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1 PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU PRÁTICAS DE GESTÃO PEDAGÓGICA APLICADA MÓDULO SEMI PRESENCIAL C I R C U L A Ç Ã O I N T E R N A 2 3 Unidade I Teorias da Administração aplicadas à gestão escolar Introdução: gestor ou administrador? Para iniciar a nossa aula, vamos conceituar os termos gestão e administração. Ambos têm origem latina (gerere e administrare). O primeiro termo (gerere) tem o sentido de governar, conduzir, dirigir. O segundo termo (administrare), tem um significado mais restrito - gerir um bem, defendendo os interesses daquele que o possui - constituindo-se em uma aplicação do gerir. Para outros autores, como Wittmann e Franco, no entanto “como uma instância inerente à prática educativa, que abrange o conjunto de normas/diretrizes e práticas/atividades que garantem, de um lado, o significado ou o sentido histórico do que se faz e, de outro lado, a unidade do conjunto na diversidade de sua concretização. A administração da educação engloba as políticas, o planejamento, a gestão e a avaliação da educação.” (1998, p. 27) Assim, entendida como uma ampla coordenação de esforços para realizar a implementação de políticas e planos, a Gestão passa a ser uma parte da administração. Sem pretender aprofundar essa polêmica, quando falamos em Gestão Escolar trata- se, numa visão atual, do conjunto de funções desempenhadas pelos “atores institucionais” da escola (ou seja, toda a comunidade escolar), com diferentes graus de complexidade e responsabilidade, coordenadas pela equipe técnico-pedagógica, encabeçada pelo diretor da escola. Já fica claro, portanto, que desvinculamos da figura do diretor da escola todas as características de autoridade máxima, unipessoalidade, centralização, linha hierárquica, ênfase e relevo único - e às vezes onipotência - que lhe eram atribuídas há alguns anos (em especial na década de 70). Na década de 80, com a redemocratização da sociedade brasileira, isso começa a ser questionado e a direção colegiada surge nas escolas - falaremos dela em uma próxima aula. O termo “Gestor”, amplamente utilizado na atualidade, amplia as competências exigidas deste profissional, demandando uma visão ampla, dinâmica e articulada, conjugando decisão e avaliação constantes. Seja qual for a concepção utilizada, entendemos que o conhecimento histórico das Teorias da Administração, aplicando- as à realidade escolar, é fundamental para a formação do gestor. Teorias da Administração - evolução histórica e características 4 A feição do nosso curso pede que, em vez de apresentarmos uma sucessão de teorias, com seus vários autores de destaque, falemos de grandes paradigmas que dominaram o cenário da Administração, em ordem cronológica, discutindo- os brevemente e verificando, na próxima aula, alguns dos seus impactos no cenário da escola. Antes, porém, uma pergunta: Você sabe o que é um Paradigma? Kuhn (1992, p. 29) afirmou que paradigmas são “realizações reconhecidas durante algum tempo por uma comunidade científica específica, proporcionando os fundamentos para sua prática posterior”. Não é, portanto, um simples modelo, mas uma explicação da realidade em constante reformulação, buscando fazê-lo de forma cada vez mais clara e completa. É a evolução histórica de paradigmas que faz a Ciência evoluir. Então, vamos conhecer alguns desses paradigmas, expressos nas Teorias da Administração que lhes foram contemporâneas? Optamos por apresentar três grandes blocos históricos, como o fazem Ferreira et al. (2000). Embora eles se refiram à Administração de Empresas, podemos adaptar estes blocos teóricos à Gestão da Escola: · Teorias tradicionais de Gestão; · Teorias modernas de Gestão; · Teorias emergentes de Gestão. Além do mais, a escola é uma organização e, como as demais, tem as carac¬terísticas destacadas por Schein (1982): · objetivos comuns, cujo atingimento é meta de todos os que transitam na organização; · divisão de trabalho, por meio da diferenciação de funções; · integração, por meio de um esquema de atribuições que define a esfera de responsabilidade de cada um; · coordenação dos esforços e meios disponíveis, no sentido da ajuda mútua e do atingimento dos objetivos comuns. Aqui incide, fundamentalmente, a Gestão. Teorias tradicionais de gestão A origem deste conjunto teórico coincide com as enormes transformações trazidas pela Revolução Industrial. O aparecimento das fábricas fez surgir um primeiro paradigma, que defendia a produção racionalizada, a supervisão estreita e contínua, a obediência hierarquicamente estruturada e a divisão de tarefas. Tais teorias tiveram enorme importância histórica e ganharam destaque até a década de 60. 5 Sobre elas nos debruçaremos, nesta primeira aula sobre Teorias da Admi¬nistração aplicadas à Gestão Escolar. No início do século XX, dois engenheiros desenvolveram trabalhos revolu¬cionários em relação à Administração. Um deles era o americano Frederick Wins- low Taylor, criador da Escola de Administração Científica; o outro era o francês Henri Fayol, criador da Escola Clássica de Administração. Vamos conhecer um pouco da teoria de cada um? Taylor e a Administração Científica Nascido em 1856, na Filadélfia, Estados Unidos, a obra de Taylor é usual¬mente dividida em duas partes. A primeira corresponde ao período de trabalho na empresa Midvale Steel, com estudos sobre a racionalização do trabalho dos operários, por meio do “estudo de tempos e movimentos”. Ele analisava deta¬lhadamente as tarefas dos operários, decompondo-as nos menores movimentos e processos, aperfeiçoando-as e racionalizando-as. A segunda corresponde à publi¬cação da obra clássica Princípios de Administração Científica (1911), em que afir¬mava que a racionalização do trabalho operário deveria ser acompanhada de uma reestruturação geral da empresa, de acordo com os princípios por ele propostos. Criticava as empresas em três pontos: a vadiagem sistemática dos trabalha¬dores, o desconhecimento pela gerência, das rotinas do trabalho desenvolvido e a falta de uniformidade das técnicas e métodos de trabalho. Assim Taylor falava da Administração Científica: a administração é uma Ciência que não encerra, necessariamente, invenção, nem desco¬bertas de fatos novos ou surpreendentes. Consiste, entretanto, em certa combinação de elementos que não fora antes realizada, isto é, conhecimentos coletados, analisados, agru¬pados e classificados, para efeito de leis e normas que constituem uma Ciência, seguida de completa mudança na atitude mental dos trabalhadores e da direção, quer reciprocamente, quer nas respectivas atribuições e responsabilidades... (1962, p. 126). Fica claro que, neste enfoque, a improvisação dá origem ao planejamento e o empirismo, à Ciência. O objetivo desta forma de administração seria contemplar a identidade de interesses entre patrão e empregado (o máximo de prosperidade), conjugando o baixo custo da produção, desejado pelo empregador, aos altos salá¬rios, anseio dos empregados. Taylor separou as atividades de planejamento e supervisão (Administração) das atividades de execução (operários), propondo uma “Organização Racional do Trabalho” (ORT), cujos princípios eram: 6 · seleção científica do trabalhador: é necessário colocar o homem para de¬sempenhar a tarefa mais adequada ao seu perfil de aptidões e interesses; · estabelecimento de um tempo: padrão para a execução de cada tarefa, isto é obtido por meio da minuciosa análise do trabalho (desenho de cargos e tarefas) e do estudo de tempo, movimentos e da fadiga humana; · plano de incentivos salariais: a remuneração do trabalhador deve ser com¬patível com a sua produção, estabelecendo-se prêmios por produção; · divisão do trabalho: cada tarefa deve ser dividida no maior número possível de subtarefas, pois assim o trabalhador seespecializará ao máximo, aumentando a eficiência da sua produção; · O supervisão funcional: também especializada - por áreas - a supervisão significa controle rígido do trabalho dos funcionários; · padronização das tarefas com ênfase na eficiência: existe uma única maneira de executar uma tarefa (the best way) e ela deve ser descoberta e imposta aos trabalhadores; · estabelecimento de boas condições físicas de trabalho: isto influi diretamente na produtividade e na eficiência, em virtude do bem-estar físico e da diminuição da fadiga do trabalhador. Fica claro perceber que esta abordagem, embora revolucionária, sofreu inúmeras críticas. Procuramos sintetizá-las abaixo. o Utilização da visão do Homo economicus: - visão estreita do homem como movido apenas por interesses econômicos, preguiçoso, limitado e mesquinho, que precisa ser controlado por meio da racionalização de tarefas e do tempo, e vigiado pela supervisão. o Enfoque mecanicista do homem: a organização de trabalho é vista como uma máquina, que deve funcionar de maneira ótima, o homem constitui-se, assim, apenas em uma engrenagem desta máquina, sendo desvirtuado da sua condição humana. o Exploração dos trabalhadores: a Administração Científica contribui para legitimar a exploração dos trabalhadores, enfatizando decisiva¬mente os interesses dos patrões. o Superespecialização do trabalhador: a fragmentação da tarefa reduz a demanda de qualificação do trabalhador, tornando o trabalho monóto¬no e repetitivo e alienando cada vez mais o homem ao seu trabalho. o Abordagem fechada: desconhece o ambiente da empresa (tanto interno quanto externo) e as influências que ele tem sobre todo o processo de produção. A Administração Científica de Taylor teve muitos seguidores, destacando- se Gilbreth, Gantt e Henry Ford, lançador do primeiro carro popular americano produzido em escala industrial (o Ford T, em 1908). Fayol e a Teoria Clássica da Administração 7 Enquanto, nos Estados Unidos, Taylor desenvolvia os estudos da Administração Científica, centrada nas tarefas, o engenheiro francês Henri Fayol defendia princípios bastante semelhantes, mas com uma ênfase maior na estrutura. Segundo Chiavenato (1998, p. 87), a preocupação com a estrutura da organização como um todo constitui, sem dúvida, uma substancial ampliação do objeto de estudo da Teoria Geral da Administração (com relação à abordagem Taylorista das tarefas). Fayol, um engenheiro francês, partiu de uma aborda¬gem sintética, global e universal da empresa, inaugurando uma abordagem anatômica e estrutural, que rapidamente suplantou a abordagem analítica e concreta de Taylor. Fayol postulou quatorze princípios gerais da Administração. Vejam como se assemelham, em muitos aspectos, às idéias enunciadas por Taylor. 