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GRÁVIDA DO MEU CHEFE ©Copyright 2021 — V.S. HARAS Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorizações por escrito da autora. Está é uma obra de ficção qualquer semelhança, com nome, pessoas, locais ou fatos será mera coincidência. PLÁGIO É CRIME! Revisão: SONIA CARVALHO Imagens: Depositphotos e Freepik Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Epílogo Uma menina virgem, que engravida do chefe. Um homem que não queria uma mulher, mas que acabou engravidando sua secretária. * * * Um homem solitário que não tinha pretensão de se envolver com ninguém, era assim que eu, Adam Romano, era conhecido. Um CEO famoso e respeitado que havia construído seu império com muito esforço. Só que o destino resolveu brincar com a minha jornada, quando em uma noite, depois de beber muito, amanheci na cama com a minha secretária. Uma menina inocente, que nunca demonstrou ter algum interesse por mim. Depois que tudo girou de ponta-cabeça, não imaginei que as coisas piorariam, quando ela apareceu grávida na porta do meu apartamento depois de ter sido expulsa de casa. Talvez aquele fosse o começo que acabaria com minha solidão. +18 Somente quando encontramos o amor, é que descobrimos o que nos faltava na vida. John Ruskin Capítulo 1 Estalei o pescoço e ouvi o som dos ossos reverberarem pelo lugar. Fiz o mesmo com os dedos e até mesmo com as costas. Aquilo era para tentar relaxar depois de uma semana de trabalho cansativo. Ser CEO de uma empresa, era algo extremamente gratificante e demonstrava o quanto trabalhei para fazer com que meu site de vendas em geral se transformasse em algo mundial. Eu trazia uma proposta que foi aceita pelo público e aquilo tinha me tornado bilionário. Talvez até mais do que eu merecia, já que não existia mais ninguém para que eu pudesse chamar de família. Meus pais morreram quando eu tinha dezoito anos e eu tive que aprender a lidar sozinho com a perda, solidão e ainda tentar me tornar alguém bem-sucedido após terminar a faculdade. Eu até tinha alguns parentes vivos, mas eles nunca me deram atenção, então não fazia questão de ter nenhum tipo de contato com eles. Tinha comigo algumas certezas na vida que se resumiam a: se a pessoa não te dá atenção, não mendigue carinho. Era só aquilo que eu tinha em mente, quando se tratava de uma “família” que nunca se preocupou comigo. Fui obrigado a sair dos meus devaneios assim que ouvi duas batidas na porta. Pelo horário já imaginava quem poderia ser. — Pode entrar — autorizei. Assim que Cecília — minha secretária — abriu a porta eu sorri em sua direção. Aquela mulher era adorável, nunca havia encontrado em meus trinta e cinco anos, uma pessoa tão competente quanto ela. Havia um ano que ela trabalhava comigo e foi uma das melhores contratações que eu tinha feito para a Emblesh — minha empresa. — Senhor, acho que já está na hora de irmos embora. Ela também sorriu para mim, o que deixou suas covinhas em evidência e logo o rubor que sempre aparecia em suas bochechas quando tínhamos um contato mais pessoal tomou seu rosto e eu achei aquilo adorável. — Acho que vou ter que ficar mais alguns minutos. Cecília entrou na sala e foi impossível não passar meus olhos por todo o seu corpo. Não que eu fosse algum chefe tarado nem nada, mas era porque eu sempre achei aquela menina linda demais e mesmo sem querer meus olhos paravam nela por alguns momentos. Seu cabelo curto e a cintura fina, eram charmes que sempre me chamaram a atenção. No entanto, parei de pensar naquilo, para que não fizesse nada desagradável e deixasse Cecília sem graça ou se sentindo ofendida. — Senhor, não. Lembra que me pediu para obrigá-lo a sair no horário hoje. Então, não me venha com essa. Ela caminhou até minha maleta, pegou-a, estendeu-a para mim e com aquilo me dei por vencido. Cecília estava certa, eu havia pedido para que me obrigasse a ir embora, senão seria capaz de virar a noite resolvendo as coisas que estavam em aberto. — Você venceu. Levantei minhas mãos, Cecília sorriu e depois que peguei minha maleta ela começou a se dirigir para a porta do escritório. — Quer uma carona? — perguntei antes que sumisse das minhas vistas. Como sempre ela me encarou um pouco sem graça e respondeu: — Obrigada, senhor. Só que não posso aceitar, já expliquei que a minha família ficaria um pouco… não sei nem que palavra usar para o tamanho da tragédia que aconteceria se eles vissem que fui levada até em casa pelo meu chefe. Cecília já havia comentado comigo que os pais eram um pouco rígidos e que foi difícil permitirem que ela fizesse faculdade e ainda trabalhasse fora. Com toda certeza eram aqueles tipos de pessoas que pareciam mais malucas de alguns séculos passados. — Sei que você não gosta, mas ainda acho que a sua família é um pouco maluca. — Eu às vezes até concordo, só que também não posso ir contra o que dizem. São meus pais, provavelmente só querem o bem para mim e eu os amo. Cocei minha cabeça com o seu comentário e assenti, sem dizer nada, pois eu ainda achava que Cecília merecia algo melhor do que pessoas tentando controlar sua vida e até as roupas que vestia. — Como preferir, Cecília! — Bom, espero que o senhor tenha um bom final de semana e aproveite para descansar. O senhor está com algumas olheiras que não pertencem ao seu rosto. — Pode falar que estou feio. Cecília soltou uma risada doce e levou a mão ao rosto. — Como se isso fosse possível, senhor Adam. No momento que falou a menina arregalou os olhos e ficou ainda mais vermelha do que já estava. — Obrigado pelo elogio. — Acho que essa foi a minha deixa. Boa noite! — Boa noite, Cecília! A minha secretária sumiu das minhas vistas e eu só pude ficar com um sorriso bobo no rosto. Aquela garota era uma graça e eu ainda não sabia como podia ter pais tão rígidos daquela maneira. Deixei de pensar naquilo, já que não tinha nada a ver com aquele assunto. Peguei o meu casaco do terno e fui em direção à saída. Cecília já havia desaparecido e eu só pude seguir pelos corredores silenciosos da Emblesh. Sexta-feira, após as seis da tarde, era sempre daquele jeito. Um lugar esquecido pelos funcionários, pois as pessoas adoravam curtir a noitada que aquele dia da semana reservava. Assim que entrei no elevador, meu celular anunciou uma mensagem, enquanto eu descia pelos andares, peguei o aparelho e verifiquei do que se tratava. Era Apolo, meu amigo de longa data me chamando literalmente para curtir a noite de sexta. Adam: Hoje eu só quero descansar, cara. Apolo: Todo dia a mesma desculpa. Eu não era do tipo que gostava de sair, preferia ficar em minha casa e curtir as poucas coisas que a vida nos dava para aproveitar entre quatro paredes e olha que eu nem estava falando de sexo — já que tinha um bom tempo, que eu nem sabia o que era aquilo. Mas nada melhor do que ficar jogado no sofá, somente de cueca e assistindo uma série, comendo alguma gordura deliciosa que me faria mal em alguma parte do meu futuro, quando eu estivesse bem velhinho. Adam: Cara, qualquer dia desses marcamos alguma coisa, por enquanto eu só quero ficar quieto. Apolo: Semana que vem é seu aniversário, você pode até não querer, mas eu vou levar uma festa até você. Adam: Não faz isso. Apolo: Farei, senão esse seu pau vai até cair, porque nem foder alguém você quer. O que foi, virou padre? Adam: A vida não se resume a sexo. Apolo: E nem a trabalho demais, seu workaholic idiota. Revirei meus olhos e deixei para continuar conversando com Apolo em outro momento. Tinha acabado de sair do estacionamento da empresa e era melhor dirigir do que ficar discutindo com umamula. Ou melhor, as mulas eram mais espertas do que aquele idiota. Dei partida em meu carro e ganhei as ruas de São Paulo. Mesmo que aquela cidade fosse movimentada, tivesse um ar poluído e um clima meio maluco eu a adorava. Era um homem que gostava de cidade grande e amava escutar as buzinas dos carros ganhando as ruas. Fui ouvindo uma música pelo caminho e até comecei a cantar enquanto esperava o sinal ser liberado. Eu sabia que precisava de um pouco de lazer, mas não queria ter que sair, pois as mulheres caíam matando em cima de mim o que eu não gostava nem um pouco. Não queria arrumar um amor para chamar de meu, não queria me apaixonar por ninguém. Eu tinha medo de quebrar meu coração, sim eu sabia que era meio estranho falar sobre aquilo, mas eu já era um cara que havia perdido muito na vida e não estava a fim de me envolver com ninguém. Era melhor ficar em casa na paz de um lugar que me protegeria das maldades do mundo. Assim que cheguei ao meu prédio, estacionei o carro no lugar de costume e fui para o elevador. Digitei o código da minha cobertura e assim que o elevador subiu eu senti meu corpo começar a relaxar. Claro que ainda não estava completamente bem, mas assim que me jogasse debaixo de uma água bem quente eu já estaria ótimo. O elevador abriu suas portas em meu apartamento e eu dei o primeiro passo para um final de semana parado e completamente mórbido para um homem de trinta e quatro anos e faria trinta e cinco na próxima semana. Talvez eu fosse um velho de oitenta anos em um corpo novo, mas aquilo não importava mais, a única coisa que eu queria era curtir o meu final de semana melodramático, para na segunda voltarmos a tudo outra vez. Aquela era minha vida… Um homem cheio de trabalhos em uma empresa e que fora dela não tinha nada para se alegrar. Eu era um CEO, workaholic, fodido e solitário. Capítulo 2 Abri a porta do meu apartamento e tive que respirar fundo assim que percebi que meus pais não estavam sozinhos. Havia algumas visitas que se resumiam a pessoas da sua igreja e eu sempre ficava meio receosa quando elas estavam presentes. Assim que entrei no apartamento, a conversa acalorada que estavam tendo foi cessada e todos me encararam. Algumas mulheres me olharamcom o cenho franzido e eu quase saí correndo