários no acesso aos serviços de saúde, o presente estudo buscou 
avaliar o acesso dos usuários indígenas aos serviços de média e alta complexidades do Município de 
Cuiabá, Mato Grosso.
Metodologia
Foi realizado um estudo de caso único sobre acesso dos usuários indígenas aos serviços de saúde de 
Cuiabá, com base em análise documental, observação in loco na Casa de Saúde Indígena (CASAI) de 
Cuiabá e entrevistas com informantes-chave. Para a avaliação do acesso, foi construído um modelo 
teórico-lógico da acessibilidade indígena aos serviços de média e alta complexidades, do qual deri-
vou uma matriz de avaliação com as dimensões sócio-organizacional, sociocultural e geográfica. Foi 
constituído um comitê de seis especialistas em saúde indígena de diferentes estados do Brasil para a 
validação dos critérios contidos na matriz, utilizando-se como técnica o método Delphi. Os profis-
sionais tinham como titulação mínima mestrado, sendo dois profissionais com doutorado, com média 
de experiência de trabalho em saúde indígena de 8,6 anos e de docência de 8,8 anos. Os especialistas 
haviam publicado em média quatro artigos na área de saúde indígena.
ACESSO DOS USUÁRIOS INDÍGENAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE 3
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Foram analisadas as atas das reuniões do Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI) DSEI 
Cuiabá (2007-2011), bem como realizada observação sistemática por dez dias na CASAI Cuiabá, onde 
buscou-se coletar dados sobre a estrutura física, além das rotinas de trabalho. As entrevistas, realiza-
das no ano de 2012, envolveram informantes-chave como técnicos e gestores da sede administrativa 
do DSEI Cuiabá e da CASAI Cuiabá. 
Local do estudo
O Município de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, tem população estimada, segundo dados 
do Censo Demográfico de 2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. http://www.ibge.gov.
br), em 551.098 habitantes.
O setor de saúde do município conta com unidades de assistências próprias e contratadas. A aten-
ção especializada e hospitalar do município é constituída por um centro de reabilitação, cinco núcleos 
de reabilitação, três Centros de Atenção Psicossocial, nove residências terapêuticas, um laboratório 
municipal, um laboratório estadual, um laboratório contratado, seis policlínicas, um centro de espe-
cialidades médicas, um serviço ambulatorial especializado, 32 serviços de apoio, diagnóstico terapêu-
tico, um hospital e pronto-socorro municipal, três hospitais filantrópicos, 18 hospitais contratados e 
um centro de controle de zoonozes 14. 
O DSEI Cuiabá, cuja sede administrativafica na capital de Mato Grosso, é responsável pela orga-
nização dos serviços de saúde nos territórios indígenas de dez etnias: Nambikwara, Enawene-Nawe, 
Myky, Irantxe, Bakairi, Guató, Umutina, Paresi, Chiquitano e Bororo, distribuídos em oito polos-base 
e 110 aldeias cadastradas e reconhecidas oficialmente. A população indígena do DSEI Cuiabá conta 
com, aproximadamente, 6.939 pessoas, sendo que 11 Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena 
(EMSI) prestam atendimento nos territórios indígenas. Também compõem a estrutura administrativa 
do DSEI Cuiabá as CASAIs de Tangará da Serra, Rondonópolis e Cuiabá, que devem receber, alojar e 
alimentar os usuários indígenas e seus acompanhantes que necessitem de atendimento especializado 
ambulatorial e hospitalar nas cidades; prestar assistência de enfermagem 24 horas; marcar consultas 
e exames especializados; providenciar o acompanhamento e o retorno de pacientes e acompanhantes 
às aldeias de origem com as informações sobre o caso; e promover atividades de educação em saúde, 
produção artesanal e lazer para acompanhantes e pacientes em condições para tal exercício 6.
Localizada na capital do estado onde se concentra uma parte dos serviços de média e a maioria 
dos procedimentos e serviços de alta complexidade, a CASAI Cuiabá, apesar de compor a estrutura 
administrativa do DSEI Cuiabá, serve de apoio para o atendimento da população indígena de todo o 
Estado de Mato Grosso. 
Modelo teórico-lógico de acesso 
Elaborou-se um modelo teórico-lógico de acesso previamente adaptado de uma pesquisa desenvolvi-
da em um município da Bahia 15. Esse modelo teve por base dimensões e critérios da relação de aces-
sibilidade, e corresponde a uma imagem-objetivo de referência para a análise do acesso dos usuários 
indígenas do DSEI Cuiabá aos serviços de média e alta complexidades no município. Compreende-se 
por imagem-objetivo os princípios que orientam uma determinada política de saúde, podendo-se 
considerar que, de certa forma, apontam para a situação desejada ou ideal 16 (Figura 1).
Por acesso entende-se as características dos serviços de saúde que proporcionam ou dificultam 
a sua utilização por parte da população 17. Foram estabelecidas três dimensões do acesso: sócio-or-
ganizacional, sociocultural e geográfica 17,18. Na dimensão sócio-organizacional são levantados os 
aspectos próprios da organização dos serviços de saúde, como horários de funcionamento das unida-
des e o tempo de espera para o atendimento, tanto da rede especializada quanto do serviço de saúde 
indígena. Na dimensão sociocultural estão descritos os aspectos culturais inerentes à população 
indígena que podem interferir na relação entre usuários e serviços de saúde. Na dimensão geográfica 
foram elencados aspectos relacionados à distribuição espacial dos recursos, localização das unidades 
de saúde, bem como a discussão sobre a existência de transporte específico e apropriado para os 
usuários indígenas. 
Gomes SC, Esperidião MA4
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Figure 1
Modelo teórico-lógico de acesso dos usuários indígenas aos serviços de média e alta complexidades. 
Fonte: adaptado de Cunha & Vieira-da-Silva 15. 
CASAI: Casa de Saúde Indígena; DSEIs: Distritos Sanitários Especiais Indígenas.
De acordo com a imagem-objetivo proposta via modelo teórico-lógico, a organização dos serviços 
depende da correlação entre as dimensões estudadas, sendo que estas podem ou não garantir o pleno 
acesso aos serviços de saúde do Município de Cuiabá.
Análise dos dados
As informações coletadas foram validadas por meio de técnica de triangulação de dados, seja por meio 
da manutenção de perguntas-chave para os mesmos informantes para a comparação das respostas, 
seja pela contraposição dos dados informados com os dados coletados nos documentos analisados, a 
observação dos trabalhos realizados na CASAI Cuiabá e ainda pela bibliografia analisada e consultada 
sobre o tema 19. 
Para a construção das principais categorias de análise dos dados foi elaborada uma matriz de 
análise. Derivada do modelo teórico-lógico da acessibilidade, a matriz de análise foi submetida à 
validação de um grupo de seis de especialistas na temática de saúde indígena, e, após duas rodadas de 
análise, definiram as dimensões, subdimensões e critérios que foram utilizados neste estudo.
