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FISIOPATOLOGIA DO IAM INFARTO Um infarto é uma área tecidual de necrose isquêmica causada pela obstrução do suprimento arterial ou da drenagem venosa. O infarto nos tecidos é um evento comum e uma causa extremamente importante de doença clínica. Nos Estados Unidos, cerca de 40% dos óbitos são causados por doenças cardiovasculares e a maioria é atribuída ao infarto do miocárdio ou ao infarto cerebral. O infarto pulmonar também é uma complicação comum em várias condições clínicas, o infarto intestinal é frequentemente fatal, e a necrose isquêmica das extremidades (gangrena) é um grave problema na população diabética. A trombose arterial é a causa da grande maioria de infartos. Causas menos comuns de obstrução arterial resultando em infartos o vasoespasmo local, a hemorragia dentro de uma placa ateromatosa, ou a compressão extrínseca do vaso (p. ex., por tumor). Outras causas incomuns de infartos teciduais incluem a torção dos vasos (p. ex., na torção testicular ou nos vólvulos intestinais), a ruptura vascular traumática, ou ainda a compressão vascular por edema (p. ex., síndrome do compartimento anterior) ou pelo aprisionamento em um saco herniário. Ainda que a trombose venosa possa causar um infarto, o resultado mais comum é apenas a congestão; ai nessa situação, os canais colaterais se abrem, permitindo o efluxo vascular, o que melhora o afluxo arterial. Por isso os infartos causados por trombose venosa ocorrem mais em órgãos com uma única veia eferente (p. ex., testículo e ovário). MORFOLOGIA Os infartos são classificados de acordo com a sua cor e a presença ou ausência de infecção; assim, eles podem ser vermelhos (hemorrágicos) ou brancos (anêmicos), e podem ser sépticos ou assépticos. • Infartos vermelhos ocorrem ( 1) com oclusões venosas (p. ex., torção testicular) (2) em tecidos frouxos ou esponjosos (p. ex., pulmão) onde o sangue pode acumular-se na zona infartada, (3) em tecidos com circulação dupla (p. ex., pulmão e intestino delgado) que permitem o fluxo sanguíneo de um vaso paralelo desobstruído para a zona necrótica, (4) em tecidos previamente congestos pelo fluxo venoso lento e (5) quando o fluxo é restabelecido para um local de oclusão arterial com necrose prévia (p. ex., após angioplastia de uma obstrução arterial). • Infartos brancos ocorrem com oclusões arteriais em órgãos sólidos com circulação arterial terminal (p. ex., coração, baço e rim) e tbm onde a densidade do tecido limita a penetração de sangue dos leitos capilares adjacentes na área necrótica. Os infartos tendem a apresentar-se em forma de cunha, com o vaso ocluído no ápice e a periferia do órgão formando a base; quando a base é uma superfície serosa, pode haver um exsudato (e a saída de líquidos orgânicos através das paredes e membranas celulares) fibrinoso sobrejacente, resultante de uma resposta inflamatória aguda aos mediadores liberados pelas células lesionadas e necróticas. Os infartos recentes são mal definidos e levemente hemorrágicos, mas depois de alguns dias as suas margens tendem a ficar mais bem definidas pela presença de uma estreita orla de hiperemia atribuída à inflamação. Com o passar do tempo, os infartos resultantes de oclusões arteriais em órgãos que não apresentam um suprimento sanguíneo duplo normalmente tornam-se progressivamente pálidos e mais bem definidos. As hemácias extravasadas em infartos hemorrágicos são fagocitadas pelos macrófagos, que convertem o ferro do grupo heme em hemossiderina; em pequenas quantidades ela não é macroscopicamente identificada e não confere cor aos tecidos, mas, se a hemorragia for extensa, o tecido rico em hemossiderina adquire uma coloração castanha definitiva. A característica histológica dominante do infarto é a necrose coagulativa isquêmica. É importante lembrar que, se a oclusão vascular ocorre pouco (minutos a horas) antes da morte do indivíduo, as alterações histológicas podem estar ausentes, pois o tecido morto leva de 4 a 12 horas para exibir alterações microscópicas evidentes de necrose. A inflamação aguda está presente ao longo das margens dos infartos em poucas horas e está geralmente bem definida dentro de 1 a 2 dias. Ai finalmente, uma resposta reparativa começa nas margens preservadas. Nos tecidos estáveis, a regeneração parenquimatosa pode ocorrer na periferia onde a estrutura do estroma subjacente estiver preservada. Contudo, a maioria dos infartos é, no final, substituída por uma cicatriz. Só que o cérebro é uma exceção a essas generalizações, pois o infarto do sistema nervoso central resulta em necrose liquefativa Os infartos sépticos ocorrem quando vegetações infectadas de valvas cardíacas embolizam, ou quando microrganismos se instalam no tecido necrótico. Ai nesses casos, o infarto é convertido em um abscesso, com uma resposta inflamatória correspondentemente maior. FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO DE UM INFARTO Uma oclusão vascular pode provocar efeitos que variam desde praticamente nada até alterações teciduais e necrose suficientes para causar a morte. As variáveis que influenciam o resultado da oclusão vascular são as seguintes • Anatomia do suprimento vascular A disponibilidade de um suprimento sanguíneo alternativo é o fator mais importante para determinar se a oclusão dos vasos causará danos aos tecidos. Os pulmões apresentam um duplo suprimento sanguíneo arterial (pulmonar e brônquico), que o protege contra infartos induzidos por um tromboembolismo. De modo semelhante, o fígado, com sua circulação dupla, a da artéria hepática e a da veia porta, e a mão e o antebraço, com seu suprimento arterial duplo (radial