do lugar que devia chamar de lar. Desde que tomei algumas iniciativas, como: fazer faculdade e trabalhar fora; comecei a não ser muito bem aceita por todos. Principalmente pelas duas pessoas que deviam me defender: meus pais. — Ainda bem que chegou, Cecília. Já estava passando do seu horário. Meu pai resmungou, fazendo minhas bochechas corarem. — Uma mulher que se preze não fica fora até tão tarde. Olhei para o relógio da parede e eram perto das oito da noite. — Boa noite, para vocês. — Olhei para Kátia, a mulher que havia se intrometido onde não havia sido chamada e respondi: — O transporte público não funciona como queremos, então é meio impossível chegar mais cedo em casa. — Sua filha está muito insolente, Mattias — murmurou. — Sim, estou precisando deixá-la algum tempo sem fazer as coisas que gosta, para ver se aprende a tratar nossas visitas melhores. Neguei com a cabeça e avisei: — Vou para o meu quarto. Assim que comecei a seguir pelo corredor, ouvi sons de passos atrás de mim e voltei-me na direção da pessoa. Minha mãe me olhava de forma severa e eu esperei pela reprovação dela. — Vou acabar proibindo que trabalhe naquela empresa. Você se tornou uma péssima filha. — Mamãe, não me tornei uma péssima filha. Só estou tentando viver um pouco fora da bolha em que vocês me criaram. Não estamos mais na época na qual vocês estão vivendo. Hoje em dia mulheres trabalham e se sustentam. — Cecília, você sabe como somos. Se isso está te incomodando a porta da rua é serventia da casa. Tenho certeza de que minha expressão foi algo como o choque e a dor por estar ouvindo tais palavras da minha mãe. — Sim, agora fica com essa expressão de cão arrependido. Não nos teste, Cecília. Senão você terá que se virar sozinha. A vontade era de gritar e falar que eu iria sumir daquela casa, mas não podia. Primeiro, porque não daria conta de me manter sozinha, não ainda, enquanto não recebia tão bem para viver por minha conta. Segundo, que eu podia ser maltratada daquela maneira, mas ainda amava meus pais. Provavelmente eles não tinham culpa de terem sido criados de forma muito rígida, por pais que viviam com a mentalidade muito fechada para as mudanças que aconteciam no mundo. Eles eram bitolados por religião e pensavam que as pessoas tinham que viver de forma presa, principalmente as mulheres, que não podiam usar calça, cortar o cabelo e passar maquiagem. Eu já era um pouco diferente, pois havia cortado meu cabelo, usava calça e ainda arrumei um emprego. Aquilo era motivo de vergonha para os meus pais, o que me deixava bastante chateada, já que muitas pessoas que eu conhecia não passavam por aquilo e ainda tinham orgulho de falar que os pais ficavam muito felizes pelas conquistas alcançadas. — Tudo bem, mamãe. Vocês sempre estão certos — ironizei. — Vá para o seu quarto, mas trate de aparecer mais aceitável. Encontramos um rapaz de Deus para você conhecer e quem sabe poder se casar e sair da casa dos pais, está passando da hora de ter sua vida. Já está velha, Cecília. — Mamãe, eu tenho somente vinte e três anos. — E na sua idade, eu já estava grávida de você. Respirei fundo e assenti, depois que ela me direcionou um sorriso, voltou para a sala e eu abri a porta do meu quarto, mas em seguida me tranquei lá dentro. Eu não sairia do meu porto seguro de forma alguma. Sempre tive sonhos de que conheceria alguém que eu amasse e só assim eu pensaria em casamento. Nunca imaginei que meus próprios pais queriam enfiar um marido pela minha “goela a baixo”. Deixei minha bolsa sobre minha cama e peguei meu celular, enviando uma mensagem para Carla — minha melhor amiga e que para variar meus pais odiavam, pois segundo eles era uma menina do mundão. Cecília: Eu queria gritar por socorro, mas nem posso fazer isso, senão meus pais pensam que pirei ou que estou usando drogas. Carla: Você some por horas e assim que aparece é para reclamar dos seus pais. Eu juro que se tivesse condição te chamaria para morar na minha kitnet, mas eu já a divido com a Olivia. Cecília: Eu sei bem, amiga. Só de ter você para ouvir minhas lamúrias já me sinto melhor. Carla: Sempre estarei aqui para ouvir qualquer coisa que você quiser. Como foi o trabalho? Cecília: Tudo bem! Consegui convencer Adam a ir embora mais cedo. Carla: Se eu trabalhasse com um homem tão lindo como aquele, ou eu já teria o atacado, ou já teria sido demitida por assédio sexual. Cecília: Larga de ser idiota. Adam é uma pessoa super gentil, não existe motivo para pensar somente em sexo em relação a ele. Além de ele ser um chefe muito melhor do que muitos que encontramos por aí. Carla: Se eu soubesse que você não fosse levar a pior, eu juro que falaria para você agarrá-lo, mas se seus pais sonharem com isso é bem capaz de te trancarem dentro de casa. Cecília: Deus me livre! Eu iria sofrer muito. Você acredita que tem um rapaz na sala aqui de casa, que segundo eles é para eu me casar com ele. Carla: Credo, voltamos a qual século? Cecília: Nem eu sei, mas é isso que estou vivendo aqui. Carla: Você precisa conseguir sair desse lugar logo. Cecília: Se eu tivesse dinheiro o suficiente já tinha arrumado algum lugar. Carla: Você vai conseguir, amiga. Eu tenho fé que sim. Abri um sorriso com sua mensagem, mas logo tive que me despedir de Carla, pois estava necessitando de um banho. Meu corpo quase gritava por socorro, para poder descansar da semana e para somente se jogar em minha cama e esquecer-me de transporte público por dois dias. Eu amava trabalhar e ser um pouco independente, no entanto, aquilo não tirava o cansaço do meu corpo, que fazia com que meus músculos todos doessem. Tomei um banho lento e assim que saí, enrolei-me no meu roupão e nem me importeide vestir alguma roupa. Estava exausta e só queria me deitar. Assim que o fiz, acabei caindo em um sono profundo. O que agradeci, pois seria a desculpa perfeita para evitar o tal pretendente que meus pais queriam me arrumar. Acordei no outro dia ouvindo um baque alto do lado de fora do quarto. Assim que abri meus olhos percebi que era alguém que esmurrava a madeira que me protegia do resto do mundo. — Cecília, se você não abrir essa porta agora, vou ser obrigado a te dar uma surra. Aquela era a voz do meu pai o que me fez revirar os olhos. Levantei- me da cama, até meio cambaleante, pois ainda estava com sono e não tinha dormido o suficiente. Assim que escancarei a porta, meu pai entrou e até chegou a me dar um empurrão para poder passar com seu corpo rechonchudo. — Você nos envergonhou ontem. Eu tinha agido por impulso e havia esquecido que sempre tinha o outro dia para enfrentar os nossos problemas. — Papai. estava tão cansada que acabei caindo no sono. — Cecília, eu sou um ótimo pai. Permiti que você trabalhasse e ainda fizesse coisas do mundo que não são permitidas para você. Só que não me teste que eu posso tirar todo o seu poder em questão de segundos, é só você me irritar. — Não vai se repetir, papai. Era mentira, eu nunca deixaria que eles escolhessem como eu viveria o meu futuro, mas era melhor deixar que pensasse daquela maneira. — Na semana que vem eles voltarão aqui e faça o favor de parecer uma moça digna. Dizendo aquilo, ele acabou saindo do meu quarto e batendo a porta. Por outro lado, fechei os olhos, respirei fundo e pedi a Deus que guiasse meu caminho, pois não dava mais conta de viver cercada por aquela família. Precisava começar a fazer horas extras para poder juntar dinheiro o mais rápido possível para sair daquele apartamento. Senão eu nunca mais teria felicidade — se é que em algum momento da minha vida eu tive alguma. No entanto, teria que batalhar para ter ao menos um futuro onde eu não tivesse medo de viver o que achava certo. Capítulo 3 Sabe o que mais me chateava? Era quando eu não via nem o tempo passar e assim que me dava conta já estava perto da data da qual eu nem gostava tanto. Faltava só um dia para o meu aniversário. Uma data que eu não queria comemorar, mas que Apolo foi extremamente irritante e me convenceu a aceitar aquela besteira. Respirei fundo e cocei minha cabeça. Aquela era uma mania minha para quando eu estava irritado. Assim que Cecília entrou na sala com alguns documentos que eu lhe tinha pedido, tentei desviar minha atenção dos meus pensamentos conflitantes. — Os arquivos estão aqui. Ela me estendeu algumas pastas e quase a agradeci por ser tão eficiente. — Já falei que você é um anjo? — O senhor costuma dizer às vezes — brincou. — Obrigado, Cecília! — Por nada. Quer ajuda com algo mais? Olhei para o relógio que ficava em cima da minha mesa e percebi ser hora do almoço, por isso, não queria que ela fizesse nada que atrapalhasse sua alimentação. — Não vou negar que quero, mas antes vá para o seu almoço e mais tarde você me ajuda. — Se o senhor quiser, posso pular… — Não! — Cortei-a no mesmo momento. — Quero que você tire seu horário de almoço e só depois venha me ajudar com esses relatórios. — E o senhor não vai almoçar? Eu sabia que tinha que almoçar, mas naquele momento não tinha tempo para comer. — Depois eu faço um lanche qualquer. Cecília revirou os olhos e acabou me repreendendo: — Às vezes penso que o senhor não devia ter uma empresa, já que não se preocupa com a sua saúde. — Eu me preocupo, mas para variar hoje já é sexta-feira e amanhã o Apolo inventou que tem que me fazer uma festa. Então, tenho que me apressar para não ter trabalho no sábado. — Acho que seu amigo está certo. O senhor precisa comemorar seu aniversário. Suspirei fundo e neguei fazendo uma careta. — Preferia ficar em minha casa, comendo algum sanduíche e assistindo uma série. Cecília abriu um sorriso e revelou: — Será que sou sua versão feminina? Porque eu só quero fazer isso nos dias de descanso. Foi com aquela sua pergunta que tomei coragem para elogiá-la. — Provavelmente você não é, pois é muito linda para achar que se pareça comigo. E como sempre as bochechas de Cecília coraram. — Acho