Para cada critério foi definida uma imagem-objetivo, com base na revisão da literatura e na 
análise dos especialistas participantes do método Delphi. As respostas e situações esperadas de cada 
critério foram classificadas como satisfatórias, parcialmente satisfatórias e insatisfatórias. A dimensão 
sócio-organizacional contou com a maior pontuação (100 pontos) por descrever um maior número 
de características referentes ao foco do estudo: média e alta complexidades do SUS. Já a pontuação 
máxima da dimensão sociocultural foi de 40 pontos, seguida da geográfica com 20 pontos. Os achados 
ACESSO DOS USUÁRIOS INDÍGENAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE 5
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
foram classificados por meio de comparação dos dados, em que foram atribuídos pontos (0 – insatis-
fatório, 5 – parcialmente satisfatório e 10 – satisfatório) a cada critério, sendo que para o resultado 
final foi realizada a somatória dos pontos atribuídos aos diferentes critérios, subdimensões e dimen-
sões. A classificação final foi dividida em tercis, com os seguintes pontos de corte: satisfatório > 66%; 
parcialmente satisfatório > 33% e ≤ 66%; e insatisfatório ≤ 33,3% (Tabela 1). 
Todos os informantes foram esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido, tendo sido assegurado o sigilo dos entrevistados. Este estudo foi 
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal 
da Bahia (ISC/UFBA) conforme parecer no 151.56/2012, estando em concordância com a Resolução 
no 196/1996 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), que trata dos aspectos éticos de 
pesquisas que envolvem seres humanos.
Resultados 
Os resultados sistematizados na matriz de análise foram agregados por dimensões, subdimensões e 
critérios que permitiram a classificação dos achados que serão apresentados a seguir com base nas 
dimensões sócio-organizacional, sociocultural e geográfica (Tabela 2).
A partir da análise geral de todas as dimensões, subdimensões e seus respectivos critérios, o per-
centual alcançado (41%) permite categorizar como parcialmente satisfatórias as características dos 
serviços da saúde indígena e dos serviços especializados de Cuiabá no acesso dos usuários indígenas 
aos serviços de saúde de média e alta complexidades de Cuiabá.
Dimensão sócio-organizacional
Esta dimensão foi classificada como parcialmente satisfatória (45%). O critério regulação dos pacien-
tes indígenas aos serviços de média e alta complexidades a partir dos municípios de origem das aldeias 
foi classificado como parcialmente satisfatório, pois foi identificado que tal barreira acontece com a 
minoria dos pacientes indígenas encaminhados a Cuiabá. 
Há existência de fluxos institucionais entre os diferentes DSEIs para o encaminhamento dos 
pacientes à CASAI Cuiabá, no entanto, não foi identificado que os fluxos tenham sido normatizados 
entre os mesmos. Para o encaminhamento dos pacientes foram identificadas diferentes formas de 
comunicação: e-mail, telefones e rádio, embora a CASAI Cuiabá tenha informado aos demais distritos 
sanitários com população indígena em Mato Grosso de que tal ato seja pela via de e-mail ou ofício. 
A informalidade no encaminhamento foi apontada como fator impeditivo para o acesso aos serviços 
em Cuiabá:
“...Ligam em cima da hora e para se desculpar dizem: ‘tá indo com passagem de volta’. Geralmente quando 
a CASAI tá muito lotada e é realidade, e eu não tenho onde colocar eu falo: não manda porque eu não tenho 
onde colocar. E aí não manda e perde a consulta, perde a vaga e a oportunidade de consultar” (Profissional 02).
Percebe-sefragilidade no processo de articulação entre o DSEI Cuiabá e os municípios da área 
de abrangência do distrito para estabelecimento de fluxos. As relações nesse campo são construídas 
conforme a sensibilidade do gestor municipal à causa indígena, e com base nas relações de amizade 
entre os profissionais da saúde indígena e os profissionais de saúde dos municípios. Também foram 
detectadas dificuldades na relação entre os gestores por falta de clareza entre os pares sobre os papéis 
a serem desempenhados pelos diferentes entes federados na saúde indígena. 
A contrarreferência dos pacientes indígenas, com raras exceções e a pedido dos profissionais dos 
DSEIs, é realizada pelos profissionais dos serviços de saúde de Cuiabá. Porém, todos os pacientes que 
ficam alojados na CASAI Cuiabá retornam aos seus municípios de origem com contrarreferência 
preenchida em formulário específico pelos profissionais da instituição, uma vez que tal tarefa faz 
parte das atribuições do serviço. 
Evidenciou-se também um fator muito agravante: a ausência de informações de referência dos 
pacientes que são encaminhados para Cuiabá, seja do município de origem, da equipe de saúde indí-
gena local ou da equipe de outra CASAI em que o paciente esteve alojado:
Gomes SC, Esperidião MA6
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Tabela 1
Matriz de dimensões, critérios e gradações para análise das ações de acesso a serviços de saúde de média e alta complexidades do Município de 
Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
Dimensão Subdimensão Critérios Gradações
Satisfatório Parcialmente 
Satisfatório
Insatisfatório Pontuação 
máxima
Sócio-
organizacional
Sistema de 
referência e 
contrarreferência
Regulação dos 
pacientes indígenas 
aos serviços de 
média e alta 
complexidades 
de Cuiabá pelos 
municípios de 
origem da aldeia
Os pacientes 
indígenas são 
regulados aos 
serviços de saúde 
de média e alta 
complexidades 
de Cuiabá pelos 
municípios de 
origem da aldeia 
(10 pontos)
A maioria (50% + 
1) dos pacientes 
indígenas é regulada 
para os serviços de 
saúde de média e 
alta complexidades 
de Cuiabá pelos 
municípios de 
origem das aldeias, 
mas ainda há 
casos de pacientes 
encaminhados à 
CASAI Cuiabá sem a 
devida regulação (5 
pontos) 
Os pacientes 
indígenas não são 
regulados para os 
serviços de saúde 
de média e alta 
complexidades 
de Cuiabá pelos 
municípios de 
origem das aldeias e 
são encaminhados 
para a CASAI Cuiabá 
(0 ponto)
10
Existência de 
fluxo estabelecido 
institucionalmente 