e ulnar), são relativamente mais resistentes ao infarto. Em contrapartida, as circulações arteriais renal e esplênica são do tipo terminal, e a obstrução vascular, geralmente, provoca morte tecidual. • Velocidade da oclusão As oclusões de desenvolvimento lento apresentam uma menor probabilidade de causar um infarto, pq ela proporciona tempo para o desenvolvimento de vias colaterais de perfusão. Por exemplo, pequenas anastomoses interarteriolares — normalmente com fluxo funcional mínimo — interconectam as três artérias coronárias principais no coração. Se apenas uma das coronárias for ocluída lentamente, o fluxo dentro dessa circulação colateral pode aumentar o suficiente para impedir o infarto, mesmo quando a artéria coronária principal estiver bastante ocluída. • Vulnerabilidade do tecido à hipoxia Os neurônios sofrem danos irreversíveis quando privados de seu suprimento sanguíneo por apenas 3 ou 4 minutos. As células do miocárdio, mesmo sendo mais resistentes que os neurônios, são também muito sensíveis e morrem após apenas 20 a 30 minutos de isquemia (mas, as alterações na aparência das células mortas possam levar de 4 a 12 horas para se desenvolver). E os fibroblastos dentro do miocárdio permanecem viáveis mesmo após muitas horas de isquemia • Hipoxemia Compreensivelmente, a baixa concentração de oxigênio no sangue (independentemente da causa) aumenta tanto a probabilidade quanto a extensão de um infarto. INFARTO DO MIOCÁRDIO O infarto do miocárdio, “ataque cardíaco”, consiste na morte do músculo cardíaco devido à isquemia grave prolongada. A maior parte dos infartos do miocárdio é causada pela trombose aguda de uma artéria coronária INCIDÊNCIA E FATORES DE RISCO O infarto do miocárdio pode ocorrer praticamente em qualquer idade; cerca de 10% dos infartos do miocárdio ocorrem empessoas com menos de 40 anos, e 45% ocorrem em pessoas com menos de 65 anos. Mas, sua frequência eleva-se progressivamente com o aumento da idade. A incidência de infarto do miocárdio também está fortemente correlacionada a predisposições genéticas e comportamentais à aterosclerose. Durante a meia-idade, há um aumento do risco relativo de infarto do miocárdio nos homens; Em geral, as mulheres estão protegidas contra os infartos do miocárdio durante a vida reprodutiva. Contudo, a menopausa — e o declínio da produção de estrógeno — está associada à exacerbação da doença arterial coronariana, e a cardiopatia isquêmica é a causa mais comum de morte entre as mulheres idosas. Infelizmente, tem sido mostrado que a terapia de reposição hormonal pós-menopausa não protege as mulheres, e, na verdade, em alguns casos, pode ser prejudicial. PATOGENIA Oclusão Arterial Coronariana A seguinte sequência de eventos provavelmente forma a base para a maioria dos infartos do miocárdio: • Uma placa ateromatosa da artéria coronária sofre uma alteração súbita, que consiste em hemorragia intraplaca e ruptura • Quando são expostas ao colágeno subepitelial e ao conteúdo necrosado da placa, as plaquetas dão início aos processos de aderência, ativação, liberação do conteúdo de seus grânulos, e agregação para formar o microtrombo. • O vasospasmo é estimulado por mediadores liberados das plaquetas. • O fator tecidual ativo a via da coagulação, aumentando o volume do trombo. • Em minutos, o trombo pode se expandir para obstruir completamente a luz do vaso. • Uma placa ateromatosa rompe-se subitamente pelo resultado de hemorragia intraplaca ou de forças mecânicas; em consequência, o colágeno subendotelial e o conteúdo necrosado da placa entram em contato com o sangue. • As plaquetas aderem à placa rompida, agregam-se e são ativadas, liberando tromboxano A2, (ADP) e serotonina — que causam mais agregação plaquetária e também vasoespasmo • A ativação da coagulação pela exposição do fator tecidual e por outros mecanismos aumenta o trombo em crescimento. • Em minutos, o trombo pode evoluir e obstruir totalmente o lúmen de uma artéria coronária. As evidências que confirmam essa sequência provêm: (1) dos estudos de necropsia de pacientes que morreram de infartos do miocárdio agudo; (2) exames por imagens que mostram alta frequência de obstrução trombótica pouco tempo depois do infarto do miocárdio (3) da alta taxa de sucesso da revascularização coronariana após os infartos do miocárdio e (4) da demonstração de lesões ateroscleróticas rompidas residuais por meio da angiografia após a trombólise. A angiografia coronariana realizada dentro de 4 horas do início do infarto do miocárdio mostra uma trombose coronariana em quase 90% dos casos. Mas quando, a angiografia é realizada após 12 a 24 horas após o início dos sintomas, as evidências de trombose são vistas em apenas 60% dos pacientes, mesmo quando não há intervenção. Então, pelo menos algumas oclusões desaparecem espontaneamente por causa da lise do trombo ou do relaxamento do espasmo. Essa sequência de eventos de um infarto do miocárdio típico também tem implicações terapêuticas: a trombólise e a angioplastia precoces podem ser muito bem-sucedidas ao limitar a extensão da necrose do miocárdio. Em aproximadamente 10% dos casos, os infartos do miocárdio transmural ocorre na ausência de uma aterotrombose coronariana típica. Nesses casos, outros mecanismos podem ser responsáveis pela redução do fluxo sanguíneo coronário, incluindo: • Vasospasmo, com ou sem aterosclerose coronariana, que talvez é associado à agregação plaquetária ou devido ao uso de drogas (p. ex., cocaína ou efedrina). • Êmbolos provenientes do átrio esquerdo associados à fibrilação atrial, a um trombo mural no lado esquerdo, às vegetações da endocardite infecciosa, ou ao material