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 TORMENTOS DA OBSESSÃO 
DIVALDO PEREIRA FRANCO 
DITADO PELO ESPÍRITO MANOEL FHILOMENO DE MIRANDA 
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ÍNDICE 
 
INTRODUÇÃO 
TORMENTOS DA OBSESSÃO 
 
CAPÍTULO 1 = ERRO E PUNIÇÃO 
CAPÍTULO 2 = O SANATÓRIO ESPERANÇA 
CAPÍTULO 3 = REMINISCÊNCIAS 
CAPÍTULO 4 = NOVOS DESCORTINOS 
CAPÍTULO 5 = CONTATO PRECIOSO 
CAPÍTULO 6 = INFORMAÇÕES PRECIOSAS 
CAPÍTULO 7 = A AMARGA EXPERIÊNCIA DE LEÔNCIO 
CAPÍTULO 8 = INDAGAÇÕES ESCLARECEDORAS 
CAPÍTULO 9 = TAREFAS RELEVANTES 
CAPÍTULO 10 = EXPERIÊNCIAS GRATIFICADORAS 
CAPÍTULO 11 = O INSUCESSO DE AMBRÓSIO 
CAPÍTULO 12 = TERAPIA ESPECIAL 
CAPÍTULO 13 = A EXPERIÊNCIA DE LICÍNIO 
CAPÍTULO 14 = IMPRESSÕES MARCANTES 
CAPÍTULO 15 = A CONSCIÊNCIA RESPONSÁVEL 
CAPÍTULO 16 = PROVA E FRACASSO 
CAPÍTULO 17 = ALUCINAÇÕES ESPIRITUAIS 
CAPÍTULO 18 = SOCORRO DE EMERGÊNCIA 
CAPÍTULO 19 = DISTÚRBIO DEPRESSIVO 
CAPÍTULO 20 = TERAPIAS ENRIQUECEDORAS 
CAPÍTULO 21 = EXPERIÊNCIA INCOMUM 
CAPÍTULO 22 = LIÇÕES DE SABEDORIA 
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INTRODUÇÃO 
 
 ...“Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem 
que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-
lhes a visão do infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus 
pendores, nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor 
do que aquilo de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um 
simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências 
instintivas. 
 Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a 
guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as 
inclinações. Atêm-se mais aos fenômenos do que à moral, que se lhes afigura 
cediça e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem nos 
novos ministérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os 
arcanos do Criador. Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam 
a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante 
a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os 
que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. Contudo, a aceitação 
do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o 
segundo, noutra existência. Aquele que pode ser; com razão, qualificado de 
espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral. 
O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma 
percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem 
vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no 
coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico que alguns 
acordes bastam para comover; ao passo que outro apenas ouve sons. 
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos 
esforços que emprega para dominar suas inclinações más.” 
 
Allan Kardec (*) 
 
(*) O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. 17º, 52 ª ed. FEB, p. 263 e 
264. 
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TORMENTOS DA OBSESSÃO 
 
A obsessão campeia na Terra, em razão da inferioridade de alguns 
Espíritos que nela habitam. 
Mundo de provas e expiações, conforme esclareceu Allan Kardec, é 
também bendita escola de recuperação e reeducação, onde se matriculam os 
calcetas e renitentes no mal, que crescerão no rumo da felicidade mediante o 
contributo das aflições que se lhes fazem indispensáveis. 
Alertados para o cumprimento dos deveres morais e espirituais que são 
parte do programa de crescimento interior de cada qual, somente alguns optam 
pelo comportamento saudável, o que constitui psicoterapia preventiva contra 
quaisquer aflições a que pudessem ser conduzidos. No entanto, aqueles que 
se tornam descuidados dos compromissos de auto-iluminação e de paz 
enveredam pelas trilhas do abuso das faculdades orgânicas, emocionais e 
mentais, comprometendo-se lamentavelmente com as soberanas Leis da Vida 
através da agressão e do desrespeito aos irmãos de marcha evolutiva. 
Não é, portanto, de estranhar que a inferioridade daqueles que sofrem 
injustiças e traições, enganos e perversidades, os arme com os instrumentos 
covardes da vingança e da perseguição quando desvestidos da indumentária 
carnal, para desforçarem-se daqueles que, por sua vez, foram motivos do seu 
sofrimento. 
Compreendessem, porém, a necessidade do amor e superariam as 
ocorrências nefastas, desculpando os seus adversários e dando-lhes ensejo 
para repararem o atentado praticado contra a Consciência Divina. No entanto, 
porque também primários nos sentimentos, resolvem-se pelo desforço, 
atirando-se nas rudes pugnas obsessivas, nas quais, por sua vez, tornam-se 
igualmente presas das paixões infelizes que combatem nos seus desafetos. 
A inteligência e o sentimento demonstram que é muito mais fácil amar ser 
fiel, construir a paz, implantar o dever, realizar a própria e contribuir em favor 
da felicidade alheia, do que semear dissabor, cultivar amargura, distender o 
ódio e o ressentimento. Não obstante, o egoísmo e a crueldade que ainda 
vigem nas criaturas humanas quase em geral respondem pela conduta doentia, 
impulsionando-as para os desatinos e descalabros que se tornam responsáveis 
pela sua futura desdita. 
Negando-se aos sentimentos elevados, o ser transita pelos sítios 
tumultuados do desespero a que se entrega, quando poderia ascender aos 
planaltos da harmonia que o aguardam com plenitude. 
Enquanto permanece esse estado no comportamento humano, as 
obsessões se transformam em verdadeiro flagelo para todos aqueles que se 
deixem aprisionar nas suas amarras. 
A obsessão apresenta-se sob muitos disfarces, tornando-se cada vez 
mais grave na sociedade hodierna que teima em não a reconhecer, nem a 
considerar 
Religiosos apegados a fanatismo injustificável descartam-na, acreditando-se 
credenciados a saná-la onde se manifeste, mediante o poder da fé e a 
autoridade que se atribuem. 
Acadêmicos vinculados ao cepticismo em torno da imnortalidade do 
Espírito nas diversas áreas em que se movimentam, especialmente nas 
denominadas’ ciências da alma, recusam-se a aceitá-la, convertendo o ser 
humano a uma situação reducionista, materialista, que a morte consome, ani-
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quilan do-o. 
Arreligiosos, embriagados pela ilusão dos sentidos ou portadores de 
empáfia, afirmam-se imunes à enfermidade traiçoeira por indiferença aos 
elevados fenómenos espirituais, que se multiplicam, volumosos, e são 
desconsiderados. 
Multidões desinformadas da realidade da vida banqueteiam-se na 
irresponsabilidade, comprometendo-se lamentavelmente através de condutas 
esdrúxulas e imorais, gerando faturas calamidades para cada um dos seus 
membros. 
E mesmo incontável número de adeptos do Espiritismo, com profundos 
esclarecimentos e orientação, não poucas vezes opta pela leviandade e 
arrogância, comprometendo-se com a retaguarda onde ficam em expectativa 
aqueles que foram iludidos, defraudados, maltratados pela sua insensatez. 
A vida sempre convoca à reparação todo aquele que se compromete, 
perturbando-lhe os estatutos superiores. Ninguém, que defraude a ordem, 
deixará de sofrer a conseqüência da atitude irrefletida. Cada ser humano 
conduz no imo a cruz para o sofrimento ou a transforma em instrumento de 
ascensão conforme se comporte durante o périplo terreno. 
Os sofrimentos, que surpreendem os Espíritos após desvestirem-se da 
roupagem física, são decorrência natural dos seus próprios atos, assim como 
as alegrias e bênçãos que desfrutem. Não se tratam, portanto, os primeiros, de 
punições severas impostas pela Divindade, mas de processo natural de 
reparação, nem as outras de concessão gratuita oferecidas aos privilegiados. O 
Amor vige em tudo, facultando aos equivocados os sublimes mecanismos para 
a reparação dos erros e a edificação no Bem que se encontra ao alcance de 
todos. 
Podemos dizer, portanto, que a obsessão pode ser considerada como o 
choque de retorno da ação infeliz perpetrada contra alguém que enlouqueceu 
de dor e de revolta, necessitando de tratamento adequado e urgente. 
 
*Este livro é mais um brado de alerta aos companheiros da trilha física, 
para que não se descuidem dos deveres que nos dizem respeito em relação a 
Deus, ao próximo e a nós mesmos. 
Toda semente de ódio, deixada a esmo pelo caminho, sempre se 
transforma em plantação de infelicidade, proporcionando colheita de 
amarguras. 
Somente o amor possui o recurso precioso para facultar harmonia e 
alegria de viver. 
 
* 
 
 Reunimos, na presente Obra, várias experiências que vivenciamos no 
Hospital Esperança em nossa Esfera espiritual, no qual se encontram 
internados inúmeros irmãos, falidos e comprometidos com o seu próximo, em 
lamentáveis estados de perturbação, sedentos uns de vingança, despedaçados 
outros pelas circunstâncias ultrizes e fatores de desespero a que se 
entregaram durante a reencarnação, após haverem abandonado os 
compromissos nobres, que substituíram pela alucinação e pelo transtorno 
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moral que se permitiram. 
Nesse Nosocômio espiritual encontram-se recolhidos especialmente 
pacientes que foram espiritistas fracassados, graças à magnanimidade do 
Benfeitor Eurípedes Barsanulfo que o ergueu, dando-lhe condição de santuário 
para a saúde mental e moral, e o administra com incomparável abnegação 
auxiliado por outros dedicados servidores do Bem e da Caridade. 
Apresentamos a narração de várias vidas e suas histórias reais, 
esperando que sensibilizem aqueles que nos honrarem com a atenção da sua 
leitura, auxiliando-os a não se permitirem comprometimentos desastrosos 
semelhantes. 
As experiências que recolhemos serão úteis a todos os indivíduos 
interessados na felicidade pessoal, porque os despertarão para os elevados 
compromissos assumidos perante a Consciência Cósmica e os seus Guias 
espirituais antes do renascimento físico. Não obstante, para outros que co-
nhecem a luminosa orientação do Espiritismo, serão mais vivas e penetrantes, 
por demonstrarem que a crença é muito importante, no entanto, a vivência dos 
postulados exarados na Codificação tem regime de urgência e não pode nem 
deve ser postergada. 
A muitos companheiros de lide espírita as nossas informações causarão 
estranheza, a outros parecerão fantasias de mente em desalinho, porque não 
encontraram antes informações idênticas em detalhes nas Obras básicas da 
Doutrina, esquecendo-se que o ilustre mestre de Lyon afirmou que não estava 
apresentando a primeira nem a última palavra em torno dos temas que tratava, 
e que o futuro se encarregaria de confirmar o que estava exarado, ampliar as 
informações ou corrigir o que estivesse em desacordo com a Ciência. Como 
nenhuma das afirmações doutrinárias conforme-las ofertou Allan Kardec pôde 
ser superada ou considerada inexata até este momento, é justo que se lhes 
possa adir novas lições espirituais, dando prosseguimento às memoráveis 
experiências de vidas no Além-Túmulo, quais as que se encontram na 
admirável Obra O Céu e o Inferno, mmarradas com a segurança da sua pena 
sábia e vigorosa. 
Esperando que nossa contribuição espiritual possa auxiliar algum leitor 
que nos dignifique com a sua atenção, consciente como estamos da 
responsabilidade que nos diz respeito, suplicamos as bênçãos do sublime 
Terapeuta para todos nós, Seus pacientes em recuperação. 
 