1. Divisão do trabalho: a especialização das tarefas e das pessoas conduz a uma maior eficiência e ao aumento da produtividade. 2. Autoridade e responsabilidade: o direito de dar ordens e ser obedecido (autoridade) pertence aos supervisores, enquanto a obrigação de obede¬cer compete aos trabalhadores de escalões hierarquicamente inferiores. Existe uma reciprocidade, pois quanto maior é a autoridade, maior a res¬ponsabilidade. 3. Disciplina: existe a necessidade da existência de normas de conduta e de trabalho, válidas para todos os trabalhadores, que devem ser obedecidas, para que a empresa não mergulhe no caos. 4. Unidade de comando: é necessário que o trabalhador receba ordens de uma autoridade única, evitando a existência de contra-ordens. 5. Unidade de direção: deve haver a aplicação de um plano único para cada grupo de atividades com os mesmos objetivos. 6. Prevalência dos interesses gerais: deve haver a subordinação dos interes¬ses individuais aos interesses coletivos. 7. Remuneração de pessoal: deve ser justa, para garantir a satisfação dos empregados e da organização. 8. Centralização: deve haver a concentração da autoridade nas funções mais elevadas da organização. 9. Cadeia escalar ou hierarquia: a linha de autoridade deve estabelecer-se do nível mais alto ao mais baixo da estrutura hierárquica. 10. Ordem: mantida em toda a organização, deve ser material e humana “um lugar para cada coisa ou pessoa e cada coisa ou pessoa em seu lugar”. 11. Eqüidade: na empresa deve prevalecer a justiça, pois esta traz a lealdade dos empregados; 12. Estabilidade e duração do pessoal: quanto mais tempo as pessoas forem mantidas em seus cargos, melhor, pois a rotação (turn over) possui efeito negativo. 8 13. Iniciativa: deve-se estabelecer um plano e cumpri-lo, assegurando o seu sucesso. 14. Espírito de equipe (sprit de corps): a comunicação entre as equipes deve ser facilitada, garantindo um clima organizacional de harmonia e união. Coube a Fayol enunciar as funções da gerência administrativa, como ele mes¬mo chamou. Elas possuem bastante atualidade embora, como já dissemos, a década de 80 tenha trazido profundas mudanças no que concerne às funções do gestor. São cinco essas funções, a saber: 1. Oplanejar ou prever - estabelecer os objetivos e as formas de consecução dos mesmos, visualizando o futuro e traçando os programas de ação; 2. organizar - coordenar todos os recursos da organização, em função dos objetivos definidos; 3. comandar - fazer com que as pessoas executem as tarefas que lhes são atribuídas, respeitando a hierarquia existente; 4. coordenar - articulação de atitudes e esforços de toda a organização, tendo em vista os objetivos traçados; 5. controlar - estabelecer padrões e medidas de desempenho que permitam verificar que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e com as ordens dadas. Henri Fayol também teve seguidores, como Elton Mayo, Argirys e Likert. Da mesma forma que a Administração Científica, a Teoria Clássica recebeu críticas bastante pertinentes: o obsessão pelo comando - a visão da organização pela ótica gerencial levou à centralização no comando, na autoridade e na responsabilidade; o empresa como sistema fechado - trata-se da mesma crítica atribuída a Taylor, por desconhecer o contexto interno e externo à organização, o que inviabilizaria qualquer planejamento; o manipulação dos trabalhadores - é outra crítica comum à Administração Científica e à Teoria Clássica, a tendenciosidade favorável aos patrões. Elton Mayo e a Escola de Relações Humanas Os estudos de Kurt Lewin sobre o comportamento dos grupos sociais e as experiências realizadas por Elton Mayo e sua equipe na fábrica da Western Electric Company (Hawthorne, Chicago) marcaram, na década de 1930, o início da preocupação com o fator humano na administração. Ao tentar determinar a relação existente entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos operários (produtividade), Elton Mayo desmentiu alguns pres¬supostos da Administração Científica e estudou as relações entre a organização informal dos operários e a organização formal da fábrica. As 9 conclusões do experimento definiram os princípios da chamada “Escola de Relações Humanas” da Administração. São eles: o nível de produção como resultante da integração social - o nível de competência e eficiência do trabalhador é estabelecido pela capacidade social do trabalhador e não pela sua capacidade de executar movimentos eficientes dentro de um tempo previamente estabelecido. O homem não age individualmente, mas integrado socialmente ao grupo de trabalho, e isto amplia a sua disposição para o mesmo. A Teoria Clássica não percebeu que não são os trabalhadores que definem sua capacidade máxima de produção, mas os grupos com os quais eles estabelecem interação. Desvios de comportamento do indivíduo provocam retaliações simbólicas, por parte do grupo do qual faz parte; o recompensas e sanções sociais - as pessoas são avaliadas pelos grupos de que participam, de acordo com normas que o próprio grupo cria para si. São consideradasboas companheiras e colegas, se o seu comportamento se ajusta a essas normas e padrões de comportamento e são avaliadas como más, se o seu comportamento transgride tais normas e padrões. Embora essas recompensas sejam simbólicas e não-materiais, influenciam fortemente a motivação e a felicidade do trabalhador. o Grupos informais - a empresa passou a ser concebida como uma organização social composta por grupos sociais informais, cuja estrutura nem sempre coincide com a organização formal da empresa. Esses grupos informais constituem a organização humana da empresa, muitas vezes em contraposição à organização formal estabelecida pela direção. Os grupos informais definem as suas regras de comportamento, as formas de recompensas ou sanções sociais, seus objetivos, sua escala de valores sociais, crenças e expectativas, que cada participante vai assimilando e integrando às suas atitudes e comportamentos. o Relações humanas - para explicar e justificar o comportamento das pessoas na organização, a Teoria das Relações Humanas estudou as interações sociais surgidas dentro da mesma, em face do grande número de grupos e de interações necessariamente resultantes; a compreensão da natureza dessas relações humanas permite ao administrador obter melhores resultados de seus subordinados. o A importância do conteúdo do trabalho - a maior especialização (e fragmentação) do trabalho não é a forma mais eficiente de divisão desse trabalho, pois não cria, necessariamente, a organização mais eficiente. O conteúdo e a natureza do trabalho têm enorme influência sobre o moral do trabalhador. o Ênfase nos aspectos emocionais - os teóricos das Relações Humanas atri¬buem grande atenção aos aspectos emocionais do comportamento humano. 10 o Participação nas decisões - embora dependa da situação envolvida e da posição na estrutura hierárquica, a participação de todos os trabalhadores no processo decisório da organização estimula a produtividade e a iniciativa dos mesmos. Alguns teóricos importantes das Relações Humanas são Sheldon, Marrow, Tead e Follett. Sistematizando as principais críticas sofridas por este enfoque temos: o Negação do conflito entre o trabalhador e a empresa - a teoria superficializa o tratamento do problema negando a existência de conflitos que surgem da diferença das metas e objetivos da empresa e do trabalhador. o Ausência de critérios inovadores de gestão - falta a esta teoria a indicação de estratégias para o alcance de melhores resultados para a empresa e para o trabalhador. o Excesso de ênfase nos grupos informais - este enfoque trata como ilimitada a influência dos grupos, supervalorizando-as. o Concepção utópica do trabalhador - apresenta uma visão idealizada do trabalhador (plenamente satisfeito e integrado ao ambiente de trabalho). o Restrição das variáveis e da amostra - esta teoria trabalhou com poucas variáveis e com uma pequena amostra de organizações, o que torna os seus resultados discutíveis. O Estabelecimento de procedimentos de “espionagem“ - a abertura de um espaço para a participação dos trabalhadores foi utilizada, com freqüência, como uma forma de saber das idéias e insatisfações dos trabalhadores, para uso da administração. As Teorias X e Y de McGregor Chegamos, nesta viagem cronológica, à década de 30. Douglas McGregor, insatisfeito com a inadequação do modelo de relações humanas à realidade em- presarial e influenciado pela Teoria Comportamental - ou Behaviorismo - focou seus estudos na relação entre o sucesso de uma organização e a capacidade que ela tem para prever e controlar o comportamento. Ele construiu duas teorias constrastantes: a Teoria X, em que a autoridade determina a direção e o controle, e que ele considera inadequada, e a Teoria Y, em que é a integração que legitima a autoridade e busca-se a integração entre os objetivos pessoais e os organizacionais. A Teoria Y desenvolve um estilo de administração muito aberto e dinâmico, extremamente democrático, por meio do qual administrar é um processo de criar 11 oportunidades, liberar potenciais, remover obstáculos, encorajar o crescimento individual e proporcionar orientação quanto a objetivos. Segundo McGregor, a teoria Y é geralmente aplicada nas empresas com um estilo de direção baseado em uma série de medidas inovadoras e humanistas, dentre as quais salienta as seguintes: o Descentralização das decisões e delegação de responsabilidades. o Ampliação das funções inerentes a cada cargo, para atribuir maior significado ao trabalho. o Participação nas decisões mais altas e administração consultiva. o Auto-avaliação do desempenho do trabalhador. Teoria Sistêmica A Teoria Sistêmica, que teve destaque na década de 60, parte do estabele- cimento de um paralelo entre os organismos vivos e as organizações. Trata-se de uma teoria interdisciplinar, elaborada inicialmente pelo biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy, buscando transcender os problemas exclusivos de cada ciência e proporcionar princípios e modelos gerais para todas as ciências envolvidas, de modo que as descobertas efetuadas em cada ciência pudessem ser utilizadas pelas demais. Os sistemas podem ser fechados ou abertos. 