protético intracardíaco; ou êmbolos paradoxais provenientes do lado direito do coração ou das veias periféricas, atravessando uma persistência do forame oval e penetrando as artérias coronárias. • Isquemia sem aterosclerose e trombose coronariana detectáveis ou significativas pode ser causada por distúrbios de uns pequenos vasos intramurais coronarianos (p. ex., vasculite), anormalidades hematológicas (p. ex., doença falciforme), deposição de amiloide nas paredes vasculares, dissecção vascular, hipertrofia acentuada (p. ex., estenose aórtica), baixa pressão arterial sistêmica (p. ex., choque), ou “proteção” inadequada do miocárdio durante cirurgia cardíaca. Resposta do Miocárdio A obstrução da artéria coronária diminui o fluxo sanguíneo para uma região do miocárdio, causando isquemia, rápida disfunção miocárdica e, por fim — com comprometimento vascular prolongado —, A consequência bioquímica precoce da isquemia miocárdica é a interrupção do metabolismo aeróbico dentro de segundos, levando à produção inadequada de fosfatos de alta energia (p. ex., fosfato de creatinina e trifosfato de adenosina) e ao acúmulo de metabólitos potencialmente nocivos (p. ex., ácido lático) (Fig. 12-10A). Então, como a função do miocárdio é extremamente dependente de oxigênio e nutrientes, a contratilidade miocárdica cessa dentro de 1 minuto ou mais após o início da isquemia grave, e essa perda de função precipita a insuficiência cardíaca bem antes do início da morte de miócitos. Alterações ultraestruturais (incluindo o relaxamento miofibrilar, a depleção de glicogênio e a tumefação mitocondrial e celular) também se desenvolvem dentro de poucos minutos do início da isquemia. No entanto, essas manifestações iniciais de lesão isquêmica são potencialmente reversíveis. Somente a isquemia grave que dura 20 a 30 minutos ou mais leva ao dano irreversível (necrose) de cardiomiócitos. Esse retardo no início da lesão permanente do miocárdio justifica o diagnóstico rápido do infarto do miocárdio agudo e isso permitir a intervenção coronariana precoce para estabelecer a reperfusão e salvar o miocárdio “em risco” o quanto for possível. Um aspecto detectável nos estágios iniciais da necrose de miócitos é a ruptura da integridade do sarcolema, e ela permite que macromoléculas intracelulares saiam das células necrosadas, cheguem ao interstício cardíaco e, por fim, penetrem a microvasculatura e os vasos linfáticos. Essa passagem de proteínas intracelulares do miocárdio para a circulação constitui a base para os exames de sangue que podem detectar o dano irreversível ao miócito, e são importantes para o tratamento de infartos do miocárdio (ver adiante). Com a isquemia grave prolongada, a lesão à microvasculatura é sucedida pela lesão aos cardiomiócitos. Tempo Aproximado até o Início dos Eventos-chave nos Cardiomiócitos Isquêmicos Sequência temporal dos achados bioquímicos iniciais e progressão da necrose após o início de uma isquemia miocárdica grave. A, Alterações iniciais incluem perda de trifosfato de adenosina (ATP) e acúmulo de lactato. B, Por aproximadamente 30 minutos após o início da isquemia, mesmo as mais graves, a lesão do miocárdio é potencialmente reversível. Após esse período, ocorre a perda progressiva da viabilidade que se completa em 6 a 12 horas. Os benefícios da reperfusão são maiores quando ela é alcançada precocemente, e diminuem progressivamente quando ela é retardada. A progressão da necrose isquêmica no miocárdio está resumida na Figura 12-11. A figura mostra a progressão da necrose do miocárdio após oclusão da artéria coronária. A necrose começa em uma pequena zona de miocárdio abaixo da superfíciedo endocárdio no centro da zona isquêmica. A área que depende do vaso ocluído para perfusão é o miocárdio “em risco” (sombreada). Note que uma zona muito estreita do miocárdio imediatamente abaixo do endocárdio é poupada da necrose, pois pode ser oxigenada por difusão a partir do ventrículo. Devido ao padrão de perfusão miocárdica do epicárdio para o endocárdio, a isquemia é mais pronunciada no subendocárdio, então a lesão irreversível dos miócitos isquêmicos ocorre primeiramente na zona subendocárdica. Com a isquemia mais extensa, uma frente de onda de morte celular se move através do miocárdio e penetra cada vez mais na espessura transmural da zona isquêmica. A localização precisa, o tamanho e os aspectos morfológicos específicos de um infarto do miocárdio agudo dependem: - Da localização, gravidade e velocidade de desenvolvimento das obstruções coronarianas devido a aterosclerose e trombose - Do tamanho do leito vascular irrigado pelos vasos obstruídos. - Da duração da oclusão. - Das necessidades metabólicas e de oxigênio do miocárdio em risco. - Da extensão dos vasos sanguíneos colaterais. - Da presença, local e intensidade de espasmo arterial coronariano. - De outros fatores, como frequência cardíaca, ritmo cardíaco e oxigenação sanguínea. A necrose envolve aproximadamente metade da espessura do miocárdio em 2 a 3 horas do início da isquemia miocárdica grave, ela geralmente completa-se em 6 horas após o início da isquemia do miocárdio grave. Entretanto, nos casos em que a isquemia subletal crônica tenha induzido uma circulação colateral coronariana bem desenvolvida, a progressão da necrose pode seguir uma evolução mais lenta (12 horas ou mais). O conhecimento das áreas do miocárdio perfundidas pelas principais artérias coronárias permite correlacionar as obstruções vasculares específicas com as suas áreas correspondentes de infarto do miocárdio. Normalmente, o ramo descendente (DAE) da artéria coronária esquerda irriga a maior parte do ápice do coração, a parede