Salvador, 15 de janeiro de 2001. 
 
Manoel Philomeno de Miranda 
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ERRO E PUNIÇÃO 
 
Em nossas reuniões habituais com amigos afeiçoados ao dever, não 
poucas vezes direcionamos as conversações para as questões que dizem 
respeito àjustiça humana e à justiça divina, assunto palpitante que a todos nos 
interessa. 
Erro e punição, culpa e castigo, dolo e cobrança, fazem parte dos temas 
que reservamos para análise e debate, considerando o processo de evolução 
de cada indivíduo em particular e da coletividade em geral. 
Muito interessado na problemática obsessiva, diante das ocorrências do 
cotidiano terrestre, chama-me a atenção a grave interferência dos desencarna-
dos no comportamento dos homens. 
As manchetes sensacionalistas e estarrecedoras, apresentadas pelos 
periódicos da grande imprensa e o perturbador noticiário da mídia televisiva 
com espalhafato e pavor, revelando algumas expressões de sadomasoquismo 
dos seus divulgadores, na maneira de apresentar as tragédias e desgraças da 
atualidade; os comentários em torno da violência, gerando mais indignação e 
revolta do que propondo soluções, vêm-me despertando crescente sentimento 
de consternação pelas criaturas, acrescido do lamentável desconhecimento 
das variadas psicopatologiaS de que são vítimas, assim como das obsessões 
de que se fazem servas. 
Comentando com amigos dedicados aos estudos sociológicos, 
psicológicos e penalógicos em nossa Esfera de ação, aguardei oportunidade 
própria para auscultar nobre especialista nessas áreas, com objetivo de 
esclarecer-me, ao tempo em que pudesse ampliar informações e estudos junto 
aos caros leitores encarnados, igualmente dedicados às terapias preventiva e 
curadora dessa enfermidade epidêmica e ultriz. 
Nesse estado de espírito, oportunamente fui convidado, por afeiçoado 
servidor de nossa comunidade, para um encontro íntimo com o venerável 
Espírito Dr. Bezerra de Menezes, numa das suas estâncias entre nós, cuja 
dedicação à Humanidade, na condição de desencarnadO, se aproximava de 
um século de ininterrupto humanitarismO, em labor de caridade e iluminação 
da consciência terrestre. 
A reunião fora reservada para pequeno grupo de pesquisadores das 
terapêuticas próprias para a criminalidade e suas conseqüências entre os seres 
humanos reencarnados, havendo sido convidados apenas aqueles dedicados 
ao importante mister. 
Em uma área ao ar livre, reservada a tertúlias íntimas realizadas no 
Nosocômio, que fora programado para obsidiados que faliram nos 
compromissos terrestres, e que desencarnaram sob o guante dos transtornos 
psíquicos dessa natureza, teve lugar o encontro abençoado. 
Erguido, graças aos esforços e sacrifícios do eminente Espírito Eurípedes 
Barsanulfo, na década de 1930 a 1940, aquele Sanatório passou a recolher 
desde então as vítimas da própria incúria, tornando-se um laboratório vivo e 
pulsante para a análise profunda das alienações espirituais. 
O missionário sacramentano havia constatado ser expressivo o número 
de almas falidas nos compromissos relevantes, após haverem recebido as lu-
zes do Consolador, e que retornavam à pátria espiritual em lamentável estado 
de desequilíbrio, sofrendo sem consolo na erraticidade inferior. Movido pela 
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compaixão que o caracteriza, empenhou-se e conseguiu sensibilizar uma 
expressiva equipe de trabalhadores espirituais dedicados à psiquiatria, para o 
socorro a esses náufragos da ilusão e do desrespeito às soberanas leis da 
Vida, credores de misericórdia e amparo. 
Médiuns levianos, que desrespeitaram o mandato de que se fizeram 
portadores; divulgadores descompromissados com a responsabilidade do 
esclarecimento espiritual; servidores que malograram na execução de graves 
tarefas da beneficência; escritores equipados de instrumentos culturais que 
deveriam plasmar imagens dignificadoras e que descambaram para as 
discussões estéreis e as agressões injustificáveis; corações que se 
responsabilizaram pela edificação da honra em si mesmos, abraçando a fé 
renovadora, e delinqüiram; mercenários da caridade bela e pura; agentes da 
simonia no Cristianismo restaurado ali se encontravam recolhidos, muitos deles 
após haverem naufragado na experiência carnal, por não terem suportado as 
pressões dos Espíritos vingadores, inclementes perseguidores aos quais 
deveriam conquistar, ao invés de se lhes tornarem vítimas, extraviando-se da 
estrada do reto dever sob sua injunção perversa... 
Normalmente, naquele Instituto de saúde espiritual, se realizavam 
encontros esclarecedores, quando se analisavam as desditosas experiências 
dos seus pacientes. 
Vezes outras, candidatos à reencarnação com tarefas definidas na 
mediunidade estagiavam nos seus pavilhões, observando os companheiros 
que se iludiram e foramvencidos, ou escutando-os durante suas catarses 
significativas ao despertar da consciência, dando-se conta do prejuízo que se 
causaram a si mesmos, assim como aos outros, que arrastaram na sua 
vertiginosa alucinação. 
Verdadeiro Hospital-Escola, constitui um brado enérgico de advertência 
para os viajores do carro orgânico, que se comprometeram com as atividades 
de enobrecimento e de amor. 
Foi, portanto, em agradável recanto arborizado, em noite transparente e 
coroada de estrelas, clareada por diáfana e ignota luz, que ouvimos o Apóstolo 
da caridade entretecendo considerações em torno do erro e da punição, que 
logo o segue. 
Já conhecido, e partícipe de outros cometimentos, fui recebido com o seu 
proverbial carinho e eloqüente sabedoria, qual sucedera com os demais mem-
bros do grupo atencioso. 
Após breves instantes de saudações afetuosas e palavras introdutórias a 
respeito do tema, o venerável Mentor elucidou: 
— A problemática do comportamento moral do ser humano encontra-se 
relacionada com o seu nível de progresso espiritual. 
“Por essa razão, Jesus acentuou que mais se pedirá àquele a quem mais 
se deu, considerando-se o grau de responsabilidade pessoal, em razão dos fa-
tores predisponentes e preponderantes para a conduta. Cada indivíduo é a 
história viva dos seus atos passados. A soma das suas experiências modela-
lhe o caráter, as aspirações, o conhecimento e a responsabilidade moral. 
Invariavelmente, ao lado das conquistas significativas conseguidas em cada 
etapa reencarnacionista, não raro, gravames e quedas turvam a pureza dos 
seus triunfos, constituindo-lhe empecilhos para avanços mais expressivos.’ 
Soprava uma brisa levemente perfumada, enquanto ele silenciou por 
breves segundos, para logo prosseguir: 
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- Em razão dessa atitude, renascem os Espíritos no clima moral a que 
fazem jus, nos grupos familiares compatíveis com as suas necessidades, 
portadores de compromissos próprios para o desenvolvimento dos valores 
éticos e morais relevantes. Não podendo eliminar as causas precedentes, de 
alguma forma fazem-se acompanhar por afetos ou adversários que se lhes 
permanecem vinculados à economia evolutiva. É certo que nunca falta, a 
Espírito algum, o divino amparo, a inspiração e os meios hábeis para o êxito, 
mas, muitos deles, logo despertam no corpo e atingem a idade da razão, são 
atraidos de retorno aos sítios de onde se deveriam evadir e às viciações que 
lhes cumpre vencer... 
 “As tendências inatas, que são reflexos dos com promissos vividos, 
impelem-nos para as condutas que lhes parecem mais agradáveis e que não 
lhes exigem esforços para superar. As conexões psíquicas, por afinidade, 
facilitam o intercâmbio com os desafetos da retaguarda, e sem o necessário 
empenho que, às vezes, impõe sacrifício e renúncia, fazem-nos tombar nas 