entre os DSEIs para 
encaminhamento 
de usuários à CASAI 
Cuiabá
Há fluxo 
estabelecido 
institucionalmente 
entre os 
DSEIs para 
encaminhamento 
de pacientes à 
CASAI Cuiabá (10 
pontos)
Há fluxo 
estabelecido, porém 
não normatizado e/
ou não respeitado 
entre os DSEIs para 
o encaminhamento 
de pacientes à CASAI 
Cuiabá (5 pontos)
Não há fluxo 
estabelecido 
institucionalmente 
entre os DSEIs para 
encaminhamento de 
pacientes à CASAI 
Cuiabá (0 ponto)
10
Existência de 
fluxo estabelecido 
institucionalmente 
pelo DSEI Cuiabá 
em articulação 
com os municípios 
de sua área de 
abrangência
Há fluxo 
estabelecido 
institucionalmente 
entre o DSEI 
Cuiabá e todos 
os municípios 
de sua área de 
abrangência 
para acesso dos 
usuários indígenas 
aos diferentes 
níveis de atenção 
do SUS (10 pontos)
Há fluxo 
estabelecido 
institucionalmente 
entre o DSEI Cuiabá 
e alguns municípios 
de sua área de 
abrangência para 
acesso dos usuários 
indígenas aos 
diferentes níveis de 
atenção do SUS (5 
pontos)
Não há fluxo 
estabelecido 
institucionalmente 
entre o DSEI Cuiabá 
e os municípios 
de sua área de 
abrangência para 
acesso dos usuários 
indígenas aos 
diferentes níveis de 
atenção do SUS (0 
pontos)
10
(continua)
ACESSO DOS USUÁRIOS INDÍGENAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE 7
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Tabela 1 (continuação)
Dimensão Subdimensão Critérios Gradações
Satisfatório Parcialmente 
Satisfatório
Insatisfatório Pontuação 
máxima
Retorno dos 
pacientes 
indígenas com a 
con- trarreferência 
preenchida em 
formulário específico 
pelos profissionais 
dos serviços de 
saúde de Cuiabá
Os pacientes 
indígenas recebem 
contrarreferência 
preenchida em 
formulário específico 
pelos profissionais 
dos serviços de 
saúde (1 serviço ou 
mais) de Cuiabá (10 
pontos)
A contrarreferência 
dos pacientes 
indígenas é realizada 
somente pela 
CASAI Cuiabá em 
formulário específico 
do estabelecimento 
(5 pontos)
Não é realizada 
nenhuma 
contrarreferência, 
tanto pelos serviços 
de saúde de Cuiabá 
quanto pela CASAI 
Cuiabá, para os 
pacientes indígenas 
que foram atendidos 
nos serviços de 
saúde de Cuiabá (0 
ponto)
10
Serviço de 
apoio ao 
usuário 
indígena: 
CASAI Cuiabá
Adequação 
arquitetônica da 
CASAI para o uso de 
redes e/ou esteiras 
para pacientes 
indígenas que 
não queiram ficar 
instalados em camas
A CASAI Cuiabá 
conta comi 
instalações 
adequadas 
arquitetonicamente 
para o uso de rede e 
esteiras (10 pontos)
A CASAI Cuiabá 
tem adequação 
arquitetônica, porém 
as instalações 
físicas não estão 
adequadas (ausência 
ou número 
insuficiente de 
redes, esteiras, 
lençóis e colchões) 
para a hospedagem 
de pacientes 
indígenas (5 pontos)
A CASAI Cuiabá não 
tem instalações 
adequadas 
arquitetonicamente 
para o uso de rede e 
esteiras (0 pontos)
10
Presença de 
acompanhantes 
que falam a língua 
indígena para os 
usuários indígenas 
que não falam a 
língua portuguesa 
na CASAI e no 
acompanhamento 
aos serviços de 
saúde
É garantida a 
presença de 
acompanhantes 
que falam a língua 
indígena para os 
usuários indígenas 
que não falam a 
língua portuguesa 
em sua hospedagem 
na CASAI Cuiabá e 
em todas as etapas 
de seu tratamento 
nos serviços 
especializados de 
saúde (10 pontos)
É garantida a 
presença de 
acompanhantes 
que falam a língua 
indígena para os 
usuários indígenas 
que não falam a 
língua portuguesa 
somente em 
algumas etapas de 
sua permanência no 
Município de Cuiabá 
(5 pontos)
Não é garantida 
a presença de 
acompanhantes 
que falam a língua 
indígena para os 
usuários indígenas 
que não falam a 
língua portuguesa 
nas etapas de sua 
hospedagem na 
CASAI Cuiabá e de 
seu tratamento 
nos serviços 
especializados de 
saúde (0 ponto)
10
(continua)
Gomes SC, Esperidião MA8
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Tabela 1 (continuação)
Dimensão Subdimensão Critérios Gradações
Satisfatório Parcialmente 
Satisfatório
Insatisfatório Pontuação 
máxima
Cumprimento de 
todas as atribuições 
previstas na Política 
Nacional de Atenção 
à Saúde dos Povos 
Indígenas (PNASPI) 
e institucionalização 
das rotinas e 
protocolos de 
trabalho
Todas as 
atribuições 
previstas na PNASPI 
são cumpridas e 
foram instituídas 
rotinas e protocolos 
de trabalho na 
CASAI Cuiabá (10 
pontos)
Algumas atribuições 
previstas na PNASPI 
são cumpridas e 
algumas rotinas 
e protocolos de 
trabalho foram 
instituídos na CASAI 
Cuiabá (5 pontos)
Não há 
cumprimento das 
atribuições previstas 
na PNASPI e não 
foram instituídos 
rotinas e protocolos 
de trabalho na CASAI 
Cuiabá (0 ponto)
10
Capacitação dos 
profissionais da 
CASAI para atuação 
em contexto 
intercultural
A maioria (50% + 1) 
dos profissionais 
recebeu algum 
tipo de capacitação 
para atuação 
em contexto 
intercultural (10 
pontos)
Apenas a minoria 
dos profissionais 
recebeu algum 
tipo de capacitação 
para atuação 
em contexto 
intercultural (5 
pontos)
Não há profissionais 
que receberam 
algum tipo de 
capacitação para 
atuação em contexto 
intercultural (0 
ponto)
10
Organização 
dos serviços de 
saúde
Tempo de espera 
entre a marcação 
do procedimento 
e/ou consulta 
especializada e o 
atendimento entre 1 
semana e 3 meses
Todos as 
consultas/exames 
especializados 
são agendados 
para atendimento 
entre 1 semana e 3 
meses (10 pontos)
Algumas ou 
a maioria das 
consultas/exames 
especializadossão 
agendados para 
atendimento entre 
1 semana e 3 meses 
(5 pontos)
Não há 
agendamento de 
consultas/exames 
especializados para 
atendimento entre 1 
semana e 3 meses (0 
ponto)
10
Tempo de espera 
para ser atendido 
na realização do 
procedimento 
(consulta e/ou 
exame) em menos 
de 1 hora
Todos os pacientes 
indígenas 
aguardam no 
máximo até 1 hora 
para o início de 
atendimento nos 
serviços de saúde 
de Cuiabá (10 
pontos) 
Alguns pacientes 
indígenas aguardam 
no máximo até 1 
hora para o início 
de atendimento 
nos serviços de 
saúde de Cuiabá (5 
pontos)
Nenhum paciente 
indígena consegue 
atendimento nos 
serviços de saúde de 
Cuiabá em menos 
de 1 hora de espera 
(0 ponto)
10
Total de 
pontos da 
dimensão: 100
