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INSTITUIÇÕES DO PROCESSO CIVIL Rafael Ribeiro Revisão técnica: Miguel do Nascimento Costa Advogado Mestre em Direito Público Especialista em Processo Civil Graduado em Ciências Sociais e Jurídicas Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB – 10/2147 I59 Instituições do processo civil / Rafael Ribeiro Albuquerque Adrião... et al.; [revisão técnica: Miguel do Nascimento Costa]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 374 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-451-9 1. Direito processual civil. I. Adrião, Rafael Ribeiro Albuquerque. CDU 347.9 Formação do processo e indeferimento da petição inicial Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever como ocorre a formação de um processo judicial. � Identificar as hipóteses de indeferimento da petição inicial. � Explicar a tramitação de um processo judicial. Introdução Neste capítulo, você vai estudar a importância sobre a formação do processo, dando especial ênfase à capacidade de descrever como ocorre a formação de um processo judicial, conseguir identificar as hipóteses de indeferimento de uma petição inicial e, por fim, conseguir explicar a tramitação de um processo judicial. No mundo jurídico, o processo é o meio pelo qual a pessoa pode provocar o Judiciário para obter a resposta de um pleito. Com o objetivo de parametrizar como deve correr um processo, o legislador, ao redigir a Lei nº 13.105/2015 (BRASIL, 2015), vulgo Código de Processo Civil (CPC), decidiu por colocar regras sobre quem pode ingressar com uma ação, como essa pessoa pode buscar a manifestação do Judiciário e, o mais importante, como deve ser a tramitação de um processo, para que, assim, independentemente de qual local do país o processo seja iniciado, siga as mesmas regras, não havendo distinção que possa causar prejuízos a qualquer parte. U N I D A D E 1 lalves Retângulo lalves Retângulo Formação de um processo Antes de iniciar a explicação sobre a formação do processo, é necessário destacar que o Judiciário tem como um de seus princípios básicos a inércia, ou seja, ele apenas vai interferir na vida particular das pessoas se for provocado para tal. Para quebrar essa inércia, deve a pessoa que necessita da intervenção do Judiciário ingressar com uma petição inicial, que é o meio pelo qual todo processo começa, podendo, desse modo, quem não conseguiu resolver o problema sozinho socorrer-se do Judiciário, para que este o faça por meio de uma sentença. O direito de provocar o Judiciário é concedido a todas as pessoas que estejam no exercício de seus direitos. Essa condição é chamada de capacidade postulatória ou capacidade processual. Como regra, todas as pessoas têm essa capacidade, no entanto, em algumas situações, referida capacidade é diminuída, sendo necessário que a pessoa receba algum tipo de ajuda ou autorização para ingressar com uma ação. Referidas limitações são trazidas entre os arts. 71 a 75 do CPC (BRASIL, 2015), que dispõe, por exemplo, que as pessoas absolutamente incapazes pre- cisam ser representadas por seus pais ou tutores, já as pessoas com capacidade relativa precisam ser assistidas por seus pais ou curadores. O CPC (BRASIL, 2015) diz, também, que em algumas situações o juiz vai determinar a nomeação de um curador especial para auxiliar o litigante, sendo nos casos de incapaz que não tiver representação legal, ou, caso tenha, se seus interesses colidirem com o do representante, ou no caso do réu revel, seja ele preso ou quando citado por edital ou hora certa ainda não tenha advogado. Sobre a autorização prévia, o art. 73 do CPC (BRASIL, 2015) determina que as pessoas casadas precisam da autorização do cônjuge para entrar com ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo se casados no regime de separação total de bens. É sempre necessário se ter em mente que ter capacidade postulatória não é a mesma coisa que ter direito de petição. A capacidade postulatória, como visto acima, é conferida a todas as pessoas capazes, já o direito à petição é exclusivo dos advogados, do Ministério Público e da Defensória Pública (advogados públicos), razão pela qual, caso tenha interesse em ingressar com uma ação, deve o particular buscar um advogado, seja público ou particular, para poder peticionar. Formação do processo e indeferimento da petição inicial2 Após ter procurado um advogado, poderá ingressar com a petição inicial, sempre devendo prestar atenção nos requisitos essenciais de uma petição enumerados no art. 319 do CPC, também chamados de elementos intrínsecos: Art. 319. A petição inicial indicará: I – o juízo a que é dirigida; II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV – o pedido com as suas especificações; V – o valor da causa; VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. § 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. § 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. § 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. (BRASIL, 2015). Esses elementos são essenciais para toda petição inicial, devendo sem- pre ser observados sob pena de indeferimento da petição, conforme prevê o próprio artigo. Observe que, ao ingressar com a ação, o advogado deve seguir uma série de regras para que a petição possa ser analisada pelo juiz. Essas regras têm a intenção de que todos os processos iniciem da mesma forma e com as infor- mações minimamente necessárias para que o Judiciário possa dar continuidade no processo, fazendo a citação do réu para que, assim, tenha condições de fazer um bom julgamento da ação. 3Formação do processo e indeferimento da petição inicial Elementos