anterior do ventrículo esquerdo e os dois terços anteriores do septo ventricular. Então, a artéria coronária que perfunde o terço posterior do septo é chamada de “dominante”. Na circulação dominante direita (presente em 80% dos indivíduos), a artéria coronária direita (ACD) irriga toda a parede livre do ventrículo direito, a parede póstero basal do ventrículo esquerdo e o terço posterior do septo ventricular, enquanto a ramo circunflexo esquerdo geralmente perfunde apenas a parede lateral do ventrículo esquerdo. Então, as oclusões da artéria coronária direita potencialmente levam ao dano ventricular esquerdo. Embora a maioria dos corações apresente numerosas anastomoses intercoronarianas (circulação colateral), uma quantidade relativamente menor de sangue normalmente circula através dessas. Mas, quando uma artéria coronária é progressivamente estreitada com o passar do tempo, o sangue flui pelos vasos colaterais com pressão alta a baixa, causando o alargamento dos canais. Com essa dilatação progressiva e o crescimento de vasos colaterais, estimulados pela isquemia, o fluxo sanguíneo é fornecido para áreas do miocárdio que, de outra forma, estariam desprovidas de perfusão adequada. Além disso, no cenário de colateralidade extensa, os territórios de perfusão epicárdica normal podem estar tão expandidos que a oclusão subsequente leva ao infarto em distribuições paradoxais. PADRÕES DE INFARTO A distribuição da necrose do miocárdio está correlacionada com a localização e a causa da perfusão reduzida Com base no tamanho do vaso envolvido e no grau da circulação colateral, os infartos do miocárdio podem apresentar um dos seguintes padrões: INFARTO TRANSMURAL Os infartos do miocárdio causados pela oclusão de um vaso epicárdico (na ausência de qualquer intervenção terapêutica) são normalmente transmurais então a necrose envolve praticamente toda a espessura da parede ventricular na distribuição da artéria coronária afetada. Esse padrão de infarto geralmente está associado à combinação de aterosclerose coronariana crônica, alteração aguda da placa e trombose superposta INFARTO SUBENDOCÁRDICO (NÃO TRANSMURAL). Como a zona subendocárdica é normalmente a última região perfundida do miocárdio, essa área é a mais vulnerável a qualquer redução do fluxo coronário. Um infarto subendocárdico — normalmente limitado ao terço interior da parede ventricular — pode ocorrer em decorrência da ruptura de uma placa seguida por um trombo coronariano que se torna lisado (de modo terapêutico ou espontâneo), antes de a necrose do miocárdio se estender ao longo de toda a espessura da parede. Os infartos subendocárdicos também podem resultar da redução grave e prolongada da pressão arterial sistêmica. Nos casos de infarto subendocárdico resultante de hipotensão global, o dano ao miocárdio é geralmente circunferencial, em vez de estar limitado à região irrigada por uma única artéria coronária principal. MICROINFARTO MULTIFOCAL Esse padrão é visto quando há doença envolvendo somente vasos intramurais menores. Isso pode ocorrer nos casos ocorrer no cenário de microembolização, vasculite ou espasmo vascular devido a, por exemplo, catecóis endógenos (adrenalina) ou drogas (cocaína ou efedrina) Os níveis elevados de catecóis também aumentam a frequência cardíaca e a contratilidade miocárdica, agravando a isquemia causada pelo vasospasmo. O resultado desse vasospasmo pode ser a morte súbita cardíaca (geralmente causada por uma arritmia fatal) ou uma cardiomiopatia isquêmica dilatada chamada cardiomiopatia de takotsubo (também denominada de “síndrome do coração partido” por causa da associação com a coação emocional). Dependência do infarto do miocárdio do local e da natureza da perfusão diminuída. Esquerda, Os padrões do infarto transmural que resulta da oclusão da principal artéria coronária. O ventrículo direito pode ser afetado pela oclusão da artéria coronária principal direita (não mostrado). Direita, Os padrões do infarto que resulta da oclusão parcial ou transitória (no alto), de hipotensão global superposta a uma doença vascular fixa que afeta os três vasos (no meio) ou da oclusão de pequenos vasos intramiocárdicos (embaixo). MORFOLOGIA A evolução temporal das alterações morfológicas no Infarto do Miocárdio agudo e a subsequente cicatrização estão resumidas na Tabela Quase todos os infartos transmurais envolvem pelo menos uma porção do ventrículo esquerdo e abrangem quase toda a zona de perfusão da artéria coronária ocluída, menos uma borda estreita (de aproximadamente 0,1 mm) do miocárdio subendocárdico que é preservada pela difusão de oxigênio e nutrientes da luz ventricular Aproximadamente 15-30% dos infartos do miocárdio causados pela obstrução da artéria coronária direita, se estendem da parede livre posterior da porção septal do ventrículo esquerdo para dentro da parede do ventrículo direito adjacente. O infarto isolado do ventrículo direito não é comum (somente 1% a 3% dos casos), assim como o infarto dos átrios. As frequências de envolvimento de cada um dos três troncos arteriais principais e as regiões correspondentes às lesões do miocárdio resultantes de infarto (no coração direito dominante típico) são: • Artéria coronária descendente anterior esquerda (40% a 50%): são as áreas do infarto que envolvem a parede anteriordo ventrículo esquerdo, próximo ao ápice; a porção anterior do septo ventricular; e o ápice de modo circunferencial • Artéria coronária direita (30% a 40%): são as áreas do infarto que envolvem a parede inferior/posterior do ventrículo esquerdo; a porção posterior do septo ventricular; e a parede livre inferior/posterior do ventrículo direito em