urdiduras bem estabelecidas para vencê-los, derrotá-los no empreendimento 
que deveria ser libertador.” 
Novamente silenciou, e olhando para a grande e significativa construção 
hospitalar, com iniludível compaixão pelos seus internados, deu prosseguimen-
to: 
— A justiça está ínsita em a natureza, e o desenvolvimento moral do ser 
amplia-lhe os conteúdos sublimes na consciência. A aplicação dos códigos da 
justiça na Terra vem-se dando conforme o grau de responsabilidade humana e 
o seu aprimoramento moral. Das grotescas e impiedosas punições do bar-
barismo e da Idade Média, para a moderna visão da ciência da Penalogia, 
houve uma identificação maior da mente humana com a justiça divina, 
lentamente incorporada aos códigos legais terrestres. Ainda se está longe de 
uma justiça saudável e igualitária para todos, não obstante, já se pensa em 
diretrizes humanitárias a serem utilizadas, dignificando o delinqüente antes que 
apenas o punindo. Isso porque o conceito sobre a justiça de Deus, mediante a 
evolução do pensamento e da consciência, elimina a arbitrariedade e a 
crueldade que Lhe eram atribuídas, a fim de apresentá-lO como misericórdia e 
amor, que oferecem métodos de reeducação construtiva e terapeutica para 
todos os males, conforme se detecta na con ceituação atual da doutrina da 
reencarnação. 
“Quase sempre, quando se pensa em justiça, imediatamente ocorre o 
pensamento em torno do componente da punição, como se a sua fosse a finali-
dade do castigo, e jamais da equanimidade, da preservação da ordem e do 
dever. Tão associado tem-lhe estado esse reflexo, que se confunde o seu 
ministério de preservar o equilíbrio do indivíduo, da massa e das nações, 
mediante medidas coercitivas da liberdade, ao lado de recessões, embargos de 
alimentos e remédios, e dilacerações físicas, psicológicas e morais 
destruidoras do sentido da vida. 
“Um estudo profundo, à luz da psicologia, faculta identificar-se no 
delinqüente um enfermo emocional, cujas raízes do desequilíbrio se encontram 
nas experiências transatas das existências. Culpa, remorso, desarmonia 
interior, desamor, que foram vivenciados, refletem-se em forma de 
comportamentos transtornados e atitudes infelizes que desbordam nas várias 
expressões do crime. Conseqüentemente, assistência específica, na mesma 
área psicológica, deveria ser utilizada para recuperar o paciente infeliz e 
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conceder-lhe o direito à reabilitação, ao resgate do erro perante a vítima e a 
sociedade.” 
Pensativo, como se estivesse melhor organizando a argumentação, fez 
nova pausa, logo dando prosseguimento: 
 - Além desses fatores psicológicos, outros mais, quando deficientes 
contribuem para o erro da criatura humana, quais sejam: a educação no lar e a 
convivência familiar, o meio social, os recursos financeiros e o trabalho, a 
recreação e a saúde, que desempenham papel de infinita importância na 
construção da personalidade e no desenvolvimento dos sentimentos. Em uma 
sociedade justa, há predominância dos valores de que se desincumbem 
airosamente os governantes, dando conta das responsabilidades que 
assumiram perante o povo, sempre vigilantes no que diz respeito aos deveres 
em relação às massas. Infelizmente, ainda não viceja genericamente essa 
consciência, o que responde pelos altos índices da violência e da 
criminalidade, em razão das fugas espetaculares pelas drogas químicas, pela 
anarquia, pelo desbordar das paixões a que se entregam os indivíduos mais 
frágeis moralmente. Isso faculta-lhes a eventualidade da prática do delito, 
conforme se pode constatar na literatura do passado e do presente. Fedor 
Dostoiewski, na sua famosa obra Crime e Castigo, bem descreve os tormentos 
da personagem Raskolnikof que, apesar de ser um homem honrado e portador 
de sentimentos nobres, terminou por cometer atrocidades sem limites contra as 
suas vítimas, a fim de apropriar-se dos valores que possuíam, particularmente 
da atormentada usurária, que ele passou a detestar. Diversos autores, como 
Victor Hugo, Charles Dickens, Arthur Müller e muitos outros, utilizando-se deste 
fator eventual, apresentam criminosos que se tornam simpáticos aos seus 
leitores, porque foram levados ao crime por circunstâncias ocasionais, desde 
que, portadores de elevados princípios, viram-se na contingência de errar, 
recebendo em troca punições perversas e injustas. 
 “O erro é sombra que acompanha aquele que o pratica até que se dilua 
mediante a luz clara da reparação. Providenciados os meios hábeis para a 
renovação do equivocado, reeducando-o para a convivência social, é justo se 
lhe conceda o ensejo de prosseguir construindo o futuro, enquanto se sente 
liberado do desequilíbrio praticado.” 
A fim de conceder-nos ensejo de bem aprofundar reflexões, o amorável 
amigo fez uma nova pausa, e concluiu: 
— Dia virá em que os estudiosos do comportamento criminoso da criatura 
humana perceberão, além desses fatores que levam à delinqüência, um outro 
muito mais grave e sutil, que necessita de profundos estudos, a fim de que se 
criem novos códigos de justiça para os infratores colhidos por essa incidência. 
Referimo-nos à obsessão, quando Espíritos adversários, desejando 
interromper-lhes a marchaevolutiva, induzem-nos à prática de delitos de toda 
ordem, tornando-se co-autores de incontáveis agressões criminosas, que 
muitas vezes redundam em acontecimentos infaustos, irreversíveis. Traba-
lhando lentamente o campo mental das vítimas com as quais se hospedam 
psiquicamente, terminam por inspirar-lhes sentimentos vis, armando-as contra 
aqueles que, por uma ou outra circunstância, se lhes tornam inimigos, com ou 
sem razão. Transformando-se em adversários incansáveis, obstinada-mente as 
perseguem ou as enfrentam em combates de violência, que terminam em 
tragédias... Sob outro aspecto, esses Espíritos utilizam-se daqueles com os 
quais têm sintonia mental e moral, para se desforçarem de quem os prejudicou 
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anteriormente, e agora não são alcançados pela sua sordidez nem 
perversidade, praticando homicídios espirituais hediondos. As obsessões, 
nessa área, são muito expressivas. Seria o caso de examinar-se se a 
personagem de Dostoiewski não teria sido vítima de algum adversário 
desencarnado pessoal ou se não houvera conseguido sintonizar com aqueles 
que se compraziam em odiar todos quantos lhe tombaram nas cruas 
perversidades! 
“O erro, em si mesmo, gera um clima psíquico nefasto, que atrai Espíritos 
semelhantes ao que se compromete moralmente, passando a manter siste-
mática sintonia e comércio emocional continuado. O castigo geral aplicado a 
todos quantos se fazem vítimas da criminalidade, sem diferença de situação ou 
conteúdo espiritual, torna-se injusto e mesmo odiento, transferindo-se para o 
mundo espiritual os efeitos desses conúbios desastrosos. 
“A Divindade, porém, vela, e as Suas Leis sábias alcançam 
inapelavelmente todos os seres da Criação, facultando o processo evolutivo, 
mediante o qual será possível a felicidade que se anela. 
“Cuidemo-nos, todos nós, de nos preservar do mal, suplicando o divino 
socorro, conforme propôs o incomparável Mestre, na Sua Oração dominical, 
buscando-Lhe o amparo e a inspiração, a fim de podermos transitar com 
equilíbrio pelos difíceis caminhos da ascensão espiritual.” 
Silenciou, o bondoso amigo, deixando-nos material expressivo para 
reflexão. 
Despedindo-se momentaneamente, prometeu dar prosseguimento ao 
tema fascinante que é a obsessão, nesse aspecto, quase desconhecida. 
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2 
O SANATÓRIO ESPERANÇA 
 