1. Sistemas fechados: são os sistemas que não apresentam intercâmbio com o meio ambiente que os circunda, pois são herméticos a qualquer influ- ência ambiental. 2. Sistemas abertos: são os sistemas que apresentam relações de intercâmbio com o ambiente, através de entradas e saídas. As organizações são sistemas do segundo tipo e compostas por cinco parâmetros: a) Entrada, insumo ou impulso (input) - é o conjunto de insumos que o sistema extrai do ambiente fornecendo o material ou energia para a operação do sistema. b) Saída, produto ou resultado (output) - são os produtos, serviços ou informações que o sistema retorna ao ambiente, como resultado do processamento. c) Processamento - competências, procedimentos e tecnologia empregados pela organização para a transformação do input; d) Retroação, retroalimentação ou retroinformação feedback) - retorno das informações para alimentar o sistema. e) Ambiente - é o meio que envolve externamente o sistema. O sistema aberto recebe entradas do ambiente, processa-as e efetua saídas nova-mente ao ambiente, de tal forma que existe entre ambos - sistema e ambiente - uma constante interação. 12 A Teoria de Sistemas baseia-se no conceito do “homem funcional”, que desempenha um papel dentro das organizações, relacionando-se com os demais indivíduos como um sistema aberto. A perspectiva sistêmica trouxe uma nova maneira de ver as coisas, não somente em termos de abrangência, mas principalmente quanto ao enfoque do todo e das partes, do dentro e do fora, do total e da especialização, da integração interna e da adaptação externa, da eficiência e da eficácia. Esta visão gestáltica e global das coisas privilegia a totalidade e as suas partes componentes, sem desprezar o que chamamos de emergente sistêmico (as propriedades do todo que não apare¬cem em nenhuma de suas partes). Antes de concluirmos , vamos responder a uma pergunta que os alunos sempre fazem, quando tratamos de Teorias da Administração: O que é burocracia? Na linguagem corrente, burocracia é sinônimo de emperramento, de lentidão no processo administrativo. Na sua origem, no entanto, o significado era completamente diferente. A burocracia constitui uma forma de associação humana que se baseia na racionalidade, ou seja, na adequação dos meios aos fins, para se alcançar com a máxima eficiência os objetivos de uma organização. Historicamente, a “ideologia da burocracia” nasceu de um novo conjunto de normas de comportamento e produção, que Max Weber denominou de “ética protestante”: trabalho duro, ascetismo, poupança e objetividade (sem vaidade). Essas idéias surgiram junto com o capitalismo, principalmente na Holanda e na Inglaterra.Os princípios da burocracia incluem a visão do “homem funcional” (flexível ao desempenho de vários papéis simultâneos na organização); racionalização, com economia de esforços; divisão do trabalho e hierarquia; promoção e seleção por competência técnica; separação entre propriedade e administração; e indesejabilidade das organizações informais, porque imprevistas e pouco racionais. O modelo burocrático de organização, quando aplicado de forma correta, mostrou- se bastante adequado, pois facilita a supervisão do trabalhador, previamente in- formado sobre a tarefa e sobre a expectativa em relação ao seu desempenho. Segundo Ferreira et al (2000, p.37): Provavelmente nada revoltaria mais os defensores da verdadeira burocracia, do que prever que seus pressupostos seriam tão amplamente deturpados. Afinal, a defesa do desempe¬nho das tarefas da forma mais poupadora possível de esforços não é muito compatível com a visão que se faz hoje de uma organização burocratizada. Afinal, os princípios da burocracia defendem o cumprimento dos objetivos organizacionais de forma não apenas eficaz, mas eficiente. 13 Unidade II Teorias modernas de gestão Este corpo teórico ganhou tal complexidade, que não estamos tratando mais de modelos de organização - com a sua conseqüente forma de gestão - mas de conhecimentos consistentes e muito abrangentes, envolvendo aspectos técnicos, humanos e estratégicos das organizações. Muitos tomam por marco inicial desta fase a publicação da obra A Prática da Administração de Empresas, de Peter Drucker, em 1954. Ela inaugura um novo aporte teórico: a Administração por Objetivos. Administração por objetivos (APO) A APO tem sete princípios fundamentais: 1. Mudanças ambientais - provocam intensa necessidade de mudanças não só na organiza¬ção, mas também no comportamento dos gestores. 2. Definição e multiplicidade dos objetivos - talvez o mais importante princípio, determina que os objetivos da organização devem ser ampliados, claramente identificados e conhecidos por todos os envolvidos no processo. Devem ter, além do mais, definidas claramente as suas formas de medida e avaliação. 3. Criação de oportunidades - considera a gestão como uma tarefa criativa, e não apenas adaptada ao que já existe e está definido. 4. Desenvolvimento pessoal - enfatiza a ampliação e o aprimoramento dos recursos humanos da empresa. 5. Descentralização administrativa - promove o aperfeiçoamento da organização, mas deve partir de uma rigorosa avaliação diagnóstica. 6. Autocontrole - “um dos maiores benefícios da administração por objetivos foi o fato de ela ter permitido substituir a administração através da dominação pela admi¬nistração através do autocontrole.” (DRUCKER, 1981, p. 123-124). 7. Autoridade e liderança - a gerência não é o único grupo de liderança, pois ela deve ser descentralizada. Embora bastante rica, a Administração por Objetivos foi muito criticada pela falta de embasamento experimental e por desconsiderar que existe um confli¬to fundamental entre os objetivos do trabalhador e da organização. Administração contingencial 14 Surgiu como um aprofundamento dos estudos sobre a Teoria Sistêmica, que vimos na aula anterior. A palavra contingência significa algo incerto ou eventual, que pode suceder ou não. A abordagem contingencial enfatiza que não é possível atingir a eficácia organizacional seguindo um único e exclusivo modelo organi¬zacional, ou seja, não existe uma forma única para alcançar os objetivos altamente variados das organizações, inseridas em um ambiente também altamente variado. Recentes estudos sobre as organizações complexas levaram a uma nova perspectiva teórica: a estrutura de uma organização e seu funcionamento são dependentes da interface com o ambiente externo. A mais notável contribuição da abordagem contingencial consiste em ve¬rificar as variáveis que produzem maior impacto sobre a organização, como o ambiente e a tecnologia, para então predizer as diferenças produzidas na estrutura e no funcionamento das organizações. Esta abordagem marca uma nova etapa no estudo da administração das organizações, assumindo uma abordagem eclética, comparando as demais teorias administrativas existentes à luz dessas variáveis e aplicando seus diversos princípios em cada situação específica da organização. Algumas dessas variáveis são: a) relativas ao ambiente geral (o macroambiente, ou seja, o ambiente gené¬rico e comum a todas as organizações): condições tecnológicas; condições econômicas; condições políticas; condições legais; condições demográficas; condições ecológicas; condições culturais. b) relativas ao ambiente da tarefa (o ambiente mais próximo e imediato de cada organização): fornecedores de entradas; clientes ou usuários; concorrentes; entidades reguladoras. Talvez o seu maior mérito seja tratar-se de uma abordagem eclética e inte- grativa, absorvendo conceitos das diversas teorias administrativas, ampliando ho¬rizontes e 15 mostrando que nada é absoluto. Alguns a criticam por não ter atingido um desenvolvimento que a diferencie verdadeiramente da Teoria Sistêmica. Administração estratégica Quem de nós nunca ouviu falar em planejamento estratégico? Ele surgiu na década de 60, e tomou de assalto o cenário da administração na década de 80. É um processo de planejamento de longo alcance, formalizado, próprio para a definição e a consecução dos objetivos organizacionais. A Administração Estratégica é um processo contínuo e interativo, voltado para a manutenção da organização como um todo, integrado apropriadamente ao seu ambiente. Envolve a realização de uma análise do ambiente, o estabelecimento de