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PROPRIOCEPÇÃO O uso da reeducação proprioceptiva visa, por meio de estímulos proprioceptivos excitar as terminações nervosas a fim de obter, de maneira automática ou reflexa, as contrações musculares com finalidade de aprender o movimento, de reabilitar ou, ainda, reprogramar a função do movimento. Exercícios de propriocepção na clínica equina incluem treinamento em pista com diferentes pisos, com a intenção de ‘’bombardear’’ diferentes informações enquanto o animal caminha em cima de areia fina, cimento, areia pesada, pedriscos, borracha triturada, água e areia grossa. 1 MECANISMO DE AÇÃO Um cérebro equino normal recebe sinais proprioceptivos do corpo através de eixos musculares, órgãos de Golgi e receptores de ângulo articular. Os eixos estão localizados dentro das fibras musculares. Eles permitem que o cérebro monitore alterações no comprimento de um músculo à medida que nos movemos e na velocidade desse processo de alongamento. Os eixos são extremamente sensíveis, eles podem captar uma diferença de apenas 0,002% do comprimento total do músculo. Depois de detectar essa mudança minúscula, eles enviam impulsos ao cérebro para que ele saiba o que está acontecendo. Esses impulsos chegam muito mais rapidamente do que as informações visuais, de modo que o cérebro pode corrigir um erro na tensão muscular em menos da metade do tempo que a visão exigiria (Jones, 2015). Nervos proprioceptivos de todos os tipos desfrutam de uma via rápida especial para o cérebro. É uma porção altamente isolada da medula espinhal que permite que os sinais viajem muito mais rapidamente do que os indicadores corporais de toque, temperatura e dor. A rápida sinalização de informações proprioceptivas é necessária para obter um feedback eficiente dos nervos que causam movimentos dos músculos e articulações (Jones, 2015). Os componentes estruturais do sistema de propriocepção são formados por receptores sensoriais, células primárias dos sistemas sensoriais que nem sempre são neurônios, mas sempre se conectam por meio de sinapses, como os receptores visuais, auditivos, gustativos e vestibulares formados por células epiteliais modificadas. Ocorre então o processo de transdução, que é a transformação da energia do estímulo ambiental (luz, calor etc.) em potenciais bioelétricos gerados pelas membranas dos receptores que podem ser classificados em mecanorreceptores, quimiorreceptores, fotorreceptores, termorreceptores e nociceptores. Mecanorreceptores: Sensíveis a estímulos mecânicos ou vibratórios, presentes nos receptores auditivos, nos receptores de equilíbrio, no controle motor e no controle das funções orgânicas. Quimiorreceptores: Sensíveis a estímulos químicos (ação específica de certas substâncias com as quais o organismo entra em contato direto). Fotorreceptores: Sensíveis a estímulos luminosos, ligados à visão e produzem efeitos nas reações de equilíbrio, controle tônico e nas reações de proteção e endireitamento. Termorreceptores: Sensíveis à variação térmica em torno da temperatura corporal (o sistema nervoso central usa as suas informações para organizar as reações orgânicas e comportamentais de acordo com as necessidades do organismo de conservar ou dissipar calor). Esses receptores estão situados na superfície corporal, pois acusam as variações de temperatura no ambiente e no hipotálamo (variações de temperatura no sangue). Nociceptores: Sensíveis a estímulos de diferentes formas de energia, mas que têm em comum sua extrema intensidade e podem colocar em risco a integridade do organismo, causando lesões nos tecidos e nas células. Para ativar um determinado receptor necessita atingir o limiar de ativação deste, com a estimulação do local correto na intensidade ideal e pelo tempo necessário. Caso haja um desbalanceamento nesses três pilares, o receptor se torna um nociceptor (causando dor). Um exemplo bem comum e amplamente conhecido é quando se usa bolsas de água quente, na temperatura adequada ela causa efeitos terapêuticos, mas caso esteja com a temperatura muito acima do limiar de ativação do termorreceptor, ela vai queimar. 