Terminado o colóquio com o venerável Benfeitor Dr. Bezerra de Menezes, 
continuamos entretecendo comentários em torno do assunto ventilado, quando 
senti interesse de aprofundar conhecimentos em torno do Sanatório 
Esperança, onde anteriormente tivera oportunidade de realizar estudos sobre a 
obsessão, bem como experienciar outras atividades espirituais. 
Embora informado da finalidade do admirável Nosocômio, desconhecia 
detalhes da sua fundação. 
Apresentando-se própria a ocasião, face à presença em nosso grupo de 
um dos seus atuais diretores, o Dr. Ignácio Ferreira, que fora na Terra 
eminente médico uberabense, interroguei ao amigo gentil, sobre a história 
daquele Santuário dedicado à saúde mental, e ele, bondosamente respondeu: 
— Quando ainda reencarnado, Eurípedes Barsanulfo foi portador de 
verdadeiro medianato, porqüanto conduziu as faculdades mediúnicas, de que 
era instrumento, dentro dos postulados enobrecedores da caridade e do amor, 
em uma vivência aureolada de exemplos de renúncia e de abnegação, 
havendo sido também educador emérito. Em razão dessas suas admiráveis 
faculdades, dedicou-se a atender os portadores de alienação mental, 
psiquiátrica e obsessiva, erguendo um Hospital na cidade em que nascera, 
para socorrê-los. Conseguiu, naquele tempo, resultados incomuns, 
favorecendo os enfermos com a reconquista do equilíbrio. Não obstante a 
terapêutica acadêmica vigente, e que ele não podia aplicar, por não ser 
habilitado a exercer a Medicina nessa área, era a sua própria força moral que 
lograva o maior número de recuperações, face à bondade que expressava em 
relação aos pacientes desencarnados, assim como a misericórdia de que se 
utilizava para atender os padecentes dos graves transtornos psíquicos. 
“Ser interexistente, viveu como apóstolo da caridade, possuindo 
extraordinários potenciais curadores e especial acuidade como receitista 
espiritual, dedicado ao socorro dos menos felizes. 
“Nunca se negou a socorrer quem quer que fosse, mesmo àqueles que o 
perseguiam de forma inclemente, e que, ao enfermarem, não encontrando re-
cursos hábeis para o reequilíbrio, buscavam-no, dele recebendo o concurso 
superior para o prosseguimento da jornada evolutiva. 
“Desencarnando jovem, vitimado pela epidemia da gripe espanhola, que 
assolou o mundo, prosseguiu como missionário de Jesus amparando milhares 
de vidas que se lhe vincularam, especialmente na região por onde deambulara 
na recente existência encerrada. 
“O seu nome tornou-se bandeira de esperança, e com um grupo de 
cooperadores devotados ao Bem, alargou o campo de trabalho socorrista, 
ampliando as áreas de atendimento sob a inspiração do Psicoterapeuta por 
excelência.” 
Sinceramente comovido, ante a evocação dos atos de caridade do 
eminente Espírito, prosseguiu, serenamente narrando: 
- Não se limitando a socorrer exclusivamente os viandantes do carro físico, 
acompanhou, também, após a desencarnação, muitos daqueles que lhe re-
ceberam o concurso, neles constatando o estado deplorável em que 
retornavam à Pátria, vencidos por perseguidores cruéis que os obsidiavam, ou 
vitimados por ideoplastias terríveis derivadas dos atos a que se entregaram, 
 13 
enlouquecendo de vergonha, de dor e de desespero após o portal do túmulo. 
 “Formando verdadeiras legiões de alienados mentais, que se agrediam, 
uns aos outros, chafurdando em paisagens de sombra e angústia, constituídas 
por abismos de sofrimentos insuportáveis, condoeu-se particularmente, por 
identificar que muitos deles haviam recebido o patrimônio da mediunidade ilu-
minada pelas lições libertadoras do Espiritismo, mas preferiram enveredar 
pelos dédalos da irresponsabilidade, utilizando-se da superior concessão para 
o deleite de si mesmos e das paixões mais vis que passaram a cultivar. Outros 
tantos corromperam a palavra iluminativa, de que se fizeram instrumentos, uti-
lizando-a para atender aos interesses escusos, ou negociar favores terrestres 
com desprezo pela oportunidade de edificação de muitas vidas que lhes 
aguardavam o contributo. Diversos mercadejaram os dons espirituais, 
tombando sob o vampirismo propiciado por verdugos do passado, que se 
compraziam em empurrá-los para mais graves despautérios, comprometendo-
lhes a reencarnação. 
“Diante da massa imensa de desesperados que haviam conhecido as 
diretrizes para a felicidade, mediante o serviço dignificante e restaurador dos 
ensinamentos de Jesus, mas que preferiram os jogos doentios dos prazeres 
exorbitantes, o missionário compadecido buscou o apoio dos Benfeitores de 
mais Alto, para que conduzissem a Jesus uma proposta sua, caracterizada 
pelo interesse de edificação de um Nosocômio espiritual, especializado em 
loucura, para aqueles que desequilíbrio apresentassem após a morte do corpo 
físico, e que também serviria de Escola viva, como igualmente de laboratório, 
para a preparação das suas reencarnações futuras em estado menos doloroso 
e com possibilidades mais seguras de recuperação. 
“Após deferido o seu requerimento de beneficência, suplicou ao nobre 
Espírito Agostinho de Hipona, que na Terra o houvera auxiliado e inspirado no 
ministério abraçado, que se tornasse o intermediário das futuras necessidades 
da Instituição em surgimento junto ao Médico divino, a Quem suplicava 
bênçãos em favor da obra. 
“Havendo o sábio cristão, autor das Confissões e de outros memoráveis 
trabalhos, aquiescido em intermediar os apelos do trabalhador do Bem junto ao 
Senhor Jesus, foi permitida a edificação do refúgio e abrigo especial para os 
doentes da alma, que se encontrassem sob tormentosas alucinações nos 
antros escusos da erraticidade inferior.” 
O bondoso narrador concedeu-nos uma pausa paraapreensão da 
surpreendente história, logo continuando: 
— Eurípedes providenciou a convocação de admiráveis psiquiatras e 
psicólogos desencarnados, que haviam na Terra cuidado das desafiadoras 
patologias obsessivas e auto-obsessivas, de forma que, preparada a Equipe, 
foram tomados os cuidados próprios para a edificação do Sanatório, situado 
nesta área distante do movimento da comunidade espiritual, a fim de que as 
bênçãos da Natureza contribuíssem também com elementos próprios para 
acalmar as suas torpes alucinações e ensejar-lhes renovação e paz. 
“Obedecendo a um plano cuidadoso, foram erguidos diversos blocos, que 
deveriam atender a patologias específicas, tais como delírios graves, pos-
sessões de longo porte, consciências autopunitivas, desespero por conflitos 
íntimos, fixações mórbidas, hebetação mental, autismo conseqüente a arrepen-
dimentos tardios, esquizofrenias tenebros as, obsessões compulsivas, etc. 
“A região, amplamente arborizada, absorve o impacto vibratório dos 
 14 
tormentos que se exteriorizam dos conjuntos bem desenhados e das clínicas 
de repouso, para onde são transferidos aqueles que se encontram em 
processo de recuperação. 
“Hábeis psicoterapeutas movimentam-se no abençoado complexo, 
auxiliados por devotado corpo de paramédicos, todos habilmente preparados 
para esse ministério de alta magnitude, demonstrando quanto é forte o liame 
do dever com amor, no atendimento ao desespero e à loucura. 
“Afinal, a vida se expressa com intensidade no corpo e fora dele, sendo 
que, na sua realidade causal, mais significativas e vigorosas são as energias 
que compõem o ser, produzindo ressonâncias no futuro organismo somático, 
que vivenciará todas as ações desenvolvidas. 
“Desse modo, os métodos de atendimento aos enfermos espirituais são 
fundamentados no profundo conhecimento do ser, das suas necessidades, dos 
fatores que levam ao fracasso os empreendimentos nobilitantes, das injunções 
penosas provocadas pelo intercâmbio com Entidades infelizes e perversas, dos 
desequilíbrios íntimos por acomodação e aceitação da vulgaridade e do crime... 
“Muitos companheiros doentes, aqui internados, portadores de outras 
patologias, foram aquinhoados com a dádiva da constatação da continuidade 
da vida após o decesso tumular, e, não obstante esse conhecimento, utilizaram 
das faculdades mediúnicas para dar vazão aos tormentos pretéritos ainda vivos 
no inconsciente, que deveriam vencer a qualquer preço.” 
Enquanto o gentil psiquiatra silenciou por breves momentos, pus-me a 
reflexionar: — sempre me chamaram atenção aqueles irmãos que foram 
vítimas das expressões sexuais desequilibradas, e que não souberam canalizar 
nobremente as energias reprodutoras, deixando-se consumir pelos vícios 
hediondos, que os perturbaram profundamente. Não poucos deles mantiveram 
durante a existência carnal a ambigüidade de comportamento, apresentando-
se externamente de maneira correta, mas vivendo sórdidos conúbios mentais 
com Entidades promíscuas, em extravagantes e contínuas perversões a que se 
entregavam à hora de dormir, dessa forma mantendo comunhão estreita com 
as mesmas, que se haviam degenerado e os atraíam para os redutos mais 
abjetos, tais os lupanares antigos e motéis modernos, que lhes servem de 
habitação... 
Utilizando-me, então, daquela breve pausa, interroguei com interesse de 
aprender: 
— Aqui são albergados também portadores de distúrbios sexuais, que 
contribuíram para desastrosas condutas na área da mediunidade? 
Sempre gentil, o caro médico elucidou: 
— Como sabemos, o sexo é santuário da vida, que não pode ser 
perturbado sem tormentosas conseqüências para o seu depositário. Em razão 
disso, muitos distúrbios de comportamento têm suas matrizes nos mecanismos 