diretrizes organizacionais, a formulação de estratégias organizacionais, a implementação das mesmas e a aplicação do controle estratégico. Nunca é demais lembrar que os planejamentos estratégico, administrativo e operacional devem ser integrados, e que o gestor deve ter papel ativo em todos eles. O planejamento estratégico de uma organização envolve nove etapas: definição dos objetivos; · identificação dos objetivos e das estratégias atuais; · análise do ambiente; · análise dos recursos disponíveis; · identificação das oportunidades e das ameaças à organização; · definição do grau de mudança necessário; · escolha da estratégia a ser utilizada; · implantação da estratégia; · mensuração e controle dos resultados obtidos. As críticas mais freqüentes a essa teoria referem-se à dificuldade da previsão de estratégias a mais longo prazo, em um ambiente que normalmente se apresenta turbulento e em constante mudança, e às dificuldades no processo de estabelecimento de uma cultura organizacional e de competências para a realização do planejamento estratégico. Administração participativa A participação dos trabalhadores nas decisões da empresa vem sendo um ponto extremamente discutido nas últimas duas décadas. Este modelo de administração consolidou-se como um catalisador da produtividade e do avanço tecnológico de alguns países orientais. Uma boa definição deste tipo de administração é dada por Maximiano (1995, p. 19- 20): 16 A administração participativa é uma filosofia ou política de administração de pessoas, que valoriza sua capacidade de tomar decisões e resolver problemas. A administração parti¬cipativa aprimora a satisfação e a motivação no trabalho. A administração participativa contribui para o melhor desempenho e a competitividade das organizações. A administração participativa tem como objetivos, segundo Mendonça (1987): ampliar a responsabilidade social das empresas; equilibrar os interesses dos vários setores envolvidos; desenvolver uma cultura organizacional democrática; reduzir a alienação; utilizar totalmente o potencial humano; diminuir os conflitos, estimulando a cooperação; aumentar a satisfação das pessoas; obter maior competitividade da organização. A participaçãopode ser de dois tipos: a) Participação direta - dirigida à pessoa, considerada individualmente, em um estilo de gerência participativa. b) Participação indireta - neste caso, a participação se dá por meio de re¬presentantes escolhidos pelos trabalhadores dos diversos setores da empresa. Pode assumir várias modalidades: comitês, negociações coletivas, co-gestão, até a autogestão, forma plena de exercício coletivo do poder. Sobre a Administração Participativa incidem críticas relativas à acomodação provocada nos trabalhadores, à possibilidade de manipulação por parte dos patrões e à dificuldade da criação de uma cultura propícia para a sua implementação. Administração japonesa Fortemente alicerçada na participação direta dos trabalhadores, esse modelo tomou conta do cenário da administração na década de 70. A preocupação com a qualidade fez com que os programas e iniciativas que visavam a busca da “qualidade total” virassem moda, muitas vezes sem o cuidado da adaptação necessária, pois haviam sido gerados em um contexto cultural bastante diferente do nosso. Além da administração participativa e da preocupação com a qualidade total, em relação a qual é referência a obra de Ishikawa (1981), são características da Administração Japonesa: · a ênfase no planejamento estratégico; · a visão sistêmica; · a supremacia do coletivo sobre os objetivos individuai; a busca intensiva da produtividade; a flexibilidade dos planos e estratégias; · o incentivo ao aprimoramento dos recursos humanos e ao trabalho em grupo; 17 · a sofisticação tecnológica; a busca da padronização no trabalho; · o uso constante de mecanismos de manutenção, limpeza e arrumação do ambiente de trabalho; · o estabelecimento de uma cultura organizacional de confiança e responsabilidade. As críticas incidem, no caso da Administração Japonesa, sobre alguns pon¬tos bem-definidos: · a dificuldade da adaptação às culturas ocidentais; · a dependência da cooperação quase irrestrita das pessoas, o que normalmente não se obtém na empresa; · o risco de cair na lentidão e na burocratização dos processos decisórios; · a dificuldade do desenvolvimento de processos administrativos eficientes, para apoiar a produção; · o estabelecimento de uma visão “romântica” da administração; · e os resultados recessivos que vêm sendo obtidos pelos países orientais que têm utilizado essa forma de administração. Teorias emergentes de gestão Trata-se do paradigma mais recente, correspondente às duas últimas décadas, e que, em alguns casos, ainda se encontra mais no universo das pesquisas sobre administração do que na prática cotidiana das empresas. Merece destaque a influência, sobre ele, do enorme desenvolvimento tecnológico, vivenciado pela humanidade neste período. Costuma-se tomar como marco referencial deste paradigma a publicação, em 1982, da obra O Ponto de Mutação, de Fritjof Capra, que preconizava o Holismo ou Totalidade na Ciência. Reengenharia A velocidade com que as tecnologias de informação se desenvolveram, provocou a necessidade de adaptações aceleradas da empresa ao ambiente. Para Hammer e Champy (1994, p. 21-22), reengenharia consiste em: ... abandonar procedimentos consagrados e reexaminar o trabalho necessário para criar os produtos e serviços de uma empresa e proporcionar valor aos clientes. (...) é o repensar fundamental e a reestruturação radical dos processos empresariais, que visam alcançar drásticas melhorias em indicadores críticos e contemporâneos de desempenho, tais como custos, qualidade, atendimento e velocidade. 18 O próprio termo (reengineering) significa “começar de novo”, mostrando que consiste em uma mudança radical, buscando resultados organizacionais visíveis e drásticos. Segundo Abreu (1994), a Reengenharia é implementada em quatro fases: 1. Estratégia: elaboração do planejamento estratégico da empresa, considerando as condições e os recursos existentes. 2. Ativação: ênfase nos ganhos obtidos com a reengenharia dos processos (em termos de melhoria da qualidade, incremento da produtividade e redução dos custos). 3. Melhoria: é o momento da agregação de valor aos processos e aos serviços oferecidos, pela empresa, aos clientes. 4. Redefinição: formação de novas unidades de negócios / serviços, em função da reengenharia. Entre as mudanças profundas provocadas pela reengenharia, podemos citar como exemplos: os papéis dos trabalhadores ganham maior autonomia; o enfoque de mero treinamento para as tarefas, muda para educação; as estruturas da organização mudam de hierárquicas para niveladas; os gerentes mudam de supervisores para capacitadores; os critérios de promoção mudam de desempenho para habilidade ou competência. (FERREIRA et al, 1997, p. 213). Tudo acaba, portanto, na construção coletiva de uma “cultura empreendedora” É justamente sobre a dificuldade de se chegar a esta cultura, que incidem críticas à Reengenharia. Outras críticas se voltam para a radicalidade das mudan¬ças exigidas por ela e para as demissões realizadas. Administração virtual Este modelo revolucionário está ligado à verdadeira “revolução da informação”, ocorrida nos anos 90. A Administração Virtual é realizada por pessoas reais, que dominam a informação em tempo real e estabelecem relacionamentos confiáveis. Requer uma preparação mais aprimorada dos trabalhadores e o entendimento de que o contro¬le não deixa de existir, apenas muda de configuração (realiza-se on-line). Ferreira et al (1997, p. 205) dizem, sobre a Administração Virtual: “A virtu alidade deve ser entendida sob pelo menos dois pontos de vista distintos. O cliente percebe como um atendimento instantâneo aos seus desejos. A empresa parece existir a qualquer hora, em qualquer lugar, potencialmente pronta para atendê-lo.” Essa forma de administrar sofre três críticas principais: o aumento do stress das pessoas, pela rapidez com que as coisas acontecem, a tendência à impessoalidade das relações e a desvalorização do trabalho humano. 19 Bem, apresentados os três grandes paradigmas teóricos - Teorias Tradicionais, Modernas e Emergentes de Gestão - vamos situar algumas aplicações das mesmas à gestão escolar. Vocês devem estar lembrados que, na aula anterior, afirmamos que a escola também é uma organização. Há, portanto, características que aproximam a gestão escolar da administração das empresas. Não vamos fazer uma correspondência unívoca entre cada uma das doze escolas de Administração que apresentamos e a evolução da gestão na instituição escolar. Podemos, no entanto, traçar algumas analogias entre os três grandes paradigmas - Administração Tradicional, Moderna e Emergente - e os seus impactos nos processos gestionários da escola. Comecemos com uma situação histórica dos paradigmas e das escolas que abordamos, para que vocês se situem. Assim como temos um paradigma tradicional nas Teorias da Administra¬ção, temos um modelo pedagógico tradicional, que exige um perfil de gestão e ações correspondentes, que a ele se associam. Se observarmos com atenção a conceituação do papel do diretor de escola enunciado por Luck (1998, p. 16-17), veremos claramente a centralização hierár¬quica de autoridade e de decisão, características de uma abordagem tradicional. É do diretor da escola a responsabilidade máxima quanto à consecução eficaz da política educacional do sistema e desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais, organizan¬do, dinamizando e coordenando todos os esforços nesse sentido, e controlando todos os recursos para tal. Devido à sua posição central na escola, o desempenho de seu papel exerce forte influência (tanto positiva como negativa) sobre todos os setores e pessoas da escola. E do seu desempenho e de sua habilidade em influenciar o ambiente que depende, em grande parte, da qualidade do ambiente e clima escolar, do desempenho do seu pessoal e da qualidadedo processo ensino- aprendizagem. Tomemos como ilustração os relatos de professores, sobre um fato bastante comum: a ação de controle do diretor da escola, ao exigir os planos de aulas dos professores, para examinar e avaliar. Enquanto em algumas escolas os diretores utilizavam essa prática de forma autoritária e até arbitrária, em outras o diretor tentava orientar e subsidiar os professores, para o aprimoramento das aulas. Estas e outras práticas provocaram muitas críticas como a de Antunes (2003), que indaga em um artigo: “Você trabalha em uma grande ou pequena escola?”