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Caso Clínico - Fisioterapia No Tratamento Da Incontinência Urinária Aurora da Silva, nascida em 09/03/67, hoje com 53 anos, do lar, hipertensa, mãe de 4 filhos todos nascidos de parto normal e histerectomizada a 5 anos. Em uma consulta de rotina com seu ginecologista, Dr. Pedro, dona Aurora relata que não consegue segurar o xixi quando ela tosse, quando espirra, quando sobe e desce as escadas de sua casa, quando ela faz algumas atividades domésticas, e muitas vezes sente uma vontade repentina de fazer xixi, mais não consegue chegar até o banheiro (SIC). Ela também não faz longas viagens com a família, não vai à missa com a família e não toma café da tarde com as amigas porque se sente constrangida pela situação. Aurora faz uso de medicamento para tratar a hipertensão duas vezes ao dia, de manhã e à noite (Losartana 50mg) e com isso ela vai ao banheiro de oito a mais vezes no dia e duas vezes durante a noite. O médico pede para examinar dona Aurora e observa que ela tem uma perda de urina pela uretra de modo sincronizado ao esforço. Para complementar o diagnóstico, Dr. Pedro solicita o Estudo Urodinâmico para a paciente. Uma semana depois, Dona Aurora retorna ao consultório com o resultado do exame: RESULTADOS NORMAIS PARA REFERÊNCIA RESULTADOS DO EXAME DE DONA AURORA DESEJO MICCIONAL – 1º DESEJO Normal Diminuído SENSIBILIDADE Normal Aumentada PRESSÃO DE PERDA POR ESFORÇO Não é referida 48cmH²O CONTRAÇÃO INVOLUNTÁRIA Ausente Presente PERDA URINÁRIA Ausente Presente CCMáx Normal Diminuída Após interpretar os resultados do exame, Dr. Pedro confirma o diagnóstico de dona Aurora como Incontinência Urinária e a encaminha para um serviço de Fisioterapia para começar o tratamento. Ao chegar a Clínica de sua cidade com o encaminhamento do médico e o exame em mãos, Dona Aurora é atendida. A fisioterapeuta colhe a anamnese e em seguida o exame físico e observa os seguintes dados: Na Inspeção: aspectos dérmicos normais, vulva fechada, presença de cicatriz de episiorrafia antiga, sem presença de assaduras, sem secreções; Na Palpação: (avaliação funcional do assoalho pélvico) (P) ela apresenta grau de força 3 (segundo Escala de Oxford); (E) com contração lenta de 3 segundos; (R) mantidas por 5 vezes (F) de forma rápida por 3 vezes; A fisioterapeuta também aplica o questionário de qualidade de vida Kings’s Health Questionnaire (KHQ’s) obtendo os seguintes escores: · Percepção geral de Saúde:50 · Impacto da IU: 75 · Limitações de tarefas: 75 · Limitações Físicas: 66,66 · Limitações Sociais: 100 · Relações Pessoais: 25 · Emoções: 50 · Sono e Disposição: 50 · Medidas de Segurança: 50 1) Elaborar o Diagnóstico Cinético Funcional da Paciente (Comprometimentos, Disfunção, Limitação Funcional e Incapacidade): · Comprometimentos: · Poliúria; · Noctúria; · Diminuição de força dos músculos do assoalho pélvico; · Imperiosidade miccional. · Disfunção: · Dificuldade para contrair o MAP; · Dificuldade para armazenar urina. · Limitação Funcional: · Não consegue segurar urina ao esforço; · Não consegue segurar urina ao desejo repentino. · Incapacidade: · Não realiza as atividades de lazer (viagens, ir a igreja, não tomar café com as amigas). 2) Elaborar os Objetivos Específicos e Gerais do tratamento fisioterapêutico: · Objetivos Específicos: · Inibir as contrações involuntárias do M. detrusor; · Reeducar e melhorar a força de contração do MAP. · Objetivos Gerais: · Aumentar o tônus estático; · Melhorar a resposta muscular do MAP; · Aumentar a eficiência da contração reflexa durante o esforço; · Melhorar a qualidade de vida; · Fortalecer o componente uretral do esfíncter uretral externo; · Aumentar força dos músculos correlatos; · Melhorar a função esfincteriana; · Melhorar a função sexual; · Diminuir a hiperatividade detrusora. 3) Construir a Programação do Tratamento fisioterapêutico explicando de forma detalhada cada exercício: 1° - Cone vaginal: · Posicione o cone dentro do canal vaginal (envolvido com uma camisinha) acima dos músculos do assoalho pélvico; · Paciente posicionada em pé; · Contrair o MAP de forma mantida por 3 segundos; · Relaxamento por 6 segundos; · Repetir cada contração e relaxamento por um total de 5 contrações; · A contração e relaxamento deve estar associada com uma respiração lenta, suave e profunda; · Realizar: 3 séries de 5 contrações. · Conforme a paciente vá ganhando resistência, aumentar o peso do cone vaginal, sendo iniciando com 20g podendo chegar a 100g e a quantidade de contrações. · A paciente deve ser instruída a usar o cone vaginal em casa enquanto faz suas atividades diárias, por exemplo: Ao subir escadas, varrer a casa, lavar louças, ao levantar peso. Biofeedback muscular: · Fisioterapeuta explica o funcionamento do equipamento à paciente; · A sonda endovaginal deve ser introduzida no canal vaginal, a qual deve estar envolvida com uma camisinha; · O equipamento deve estar programado, com o objetivo, o tempo de contração (3 segundos), o tempo de relaxamento (6 segundos) e o tempo de tratamento; · O fisioterapeuta insufla a sonda e de acordo com os