sexuais íntimos. Os seus aspectos e sinistras vinculações sempre produzem 
dolorosa compunção, por vê-los se negarem a despertar para a realidade, 
enlanguescidos e sofridos nos estados de depauperamento da energia vital, 
mesmo quando socorridos e amparados... O vício se lhes instala nos tecidos 
delicados do Espírito como necessidades semelhantes aos tormentosos 
processos da toxicomania e do alcoolismo, que tantos males causam à Hu-
manidade terrestre que estagia no corpo físico e fora dele. 
“Estudadas as energias variadas que compõem o complexo espiritual de 
cada indivíduo, abnegados especialistas em sexologia aqui trabalham, ajudan-
 15 
do os que vieram recambiados para este Centro de socorro, utilizando dos 
recursos próprios e correspondentes, de modo a agirem nas causas dos 
dramas que se desenrolaram por largo tempo, revigorando cada paciente com 
as incomparáveis lições de Jesus.” 
Novamente silenciou, para logo dar prossegui mento à narrativa 
interessante: 
— Face à sua profunda vinculação com o Divino Médico, à entrada do 
amplo pavilhão central, Eurípedes mandou inscrever o lapidar conceito 
kardequiano Fora da Caridade não há salvação, revivendo os exemplos do 
Senhor, que todos deveriam insculpir com vigor no imo, a fim de que o amor 
jamais diminuísse de intensidade no ministério socorrista, fossem quais fossem 
os resultados do labor em desenvolvimento ou conforme o enfrentamento dos 
desafios. 
“Equipes adestradas recolhem novos pacientes com freqüência, conforme 
as possibilidades que esses lhes ofereçam, nas regiões punitivas para onde 
resvalam, facultando-lhes a honra da misericórdia de acréscimo que procede 
do Pai magnânimo, sempre àespera do filho displicente ou rebelde. 
“É, sem dúvida, deplorável, o estado em que muitos aqui chegam, lutando 
contra as idéias mantidas durante o corpo e atormentados pelas visões que 
cultivaram durante a vilegiatura carnal, apresentando no perispírito todas as 
mazelas do seu desrespeito às soberanas leis da Vida. Não poucos deles aqui 
são instalados, mantendo a imantação psíquica com os inimigos cruéis, que 
também passam a receber assistência conveniente, libertando-os a pouco e 
pouco das incríveis fixações e vampirizações a que se entregam. 
“Para esse fim, uma ampla enfermaria de recepção acolhe a todos os 
recém-chegados, após o que são examinados por diligentes psicoterapeutas, 
que os encaminham aos respectivos núcleos onde poderão desfrutar do 
atendimento correspondente às suas necessidades. 
“Todos, sem exceção, recebem assistência muito carinhosa, sem que, em 
qualquer circunstância, seja desrespeitado o livre arbítrio do perseguidor ou 
daquele que se permite dominar.” 
E porque fizesse nova pausa, como se esperasse por alguma indagação, 
para mais esclarecer, atrevime a interrogar: 
— Do fato de haverem sido atendidos esses Espíritos enfermos, ocorre, 
vez que outra, alguma evasão ou retorno aos sítios de onde viveram? 
Sem demonstrar enfado, o bondoso psiquiatra elucidou: 
- Face à circunstância do respeito ao livre arbítrio de cada qual, com 
relativa freqüência muitos internos, atraídos psiquicamente pelos seus 
verdugos, retornam aos sítios de hediondez de onde foram removidos, por 
perfeita identificação de interesses e afinidade moral mantida entre eles... Não 
há impedimento para essa ocorrência, em se considerando o direito de cada 
qual evoluir conforme as próprias possibilidades, embora os impositivos 
expiatórios que, na ocasião adequada, alteram o comportamento daqueles que 
se permitem enlanguescer na indiferença, longe de qualquer propósito de 
renovação... 
 ‘Aqui, além do ministério de recuperação de pacientes mentais, em razão 
da sua especialidade, muitos candidatos a reencarnações como futuros psico-
terapeutas e estudiosos da alma, conforme a visão das modernas Doutrinas 
transpessoais, vêm fazendo estágio, a fim de adquirirem conhecimentos para li-
dar com os problemas volumosos da obsessão, dos transtornos psicológicos e 
 16 
das psicopatologias que se apresentam cada vez mais dominadoras na 
sociedade contemporânea. 
“Por outro lado, nobres pioneiros da hipnose como dos estudos da 
histeria, da psiquiatria, da psicanálise e de outras doutrinas correlatas, visitam 
com certa constânciao respeitável Sanatório, para colher dados e aprimorar 
conhecimentos, alterar ou aprofundar informações que ficaram paralisadas, 
quando deixaram o corpo carnal na Terra... 
“De Thomas Willis, o psiquiatra inglês do século 15II, a Filipe Pinel, de 
Mesmer a James Braid, de Wilhelm Griesinger a Kraepelin, a Charcot, a Freud, 
a Jung, apenas para nos referir a alguns dos cultos visitantes, muitas aulas têm 
sido ministradas, e debates são estabelecidos para que se encontrem os me-
lhores métodos terapêuticos para imediata aplicação, não apenas nos internos 
como em favor dos viandantes da Terra, especialmente considerando-se a 
fragilidade das forças morais de muitos candidatos ao equilíbrio e à fidelidade 
aos postulados do dever, quando mergulham na carne. 
“Muitos daqueles mestres do passado, que contribuíram para alargar o 
conhecimento em torno da psique humana, davam-se e dão-se conta agora 
ante o espetáculo truanesco e grandioso da vida em triunfo sobre a 
transitoriedade da matéria, da sabedoria incomparável de Jesus, quando 
conclamou as criaturas ao amor e à compaixão, à conduta reta em favor da 
vida futura, indestrutível, conforme o demonstrou com a Sua própria 
ressurreição... 
“Outrossim, muitos deles não conheceram o trabalho incomum de Allan 
Kardec, especialmente no que diz respeito às psicopatologias por obsessão, 
igualmente tratadas por Jesus, e raros, que poderi am haver pesquisado o 
valioso contributo do mestre lionês, não o fizeram por preconceito acadêmico, e 
tudo quanto ignoravam nessa área preferiram situar no verbete Ocultismo, 
pronunciado de maneira depreciativa. 
“Algumas das tentativas terapêuticas de que foram iniciadores esses 
visitantes e ilustres mestres, agora são aqui aplicadas com eficiência, pelo fato 
de produzirem o efeito desejado no campo energético de onde procedem os 
fenômenos psicológicos e psiquiátricos, sede, portanto, do ser integral, 
espiritual, que somos todas as criaturas. 
“Não ignoramos, todos os que aqui estagiamos, que qualquer tipo de 
enfermidade tem no Espírito a sua origem, face à conduta mental, emocional e 
moral que o mesmo se permite, produzindo transtorno vibratório que se refletirá 
na área correspondente do corpo perispiritual, e mais tarde no físico. Somente 
agindo-se no mesmo nível e campo, propondo-se simultaneamente a mudança 
de atitude psíquica e comportamental do paciente, se pode aguardar resultados 
satisfatórios na correspondente manifestação da saúde.” 
Novamente interrompeu a surpreendente explicação, para prosseguir: 
— Musicoterapia, preceterapia, amorterapia são as bases de todos os 
procedimentos aqui praticados, que se multiplicam em diversificados métodos 
de atendimento aos sofredores, conforme as síndromes, a extensão do 
distúrbio, a gravidade do problema. Concomitantemente, as indiscutíveis 
terapias desobsessivas recebem cuidados especiais, particularmente nos 
processos de vampirização, para liberar aqueles que submetem as suas 
vítimas, internando-os logo depois para tratamento de longo curso; para cirurgi-
as perispirituais de retirada de implantes perturbadores, que foram fixados no 
cérebro e prosseguem vibrando na área correspondente do psicossoma; para 
 17 
momentosas regressões a experiências pregressas em cujas vivências se 
originaram os enfrentamentos e os ódios, demonstrando-se que, inocentes, 
realmente não existem ante a Consciência Cósmica; para liberação de 
hipnoses profundas; para reestruturação do pensamento danificado pelas altas 
cargas de vibrações deletérias desde a vida física; para reencontros com afetos 
preocupados com a recuperação de cada um daqueles pertencentes à sua 
família emocional... 
“Por outro lado, a fluidoterapia muito bem aplicada produz efeitos 
surpreendentes, tendo-se em vista aqueles que a utilizam, movimentando 
energias internas e trabalhando as da Natureza, que são direcionadas aos 
centros perispirituais e chakras, agindo no intrincado mecanismo das forças 
energéticas que constituem o Espírito. 
“O amor, porém, e a paciência, — acentuou com ênfase — assumem 
primazia em todos os processos socorristas, procurando amenizar a angústia e 
o desespero daqueles que se enganaram a si mesmos e sofrem as 
lamentáveis conseqüências. 
“Convidados especiais, para a psicoterapia mediante palestras comovedoras e 
ricas de ensinamentos libertadores dos vícios, evocando vultos e acon-
tecimentos históricos que merecem ser repensados, apresentam-se com 
assiduidade, fazendo parte do programa terapêutico deste Núcleo de 
Esperança, que sempre representa o Amor que nunca falta e pacientemente 
aguarda.” 
Havendo silenciado, algo comovido, deixou-nos o conforto que deflui da 
bondade de Deus, jamais desamparando os filhos rebeldes, que preferem os 
caminhos tormentosos, quando poderiam haver seguido a estrada do bem e do 
dever sem tropeços. 
E porque a noite se encontrasse coroada de estrelas e um perfume 
balsâmico bailasse no ar, à medida que o grupo se diluiu, cada qual buscando 
o repouso ou as atividades que deveria desempenhar, continuamos no local, 
reflexionando. 
 18 
3 
REMINISCÊNCIAS 
 