. A escola foi influenciada, em um momento posterior, pela Escola de Relações Humanas de Fayol e pela Teoria Y de McGregor, surgindo uma gestão preocupada com a integração social, com aspectos ligados à criatividade e motivação e com os grupos informais existentes na escola, enfatizando aspectos emocionais em 20 detrimento de outros, puramente objetivos. Neste modelo temos, por exemplo, uma cultura de confraternizações e dinâmicas integradoras dos grupos, envolvendo técnicas de sensibilização. O diretor busca apoio na ação do Orientador Educacional, valorizando o que era chamado, na época, “aulas de SOE” (Serviço de Orientação Educacional). A década de 70 e o tecnicismo, que dominou o cenário educacional brasileiro, marcaram a influência da Teoria Sistêmica sobre a gestão escolar. Utilizava-se fartamente planilhas sofisticadas para a elaboração dos planejamentos, e nestas abundavam a citação dos inputs, outputs (comportamentos de saída) e dofeedback obtido por meio da avaliação. Infelizmente, isto não tornou a gestão escolar mais dinâmica, eficaz e democrática. Ao contrário, o diretor tornou-se mais impessoal e friamente técnico, às vezes, perdido em uma infinidade de fluxogramas e papéis que pouco aprimoraram a qualidade da educação no Brasil. Uma outra vertente do tecnicismo, no entanto, apontou para uma mudança paradigmática na gestão escolar. Trata-se da ênfase nos objetivos, na sua formu¬lação e hierarquia. Estas questões taxonômicas perpassaram a escola e a sua gestão, embora de uma maneira não tão significativa. Merece destaque, no entanto, pelos indícios de descentralização administrativa e de autoridade que permitiu prenunciar. Já em plena vivência do Paradigma Moderno de Gestão, os meados da década de 70 demarcaram uma forte ênfase na ação gestora sobre o planejamento. Ela está presente na Administração Estratégica, que acentuou alguns aspectos da Administração por Objetivos, agora falando de estratégias institucionais. Oliveira (2002) fala de três níveis de planejamento na organização: o operacional, o tático e o estratégico. Destes, é o terceiro que abrange a organização como um todo e, embora esteja apoiado nos outros dois níveis - responsáveis pela operacionalização/execução - fica afeito aos escalões mais elevados da empresa. Assim define o planejamento estratégico: ...é o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa, visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando de forma inovadora e diferenciada. (...) diz respeito tanto à formulação de objetivos, quanto à seleção dos cursos de ação a serem seguidos para sua consecução, levando em conta as condições externas e internas à empresa e sua evolução esperada. Também considera as premissas básicas que a empresa , como um todo, deve respeitar para que o processo estratégico tenha coerência e sustentação decisória. (p. 47-48). 21 Quanto à Administração Participativa, teve um forte impacto no cenário educacional brasileiro e nas características da gestão escolar. O movimento de retomada democrática no país fortaleceu os processos de delegação e participação, assim como o saudável hábito de discutir e decidir democraticamente, há tantos anos impedido. Com isto, a gestão precisou adaptar-se a ações como colegiar e delegar, praticamente incompatíveis com os modelos componentes do Paradigma Tradicional de Gestão. Entre as características destacadas por Guiomar Namo de Mello (1993) para as “escolas que dão certo“, temos o compartilhamento de decisões entre os agen¬tes internos da escola e a comunidade. Silva (2001), após constatar que “as teorias, com o passar do tempo, vão cedendo lugar a novas teorias sempre que a realidade histórica exige...” (p. 161), afirma: Dentro desta tendência de mudança nos padrões gerenciais, situa-se o esforço generalizado de adoção de técnicas oriundas do chamado “modelo japonês”, no Brasil, com ênfase nos programas de gerência da qualidade total. (...) A tentativa de implantar formas de gerenciamento mais flexíveis no Brasil e, por decorrência, a adoção de técnicas que favoreçam a participação na gestão tem sido feita pelos chamados programas de qualidade total. (p. 162). Isso nos permite ver, portanto, um entrelaçamento entre as duas últimas modalidades emergentes de gestão - a Administração Participativa e a Japonesa. Esta última trouxe os já conhecidos Programas de Controle da Qualidade, com ênfase na Qualidade Total. Esse gestor voltado para qualidade, coordenando a realização dos rituais do CQT (Controle de Qualidade Total) nascidos do sistema japonês de produção da Toyota Motor Co, não é encontrado na Educação. Temos, na verdade, a apropriação, muitas vezes oportunista, de alguns conceitos da Administração Japonesa e dos resultados da avaliação da qualidade (chancela ISO). Isso acontece principal¬mente por parte de instituições particulares de ensino, desejosas de atrair alunos. Finalizando, falemos dos modelos de gestão ligados ao Paradigma Emergente de Gestão. Já dissemos que, por serem extremamente recentes, ainda não temos impactos significativos destes modelos sobre a gestão escolar. Começamos a ouvir falar, por exemplo, em uma “reengenharia do Projeto Pedagógico”, expressão que se refere a mudanças aceleradas e profundas neste projeto, permitindo à escola uma adaptação ativa e rápida ao ambiente que a cerca. Outros termos como “mapeamento da instituição escolar”, “mudança da cultura organizacional”, “racionalização organizacional” e “reengenharia psicossocial” também vêm associar a moderna administração das empresas à gestão escolar. 22 A verdadeira revolução causada pelo desenvolvimento da Tecnologia de In- formação e Comunicação (TIC) é outro fator que afeta fortemente tudo que foi historicamente estabelecido quanto à gestão da escola, mesmo que não tenhamos, ainda, a “administração virtual”. Não falamos apenas da informatização dos pro¬cessos, mas ao fluxo de inovação e informação que invadiu as nossas escolas. Concluindo, podemos afirmar que a gestão escolar evoluiu historicamente ao longo destes últimos cem anos - como tentamos mostrar nestas duas primeiras aulas - assumindo variadas formas, algumas mais semelhantes e outras totalmente opostas. Esperamos que vocês consigam agora detectar, na gestão das escolas que conheceram até hoje, traços e características dos paradigmas de que falamos, assumindo posicionamento crítico em relação a elas. DICA DE LEITURA: Acesse, na internet, a página <http://novaescola.abril.uol.com.br>. Você vai encontrar, no índice de temas, o link Gestão Escolar. Acesse o texto de Heloísa Luck intitulado: A evolução da mudança educacional, a partir da mudança paradigmática. A autora fala sobre as mudanças de paradigma na gestão escolar, destacando cinco aspectos de evolução. Observando estes cinco aspectos, procure fazer uma análise do paradigma em que se encontra a sua escola, ou alguma escola que você conhece. 23 Unidade III A escola como instituição aprendente: a busca da qualidade da educação Agora, nosso ponto de partida é a constatação de que a maioria da população não se sente atendida pelo ensino que lhe é fornecido pelas instituições de ensino, ainda que os princípioseducacionais pontuados na Lei n° 9394/96 em seu título II, artigos 2.° e 3.° enfatizem, dentre outros: a igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, a gestão democrática do ensino e a garantia do padrão de qualidade. A Lei assinala ainda, como fins da educação: o pleno desenvolvimento do educando; o seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho. Sustentando o fato da ineficiência dos aspectos relacionados à política e à organização do sistema educacional, e agregando-se a ele os dados de qualidade de vida da população, a moldura do cotidiano brasileiro, então, passa a contornar o seguinte cenário: · o desvio de verbas públicas, o prejuízo e a redução dos percentuais destinados à educação, à saúde e aos bens básicos da população; · atribuir-se ao descaso com a educação a dificuldade de inserção do país na economia global; · a falta de investimento em pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias; · a concentração de renda: o PIB per capita dos 20% (US$18.563) mais ricos, trinta e duas vezes maior, do que o dos 20% mais pobres (US$578), de acordo com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 2000); · um dos piores índices de desigualdade de renda atribuído ao Brasil, com 20% da população mais pobre ficando com 2,5% da renda, enquanto os 20% da população mais rica detendo 63,4% (PNUD, 2000); · o desprezo das autoridades pelo meio ambiente e o uso inadequado dos recursos naturais; · o poder estar ainda centralizado “nas mãos” de políticos populistas e de doutrinas oportunistas; · a força do corporativismo de determinados segmentos sociais sobrepujar “a