alguns casos • Artéria coronária circunflexa esquerda (15% a 20%): são as áreas do infarto que envolvem a parede lateral do ventrículo esquerdo, com exceção do ápice Às vezes, são encontrados outros locais de lesões arteriais coronarianas críticas, como a artéria coronária principal esquerda, os ramos secundários (diagonais) da artéria coronária descendente anterior esquerda, ou os ramos marginais da artéria coronária circunflexa esquerda. Os aspectos macroscópica e microscópica de uma área de infarto depende da duração da sobrevida do paciente após o infarto do miocárdio. As áreas danificadas passam por uma sequência progressiva de alterações morfológicas que envolvem a necrose isquêmica de coagulação (o mecanismo predominante de morte celular no infarto do miocárdio, embora a apoptose também possa ocorrer), seguida de uma inflamação e reparo que se assemelham muito às respostas à lesão em outros tecidos. A identificação morfológica precoce do infarto do miocárdio agudo pode ser difícil, quando a morte ocorre poucas horas após o início dos sintomas. Infartos do miocárdio com menos de 12 horas geralmente não são visíveis ao exame macroscópico. Mas, se o infarto precedeu a morte em 2 a 3 horas, podem ser visualizados quando se tinge o miocárdio com corantes vitais, como o cloreto de trifeniltetrazólio, um substrato para lactato desidrogenase. Essa enzima está depletada na área da necrose isquêmica (ela vaza das células lesadas), por isso a área infartada não se cora (área pálida), enquanto as cicatrizes antigas ficam brancas e brilhantes Dentro de 12 a 24 horas após o infarto, um infarto do miocárdio geralmente pode ser identificado no exame macroscópico como uma área de coloração vermelho- azulada causada pelo sangue aprisionado e estagnado. Depois disso, o infarto transforma-se progressivamente mais bem definidos, com áreas amarelo- acastanhada e amolecida, cerca de 10 dias a 2 semanas, ela é margeada por uma zona hiperêmica de tecido de granulação altamente vascularizado. Nas semanas seguintes, a região lesada evolui para uma cicatriz fibrosa As alterações histopatológicas também apresentam uma sequência bastante previsível. As alterações típicas da necrose de coagulação se tornam detectáveis nas primeiras 6 a 12 horas. “Fibras onduladas” podem estar presentes na periferia da área do infarto; essas alterações resultam provavelmente do esforço sistólico vigoroso, realizado pelas fibras viáveis, imediatamente adjacentes às fibras mortas não contráteis, causando estiramento e dobramento. Outra alteração isquêmica subletal pode ser observada nas margens das áreas de infarto: chamada de vacuolização do miócito, que reflete os acúmulos intracelulares de sal e água dentro do retículo sarcoplasmático. A, Infarto com um dia que mostra necrose por coagulação e fibras onduladas que podem ser comparadas com as fibras normais adjacentes (direita). As células necrosadas estão isoladas pelo líquido do edema. B, Infiltrado neutrofílico denso na área de um infarto de 2-3 dias. C, Remoção quase completa dos miócitos necrosados por macrófagos fagocitários (7-10 dias). E, Infarto do miocárdio cicatrizado que consiste em D, Tecido de granulação caracterizado por tecido conjuntivo frouxo e capilares abundantes Em D e E, a coloração usada foi o tricrômico de Masson, que cora o colágeno de azul O músculo necrosado estimula uma inflamação aguda (mais acentuada em 1 a 3 dias). Após isso, os macrófagos removem os miócitos necrosados (mais visíveis em 3 a 7 dias) e a zona danificada é progressivamente substituída pelo crescimento interno de um tecido de granulação altamente vascularizado (mais acentuado em 1 a 2 semanas); com a progressão da cicatrização, ele é substituído por tecido fibroso. Na maioria dos casos, a cicatrização já está bem avançada perto do final da 6ª semana, mas a eficiência do reparo depende do tamanho da lesão original e do estado metabólico e inflamatório relativo do hospedeiro. Como a cicatrização requer a participação de células inflamatórias, a imunossupressão (p. ex., devido a esteroides) pode prejudicar o vigor da resposta de cicatrização. Além disso, as células inflamatórias que migram para o local de necrose requerem a vasculatura intacta; como os vasos sanguíneos frequentemente sobrevivem apenas nas margens da área do infarto, infartos do miocárdio normalmente cicatrizam no sentido das bordas para o centro. Consequentemente, uma área de infarto grande pode não cicatrizar tão rápida nem tão completamente quanto uma área de infarto pequena. Uma área de infarto cicatrizada também pode ter um aspecto não uniforme, com a cicatrização mais avançada na periferia. Quando a lesão está completamente cicatrizada, é impossível determinar sua idade (pq a cicatriz de infartos com 8 semanas e com 10 anos parecem praticamente idênticas). Infarto agudo do miocárdio da parte posterolateral do ventrícu lo esquerdo revelado pela falha de tingimento pelo cloreto de trifeniltetrazólio nas áreas de necrose (seta); a ausência de tingimento se deve ao vazamento das enzimas que ocorre após a morte das células. Note a cicatriz anterior (cabeça de seta), que indica infarto antigo. A hemorragia no miocárdio da borda direita do infarto (asterisco) se deve à ruptura do ventrículo, que foi a causa aguda da morte desse paciente (a parede posterior está no alto da fotografia). MODIFICAÇÃO DA ÁREA DE INFARTO POR MEIO DA REPERFUSÃO Nos casos de infarto agudo do miocárdio, o objetivo terapêutico é salvar a maior quantidade possível de miocárdio isquêmico; essa tarefa é realizada por meio da restauração da perfusão tecidual o mais rápido possível (daí o ditado “tempo é