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Fichamento TS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - CCHLA
GRUPO DE ESTUDOS EM FILOSOFIA E CRÍTICA SOCIAL - GEFICS/DGP/CNPq
Disciplina: Trabalho e Sociabilidade - Período letivo: 2020.2
Discente: Julia Magna Estrela Matrícula: 20190099996; Nicolle Carvalho Matrícula: 20190084115 ; Maria Kaliane Matrícula: 0000000
FICHAMENTO COMENTADO
(Leia o tutorial de fichamento para identificar os tipos de fichamento. Aqui deverá ser usado os tipos de resumo + bibliográfico, que chamaremos de fichamento comentado)
Referências bibliográficas: 
· ALMEIDA, F. M. Flamboyant shopping center: entre trabalho, lazer e consumo. 2016. 107 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2016.
· PADILHA, Valquíria. A sociologia vai ao shopping center. Ciência Hoje, São Paulo, v. 40, n. 237, 2007.
Os Shoppings centers surgiram nos Estados Unidos na década de 1950, no Brasil somente em 1966 com a inauguração do shopping Iguatemi, são espaços conhecidos por basicamente todas as pessoas como uma das maiores atrativas atuais para ocupação do tempo livre. São espaços privados, planejados para a supremacia da ação de comprar, onde é marcante a distinção social, sensação de segurança e ilusão de felicidade e liberdade, e que durante a ascensão da produção em massa e ressignificação das mercadorias cada vez mais os vendedores detinham de uma árdua tarefa de vender aquela mercadoria que não detinha “utilidade” como antes.
No brasil o que conhecemos como S.C pode ser entendido como um espaço privado – que se diz público– criado para ser uma solução dos problemas da cidade onde reinam desajustes, desigualdades, contradições, imprevistos. Por isto se considera a cidade como o ‘mundo de fora’ e os shoppings como ‘mundo de dentro’: O ‘mundo de fora’ é a realidade-real, o espaço urbano e seu caráter público, já o ‘mundo de dentro’ conta numa realidade construída artificialmente, limpo e isento dos fatores que agem no ‘mundo de fora’ – chuva, sol, frio, neve, mendigos, pedintes, trânsito, poluição etc.
Para suscitar a vontade de olhar as mercadorias e o desejo de comprá-las, suspendia-se o caráter de utilidade dos objetos, no qual se privilegia o prazer de adquirir algo diferente. O estímulo ao consumo presente nos shopping centers e na publicidade dos dias atuais originou-se nessa fase do desenvolvimento do capitalismo em que se combinaram produção industrial em massa e crescimento do mercado urbano com as lojas de departamentos e galerias.
O consumo de mercadorias começou, então, a significar um gigante aprofundamento em fantasia e status social, já que os objetos passaram a ser adquiridos somente pelo significado social de sua posse, mas sociedades capitalistas, o homem não produz mais apenas para satisfazer suas necessidades originais. Um exemplo interessante que se pode citar é o atual interesse da sociedade de adquirir um dos smartphones mais caros do mercado por status, pois há aparelhos com melhores especificações e em preço até mais em conta dependendo do interesse do consumidor.
A produção capitalista gera excedentes que não são calculados com base nas necessidades naturais do homem e sim nas do capital, o qual, por sua vez, precisa criar necessidades para estimular a demanda e o consumo. Assim, a produção deve visar a um consumo descartável, uma cultura do desperdício, o que reflete o princípio da ‘obsolescência planejada’ (os objetos são feitos para serem obsoletos). Esse sistema precisa sempre aumentar a produção de mercadorias em quantidade e variedade, mas não em qualidade e durabilidade.
A crescente racionalização e reestruturação do modo de produção capitalista (MPC) trouxeram mudanças significativas na estrutura do capitalismo, uma delas é a tomada de consciência da classe trabalhadora da grande exploração capitalista da qual estes sofriam. Isto foi o que deu início a lutas sociais que os fez conquistar alguns direitos tais como a redução da jornada de trabalho e por consequência o aumento do tempo livre que estes viriam a ter fora do ambiente de trabalho. Acho importante citar que sim houve diminuição da jornada, porém também ocorreu em alguns ambientes (como o shopping center) há a intensificação da exploração do trabalhador por meio de sistema de ganho por comissão, metas atingidas e horas extras.
Contudo, o que se pode perceber é que ao utilizar de seu tempo livre o trabalhador acaba por intensificar o consumismo e a continuar refém do capitalismo, é como se o tempo livre não fosse livre de fato, pois ele fica aprisionado nesse tempo naquele ambiente por meio de regras e propagandas controlados pela burguesia para ditar o que ele deve consumir, se prestar atenção a cada canto que se olhar dentro de um shopping você vê uma propaganda, na porta do elevador, na escada rolante, em cartazes enormes caindo do teto e de vários e vários estandes ao longo do caminho entre as lojas. 