melhor eu ir para o almoço. Assenti e ela se retirou da minha sala. Aquela menina era muito legal e eu ainda não conseguia entender como podia ter pais tão obcecados. Sim, não conseguia tirar aquilo da minha mente, pois ainda ficava indignado com as coisas que minha secretária soltava por alto. Era sempre alguma reclamação daquelas pessoas que eu não gostava nem de ouvir o nome. Achei por bem tirar aqueles pensamentos da minha mente, já que não mudaria em nada eu sentir algum tipo de raiva por eles. Assim que passou a hora do almoço, novamente saí da minha concentração ao ouvir uma batida leve na porta. Nem precisei autorizar para saber que era Cecília. A menina entrou em minha sala com um sorrisinho nos lábios e assim que estava perto o suficiente da minha mesa, estendeu-me uma quentinha. Cerrei meu cenho e indaguei: — O que é isso? — Almoço para meu chefe. — Cecília, não precisava gastar comigo. — Precisava sim, ainda mais que amanhã é seu aniversário. Então, o que é melhor do que ganhar comida? — Ela parecia empolgada. — Esse é meu presente de aniversário? Enquanto perguntava, peguei a quentinha de sua mão e os talheres que ela me estendia. — Claro! Eu não sou rica para te dar algo mais caro, mas posso alimentar seu estômago. Soltei uma gargalhada com seu comentário e não deixei de entrar na brincadeira. — Com toda certeza esse foi o melhor presente que ganhei em anos. — Viu que maravilha? Ainda com um sorriso nos lábios, comecei a devorar a comida.— Depois ainda fui obrigada a acreditar que você não queria almoçar. — Ainda bem que você é uma ótima funcionária e me trouxe essa comida deliciosa. — É seu presente de aniversário. — Muito obrigado por esse presente. Foi olhando para Cecília que uma vontade louca me bateu e talvez fosse um erro fazer-lhe aquele convite, mas não medi as consequências, eu queria convidá-la para meu aniversário. — Cecília, o que fará amanhã? Ela levantou seus olhos do documento que lia e respondeu: — Nada. — Parou por um momento e respirou fundo, voltando em seguida a dizer: — Ou melhor, meus pais resolveram me arrumar um pretendente para eu me casar e ele vai à minha casa amanhã. Daquela vez foi impossível não demonstrar minha indignação com seu comentário. — Que porra eles pensam que estão fazendo? Cecília arregalou seus olhos e eu tentei me conter, mas a ira passava por todos os meus músculos. — Desculpa, Cecília. Mas é surreal a forma com que os seus pais te tratam. — Eu sei, se pudesse já teria me mudado, pois não consigo viver como eles. — Ela tentou sorrir para mim e voltou a se manifestar: — O senhor me fez essa pergunta, por quê? Tentei me acalmar para tentar ao menos não parecer um idiota que queria se aproveitar dela; — Queria te convidar para minha festa de aniversário. — O senhor, o quê? — Isso mesmo que ouviu, Cecília. Você é uma pessoa ótima e já que vai ter uma festa, nada melhor do que você ir. O que acha? — Acho que meu pai me colocaria para fora de casa e eu não teria tempo nem de respirar normalmente. Sempre a mesma desculpa: os pais. — Será que eles teriam coragem mesmo de te colocar para fora? — Nunca quis testar a paciência deles. — Cecília, você tem vinte e três anos. Já deveria estar tomando suas próprias decisões. No entanto, não irei ficar te pressionando, já que não quero parecer em nenhum momento com seus pais. Mas se quiser ir, você sabe o meu endereço, é só aparecer por lá. — Sim, senhor. Vou pensar. — E se você for, não precisa me chamar de senhor, pois estaremos em um ambiente completamente diferente desse. Minha secretária abriu um sorriso e assentiu. — Vou me lembrar disso. Voltamos a trabalhar e passamos o resto do dia focados em nossos afazeres. Quando deu a hora de Cecília ir embora,ela se despediu e novamente lembrei-a da minha festa. Sabia que ela não iria, mas quem seria eu para obrigá-la a mandar sua família tomar no cu? Ninguém… então que eu continuasse com meus afazeres e reclamando da festa de amanhã. Pois nem a minha secretária estaria lá para eu observar o quanto ela era bonita e desejável. Balancei minha cabeça e me livrei desses pensamentos pervertidos. Era melhor me focar no trabalho do que pensar em uma mulher que estava proibida para mim. Ainda mais que eu nunca quis me envolver com ninguém, não iria acabar querendo conhecer melhor uma pessoa tão complicada. Cecília estava em um patamar inalcançável e era melhor que continuasse nele. Bem melhor para nós dois. Capítulo 4 Fiquei observando como estava o tempo — da janela do meu quarto — por alguns minutos. Não havia me levantado há menos de meia hora, mas um pensamento complicado estava passando por minha mente. Eu queria viver livre e aquilo parecia ser tão fácil, mas ao mesmo tempo tão difícil. Como as pessoas conseguiam tomar decisões sem prejudicar seu futuro? Mas eu também não podia esquecer que a maioria das pessoas que me cercavam não tinham pais tão rígidos quanto os meus. E talvez aquele fosse o maior motivo de eu me sentir tão ferrada. Talvez nada, era exatamente por aquilo que eu estava daquela forma. Sentindo-me sem saída, sem muita coisa para fazer, mesmo que eu quisesse muito dar uma de maluca. Ouvi uma batida em minha porta do quarto e a vontade que tive foi a de gritar com ódio, raiva, ira, de todos que me cercavam naquela casa. Caminhei até o local e escancarei a porta. Minha mãe surgiu com sua expressão superior, parecendo ser muito perfeita em toda a sua forma impecável. Grande merda! — Não se esqueça de estar linda essa noite, para receber o nosso convidado. — Claro, mamãe! — concordei, para não arranjar confusão naquela manhã. Ela se retirou e eu fechei a porta indo diretamente atrás do meu celular. Precisava de conselhos e a única pessoa que podia me ajudar era Carla. Cecília: Por favor, me diz que está acordada? Esperei alguns segundos até que a resposta veio: Carla: Bom, agora eu tô. Cecília: Meus pais resolveram que vão me arrumar um marido e o primeiro pretendente virá hoje aqui. Carla: Amiga, a cada hora que você me fala dos seus pais, eu penso que é brincadeira, pois é tão irreal. Cecília: O pior você não sabe. Carla: Então, conta. Tive que soltar uma gargalhada ao perceber o quanto ela era curiosa. Carla sempre foi daquela maneira, imediatista, maluca e a melhor pessoa que conheci em todo aquele mundo. Cecília: Hoje é aniversário do Adam e ele me convidou para ir. Só que você sabe como os meus pais são. Carla começou a digitar diversas vezes, mas demorou alguns minutos para enviar a sua resposta. Carla: Você fumou bosta, ou o quê? Aquele deus grego te convida para o seu aniversário e você ainda está pensando nessa sua vida de merda? PELO AMOR DE DEUS! Você vai vir aqui para casa agora e eu vou te produzir toda. Vou fazer o CEO até se apaixonar por você. Revirei meus olhos com seu comentário. Minha amiga sempre teve a mania de querer fazer com que eu me envolvesse com meu chefe. Algo que nunca aconteceria, afinal eu sabia respeitá-lo e ele também era muito educado para cometer assédio contra uma funcionária. Cecília: Eu não quero CEO algum se apaixonando por mim. Carla: Cala a boca, Cecília! Meu amor, você precisa curtir sua vida. Eu preciso que você vá a esse aniversário para ver o quanto a vida é linda fora da sua casa. Cecília: E como vou deixar o meu pretendente aqui? Carla: Deixando. Você nem quer se casar com ele. Cecília: Claro que é fácil. Nem que você precise inventar uma mentira, mas você vai ao aniversário de Adam Romano. Pelo jeito eu teria que inventar uma ótima mentira, para que meus pais acreditassem e eu não precisasse passar por aquele encontro de merda. Eu estava tão perdida! *** A música alta tocava, enquanto algumas pessoas dançavam na pista improvisada que Apolo havia organizado. Não podia negar que elas estavam bastante empolgadas com tudo que estava acontecendo. Somente o anfitrião da festa que não estava como eles. A vontade que eu tinha era de sair correndo daquele lugar, pois eu parecia não me encaixar naquela multidão. Não tinha ninguém com quem eu tivesse vontade de ficar conversando. — Daqui a pouco você vai espantar os convidados — Apolo, comentou, assim que se aproximou de mim. — Está bem legal, mas não estou muito na vibe. — Cara, comemore seus trinta e cinco anos. Pegue alguma mulher e seja feliz. — Não quero pegar ninguém, Apolo. — Nossa! Como você é chato. — Sou mesmo — admiti sem muita vontade de continuar aquele assunto. — Ao menos tome uma cerveja ou uísque. — Não queria ficar alterado. — Porra, Adam! Nem isso você pode fazer? — Tá bom! Eu vou pegar uma cerveja. Caminhei até o local onde estavam as bebidas, peguei a cerveja e voltei para perto do meu amigo que não voltou a dizer nada pelo tempo que ficamos um ao lado do outro. Ainda bem que ele havia me deixado em paz, mas parecia que algo havia prendido a sua atenção. Por isso, foi impossível não levar meus olhos para onde meu amigo olhava. E mais impossível ainda não sentir minha boca ficando escancarada com a cena que vi naquele momento. Pude até perceber que outros homens que estavam presentes ficaram encarando a mulher que não esperava ver aquela noite, mas que mesmo sem querer fiquei feliz por vê-la ali. Cecília olhava para os lados, obviamente procurando-me, já que ela não conhecia ninguém além de mim e Apolo — mas o último ela só tinha visto algumas vezes na empresa. — Caralho! Aquela lá é sua secretária? — Sim — respondi, ainda abismado. — Eu não a convidei, mas ainda bem que veio para alegrar nossa visão. — Eu a convidei, mas você pode tirar seu olho dela. Encarei meu amigo sentindo um pouco de fúria tomar meu corpo. Não queria ninguém perto de Cecília. Ela era muito inocente, para cair no papo de qualquer um que estivesse presente naquele lugar. — Pode ficar tranquilo, amigo. Não vou entrar no seu território. — Não diga besteira — murmurei e decidi me afastar de Apolo. Precisava recepcionar a única pessoa