2 TIPOS DE EXERCÍCIOS 2.1 CAMINHO SENSORIAL Inclui repetir segmentos de três metros com solo firme, areia, água, pedregulhos, entre outros, como mostra a figura 13. Passear o cavalo por essas superfícies faz com que seus neuro-receptores funcionem rapidamente. Essas adaptações são armazenadas no controle geral do motor do cavalo (Ballou, 2016). Da mesma maneira que os músculos se atrofiam devido à subutilização, os nervos podem ficar embotados ou desligar-se de lesões, traumas ou folgas. Ajudá-los a disparar novamente através do uso de caminhos sensoriais de reeducação pode ajudar a restaurar a mobilidade e a função de áreas do sistema neuromuscular do seu cavalo que estão presas (Ballou, 2016). É recomendado fazer isso três vezes por semana por cinco a dez minutos, pedindo ao cavalo para andar e correr devagar pelas superfícies em constante mudança (Ballou, 2016). 2.2 ESTÍMULO CUTÂNEO Da mesma forma, os sinais nervosos também podem ser "despertados" através da estimulação cutânea. Isso envolve o uso de um objeto firme para arranhar suavemente a pele do cavalo para gerar reflexos. Pode-se coçar ou fazer cócegas ao longo do sacro do cavalo para criar uma flexão lateral e longitudinal na pelve, como demonstra a figura 2 (Ballou, 2016). Pontos reflexos estimulantes como esse ativam seus músculos de sustentação profundos, em vez dos grandes músculos da ginástica. A estimulação cutânea pode ser eficaz ao longo da garupa e dos músculos glúteos para cavalos que se recuperam de disfunção ou rigidez do quarto traseiro. Às vezes, também é usado ao longo dos músculos oblíquos do cavalo quando os lados da caixa torácica de um cavalo ficam amortecidos pelo uso excessivo do esporão (Ballou, 2016). Figura 1 - Exemplos de pista de propriocepção com vários pisos diferentes Figura 2 - Estímulo cutâneo com uma escova estimulando nervos da região lombo sacra 2.3 BRACELETES TÁTEIS São braceletes colocados na região da quartela (figura A). Sua utilização é baseada na ideia de que um estímulo na pele pode alterar a biomecânica de um cavalo. Com isso, a percepção sensorial do bracelete na quartela, encoraja o equino a erguer mais o membro durante o movimento, promovendo maior amplitude articular. Deve-se estar atento aos pingentes colocados no bracelete, para que não machuquem o cavalo durante sua mobilização (Clayton, 2016). Os pesos são adicionados de acordo com o progresso do cavalo na reabilitação (figura B). Além de promover uma maior amplitude de movimento articular, também fortalece a musculatura responsável pela mobilidade das articulações envolvidas. Deve-se acrescentar o peso gradualmente e não exceder o máximo estabelecido na literatura, para que não ocorram lesões durante a terapia (Clayton, 2016). 2.4 POLOS TERRESTRES Padrões de polos terrestres são frequentemente usados para reabilitar cavalos de lesões ou para corrigir condições neurológicas devido ao seu papel na alteração do movimento de um cavalo e no recrutamento de músculos estabilizadores. Os polos no solo ajustam os nervos sensoriais do cavalo, tornando-o mais consciente de onde estão seus pés. Isso cria melhor reação e agilidade, coordenação muscular e movimentos mais leves. Além disso, como o cavalo dá passos medidos com distâncias definidas por postes, ele corrige irregularidades da marcha e ritmo ruim. Essas anormalidades da marcha podem incluir o uso irregular das patas traseiras, irregularidade no movimento e curvatura persistente. Figura 3 - Braceletes táteis com estímulos sensoriais (A) e peso (B) Dependendo de qual condição precisa ser corrigida, uma variedade de rotinas de polos pode ser usada (Ballou, 2016). Figura 4 - Exercício proprioceptivo de caminhada transpassando o poste Figura 5- Obstáculo de estrela, pode ser elevado a partir do centro ou das pontas 2.5 EXERCÍCIOS LATERAIS Movimentos laterais executados a partir do solo durante uma caminhada podem servir como tratamento terapêutico para más condições posturais nos quadris e na coluna de um cavalo. Por exigirem um rearranjo da coordenação neuromuscular, esses exercícios melhoram a propriocepção das articulações, tendões e músculos. Isso produz melhor locomoção. Mesmo nos casos em que os movimentos laterais não são realizados no nível da competição, eles ainda desempenham um papel de desenvolvimento fisiológico (Ballou, 2016). Esse tipo de trabalho lateral como fisioterapia pode ser executado em freio ou cabresto (Ballou, 2016). 