Sociocultural Religiosidade Garantia de 
realização de rituais 
religioso-espirituais 
dos povos indígenas 
nos serviços 
especializados de 
saúde
Os serviços de 
saúde garantem a 
realização de rituais 
religioso-espirituais 
dos povos 
indígenas em suas 
instalações prediais 
(10 pontos)
Alguns serviços de 
saúde (um ou mais 
serviços) garantem 
a realização de 
rituais religioso-
espirituais dos 
povos indígenas em 
suas instalações 
prediais (5 pontos)
Os serviços de saúde 
não garantem a 
realização de rituais 
religioso-espirituais 
dos povos indígenas 
em suas instalações 
prediais (0 ponto)
10
(continua)
ACESSO DOS USUÁRIOS INDÍGENAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE 9
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Tabela 1 (continuação)
Dimensão Subdimensão Critérios Gradações
Satisfatório Parcialmente 
Satisfatório
Insatisfatório Pontuação 
máxima
Ambiência Adequação 
arquitetônica dos 
serviços de saúde 
especializados 
para o uso 
de redes por 
pacientes 
indígenas que 
não queiram 
ficar instalados 
em camas 
hospitalares
Os serviços de saúde 
estão adequados 
arquitetonicamente 
para o uso de 
redes por pacientes 
indígenas que 
não queiram ficar 
instalados em camas 
hospitalares (10 
pontos)
Alguns serviços de 
saúde (um ou mais) 
estão adequados 
arquitetonicamente 
para o uso de 
redes por pacientes 
indígenas que 
não queiram ficar 
instalados em camas 
hospitalares (5 
pontos)
Não há serviços de 
saúde adequados 
arquitetonicamente 
para o uso de 
redes por pacientes 
indígenas que 
não queiram ficar 
instalados em camas 
hospitalares (0 
ponto)
10
Relações inter 
e intraétnicas
Capacitação dos 
profissionais dos 
serviços de saúde 
especializados 
para atuação 
em contexto 
intercultural
Os profissionais dos 
serviços de saúde 
especializados 
possuem 
capacitação 
e habilidade 
(sensibilidade e 
empatia cultural) 
para atuação 
em contexto 
intercultural (10 
pontos)
Alguns profissionais 
dos serviços de 
saúde especializados 
possuem 
capacitação 
e habilidade 
(sensibilidade e 
empatia cultural) 
para atuação 
em contexto 
intercultural (5 
pontos)
Não há profissionais 
dos serviços de 
saúde especializados 
que possuam 
capacitação 
e habilidade 
(sensibilidade e 
empatia cultural) 
para atuação 
em contexto 
intercultural (0 
ponto)
10
Alimentação Alimentação 
adequada 
aos hábitos 
alimentares e 
dieta dos usuários 
indígenas
Há fornecimento 
de alimentação 
adequada aos 
hábitos alimentares 
e dieta dos usuários 
indígenas na CASAI 
Cuiabá e nos 
serviços de saúde 
especializados (10 
pontos)
Há fornecimento 
de alimentação 
adequada aos 
hábitos alimentares 
e dieta dos usuários 
indígenas na CASAI 
Cuiabá, porém não 
há garantia nos 
serviços de saúde 
especializados ou 
vice-versa (5 pontos)
Não há 
fornecimento 
de alimentação 
adequada aos 
hábitos alimentares 
e dieta dos usuários 
indígenas na CASAI 
Cuiabá e nem nos 
serviços de saúde 
especializados (0 
ponto)
10
Total de 
pontos da 
dimensão: 40
(continua)
Gomes SC, Esperidião MA10
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Tabela 1 (continuação)
Dimensão Subdimensão Critérios Gradações
Satisfatório Parcialmente 
Satisfatório
Insatisfatório Pontuação 
máxima
Geográfica Acesso 
geográfico
Existência de 
transporte 
proporcionado 
pelo DSEI Cuiabá 
ou o município 
de origem da 
aldeia até a CASAI, 
e transporte 
proporcionado pelo 
DSEI Cuiabá entre a 
CASAI e os serviços 
de saúde
Há garantia 
de transporte 
proporcionado 
pelo DSEI Cuiabá 
ou o município 
de origem da 
aldeia até a CASAI, 
e há garantia 
de transporte 
proporcionado 
pelo DSEI Cuiabá 
entre a CASAI e os 
serviços de saúde 
(10 pontos)
Há garantia 
de transporte 
proporcionado 
pelo DSEI Cuiabá 
ou o município de 
origem da aldeia 
até a CASAI, e 
não há garantia 
de transporte 
proporcionado pelo 
DSEI Cuiabá entre a 
CASAI e os serviços 
de saúde ou vice-
versa (5 pontos)
Não há garantia 
de transporte 
proporcionado 
pelo DSEI Cuiabá 
ou pelo município 
de origem da 
aldeia até a CASAI, 
e não há garantia 
de transporte 
proporcionado pelo 
DSEI Cuiabá entre a 
CASAI e os serviços 
de saúde (0 ponto)
10
Tempo de 
deslocamento 
da CASAI para os 
serviços de saúde 
inferior a 1 hora
Todos os 
deslocamentos 
a partir da 
CASAI Cuiabá 
até os serviços 
especializados 
de saúde são 
realizados em 
tempo inferior a 1 
hora (10 pontos)
Alguns 
deslocamentos 
a partir da 
CASAI Cuiabá 
até os serviços 
especializados de 
saúde são realizados 
em tempo inferior a 
1 hora (5 pontos)
Nenhum 
deslocamento 
a partir da 
CASAI Cuiabá 
até os serviços 
especializados de 
saúde é realizado 
em tempo inferior a 
1 hora (0 ponto)
10
Total de 
pontos da 
dimensão: 20
Total geral de 
pontos: 160
CASAI: Casa de Saúde Indígena; DSEIs: Distritos Sanitários Especiais Indígenas; PNASPI: Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas; 
SUS: Sistema Único de Saúde.
“O paciente vem para consultar um otorrino, mas veio sem nada, aí o paciente chega aqui e fala: minha 
perna que dói... aí você tenta ligar no DSEI, fazer contato com a equipe da aldeia,... tenta ir atrás de quem irá 
resolver seu problema, porque uma coisa é certa: você tem que dar conta de dar assistência para ele, tá doendo a 
perna dele, ele quer saber de um remédio para a perna, ele não quer saber do otorrino” (Profissional 07).
No que se refere à subdimensão Serviço de Apoio ao Usuário Indígena, identifica-se que o espaço 
físico da CASAI Cuiabá é adequado arquitetonicamente para o uso de redes. Apesar da adequação 
do ambiente, verificou-se que há precariedade na infraestrutura física, falta de recursos humanos, 
de materiais, de insumos e até de medicamentos como se pode constatar nestes recortes de fala dos 
entrevistados: 
“Adequação da CASAI tem, tanto faz ele ficar na rede como no colchão..., porém, às vezes ele quer ficar no col-
chão a gente monta o colchão e não tem o lençol ou não tem rede suficiente pra poder atendê-lo” (Profissional 02).
“É lamentável a situação da CASAI Cuiabá. ...eu particularmente fecharia a CASAI porque as condições 
sanitárias ... não oferecem a proteção aos indígenas que lá se hospedam” (Gestor 02).