que me importava naquele lugar. Caminhei até Cecília. Não consegui desviar meus olhos dela por todo o trajeto. Em algum momento seus olhos me encontraram e eu quase parei no mesmo lugar, só para reparar sua beleza mais um pouco, no entanto, não podia ser tão descarado. Só que não podia negar o quanto ela estava linda, em seu vestido preto, colado ao corpo. O cabelo curto estava com pequenas ondas nas pontas e até uma maquiagem leve realçava seu rosto. Nunca a tinha visto daquela maneira, pois seus pais não permitiam que ela se arrumasse assim. Porém, pelo jeito eles não conseguiram impedi-la de aparecer em meu apartamento. — Talvez você seja o ponto de luz que eu precisava, para que essa festa ficasse um pouco aceitável. Cecília abriu um sorriso e mesmo com a iluminação parca do lugar, pude ver suas bochechas corarem. — Eu consegui vir, para o seu pequeno martírio. — E eu fico muito feliz por você me fazer esse favor. — Até parece. Aqui está bastante alegre e cheio de comida, não tem como estar ruim. Olhei pelo lugar e não pude deixar de responder: — Só que não tem ninguém interessante para que eu possa ficar olhando e ter uma conversa saudável. — O senhor está muito saidinho — murmurou. — Primeiro, vamos esquecer esse senhor na festa. Segundo, vamos pegar alguma bebida para você. Estendi meu braço a Cecília e ela mesmo que um pouco relutante aceitou o contato e eu a levei para o lugar onde estava há alguns minutos. Apolo ainda estava lá, mas eu nem me importei. — Como vai, Cecília — cumprimentou a mulher ao meu lado. — Vou bem, e o senhor? — Estou contente que apareceu. Isso fez com que Adam até tirasse a expressão emburrada do seu rosto. Cecília soltou uma gargalhada que me prendeu em seus lábios desenhados pelo batomque usava. — Então, eu salvei a festa — respondeu de forma brincalhona. — Salvou mesmo — concordei. Cecília me encarou com seus olhos inocentes e naquele momento eu soube que talvez estivesse bastante ferrado. Eu já a achava linda, mas naquela noite tudo o que eu pensava sobre ela tinha aumentado em um nível totalmente caótico. Quando foi que comecei a desejar minha secretária? Não tinha a mínima ideia, só sabia que a queria. Mas tinha completa convicção de que Cecília era proibida para mim… Ao menos era aquilo que eu pensava. Capítulo 5 O lugar estava agitado, pessoas dançavam, algumas se beijavam e eu só conseguia observar aquele ambiente tão diferente do que o que eu conhecia, mas estava adorando fazer parte. — Aceita uma taça de vinho, Cecília? Olhei para Apolo e ele estava ao lado de Adam — seu melhor amigo. Eu nunca havia tomado uma bebida alcoólica e talvez aquela não fosse a hora certa para conhecer o sabor daquele líquido vermelho. — Acho melhor não. Nunca fui boa com bebidas. — Algum suco? — Suco, eu aceito. — Pode deixar que eu pego para você — Adam, avisou. — Não! — Apolo quase gritou. — Pode deixar. Eu vou, porque ao menos sua expressão rabugenta melhorou. Tive que sorrir pelo comentário que o homem acabou soltando. — Vai logo, então. — Adam o encarou com o cenho franzido, mas logo sorriu para o amigo. — Feliz aniversário — comentei, quando Apolo se afastou. Adam me encarou de forma calorosa e eu não entendi em momento algum o motivo de meu corpo ter se arrepiado inteiro apenas ao receber um olhar do meu chefe. — Obrigado! Com toda certeza esse é o meu melhor aniversário. Ao menos ter a sua presença aqui, me deixa melhor do que ter que aguentar essas pessoas que em sua maioria eu nem conheço. — Ainda bem que consegui despistar meus pais, para poder vir te salvar. Aquele comentário fez com que Adam abrisse um sorriso e logo ele me questionou: — O que me leva a te perguntar o que teve que fazer para fugir deles? Aquiloera uma longa história. — Digamos que menti. — Meu Deus! Cecília Costa mentiu para os seus pais. O mundo está perdido. Tive que gargalhar mais uma vez com seu comentário. Ele parecia realmente um pouco surpreso com minha resposta. — Às vezes é preciso para sair da prisão que sou obrigada a aguentar. Você acredita que eles queriam que eu passasse a noite de sábado, conhecendo meu pretendente para casar. — Porra! Eles são uns… Levei meu indicador aos lábios de Adam e pude perceber que ele engoliu em seco. Até eu havia me assustado com a minha ousadia. — Não me lembre deles. Só quero curtir essa noite de liberdade que eles pensam que estou ajudando minha amiga Carla. Ela pediu para falar para eles que havia sofrido um acidente. Eles acreditaram e só por isso me deixaram dormir na casa dela. — Tenho que dizer que foi uma ótima ideia, mesmo que tenha sido uma pequena mentira. No entanto, às vezes elas são necessárias para você poder viver em paz. — Isso mesmo, chefe. Apolo chegou com meu suco e estendeu-o para mim. Levei o copo à boca e tomei um gole da bebida. Logo começou a tocar uma música que eu adorava do The Score “Born for this”. Claro que escutava escondido dos meus pais, pois para eles não era certo escutar nenhuma música que não fosse da igreja. — Adoro essa música — comentei. — Quem diria que a Cecília, uma moça tão inocente, gostava de uma música do mundão — Adam brincou. — Você sabe que só a minha família é meio bitolada. Eu adoro dar umas escapadas por aí. — Ainda bem. Não gostaria de ver uma menina tão linda deixar a vida passar trancada dentro de casa. Se ao menos você gostasse do que acontece em sua casa. Logo uma música mais lenta começou a tocar e eu continuei a tomar meu suco. Adam se aproximou de mim e sussurrou: — Quer dançar? Olhei em sua direção com os olhos arregalados e respondi: — Não sou muito boa nisso. — Eu também não, mas… Eu não daria conta de dançar com meu chefe, que estava mais gato do que os dias de costume. Adam usava uma camisa preta com as mangas dobradas até o seu cotovelo, os dois primeiros botões estavam abertos, uma calça jeans da mesma cor, contornava seu corpo mostrando sua bunda maravilhosa. E ele até tinha aparado sua barba, deixando-a ainda mais cerrada e desenhando o seu rosto que tinha um queixo que talvez fossea perdição de muitas pessoas. Sabia muito bem que não deveria estar pensando naquilo, mas Carla colocou em minha cabeça, durante o dia todo o quanto aquele homem era lindo e desde a hora que apontei em seu apartamento e o vi, não consegui lembrar-me de tudo que ela me dizia e de toda a beleza que eu estava vendo naquele homem. — Vamos? Eu tinha que tomar coragem, não tinha? Tinha que viver um pouco fora da caixa. Precisava… Necessitava dar um passo para o desconhecido. Deixei o copo de suco em cima do balcão e aceitei de bom grado sua mão. Caminhamos por entre as pessoas e assim que paramos na pista. Adam segurou minha cintura e eu levei minhas mãos para o seu pescoço. Nunca estivemos tão próximos daquela maneira e aquilo fez com que nossos olhos não se desgrudassem. Eu o encarava como se quisesse desvendá-lo e ele fazia o mesmo comigo. Seus olhos de um castanho-amendoado, que eu sempre pensei serem dourados, até podiam tentar esconder, mas eu sabia o quanto Adam se sentia solitário e naquele momento sua máscara havia caído, diante de mim, no meio daquela dança. — Gostei de ver você aqui. — E eu gostei de ter vindo. Adam apertou mais o seu corpo ao meu. Não tinha nada de desrespeitoso em sua atitude, era somente para ficarmos mais próximos para dançarmos. — Se eu soubesse que precisava fazer uma festa para você sair do seu casulo, tinha feito antes — brincou. — Só estou aqui hoje, por ser uma data especial. Não viria em todas as festas que você fizesse. — Então eu sou especial? — A ironia estava em sua fala. Se estava ali tinha que assumir algo, não era mesmo? — Muito, você é meu chefe. Tenho que te tratar bem para não perder meu emprego. Adam abriu um sorriso e assentiu. — Então está bem. Quando a música terminou, eu senti um pouco de vergonha, por estar tão perto dele e eu me afastei. Logo caminhei até a bancada em que estava e ele veio atrás de mim. Pegou um copo com bebida e começou a tomá-lo em silêncio. Algo estava diferente entre nós naquele dia, só não sabia explicar o que era. Olhei para o copo de bebida e indaguei: — Isso é bom? Adam me encarou e eu apontei para a cerveja. — Bom, para iniciantes, não. Só depois que você está acostumada com bebidas alcoólicas. — Ele fez uma pausa e murmurou: — Mas eu tenho um licor delicioso. Tem álcool e é doce. — Não tenho vontade de beber, mas gostaria de experimentar. — Se quiser, podemos ir até o meu escritório, para tomarmos. Aquilo não era bom, não é mesmo? Eu sairia de perto das pessoas e ficaria desprotegida e se algo acontecesse? Quem eu queria enganar? Estava louca para viver novas aventuras e talvez ficar um dia bêbada na casa do meu chefe, em quem eu confiava plenamente, não seria um erro. — Então vamos. — Como você quiser. Comecei a seguir Adam para uma parte do apartamento que estava mais calmo e naquele dia talvez eu conhecesse o que era ter paz. Capítulo 6 “Completamente alterados… Não sabíamos o que era certo ou errado… Eu tinha misturado cerveja e licor, tudo o que eu não podia, para perder o controle total dos meus sentidos… Cecília também não parou de querer mais e mais licor e pelo jeito nenhum de nós dois tínhamos o costume de beber tanto. Completamente bêbados, foi naquilo que se transformou nossa noite…” O sol estava batendo em meus olhos e eu fui obrigado a abri-los para encarar onde eu estava. Aquilo ali era meu quarto, eu tinha certeza. Tudo parecia girar e a vontade de vomitar até estava batendo. Mas era só respirar um pouco mais fundo que a vontade diminuía. Eu queria dormir mais, até estar melhor. Provavelmente a noite tinha sido uma tragédia. Não deveria ter bebido demais, pois eu sempre fui muito fracopara bebidas. Cecília deve ter ido embora chateada, ou não, eu nem me lembrava de ela ter ido embora. Não me lembrava de nada depois de levá-la para o meu escritório. Girei meu corpo para o lado, para