miocárdio”) A reperfusão não apenas melhora a sobrevida em curto e longo prazo, como também afeta a função do miocárdio em curto e longo prazo. Então a reperfusão imediata é o objetivo preeminente para o tratamento de pacientes com infarto do miocárdio. Ela pode ser realizada por inúmeras intervenções coronarianas, como a, trombólise, angioplastia, entre outros (instalação de stent ou cirurgia de enxerto de bypass da artéria coronária [CABG]) O objetivo é dissolver, alterar mecanicamente ou desviar a lesão que precipitou o infarto agudo. Os benefícios da reperfusão estão correlacionados com (1) a rapidez em que o fluxo sanguíneo coronário é restabelecido (as primeiras 3 a 4 horas após a obstrução são críticas) e (2) a extensão da restauração do fluxo sanguíneo e a correção da lesão causal subjacente. Além disso, a trombólise pode remover um trombo que oclui uma artéria coronária, mas não altera a placa aterosclerótica subjacente que iniciou sua formação. A angioplastia coronariana transluminal percutânea (ACTP), com instalação de stent, elimina não apenas a oclusão trombótica, mas também parte da obstrução e da instabilidade originais causadas pela placa rompida subjacente. A cirurgia de enxerto de bypass da artéria coronária (CABG) fornece um novo conduto para que o fluxo desvie da área do vaso bloqueado. IMAGEM- aparência típica do miocárdio reperfundido As áreas de infarto reperfundidas geralmente apresentam hemorragia, pq a vasculatura é agredida durante a isquemiae há sangramento após o fluxo ser restaurado. O exame microscópico revela que os miócitos lesados de modo irreversível apresentam faixas de contração, que são “faixas” intracelulares intensamente eosinofílicas compostas de sarcômeros extremamente comprimidos. Isso resulta da contração exagerada dos sarcômeros no instante em que perfusão é restabelecida, pois, nesse momento, o interior de células com membranas danificadas é exposto a uma alta concentração de íons cálcio do plasma. Então, a reperfusão não apenas salva as células com lesão reversível, mas também altera a morfologia das células já agredidas. Embora ela seja muito benéfica, a reperfusão pode desencadear complicações deletérias, incluindo arritmias, além de dano sobreposto à isquemia original — a chamada lesão por reperfusão, que é termo compreende as várias formas de danos que podem ocorrer após a restauração do fluxo para um miocárdio “vulnerável” que está isquêmico, mas ainda não está danificado de modo irreversível (Fig. 12-16B). A lesão por reperfusão pode ser mediada pelo estresse oxidativo, sobrecarga de cálcio e células inflamatórias recrutadas após a reperfusão tecidual. A lesão microvascular induzida por reperfusão não apenas resulta em hemorragia, mas também causa tumefação endotelial, que oclui os capilares, e pode limitar a reperfusão do miocárdio lesado de modo crítico (chamado de não refluxo). As anormalidades bioquímicas (e suas consequências funcionais) também podem persistir por um período de dias a semanas nos miócitos reperfundidos. Acredita-se que essas alterações formem a base para o fenômeno denominado miocárdio atordoado, um estado de insuficiência cardíaca prolongada, induzida por isquemia transitória, que geralmente se recupera após vários dias. O miocárdio que é submetido à isquemia subletal crônica também pode entrar em um estado de metabolismo e função reduzidos chamado de hibernante. A revascularização subsequente muitas vezes restaura a função normal de um miocárdio hibernante. Efeitos da reperfusão na viabilidade e função do miocárdio. Após a oclusão coronariana, a função contrátil é perdida dentro de 2 minutos e a viabilidade começa a diminuir após aproximadamente 20 minutos. Se a perfusão não for restaurada (A), quase todo o miocárdio na região afetada morrerá. B, Se o fluxo for restaurado, alguma necrose poderá ser evitada, o miocárdio será salvo, e pelo menos alguma função poderá retornar. Quanto antes a reperfusão ocorrer, maior será o grau de salvamento. No entanto, o processo de reperfusão por si só pode provocar algum dano (lesão por reperfusão), e o retorno da função do miocárdio salvo pode ser retardado por horas a dias (disfunção ventricular pós-isquêmica ou miocárdio atordoado). ASPECTOS CLÍNICOS O infarto do miocárdio é diagnosticado por sintomas clínicos, testes laboratoriais para detectar a presença de proteínas do miocárdio no plasma, e alterações características no eletrocardiograma. Pacientes com infarto do miocárdio apresentam dor torácica prolongada (mais de 30 minutos) que descrita como sensação constritiva, de facada ou de aperto, com ao pulso fraco e rápido; transpiração profusa (diaforese), náusea e vômito são comuns, e podem sugerir o envolvimento do ventrículo póstero- inferior, com estimulação vagal secundária. A dispneia decorrente da contratilidade deficiente do miocárdio isquêmico e a congestão e edema pulmonares resultantes são sintomas frequentes. Entretanto, em até 25% dos pacientes, o início é totalmente assintomático (p. ex., no cenário de neuropatia diabética) e a doença é descoberta apenas por alterações no eletrocardiograma ou testes laboratoriais que mostram evidência de dano ao miocárdio (ver adiante). A avaliação laboratorial do infarto do miocárdio é baseada na medida dos níveis sanguíneos de proteínas que extravasaram dos miócitos danificados de modo irreversível; entre essas moléculas, as mais úteis são as troponinas T e I específicas do coração (cTnT e cTnI) e a fração MB da creatina-cinase (CK-MB) (Fig. 12-17). O diagnóstico da lesão do miocárdio é estabelecido quando os níveis sanguíneos desses biomarcadores cardíacos estão elevados. A velocidade