A presença de acompanhantes nas instalações da CASAI é garantida, conforme constatado nas 
entrevistas dos profissionais, gestores e na observação dos serviços da instituição. Porém, apesar 
dos pacientes serem acompanhados pelos profissionais de saúde indígena em todos os procedi-
mentos realizados nos serviços de saúde especializados, nem sempre é possível a garantia de que os 
ACESSO DOS USUÁRIOS INDÍGENAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE 11
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Tabela 2 
Matriz de dimensões e critérios para análise das ações de acesso a serviços de saúde de média e alta complexidades do Município de Cuiabá, Mato 
Grosso, Brasil, pontuação obtida, classificação final por critério, dimensão e resultado final.
Dimensão Subdimensão Critérios Pontuação Fonte de evidência Classificação final
Pontos %
Socio-
organizacional
Sistema de 
referência e 
contrarreferência
Regulação dos pacientes 
indígenas aos serviços de 
média e alta complexidades 
de Cuiabá pelos municípios 
de origemda aldeia
5 50 Entrevistas e 
documentos
Parcialmente satisfatório
Existência de 
fluxo estabelecido 
institucionalmente 
entre os DSEIs para 
encaminhamento de 
usuários à Casai Cuiabá
5 50
Entrevistas e 
documentos
Parcialmente satisfatório
Existência de 
fluxo estabelecido 
institucionalmente pelo 
DSEI Cuiabá em articulação 
com os municípios de sua 
área de abrangência
5 50 Entrevistas e 
documentos
Parcialmente satisfatório
Retorno dos pacientes 
indígenas com a 
transferência preenchida 
em formulário específico 
pelos profissionais dos 
serviços de saúde de 
Cuiabá
5 50 Entrevistas Parcialmente satisfatório
Serviço de apoio 
ao usuário 
indígena: CASAI 
Cuiabá
Adequação arquitetônica 
da CASAI para o uso 
de redes e/ou esteiras 
por pacientes indígenas 
que não queiram ficar 
instalados em camas
5 50 Entrevistas, documentos e 
observação
Parcialmente satisfatório
(continua)
acompanhantes-familiares oriundos da aldeia poderão acompanhá-los aos serviços de saúde de Cuia-
bá, devido aos problemas de transporte e locomoção da unidade (CASAI). 
A CASAI Cuiabá garante e cumpre os serviços básicos referentes à rotina, protocolos e cumpri-
mento das atribuições de uma CASAI. Porém, não ficou evidenciada a promoção regular e institu-
cional de atividades de educação em saúde e de produção artesanal ou lazer para os acompanhantes, 
e mesmo para os pacientes em condições para o exercício destas atividades. Porém, foi presenciada e 
relatada atividade que trata da constituição de grupos de estudos dos profissionais da CASAI Cuiabá 
em cujos encontros, no período do expediente, são debatidas temáticas referentes às relações huma-
nas e interpessoais. 
Os profissionais de saúde, em geral, informaram desconhecer algum tipo de protocolo de trabalho 
ou norma instituída de maneira formal para o desenvolvimento de suas atividades na CASAI Cuiabá. 
Eles relataram que suas atribuições e rotinas de serviço foram constituídas com base em atividades 
que já vinham sendo desenvolvidas em anos anteriores por outros profissionais ou por meio de suas 
atribuições técnicas profissionais já garantidas em legislações próprias. 
Gomes SC, Esperidião MA12
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Tabela 2 (continuação)
Dimensão Subdimensão Critérios Pontuação Fonte de evidência Classificação final
Pontos %
Presença de 
acompanhantes 
que falam a língua 
indígena para os 
usuários indígenas 
que não falam a 
língua portuguesa 
na CASAI e no 
acompanhamento 
aos serviços de 
saúde
5 50 Entrevistas e observação Parcialmente satisfatório
Cumprimento de 
todas as atribuições 
previstas na 
PNASPI e 
institucionalização 
das rotinas e 
protocolos de 
trabalho
5 50 Entrevistas e observação Parcialmente satisfatório
Capacitação dos 
profissionais da 
CASAI para atuação 
em contexto 
intercultural
5 50 Entrevistas e documentos Parcialmente satisfatório
Organização dos 
serviços de saúde
Tempo de espera 
entre a marcação 
do procedimento 
e/ou consulta 
especializada e 
o atendimento 
entre 1 semana e 3 
meses
5 50 Entrevistas Parcialmente satisfatório
Tempo de espera 
para ser atendido 
na realização do 
procedimento 
(consulta e/ou 
exame) em menos 
de 1 hora
0 0 Entrevistas Insatisfatório
Total da 
dimensão
45 45 - Parcialmente satisfatória
(continua)
No que diz respeito à capacitação dos profissionais da CASAI Cuiabá para atuação em contexto 
intercultural, o item analisado foi classificado como parcialmente satisfatório. Foi relatado que a 
maioria dos profissionais que atua no estabelecimento recebeu algum tipo de capacitação na área 
de antropologia, com vistas a uma atuação intercultural. No entanto, no levantamento documental 
constatou-se que em diferentes anos, tanto os profissionais de saúde não indígenas quanto os conse-
lheiros indígenas, discutiram reiteradamente a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde 
das CASAIs para a atuação intercultural.
ACESSO DOS USUÁRIOS INDÍGENAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE 13
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Tabela 2 (continuação)
Dimensão Subdimensão Critérios Pontuação Fonte de evidência Classificação final
Pontos %
Sociocultural Religiosidade Garantia de 
realização de 
rituais religioso-
espirituais dos 
povos indígenas 
nos serviços 
especializados de 
saúde
10 100 Entrevistas Satisfatório
Ambiência Adequação 
arquitetônica dos 
serviços de saúde 
especializados para 
o uso de redes por 
pacientes indígenas 
que não queiram 
ficar instalados em 
camas hospitalares
0 0 Entrevistas Insatisfatório
Relações inter e 
intraétnicas
Capacitação dos 
profissionais dos 
serviços de saúde 
especializados 
para atuação 
em contexto 
intercultural
0 0 Entrevistas e documentos Insatisfatório
Alimentação Alimentação 
adequada aos 
hábitos alimentares 
e dieta dos usuários 
indígenas
5 50 Entrevistas Parcialmente satisfatório
Total da 
dimensão
15 37,5 - Parcialmente satisfatório
Geográfica Acesso 
geográfico
Existência de 
transporte 
proporcionado 
pelo DSEI Cuiabá 
ou o município 
de origem da 
aldeia até a CASAI, 
e transporte 
proporcionado pelo 
DSEI Cuiabá entre a 
CASAI e os serviços 
de saúde
5 50 Entrevistas e documentos Parcialmente satisfatório
Tempo de 
deslocamento 
da Casai para os 
serviços de saúde 
inferior a 1 hora
0 0 Entrevistas, documentos e observação Insatisfatório
Total da 
dimensão 
5 25 - Insatisfatório
Total geral 65 41 Parcialmente satisfatório
CASAI: Casa de Saúde Indígena; DSEIs: Distritos Sanitários Especiais Indígenas; PNASPI: Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.