Um claro exemplo da racionalização do capital são os shoppings centers que se tornam templos de consumo fazendo com que suas relações sociais e necessidades pessoais tornem-se materializadas. O que se tem claro é a cultura do consumo, da qual os trabalhadores dos SC participam, tal cultura acaba por tornar as relações sociais cada vez mais permeadas pela mercadoria, e com suas jornadas de trabalho chegando a até 10h por dia, os trabalhadores de SC usufruem de seu tempo livre em seu próprio ambiente de trabalho, ou seja, o lazer deles é objetivado e programado para isso.
O fordismo, o taylorismo e o Toyotismo foram as três etapas do desenvolvimento capitalista que antecederam a revolução informacional do nosso tempo. Algumas das principais características desses modelos são:
	Taylorismo: Grande preocupação com o tempo de trabalho; Racionalização do processo de trabalho; Caráter burocrático, rígido, hierárquico, a produção era centralizada e baseada no sistema Just in Case (JIC); Preocupação com maior extração do mais-valor relativo ou seja: ampliação da produtividade física do trabalho por meio da mecanização.
	Fordismo: Produção em massa através da linha de montagem de produtos mais homogêneos; Controle dos tempos; Separação entre elaboração e execução no processo de trabalho; Fábricas centralizadas e verticalizas; existia um perfil de trabalhador coletivo fabril.
	Toyotismo: Substituíram-se as ordens pelas regras: ideologia que fazia o trabalhador pensar que era parte importante da empresa, que deveria ser defendida e idolatrada; responsável por um processo de “flexibilização das jornadas de trabalho” e “flexibilização dos processos de trabalho”; Surgimento do Estado neoliberal (defende a intervenção mínima do estado na economia, a privatização, o predomínio do mercado e o corte dos gastos públicos).
Tanto o taylorismo como o fordismo antes citados surgiram numa época em que as políticas keynesianas aplicavam condições necessárias para o funcionamento e a regulação do modo de produção capitalista. Por mais que fosse somente uma forma de manutenção desse sistema os trabalhadores possuíam alguns direitos, (jornada de trabalho estabelecida, o direito a educação, o auxílio desemprego e a garantia de uma renda) esses métodos de acumulação surgem numa época em que o estado ainda era responsável por regular a economia e determinar alguns direitos fundamentais para a população.
As políticas sociais keynesianas impostas no Estado liberal-democrático, o processo de reestruturação produtiva e de globalização e internacionalização da economia entram em decadência no período da crise pós-guerra nas décadas de 1960/1970, como consequência desse processo os regimes fordista e taylorista também vão sofrer uma crise e passam por uma mudança radical que vai dar origem a um novo regime de acumulação dentro do modo de produção capitalista.
É nesse contexto que surge em 1980 o regime de acumulação Toyotista, esse novo/atual sistema de acumulação encontra-se inserido num sistema estatal liberal-democrático, do qual significou a concessão ao movimento operário, regularização de partidos e sindicatosalém da ampliação da legislação trabalhista. Assim, esse sistema deve ser entendido como um modo de regulamentação e organização da produção, das fábricas e do trabalho que possui como características a descentralização; a tecnologia avançada; o sistema Just In Time (JIT) (modelo onde a produção não é mais produzida em massa (Just in Case- JIC) mas é produzida através da demanda por produto) e a flexibilização e integração das subjetividades dos trabalhadores. (No texto ainda se comenta que não existe flexibilização dos processos de trabalho e nem um relaxamento na disciplina fabril dos trabalhadores; o termo flexível é apenas mais uma tentativa de a burguesia esconder o verdadeiro sentido do processo de superexploração sofrido pelo proletariado.)
Hoje se tem um processo muito maior e melhor articulado de extração de mais-valor relativo dos trabalhadores, ou seja, um conjunto de discursos, ideias, equipamentos, materiais, leis e códigos que propiciam a burguesia uma grande facilidade para exercerem o processo de exploração dos trabalhadores. A acumulação integral invade todas as esferas da vida social do trabalhador, ela não ocorre só e apenas no ambiente fabril, ela engloba a esfera política, econômica e social do trabalhador, toma conta da cultura e se coloca a serviço dos interesses do capital. Pensando pela lógica da acumulação integral e levando em consideração o processo de reestruturação produtiva e as transformações no mundo do trabalho, dois campos de estudo estão sendo enquadrados: o lazer e o consumo
Estudos desenvolvidos na área do trabalho, do consumo e do lazer, possuem uma análise crítica sobre estes temas e trazem à tona a verdadeira face do capitalismo: a exploração e precarização do trabalho e o controle do tempo livre dos trabalhadores através do lazer programado. Padilha (2012) argumenta que a concepção de lazer funcional desenvolvida por Dumazedier vê essa prática como algo que se opõe ao trabalho e que serve como prazer ou liberação, o que consequentemente faz com que o lazer tenha a função de trazer harmonia e equilíbrio à sociedade. Essa visão não se preocupa em questionar o porquê da sociedade capitalista ter que desenvolver um tipo de lazer para devolver ao trabalhador a sua felicidade que lhe é tomada durante o seu tempo livre de trabalho, essa concepção de lazer não parte de uma perspectiva histórica e nem dialética, não compreende o lazer como uma categoria histórica e socialmente construída que vive em um complexo emaranhado de contradições portanto essa visão não questiona e nem apresenta soluções ou caminhos para a superação do lazer programado e objetivado dos trabalhadores que faz com que suas relações sociais de todos os tipos (econômicas, políticas, culturais etc.) sejam fetichizadas e reificadas através do consumismo e da apropriação do seu tempo livre de trabalho.