qualquer custo” os demais, em benefício próprio; · os índices de desemprego, jamais alcançados, disseminado pelas diversas classes sociais. A este respeito, ocorre-nos a frase do sociólogo e professor José Pastore, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) e Fundação 24 Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (FIPE), especialista em relações do trabalho e desenvolvimento institucional: O desemprego no Brasil está sendo menos motivado pelo avanço tecnológico e mais pelo atraso educacional. O desafio é também da escola, não apenas da empresa. Para competir e ter sucesso, ou educamos mais e melhor, ou convencemos nossos concorrentes a deseducar os filhos e os profissionais deles! · O o crescimento percentual pouco significativo - de 0,2% em dois anos - no índice de vida dos brasileiros; · a instituição definitiva da economia informal; · a invasão crescente dos centros urbanos pela população de rua; · o aumento da insegurança e da violência; · a queda vertiginosa da renda dos brasileiros pelo sexto ano consecutivo, como publicou O Globo de 11 out. 2003. No entanto, segundo o cientista político Sérgio Abranches, o país tem ainda bons motivos para encarar o novo século com otimismo. A criatividade e a capacidade de trabalho da população brasileira estão entre as principais razões que colocam o Brasil na trilha de uma grande potência e o deixam confortável diante dos países para os quais perdeu posição, pois fecharam o século com desempenho melhor que o brasileiro. O Brasil é hoje a 15a nação mais rica do mundo. Viram? Nós vivemos mesmo em um país de contrastes... Por outro lado, há de ressalvar-se também, a nova postura assumida pelo Brasil em diversos projetos internacionais sobre o papel estratégico da produção das informações, culminando em 1998, quando o país passou a utilizar os indicadores educacionais. Tais indicadores, com tratamento sério e relevante, são fundamentais hoje para a avaliação da eficiência e da eqüidade do nosso sistema educacional. Estes são responsáveis, ainda, pela transparência das ações realizadas na divulgação dos seus resultados e na contribuição inestimável à formulação de políticas educacionais mais adequadas e eficazes. Em recente participação na 32.a Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) realizada em Paris, o Exmo. Sr. Ministro da Educação, Cristovam Buarque, sugeriu a criação de um fundo para financiar e apoiar o Programa Educação para Todos, oriundo do valor a ser pago pelos países pobres para saldar a dívida externa. O dinheiro do fundo, conforme a proposta do Ministro, seria aplicado no financiamento de três ações: na alfabetização dos jovens e adultos, na implantação e expansão do Programa Bolsa- Escola na América Latina e na África e na continuidade dos estudos de indicadores educacionais como, por exemplo, as taxas de alfabetização, o desempenho escolar dos alunos, a formação e dedicação dos professores. 25 Podemos assim, a partir dos indicadores já instituídos, correlacionar alguns traços marcantes da Educação Nacional à qualidade da educação. São eles: Alfabetização e taxas de analfabetismo - Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Brasil ocupa o 79° lugar entre cento e setenta e quatro países analisados, quanto ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Este índice mede a qualidade de vida dos países, a partir de indicadores de educação. Apesar do índice de educação ter crescido baseado na pequena redução do analfabetismo (16,7% para 16%) e no aumento da taxa de matrícula combinada (72% para 80%), vinte e seis milhões de brasileiros não têm acesso às condi¬ções mínimas de educação, saúde e serviços básicos. Universalização do Ensino - Após a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), mesmo em regiões menos favorecidas o problema atual do Ensino Fundamental não se situa somente no acesso à escola. Os fatores extra e intra-escolares tornaram-se preponderantes, sobre estes e outros, na dificuldade de permanência do aluno na escola. Acentuada distorção série/idade - A repetência e a evasão escolares são os principais responsáveis pela “gordura” do número de matrículas. Há, ainda, um número significativo de alunos em idade cronológica superior à correspondente esperada a cada série. Portanto, a alternativa mais evidente é o investimento, cada vez maior, no projeto pedagógico das escolas, na avaliação interna de sua metodologia e de seus procedimentos educativos, na reorganização do espaço escolar, na capacitação de seus professores, em busca da aceleração da aprendizagem. Este pro¬grama tem chances de sucesso, se desenvolvido com a seriedade e o rigor que o assunto exige. O Programa de Aceleração da Aprendizagem foi criado e desenvolvido a partir dos resultados do Censo Escolar. Taxas de promoção e repetência - Observa-se que as duas taxas vêm melhorando, o que retrata a melhoria do fluxo escolar. Desse modo, temos como conseqüência a melhoria da auto-estima do aluno e a diminuição dos custos escolares per capita. Carga horária de aulas reduzida - A meta a ser alcançada pela LDB, no que diz respeito ao número de horas/aula, ainda está longe de ser atingida. No entanto precisamos, primeiramente, assegurar o cumprimento da jornada escolar de, pelo menos, quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula e a carga mínima anual de 800 horas. Após esta conquista, o regime de escolas de tempo integral, conforme preconiza a lei, deverá ser a próxima meta a ser alcançada. Democratização de acesso ao Ensino Médio - A matrícula neste nível de ensino dobrou, conforme os resultados do último Censo Escolar. Haverá, assim, demanda por novas vagas neste segmento que agora, menos elitista, concentrará a sua procura na Rede Pública Estadual. Logo, os cursos pós- 26 médios deverão não só expandir-se para atender a evolução do processo de escolaridade destes estudantes, como também deverão repensar os seus currículos, com práticas educativas capazes de intru mentalizar e atender a demanda desses jovens, ávidos pela inserção no mercado de trabalho. Melhoria do perfil do Magistério - Muitos professores,mais preci¬samente 820 mil, deverão complementar a sua formação, caso queiram permanecer no magistério, conforme exigência da LDB, incorporada ao Plano Nacional de Educação. Diante deste quadro, torna-se indispensável a valorização e o reconhecimento deste profissional, com a criação de políticas públicas que contemplem a formação de professores e a sua formação continuada em serviço. Avaliações externas - A intenção destas avaliações é que os seus re¬sultados apontem para a importância dos processos internos da escola quanto à construção de um projeto pedagógico singular, que atenda às expectativas da comunidade escolar. Há, neste novo governo, perspectivas diferentes no encaminhamento destas avaliações. Sistemas de Ensino Superior - À medida que o Ensino Básico tem recebido maior atenção e tem demonstrado indicadores de melhoria em sua eficiência e qualidade, espera-se a comprovação destes dados com um maior número de concluintes no Ensino Médio. Sendo assim, a médio prazo há a possibilidade de reflexos positivos no Sistema de Ensino Superior que, por sua vez, deverá organizar-se para recepcionar, com qualidade, uma quantidade maior de novos alunos. Dessa forma, a retratação do cenário de qualidade de vida dos brasileiros, que passa pela qualidade da educação, impressa pelo conjunto de políticas educacionais e posturas educativas, desafia, mais uma vez, a sociedade - e especialmente os educadores - à urgente necessidade da busca da qualidade da educação, levando-os a repensarem a Escola sob a ótica de um novo modelo de referência, ou seja, à luz de um novo paradigma. 27 Unidade IV Mudança institucional Agora o nosso assunto é mudança institucional, termo muito utilizado atualmente nos estudos sobre gestão. Quando vocês ouvem falar em mudança, o que lhes vem à cabeça? Apenas uma troca de coisas dos seus lugares originais, como quando mudamos os móveis de lugar por que não podemos, naquele momento, trocá-los por novos? Uma alteração maior de ambiente, como quando mudamos para uma nova casa, e precisamos decidir quais as coisas que colocaremos no caminhão, as que daremos a alguém, ou aquelas que jogaremos fora? As famosas “resoluções de ano novo”, famosas por habitualmente não serem realizadas? Ou uma alteração profunda de vida, de atitudes, de ambientes, de metodologias, que realmente transforma aquilo que existia anteriormente? Aliás, esta é a diferença fundamental entre transformação e reforma: a primeira refere-se à mu-dança profunda, de que falamos no parágrafo anterior, enquanto a reforma implica apenas mudanças superficiais, que não alteram a estrutura, o âmago dos processos. Este é o nosso objetivo principal da aula de hoje: discutir a importância da ocorrência de mudanças (transformações) na organização escolar, mostrando a importância da ação do gestor neste processo. Schein (1982, p 3-4), conhecido autor da área da Psicologia nas organizações, afirma que exis-tem seis coisas que cada gestor deve saber: ... (1) o que, em essência, está tentando realizar; (2) como organizar o trabalho para atingir os objetivos esco¬lhidos; (3) como recrutar, treinar, distribuir o trabalho e gerir os recursos humanos (funcionários e dirigentes disponíveis para o trabalho); (4) como criar condições de trabalho e sistemas de recompensas e punições capazes de fazer com que os funcionários e os dirigentes mantenham elevada eficiência e um moral suficiente para se manterem eficientes por longos períodos de tempo; (5) como operar mudanças na organização em resposta a pressões que têm origem nas modificações tecnológicas e sociais