Gomes SC, Esperidião MA14
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
O critério relativo ao tempo médio que o usuário indígena aguarda no município de origem ou na 
própria aldeia para agendamento de consulta e/ou exame especializado foi considerado parcialmente 
satisfatório. Foi verificado que, de uma forma geral, o tempo aguardado é menor do que três meses, 
sendo que em algumas especialidades (reumatologia, dermatologia, neurologia e oncologia) e exames 
(ecocardiograma), este tempo é indefinido, bem acima dos três meses. 
Já o critério que avalia o tempo médio que o paciente indígena aguarda para atendimento na uni-
dade de saúde, em especial nos hospitais universitários, foi classificado como insatisfatório, sendo que 
a espera em média é superior a uma hora. 
Outros dois pontos foram identificados como barreiras para o atendimento da população indíge-
na em Cuiabá: a ausência de documentos pessoais de pacientes regulados, o que gera dificuldades na 
rede assistencial devido os sistemas de informação exigirem documentação; e o encaminhamento de 
indígenas do DSEI Cuiabá (Bororos – região Perigara) para atendimento de atenção básica em Cuiabá, 
sendo que o mesmo deveria ser feito em aldeia ou no município mais próximo da comunidade. Foi 
identificado que a assistência não tem ocorrido nas proximidades devido à falta de garantia de aco-
modações dos indígenas fora das aldeias nos municípios de referência, portanto, para a comodidade 
desta população torna-se mais fácil para o distrito sanitário o encaminhamento dos pacientes para a 
CASAI Cuiabá. 
Dimensão sociocultural 
A análise específica desta dimensão mostrou que os critérios avaliados foram classificados como par-
cialmente satisfatórios (37,5%). 
A primeira temática discutida foi a realização de rituais religiosos nos serviços especializados de 
saúde. Essa subdimensão, e seu respectivo critério, foi considerada satisfatória pelos entrevistados. 
Constatou-se que é assegurada a realização de rituais nos serviços especializados mediante a solici-
tação prévia do DSEI Cuiabá, no entanto, tais práticas estão estritamente relacionadas aos problemas 
de saúde do paciente. Como há rituais que envolvem fumaça, esses não são permitidos, em especial, 
para pacientes com doenças respiratórias.
O critério que aborda a adequação arquitetônica dos serviços especializados de saúde para o 
uso de redes foi consideradocomo insatisfatório pelos dados levantados junto aos entrevistados. 
Destaca-se, nesse critério, que os entrevistados alegaram não ter ocorrido, ao longo desses últimos 
anos, nenhuma demanda por parte dos usuários indígenas à CASAI Cuiabá e ao DSEI Cuiabá para 
cumprimento desse critério.
O critério que trata da capacitação dos profissionais de saúde da rede de serviços especializados 
de saúde de Cuiabá para atendimento aos usuários indígenas foi classificado como insatisfatório. 
Foi evidenciado que há preconceito em relação aos indígenas, que é explicitado de forma sutil ou de 
forma velada tanto por alguns profissionais de saúde quanto pela população em geral, que aguarda o 
atendimento nas unidades especializadas de saúde: 
“Às vezes entro numa fila com uma indígena e há aqueles que olham achando bonita, porque tem índios 
muito bonitos, pintados, e o ser humano é curioso. ...mas tem muita gente que olha diferente, sai do banco onde 
sentamos e isso é feito pela população de uma forma geral. Para quem gosta e trabalha junto com os indígenas 
sofre muito, é a mesma coisa de estar dando um tapa na cara da gente… aí dentro do possível a gente tenta 
proteger” (Profissional 07).
Na temática alimentação, o item foi considerado parcialmente satisfatório. A análise eviden-
ciou que, se algum paciente indígena tiver algum hábito alimentar diferenciado e estiver internado, 
ocasionalmente a instituição hospitalar recorre à CASAI para que esta forneça o alimento aos indí-
genas internados:
“Mas muitas vezes alguns hospitais falam: a gente não tem peixe essa semana. A gente já teve esses problemas 
e eles perguntam: a CASAI não pode comprar o peixe? Só que a gente não pode esquecer que a responsabilidade 
da Secretaria Especial de Saúde Indígena, da SESAI, e do Distrito é a atenção básica nas aldeias; a partir do 
momento em que ele sai pra rede à responsabilidade é do município e do Estado...” (Gestor 02).
ACESSO DOS USUÁRIOS INDÍGENAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE 15
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Dimensão geográfica
Esta dimensão tem uma subdimensão com dois critérios que tratam sobre a garantia de transporte 
dos pacientes indígenas da aldeia até os serviços de saúde especializados de Cuiabá e o tempo de des-
locamento interno na cidade até os serviços de saúde. O tema transporte, juntamente com a discussão 
sobre as instalações físicas da CASAI Cuiabá, foi identificado como o principal elemento de insatisfa-
ção dos profissionais entrevistados, além de constar farta descrição sobre o assunto nos documentos 
analisados. Essa dimensão foi classificada como insatisfatória (25%).
O DSEI Cuiabá é responsável pelo transporte dos pacientes até a CASAI Cuiabá, seja por meio 
de veículos próprios (carros ou barcos) que ficam nas aldeias/polos base, ou pelo fornecimento de 
passagens terrestres a partir de municípios de referência para as aldeias. Somente um município da 
área de abrangência do DSEI Cuiabá oferece transporte aos pacientes indígenas que precisam deslo-
car-se até Cuiabá. Alguns critérios foram instituídos pelos gestores do DSEI Cuiabá para transportar 
pacientes em veículos institucionais: pacientes idosos ou com dificuldade de locomoção possuem 
prioridade e, nos demais casos, são fornecidas passagens de ônibus. Nesses casos, cabe às aldeias/polo 
base providenciar o transporte de carro institucional da saúde para levar o paciente até o município 
onde embarcará em transporte intermunicipal até Cuiabá. A esse respeito, a maior parte das reclama-
ções dos profissionais e gestores entrevistados fez referência à demora para expedição da passagem, 
havendo muitos casos em que pacientes perderam procedimentos agendados em Cuiabá em função 
de tal fato.
O deslocamento dos pacientes dentro do Município de Cuiabá não é realizado, na maioria das 
vezes, em menos de uma hora devido a alguns fatores como: a distância da CASAI da área central do 
município e as obras de mobilidade urbana que estão sendo realizadas na cidade, interditando várias 
avenidas e ruas. Essa situação, agravada por haver um único carro para o transporte, tem gerado atri-
tos entre a equipe, gestores e pacientes: 
“Já perdemos consulta por conta da ausência do carro. Carão nós levamos todo dia dos profissionais, porque 
a consulta era 13:00 e às vezes chegamos lá só às 15:00, aí a gente mente - mas eu acho que nós vamos para o 
céu assim mesmo” (Profissional 07).