2.6 TERRENO INCLINADO Exercício em terrenos inclinados/ com valas equalizam o uso das patas traseiras de um cavalo quando existe curvatura, além de fazer com que o cavalo flexione suas articulações traseiras (Ballou, 2016). O trabalho inclinado facilita a contração abdominal e fortalece os músculos responsáveis pela propulsão; traz os membros pélvicos mais abaixo do corpo; e eleva as costas (Figs. 24 e 25). Trabalhar em uma caminhada muito lenta (um passo de cada vez) ou sobre obstáculos é uma atividade proprioceptiva e de equilíbrio de alto nível. Andar ladeira abaixo versus subir exige contrações excêntricas da musculatura dos membros e desaceleração da massa corporal, o que requer maior controle neuromotor. A subida é uma atividade proprioceptiva de alto nível (Ballou, 2016). Figura 6 - Movimentos laterais executados com cabresto Figura 7 - Caminhar para cima estimula a contração dos músculos abdominais e fortalece os músculos dos membros pélvicos responsáveis pela propulsão 2.7 FOOT PADS Os Foot Pads têm um efeito de aterramento, enquanto desafiam suavemente a propriocepção dos cavalos, resultando em relaxamento, maior conscientização e ativação dos músculos posturais (WinRecovery Equine, sem data). 2.8 LABIRINTO/OBSTÁCULO Exercícios de labirinto ou obstáculo são exercícios de treinamento neuromotor de baixo nível usados para estimular a consciência proprioceptiva (Fig. 10). O trabalho sobre vários obstáculos estimula o aumento das respostas neuromotoras, o fortalecimento do núcleo, a coordenação e a agilidade do que o treinamento normal no solo no plano (WinRecovery Equine, sem data). Figura 8 - Andar ladeira abaixo atua para fortalecer os membros pélvicos e os músculos abdominais Figura 9 - Exercício proprioceptivo com o uso de footpads 2.9 MASTRO/CAVALETE O trabalho no mastro e cavalete durante os exercícios de caminhada ou trote à mão ou montados são atividades de treinamento neuromotor de alto nível que facilitam a contração abdominal e iliopsoas (isto é, fortalecimento do núcleo); melhora a cadência e o ritmo e a coordenação inter-membros; incentiva o abaixamento da cabeça e o relaxamento da musculatura da enquete; facilita a protração dos membros pélvicos, eleva o forehand e promove o trabalho dos quadris e da flexão dos membros pélvicos (figura 11) (WinRecovery Equine, sem data). PEDESTAL O trabalho em pedestal estimula a contração e a flexão dos músculos longus colli e escaleno da base do pescoço e do tronco (Figs. 12 e 13). Este é um exemplo de trabalho proprioceptivo de alto nível, que enfatiza a cinestesia dos membros e o fortalecimento do núcleo, além de promover relaxamento e confiança (Figs. 14 e 15) (WinRecovery Equine, sem data). Figura 10 - Passear o cavalo pelo labirinto incentiva a flexão lateral e facilita o passo medial através da linha mediana com o membro pélvico interno Figura 11 - Este exercício facilita o abaixamento da cabeça, flexão cervical, contração abdominal, flexão de membro e protração de membro pélvico. Chegar mais abaixo do corpo com os membros pélvicos melhora a impulsão Figura 13 - Manter o cavalo em um pedestal com o objetivo de melhorar o equilíbrio e a propriocepção dos membros Figura 1212 - Andar sobre um pedestal melhora o controle e o equilíbrio proprioceptivo e estimula a contração da musculatura cervical e abdominal ventral Figura 1413 - Flexão da região cervical de um cavalo em pé sobre um pedestal REFERÊNCIAS Artigo em meio eletrônico: An Approach to Equine Physiotherapy. WinRecovery Equine. Sem ano. Disponível em https://winrecoveryequine.com/es/an-approach-to-equine- physiotherapy/ BALLOU, Jec. Simple Exercises and Routines to Reprogram Dysfunctional Movement. Canadian Horse Journal, september 2016. Disponível em https://www.horsejournals.com/riding-training/english/dressage/equine-physiology- fitness JONES, Janet. The power of proprioception. Equus Magazine, 28 january 2015. Disponível em https://equusmagazine.com/riding/power-proprioception-27096 Clayton, H. M. (2016). HORSE SPECIES SYMPOSIUM: Biomechanics of the exercising horse1. Journal of Animal Science, 94(10), 4076–4086. doi:10.2527/jas.2015- 9990. ADD O DO LIVRO Figura 1514 - Cavalo sendo retirado lentamente do pedestal, demonstrando os requisitos proprioceptivos de negociar um passo a partir de uma base de apoio restrita ou limitada. https://winrecoveryequine.com/es/an-approach-to-equine-physiotherapy/ https://winrecoveryequine.com/es/an-approach-to-equine-physiotherapy/ https://equusmagazine.com/riding/power-proprioception-27096
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