Em uma sociedade onde o modo de produção capitalista está em vigência, a mercadoria perde o seu valor de uso e passa a ter valor de troca, ou seja, para que se produzam mercadorias é preciso que essa mercadoria seja transferida para alguém que queira utilizá-la e para que isso seja possível, é necessário que se tenha uma divisão social do trabalho. Segundo Marx: 
“Numa sociedade cujos produtos assumem, genericamente, a forma de mercadoria, isto é, numa sociedade de produtores de mercadorias, desenvolve-se essa diferença qualitativa dos trabalhos úteis, executados independentemente uns dos outros, como negócios privados de produtores autônomos, num sistema complexo, numa divisão social do trabalho” (MARX, 1983, p.50). 
“A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso” (MARX, op. cit., p.45).
Sobre a relação que existe entre a mercadoria e o trabalho alienado: 
“Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados, e desaparecem também, portanto, as diferentes formas concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se um do outro para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato” (MARX, op. cit., p.47)
Para Marx, tal processo de alienação se reproduz de três formas:
 A primeira forma de reprodução da alienação ocorre em sua relação com os frutos de seu trabalho, ou seja, a mercadoria que é produzida pelo trabalhador não é mais reconhecida por ele; o trabalhador não sabe qual a finalidade daquela mercadoria e nem quem vai utilizá-la, a única coisa que ele sabe é que ele não poderá possui-la devido ao seu alto custo. A segunda forma de reprodução da alienação ocorre no processo de produção de mercadorias. O trabalhador não se reconhece em seu trabalho; ele se torna infeliz e não se afirmar no seu ambiente de trabalho. O trabalho se torna uma prisão, um fardo para o trabalhador fazendo com que ele se sinta cansado e desmotivado. O trabalho deixa de ser uma atividade realizadora e transformadora do ser social e passa a ser uma atividade obrigatória, forçada, um sacrifício. A terceira forma de reprodução da alienação ocorre porque no modo de produção capitalista o trabalhador transforma o seu trabalho apenas em um meio de sua existência, ou seja, o trabalho não é mais uma atividade vital que transforma o ser genérico, mas apenas uma atividade que supre as necessidades vitais do trabalhador como comer, beber, comprar roupas etc.
O shopping center é um centro de comércio que se completa com alimentação, serviços (bancos, cabeleireiros, correios, academias de ginástica, consultórios médicos, escolas) e lazer (jogos eletrônicos, cinema, internet). Ali, o consumidor de mercadorias se mistura com o consumo de serviços e de diversão, sentindo-se protegido e moderno. Fugindo dos aspectos negativos dos centros das cidades, os shopping centers vendem a imagem de serem locais com uma melhor ‘qualidade de vida’ por possuírem ruas cobertas, iluminadas, limpas e seguras; E atrações relativamente fáceis de serem adquiridas – ao menos para os que podem pagar. 
Nesses espaços, podemos ocupar-nos apenas dos nossos desejos, com as inúmeras possibilidades disponíveis de aquisição. Concluímos que esse mundo de sonhos que é o shopping center acaba reforçando nas pessoas uma visão individualista da vida, onde os valores propagados são todos relacionados às necessidades e aos desejos individuais. 
O shopping representa hoje o principal lugar da ‘sociedade de consumo’, contribuindo para o modo de vida consumista e alienado, um modo de vida em que há uma evidente predominância de símbolos como status, poder, etc.
O objetivo do nosso trabalho é analisar a relação entre o trabalho, o lazer e o consumo dos trabalhadores de shopping centers, tendo como objetivo específico compreender o processo de trabalho instável dos shoppings e sua relação com o tempo de lazer e o horário programado.
 Nos shoppings, todas as relações sociais se tornam estranhas, obsessivas e se tornam mais concretas. Por meio de mecanismos de controle social, os trabalhadores são continuamente explorados, e esse controle é baseado na pesquisa e na compreensão da subjetividade e das necessidades individuais. A contradição do modo de produção capitalista é óbvia no ambiente nos shoppings.
Percebe-se também que a possibilidade de um trabalhador que atua na área de vendas com base na comissão na venda de cada produto o faz trabalhar de 10 a 12 horas por dia, o que torna seu trabalho estressante, cansativo e cansativo. 
Outra hipótese que pode ser pensada é que os longos dias de trabalho e o mecanismo de controle do tempo livre por meio do lazer planejado, em última análise, tornam o consumismo uma coisa na vida dos trabalhadores, porque são expostos nas centenas de vitrines. Nesse sentido, com base na teoria marxista, parte do pressuposto de que o pensamento, a consciência e as relações sociais existentes em uma dada sociedade civil dependem de alguma forma de organização do consumo, do comércio e da produção, podemos perceber que existe uma estreita relação entre relacionamento.
 Gefics Ufpbgefics ufpb @gefics_ufpb

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