de indeferimento da petição inicial Após receber a petição inicial, caberá ao juiz fazer uma rápida análise da peti- ção, antes mesmo de fazer a citação do réu, para que este possa se manifestar no processo. Caso o advogado do autor não tenha preenchido os requisitos necessários para a petição inicial, ou em caso de existirem irregularidades que dificultem o julgamento, deverá o juiz conceder um prazo de 15 dias para que a petição seja corrigida. Essa situação acontece nas hipóteses em que a petição precisa ser julgada, apesar de o erro ser relevante. No entanto, as situações elencadas no art. 330 do CPC impedem o julgamento do processo por atingirem a própria possibilidade de um julgamento do mérito da ação, acarretando em indeferimento da petição inicial e arquivamento do processo sem julgamento do mérito: Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I – for inepta; II – a parte for manifestamente ilegítima; III – o autor carecer de interesse processual; IV – não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando: I – lhe faltar pedido ou causa de pedir; II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV – contiver pedidos incompatíveis entre si. § 2o Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valorincontroverso do débito. § 3o Na hipótese do § 2o, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados. (BRASIL, 2015). Analisando as hipóteses previstas no art. 330 do CPC (BRASIL, 2015), verifica-se que para o legislador, caso aconteça alguma das hipóteses supra, o juiz não chegará sequer a realizar o julgamento do processo, nem mesmo precisará citar o réu para que este se manifeste, uma vez que o legislador entendeu que, nessas situações, falta o básico necessário para o julgamento da ação, sendo facultado ao autor que não vai ter sua petição julgada que recorra às instâncias superiores, caso não concorde com a decisão, ou que ingresse com nova ação, dessa vez corrigindo as falhas apontadas. Formação do processo e indeferimento da petição inicial4 Lembre-se que o caso de indeferimento da petição inicial não quer dizer que o autor perdeu o processo, pois não houve julgamento de mérito. Além das hipóteses previstas no art. 330 do CPC (BRASIL, 2015), também é causa de indeferimento da petição inicial a não observância dos requisitos do art. 319 (BRASIL, 2015), salvo a falta de indicação dos elementos constantes no inciso II do referido artigo, desde que, apesar da falta da informação, seja possível realizar a citação do réu. Percebe-se, portanto, que a petição será indeferida quando faltarem elemen- tos básicos para a continuidade no processo, porque o juiz, ao fazer a primeira análise da petição, observou que aquele que pleiteia não tem legitimidade ou interesse. É necessário deixar bem claro, nesse ponto, que o indeferimento da petição inicial põe fim ao processo, havendo, desse modo, uma sentença terminativa. Ocorre, no entanto, que essa sentença não vai ser terminativa de mérito, haja vista que a petição não passou sequer pela primeira análise formal para que fosse analisada sua substância. Diante de tal fato, como já dito anteriormente, é concedido ao autor o direito de ingressar com a ação corrigindo as falhas apontadas, uma vez que não houve julgamento material do processo, e sim mero julgamento formal. Dessa forma, essa sentença apenas produzirá coisa julgada formal. Tramitação de um processo Agora que você já entende como ocorre a formação de um processo, quem pode ingressar com uma ação e quais as situações que acarretam o indeferimento da petição inicial, é possível adentrar na tramitação de um processo, explicando os detalhes de como um processo corre nas instâncias judiciárias. Inicialmente, é necessário dizer que para se estudar a tramitação de um processo é preciso escolher se vai ser feita uma análise macro ou micro do ordenamento jurídico. De modo macro (Figura 1), os processos tramitam inicialmente na fase de conhecimento, em que todo processo se inicia e o juiz vai dar a sua sentença. É possível, depois, passar para a fase recursal, caso uma 5Formação do processo e indeferimento da petição inicial das partes não concorde com a decisão do juiz, buscando instâncias superiores para que outros juízes (chamados desembargadores, quando se tratar de órgão de segundo nível, ou ministros, quando se tratar de órgão de terceiro nível) façam a análise do processo e da decisão proferida. Por fim, tem-se a fase de execução, que vai existir apenas se o cumprimento da sentença não ocorrer de modo voluntário. Figura 1. Análise macro do ordenamento jurídico. ExecuçãoConhecimento Recursal De modo micro, por sua vez, é possível estudar cada uma dessas fases individualmente, entendendo como cada uma funciona. Este capítulo se dedica a estudar a parte de conhecimento do processo, adentrando nos detalhes de sua tramitação. O processo de conhecimento se inicia com a distribuição da petição inicial e termina com o julgamento do processo com a emissão de uma sentença. Dentro da fase de conhecimento de um processo, quatro são as fases básicas que serão encontradas, sendo elas: � Fase postulatória: momento no qual o autor apresenta sua petição inicial e o réu, caso deseje, apresenta sua defesa. � Fase ordinatória: momento no qual o juiz vai fazer uma análise do processo, determinando a correção de qualquer defeito que possa ter surgido (é nessa fase que o juiz vai determinar a emenda da petição inicial, se entender necessária). � Fase instrutória: momento em que o juiz vai determinar a produção das provas que entender necessárias para que possa julgar o processo. � Fase decisória: momento final no