tentar dormir sem ter que fechar as cortinas do quarto, mas assim que fiz o movimento me assustei por completo. Tinha uma mulher na minha cama… puta que pariu! Não era uma mulher ou melhor era, mas era a porra da mulher que não deveria estar ali. Fiquei em estado de choque por um tempo. O que Cecília estava fazendo ali? Meus olhos passaram por seu corpo e ela estava descoberta pelo edredom e meu coração disparou mais do que já estava. Cecília estava completamente nua sobre a minha cama e só naquele momento eu também percebi que nada me cobria. O que tinha acontecido? Levantei-me da cama desesperado e peguei meu travesseiro para tampar minha intimidade. — Cecília — gritei. Seus olhos se abriram lentamente e pelo jeito ela estava tão de ressaca quanto eu estava assim que acordei. Mas até a ressaca já havia passado logo que percebi a merda que havia acontecido. Ela olhou para os lados e assim que seus olhos pararam em mim, ela soltou um grito e levantou-se no mesmo momento. Olhou para o corpo todo descoberto e eu fiquei com vergonha de encará-la e abaixei minha cabeça. — O que aconteceu, Adam? — Não tenho a mínima ideia. A única coisa que me lembro foi de termos ido para o meu escritório. Ouvi alguns barulhos e logo percebi que ela havia se vestido. — Que merda! Será que nós… — Eu não sei. Você se lembra de alguma coisa? Ela negou e eu fechei meus olhos pedindo misericórdia. — Não tenho a mínima ideia do que possa ter acontecido, Cecília. A garota ficou calada por alguns segundos, até que murmurou: — Se provas são os fatos que precisamos, o seu lençol diz tudo e a dor leve entre minhas pernas também. Meus olhos bateram imediatamente no tecido branco, que estava sobre minha cama e lá estava realmente a prova que precisávamos. Só que a mancha de sangue, fazia-me sentir ainda pior. — Puta que pariu! — Encarei seus olhos e indaguei: — Você era virgem? Estava me sentindo o pior homem que podia existir na face da terra. — Sim… — Desculpa, Cecília! Por favor. Eu nem sei o que dizer, pois não me lembro de nada que aconteceu. — Adam, a culpa não é inteiramente sua, então não se preocupe em relação a isso. Quer dizer, eu acho melhor ir embora, para que possamos resfriar nossa cabeça e talvez assim nos lembrarmos de algo. Não sabia como reagir, não sabia o que fazer, não sabia de nada mais. — Eu posso me vestir e te levar, Cecília. — Não! — ela gritou. — Deixa que eu vou sozinha, para respirar e entender o que aconteceu. — Mas… Ela gesticulou em minha direção e caminhou para a porta do quarto. — Posso não me lembrar do caminho, mas eu irei achar. Fica aqui, Adam. Mesmo que ela tentasse ser imperceptível, percebi seus olhos passando por meu perfil e claro que eu sabia que Cecília estava reparando em meu corpo nu. Não sabia se morria de ódio por ter feito sexo com ela, se ficava com vergonha de não ter me controlado, ou se me achava o homem mais gato do mundo, só por aquela mulher me direcionar um olhar tão pecaminoso. A porta do quarto bateu e eu joguei o travesseiro longe. Que merda! Qual iria ser o meu tratamento com minha secretária agora? Eu tinha acabado de descobrir que passei a noite com ela e que ainda tirei sua virgindade. Aquilo não podia ser verdade. Neguei com a cabeça e achei por bem ir para o banho. Talvez a água fizesse com que algumas lembranças viessem à minha mente. Entrei no banheiro, fui para o box e liguei o chuveiro, deixando a água quente cair da cabeça aos pés. Fechei meus olhos e só tentei me lembrar de alguma coisa, no meio das lembranças conturbadas. A bebida tinha a leve mania de tirar um pouco da minha memória. Ainda mais quando passava da conta, já que não estava acostumado a ingerir bebida alcoólica. No entanto, eu parecia ter acertado no banho, pois foi só a água bater em minha pele que flashes começaram a surgir em minha mente. — Você é linda — comentei, enquanto tomava mais um gole do licor que estávamos experimentando em meu escritório. — Você também é, Adam. — Cecília mordeu seus lábios e eu quase pedi para que fizesse aquilo nos meus. Ela virou mais uma taça do licor e eu sabia que aquilo não terminaria bem. Estava mais alterado do que o normal, mas também não entendia o motivo de não parar com aquilo e continuar bebendo. Abri meus olhos, só que mais lembranças rodearam minha mente. Cecília deixou a taça que estava em sua mão cair e assim que se desesperou, pois tinha sujado o sofá do meu escritório e eu fui acalmá-la. Porém, paramos muito perto um do outro. Foi impossível não levar meus olhos para os seus lábios desenhados, que quase me chamavam para que grudássemos nossas bocas. Nem precisou que eu tomasse a iniciativa, ela se jogou em meus braços e atacou minha boca. Desliguei o chuveiro e saí do banheiro. Vesti um roupão e voltei para o quarto. Tirei o lençol da minha cama e o joguei no cesto. Não queria me lembrar mais da noite passada. Ela havia levado a pequena amizade que eu tinha com minha secretária por água abaixo e naquele momento teria que lidar com a merda das consequências que ficariam me rondando. Depois do meu pequeno surto, caminhei para fora do meu quarto e percebi que o apartamento estava uma zona. Apolo teria que arrumar aquela merda, pois eu falei para não fazer festa. Assim que achei meu celular, fui para ligar para ele, mas o infeliz surgiu da direção de um quarto de hóspedes. — Ei, bravinho. Eu já chamei a empresa de organização para vir dar uma geral aqui. — Que bom, Apolo. — Você está bravo assim só por causa do apartamento? Olhei para meu amigo e só consegui responder para ele: — Não! — Quer me dizer o que aconteceu? Ele se aproximou de mim e depois de um longo suspiro, constatei: — Estou fodido. — Por que, cara? Olhei para Apolo e não sabia se falava para ele o que aconteceu. No entanto, não achei que seria um pecado revelar o que havia ocorrido. — Eu dormi com a Cecília. — Puta que pariu! Sim, eram somente aquelas palavras que passavam por minha mente. Capítulo 7 Estava sentada sobre o sofá de Carla e ela me olhava com uma expressão séria, parecendo estar realmente preocupada. Seus cabelos cacheados estavam lindos como sempre e a sua pele de chocolate reluzia, completamente hidratada naquele dia ensolarado que fazia do lado de fora. Parei de reparar na beleza da minha amiga para concordar com ela, já que eu não tinha passado a noite em sua casa, não respondia suas mensagens e ainda cheguei em sua casa em total estado de choque. Tomei mais um gole da água com açúcar que ela havia me dado e fiquei encarando o nada por mais um tempo. Até que tive que olhar para Carla, quando ela reclamou: — Ou você diz o que aconteceu, ou terei que ligar para o Adam e perguntar que porra te fez chegar assim. Na verdade, aquilo era mais uma ameaça do que qualquer reclamação. Encarei minha amiga e engoli em seco com os pensamentos do que tinha acontecido mais cedo. Porque fui beber? Nunca tinha colocado uma gota de álcool em minha boca, não tinha motivo algum para provar aquele tipo de bebida. Como fui idiota! E pelo jeito, até Adam não se lembrava do que houve. Já que ele parecia tão verdadeiramente assustado. — Perdi minha virgindade. Revelei. Carla me encarou com os olhos arregalados e até sua boca ficou escancarada. Ela não disse mais nada, depois da minha revelação, provavelmente esperando que eu dissesse mais alguma coisa depois daquilo. — Com o Adam. Minha amiga levantou-se do sofá que estava e como a Kitnet que ela morava era tão pequena, não tinha espaço para ela andar, ou até mesmo pular da forma que queria. — Caralho! — gritou desesperada. Ainda bem que a sua companheira de casa, havia saído cedo, senão iria presenciar aquela maluquice. — Não acredito que ela ouviu meus conselhos e foi pra cama do chefe.— Ela se aproximou de mim, segurou minhas mãos e levantou-me do sofá. — Você é foda, minha amiga. Eu te venero, te admiro, você é demais. — Carla… — Não vem falar comigo dessa forma. Nem sei porquê essa cara de enterro, você perdeu sua virgindade com o homem mais gato de toda a face da Terra. Aquilo não era bem verdade, mas sim, Adam era lindo. — Como foi? Ele faz um sexo gostoso e te faz gozar loucamente? Ela queria saber coisas que eu não tinha como lhe contar nada. — Eu não lembro e nem ele. Carla que estava com um sorriso enorme no rosto, foi diminuindo-o pouco a pouco. — Como assim, Cecília? — Isso mesmo que você ouviu. Nós bebemos demais e acabamos perdendo o controle. Não lembro como fomos parar em sua cama, mas eu sei que não sou mais virgem. — Não acredito, Cecília! — Ela voltou a sentar e me puxou para sentar ao seu lado. — Será que ele abusou de você? Arregalei meus olhos e soltei quase como um grito ofendido. — Não, de jeito nenhum. Você tinha que estar lá, para perceber o quanto Adam estava desesperado. Eu sei que ele também não é de beber e nós acabamos bebendo demais, amiga. — Você nem bebe, como foi tomar tanto assim para se esquecer completamente do que aconteceu. Levei minhas mãos ao meu rosto e comecei a chorar. Estava sentindo uma pressão sobre o meu peito e eu tinha certeza que se não me perdesse em meio às lágrimas eu ficaria sem rumo. — Não sei porquê quis fazer algo tão ridículo assim. Mas gostei tanto de curtir um dia de paz, longe dos meus pais, que acabei cometendo essa loucura e agora estou aqui completamente envergonhada de ter ido para a cama com meu chefe e sem nem mesmo saber se sexo é bom. Se eu não estivesse tão deprimida, até acharia engraçada a merda que havia acontecido. Sempre pensei na minha primeira vez e agora que a tive, não sabia nem se era tão bom quanto falavam. — Sinto muito, amiga. Carla depositou sua mão em meu ombro e eu concordei. Depois tentei parar de ser melodramática, enxuguei meus olhos e disse para ela: — Preciso ir para casa. Vou tomar banho e ir embora. — Tá bom! Mas mesmo que esteja longe daqui, não se esqueça de me manter informada. Fiz o que falei que faria e