ocorridas tanto no ambiente externo como dentro da própria organização; (6) como manejar a competição e outras forças que derivam de outras organizações, de unidades situadas dentro da organização, como os sindicatos de entidades reguladoras e, por fim, das suas próprias “dores de crescimento”. Quero pedir a atenção especial de vocês para dois aspectos citados por Schein: a quinta “competência” do gestor, focada na realização de mudanças institucionais, e 28 o fato citado no último item, de que não ocorrem mudanças sem algum “sofrimento”, ansiedade ou desconforto. Vale a pena lembrar, quanto à questão da ansiedade frente às mudanças, que ficamos tensos mesmo diante de expectativas positivas (uma festa ou diante de uma ascensão profissional, por exem-plo) e que o termo que o autor utilizou - “dores de crescimento” - é muito usado para falar da adolescência, período de grandes e férteis desenvolvimentos e transições para o futuro e o estado adulto. Para Boog (1994) as organizações, da mesma maneira que os seres vivos, apresentam duas tendências opostas: a conservação, que as leva a manter a sua cultura e tudo que dela faz parte, e a diferenciação, que pressupõe mudança e expansão. Estas duas tendências manifestam-se ao longo de toda a vida da organização e em todos os aspectos que dela fazem parte. O autor associa às mudanças o fenômeno da crise, que provoca o movimento e a desestabilização necessários à mudança. É importante compreender o termo crise, no entanto, fora do seu contexto de significado negativo. O que leva à “morte” da organização não é a crise, mas sim a crise que, não resolvida, se instala e torna-se crônica, minando os alicerces da instituição. Podemos falar, então, de uma crise normativa, necessária para criar uma tensão suficientemente forte para deflagrar o processo de mudança, mas impulsionadora do alcance de estratos mais elevados de desenvolvimento e de “normalidade”. Boog (op. cit.) realiza uma abordagem bastante aprofundada do processo de mudança institucional e apresenta o esquema que reproduzimos a seguir, e que comentaremos com mais detalhes. Nível dos recursos - Inclui tudo que tem uma existência física, material (o prédio, as instalações, equipamentos, recursos humanos e financeiros, por exemplo). Conseqüentemente, tudo que pertence a este nível é palpável, mensurável. Nível dos processos - Trata-se dos fluxos vitais da organização, realizados por meio das metodologias escolhidas e práticas desenvolvidas na escola. Embora não tenha uma existência material, como o nível anterior, os processos são lógicos, calculáveis, previsíveis. Nível das relações - É constituído pelo chamado “clima” ou “ambiente” da instituição. Envolve interação entre pessoas, as suas expectativas, motivações, emoções, simpatias e antipatias. Neste nível estão os processos de comunicação, liderança, prestígio, poder. É, portanto, bastante mais complexo que os dois anteriores. Nível da identidade - Não estamos falando, aqui, das identidades individuais das pessoas que transitam na organização, mas de uma “identidade institucional”, composta pela cultura, valores e missão da mesma. 29 Em cada um destes níveis, a mudança se processa de uma forma, em um ritmo e com intensidade de resistência diferentes. As mudanças quantitativas, que se situam muitas vezes como reformas, já comentadas anteriormente, são razoavelmente mais fáceis de serem implementadas. Afirma Boog (1994): A empresa que não logra sucesso nos seus processos de qualidade total ou de reengenharia não o faz porque só tem conceitos e ferramentas no nível dos recursos e dos processos. Não é que esses instrumentos estejam errados ou que lhes falte algo. É que não consideram na sua essência as qualidades dos níveis da identidade e das relações. Os processos de mudança eficazes têm como característica a atuação com ênfase simultânea e equilibrada no limiar da ciência e da arte. A partir disso, pode-se afirmar que a forma como é feita a gestão das mu- danças indica três modelos diferentes de escola: 1. A escola eficiente - dá atenção especial aos níveis dos recursos e dos processos, desenvolvendo mudanças no sentido da manutenção e da melhoria. 2. A escola eficaz - cuida dos recursos e dosprocessos, mas também está voltada para as relações, desenvolvendo as pessoas e a própria instituição. 3. A escola excelente - chega a trabalhar com o nível da identidade institucional, desencadeando o verdadeiro processo de transformação. Como as Teorias da Administração, o conceito de mudança institucional também evoluiu com o tempo. Até a década de 70, falar em mudança organizacional, significava falar em projeto ou desenho organizacional. A idéia de mudança estava centrada no conceito de alteração de organogramas, na criação, modificação ou extinção de cargos e funções. Nos anos 80, porém, esta abordagem vai ganhar uma nova forma. Isso decorreu, em grande parte, do fato de que, após operar vários tipos de mudanças em suas empresas, muitos administradores perceberam que ainda era necessário mudar os valores e as crenças dos grupos, para que os resultados surgissem. Segundo Herzog (Apud Wood, 1992), qualquer mudança no contexto or- ganizacional engloba alterações fundamentais no comportamento humano, nos padrões de trabalho e nos valores vigentes, em resposta às modificações ocorridas - ou antecipando alterações estratégicas, de recursos ou de tecnologia. 30 Este autor afirma, ainda, que o segredo para enfrentar com sucesso o pro- cesso de mudança é o gerenciamento das pessoas (nível das relações), mantendo elevado o nível de motivação e evitando frustrações e desapontamentos. Para ele, grande desafio não é a mudança tecnológica, mas mudar as pessoas e a cultura organizacional, renovando os valores e “oxigenando as atitudes”. O’toole {Apud Wood, 1992) considera que há cinco fatores fundamentais para uma mudança cultural. São eles: o a mudança deve ser construída sobre as forças e os valores já existentes na organização; o deve haver participação intensa de todos os escalões hierárquicos; o a mudança deve ocorrer de forma holística, relacionando-se com a estrutura, com as estratégias organizacionais, com os sistemas de recompensa e de controle; o a alta gerência deve dar todo o apoio ao processo de mudança, e ele deve tornar-se contínuo; o deve ser planejada a longo prazo e executada em etapas. A cada nível de mudança está associada uma crise que a deflagra. Assim, a mudança no nível dos recursos é determinada por uma “crise de liquidez”, que mostra à organização que os meios físicos de que dispõe estão defasados ou insuficientes. Mudanças nos processos são antecedidas por uma “crise de resultados”, no nível das relações, por uma “crise estratégica” e no nível da identidade da organização, pela “crise espiritual”. A existência dessas crises é explicada por Derrida (1999). Ele afirma que, em período de crise “...a provocação para pensar reúne no mesmo instante o desejo de memória e a exposição do futuro, a fidelidade de um guardião bastante fiel para querer guardar até a sorte do futuro, em outros termos, a singular responsabilidade pelo que ele não tem e que ainda não existe”. (p. 156). Além da busca da eficácia, da eficiência e da excelência institucional, o autor mostra que, até o nível da eficácia, relativo aos recursos e processos, a organização atua no nível da “ciência”. Já para o atingimento da excelência, que depende de mudanças nas relações e na própria identidade da instituição, chega-se à utilização do que o autor considera “arte”. Penso ter ficado claro que mudanças institucionais mais profundas e duradouras, aquelas que ocorrem nos níveis das relações e da identidade da organização, obrigatoriamente alteram o que nós chamamos de “cultura institucional”. 31 O ponto de partida para a análise de toda a mudança estratégica é a noção de que a formulação do conteúdo de qualquer nova estratégia implica controle do ambiente externo. Implica antes, no entanto, alterações no contexto interno, que é a própria cultura organizacional, por meio da qual as idéias de mudanças devem fluir. Quando uma organização deseja entender o seu ambiente, deve entender- se a si mesma, à sua própria cultura, uma vez que a compreensão do ambiente é sempre uma projeção de si própria. Criar um clima interno favorável à mudança é indispensável à consecução de mudanças de forma positiva. A cultura institucional consiste em um conjunto complexo de atitudes, va- lores, crenças, pressupostos e formas de pensar e agir frente à realidade da instituição, que definem os modos pelos quais uma organização desenvolve as suas atividades. Esse núcleo de crenças e pressupostos são manifestos nas estruturas, sistemas, símbolos, mitos e padrões de recompensas dentro da organização. No entanto, qualquer estratégia para modificar a cultura organizacional terá de envolver pensamentos e ação tanto no nível das crenças básicas como no de suas manifestações. Ela pode apresentar-se favorável, desfavorável ou neutra quanto à realização de mudanças institucionais. A mudança organizacional envolve, portanto, mudanças de atitudes e valo- res, nos processos cognitivos e na formação dos atores institucionais, na estrutura de poder, na gerência de recursos e de recompensas. Os envolvidos no processo de mudança vão se comportar de acordo com a forma como definem a nova realidade, rejeitando-a ou legitimando-a. Ela pode ser implementada de forma planejada (adaptativa), com ciclos de mudança realizados participativamente, ou de forma desordenada e precipitada (catastrófica), de forma imposta. Podemos afirmar, então, que a avaliação institucional pode constituir-se em importante instrumento para deflagrar as mudanças nas instituições. Coordenada pelo gestor, como veremos em uma próxima aula, ela fornece dados para o estabelecimento da visão do comportamento estratégico atual da instituição, primeiro momento do ciclo de mudança. As transformações desencadeiam, com freqüência, situações de preocupação e ameaça, gerando conflitos e resistências. Precisamos destacar, então, que uma das formas mais eficazes para minimizar estes efeitos é a comunicação. A resistência à mudança se intensifica quando as pessoas não recebem informações suficientes sobre o que está acontecendo e sobre qual será a sua situação futura. 