As informações do Dr. Ignácio Ferreira deram-nos a dimensão perfeita da 
grandeza espiritual de Eurípedes Barsanulfo, cuja dedicação à vivência do 
Evangelho, à luz do Espiritismo, dele fizera um verdadeiro apóstolo da Era 
Nova. 
Dando prosseguimento ao seu ministério de amor ao Mestre através do 
próximo colhido pelo vendaval da alucinação, com um grupo de abnegados 
mensageiros da luz erguera, sem medir esforços, aquele Nosocômio para o 
socorro aos enfermos da alma e o estudo preventivo da loucura, assim como 
das terapias próprias, com especificidade na área dos transtornos obsessivos 
de natureza mediúnica atormentada. 
Sem dúvida, sendo a mediunidade uma faculdade inerente ao Espírito, que 
a deve dignificar mediante o seu correto exercício, todos os seres humanos, de 
alguma forma, são-lhe portadores. 
Quando se expressa mais ostensivamente, em razão de compromissos 
espirituais anteriores, é campo muito vasto a joeirar, exigindo comportamento 
consentâneo com a magnitude de que se reveste. Ao mesmo tempo, em razão 
das defecções e conquistas morais do seu possuidor, situa-se em faixa 
vibratória correspondente ao grau evolutivo do mesmo, produzindo sintonia 
com Entidades que lhe correspondem ao apelo de ondas equivalentes. 
Assim sendo, torna-se veículo dos pensamentos e induções próprios à 
sintonia, todos aqueles, encarnados ou não, que são semelhantes aos 
sentimentos do médium. 
Por isso mesmo, quando irrompe a mediunidade, não raro, se transforma 
em grave tormento para o seu portador, por colocá-lo em campo diferente do 
habitual, expondo-o às mais diferentes condutas morais e mentais, 
procedentes do mundo espiritual, e que se sucedem de maneira volumosa e 
perturbadora. 
Desequipado de conhecimento e de recursos para contrabalançar as 
ondas psíquicas e as sensações físicas delas decorrentes, experimenta 
distúrbios nervosos, tais a ansiedade, a depressão, a insegurança, o mal-estar 
físico, as cefalalgias, os problemas de estômago, de intestinos, as tonturas, e 
que resultam da absorção das energias negativas que lhe são direcionadas 
pelos próprios adversários, assim como por outros Espíritos, perversos uns, 
zombeteiros outros, malquerentes quase todos eles... 
É certo que jamais escasseia a misericórdia divina através do amor, da 
inspiração que verte do seu Guia espiritual na sua direção, das induções para a 
prática das virtudes, da oração e do dever, mas que nem sempre são captadas 
e decodificadas conforme seria necessário para os resultados imediatos. 
Pela tendência à acomodação e por decorrência das más inclinações que 
vicejam do passado de onde cada qual procede, mais facilmente se dá guarida 
às vinculações malfazejas do que à condução superior. 
Quando, no entanto, o medianeiro toma conhecimento das lições 
educativas do Espiritismo, especialmente através das diretrizes seguras de O 
Livro dos Médiuns, de Allan Kardec,o roteiro de segurança se lhe desenha 
com maior eficiência, convidando-o a submeter-se ao compromisso sério de 
trabalhar pelo próprio como pelo bem comum. 
À medida que se moraliza, o médium se equipa de resistências para 
 19 
vencer as perseguições espirituais, que são um grande entrave ao êxito do seu 
ministério, particularmente tendo em vista as paixões inferiores que constituem 
um grande desafio a enfrentar a todo momento. 
A mediunidade, portanto, pode ser uma provação dolorosa, que se 
transforma em tarefa de ascensão, ou um sublime labor missionário que, assim 
mesmo, não isenta o indivíduo dos testemunhos, das dificuldades, das 
renúncias e da vigilância constante que deve manter. 
Durante a mais recente vilegiatura terrena, lidando com portadores de 
mediunidade, acompanhamos não poucos indivíduos que derraparam em 
terríveis enganos, açodados pelos seus inimigos desencarnados, que lhes não 
concediam trégua. Isso acontecia, porque neles encontravam tomadas 
psíquicas para acoplarem os seus plugs, o que lhes permitia o intercâmbio 
sistemático e contínuo. 
Recordo-me, por exemplo, do irmão Ludgério, que se iniciara no hábito 
destrutivo do alcoolismo desde muito jovem. 
Portador de faculdade mediúnica atormentada, por necessidade 
reparadora, foi reencontrado pelos inimigos desencarnados que, desde cedo, 
aos doze anos aproximadamente, o induziram à ingestão de bebidas 
alcóolicas, inicialmente nas festas familiares e nas de caráter popular muito 
comuns na cidade onde residia, para o arrastarem por longos anos aos mais 
abjetos comportamentos e experiências infelizes. 
Quando, pela primeira vez, travamos contato pessoal com esse paciente, 
defrontamo-lo, excitado e provocador, na sala das palestras doutrinárias da 
Casa Espírita onde mourejávamos. 
Havia terminado a reunião, dedicada ao estudo de O Livro dos Espíritos, 
de Allan Kardec, quando ele se adentrou pelo recinto, visivelmente 
embriagado, agressivo, utilizando-se de palavras vulgares e gestos grosseiros 
para fazer-se notado. 
Gentilmente atendido por um dos membros da Instituição, desatou em 
gritaria e ameaças, que criaram um constrangimento geral entre as pessoas 
que se encontravam de saída e aqueloutras que permaneciam em conversação 
saudável e despedidas. 
O nobre diretor da Casa, o irmão José Petitinga, que se mantinha 
entretecendo considerações sobre o tema abordado junto a um grupo de 
interessados, foi atraído pelo alarido inusitado, e acercou-se do enfermo, a fim 
de o atender. Com muita habilidade, tocando-lhe o braço e envolvendo-o em 
suave magnetismo, retirou-o da sala pública, conduzindo-o para um cômodo 
mais discreto, onde procurou dialogar com paciência e misericórdia. 
Era totalmente impossível qualquer conversação edificante, em razão do 
estado de alcoolismo do visitante inesperado, cujos centros do discernimento e 
da lógica se encontravam bloqueados. Assim mesmo, as palavras gentis do 
abnegado diretor provocaram mais rebeldia nos comparsas espirituais, que se 
locupletavam com os vapores alcoólicos que absorviam através do enfermo da 
alma, logo deixando-o, após imprecações e promessas de vinditas em altos 
brados, sem que conseguissem atemorizar ou perturbar o psicoterapeuta 
sereno. 
Ato contínuo, o paciente, sem o suporte fluídico dos seus perseguidores, 
entrou em ligeira convulsão, tremendo e vomitando violentamente, causando 
profunda compaixão. Logo depois desmaiou, permanecendo inconsciente por 
alguns minutos, tomado de palidez mortal e débil respiração. 
 20 
Formando um círculo de orações, Petitinga, eu e mais alguns 
companheiros, envolvemo-lo em vibrações de revigoramento, aplicando-lhe 
passes restauradores de energias, que lhe facultaram recuperar a consciência 
vagarosamente. 
Passados esses momentos mais graves, a caridade cristã socorreu-o, 
conforme as circunstâncias do momento, envolvendo-o em esperanças e 
promessas de paz. 
Após ser-lhe providenciado o concurso monetário para alguma refeição, 
Ludgério afastou-se, ganhando a praça ensolarada... 
A impressão que nos deixou foi muito dolorosa. Tratava-se de um jovem 
de aproximadamente vinte e oito anos, que demonstrava o desgaste produzido 
pelo alcoolismo e a insegurança derivada do processo obsessivo pertinaz quão 
dilacerador. 
A partir desse incidente, inspirado pelos seus Guias espirituais, ele 
retornou, em estado de sobriedade, às reuniões doutrinárias, uma ou outra vez, 
quando se comportava com relativa calma. Avançado o fenômeno obsessivo, já 
assinalava marcas irreversíveis nas telas mentais do paciente, que o levavam a 
confundir os conceitos que ouvia e a supor-se facilmente ofendido, quando algo 
o desagradava. 
Normalmente era de trato irritável, de maneiras rudes e possuidor de ego 
muito sensível, que o armava contra as demais pessoas que sequer o podiam 
olhar, produzindo-lhe sempre a idéia falsa de que o estavam censurando. 
Na complexidade desse problema obsessivo defrontamos: primeiro, o 
paciente soberbo, cuja dor não lhe alterara a conduta da existência anterior, 
quando malograra, exatamente na faixa do comportamento obstinado e 
violento, traindo lembranças de poder e ostentação, que lhe davam um aspecto 
quase ridículo de prepotência entre farrapos e imundície; e, segundo, os 
inimigos, insolentes e perversos, aqueles que padeceram nas suas mãos 
impiedosas, e hoje buscavam desforçar-se sem qualquer escrúpulo. A pugna 
se instalara quando, identificado na atual reencarnação pelas suas antigas 
vítimas, passou à convivência psíquica dominadora, conduzido ao vício, no 
qual experimentava prazer, facultando-lhe descarregar as complexas 
excentricidades que lhe remanesciam no inconsciente. 
Podia-se perceber a extensão do ódio que vicejava entre ambos, 
comparsas do comprometimento, por quanto, esclarecido quanto à 
interferência desses Espíritos em sua conduta, Ludgério reagia entre blas-
fêmias e maldições, que denotavam a rebeldia que lhe era peculiar, facultando 
o campo vibratório específico para maior intercâmbio com os perseguidores. 
Esses, por sua vez, desejavam derrotá-lo cada vez mais, não se contentando 
em vê-lo jogado à ruína física, moral, mental, econômica, sem qualquer amigo, 
dormindo em verdadeiras pocilgas, nas ruas imundas do hórrido bas fond onde 
permanecia semi-hebetado... Planejavam recebê-lo, após exaurir-lhe as 
energias animais por vampirização, além do portal do túmulo para darem 
prosseguimento ao conúbio vingador. 
Em uma das oportunidades em que se encontrava lúcido e com relativa 
paz, mantivemos uma conversação mais calma, havendo recolhido dados mui-
to importantes para uma anamnese do seu caso e estudo cuidadoso da 
questão tormentosa, que sempre me despertava profundo interesse espiritual. 
Narrou-nos que, desde a primeira infância, era acometido de sonhos 
terrificantos, nos quais seres monstruosos perseguiam-no, ameaçando destruí-
 21 
lo por meio de formas as mais terríveis que se possa imaginar. Sempre 
despertava daqueles sombrios pesadelos banhado em álgido suor e 
apavorado. As sombras da noite passaram a ser-lhe um incomparável 
tormento. 
Não tendo renascido em lar equilibrado, conseqüência compreensível, 
porque decorrente da conduta anterior vivenciada, os pais não lhe proporcio-
naram o carinho necessário, antes repreendendo-o, surrando-o sem aparente 
motivo, e obrigando-o a silenciar o sofrimento, que se lhe foi agigantando, a 
ponto de passar a temer as noites e o sono. Lenta-mente se lhe instalaram no 
imo sentimentos de ira e mágoa contra os genitores, transferindo-os para os 
demais irmãos, que com ele não mantinham bom relacionamento, de algum 
modo por efeito da sua própria constituição temperamental. 
Freqüentou a Escola pública para o curso primário, sempre depressivo e 
atemorizado, expressando conduta anti-social, até que, aos doze anos, experi-
mentou o primeiro trago, no próprio lar, por ocasião do aniversário do genitor. A 
partir daí, após uma alucinação que o venceu, criando tumulto e sendo sovado 
impiedosamentepela ignorância que predominava na família, passou a tomar 
bebidas alcoólicas às ocultas e a entregar-se a pensamentos vulgares na área 
sexual, que lhe constituía um tormento cruel, em razão do surgimento de 
impotência psicológica, que era também resultado da somatização dos conflitos 
mantidos, bem como efeito do alcoolismo em instalação no seu organismo 
debilitado. 
À medida que os anos se passaram, viu diminuir as perspectivas de vida 
alegre ou feliz, sendo empurrado para a região do meretrício, após desavenças 
domésticas contínuas, quando sua presença se tornou insuportável na família 
difícil, em razão das crises alcoólicas que se faziam prolongadas e gravemente 
perigosas. 
Muitas vezes foi levado ao cárcere público por policiais impiedosos que o 