logo já estava a caminho da minha casa. Não queria ir para aquele lugar, mas também não estava com a mínima vontade de ter que encarar a ira dos meus pais, caso eles me encontrassem em algum lugar que não fosse minha casa. Assim que cheguei, caminhei lentamente pelo prédio, até o elevador. Subi os andares pedindo para que nada desse errado e que meus pais não enchessem o saco. Já não bastava a dor de cabeça que eu estava sentindo. Provavelmente da ressaca da bebida que tomei em altas doses. Abri a porta da sala e logo a fiscal, mais conhecida como Martina — minha mãe —, apareceu e eu a encarei da mesma forma que ela me olhava. Ela parecia querer se mostrar superior a mim, mas sabíamos que ali não tinha ninguém melhor que ninguém. — Você parece cansada, Cecília. Elevei minha sobrancelha. Se ela soubesse ao menos o que tinha acontecido, provavelmente não estaria daquela forma. Ficaria nervosa e se deixasse poderia até começar a babar como um cão que nunca se vacinou contra raiva. — Passei a noite inteira acordada, para cuidar da Carla. — Sei — murmurou. Eu estava adorando mentir para minha mãe, parecia que aquilo era tão certo, mesmo que soubesse que era errado. — Bom dia, pra senhora! — Não tem nada de bom. Ainda não me conformo de a sua amiga ter, estrategicamente, se acidentado no dia que você passaria um tempo com seu pretendente. — Mamãe, como se a Carla quisesse se machucar por querer. — Não gosto dessa sua amiga. — Não gosta só por ela não ser do mesmo meio que vocês. Só que a Carla é uma pessoa muito legal. — Que seja! Vai se arrumar, pois hoje você conhecerá o Armando. Um sorriso diabólico surgiu no rosto da minha mãe e a vontade que eu tive foi de sair correndo, mas não podia, senão as coisas ficariam muito piores para o meu lado. — Armando é o escolhido de vocês? Sabia que era o próprio, no entanto gostava de implicar um pouco com meus pais, já que não era de ferro. Comecei a caminhar para o meu quarto, enquanto aguardava a resposta de Martina. — Sim, Cecília. E se tudo der certo e Armando gostar de você. O casamento será ainda esse ano. Encarei minha mãe por cima do ombro e engoli em seco. Não iria contestá-la, não iria contra os seus argumentos. Não adiantava, eu só gastaria saliva à toa. Então, resolvi só assentir. Assim que entrei em meu quarto, fechei a porta e encarei ao redor do lugar. Eu tive uma vida infeliz ali, desde quando virei adolescente e meus pais me obrigavam a seguir seus passos bitolados. Estava na hora de colocar ordem na minha vida. Mesmo que eu não soubesse o que faria, ainda mais que havia acordado na cama do meu chefe. Tinha quase certeza que aquilo não seria bom e talvez Adam até pudesse me demitir na segunda. O que eu faria com o novo caminho que a minha vida tomou? Não tinha a mínima ideia, só que teria que enfrentar de cabeça erguida. Capítulo 8 Sempre fui um homem decidido, nunca tive dificuldade alguma para enfrentar os problemas que eu tinha em minha vida. Só que podia dizer que naquele dia eu estava com medo. Medo de entrar na minha própria empresa. Que construí com muita luta, que venci a procrastinação e me tornei um CEO de sucesso. E por qual motivo estava com medo? Porque fui para a cama com minha secretária e nem sabíamos direito o que havia acontecido. Eu havia tirado a sua virgindade e somente flashes disparavam em minha mente, às vezes. — Tudo bem, senhor? — Um dos seguranças que ficava no estacionamento me perguntou. Provavelmente estava com cara de idiota, encarando o elevador, ou algum psicopata que esperava sua presa surgir para poder atacar. — Sim! — Fui um pouco grosso, mas não estava com vontade de conversar com ninguém. O homem se afastou de mim e eu achei por bem tomar coragem e encarar os meus problemas de frente. Tinha transado com minha secretária, tirado a sua virgindade, e estava na hora de resolver aquele pequeno problema. Entrei no elevador e apertei o botão que me levaria para o andar da presidência. Os andares foram passando mais rápido do que o normal e logo as portas se abriram e eu estava no lugar que protelei tanto para chegar. Não sabia como encarar a realidade do que estava acontecendo. Passei todo o final de semana sem saber como agir, sem saber o que fazer e até mesmo sem ter noção do que aquele acontecimento poderia gerar para mim. Se seriam sérios problemas ou se eu conseguiria resolver na base da conversa com Cecília. Quando contei para Apolo o que havia acontecido, ele caiu na gargalhada, mas depois de fazer chacota com a minha cara, ele até sugeriu que seria melhor eu não demitir minha secretária, senão ela poderia se voltar contra mim. Só que o imbecil do meu amigo, não entendia que eu não queria demitir Cecília. Que ela era uma pessoa incrível e merecia aquele emprego, mais do que muitas pessoas que apareciam por aí. Tomei coragem para caminhar em direção à minha sala. Cumprimentei algumas pessoas que passavam ao meu lado e continuei seguindo o meu caminho. Assim que cheguei em frente à mesa de Cecília, estaquei por um momento. Ela estava lá, resolvendo alguma coisa no computador, pois estava completamente centrada em sua tela. Só de vê-la naquele momento, novas imagens surgiram em minha mente da nossa noite juntos: Seus lábios eram macios, delicados e me dava mais vontade de sugá- los com ainda mais força. Tirei seu sutiã e logo seus seios ficaram expostos. Os mamilos rosados eram uma dádiva para observar e a vontade de chupá- los me tomou por completo. Sem esperar muito mais, deitei-a no sofá do escritório e fiz o que minha mente desejava e o que minha boca ansiava em sentir. Chupei com força seu botão de prazer e Cecília gemeu alto. Aquilo fez meu pau ficar duro como uma pedra e eu só pensava em fodê-la ali mesmo. Friccionei meu membro entre suas pernas, que estavamabertas e Cecília mexeu seu quadril de encontro ao meu. Balancei minha cabeça para tirar aquelas imagens da minha mente e voltei ao presente, no hall do meu escritório. Só que estava com um sério problema. Meu pau novamente estava duro, por causa de Cecília. Estava parecendo a porra de um tarado que eu não queria ser. Coloquei minha maleta em frente ao meu quadril e soltei um pigarro. Cecília tirou sua atenção da tela do computador e me encarou. Suas bochechas ficaram imediatamente vermelhas. — Bom dia! — cumprimentei. Ela ficou por um tempo me encarando, mas logo me respondeu: — Bom dia, senhor! — Venha até minha sala — ordenei, enquanto caminhei para dentro do lugar. Não demorou muito para que ela entrasse e fechasse a porta. Eu por outro lado, fiquei de costas para Cecília, pois estava com medo de atacá-la ou algo do tipo, caso ficasse encarando-a. — Pode falar, senhor. Sua voz parecia tão triste. Talvez ela pensasse que eu iria fazer algo contra ela. Voltei-me em sua direção, mas me mantive em uma distância adequada para não sentir nem o cheiro do seu perfume. — Você sabe que é uma profissional excelente? Queria deixar aquilo claro para Cecília não tomar nenhuma atitude precipitada e me deixar na mão, quando eu a queria como minha secretária. — Senhor, se for me demitir, diga logo. Não quero ficar pensando que irá me mandar embora, sendo que o senhor demora a tomar decisões importantes. — De onde você tirou isso? — Depois do que aconteceu na festa de aniversário do senhor. A única coisa que penso é que me mandará embora. — Cecília, pelo amor de Deus! Não irei demiti-la. Fiquei com medo de você pedir demissão, por causa de tudo que aconteceu. — Graças a Deus! Ela abaixou a cabeça e soltou um longo suspiro, mas logo voltou a me encarar, mesmo que aquilo parecesse deixá-la extremamente envergonhada. — O senhor se lembrou de algo? — indagou. — Sim! Alguns flashes estão passando por minha mente vagamente e você? — Não, senhor. — Fez uma pausa, no entanto, voltou a perguntar: — Realmente fizemos sexo? — Sim! Aquela palavra simples custou a sair da minha garganta. — Sinto muito, de verdade, não pensei que tomar alguma bebida alcóolica afetasse tanto o meu discernimento. — Não quero que pense nisso. Vamos esquecer e voltar a ser somente o que sempre fomos... bons amigos. Saí do meu lugar e me aproximei de onde ela estava. Naquele momento eu já me sentia forte o suficiente para chegar perto dela. Estendi minha mão em sua direção e mesmo com a sua demora em corresponder ao meu gesto, sabia que ela iria aceitar minha proposta. Quando sua mão delicada tocou a minha eu soube que talvez seria um grande erro manter Cecília na empresa, só que não conseguiria demiti-la. — Concordo com o senhor. — Que bom! Encarei seus olhos doces e quase implorei para ela me deixar tocar meus lábios nos seus, para provar se eram mesmo tão doces quanto pareciam. Só que preferi não fazer aquilo. — Então, vamos voltar a trabalhar? — Vamos, sim. Ela abriu um sorriso e eu retribuí da melhor forma que podia. Droga! Eu podia até me enganar, porém sabia que no fundo eu queria ter Cecília novamente, mesmo que não me lembrasse da nossa primeira vez. Logo eu que sempre fui um homem que evitou ter romances com qualquer mulher e até mesmo algum relacionamento. Agora queria minha secretária... Queria provar sua boca... Seu corpo... Queria Cecília. Como pude me viciar em uma pessoa que eu nem mesmo me lembrava direito da noite que tive com ela? Será que era o desconhecido que me fazia ficar daquela forma por ela? Só podia ser. Pois não era um homem que me encantava de maneira tão rápida. Mas por Cecília eu parecia estar completamente louco para prová-la novamente. Louco para tê-la, mesmo sem saber se eu gostaria tanto, quanto parecia que eu tinha gostado. Pelo jeito eu estava completamente fodido... E com vontade de ter minha secretária de novo. Capítulo 9 Os dias foram passando... Um mês e meio já nos separava daquele fatídico dia. Não éramos como antes. Não brincávamos como antigamente. Só que ao menos ainda trocávamos palavras e de vez em quando alguma piada. Que