de aparecimento desses marcadores na circulação periférica depende de vários fatores, como a sua localização intracelular e peso molecular, fluxo sanguíneo e drenagem linfática na área do infarto, e a velocidade de eliminação do marcador do sangue Os biomarcadores mais sensíveis e específicos do dano ao miocárdio são as proteínas específicas do coração, particularmente a troponinas T e I (cTnT e cTnI) (proteínas que regulam a contração, mediada pelo cálcio, do músculo cardíaco e esquelético). As troponinas I e T não são normalmente detectadas na circulação. Após um infarto, os níveis de ambas (troponinas I e T) começam a elevar em 3 a 12 horas; os níveis de troponinas T atingem o pico por volta de 12 a 48 horas, enquanto os níveis de troponinas I atingem o pico máximo em 24 horas. A creatina-cinase é uma enzima expressa no cérebro, miocárdio e músculo esquelético; ela é um dímero composto por duas isoformas designadas “M” e “B”. Enquanto os homodímeros MM são encontrados predominantemente nos músculos cardíaco e esquelético, e os homodímeros BB, no cérebro, pulmão e muitos outros tecidos Os heterodímeros MB estão localizados principalmente no músculo cardíaco (com quantidades consideravelmente menores encontradas no músculo esquelético). Assim, a forma MB da creatina-cinase (CK-MB) é sensível, mas não específica, uma vez que ela também pode estar elevada após a lesão do músculo esquelético. A fração MB da creatina-cinase começa a elevar-se dentro de 3 a 12 horas do início do infarto do miocardio, e os picos são atingidos em cerca de 24 horas, retornando ao normal em aproximadamente 48 a 72 horas. Resumindo: • O tempo de elevação da fração MB da creatina-cinase, troponinas T e I é de 3 a 12 horas. • A fração MB da creatina-cinase e a troponinas I atingem o pico em 24 horas. • A fração MB da creatina-cinase retorna ao normal em 48 a 72 horas, a troponinas I, em 5 a 10 dias, e a troponinas T, em 5 a 14 dias. CONSEQUÊNCIAS E COMPLICAÇÕES DO INFARTO DO MIOCÁRDIO Um progresso extraordinário tem sido obtido no tratamento de pacientes com infarto do miocárdio agudo, Os fatores associados ao pior prognóstico incluem idade avançada, gênero feminino, diabetes melito, e — devido à perda cumulativa da função do miocárdio — infarto do miocárdio prévio. Metade das mortes associadas ao infarto do miocárdio agudo ocorre dentro de 1 hora do início, mais comumente devido à arritmia fatal; a maioria desses indivíduos nunca chega ao hospital. As intervenções terapêuticas para o infarto do miocárdio incluem: • Morfina para aliviar a dor e melhorar os sintomas de dispneia. • Reperfusão imediata para salvar o miocárdio. • Agentes antiplaquetários, como aspirina, inibidores do receptor de P2Y12, e inibidores da GPIIb/IIIa. • Terapia anticoagulante com heparina não fracionada, heparina de baixo peso molecular, inibidores diretos da trombina e/ou inibidores do fator Xa para prevenir a propagação de coágulo da artéria coronária. • Nitratos para induzir vasodilatação e reverter o vasospasmo. • Betabloqueadores para diminuir a demanda miocárdica por oxigênio e reduzir o risco de arritmias. • Antiarrítmicos para tratar arritmias • Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) para limitar a dilatação ventricular.• Suplementação de oxigênio para melhorar a saturação do oxigênio no sangue. Apesar dessas intervenções, muitos pacientes apresentam uma ou mais complicações após o infarto do miocárdio agudo • Disfunção contrátil Em geral, os infartos do miocárdio afetam a função de bombeamento do ventrículo esquerdo de modo proporcional ao volume da lesão. Na maioria dos casos, há algum grau de insuficiência do ventrículo esquerdo manifestada como hipotensão, congestão pulmonar e edema pulmonar. A “falência da bomba” grave (choque cardiogênico) ocorre em aproximadamente 10% dos pacientes com infarto do miocárdio transmural e normalmente está associada a infartos que causam lesão em 40% ou mais do ventrículo esquerdo Uma área de infarto do ventrículo direito pode causar insuficiência cardíaca direita associada ao represamento de sangue na circulação venosa e hipotensão sistêmica. • Arritmias Muitos pacientes apresentam irritabilidade miocárdica e/ou distúrbios de condução após o infarto do miocárdio, que levam a arritmias potencialmente fatais. As arritmias associadas ao infarto do miocárdio incluem bradicardia sinusal, fibrilação atrial, bloqueio cardíaco, taquicardia, contrações ventriculares prematuras, taquicardia ventricular e fibrilação ventricular. Pelo fato de algumas partes do sistema de condução atrioventricular (feixe de His) estarem localizadas no miocárdio inferosseptal, as áreas de infarto envolvidas nessa região também podem estar associadas ao bloqueio cardíaco •Ruptura do miocárdio As várias formas de ruptura cardíaca normalmente ocorrem quando há necrose transmural de um ventrículo. Elas incluem: • Ruptura da parede livre ventricular (mais comum), com hemopericárdio e tamponamento cardíaco (Fig. 12- 18A). • Ruptura do septo ventricular (menos comum), que leva a um DSV agudo e a um shunt da esquerda para a direita (Fig. 12- 18B). • Ruptura do músculo papilar (a menos comum), que resulta em início agudo de regurgitação mitral grave A ruptura da parede livre ocorre com mais frequência 2 a 4 dias após o infarto do miocárdio, quando a necrose de coagulação, a infiltração neutrofílica e a lise do tecido conjuntivo miocárdico já enfraqueceram de modo considerável o miocárdio infartado; a parede anterolateral, no nível médio-ventricular, é o local mais comum. Os fatores de risco para ruptura da parede livre incluem idade acima dos 60 anos, primeiro infarto