surpreenderam nas casas de lascívia em deploráveis situações, ou por desor-
dens nos bares, quando lhe era negada bebida sem o correspondente 
pagamento. 
Estava transformado em pária social, detestado por uns e ameaçado por 
outros companheiros de desdita. 
Nunca ouvira falar a respeito do Espiritismo, porém, sabia que a morte não 
representava o fim da vida, porqüanto, nos delírios alcoólicos, conseguia 
detectar os inimigos que o afligiam e o levavam a recordar-se dos atos ignóbeis 
que lhe haviam sofrido. Juravam jamais o perdoar, mas vingar-se sem piedade 
até que, rastejante, experimentasse o máximo de padecimentos que lhe 
imporiam. 
Tratava-se, bem se vê, de muito difícil conjuntura espiritual, cuja alteração 
dependeria do paciente submetido e sem resistências morais, face ao largo 
período de entrega espontânea. Apesar disso, buscamos envolvê-lo em 
carinho, oferecendo-lhe os instrumentos poderosos do Evangelho de Jesus, 
particularmente o amor e o perdão, que deveria usar com segurança, a fim de 
reconquistar aqueles a quem maltratara, e agora cometiam erro equivalente, 
tomando a dava da justiça nas mãos desvairadas. 
Parecendo despertar do largo transe, passou a freqüentar as reuniões 
dominicais de exposição doutrinária, iniciando um período de abstinência 
alcoólica. Auxiliado por nossa Casa, que procurava diminuir-lhe a penúria 
econômica, sentia-se atraído aos antros conhecidos, quando os companheiros 
 22 
de desdita o instigavam a novas libacões alcoólicas, tombando muitas vezes 
em recidivas dolorosas. 
Algumas vezes, banhado em lágrimas, nos informava que sempre lhe 
negavam alimento, enquanto lhe ofereciam as bebidas malditas. Sem 
resistências morais e dependente dos tóxicos do álcool, fraquejava, porqüanto, 
simultaneamente, os desencarnados não apenas inspiravam os doadores 
como o induziam à queda... 
Sinceramente compungido com o caso Ludgério, em ocasião própria, 
durante nossas reuniões hebdomadárias de terapia desobsessiva, indagamos 
ao Benfeitor encarregado o que se poderia fazer em favor do enfermo 
desorientado, e esse esclareceu que traria ao atendimento espiritual um dos 
seus verdugos, a fim de formularmos uma idéia da gravidade do cometimento. 
Menos de um mês transcorrido, incorporou-se em um dos nossos médiuns 
sonambúlicos indigitado obsessor que, vociferando, golpeando o ar e arque-
jante sob a ação do ódio, declarou, asselvajado: 
— Aqui estou, atendendo à solicitação do Sr. Miranda, que se atreve a 
envolver-se em problemas que não lhe dizem respeito. Nunca tive defensores, 
e sufoquei as minhas penas por largo período em silencioso sacrifício, até o 
momento, quando posso desforçar-me do bandido que mas cumulou por anos 
a fio, sem qualquer piedade ou misericórdia. Que pretende, o seu improvisado 
benfeitor? 
Usando a palavra com cautela e demonstrando compreensão do drama de 
que se tornara vítima o desditado, tentamos recordar-lhe a Justiça Divina da 
qual ninguém se evade, bem como considerar o significado daquele instante 
para todos nós, por ensejar-nos reconhecer a falibilidade das nossas concei-
tuações e formas de ver a vida, numa tentativa de chegar-lhe até os 
sentimentos obnubilados. 
Totalmente desvairado, na cegueira que o tomava, passou a detalhar as 
ocorrências que o desgraçaram antes, bem como a outros que ora 
participavam do programa de cobrança. 
Deixamo-lo exteriorizar o desconforto e as mágoas, quando blasonou, 
estentórico: 
— O nosso plano, já que é um plano coletivo, do qual participamos 
diversos adversários que o detestamos, é armá-lo contra alguém, a fim de que 
cometa um hediondo crime, para o qual não haverá perdão. Isso realizado, tê-
lo-emos para sempre sob nosso poder. 
 - E os amigos, por acaso — respondemos com paciência — desconhecem 
que os programas divinos são outros, com características mui diversas das que 
vêm estabelecendo contra o irmão submetido às suas tenazes? 
 - É claro que sabemos — ripostou, alardeando superioridade intelectual. 
— No entanto, ele é o devedor, a quem nos recusamos desculpar, porqüanto 
jamais usou de piedade, mínima que fosse, para quem lhe sofria a crueza. 
Perverso e obstinado, caprichoso e mau, sobrepôs-se às Leis e destruiu vidas 
incontáveis que deveria preservar, dominado pela loucura do poder que logo 
lhe escapou das mãos hediondas quando lhe adveio a morte. 
 - Curioso — analisamos com piedade fraternal — éobservar que o amigo 
incrimina-o, procedendo da forma que nele censura, utilizando-se da mesma 
medida de que o acusa, assim rumando para futuros processos, não menos 
desditosos do que esse no qual jaz o seu antigo verdugo. De maneira como 
não existe vítima inocente, nenhum algoz passa sem expungir os delitos 
 23 
através dos mecanismos soberanos da Vida. Só o amor possui a chave para 
decifrar todos os 
enigmas existenciais e solucionar as dificuldades do caminho evolutivo. Assim, 
rogamos-lhe, e aos demais companheiros, que lhe seja concedida uma chance 
pelo menos, para reabilitar-se pelo bem que possa oferecer àqueles aos quais 
prejudicou, especialmente os incluindo por haverem sido os ofendidos... 
— Nunca! — interrompeu-nos, com rispidez. — Ele nos pagará, e isso 
acontecerá sem demora... Utilizamos da lei de talião: olho por olho, dente por 
dente. 
— O amigo esqueceu-se do amor — propusemos com piedade — 
conforme nos ensinou Jesus. Somente o amor possui os mecanismos que 
desagregam as construções do mal, gerando bênçãos e proporcionando o 
bem. 
O comunicante estrugiu em ruidosa gargalhada de mofa e acrescentou 
com ironia: 
— Não me fale em amor, nem em Jesus. Também se dizia cristão, o 
covarde, e após os crimes tenebrosos que praticava contra aqueles que lhe 
caíam no desagrado, corria ao culto religioso a que se filiava, e rogava perdão 
do seu confessor, que o atendia, igualmente infame, enquanto suas vítimas 
eram dilaceradas pelo relho, trucidadas por métodos incomuns de 
perversidade. Onde o amor desse Jesus? 
Profundamente consternados, esclarecemos: 
 — Não podemos confundir a Doutrina do Mestre com os homens que dela se 
utilizam para atendimento das próprias misérias e paixões imediatistas. Longe 
dos sentimentos que apregoam, exploram e mentem, enganando-se a si 
mesmos e àqueles que se deixam conduzir pelas suas urdiduras, igualmente 
interessados nesse conúbio de ilusões e mendacidade. O Mestre ofereceu-se 
em holocausto, mesmo quando todos O abandonaram. 
— Nunca lhe concederemos ocasião de repetir o que já fez, e temos 
pressa em concluir a tarefa iniciada —. Ripostou com enfado e nervosismo. 
Preferimos silenciar. O momento não era para discussão verbal, nem 
para debate inútil. Recolhendo-nos em oração, escutamos suas palavras finais 
e atormentadas: 
— O mal devora aqueles que o vitalizam, nós o sabemos. Enquanto não 
chega a nossa vez, tornamo-nos os instrumentos hábeis para que essa lei se 
cumpra sem qualquer desvio... 
Porque não existem violências em nossos compromissos para com a 
vida, ele resolveu afastar-se do médium, ou foi retirado carinhosamente pelo 
Mentor, deixando-nos algo frustrados e incompletos. 
Posteriormente, nosso Instrutor esclareceu-nos que a hora era grave, e 
somente o esforço do paciente poderia modificar os planos de vinditaelaborados pelos seus desafetos, o que parecia bastante difícil... 
Não passaram duas semanas, e fomos informados da tragédia em que se 
envolvera o pobre Ludgério, tendo fim a consumida existência física. 
Discutindo com outro companheiro embriagado, comparsa habitual das 
extravagâncias alcoólicas, num dos bares em que se homiziavam, foi 
acometido de grande loucura e, totalmente alucinado, tomou de uma faca 
exposta no balcão da espelunca, cravandoa, repetidas vezes, no antagonista, 
mesmo após tê-lo abatido e morto. 
A cena de sangue, odienta e ultrajante, provocou a ira dos passantes e 
 24 
comensais do repelente recinto que, inspirados pelos perversos e indigitados 
Espíritos vampirizadores, se atiraram contra o alcoólatra, linchando-o sem 
qualquer sentimento de humanidade, antes que a polícia que freqüentava o lo-
cal pudesse ou quisesse interferir. 
Todo linchamento demonstra o primarismo em que ainda permanece o ser 
humano, e resulta da explosão do ódio que acomete aos imprevidentes, que 
passam a servir de instrumentos inconscientes de hordas espirituais perversas, 
que dão vasa aos sentimentos vis através das paixões desordenadas... 
A hedionda cena do Calvário é bem o exemplo desse fenômeno de 
primitivismo em que estagiam muitos indivíduos. Aquele Homem, que somente 
amara e o bem fizera, fora escarnecido, abandonado, crucificado, após um 
julgamento arbitrário, apoiado pela massa que dEle tanto recebera. E mesmo 
na cruz, inspirados pelas hostes selvagens da erraticidade inferior, bradavam 
irônicos, aqueles que se Lhe fizeram de inimigos de última hora: 
— Não és o Messias? Sai, então, da cruz para que vejamos e 
acreditemos... — E estertoravam em alucinadas gargalhadas. 
Os jornais fizeram estardalhaço sobre o inditoso acontecimento, que a nós 
outros que o conhecíamos, muito nos compungiu, deixando-nos material espiri-
tual para demoradas reflexões e interrogações que somente após a morte nos 
foi possível compreender. 
Naquela ocasião, indagamo-nos, se teria falhado a ajuda espiritual que se 
estava iniciando com futuras perspectivas de atenuar o processo obsessivo. 
Por que os desafetos conseguiram atingir as metas estabelecidas? Por qual 
razão não nos foi possível aprofundar terapias mais eficientes em favor dos 
desen carnados, quando da comunicação psicofônica de um deles? Outras 
indagações permaneceram bailando em nossa mente, até que o tempo, o 
grande consolador, foi-nos esclarecendo com as luzes soberanas da lógica do 
Espiritismo. 
Após a morte física, ainda interessado no caso Ludgé rio, tentamos 
encontrá-Lo, sem o conseguir. Soubemos, por fim, que aquele, que Lhe fora 
vítima do homicídio infame, era um dos comparsas anteriores, que se 
desaviera quando da partilha de terras que haviam sido espoliadas de 
camponeses humildes que lhes sofriam a dominação arbitrária, tornando-se-lhe 
igualmente adversário. Desde então, unidos pelos crimes, uma ponte de 
animosidade fora distendida entre eles. Como os adversários espirituais se 
vinculavam a ambos, encontraram campo vibratório propício para o 
assassinato de cunho espiritual. 
Ante esse fato doloroso, em outras circunstâncias, sempre me perguntava, 
como as leis terrenas julgariam os criminosos que houvessem sido vítimas dos 
seus inimigos desencarnados? Puniriam ao homicida visível que, por sua vez, 
se tornara vítima de outros indigitados criminosos? E como alcançar aqueles 
que se encontram além das sombras terrenas em paisagens imortais 
excruciantes e permanecem odientos, se escasseiam recursos próprios para a 
análise e penetração nessas regiões? 
Eram essas interrogações que nos ficaram e permanecem interessando-
nos por conquistar as respostas, em razão da freqüente repetição de delitos 
dessa ordem e crimes outros sob a inspiração de seres espirituais 
desencarnados. Igualmente, podemos considerar aqueles suicídios, nos quais 
a insidiosa presença e indução de algozes desencarnados responde pelo ato 
tormentoso, que diariamente arrebata em todo o mundo grande parcela da 
 25 
sociedade... 
Agora, certamente, teríamos oportunidade de conseguir respostas com os 
admiráveis estudiosos do assunto, quando pudéssemos conhecer mais de-
talhes a respeito de alguns irmãos delinqüentes dentre os internados no 
Sanatório espiritual. 
E porque a noite avançasse incessante e generosa, busquei, eu próprio, o 
repouso, aguardando as bênçãos do amanhecer. 
 26 
4 
NOVOS DESCORTINOS 
 