não tinha mais a intensidade que colocávamos em nossas brincadeiras. Adam e eu tínhamos nos tornado realmente um chefe e uma funcionária, meio robotizados. Infelizmente aquele era nosso destino, depois de termos tomado mais álcool do que o permitido e parado nus em uma cama. Naquele dia as coisas estavam mais estressantes, porque além de eu estar um pouco tonta, Adam estava um poço de nervosismo, pois um projeto da sua empresa tinha saído errado. E ele como um ótimo profissional, tentou acertá-lo sozinho e provavelmente iria trabalhar até mais tarde, por causa de erro de alguns funcionários. Olhei o relógio e eram seis da tarde. Não sabia se devia ir até sua sala avisar que estava indo embora, mas eu sempre fazia aquilo. Não era por ser um dia atípico, que eu não iria encarar o meu chefe de frente, como fiz em todo o meu tempo naquela empresa. Levantei-me da minha cadeira e fui até a sua sala. Dei duas batidas na porta e assim que recebi autorização para entrar, apontei meu rosto na sala e pude ver um Adam completamente diferente. Camisa dobrada até os cotovelos, a gravata não fazia mais parte do seu visual e estava jogada em cima do sofá, a mesma coisa acontecia com o seu casaco. — O senhor vai ficar até mais tarde? Adentrei por completo em sua sala. — Sim, Cecília. Esse projeto precisa ficar pronto hoje. Engoli em seco, pois até sua voz estava mais fria quando falava comigo. — Se o senhor quiser, eu posso ficar para ajudá-lo. Não sabia de onde tinha surgido aquele pensamento, mas mesmo assim falei as palavras em voz alta. — Cecília... — Adam levantou seus olhos em minha direção e logo continuou: — Não posso ficar em um lugar sozinho com você. Meu cenho franziu no mesmo momento em que ele disse tal coisa. — Por quê? — Quis saber. — Porque, você pode não ter se lembrado do que aconteceu, mas eu me lembro de muita coisa. Não tudo, só que o suficiente para fazer com que eu queira provar de novo. E adivinha? Eu não posso, pois você é a porra da minha secretária, que eu adoro. Engoli em seco com sua declaração, meu coração ainda disparou como se eu tivesse acabado de correr uma maratona de mais de cinquenta quilômetros. E se eu confessasse que eu também queria sentir novamente os lábios de Adam nos meus. Não que eu me lembrasse de alguma coisa do que aconteceu da primeira vez, só que aquilo era mais complicado, pois eu queria lembrar, queria saber como era beijar aquele homem que possuía os lábios desenhados. — Não me olha assim — ele avisou. — Assim como? — perguntei. — Como se quisesse que eu me levantasse daqui e te mostrasse um pouco das coisas de que eu me lembro. Como Adam conseguia me ler tão bem daquela maneira? — E se eu quisesse que você me mostrasse,já que não me lembro de nada e você está com mais vantagem do que eu, pois não lembro nem o sabor que o seu beijo tem. Um silêncio sepulcral caiu sobre o lugar assim que fechei minha boca e nem eu mesma acreditava no que tinha falado. Puta que pariu! Eu realmente tinha dito aquilo para o meu chefe? Só que eu consegui observar tudo que aconteceu depois de um tempo. Adam empurrou sua cadeira para trás, caminhou lentamente até onde eu estava e ficou alguns passos distantes de mim. — Não me tente, pois estou sendo muito forte para te respeitar. Naquele momento só vinham na minha mente as palavras de Carla: se ele fosse meu chefe já o teria atacado. — Eu posso ser respeitada e mesmo assim provar seus lábios, não? Provavelmente alguma coisa havia se apossado do meu corpo, já que eu não estava no meu normal. — Caralho! Foi a única coisa que Adam disse, antes de puxar minha cintura com sua mão e grudar nosso corpo, juntamente com os meus lábios nos seus. Eu não esperava ter a atmosfera toda mudada assim que nossas bocas se grudassem. Não esperava sentir um calor tomar todo o meu corpo, quandosentisse seus lábios nos meus. Não esperava flutuar ao ser beijada por Adam Romano. Aquele homem realmente sabia fazer com que a gente perdesse todo o sentido da vida. Sua língua encontrou a minha e começou a me devorar com mais intensidade. Aquilo não era um beijo, era um reconhecimento de almas. Parecia que eu precisava beijar ainda mais meu chefe para que eu entendesse realmente o motivo de ter sido agraciada com a minha vida. Adam me pegou em seus braços o que fez com que nossas bocas separassem, enquanto eu soltei um leve gritinho de susto por ter sido pega de surpresa. Seus olhos se encontraram com os meus e sem dizer nada, já que eu só via fogo neles, Adam caminhou comigo para o sofá do seu escritório. Quando colocou meu corpo no lugar macio, ele deitou o seu sobre o meu e voltou a me beijar. Só naquele momento, flashes do que aconteceu na noite em que eu estava bêbada bateram em minha mente, só que naquele momento não queria me lembrar de nada, já que estava vivenciando ao vivo. Minhas pernas estavam abertas e eu estava de vestido tubinho, o que facilitou para a mão de Adam grudar na barra da peça e começar a subi-la. Assim que o tecido estava na minha cintura e nossas línguas continuavam grudadas, seus dedos começaram a procurar minha calcinha. Não sabia o motivo, mas eu não relutaria, queria senti-lo me dar prazer. Aquela parte ainda não tinha retumbado em minha mente. Assim que seu dedo encostou em minha intimidade, soltei um gemido em sua boca e pude sentir que seus lábios sorriam grudados nos meus. Seus dedos me penetraram, eu senti uma leve ardência e no momento que fui começar a rebolar meu quadril em seus dedos, seu celular tocou, quebrando todo o encanto que estava acontecendo ali. Adam se afastou da minha boca e me encarou por alguns segundos, logo seus dedos se afastaram da minha intimidade e ele os levou à sua boca, sugando toda a umidade que estava neles. — Acho melhor você ir embora, Cecília. Senti-me um pouco humilhada com seu comentário, mas acabei assentindo, se era o que ele queria eu só aceitaria. — Sim, senhor! Quando ele se levantou de cima de mim, eu ajeitei minha roupa e antes de sair da sua sala, dei-lhe mais uma olhada e logo parti. Não era bom desejar meu chefe, só que agora que eu sabia o que ele poderia me proporcionar seria difícil. Ainda mais quando meus pais queriam me prometer a um homem com quem eu nem queria me casar. Eu queria mesmo era meu chefe, queria Adam me mostrando como era ser uma mulher desejada, tendo um homem que parecia entender o meu corpo. Não era para ter pensamentos de um futuro com ele, mas eu queria ser uma mulher normal que tinha uma vida sexual ativa. E com Adam eu tinha quase certeza que teria o que eu quisesse. A quantidade de orgasmos necessários para me sentir realizada e completamente saciada. Só que seria muito difícil ter o que eu necessitava, pois pelo jeito, meu chefe não queria se envolver com sua funcionária. Ou melhor, ele até poderia querer, mas seu lado gentil não estava deixando o devasso falar mais alto. Ele que estava certo, eu tinha me tornado uma safada do dia para noite. Peguei minha bolsa e saí da empresa. Era realmente melhor ir embora para o meu inferno particular do que ficar em um lugar que só sentiria desejo. Capítulo 10 Como eu poderia ser considerado uma pessoa boa depois das merdas que fiz? Caralho! Eu simplesmente agarrei a minha secretária e se meu celular não tivesse tocado, com toda certeza, naquele momento estaria fodendo Cecília no sofá do meu escritório. Que porra eu tinha na cabeça? Ainda bem que havia sido salvo por Apolo, que pareceu adivinhar que eu precisava de algum tipo de socorro. Não que fosse um crime, eu me aproximar de Cecília e até mesmo transar com ela novamente. Só que aquilo podia acabar muito mal se eu não soubesse me conter. Eu tinha que conseguir passar por aquela fase sem tentar experimentá- la novamente, senão eu não cumpriria com meu objetivo que seria nunca me envolver com ninguém, para não ter mais perdas em minha vida. Relacionamentos não eram para mim, então não tinha o porquê de eu me envolver com ela. Assim que terminei de resolver o problema com o projeto que tinha que entregar a um cliente, saí da empresa e fui logo para meu apartamento. Eu queria muito esquecer tudo que aconteceu no último mês. Não que fossem lembranças dolorosas, pelo contrário, eram boas demais e aquilo fazia com que meu pau tomasse a direção da minha vida. Pelo jeito eu iria ter que fazer alguma coisa com Cecília, pois minhas atitudes de horas antes me provaram que eu não estava preparado para encará-la tão de perto como pensei que estava. Até porque a merda dos flashes da nossa noite de sexo, não saíam da minha mente e toda vez que eu a via, queria tirar sua roupa e prová-la de novo só para ter a porra da certeza de que eu realmente havia provado o paraíso. Sim, estava comparando aquela mulher ao paraíso, pois era só assim que eu sabia denominar o que sentia quando vinha alguma imagem sua em minha mente. Estacionei meu carro e logo saí me dirigindo à minha cobertura. Uma decisão havia aparecido no meu caminho e não sabia como podia dizer a Cecília o que eu tinha decidido. Peguei meu celular e mesmo tentando evitar o máximo de contato com ela, tive que ligar em seu telefone. Na linha eu ouvi o som do toque por vários segundos, que pareceram horas, mas por fim, sua voz doce reverberou pelo aparelho. — Senhor? Ela por um momento pareceu preocupada, pois eu não tinha o costume de ligar. — Sim, Cecília! — sussurrei, e do outro lado pude ouvir seu suspiro. — Está precisando de alguma coisa? Podia falar ou gritar, dependia da minha necessidade, que estava precisando dela, só que nunca poderia dizer aquilo. Ainda mais para uma pessoa inocente como aquela menina. Eu não sabia de onde havia surgido a porra daquela vontade de tê-la nua em minha cama. Mas provavelmente era por eu não me lembrar cem por cento do que aconteceu na noite do meu aniversário. — Pensei em algo, que talvez você não entenda agora, mas que eu sei que será o melhor