sensores luminosos do aparelho a paciente irá contrair o máximo que puder e em seguida relaxar; · O fisioterapeuta deve estar atento para dar os comandos verbais a paciente e a estimular; · Realizar por 15 minutos 2 vezes por semana. Inibição vesical - técnica do nervo tibial posterior: · Terapeuta deve posicionar paciente sentada e orientar sobre a intervenção; · Posicionar um eletrodo posteriormente ao maléolo e o outro 15 cm acima; · O nervo pudendo será estimulado de forma reflexa; · Realizar por 20 minutos. Eletroestimulação para ativação muscular · Paciente posicionada em Decúbito Dorsal; · A sonda intracavitária deve ser introduzida no canal vaginal; · A programação da corrente deve ser de uma alta frequência (50-100hz) e uma largura de pulso de 0,2 a 0,5ms; · O tempo de contração é de 3 segundos e o de relaxamento 6 segundos; · Realizar por 20 minutos. Exercícios de Kegel: Exercício 1: · Paciente posicionada em decúbito dorsal com os pés apoiados e joelho flexionado; · Deverá fazer uma anteroversão da pelve ao mesmo tempo que irá inspirar e em seguida uma retroversão da pelve, ao mesmo tempo em que expira; · O fisioterapeuta deve instruir a paciente para que realize a contração do MAP durante o exercício. · Realizar 3 séries de 10 repetições. Exercício 2: · Paciente posicionada em pé encostada em uma parede; · Deverá fazer uma anteroversão pélvica, onde deve estar em relaxamento, e em seguida uma retroversão, contraindo MAP, abdômen e glúteo. · Realizar 3 séries de 10 repetições. Exercício 3: · Paciente posicionada sentada em uma bola de pilates com descarga de peso nos ísquios; · A paciente deverá realizar a anteroversão pélvica, ao tempo que inspira e a retroversão, ao tempo que expira; · O movimento deve ser associado com a contração do MAP; · Realizar 3 séries de 10 repetições. Exercício 4: · Paciente posicionada em decúbito dorsal com os pés apoiados e joelhos fletidos; · O fisioterapeuta irá colocar uma bola entre os joelhos da paciente; · A paciente deverá fazer a adução e ao mesmo tempo a contração do MAP · Deve permanecer em adução e com contração mantida por 3 segundos. · Realizar 3 séries de 10 repetições. Exercício 5: · Paciente posicionada em decúbito dorsal com joelhos fletidos e pés apoiados; · O fisioterapeuta coloca uma bola entre os dois joelhos da paciente; · A paciente deverá fazer uma elevação pélvica (ponte), e uma adução do quadril, contraindo os MAP por 3 segundos; · Em seguida retorna a posição inicial, relaxa por 6 segundos e repete o exercício; · Realizar 2 séries de 8 repetições. Exercício 6: · Paciente posicionada em pé em cima de uma cama elástica; · Ela deverá dar pulos curtos, passando de um pé para outro; · O fisioterapeuta se posiciona a frente da paciente com uma bola, a qual irá jogar para a paciente; · A paciente pega a bola (sem parar de pular) e joga de volta para o fisioterapeuta; · Realizar de 3-5 minutos. Exercício 7: · Pacienteposicionada sentada com joelhos a 90°; · Deverá contrair os músculos do assoalho pélvico e ficar em pé; · Na posição em pé irá relaxar; · Em seguida contrai o MAP e senta novamente, relaxando os músculos; · Realizar 3 séries de 10 repetições. Exercício 8: · Paciente posicionada sentada com os joelhos a 90°; · Deverá contrair o MAP e realizar uma tosse forçada; · Em seguida, relaxa os músculos. · Realizar 2 séries de 6 repetições. Exercício 9: · Paciente posicionada em pé encostada em uma parede; · Deverá realizar uma flexão de joelho a cerca de 50° (como se fosse agachar) ao mesmo tempo que contrai os músculos do assoalho pélvico; · Deve manter a posição e a contração por 3 segundos, voltar à posição inicial e relaxar. · Realizar 3 séries de 12 repetições. Exercício 10: · Paciente sentada com os joelhos a 90° e as mão posicionadas nos ísquios; · Deverá realizar uma anteroversão pélvica juntamente com a inspiração e contração mantida por 3 segundos do MAP; · Após 3 segundos irá fazer uma retroversão juntamente com a expiração e o relaxamento do MAP. · Realizar 3 séries de 10 repetições. Exercício 11: · Paciente posicionada em gato; · Simultaneamente levante o braço direito e a perna esquerda, fazendo a contração do assoalho pélvico; · Mantenha por 3 segundos, relaxe voltando à posição inicial e levante os membros opostos; · Realizar 3 séries de 10 repetições. 4) Elaborar o Prognóstico Fisioterapêutico baseado na avaliação fisioterapêutica e estudo urodinâmico: O prognóstico da paciente será positivo, pois ainda que apresente vários comprometimentos, e uma contração involuntária do músculo detrusor e disfunção do MAP, com o tratamento fisioterapêutico e com a colaboração da paciente, adquirindo consciência corporal, será possível inibir as contrações involuntárias do M. detrusor, reeducar e aumentar a força de contração do MAP para se ter continência, sendo assim, será positivo para a incontinência urinária. Referência: L., M. A. Fisioterapia em uroginecologia 2a ed..: Editora Manole, 2009. 9788520459539. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520459539/. Acesso em: 19 Mar 2021
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