processo, quando o juiz vai dar uma sentença julgando o mérito do processo. É sempre importante ter em mente que a única fase que não pode deixar de existir em um processo é a postulatória, pois é com ela que o processo se inicia. Em relação às demais fases, a depender do caso, o juiz pode entender Formação do processo e indeferimento da petição inicial6 pela não necessidade ou o próprio processo pode caminhar para um momento em que outra fase sequer exista. A fase ordinatória, por exemplo, pode ser desconsiderada pelo juiz se este entender que o processo não necessita de qualquer correção, uma vez que tanto a petição inicial quanto a contestação estão perfeitas, não apresentando qualquer falha ou lacuna. A fase instrutória pode ser dispensada nas hipóteses em que, após analisar os documentos trazidos pelas partes tanto na inicial como na contestação, o juiz se dá por satisfeito com todo o conjunto de provas já produzido pelas partes, podendo realizar o julgamento do processo. É importante lembrar, ainda, que em algumas situações a fase instrutória pode ser dispensada. Isso quando, na análise da petição, o juiz tem condições de fazer um julgamento liminar do pedido. Essas hipóteses estão relacionadas no art. 332 do CPC. Vejamos: Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independen- temente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I – enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tri- bunal de Justiça; II – acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV – enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. (BRA- SIL, 2015). Nessas situações taxativas, o juiz vai dispensar a fase de produção de provas, pois o processo já estará em condições para julgamento. É importante lembrar que, diferentemente das situações de indeferimento da petição inicial, em que não é realizado julgamento de mérito, nessas hipóteses, o juiz vai julgar o mérito do processo, passando direto da fase ordinatória para a fase decisória. Lembre-se que a apresentação da defesa é uma faculdade do réu, não sendo este obrigado a apresentá-la. 7Formação do processo e indeferimento da petição inicial Por fim, a fase decisória, como já comentado anteriormente, sequer chega a ocorrer quando existe o indeferimento da petição inicial, uma vez que é nessa fase que o juiz vai fazer a análise do conteúdo do processo para, assim, solucionar o caso e, como já dito, no indeferimento da petição inicial não existe esse tipo de julgamento. A fase de conhecimento de um processo sempre vai se iniciar pela distri- buição da petição inicial, podendo seguir diversos desdobramentos, a depender do tipo de processo e das necessidades que possam surgir no percurso. Cada uma das fases processuais tem suas características próprias, inclusive no que se diz respeito a quem será o agente atuante nela e qual sua finalidade. Caso o processo corra normalmente, ele iniciará com a distribuição da petição inicial e terminará com a sentença do juiz. Caso as partes concordem com a decisão tomada, o processo apenas terá a fase de conhecimento. Caso alguma das partes discorde da decisão, poderá recorrer, iniciando a fase recursal do processo. 1. Quando da elaboração da petição inicial, todos os elementos basilares devem ser colocados pelo autor. Assinale o únicoelemento que o autor poderá pedir ao juiz diligência para obtenção, caso não disponha da informação. a) O valor da causa. b) Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu. c) As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados. d) A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. e) O juízo a que se dirige. 2. Em qual das seguintes etapas processuais cabe ao juiz, caso entenda necessário, determinar a realização de perícia? a) Postulatória. b) Ordinatória. c) Instrutória. d) Decisória. e) Convencionista. 3. Em caso de petição que vá de encontro a enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, deverá o juiz: a) determinar a correção da petição. b) continuar com o julgamento do processo. Formação do processo e indeferimento da petição inicial8 c) julgar liminarmente improcedente o pedido. d) realizar a citação do réu para que este se manifeste. e) arquivar o processo sem julgar o mérito. 4. A respeito da capacidade processual e sobre como ela interfere no processo civil, pode se considerar verdadeiro que: a) toda pessoa tem capacidade processual. b) a pessoa absolutamente incapaz deve ser assistida. c) a pessoa casada não precisa de autorização do seu cônjuge para ingressar em juízo. d) o juiz nunca pode nomear curador especial. e) a pessoa relativamente capaz deve ser assistida por seus pais ou seu curador. 5. Qual dos seguintes atos nunca pode deixar de ocorrer em um processo? a) Protocolo da petição inicial. b) Determinação de produção de provas. c) Análise do mérito da petição. d) Apresentação de defesa. e) Determinação de correção da inicial. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 27 fev. 2017. Leituras recomendadas BORBA, M. Diálogos sobre o novo CPC. Salvador: Juspodivm, 2017. DIDIER JUNIOR, F.; CUNHA, L. J. C. Curso de direito processual civil: reescrito com base no novo CPC. 13. ed. v. 1. Salvador: Juspodivm, 2016. MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. F. Novo curso de processo civil: teoria geral do processo civil. 3. ed. v. 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. MONTENEGRO FILHO, M. Processo civil sintetizado. 15. ed. Rio de Janeiro: Método, 2018. Referência 9Formação do processo e indeferimento da petição inicial http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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