32 A comunicação constitui-se em um recurso estratégico para revigorar a cultura institucional, possibilita discussões para a solução de conflitos, aumenta a participação do grupo - desejável em todo o processo de mudança organizacional - permite a administração democrática do conhecimento e o compartilhamento dos novos valores e atitudes construídos. Existem quatro quadrantes na mudança institucional. Não os chamamos de fases ou etapas, porque eles não são lineares. A organização pode evoluir em ritmos diferentes e até mesmo ter pequenas “regressões” na passagem de um quadrante ao outro. Da mesma forma, diferentes setores de uma mesma instituição podem evo¬luir de maneira diferente em relação à mudança, estando cada uma delas em quadrantes diferentes, em um mesmo momento histórico. O fluxo dos quadrantes de mudança institucional devem ser lidos no sentido horário, a partir do primeiro, que é a inércia. Percebe-se, desta forma, que qualquer mudança na instituição parte de um momento de inércia, que precisa ser avaliado como negativo pelos atores institucionais. Esta “tensão” - positiva, porque desencadeia a motivação para a mudança - é representada pelo sentimento de inadequação, de que há aspectos que precisam ser alterados. Logo, a seguir, dá-se um momento de indecisão quanto às estratégias e ritmos necessários, para que as modificações já detectadas sejam realizadas. INÉRCIA INADEQUAÇÃO ADAPTAÇÃO INDECISÃO 33 Finalmente, após a implementação do início do processo de mudança, o último quadrante do esquema mostra a etapa de adaptação institucional aos novos “cenários” gerados. Boog (op. cit., p. 60-61) apresenta um modelo esquemático de mudança que se estratifica em três níveis: 1.A visão - como a escola pensa a Educação e a si mesma; como deseja re- lacionar-se com a comunidade externa, com a prática social; que homem pretende formar, e para que mundo; como deseja ser vista (identificada) externamente. 2. Os valores - em que esta escola acredita, o que pensa sobre qualidade na educação, ética, eqüidade, criatividade, poder, justiça social; que tipo de lideranças admite em seu interior. 3. A missão - de que forma a escola define o seu objetivo maior; o que ela realmente quer; que serviços pretende prestar à comunidade e ao mundo que a envolve. Não devemos esquecer, portanto, que a escola não pode tornar-se estática e cristalizada, perdendo o que possui de mais dinâmico e potencialmente revigorador: o olhar para o futuro, já que acolhe as gerações jovens de um país. Não devemos desconhecer, também, a importante atuação do gestor, em qualquer processo de mudança. Ele pode ser o catalisador ou o empecilho à ad-missão, na escola em que atua, da inovação - indispensável à sobrevivência. ATIVIDADES DE FIXAÇÃO Redija um pequeno texto, observando os conceitos que estudamos sobre as mudanças nas instituições. 34 Unidade V Autoridade e poder do gestor escolar Como este tema é de grande importância na formação do gestor escolar, vamos abordar a autoridade e o poder do gestor com mais profundidade. Naquela ocasião estabelecemos a diferença entre poder e autoridade: Os dois confluem, portanto, para a capacidade de influir no comportamento dos membros do grupo de que se faz parte. Um gestor escolar dispõe e pode exercer quatro tipos de poder social, que apresentamos abaixo, contextualizados por exemplos concretos. De recompensa e coação: O gestor da instituição escolar, mesmo quando ela é pública e não pode manipular recompensas financeiras, sempre detém um poder social quanto a distribuição das recompensas (melhores horários, acesso a oportunidades de capacitação, por exemplo) e à aplicação de determinada sanções. Legítimo: O gestor está situado no topo da estrutura hierárquica da escolar. Fica isolado nesta posição, Legítimo se não é praticada uma gestão colegiada ou participativa. Quando existe uma eleição para diretor da escola, esse poder legítimo é referendado pelo voto dos membros do grupo. De referencia É comum - e desejável - que o diretor estabeleça boas relações interpessoais com os demais “atores institucionais” e com a comunidade externa à escola, exercendo uma liderança realmente referenciada pelo grupo De especialistas ou de competências: Também bastante positivo, este poder social do gestor emana do seu reconhecimento, pelo grupo, como detentor de conhecimento sólido, como um educador com experiência ampla e bem sucedida em sala de aula (vindo do “chão da escola”, e não como alguém que desenvolveu apenas das experiências administrativas). A crítica mais forte ao poder social legítimo ou hierárquico, quando exercido de forma tradicional e autoritária - como acontece nas escolas muito tradicionais - é expressa pelo chamado “organograma dos corvos”: uma árvore de vários galhos, em que os corvos estão pousados em ramos de elevação diferente. Cada um representa um escalão hierárquico, mas eles não “conversam” entre si, denotando o exercício arbirtrário do poder, verticalmente estabelecido. Escolhemos duas abordagens teóricas de poder e autoridade, para apresentar na aula de hoje. A primeira é de Hannah Arendt. A autora destaca que, entre as instituições 35 sociais, a escola tem uma função fundamental: de articular as gerações em seus conceitos, valores e culturas, preparando-as para um mundo que possa melhor acolhê-las, pois são as novas gerações que têm o poder de mudança ou de manutenção do que vivemos em nossa sociedade. A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. (ARENDT, 1997, p. 274.) As instituições escolares são constituídas por pessoas que se relacionam de forma hierárquica, ao menos entre os que detém o conhecimento universal, sistematizado, e os que recebem este mesmo saber. Esta hierarquia pressupõe posições, funções e tarefas desiguais, diferenciadas, e a existência e a prática da autoridade. As relações de autoridade atravessam os diversos níveis da escola: Secretaria de Educação e direção da escola, direção da escola e professores, pro¬fessores e alunos, entre outros. Modelo destas relações, estabelecidas de forma democrática, é a polis grega. Sobre ela, afirma Arendt: De fato, os gregos procuraram estabelecer um fundamento para a vida pública que não fosse apenas a argumentação ou a forca, mas tanto Platão quanto Aristóteles se utilizaram de conceitos pré-políticos para análise do problema ao transferirem, por analogia, para o campo da política as relações de pais e filhos, senhor e escravo, pastor e rebanho, etc. que não eram relações entre iguais como as que devem nortear a vida política. Após analisar a evolução da autoridade, através da história, a autora considera que ela está “desaparecendo” no mundo moderno. A crise da autoridade que desembocou em nosso século, perdendo os referenciais que denunciavam o seu conceito e a sua prática específica. Essa crise, manifesta desde o começo do século e política em sua origem e natureza. O ascenso de movimentos políticos com o intento de substituir o sistema partidário, e o desenvolvimento de uma nova forma totalitária de governo, tiveram lugar contra o pano de fundo de uma quebra mais ou menos geral e mais ou menos dramática de todas as autoridades tradicionais. (ARENDT, 1997, p. 128.) 36 Um sintoma característico dessa crise de autoridade é ela ter se espalhado para as áreas denominadas de pré-políticas, como a criação dos filhos nas famílias e na educação em geral. Arendt situa a perda da autoridade na sociedade moderna conectada com o crepúsculo da hegemonia da tradição e da religião. A perda da tradição acarretou um profundo corte com o passado, que nos guiou com segurança e nos conduziu ao presente com referenciais e dogmas. Vista por outro prisma, no entanto, essa crise de autoridade libertou as futuras gerações de um destino pré-estabelecido por parâmetros rígidos e autoritários. Segundo a análise de Hannah Arendt sobre a autoridade, as mais recentes e principais revoluções como a francesa, a independência americana ou a revolução soviética não concederam rupturas radicais com a tradição. Em todas elas, os homens se inspiraram na origem da tradição, terminando os seus processos revolucionários em restauração ou tirania. A autoridade tal como a conhecemos outrora, e que se desenvolveu a partir da experiência romana e foi entendida à luz da filosofia política grega, não se restabeleceu em lugar nenhum, quer por meio de revoluções ou pelos meios ainda menos promissores da restau¬ração, e muito menos através do clima e tendências conservadoras que vez por outra se apossam da opinião pública.(ARENDT, 1997, p. 187.) O segundo autor que queremos citar é Michel Foucault, conhecido filósofo francês. O tema poder é constante na obra do autor, e vamos abordá-lo sob três enfoques: A diferença entre governo e governamento Alguns autores sugerem que o termo governo seja substituído, quando falamos de Foucault, pela palavra governamento, quando estivermos falando da ação ou ato de governar. Justificam isto, por exemplo, pelo uso dos conceitos que Foucault faz, ao falar da arte de governar: os governantes,
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