do miocárdio, infarto do miocárdio transmural e anterior grande, ausência de hipertrofia do ventrículo esquerdo, e hipertensão preexistente. A ruptura ventricular ocorre com menos frequência em pacientes com história anterior de infarto do miocárdio, por conda que uma vez que a cicatrização fibrótica associada tende a inibir a laceração do miocárdio. Enquanto as rupturas agudas da parede livre são, em geral, rapidamente fatais, uma aderência pericárdica estrategicamente localizada pode interromper uma ruptura e resultar em falso aneurisma (hematoma localizado que se comunica com a cavidade ventricular). A parede do falso aneurisma consiste apenas em epicárdio e pericárdio parietal aderente, e, assim, muitas podem acabar se rompendo. • Aneurisma ventricular Ao contrário dos falsos aneurismas mencionados anteriormente, os aneurismas verdadeiros da parede ventricular são limitados pelo miocárdio cicatrizado. Os aneurismas da parede ventricular são uma complicação tardia resultante de um infarto transmural grande que sofreram expansão precoce. A parede de tecido cicatricial delgado de um aneurisma paradoxalmente se projeta durante a sístole. As complicações dos aneurismas ventriculares incluem trombo mural, arritmias e insuficiência cardíaca; a ruptura da parede fibrótica resistente em geral não ocorre. • Pericardite Uma pericardite fibrinosa ou fibrino- hemorrágica geralmente desenvolve-se por volta do 2° ou 3° dia após um infarto transmural, como resultado da inflamação miocárdica subjacente • Expansão da área do infarto Devido ao enfraquecimento do músculo necrosado, pode haver estiramento desproporcional, adelgaçamento e dilatação da região do infarto (especialmente em infartos anterosseptais), que frequentemente estão associados a um trombo mural • Trombo mural Em qualquer infarto, a combinação entre uma anormalidade local na contratilidade (que causa estase) e um dano endocárdico (que produz uma superfície trombogênica) pode estimular a trombose mural e, potencialmente, o tromboembolismo. • Disfunção do músculo papilar Embora a ruptura do músculo papilar após infarto do miocárdio possa resultar no início repentino da incompetência da valva mitral (ou tricúspide), a maioria das regurgitações após o infarto resulta da disfunção isquêmica de um músculo papilar (e do miocárdio subjacente) ou, mais tarde, da dilatação ventricular ou da fibrose e encurtamento do músculo papilar. O risco de complicações após um infarto do miocárdio e o prognóstico do paciente dependem basicamente do tamanho da área de infarto, da localização e da fração de espessura da parede envolvida. Então, os infartos transmurais grandes possuem maior probabilidade de causar choque cardiogênico, arritmias e insuficiência cardíaca congestiva tardia. Os pacientes com infartos transmurais anteriores apresentam um risco muito grande de ruptura da parede livre, expansão do infarto e formação de trombos murais e aneurismas. Já é mais provável que os infartos transmurais posteriores apresentem, como complicação, bloqueios de condução, envolvimento do ventrículo direito, ou ambos; quando os defeitos do septo ventricular agudos ocorrem nessa área, eles são de difícil tratamento. Além disso, gênero feminino, idade acima dos 70 anos, diabetes melito e infarto do miocárdio prévio são fatores prognósticos ruins em pacientes com infarto do miocárdio com elevação ST. Nos infartos subendocárdicos, apenas raramente ocorrem pericardite, ruptura e formação de aneurismas. Além da sequência de reparo dos tecidos infartados, os segmentos não infartados do ventrículo sofrem hipertrofia e dilatação; o conjunto dessas alterações é chamado de remodelamento ventricular. Além da cicatrização já mencionada, o miocárdio viável restante tenta compensar a perda de massa contrátil. As regiões não infartadas sofrem hipertrofia e dilatação; juntamente com a cicatrização e o adelgaçamento das zonas infartadas, as alterações são coletivamente denominadas remodelamento ventricular. A hipertrofia compensatória inicial do miocárdio não infartado é benéfica para a hemodinâmica. No entanto, o efeito adaptativo do remodelamento poderá ser sobrepujado e o funcionamento ventricular poderá declinar se houver expansão do infarto e formação de aneurisma ventricular. ------------------------------------------------------- A hipertrofia compensatória do miocárdio não infartado é, inicialmente, hemodinamicamente benéfica. Só, que o efeito adaptativo do remodelamento pode ser sobrepujado pela dilatação ventricular (com ou sem aneurisma ventricular) e pela maior demanda por oxigênio, que pode exacerbar a isquemia e deprimir a função cardíaca. Também podem existir alterações na forma e inflexibilidade do ventrículo devido à formação de cicatriz e à hipertrofia, que diminuem ainda mais o débito cardíaco. Alguns desses efeitos deletérios parecem ser reduzidos por inibidores da ECA, que diminuem o remodelamento ventricular que ocorre após o infarto. ------------------------------------------------------- O prognóstico em longo prazo após um infarto do miocárdio depende de muitos fatores, e os mais importantessão a função do ventrículo esquerdo residual e a extensão de qualquer obstrução vascular nos vasos que perfundem o miocárdio viável remanescente. A prevenção do infarto (por meio do controle dos fatores de risco) nos indivíduos que nunca sofreram um infarto do miocárdio (prevenção primária) e a prevenção do reinfarto nos sobreviventes de infarto do miocárdio (prevenção secundária) são estratégias importantes que receberam muita atenção e têm alcançado sucesso considerável.
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