Os documentos analisados também demonstram, em todo o período pesquisado, relatos, denún-
cias e reclamações de profissionais, conselheiros indígenas e mesmo gestores sobre o transporte. Os 
temas discutidos referem-se às más condições dos veículos oficiais, à falta de combustível e até difi-
culdades para liberação de passagens terrestres, ocasionando, conforme alguns depoimentos, a perda 
do agendamento de consultas e exames. 
Discussão
Na dimensão sócio-organizacional evidencia-se uma fraca articulação entre o DSEI Cuiabá e os 
demais distritos sanitários com população indígena em Mato Grosso, com os municípios e estado. Tal 
fato também foi observado num estudo de avaliação das atividades desenvolvidas por entidades con-
veniadas com o órgão executor da saúde indígena (na época Fundação Nacional de Saúde – funasa) de 
sete DSEIs do Estado do Amazonas, onde foi identificado um fraco nível de articulação e integração 
dos distritos sanitários com os diferentes níveis de referência do SUS 20. 
A PNASPI prevê uma atuação coordenada entre os diversos órgãos, no sentido de viabilizar a 
atenção integral à saúde dos povos indígenas. Para que isso ocorra, considera-se necessário o envol-
vimento harmônico dos gestores nacional, estaduais e municipais do SUS, por meio de planejamento 
pactuado nos DSEIs, resguardando o princípio final da responsabilidade federal. De acordo com essa 
política, cabe ao órgão federal executor da PNASPI promover e facilitar as articulações em níveis inter 
e intrassetoriais 6. 
Outro ponto a ser destacado refere-se à CASAI Cuiabá que conta com poucos recursos materiais/
logísticos e cujas instalações físicas estão precárias, dificultando o acolhimento integral do indígena, 
que deve ser uma das maiores preocupações de uma CASAI, uma vez que a mudança da aldeia para 
a cidade deve denotar respeito, conforto e garantir as especificidades culturais dos usuários indí- 
Gomes SC, Esperidião MA16
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
genas 21. Também no processo de cuidar da CASAI é necessário o cultivo de relacionamentos basea-
dos na confiança, pois a produção de vínculo e afeto é considerada tecnologia leve que aproxima o 
trabalhador do universo do usuário 22. Embora o uso de ferramentas relacionais seja importante no 
processo de cuidado ao indígena, e os profissionais relataram terem sido capacitados para atuação 
intercultural, alguns estudos apontam que os profissionais de saúde não indígenas de uma forma 
geral não são preparados para a atenção a esses povos, sendo que a baixa capacitação é reflexo das 
dificuldades de investimento social e politico e da conformação das políticas de saúde no Brasil 22,23,24. 
Além disso, um estudo realizado na Bolívia destaca que ao ser analisada a qualidade da atenção à saúde 
oferecida nos centros de saúde interculturais do país, foi alertado que, em muitos casos, o conceito de 
interculturalidade, discutido em cursos e fóruns apropriados para tal fim, é utilizado para encobrir 
as desigualdades das populações indígenas e, por vezes, pode ser uma forma de dominação social do 
Estado por meio de um discurso apaziguador, como estratégia para neutralizar o conflito étnico entre 
sujeitos e grupos diferentes 25.
Na subdimensão organização dos serviços de saúde, constata-se que o tempo médio de espera 
dos indígenas para atendimento nos serviços de média e alta complexidades de Cuiabá apresenta 
resultados similares aos da pesquisa realizada junto ao povo Xakriabá, em Minas Gerais, uma vez que 
estes também aguardam em média de 1 a 4 meses para atendimento médico na média e altacomple-
xidades do SUS 11. Embora os achados indiquem que o tempo acima de três meses para a consulta 
especializada esteja limitado a algumas especialidades, ainda assim percebe-se a necessária discussão 
da regionalização dos serviços de saúde e a fixação de profissionais especializados nas regiões de 
saúde de Mato Grosso.
Outro ponto evidenciado é o fato do sistema informatizado de regulação dos pacientes de Cuiabá 
permitir controlar o número de atendimentos realizados por cada profissional na forma de agenda-
mentos previamente estabelecidos. Ainda assim, os pacientes indígenas são atendidos por ordem de 
chegada na unidade de saúde, sem qualquer cumprimento do horário agendado. Isso tem causado 
situações estressantes, em especial para os pacientes que viajam por muitas horas buscando o aten-
dimento em Cuiabá. Embora ao se analisar o foco dos sistemas de regulação, que são estruturas ope-
racionais que racionalizam a entrada e a continuidade do tratamento no sistema de saúde, de acordo 
com graus de risco e normas definidas em protocolos, visando à regulação de fluxos e processos de 
forma a garantir um acesso regulado, mais equitativo 26, verifica-se que na realidade tal objetivo não 
tem sido cumprido em sua integralidade em Cuiabá. A ação regulatória deve monitorar e avaliar, 
dentre outros fatores, os procedimentos realizados pelos profissionais de saúde, visando ao efetivo 
cumprimento dos protocolos estabelecidos 27.
Na dimensão sociocultural, sobressai nos achados levantados a incipiência de conhecimentos de 
aspectos socioculturais que interferem no processo saúde/doença dos povos indígenas, por parte dos 
serviços de saúde especializados de Cuiabá. Diferentes estudos realizados com populações indígenas 
em todo o mundo enfatizam a necessidade de constituir-se serviços de saúde culturalmente sensíveis, 
em diferentes níveis de atenção à saúde, visando a resgatar a cultura ao centro da relação entre pacien-
tes e serviços de saúde. O conceito de segurança cultural vai além da aprendizagem de informações 
factuais sobre dieta e necessidades religiosas dos diferentes grupos étnicos. Ou seja, significa um 
envolvimento com o contexto sociopolítico de crenças e o reconhecimento de uma variedade de prá-
ticas de saúde, e que para uma abordagem integral e humana a cultura é um elemento essencial 28,29,30.
Trabalhos realizados com populações indígenas do Chile e com Povos do Pacífico confirmam que 
diferentes povos indígenas, em todo o mundo, citam dificuldades no relacionamento entre pacientes 
e médicos, além da percepção de indiferença e do tratamento discriminatório na relação com os pro-
fissionais dos serviços de saúde. Verificou-se que tais aspectos constituem barreiras, pois os pacientes 
relutam em procurar os serviços de saúde biomédicos 31,32. 
 As discussões sobre estabelecimentos de saúde hospitalar culturalmente sensíveis aos povos indí-
genas, com capacidade de atuação dentro de contexto intercultural, foram reconhecidas pelo Estado 
Brasileiro a partir da promulgação da Portaria no 645 de 27 de março de 2006, que instituiu o certifi-
cado hospital amigo do índio a ser oferecido aos estabelecimentos de saúde da rede SUS. No entanto, 
essa Portaria nunca foi regulamentada e, segundo informações da Secretaria Especial de Saúde Indí-
gena (SESAI), não há nenhum hospital brasileiro com tal certificação. A ausência dessa discussão no 
ACESSO DOS USUÁRIOS INDÍGENAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE 17
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
cenário nacional, que já perdura dez anos, evidencia a fragilidade política do setor para a constituição 
do resgate da humanização do cuidado e da integralidade da atenção à saúde dos povos indígenas.