Menos de uma semana após a noite de convivência reconfortante com Dr. 
Bezerra de Menezes, recebemos novo convite, agora firmado por Dr. Ignácio 
Ferreira, para participarmos de novo encontro que deveria ocorrer no anfiteatro 
do Nosocômio, e cujo tema que por ele seria debatido, tinha por título Ho-
micídios espirituais. 
A hora aprazada, dirigimo-nos ao Sanatório da Esperança, e, em ali 
chegando, encontrando-nos com alguns dos amigos que participaram do 
evento anterior, seguimos ao belo recinto, onde se realizavam diversas 
conferências e se debatiam temas de interesse comum, pertinentes aos 
transtornos obsessivos. 
Alguns dos companheiros que se reuniram conosco haviam exercido o 
sacerdócio médico na Terra, na área da psiquiatria, de que se desincumbiram a 
contento, porqüanto conseguiram conciliar o conhecimento acadêmico com as 
informações salutares da Doutrina Espírita, que melhor elucidam as psicogê-
neses das diversas perturbações psíquicas, incluindo a cruel obsessão. 
Quando alcançamos o local, um suave burburinho percorria as galerias 
que se apresentavam repletas. Uma ansiedade saudável pairava em quase to-
das mentes, aguardando a presença do conferencista que, na Terra, havia 
participado de atividades ainda pioneiras nesse campo delicado da saúde 
mental. 
Dr. Ignácio Ferreira houvera experienciado com muito cuidado, enquanto 
no corpo físico, o tratamento de diversas psicopatologias incluindo as obses-
sões pertinazes, no Sanatório psiquiátrico que erguera na cidade de Uberaba, 
e que lhe fora precioso laboratório para estudos e aprofundamento na psique 
humana, especialmente no que diz respeito ao inter-relacionamento entre 
criaturas e Espíritos desencarnados. 
A Sra. Maria Modesto Cravo, se iniciara pelas mãos abnegadas do nobre 
Espírito Eurípedes Barsanulfo, quando os fenômenos insólitos passaram a per-
turbá-la, e, graças à sua faculdade preciosa, revelou-se abnegada servidora do 
Bem. De sua segura mediunidade se utilizavam os bons Espíritos, particu-
larmente o próprio Eurípedes, para o ministério do esclarecimento dos 
estudiosos, assim como para a prática da caridade. 
A gentil dama, que se vinculava à religião católica com o fervor 
característico do coração feminino, subitamente passou a ser acometida por 
clarividência lúcida, ao tempo em que fenômenos elétricos a afligiam, sempre 
quando tocava objetos metálicos, produzindo-lhe peculiares choques. Sem 
explicação para a ocorrência, que a desorientava compreensivelmente, após 
ouvir alguns médicos locais que ignoravam completamente a causa de tais 
sucessos, consultou constrangidamente o nobre missionário sacramentano, 
que logo a submeteu a cuidadosa anamnes e, constatando-lhe a mediunidade 
responsável pelas ocorrências aflitivas. 
Após esclarecê-la em torno da causa daqueles distúrbios, propôs-lhe o 
estudo sério do Espiritismo, no que foi atendido com respeito e consideração, 
com o que também anuiu o dedicado esposo, intrigado que se encontrava com 
a singularidade daquelas manifestações totalmente estranhas. 
Numa das experiências de educação da mediunidade, e encontrando-se a 
respeitável senhora em transe profundo, um dos guias espirituais comunicou-
 27 
se, explicando as razões da fenomenologia e recomendando os cuidados 
compatíveis, a fim de que a senhora bem pudesse exercer o compromisso su-
perior que trouxera programado antes da sua atual reencarnação, a fim de 
contribuir eficazmente em favor dos enfermos mentais e de outras pessoas 
com distúrbios transitórios de comportamento. 
Durante muitos anos adigna dama submeteu-se às instruções dos seus 
abnegados Mentores, encarnado e desencarnado, trabalhando com disciplina e 
devotamento, havendo, ao desencarnar, conseguido a palma da vitória, sendo 
mais tarde convocada para prosseguir no mesmo serviço em nossa esfera da 
ação. 
No momento reservado para o início da conferência, adentraram-se no 
auditório, além do conferencista, o respeitável Eurípedes e D. Maria Modesto. 
Ato contínuo, e sem desnecessárias explicações, Eurípedes proferiu 
emocionada oração, logo apresentando o orador, que assomou à tribuna, 
enquanto os seus acompanhantes sentaram-se à mesa, ao lado do que 
presidia a reunião. 
Dr. Ignácio encontrava-se sereno e bem apessoado. Ante o silêncio que se 
fez natural, ele começou a exposição, utilizando-se da saudação que caracteri-
zava os encontros entre os cristãos primitivos: 
— Que a paz de Deus seja conosco! “Peregrinos do carreiro das 
reencarnações, buscando a iluminação e a paz, temos mergulhado no corpo e 
dele saído, graças à abnegação dos generosos Guias que se responsabilizam 
pelas nossas tentativas evolutivas. Desse modo, a Terra continua sendo para 
nós, o colo de mãe generosa, que nem todos temos sabido preservar em 
elevado conceito. Honrados com as oportunidades sucessivas do processo de 
crescimento interior, sempre nos apresentamos conforme as conquistas 
realizadas nas experiências anteriores que nos assinalam os passos, havendo 
contribuído para que rompêssemos as duras algemas da ignorância, da 
perversidade e do primarismo. Juguiados, porém, às ações que não soubemos 
praticar com a elevação necessária, repetimos comportamentos ou avançamos 
sempre tendo em vista a conquista interior de valores que jazem adormecidos. 
Vitimados pela preguiça mental, em grande número não conseguimos avançar 
quanto seria desejável, e, por isso, formamos grupos de repetidores de lições 
que permanecem inaproveitadas. O egoísmo, esse algoz implacável de cada 
um de nós, tem sido o adversário declarado do nosso processo de 
desenvolvimento espiritual. Face à sua dominação, resvalamos para o orgulho, 
a presunção, logo despertamos para a razão, atribuindo-nos vaiares que 
estamos longe de possuir. Por conseqüência, tornamo-nos hipersensíveis em 
relação à conduta pessoal, disputando créditos que não possuímos em 
detrimento das demais criaturas nossas irmãs. 
“Esse comportamento malsão tem-nos gerado antipatias que poderiam 
ser evitadas, atritos que não se encontravam programados, preconceitos que 
somente nos têm retido na retaguarda. Incapazes de discernir o que podemos 
fazer em relação ao que devemos, atribuímo-nos recursos de que não 
dispomos; ao invés de nos esforçarmos por viver a lídima fraternidade, nos 
separamos em grupos que se hostilizam reciprocamente, semeando discórdias 
e divisionismos ingratos, que se nos transformam em algemas de sombra e de 
dor. 
“Mesmo quando convidados por Jesus para uma saudável mudança de 
conduta, as vaidades intelectuais hauridas nas Academias ou fora delas nos 
 28 
assaltam, conduzindo-nos à soberba e fazendo-nos desdenhar o Mestre que 
não freqüentou Escolas especializadas, por considerarem-nO mito ou arquétipo 
embutido em nosso inconsciente. Em decorrência dessa perturbadora atitude, 
derrapamos em lamentáveis situações de angústia e de desajuste, que nos têm 
mantido distantes do conhecimento profundo do Espírito, somente ele capaz de 
nos libertar totalmente da ditadura do ego. É essa postura doentia, gerada pela 
vaidade e sustentada pelas ilusões do corpo, que nos tem desviado do roteiro 
que deveremos seguir, a fim de conquistarmos por definitivo a plenitude na vida 
eterna. 
“Soa, no entanto, o momento próprio para a nossa definição espiritual 
frente aos desafios que nos chegam e aos apelos que nos são dirigidos de toda 
parte, seja dos corações aflitos no corpo fisico ou daqueloutros que se 
perderam nos dédalos das paixões primitivas de que ainda não se conseguiram 
libertar. Não é, desse modo, por acaso, que aqui nos reunimos mais uma vez 
sob as bênçãos do sábio Psicoterapeuta, que é Jesus.” 
Houve uma breve pausa, para facultar-nos acompanhar com atenção os 
enunciados oportunos. 
Suave brisa perpassava pelo amplo anfiteatro. Todos nos mantínhamos 
serenos e atentos, sintonizados com o pensamento do expositor, que logo 
prosseguiu: 
- A grandeza da vida se expressa através de inumeráveis maneiras, 
porqüanto, envolvido pelo corpo físico ou sem ele, estua rico de vida o ser 
espiritual. Enquanto mergulhado no denso véu da carne, entorpece-lhe parte 
do discernimento e a visão global se lhe torna limitada. No entanto, ao despir-
se do envoltório material, é recuperada a plenitude das funções, podendo 
avaliar o resultado das experiências vividas, das construções edificadas e dos 
planos anteriormente traçados, se foram executados conforme sua elaboração 
ou se houve malogro entre a intenção e a ação. Sempre, porém, luz a divina 
misericórdia amparando, inspirando, conduzindo, ensejando o crescimento 
infinito do Espírito. No entanto, face à rebeldia que se demora na conduta de 
expressiva maioria, eis que adia a felicidade, equivocando-se, para depois 
reparar, comprometendo-se, para mais tarde recuperar-se, adquirindo 
resistências, para vencer o mal que nele permanece, avançando sempre e sem 
cessar. Mesmo nas aparentes existências malsucedidas, adquire valores que 
irão contribuir para a sua plena realização, porqüanto nada permanece inútil 
nesse processo ascensional. 
 A aprendizagem, por isso mesmo, é conseguida através do erro e do acerto, 
da percepção do fato e de como realizá-lo, bem como da iluminação, que são 
verdadeiras metodologias para aprimorar cada aluno na Escola da vida. 
“É mediante esse agir e arrepender-se, quando equivocado, que surgem 
as vinculações dolorosas, exigindo reparações igualmente aflitivas. Isso, por-
que, raramente, o erro é individual. Quase sempre acontece envolvendo outras 
pessoas com as quais se convive ou junto a quem se estabelecem programas 
de afetividade, de interesses comuns, de lutas necessárias. E toda vez que 
alguém defrauda a confiança, ou burla o respeito e a dignidade de outrem, 
estabelecem-se vínculos perturbadores entre o agente e a sua vítima que, 
destituída de elevação moral, ao invés de esquecer e perdoar, atormenta-se 
nos cipoais da vingança, desejando cobrar os males de que se crê objeto. 
Não estando preparados para entender que o mecanismo do progresso 
exige disciplina e testemunho, os temperamentos arbitrários rebelam-se e se 
 29 
propõem fazer justiça com as próprias mãos, em atentado grave contra a 
ordem estabelecida e a própria Vida. Ninguém, porém, pode ser juiz honesto 
em causa própria, por impossibilidade de harmonizar ou de eliminar as 
emoções que ditam comportamentos quase sempre egoísticos e 
perturbadores. Assim, as malhas da rede obsessiva se vão estabelecendo, vin-
culando negatívamente uns indivíduos aos outros, aqueles que se agridem e se 
desconsideram. 
“Por conseqüência, a obsessão é pandemia que permanece quase 
ignorada embora a sua virulência, para a qual, na sua terrível irrupção, ainda 
não cogitaram os homens de providenciar vacinas preventivas ou terapias 
curadoras. Tão antiga e remota quanto a própria existência terrestre — por 
decorrência das afinidades perturbadoras entre os homens — todos os Guias 
religiosos se lhe referiram com variedade de designações, sempre utilizando-se 
dos mesmos métodos para a sua erradicação, tais: o amor, a piedade, a 
paciência e a caridade para com os envolvidos na terrível trama. Passados os 
períodos em que viveram, e os seus discípulos, quase de imediato, olvidaram-
se de levar adiante pela prática, essas específicas lições que receberam. Face 
à tendência para o envolvimento emocional com o mitológico, não poucas ve-
zes têm confundido a revelação do fenômeno mediúnico com idéias de 
arquétipos que jazem semi-adormecidos no inconsciente, e que passam a 
ocupar as paisagens mentais, sem os correspondentes critérios

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