para nós. — Sabia que o senhor iria me demitir em algum momento, porém não imaginava que seria por telefone. De onde ela tirava aquelas ideias malucas? — Cecília, não viaja. Não irei te demitir, porque fui para a cama com você. — Não precisa falar dessa maneira — repreendeu-me do outro lado da linha. — Então não diga maluquices. Depois de mais um suspiro do outro lado da linha, ela indagou: — O que o senhor pensou? — Que você precisa de férias. — Senhor, não está na época... — Cecília, me ajuda a te ajudar. Garota, se você continuar indo para a empresa, enquanto eu não me sentir desintoxicado, terei que te foder e eu não quero parecer um chefe abusador. Então, por favor, aceite as suas férias. A mulher ficou por um tempo em silêncio e eu aguardei até que sua resposta viesse. — Como o senhor quiser. Já que parece que não está preparado para enfrentar seus problemas de frente. — Não estou mesmo. Não quando eu te quero e não posso te querer. — Porque diz isso? Foi só sexo e não é o fim do mundo. — Eu sei, mas preferia que fosse, pois assim acabaria com o que aconteceu. — Nossa... Sua expressão me mostrou que eu tinha sido um grande de um idiota em relação à nossa noite esquecida. — Não quis dizer isso... — O senhor quis. Mas tudo bem, eu aceito as férias. Agora vou desligar, pois estou um pouco enjoada e odeio vomitar. Então, vou tentar dormir mais cedo para que eu melhore. Ainda mais que não preciso ir amanhã ao trabalho, certo? — Isso mesmo. Descanse e espero que melhore logo. — Boa noite! — Ela me cortou. Logo a ligação foi encerrada e meus olhos se fecharam no mesmo instante. Eu ainda tinha pensado que continuaríamos amigos, mas depois daquela ligação percebi que Cecília e eu nunca mais voltaríamos a ter aquela relação gostosa que tínhamos. O que era uma pena, no entanto se fosse necessário me afastar dela, então eu preferia que fosse daquele jeito do que voltara ter algum tipo de envolvimento com ela e depois as coisas ficarem ainda mais complicadas. Entrei no elevador e assim que ele abriu suas portas no meu apartamento eu só queria esquecer todos os problemas que cercavam minha vida naquele momento. Era por isso que não devia me envolver com ninguém… E por esse motivo tinha que tirar minha secretária da minha mente. *** Quinze dias que eu estava em casa, em minhas férias forçadas, que eu não sabia se chorava ou se pedia socorro. Já não bastava ter que aguentar meus pais, o meu pretendente que era um idiota e ainda ficar doente. Sim, estavam sendo os piores dias da minha vida, ainda mais que passava a maioria das vezes tonta, ou com vontade de jogar toda a comida que eu tinha comido para fora do meu estômago, eu estava deitada morrendo de sono. Não sabia o que tinha acontecido comigo, já que nunca fui de ficar doente e nem indisposta. E foi exatamente por isso que a minha mãe — que nunca se preocupa com a minha saúde — resolveu que naquele dia iríamos ao médico. — Espero que seja somente uma virose, Cecília. — Minha mãe murmurou. Enquanto o táxi seguia para a clínica que ela havia marcado a minha consulta. — Claro que vai ser, mamãe. O que mais poderia ser? Encarei-a e quase revirei os olhos. O que ela estava pensando? — E eu continuo dizendo que espero mesmo que seja. Franzi meu cenho, sem entender o que dona Martina estava querendo insinuar, mas tudo bem. Ela sempre estava cheia de neuras, então aquela só podia ser mais alguma. Assim que chegamos, caminhamos para dentro do lugar e eu fiquei sentada na sala de espera até que chamaram meu nome. Quando levantei, mais uma vez uma indisposição me atingiu e eu quase caí no chão, por sorte minha mãe me apoiou. — Você não está normal, Cecília! — Eu sei, mamãe. Também estou começando a ficar preocupada, pois nunca tive algo do tipo. Caminhamos em silêncio, depois daquilo, para a sala da Dra Vitória. — Bom dia! — Bom dia, doutora. — Minha mãe e eu respondemos juntas. — No que posso ajudá-las? — A mulher ruiva, perguntou, assim que nos sentamos na poltrona em frente à sua cadeira. — Bom, doutora… Comecei a contar tudo o que estava passando naqueles últimos dias. Relatei cada detalhe, cada enjoo, cada tontura, cada mal-estar e até mesmo o sono excessivo. A mulher ficou com um sorrisinho besta em seus lábios e eu estava quase com vontade de mandá-la ir a merda, por estar rindo da desgraça alheia. Achei por bem também, falar que meu humor estava inconstante, no mesmo momento em que eu era um doce, eu queria jogar uma bomba no mundo. — Entendi! — Ela fez uma pausa, mas logo voltou a dizer: — Quando foi sua última menstruação? Aquela pergunta me pegou de surpresa, pois não me lembrava quando tinha sido aquele último ciclo de sofrimento. Já que eu não era a amante do período menstrual, como a maioria das mulheres. — Não me lembro — respondi, um pouco em choque. — Como assim, Cecília? — Minha mãe me encarou com a expressão raivosa que ela sempre direcionava a mim e eu quase vomitei nela. Pois quanto mais nervosa eu ficava, mais vontade de vomitar eu sentia. Não podia ser o que eu estava pensando. — Irei te passar um exame que fica pronto em meia hora, só para tirar minhas dúvidas. Ela me passou um pedido de Beta HCG e meu coração começou a disparar. Já que eu sabia muito bem do que se tratava aquilo. — Acho que a senhora está enganada — tentei argumentar. — Tenho quase certeza de que não. — Doutora, isso é impossível. Minha filha é virgem — Martina esbravejou. A doutora Vitória me encarou e eu não soube o que responder. Só abaixei meus olhos em direção às minhas mãos, que estavam entrelaçadas em meu colo. E eu pensei que a vida não podia piorar. Como eu podia ser tão ingênua? — Diga a ela, Cecília. Que é impossível você estar grávida. Minha mãe levantou meu rosto abruptamente para eu encará-la e eu engoli em seco. Sabia muito bem que aquilo não daria certo, que quando ela descobrisse faria o pior comigo. — Mãe… eu… Não sei como aconteceu, mas logo eu senti sua mão estalar um tapa em meu rosto. E eu sabia que aquilo seria somente o começo. E para piorar, o bebê que eu tinha quase certeza que estava esperando, era do meu chefe. O único homem com quem eu fui para a cama. O homem que queria me evitar, mas que agora teria que lidar com as consequências de uma noite cheia de inconsequência, junto comigo. Puta que pariu! Eu estava grávida do meu chefe. Capítulo 11 Estava preparando uma massa ao alho e óleo, com pequenos pedaços de bacon e o cheiro tomava todo o ambiente. Naquele dia em questão eu me dei ao luxo de cozinhar, já que na maioria dos finais de semana costumava pedir comida por aplicativo. No entanto, estava enjoado de fazer isso e resolvi me mimar naquele sábado. Que não estava nada bonito, já que o dia havia amanhecido nublado e estava parecendo que a qualquer momento as nuvens escuras iriam desabar e trariam uma chuva torrencial. Assim que finalizei meu macarrão, coloquei uma parte em meu prato, peguei uma faca e um garfo e caminhei para a mesa que ficava perto da sacada. Iria comer — sozinho, só para variar um pouco —, enquanto admirava a vista esplêndida do lugar que eu morava. Havia quinze dias que eu tinha conseguido me desintoxicar um pouco de Cecília e aquilo até me havia feito ficar com um humor melhor. Talvez quando ela voltasse das férias, eu nem iria pensar mais em nossa noite insana e cheia de bebedeira. Levei a primeira garfada à boca e apreciei o gosto do macarrão. Estava completamente divino. Eu realmente era bom para cozinhar e se tudo desse errado em minha empresa, poderia montar um restaurante. Quando estava na metade da minha refeição, meu interfone tocou. Fechei meus olhos e quase fingi que não estava em casa. Só que fiquei com medo de ser algo sério, já que eu quase nunca recebia visita. Deixei os talheres sobre o prato e caminhei até o lugar que tocava insistentemente. — Olá! — Senhor Romano? — Percebi ser Saulo, o porteiro do prédio. — Sim, Saulo. — Tem uma moça aqui embaixo querendo falar com o senhor. Aquilo ficou ainda mais estranho. Já que eram poucas as mulheres que sabiam onde eu morava. — Qual o nome dela? O homem demorou alguns segundos para me responder, mas quando o fez, eu soube que talvez eu não estivesse tão imune como pensei que estava em relação a Cecília. — Ela disse ser Cecília. O que ela queria ali? — Bom... — Tive que fazer uma pausa para pensar no que responder. Iria deixá-la subir? Afinal, eu tinha lhe dado férias, para não termos contato por um mês, a fim de que eu nunca mais tentasse fazer o que fiz no escritório há algumas semanas. — Saulo... — Senhor... — O homem sussurrou. — Ela não está bem. Está chorando e tem um machucado no rosto. Aquilo me fez entrar em alerta imediatamente. — Deixe-a subir — ordenei. O homem desligou e eu fui para a frente do elevador, para aguardar Cecília. O elevador daquela, como todas as vezes que precisava dele, parecia uma lesma. Depois de alguns minutos, abriu suas portas e Cecília apareceu em meu apartamento completamente abatida. — O que foi? — questionei, indo em sua direção. Ela carregava uma mala de mão, mas chorava tanto que eu nem sabia como agir. — Cecília? — Levei minhas mãos aos seus braços e ela encarou meus olhos. — O que aconteceu? Os seus estavam vermelhos devido às lágrimas e eu fiquei com muito medo que algo muito ruim tivesse acontecido a ela. — Me ajuda. Não tenho para onde ir, a minha única amiga não sabe como me ajudar e a única saída que tenho é você. Ela chorava desesperada e eu não resisti a puxá-la para os meus braços, para poder acalentá-la, pois só daquela maneira parecia que ela se acalmaria um pouco mais. No entanto, pareceu ser o ápice para que chorasse ainda mais. — Você precisa me dizer o que aconteceu. — Eles me colocaram para fora, Adam. — Eles quem? — perguntei. Só que no fundo eu sabia que eram aqueles imbecis, que ainda se chamavam de pais. — Meus pais. —
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