Apesar de todos os problemas identificados na dimensão sociocultural, o fato dessas barreiras 
não terem sido consideradas pelos entrevistados como empecilho para o atendimento de saúde aos 
indígenas em Cuiabá, reforça um achado constatado num estudo realizado no Canadá onde ao pes-
quisar sobre a percepção dos profissionais de saúde acerca das barreiras de tratamento do diabetes 
entre povos indígenas, evidenciou-se que os profissionais não citaram barreiras socioculturais como 
relevantes no processo de tratamento de saúde dos indígenas canadenses. Os autores asseveram que 
os profissionais desconheciam o quanto pode ser significativo o aspecto cultural na discussão da saúde 
indígena. Segundo eles, faz-se então necessário implantar uma educação e treinamento sobre o tema 
da interculturalidade e serviços culturalmente seguros para os profissionais de saúde 33. 
Na dimensão geográfica fica evidenciado que a questão do transporte em saúde de pessoas é con-
siderada uma das principais barreiras ao acesso dos usuários, em geral, aos serviços de saúde 26. Um 
estudo realizado com população indígena do México também apontou o acesso geográfico como uma 
grande barreira aos pacientes indígenas que buscam atendimento nos serviços de saúde 3. Esse fato 
decorre da localização das residências dos pacientes que, normalmente, são em áreas rurais, de difícil 
acesso e distantes dos centros de saúde, em especial os especializados. Na Austrália, há relato da cria-
ção de um serviço móvel de atendimento especializado que se desloca até áreas distantes onde estão 
as populações aborígenes, com o intuito de apoiar ações da atenção básica e minimizar as barreiras de 
acesso geográfico aos serviços de saúde 34.
Considerações finais 
A aplicação da matriz de avaliação de acessibilidade dos usuários indígenas trouxe evidências de que 
todas as dimensões estudadas apresentaram barreiras que dificultam a acessibilidade da população 
indígena de Mato Grosso aos serviços de saúde de Cuiabá. 
Como principais limitações metodológicas do presente trabalho, destacam-se a ausência de infor-
mações sobre as barreiras enfrentadas por usuários indígenas que não acessaram a CASAI; as gra-
dações/parâmetros utilizados que podem ter limitado a compreensão das evidências; e a ausência 
de escuta dos profissionais e gestores dos serviços especializados de saúde de Cuiabá, assim como 
de usuários indígenas. Estimula-se o desenvolvimento de pesquisas sobre o acesso à saúde indígena, 
ampliando a análise para todos os atores envolvidos no processo de integração dos serviços de saúde.
Recomenda-se aperfeiçoamento da PNASPI, visando: a constituir serviços de saúde culturalmente 
sensíveis nos diferentes níveis de atenção do SUS; a efetivar normatização de protocolos que garan-
tam a articulação do subsistema de saúde indígena com a rede de atenção básica, média e alta comple-
xidades dos municípios e estados; a efetivar a participação igualitária entre os gestores das diferentes 
esferas do governo nos colegiados de pactuação locais; e à constituição de colegiados específicos entre 
gestores da saúde indígena de um mesmo estado, para a garantia de pactuações e normatizações entre 
os diferentes distritos sanitários.
Gomes SC, Esperidião MA18
Cad. Saúde Pública 2017; 33(5):e00132215
Colaboradores
S. C. Gomes participou da concepção e desenho do 
projeto, coleta, análise e interpretação dos dados e 
redação do artigo. M. A. Esperidião colaborou na 
concepção e desenho do projeto, análise e interpre-
tação dos dados, redação do artigo, revisão crítica 
do conteúdo intelectual e aprovação final da versão 
a ser publicada. 
Agradecimentos
Aos profissionais e gestores do DSEI Cuiabá e da 
CASAI Cuiabá, à Secretaria de Estado de Saúde de 
Mato Grosso e Instituto de Saúde Coletiva, Univer-
sidade Federal da Bahia (ISC/UFBA). 
Referências
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H, Crowshoe L, et al. Access to health care 
among status Aboriginal people with chronic 
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Blanton M. Health service access, use, and in-
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Abstract
This study aimed to evaluate indigenous peoples’ 
access to medium and high-complexity health ser-
vices in the municipality of Cuiabá, Mato Grosso 
State, Brazil, through the Casa de Saúde Indígena 
or Indigenous Peoples’ Clinic (CASAI Cuiabá). 
A single case study with a qualitative approach 
was conducted at CASAI Cuiabá. Data were ob-
tained from observation of the work routines at 
CASAI Cuiabá, semi-structured interviews with 
health professionals and administrators from the 
Cuiabá Special Indigenous Health District (DSEI) 
and CASAI Cuiabá, and document analysis. Data 
analysis used a matrix derived from the theoretical 
and logical model of accessibility, validated by the 
Delphi method with a group of experts on indig-
enous peoples’ health. Despite advances achieved 
by CASAI in improving indigenous peoples’ access, 
there are persistent social, organizational, cul-
tural, and geographic barriers in access to medium 
and high-complexity health services in Cuiabá. 
The study highlights the need for specific strategies 
to improve access to health services by indigenous 
peoples in Mato Grosso State. 
Health of Indigenous Peoples; Health Services 
Accessibility; Health Evaluation 
Resumen
Este trabajo tuvo como objetivo evaluar el acceso 
de los usuarios indígenas a los servicios de salud 
de mediana y alta complejidad del municipio de 
Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, a partir de la CA-
SAI Cuiabá. Se realizó un estudio de caso único en 
la Casa de Salud Indígena (CASAI) Cuiabá con 
un enfoque cualitativo. Los datos se obtuvieron 
mediante observación de las rutinas de trabajo de 
la CASAI Cuiabá, entrevistas semiestructuradas 
con profesionales y gestores del Distrito Sanitário 
Especial Indígena (DSEI) Cuiabá y CASAI Cuia-
bá, y un análisis documental. Para el análisis de 
datos, se elaboró una matriz derivada del modelo 
teórico-lógico de accesibilidad, y validada median-
te el método Delphi, a un grupo de especialistas 
en la temática de salud indígena. A pesar de los 
avances que conlleva la CASAI en la mejoría de 
la accesibilidad indígena, persisten barreras socio-
organizativas, culturales y geográficas en el acceso 
a los servicios de mediana y alta complejidad del 
municipioestudiado. Se recomienda la formu-
lación de estrategias específicas para la mejora 
del acceso a los servicios de salud de los pueblos 
indígenas matogrosenses. 
Salud de Poblaciones Indígenas; Accesibilidad a 
los Servicios de Salud; Evaluación en Salud 
Recebido em 17/Ago/2015
Versão final reapresentada em 13/Jun/2016
Aprovado em 24/Jun/2016

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